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agosto 25, 2013
Suspicious Minds na Vermelho, São Paulo
A Galeria Vermelho apresenta, de 27 de agosto a 21 de setembro de 2013, a exposição “Suspicious Minds”, com curadoria da brasileira radicada em Paris, Cristina Ricupero. A coletiva conta com a participação de mais de vinte artistas brasileiros e estrangeiros com obras que exploram a relação entre arte e crime na produção contemporânea. Os artistas são Kader Attia, Sven Augustijnen, Dora Longo Bahia, Jean-Luc Blanc, José Mojica Marins [Zé do Caixão], Asli Cavusoglu, Marcelo Cidade, Brice Dellsperger, Dias & Riedweg, Guga Ferraz, Sandra Gamarra, Eva Grubinger, Gustavo von Ha, Gabriel Lester, Antonio Manuel, Fabian Marti, José Carlos Martinat, Cildo Meireles, Gisela Motta e Leandro Lima, Regina Parra, Rosângela Rennó, Lili Reynaud-Dewar, Aida Ruilova e Carla Zaccagnini.
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Suspicious Minds, Galeria Vermelho, São Paulo, SP - 28/08/2013 a 21/09/2013
Como em toda boa história de detetive, a história da arte é cheia de enigmas: mitos e mistérios insolúveis que aguardam para serem investigados e desvendados, como em pinturas que sugerem esconderijos perfeitos para segredos ocultos. Encontrar solução para esses enigmas intelectuais é um prazer para pessoas de todas as idades e épocas. Ninguém praticamente está imune dessa tentação cultural. A galeria de arte se transforma, a partir dessa perspectiva, no local da "cena do crime".
Os artistas sempre se sentiram fascinados pelo lado obscuro da natureza humana, mas foi apenas no século XIX que esse aspecto adquiriu dimensões mais radicais. Walter Benjamin observou que o desenvolvimento da técnica fotográfica foi crucial para o surgimento da criminologia e de sua representação na imprensa, criando condições para a popularização das histórias de detetive. Ele explicava, com efeito, que essas histórias só puderam passar a existir quando os seres humanos desenvolveram a capacidade de deixar marcas permanentes como prova inequívoca de sua existência. Mais tarde, o cinema acompanhou a fotografia, tornando-se o meio perfeito para capturar e transformar em imagens agradáveis os duvidosos encantos da violência.
A exposição “Suspicious Minds” se concentra especialmente em obras de artistas contemporâneos que ultrapassam os limites que vinculam a arte à estética do crime. Para além do crime, existe sempre a questão do Mal. Qualquer projeto que aborde arte e crime acabará, portanto, nos forçando a examinar a relação entre ética e estética. Da mesma forma que o artista que tenta resistir à tentação de não deixar rastros, o serial killer vai "assinar" seus crimes com sua marca pessoal a fim de assegurar seu reconhecimento público. O projeto "Suspicious Minds" é, assim, a ocasião perfeita para discutir questões relacionadas com autoria, autenticidade, trapaça e fraude. "Suspicious Minds" pretende reunir ficção policial e arte contemporânea, indo além da dicotomia entre "bom" e "mau" gosto, com destaque para a relação entre "crime como arte” e “arte como crime”. Com isso, a exposição retoma o debate sobre as relações entre vanguarda, modernismo e cultura popular.
“Suspicious Minds” evoca o espírito do moderno gênero do crime em literatura, artes visuais, arquitetura e cinema, convertendo as salas da Vermelho em várias "cenas de crime". Dessa maneira, "Suspicious Minds" inclui novas obras e projetos de cerca de 24 artistas brasileiros e internacionais, reunindo trabalhos desafiantes e provocadores com múltiplas estratégias artísticas.
O objetivo da exposição não é servir como mera ilustração ou comentário acerca do crime. Algumas propostas abordam o assunto diretamente, enquanto outras funcionam de forma mais mental, histórica ou conceitual, criando subtemas como: obras de arte como esconderijo de segredos ocultos; gêneros de crime moderno e histórias de detetive; a estética do crime (cadavres exquis e o cinematográfico); a imagem do artista como marginal; lei, ordem e transgressão, autoria, autenticidade, truques e fraudes; a galeria de arte como cena do crime; como a sociedade cria o mal: o ocidente contra o oriente, etc.
Na obra “Stricto”, de Cildo Meireles, o espectador é confrontado com um espaço que evoca uma sala de interrogatório, na qual uma pequena mesa mal iluminada é rodeada por uma longa corrente com bolas de aço e algemas. O centro da atenção do trabalho se concentra nitidamente no controle da mente e do corpo.
Em “Apagamentos”, Rosângela Rennó retrabalha fotografias feitas pela polícia científica. Esse resgate de rostos anônimos que revelam crimes e tragédias particulares é dotado de uma narrativa de alto impacto e funciona como um "documento da amnésia". Cenas que por pouco não foram apagadas ganham, em “Apagamentos”, ares de ficção literária.
Na fachada da galeria, a artista austríaca Eva Grubinger instalou uma bandeira e uma placa de bronze, da Embaixada da Eitopomar, um reino utópico na selva amazônica governado pelo vilão Dr. Mabuse.
O artista holandês Gabriel Lester, que participou da ultima edição da Documenta de Kassel, e que atualmente expõe na 55ª Bienal de Veneza, recriou para “Suspicious Minds” a instalação “Habitat Sequence”. Na instalação, a sala 1 da Vermelho foi totalmente decorada como uma sala de estar, que, embora não pretenda imitar uma “cena do crime”, se assemelha a um local onde algo fantasmagórico e misterioso está prestes a acontecer.
Em sua mais recente pintura, da série “Farsa”, Dora Longo Bahia nos aproxima das guerras contemporâneas, colocando lado a lado uma imagem da pintura “Marat Assassiné” de Jacques-Louis David, com uma imagem de um jovem assassinado retiradas da internet.
Já o franco-argelino Kader Attia, também presente na última Documenta, propõe uma seleção de slides que reproduzem imagens de jornais e HQs nas quais o homem não ocidental é repetidamente exibido como um animal ou um monstro. Sua seleção de slides denuncia a manipulação das imagens pela propaganda pró-colonialista que se esconde atrás de uma suposta missão civilizatória.
Gustavo Von Ha traz de volta o espírito de alguns dos Modernistas de 1922, entre os quais Tarsila do Amaral, por meio de uma série de apropriações situadas num cenário Beaux-Arts.
No dia 10 de março de 1914, Mary Richardson entrou na National Gallery, em Londres, e desferiu várias punhaladas na tela “Vênus do Espelho” de Velásquez. O livro de artista “Elements of Beauty”, de Carla Zaccagnini, reúne material documental sobre ações desse tipo levadas a cabo em museus e galerias pelo grupo Suffragettes. A obra propõe uma leitura centrada em atos nos quais a obra de arte se transforma em vítima.
O artista francês Brice Dellsperger revisita Brian de Palma e o cineasta cult Kenneth Anger com a sua série de filmes “Body Double”. Enquanto o filme gótico da artista americana Aida Ruilova, “Goner” apresenta uma jovem atacada por forças obscuras e invisíveis transformando o espectador em um verdadeiro voyeur, o artista suíço Fabian Marti faz uma homenagem a Hélio Oiticica com uma série de fotografias que se referem às “Cosmococas”.
"Suspicious Minds" conta ainda com objetos e imagens iconográficas da obra de José Mojica Marin [Zé do Caixão], e instalações de Marcelo Cidade, Dias & Riedweg, Gisela Motta e Leandro Lima, Jean-Luc Blanc, Guga Ferraz entre outros.
Essas são apenas algumas das muitas histórias que serão oferecidas ao visitante da mostra como enigmas a decifrar.
Primeira exposição de Cristina Ricupero no Brasil, "Suspicious Minds" é uma colaboração entre a Galeria Vermelho e a curadora, que conta com o apoio do Consulado Geral da França em São Paulo, da Fundação ProHelvetia [Suíça], e do Bundesministerium für Unterricht, Kunst und Kultur [Áustria]. Uma outra versão desse projeto será apresentada em janeiro 2014 no centro de arte contemporânea Witte de With, em Roterdã, na Holanda.
Cristina Ricupero é curadora independente e crítica de arte residente em Paris. Entre outros projetos, ela foi responsável pela curadoria da exposição "Sociedades Secretas", para o Schirn Kunsthalle, em Frankfurt (junho-setembro de 2011), que viajou para CAPC Bordeaux (novembro de 2011-fevereiro 2012). Em 2006, ela foi contratada para cobrir a seção europeia da Bienal de Gwangju na Coréia do Sul. Ricupero trabalhou como curadora no NIFCA [Nordic Institute for Contemporary Art] em Helsinque, de 2000-2005, e também como Diretora Associada de Exposições no ICA, em Londres, de 2000 até 2004. Um de seus projetos mais importantes para NIFCA foi a exposição " Populism " (2005). Cristina Ricupero realiza, com frequência, palestras em diferentes academias de arte na Europa e é colaboradora regular da revista Frieze.
Suspicious Minds, Galeria Vermelho, São Paulo, SP - 28/08/2013 til 21/09/2013
From August 27 to September 21, Galeria Vermelho will present “Suspicious Minds”, an exhibition project exploring the relationship between art and crime in contemporary art. Curated by Cristina Ricupero, the show includes works by Kader Attia, Sven Augustijnen, Dora Longo Bahia, Jean-Luc Blanc, Zé do Caixão, Asli Cavusoglu, Marcelo Cidade, Brice Dellsperger, Dias & Riedweg, Guga Ferraz, Sandra Gamarra, Eva Grubinger, Gustavo von Ha, Gabriel Lester, Antonio Manuel, Fabian Marti, José Carlos Martinat, Cildo Meireles, Gisela Motta e Leandro Lima, Regina Parra, Rosângela Rennó, Lili Reynaud-Dewar, Aida Ruilova and Carla Zaccagnini.
Just as in a good detective story, art history is actually filled with enigmas, myths and unsolved riddles that seem to be only waiting to be investigated and unravelled. There are paintings that look like the perfect hideout for well-hidden secrets. Trying to solve these intellectual puzzles is a pleasure for all ages and seasons and practically no one is immune to this cultural temptation. Seen from that approach, the art gallery almost becomes the “scene of the crime”.
The dark side of human nature has always fascinated and inspired artists but it was not until the 19th century that this aspect took a more radical stance. The development of photography was actually crucial, as Walter Benjamin has noted, for the appearance of criminology and its sensational representation in the tabloid press, ultimately leading to the popularisation of detective stories. The detective story, according to Benjamin, could only come to exist when human beings developed the ability to leave permanent traces behind them as an unmistakable evidence of their existence. Later cinema picked up on this and became the perfect medium to capture and transform the dubious charms of violence into pleasurable images.
The exhibition ‘Suspicious Minds’ will mainly focus on contemporary artists that cross the bridges linking art and the aesthetics of crime. Beyond crime, there is always the everlasting question of Evil, and therefore any project that deals with art and crime will ultimately force us to examine the relationship between ethics and aesthetics. Like the artist who constantly resists the temptation not to leave traces, the serial killer will “sign” his murders with his own personal mark to ensure recognition. This project is thus the perfect occasion to discuss questions of authorship, authenticity, trickery and fraud. “Suspicious Minds” aims to bring together detective fiction and contemporary art, going beyond the dichotomy between ‘good’ and ‘bad’ taste, highlighting the double bind of ‘Crime as Art’ and ‘Art as Crime’. ‘Suspicious Minds’ will therefore necessarily re-open the debate on the links between the avant-garde, modernism and popular culture.
This exhibition curated by Cristina Ricupero will invoke the spirits of the modern crime genre in Literature, the Visual Arts, Architecture and Cinema, to transform Galeria Vermelho’s rooms into multiple ‘crime scenes’.
“Suspicious Minds” includes new works and projects by around 20 Brazilian and international artists and artist groups, bringing together challenging works in a multitude of artistic strategies.
The exhibition’s aim is not to serve as a mere illustration or commentary to the theme. Instead, participating artists will deal in different ways with the overall theme. Some works will directly address the subject matter whereas others will function in a more mental, historic or conceptual way through sub-themes such as: artworks as hideouts for hidden secrets; the modern crime genre and detective stories; the aesthetics of crime (exquisite corpses and the cinematic); the image of the artist as marginal; law, order and transgression; authorship, authenticity, trickery and frauds; the art gallery as the scene of the crime/art crimes; how society creates evil, us (West) against them (other non-Western countries).
With his monumental installation “Strictu”, Brazilian artist Cildo Meireles confronts the viewer with a space that evokes an interrogation chamber where a barely lit small table is surrounded by a very long chain containing steel balls and handcuffs. Here mind and body control are at centre stage.
With “Apagamentos”, Brazilian artist Rosângela Rennó re-works photographs initially taken by the forensic police. These appropriations of anonymous faces that reveal private tragedies and crimes contain a high level of narrative impact functioning a bit like ‘amnesia documents’. Rennó transforms scenes that were almost erased and forgotten, into literary fiction.
Austrian artist Eva Grubinger puts up a flag and a brass plaque on the facade of the gallery turning it into 'the “Embassy of Eitopomar”, an utopian kingdom in the Amazon jungle ruled by the evil master villain Dr. Mabuse.
Dutch artist Gabriel Lester recreates a fully decorated and conceivable living room in one of the gallery spaces; although it does not necessarily aim to depict a ‘crime scene’, it definitely evokes it by its phantasmagoric, eerie quality.
Brazilian artist Dora Longo Bahia takes us close to contemporary wars as she revisits Jacques-Louis David’s “Marat Assassiné“ by re-painting the masterpiece on recycled army tent; she juxtaposes it with another painting featuring realistic images and vandalizes both with red color acrylic paint during the opening of the show.
French-Algerian artist Kader Attia presents a slide show including images from his own private collection of newspapers and comic strips that repeatedly seem to depict the non-Western person as a beast or monster, showing how these images were manipulated by pro-colonial propaganda pretending to have a civilizing mission.
Brazilian artist Gustavo von Ha brings us back the spirit of the Modernist Brazilian Movement of 1922, including re-known artist Tarsila de Amaral, with a series of appropriations he sets up in a Beaux-Arts décor.
On March 10, 1914, Mary Richardson went into the National Gallery in London and repeatedly stabbed the painting ‘The Toilet of Venus’ by Velasquez. The artist book “Elements of Beauty” by Carla Zaccagnini brings together material and documentation on a series of similar actions by the group Suffragettes that took place in art galleries and museums. This book mainly focuses on interventions where the work of art literally becomes the victim.
French artist Brice Dellsperger revisits Brian de Palma and cult underground filmmaker Kenneth Anger with his ongoing series of films called “Body Double”. The gothic B-movie style film “Goner” by American artist Aida Ruilova features a young woman being recurrently attacked by obscure, invisible forces and transforms the viewer into a voyeur. Swiss artist Fabian Marti pays tribute to Hélio Oiticica with a series of prints that make direct reference to the artist’s well-known “Cosmococas”.
‘Suspicious Minds’ will also present objects, props and posters by cult B-movie filmmaker José Mojica Marins (also known as ‘Coffin Joe’) as well as other works by Marcelo Cidade, Dias & Riedweg, Gisela Motta and Leandro Lima, Jean-Luc Blanc, Guga Ferraz and more.
These are just a few of the many stories that visitors to the show will be offered as puzzles to be unraveled.
“Suspicious Minds” aims to bring together a few selected artists from Europe and the US together with Brazilian artists from the gallery and elsewhere. It is mainly set up as a collaboration and cooperation between Galeria Vermelho and curator Cristina Ricupero with the support of the Consulado Geral da França em São Paulo, ProHelvetia [Switzerland], and Bundesministerium für Unterricht, Kunst und Kultur [Austria]. Another version of this exhibition project will be presented at the Witte de With in Rotterdam in January 2014.
Cristina Ricupero is an independent curator and art critic based in Paris. Amongst other projects, she recently curated a major exhibition project, “Secret Societies”, for the Schirn Kunsthalle in Frankfurt (June-September, 2011), which toured to CAPC Bordeaux (November, 2011-February 2012). In 2006 she was commissioned to cover the European section of the Gwangju Biennale in South Korea. She worked as a curator at NIFCA [Nordic Institute for Contemporary Art] in Helsinki from 2000-2005 and also as Associate Director of Exhibitions at the ICA in London from 2000 until 2004. One of her most important projects for NIFCA was a major exhibition project called “Populism” (2005). Cristina Ricupero has also been a frequent lecturer at different art academies in Europe and is a regular contributor to Frieze magazine.