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setembro 26, 2013
Jonathas de Andrade na Vermelho, São Paulo
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Terceira individual de Jonathas de Andrade, na Vermelho, a exposição “Museu do Homem do Nordeste” reúne três de seus projetos mais recentes: as instalações “Cartazes para o Museu do Homem do Nordeste” [2013], “40 Nego Bom é 1 real” [2013], e “O Levante” [2012-2013]. As obras se articulam como uma coleção paralela ao Museu do Homem do Nordeste, localizado na cidade do Recife [PE]. Criado em 1979 por Gilberto Freyre, o museu antropológico conta com um acervo de mais de 15000 peças representativas da formação étnica, histórica e social da região. Nesta série de trabalhos, Jonathas de Andrade experimenta novas bases e metodologias ao museu original, e apresenta na Galeria Vermelho a primeira versão deste paramuseu.
Para criar a instalação “Cartazes para o Museu do Homem do Nordeste”, Andrade publicou anúncios nos jornais do Recife em busca de trabalhadores interessados em posar para o cartaz do Museu do Homem do Nordeste. Os cartazes da instalação variam conforme cada encontro, numa construção de identidade – do homem, da imagem do museu – pautada por uma relação ambivalente, antropófoga e erotizante.
Instalação que atualmente participa da 12ª Bienal de Lyon, na França, e que recentemente rendeu a Andrade o Prix de la Francophonie [Lyon, França], “40 Nego Bom é 1 real” parte do grito popular usado na venda deste doce de banana nos mercados e ruas do Nordeste brasileiro. Neste projeto, Andrade construiu uma fabrica fictícia onde 40 personagens trabalham na feitura do doce a partir de uma receita. Num segundo momento, a instalação revela, por meio de textos impressos, um acerto de contas em que as relações de trabalho são explicitadas, levando em consideração as sutilezas das relações pessoais que ao fim entram na conta. No projeto, Andrade revê a teoria-mito de uma harmonia calcada na camaradagem, e aborda os ecos de um pós-colonialismo e pós-escravidão que constituíram uma cultura de naturalidade com as relações de poder e dependência, de naturalidade diante do servilismo, da exploração atenuada pela aparente gentileza, e pelo racismo velado e incorporado como dinâmica social.
A terceira instalação que integra o Museu do Homem do Nordeste, “O Levante”, é resultado da “1ª Corrida de Carroças no Centro do Recife”, organizada por Jonathas nas ruas do Recife, em 2012. Como a circulação de animais rurais é proibida por lei nas ruas do Recife, todos aqueles que se movimentam a cavalo pela cidade se tornam invisíveis para a lei. Somente tratando a corrida como cena de filme, ou seja, como ficção, é que o evento obteve as autorizações oficiais necessárias para acontecer no espaço público.
Para Andrade, ao mesmo tempo que os cavalos e seus donos, normalmente pessoas que estão à margem da lógica desenvolvimentista da cidade, e do País, o contraste gerado por sua presença no espaço urbano soa como eco da ruralidade, revelando as origens desta região. O vídeo e as fotos, registros da ação nas ruas do Recife, representam documentos acerca das leis e de sua inoperância, e, silenciosamente, revelam que as leis foram feitas para poucos. “O Levante” de Andrade acentua o contraste entre a ideia de desenvolvimento pretendida pela cidade, e a clandestinidade que permeia todos os âmbitos da sociedade brasileira, do publico e privado, e que a faz funcionar.
“Museu do Homem do Nordeste” é um projeto em andamento de Jonathas de Andrade que, a cada nova montagem, apresenta uma nova versão do “Museu”, incorporando cumulativamente novos projetos e pesquisas desenvolvidos pelo artista.
Jonathas de Andrade / Seleção de exposições individuais: Cartazes para o Homem do Nordeste, Kunsthalle Lissabon, Lisboa, Portugal; 4000 Disparos, Musée d'art Contemporain de Montréal, Montreal, Canadá [2013]; Ressaca Tropical, Galeria Vermelho, São Paulo, Brasil [2010]; Amor e Felicidade no Casamento, Instituto Itaú Cultural, São Paulo, Brasil [2008]. Seleção de exposições coletivas: Entre-Temps... brusquement, et ensuite, 12e Biennale de Lyon, Lyon, França; La Bienal 2013: Here is where we jump, El Museo del Barrio, Nova York, EUA; Future Generation Art Prize @Venice, Pallazzo Contarini Polignac, Veneza, Itália; The Right to the City, Stedelijk Museum Bureau Amsterdam, Amsterdã, Holanda [2013]; When Attitudes Became Form Become Attitudes - CCA Wattis Institute for Contemporary Art – San Francisco – EUA; Prêmio CNI/SESI Marcantonio Vilaça para Artes Plásticas, [exposição itinerante], Brasil; The Ungovernables, New Museum Triennial, New Museum, Nova Iorque, EUA [2012]; Sharjah Biennial 10, Sharjah, Emirados Árabes [2011]; 29ª Bienal de São Paulo: Há sempre um copo de mar para um homem navegar, Parque do Ibirapuera, São Paulo, Brasil [2010]
The third solo show by Jonathas de Andrade, at Vermelho, Museu do Homem do Nordeste features three of his most recent projects: the installations Cartazes para o Museu do Homem do Nordeste [Posters for the Museu do Homem do Nordeste] (2013), 40 Nego Bom é 1 real [40 nego bom for 1 real] (2013), and O Levante [The Uprising] (2012–2013). The works are articulated as a collection in parallel to the Museu do Homem do Nordeste, located in the city of Recife [PE]. Created in 1979 by Gilberto Freyre, the anthropological museum has a collection of more than 15.000 pieces representative of the region’s ethnic, historical and social makeup. In this series of works, Jonathas de Andrade experiments with new bases and methodologies for the original museum, and presents at Galeria Vermelho the first version of this paramuseum.
To create the installation Cartazes para o Museu do Homem do Nordeste, Andrade published ads in the newspapers of Recife in search of workers interested in posing for the poster for the Museu do Homem do Nordeste. The posters of the installation vary according to each encounter, in a construction of identity – of man, of the museum’s image – based on an ambivalent, anthropophagic and eroticizing relation.
An installation that is currently participating in the 12th Biennale of Lyon, France, and which recently garnered Andrade the Prix de la Francophonie [Lyon, France], 40 Nego Bom é 1 real is based on the hawker’s cry used to sell this banana sweet in the markets and streets of the Brazilian Northeast. In this project, Andrade constructed a fictitious factory where 40 characters work in the making of the sweet based on a recipe. In a second phase, the installation uses printed texts to reveal a settling of accounts in which the relations of work are made explicit, taking into consideration the subtleties of the personal relations that ultimately come into play. In the project, Andrade takes a fresh look at the theory-myth of a harmony couched in camaraderie, and approaches the echoes of a post-colonialism and post-slavery that constituted a culture of naturalness with the relations of power and dependence, of naturalness in the face of servility, of exploitation attenuated by apparent politeness, and by veiled racism incorporated as a social dynamics.
The third installation that is part of the Museu do Homem do Nordeste, O Levante, is an outgrowth of the 1st Corrida de Carroças no Centro do Recife [Street-Cart Race in Downtown Recife] organized by Jonathas on the streets of Recife, in 2012. As the circulation of rural animals is illegal on the streets of Recife, all the horse-pulled carts in the city become invisible to the law. Only by treating the race as a scene in a film, that is, as fiction, could the event obtain the official authorizations necessary for it to take place in the public space.
For Andrade, the presence of the horses and their owners – normally people who are at the fringe of the city’s (and the country’s] developmentalist logic – generates a contrast in the urban space that resounds as an echo of ruralness, revealing the origins of this region. The video and the photos, records of the action in the streets of Recife, represent documents concerning the laws and their non-application, while silently revealing that the laws were made for the few. Andrade’s O Levante accentuates the contrast between the idea of development sought for by the city and the clandestineness that pervades all the public and private sectors of Brazilian society, allowing it to operate.
Museu do Homem do Nordeste is a project underway by Jonathas de Andrade which presents a new version of the “Museu” each time it is set up, cumulatively incorporating new projects and research developed by the artist.
Jonathas de Andrade / Selection of solo shows: Cartazes para o Homem do Nordeste, Kunsthalle Lissabon, Lisbon, Portugal; 4000 Disparos, Musée d'art Contemporain de Montréal, Montreal, Canada [2013]; Ressaca Tropical, Galeria Vermelho, São Paulo, Brazil [2010]; Amor e Felicidade no Casamento, Instituto Itaú Cultural, São Paulo, Brazil [2008]. Selection of group shows: Entre-Temps... brusquement, et ensuite, 12e Biennale de Lyon, Lyon, France; La Bienal 2013: Here is where we jump, El Museo del Barrio, Nova York, USA; Future Generation Art Prize @Venice, Pallazzo Contarini Polignac, Venice, Italy; The Right to the City, Stedelijk Museum Bureau Amsterdam, Amsterdam, The Netherlands [2013]; When Attitudes Became Form Become Attitudes - CCA Wattis Institute for Contemporary Art – San Francisco – USA; Prêmio CNI/SESI Marcantonio Vilaça para Artes Plásticas, [traveling show], Brazil; The Ungovernables, New Museum Triennial, New Museum, Nova Iorque, USA [2012]; Sharjah Biennial 10, Sharjah, Emirates [2011]; 29ª Bienal de São Paulo: Há sempre um copo de mar para um homem navegar, Parque do Ibirapuera, São Paulo, Brazil [2010].