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agosto 5, 2013
Antonio Caro - Caro não é Carioca na Daros, Rio de Janeiro
Um dos mais importantes artistas conceituais da Colômbia, e um dos mais emblemáticos dos anos 1970, Antonio Caro é tema de uma antologia de seu trabalho, nas salas de arte e educação da Casa Daros.
Antonio Caro - Caro não é Carioca, Casa Daros, Rio de Janeiro, RJ - 11/08/2013 a 06/10/2013
A Casa Daros apresenta, a partir do dia 10 de agosto de 2013, a exposição “Caro não é Carioca”, uma antologia com trabalhos fundamentais do importante artista conceitual colombiano Antonio Caro, nascido em 1950 em Bogotá, onde vive e trabalha. Eugenio Valdés Figueroa, diretor de arte e educação da Casa Daros, explica que a mostra pretende dar visibilidade no Brasil “a um dos mais importantes artistas conceituais colombianos de sua geração, a dos anos 1970”. Para isso, selecionou oito emblemáticos trabalhos do artista – um deles um site specific a ser realizado com urucum, pertencentes ao acervo do próprio artista – à Coleção Daros Latinamerica, e a outras coleções como a do crítico e historiador de arte Frederico Morais, além de vídeos, documentos e cartazes.
A exposição será acompanhada de uma publicação com textos de Eugenio Valdés Figueroa, Frederico Morais e Luis Camnitzer, artista conceitual nascido no Uruguai e radicado em Nova York, e de críticos colombianos como Miguel González, Jaime Cerón, Eduardo Serrano e Victor Manuel Rodrìguez, além de fragmentos de entrevistas de Antonio Caro.
O título “Caro não é Carioca” foi sugerido pelo próprio artista. “Ele gosta de brincar com as palavras, e não é a primeira vez que usa seu próprio sobrenome. Uma parte importante de sua obra esteve direcionada a fazer comentários sagazes através de palavras e símbolos, em que o lugar do artista ‘Caro’, por exemplo, pode multiplicar-se e confundir-se com o ‘custo da vida’, ao mesmo tempo em que jocosamente pisca o olho para si mesmo”, explica Eugenio Valdés Figueroa.
Antonio Caro só expôs no Brasil em 1980, no Museu de Arte e Cultura Popular, em Cuiabá em curadoria de Aline Figueiredo, por indicação de Frederico Morais, que havia conhecido o trabalho do artista quando esteve na Colômbia fazendo pesquisas. “Uma tartaruga teria levado menos tempo do que eu, para ir de Cuiabá ao Rio de Janeiro”, brinca o artista.
POP LATINO-AMERICANO
Eugenio Valdés ressalta que Antonio Caro reconhece o indiscutível impacto que, entre os anos 1960 e 1970, o Pop europeu e norte-americano tiveram na arte colombiana. “Nos diferentes cenários latino-americanos, muitos artistas se interessaram por ressignificar os ícones pop da sociedade de consumo para deixar descoberto seu reverso ideológico, ou para buscar seus heróis à margem da sociedade e da história oficial, ou para identificar e valorizar outros repertórios do vernáculo extraídos das idiossincrasias locais, incluindo não somente o urbano, mas também o suburbano e as tradições nativas, rurais e indígenas”.
“Do pop, procede a obsessão pelos processos da cultura da comunicação e pela produção, reprodução e circulação massiva. A repetição se tornou parte da estratégia conceitual de Caro, que diz que ao longo do tempo foi um ‘trabalhador de textos’”, explica.
OBRAS NA EXPOSIÇÃO
A seguir, o curador comenta algumas obras em exposição.
“Homenaje a Manuel Quintín Lame” (Homenagem a Manuel Quintin Lame), 1972 – Desenho feito com urucum in situ. Tamanho a ser definido na hora pelo artista.
Numa conjunção do experimento conceitualista e da resistência política, Antonio Caro se apropriou da assinatura de Manuel Quintín Lame (1880-1967), líder indígena, advogado autodidata, que dedicou toda sua vida a lutar pelos direitos do povo Paéz e de outras comarcas na Colômbia. Soube do líder quando, há quarenta anos, quase por acaso, leu seu livro Las enseñanzas del indio que se educó en la selva (Os ensinamentos do índio que se educou na floresta). Apesar de sua importância, Quintín Lame continua insuficientemente reconhecido, pertence à periferia da história ou, como diz Morais, à contra-história, ela mesma constituída de obras inacabadas, inconclusas. Desde 1972, toda vez que Caro pinta com urucum essa assinatura, reivindica a história do cacique e lhe rende homenagem. Sendo assinaturas “efêmeras”, ao não se poder “possuir” – disse o artista – são portadoras de uma delicadeza ética muito significativa.
“En 1978 Todo está muy Caro” (Em 1978 Tudo está muito Caro)
Cartaz feito em 1978 por ocasião do XXVII Salão Nacional da Colômbia. Coleção do
artista.
O cartaz “Todo está muy Caro” é um de seus trabalhos mais conhecidos, que vem sendo repetido desde 1978 em incontáveis variações, atualizações de ano e lugar, quase como uma confirmação de que as coisas – infelizmente – não mudaram tanto ao longo das últimas quatro décadas, e de que nos encontramos diante de um artista tão obstinado quanto consequente e íntegro com relação às ideias que defende.
“Aquí no cabe el arte” (Aqui não cabe a arte), 1972
Tinta sobre papel, 100cm x 1120cm. Coleção do artista
No Salão de Artistas Nacionais, em 1972, Caro apresentou AQUINOCABEELARTE (AQUINÃOCABEAARTE), uma obra de mais de 11 metros de comprimento, explicitamente política em mais de um sentido. Com feitura e materiais precários, a obra se apresentava como crítica institucional manifestada ao Salão que fazia parte de um circuito artístico dominado pela ortodoxia acadêmica e por um mercado complacente. Nesse contexto, realmente, o tipo de arte que Caro propunha “não cabia”, pois trazia não apenas um questionamento formal, mas sobretudo uma mudança de atitude em relação à finalidade da prática artística. Debaixo de cada letra lia-se o nome de estudantes e ativistas indígenas assassinados, com informações detalhadas.
“Colombia”, 1976 / 2010
Esmalte poliuterano sobre metal. Coleção Daros Latinamerica, Zurique.
Em 1975, Caro se apropria do design das caixas de cigarro Marlboro, nas quais insere a palavra “Colombia”. Um ano depois, recorre ao logotipo da Coca-Cola para novamente escrever “Colombia”, desta vez com letras brancas sobre um suporte de lata esmaltada em vermelho brilhante. Referindo-se a “Colombia-Coca-Cola”, conclui que a arte é, simplesmente, uma questão de enfrentar ou não o branco, e que foi por essa obra que “transcendeu as fronteiras do mundinho da arte”. Como não conseguiu terminar seus estudos na universidade, a considera algo assim como “seu trabalho de conclusão de curso”.
“Maiz” (Milho), 1993
Serigrafia (baseada em selo postal)
56,3cm x 75,9 cm
Coleção do artista
“Maiz” (Milho), 1981
Serigrafia sobre papel de algodão
80 x 60 cm
Edição de 100 nº 36/100
Col. Particular
Há no trabalho de Antonio Caro também uma certa afinidade gráfica com o pop que, por exemplo, lhe permitiu transformar a imagem do pé de milho em um elemento emblemático de seu trabalho, que lhe dá uma marca pessoal, ao mesmo tempo em que exalta uma tradição alimentar que remonta à época pré-hispânica e alcança toda a América Latina.