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agosto 28, 2013
Oscar Muñoz – Eclipse na Daros, Rio de Janeiro
Autor de trabalhos marcantes na exposição “Cantos Cuentos Colombianos“, na Casa Daros, Oscar Muñoz transforma um dos espaços de arte e educação da instituição em uma “câmera escura“
Oscar Muñoz – Eclipse, Casa Daros, Rio de Janeiro, RJ - 01/09/2013 a 20/10/2013
A Casa Daros apresenta, a partir do dia 31 de agosto de 2013, às 12h, a exposição "Eclipse", um site specific do artista colombiano Oscar Muñoz (1951, Popayán), que ocupará a maior sala expositiva de arte e educação da instituição. "Eclipse“ marca a transição das atividades dedicadas à Colômbia, por conta da exposição "Cantos Cuentos Colombianos“, para as que vão enfocar experiências com a luz, a serem feitas paralelamente à grande exposição de obras cinéticas luminosas de Julio Le Parc , que será aberta no dia 11 de outubro próximo.
A obra, concebida inicialmente em 2002 – e já apresentada em vários locais, como a Sala Comfandi, em Cali, e Galeria Santa Fé, em Bogotá, e no Iniva (Institute of International Visual Arts), em Londres, em 2008 – será composta de seis espelhos côncavos, dispostos próximos a seis janelas da sala, inteiramente vedadas, com a exceção de um minúsculo orifício, o pinhole (buraco de alfinete), que permitirá a entrada da luz. Com isso, a sala se tornará em uma imensa câmera escura, onde a imagem exterior será projetada na parede, invertida, a partir do espelho.
Oscar Muñoz destaca, no texto que escreveu sobre a obra “Eclipse“ – um de seus poucos escritos sobre seu trabalho – que a imagem projetada “não pode ser vista completamente, porque o espelho cobre uma grande parte do seu reflexo, criando uma confrontação entre o círculo e o espelho, que impede sua visão completa“. Ele diz que a instalação representa “os diferentes momentos de um eclipse incompleto, quer dizer, sem as fases inicial nem final do fenômeno“. O artista lembra que “quase unanimemente, os eclipses tem sido interpretados como signo adverso: são algo indevido, que rompe a harmonia das leis naturais“. “O eclipse, por assinalar uma desaparição, uma ocultação acidental da luz, é universalmente considerado como um evento dramático“, diz.
PERSEU E A MEDUSA
Oscar Muñoz ressalta que o espelho côncavo tem sido usado tanto para olhar o céu, pelos astrônomos, speculum, "como para pintar e representar o mundo pelos artistas, câmara obscura“. Portanto, esta obra "retoma essos antigos mecanismos e os mistura: se olha a terra como um objeto artístico/astro, a partir da própria terra, de uma galeria/planetário“.
Ele cita um texto do artista conceitual catalão Joan Fontcuberta (1955, Barcelona), que observa que originariamente "especular" significava observar o céu e os movimentos
relativos das estrelas com a ajuda de um espelho; “A palavra latina ‘sidus‘, estrela, constelação, derivou em ‘consideração‘, que significa etimologicamente olhar o conjunto de estrelas. Estas duas palavras abstratas, que designan hoje operações altamente intelectuais, estão enraizadas no estudo dos astros refletidos em espelhos. Dessa maneira, se introduz um paradoxo: o reflexo asséptico do espelho se superpõe a outro reflexo especulativo. A natureza do especular contém por igual ambas visões, e se uma fica eclipsada pela outra se deve tão-somente a uma tomada de postura a priore".
Oscar Muñoz destaca que "talvez o objeto mítico mais próximo a estes espelhos seja o escudo de Perseu em sua luta contra a Medusa, um elemento de defesa que Perseu
converte, não somente no objeto que o protege da visão direta da Górgona mas em sua arma principal para enfrentá-la“. “Ainda que considere inútil tratar de dar interpretações aos mitos, creio que há uma relação estreita entre esta obra e o mito mencionado, entre outras coisas, porque evita a visão direta, propondo uma confrontação diferente, uma mirada indireta e invertida que gira ao redor da dificuldade e da necessidade do homem em representar (re-apresentar, no espanhol original) a realidade“, afirma o artista.