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outubro 31, 2013
Inaê Coutinho na Virgilio, São Paulo
Em duas exposições individuais os artistas Inaê Coutinho e Danilo Oliveira apresentam fotos, vídeo e pinturas na Galeria Virgílio; em um espaço, os registros da fotógrafa podem ser confundidos com pinturas. No outro, pinceladas de um artista que reconstrói imagens cotidianas e estreia a sua primeira individual
Com mais de duas décadas de carreira, Inaê Coutinho tem relevância e trabalhos reconhecidos por especialistas do mercado. Nas palavras de Agnaldo Farias, curador da 29ª Bienal de São Paulo e do Instituto Tomie Ohtake:
"Ao longo dos anos, Inaê Coutinho tem pesquisado e explorado o campo, virtualmente inesgotável, da relação entre luz e cor. Suas imagens notabilizam-se, em primeiro lugar, pelo recorte, em muitos casos vagamente extracêntrico (no sentido etimológico de “fora de centro”). Dessa forma, a fotógrafa consegue
tornar surpreendentes e enigmáticos cenas e cenários que, vistos de outra forma, poderiam parecer familiares, ou até estereotipados e, portanto, banais. O enquadramento ousado e a notável qualidade das imagens permitem, também, aproximar a sua produção da pintura, notadamente da grande tradição dos monocromos."
E é na busca da relação entre esses elementos que Inaê costuma registrar o interior de casas caiçaras e caipiras brasileiras. “São ambientes escuros que privilegiam o conforto térmico, mas nossa luz tropical invade as pequenas janelas, portas e qualquer outra pequena fresta”. Na exposição ela também mostra um stop-motion feito na cidade de São Paulo, em condições de luz semelhantes e revela as transformações ocorridas no interior do prédio do SESC Pinheiros.
As fotografias e o vídeo da artista Inaê Coutinho, expostos na Galeria Virgílio, são em parte conhecidos e em parte inéditos do público paulistano. Integram a pesquisa da fotógrafa em poéticas visuais, cuja obra vem se desenvolvendo de maneira consistente há pelo menos 18 anos. A parte conhecida de “Relatos de Luz, Tempo e Cor” foi exposta em 2008, na Galeria do Espaço Porto Seguro de Fotografia, em uma parceria com o Instituto Tomie Ohtake. A outra parte foi apresentada na França, em 2011, por ocasião da premiação do Atelier Gapihan – a mais tradicional molduraria voltada à fotografia da cidade de Paris – e em Québec, no Canadá no mesmo ano.
Inaê Coutinho começou a fotografar há 25 anos, ainda na adolescência, e o seu interesse pela fotografia foi permeado e retroalimentado pelo seu interesse expresso no desenho e na pintura. “A pesquisa me fez ver com maior clareza essas relações e o fio condutor da minha poética, que se resume nessa busca da luz, do tempo e da cor”, comenta a fotógrafa.
“A fotografia analógica e a ampliação manual têm um encanto do qual não consegui me privar até agora. A materialidade da luz atravessando as superfícies – marcando a prata – e a pesquisa no laboratório fotográfico para se chegar ao resultado final são tão prazerosos quanto motivadores do meu trabalho, são quase integralmente o meu assunto”, afirma Inaê.
De acordo com a fotógrafa, os interiores de casas caiçaras e caipiras do Brasil são ambientes ideais para esta busca. “São ambientes escuros onde a luz entra morosa, bloqueada por pequenas janelas e portas... e dependendo da posição da câmera oferecem surpresas que não são identificadas à olho nu, como raios que cortam as imagens descobertos nos negativos processados”, finaliza a artista.
Essa experiência temporal de realização, tanto na captação das imagens (que neste caso tem em média tem 30 segundos) quanto na ampliação acabaram moldando o modo como a fotógrafa pensa as imagens, embora ela esteja começando a pensar nelas de outra forma, também, ao produzir digitalmente. É o caso do vídeo, um stop-motion feito na cidade de São Paulo com condições de luz semelhantes.
Sobre o vídeo Lumiar
Inaê Coutinho vem pesquisando as alterações de ambientes internos pela entrada da luz. Sua produção fotográfica – de cor saturada, e enquadramento diferenciado – tem se concentrado nas características visuais de ambientes não urbanos, em geral casas de arquitetura vernacular pelo interior do país. Neste caso um vídeo de 7” registra as transformações ocorridas no interior do prédio do SESC Pinheiros, situado no Largo de Pinheiros em São Paulo ao amanhecer, investigando os caminhos percorridos pela luz ao raiar de algumas manhãs.
*texto da artista para a coletiva no Sesc Pinheiros por ocasião do Projeto Integração|action: échange Québec|São Paulo, em São Paulo, de abril a maio de 2011. Captação de imagem e som: Inaê Coutinho. Edição de imagem e som: Amauri Moreira.
Sobre a artista
É artista visual, trabalha com fotografia, vídeo e colagem. Realizou diversas exposições individuais e coletivas no Brasil e no exterior.
Expõe seu trabalho pessoal desde 1993, tendo ganhado a Bourse-Cadrage Atelier Gapihan (Paris/2011). É representada, em São Paulo, pela Galeria Virgílio e, na Europa, por Agnès Voltz. Entre suas exposições destacam-se as individuais “Luz Interior” (Maison du Brèsil, Paris, 2012), “Casas de Inaê” (Espace Gapihan, Paris, 2011), “Da Luz” (VU PHOTO Centre de Diffusion et Production de la Photographie (Québec, Canadá); “Da Luz” (Espaço Porto Seguro de Fotografia/2008), “Da Luz na Escuridão” (Centro Universitário Maria Antônia/2005), “Memória nas Coisas” (Centro Cultural São Paulo/2000), “Autoretrato com Amiga (Funarte RJ/1994) e as coletivas Integração|action (SESC Pinheiros/2011) e "Ponto de Equilíbrio" (Instituto Tomie Ohtake/2010). Atua como pesquisadora e professora-doutora em Poéticas Visuais pela ECA-USP, tendo concluído em 2012 seu estágio doutoral na Sorbonne Nouvelle Paris 3, sob orientação de Philippe Dubois, com suporte da CAPES-PDEE. É graduada em Educação Artística pelo Instituto de Artes da UNICAMP. Tem larga experiência no ensino de artes, fotografia e vídeo para cursos livres e ensino formal (Ensino Fundamental II, Médio, Superior), bem como na formação de professores. Foi agraciada com o Prêmio Internacional de Inovação e Criatividade pela Safe Kids WorldWide em 2005. Atua na área desde 1992 e já contribuiu com diversas instituições. Presta consultoria pedagógica para o Terceiro Setor. Atualmente leciona no Instituto Tomie Ohtake, na UNIP, no Projeto Pontos Mis do Museu da Imagem e do Som e colabora com o Projeto Cidade Invertida.