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setembro 8, 2013
Roesler Hotel: Cães Sem Plumas [prólogo] na Nara Roesler, São Paulo
Em 11 de setembro, a partir das 19h, a Galeria Nara Roesler recebe a exposição Cães sem Plumas [prólogo] como parte da programação do Roesler Hotel, projeto curatorial permanente relançado pela galeria em 2012.
Cães sem Plumas [prólogo], com curadoria de Moacir dos Anjos, reúne artistas brasileiros de gerações diversas, agrupados em torno de uma invenção de linguagem de João Cabral de Melo Neto. Um “cão sem plumas”, segundo o poeta, “é quando uma árvore sem voz. / É quando de um pássaro / suas raízes no ar. / É quando a alguma coisa / roem tão fundo / até o que não tem”.
A exposição é sobre aqueles que, no Brasil, vivem na iminência de perder o que lhes confere humanidade – sobre pessoas que vivem à margem de quase tudo que outros já alcançaram. Cães sem Plumas [prólogo] lança luz sobre a questão manicomial, sobre a condição dos povos indígenas e das pessoas em situação de rua, e sobre a população carcerária, através do desdobramento da pesquisa que o curador desenvolve junto à Fundação Joaquim Nabuco, em Recife.
Participam da exposição os artistas Antonio Dias, Marcos Chaves e Paulo Bruscky, representados pela galerias, além de Armando Queiroz, Berna Reale, Cildo Meireles, Claudia Andujar, João Castilho, José Rufino, Paula Trope, Paulo Nazareth, Regina Parra, Rosângela Rennó, Thiago Martins de Melo e Virginia de Medeiros.
Obras de caráter histórico serão exibidas, entre elas Cabeças (1968), de Antonio Dias, uma congregação de cubos colocados diretamente sobre o chão, cada qual com uma fenda semelhante às de caixas de correio ou urnas eleitorais, pela qual segredos, bilhetes e papeizinhos podem ser inseridos, mas nunca recuperados.
Cildo Meireles participa com algumas de suas mais emblemáticas obras, como a intervenção Ética como Estética / Estética como Ética, feita sobre o catálogo da 50ª Bienal de Veneza (2003). Trata-se de uma série de fotografias em preto e branco de uma chacina ocorrida no Rio de Janeiro em 1996. A primeira imagem reproduz a capa do jornal A Notícia, onde se lê em letras vermelhas garrafais o ambíguo título “Exposição Macabra”. Seguem mais oito imagens dos cadáveres de cinco traficantes fuzilados, equilibrados em manilhas abandonadas no meio da rua, que ficaram expostos durante horas antes de serem recolhidos. Zero Cruzeiro foi criada, impressa e distribuída no ano de 1974 colocando um índio e um desalojado como figuras centrais da cédula. Inserções em Circuitos Ideológicos – Projeto Cédula teve início na década de 1970. Cildo Meireles carimba, sobre dinheiro circulante, “opiniões críticas” e instruções sobre como proceder para fazer o mesmo. Em 1975, veiculou a pergunta “Quem matou Herzog?” sobre notas de cruzeiro – padrão monetário brasileiro vigente à época –, em referência às causas omitidas da morte do jornalista Vladimir Herzog enquanto estava em poder dos órgãos repressivos. Segundo declaração feita à época pelas autoridades militares, ele teria cometido suicídio por enforcamento quando deixado sozinho na cela, versão contestada e depois provada ser falsa. É somente em junho de 2013, contudo, que uma nova Certidão de Óbito do jornalista é emitida pelo Estado brasileiro, reconhecendo que Vladimir Herzog morreu em função de “lesões e maus tratos” nas dependências do DOI-CODI de São Paulo. Uma resposta oficial, ainda que tardia, à sua família, ao país, e à pergunta feita por Cildo Meireles em seu trabalho.
Claudia Andujar contribui com as séries Malencontro e Juqueri. Em Malencontro (2005), a fotógrafa, engajada na questão indígena, acompanha a população Yanomami na Amazônia brasileira. A série Juqueri (1963) nos dá acesso ao Hospital Psiquiátrico do Juqueri, que ao final da década de 1950 e início da década de 1960, chegou a abrigar mais de 14 mil internados.
A mostra fica em cartaz até 9 de novembro, na Galeria Nara Roesler.
Sobre o curador
Moacir dos Anjos é curador e pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco, onde coordena o programa de exposições “Política da Arte” e a pesquisa “Cães sem Plumas: a representação de danos nas artes visuais”, da qual a presente mostra é parte. Foi diretor do Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães, no Recife (2001-2006), do 30º Panorama da Arte Brasileira, no Museu de Arte Moderna de São Paulo (2007) e da 29ª Bienal de São Paulo (2010). É autor, entre outros, dos livros Local/Global. Arte em Trânsito (Rio de Janeiro, Zahar, 2005) e ArteBra Crítica: Moacir dos Anjos (Rio de Janeiro, Automática, 2010).