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junho 24, 2013
Everardo Miranda na Anita Schwartz, Rio de Janeiro
Everardo Miranda, Anita Schwartz Galeria, Rio de Janeiro, RJ - 27/06/2013 a 27/07/2013
Anita Schwartz Galeria de Arte apresenta, a partir de 26 de junho para convidados, e do dia seguinte para o público, a exposição do artista Everardo Miranda, uma única e grande instalação pensada especialmente para a Galeria.
Everardo Miranda aplicará óxido de ferro seco nas paredes por meio de fricção, numa extensão de 19 metros lineares, com quatro metros de altura. As bordas serão difusas, esfumaçadas, com exceção de um metro de largura no centro da parede frontal, onde ele deixará um espaço vazio, “como um ato escultórico de desbastar, retirar o excesso”, explica. Nas paredes laterais a pintura em óxido de ferro estará demarcada em dois grandes retângulos. O excesso do pigmento ficará depositado no chão, “resíduos” desta ação.
“Depois de tanto tempo, o trabalho se apresenta em toda sua dimensão pictórica na Galeria Anita Schwartz. As grandes superfícies de parede impregnadas de óxido de ferro são murais contemporâneos e não deixam de trazer para o presente a memória moderna na sua delicada vertente em que a arte – de Rothko a Mira Schendel – nos ensinou como ela aparece no mundo. Depositado por fricção pelo artista, o pigmento parece que sempre esteve lá, de alguma forma escondido, e resolveu um dia surgir numa aparição monumental. A escala nos envolve e nos contém. De certo modo, somos possuídos por essa cor de ferrugem ancestral de nossas montanhas do interior. Mas nessa posse, como que abraçados pela pintura, não há nenhum gesto violento. Como em toda doutrina do aparecimento da arte, predomina a afabilidade, de quem apenas diz: “Ó eu aqui.”, afirma o crítico de arte Paulo Sérgio Duarte no texto que acompanha a exposição.
O uso do óxido de ferro como uma pele no grande cubo branco da Galeria – 200 metros quadrados de área com 7,5m de altura – remete à ideia de escultura, e ainda, ao retângulo tão caro à pintura. Ele observa que o óxido de ferro é também o elemento encontrado nas pinturas pré-históricas como nas cavernas de Lascaux, na França, ou nas de Altamira, na Espanha.
"Não é por acaso que a substância da pintura sobre a parede é a mesma que está presente em inúmeras de suas esculturas. A relação de parentesco entre as dimensões pictórica e escultórica do trabalho determinada pelo material aparece como algo inevitável como se quisessem reforçar a origem comum”, ressalta Paulo Sérgio Duarte.
Com este trabalho, o artista quer criar a sensação de que o espectador faz parte da obra. “É como se você estivesse dentro do trabalho”, ressalta.
O artista diz que a ambiguidade é um dos aspectos presentes em sua obra, desde o início de sua trajetória. “Neste trabalho, está tudo lá: pintura, escultura, instalação, além dos limites difusos dos retângulos”, explica Everardo Miranda.
GRAVURAS
Durante a exposição, serão lançadas dez gravuras inéditas, feitas pelo artista especialmente para esta mostra. As gravuras medem 70cm x 50cm e cada uma terá uma tiragem de dez exemplares.
As gravuras reproduzem uma série de desenhos do artista feitos em 1974, que fazem parte da coleção do Gilberto Chateaubriand. Essas imagens foram “redesenhadas” no computador. A impressão é digital e foram produzidas pela Lithos Edições de Arte. Nesses trabalhos, a ambigüidade também está presente. “Altero as conexões nos cantos dos retângulos, produzindo uma leitura ambígua dos planos que constroem a imagem”, diz.
Everardo Miranda tem sido chamado para intervir em projetos arquitetônicos monumentais na Itália. No outlet Soratte, nos arredores de Roma, ele realizou a obra “O Sole Mio”, projeto de 2005, inaugurado em 2008. Nesta obra, ele criou desenhos no chão, numa área de 23 mil metros quadrados, usando pedras da região da Toscana, um grande mosaico simulando sombras da construção. Criou um “diálogo de sombras”. O detalhe foi que utilizou como cálculo a incidência do sol sobre o Rio de Janeiro, criando uma estranha duplicidade, já que, como Roma fica no hemisfério norte, as sombras, a real e a fictícia, se projetam em direções opostas e nunca se encontram.
Em 2008 realizou outro grande mosaico na pavimentação de um prédio empresarial, também em Roma.
SOBRE O ARTISTA
Everardo Miranda (Rio de Janeiro, 1951, arquiteto formado pela UFRJ) realizou suas primeiras exposições em 1971, no antigo Instituto de Belas Artes (IBA), em 1981, quando expôs desenhos e esculturas na Galeria Cândido Mendes, Rio, e em 1981/82, na Galeria Sergio Milliet, Funarte, no Projeto ABC – Arte Brasileira Contemporânea, criado por Paulo Sergio Duarte.
Foi diretor de Artes Visuais da Secretaria Municipal de Cultura / RioArte, entre 1983 e 1988. Inaugurou o Espaço Cultural Sergio Porto em 1983 com uma retrospectiva de instalações de artistas importantes como Cildo Meireles, Tunga, Antonio Dias, Waltercio Caldas, Artur Barrio, José Resende e Umberto Costa Barros. No mesmo período, cria o projeto “Instalações no Parque da Catacumba” e lança a série de vídeos “RioArteVideo- Arte Contemporânea”, até hoje exibida nacional e internacionalmente.
Em 1990, reassume a direção de Artes Visuais da RioArte, quando cria e faz a curadoria, até 1993, das exposições da “Galeria Sergio Porto”, e do “Gabinete de Arquitetura”. Como assessor da Secretaria Municipal de Cultura, em 1994, criou o projeto “Esculturas Urbanas”, que resultou na instalação de cinco esculturas monumentais contemporâneas em áreas do Corredor Cultural – Centro do Rio (Waltercio Caldas, José Resende, Ivens Machado, Weissmann e Amílcar de Castro) – projeto desenvolvido pelo crítico de arte Reynaldo Roels Jr.
Em dois períodos distintos - de 1995 a 1997, e de 2009 a 2011, foi diretor do Museu Histórico da Cidade do Rio de Janeiro.
Em 2005, retoma sua produção artística e expõe na Galeria Mercedes Viegas e na Galeria Bolsa de Arte, em Porto Alegre, durante a Bienal do Mercosul. Em 2009, expõe na Anita Schwartz Galeria de Arte.
Suas exposições foram acompanhadas de textos dos seguintes críticos: Paulo Venâncio Filho, Ronaldo Brito, Gloria Ferreira e Luiza Interlengui;
Na atual exposição, na Galeria Anita Schwartz , o texto é do crítico Paulo Sergio Duarte.
No momento, desenvolve o projeto “Costruzione Legittima”, pintura em um teto a ser construído sobre as plataformas de embarque da estação central de trens, RomaTermini, medindo 152 x 107m, em Roma, na Itália.
Suas obras figuram em importantes coleções particulares, como as de Gilberto Chateaubriand, Thomas Cohn, Universidade Cândido Mendes, Luis Antonio Almeida Braga, Raquel Arnaud, Cildo Meireles, entre outros.