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maio 29, 2013

Fundação Iberê Camargo abre mostras de Paulo Pasta e Elida Tessler

Ao lado dos curadores Tadeu Chiarelli e Glória Ferreira, os artistas apresentam dois grandes momentos das suas produções. Mostras serão inauguradas juntas no dia 6 de junho e exibidas ao público de 7 de junho a 18 de agosto

Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, RS - 07/06/2013 a 18/08/2013
Elida Tessler - Gramática Intuitiva e Paulo Pasta - A pintura é que é isto

Após iniciar o calendário de 2013 com a mostra William Kentridge: Fortuna e com Iberê Camargo: O Carretel – Meu Personagem, assinada pelo curador Michael Asbury, a Fundação Iberê Camargo dá sequência a sua programação com dois grandes nomes da arte contemporânea brasileira. Dia 7 de junho abrem juntas para visitação a exposição de obras mais recentes do pintor, desenhista, ilustrador e professor Paulo Pasta, que terá como curador Tadeu Chiarelli, e a panorâmica dos últimos 20 anos de produção de Elida Tessler, artista conhecida por entrelaçar palavras a objetos, com curadoria de Gloria Ferreira. As mostram tem o patrocínio das empresas Gerdau, Itaú, Vonpar e De Lage Landen.

Infusão luminosa

Paulo Pasta. A pintura é que é isto, com curadoria de Tadeu Chiarelli, apresenta 34 trabalhos (25 pinturas e 9 desenhos) da produção mais recente de Paulo Pasta, entre 2008 e 2013. Ao longo dos anos, sua pintura vem adquirindo mais fluidez, como se perdesse a opacidade e ganhasse mais luminosidade, sem deixar de lado a característica marcante em seu trabalho, a indefinição com as formas e as cores. “Minha pintura sempre guarda para si uma indefinição, como uma espécie de segredo, algo que possa instigar o olhar. Como se ela pudesse produzir o instante”, diz.

A pintura de Paulo Pasta possui uma fisicalidade notória, e não apenas por suas dimensões e cores, mas também pela intensificação de todos os elementos que a constitui, tornando sua presença um pedido de convivência por parte do espectador, o que vai além de uma simples contemplação. Nos trabalhos Dia e Noite, que serão exibidos no 4º andar da Fundação Iberê Camargo, há um aspecto atmosférico que ele imprime, principalmente, por meio do uso das cores. “Nunca uso a cor pura. O tom se desdobra em vários outros tons, criando uma atmosfera de infusão luminosa. Parece que sempre estou pintando estados da consciência”, conta o artista, expoente da chamada Geração 80 de pintura no Brasil.

Para o curador Tadeu Chiarelli, nas obras que formam Paulo Pasta. A pintura é que é isto compreende-se como as estruturas simples concebidas pelo artista estão ali para dar suporte à cor, suporte precário que mal consegue contê-la nas áreas predeterminadas. “É no jogo entre o caráter tíbio dos limites das áreas de cor e a potência dessa última, que, parece, se encerra o poder de suas pinturas atuais”. Segundo Chiarelli, embora pareçam tender sempre a uma estruturação prévia que privilegia o estático e se constituam a partir de cores quase nunca primárias, frente a elas percebe-se que determinadas áreas do quadro pulsam, como se quisessem escapar do plano em direção ao espaço tridimensional.

Influências de Volpi e Iberê

No catálogo da mostra, o curador destaca pontos de contato entre a pintura de Paulo Pasta e do consagrado pintor brasileiro Alfredo Volpi, cuja marca pessoal era o tema das bandeirinhas e dos casarios. De acordo com ele, as estruturas de Pasta tendem a se repetir de uma tela para outra, sofrendo, com o tempo, delicadas mudanças em sua morfologia. “É a escolha das cores, sempre em tons rebaixados, que se modifica de uma obra para outra, que singulariza cada uma das obras produzidas pelo artista”, diz.

Sobre a Fundação Iberê Camargo, artista diz ser um museu feito para um pintor, pensado enquanto luz e espaço para abrigar a pintura. “Se a minha pintura não tiver a luz adequada, ela não vive”. Estar próximo da obra de Iberê e do prédio erguido em sua homenagem faz Paulo Pasta lembrar a influência que o artista teve em sua vida. “Iberê representou para mim a possibilidade da existência da pintura, de uma relação profunda e verdadeira com ela”.

Elida Tessler: Gramática Intuitiva

A mostra da artista Elida Tessler será uma panorâmica dos últimos 20 anos de sua produção. Esta é a segunda exposição individual da artista em Porto Alegre. A primeira foi em 1988, no MARGS, no qual ela apresentou exclusivamente trabalhos em desenho. “De alguma forma, estou me reapresentando ao público de minha cidade natal”. Segundo Elida, esta será a primeira vez que ela mesma poderá ver uma quantidade tão grande de trabalhos seus juntos, dialogando entre si. Frequentemente, ela realiza proposições para lugares específicos, de acordo com as características arquitetônicas do local.

A mostra Elida Tessler: gramática intuitiva, no terceiro andar da instituição, apresenta 14 instalações com curadoria de Gloria Ferreira e marca o encontro entre as duas, que teve início como colegas de Doutorado em 1989, em Paris. Desde então, elas vem mantendo uma conversa em exposições no Brasil e no exterior e em atividades acadêmicas. “Para mim, esta curadoria veio dar forma a um intenso e precioso diálogo, concebido em torno de dois eixos principais: a relação entre arte e literatura, incluindo a presença da palavra no contexto das artes visuais, e a questão da passagem do tempo e seus registros cotidianos”, conta Elida.

A artista tem utilizado o termo “gramática intuitiva” informalmente há alguns anos, quando percebeu que para realizar os trabalhos, criava regras preliminares, com a intenção de sublinhar palavras específicas em suas leituras literárias. Para a concepção de O homem sem qualidades caça palavras (2007), por exemplo, Elida estabeleceu a regra de rasurar todos os adjetivos no livro, assumindo o que estava sendo sugerido pelo próprio título do romance do autor austríaco Robert Musil,O Homem Sem Qualidades. O trabalho reúne 134 telas de algodão cru com formato correspondente àquelas das revistas de passatempo. Em cada tela, há 40 adjetivos retirados do romance de Musil. Além dos adjetivos, Elida também realizou outros trabalhos que envolveram o uso de substantivos, verbos, advérbios e gerúndios.

Diálogo entre o visível e o dizível

Segundo a curadora Glória Ferreira, ao criar diferentes imagens que dão suporte a seu jogo com a linguagem, Elida Tessler dialoga com a tradição da relação entre o visível e o dizível, entre a imagem e a linguagem. “A gramática, com sua longa história, com suas regras de regulação, é como que desfeita, tornando-se intuitiva, embora a partir de regras traçadas a priori pela artista na construção das obras. As palavras incorporadas em objetos chamam atenção para si mesmas, como puros significantes, obstruindo qualquer possibilidade de sintaxe passível de transmitir um significado completo e compreensível da mensagem verbal”. Desta forma, palavra e objeto se cruzam em sentidos diversos em uma relação entre arte e vida.

Para a exposição, Elida criou um trabalho inédito no qual faz uma referência especial ao livro de Iberê Camargo Gaveta dos Guardados e ao de Gonçalo M. Tavares, Biblioteca. “Tenho particular apreço por livros e bibliotecas. Guardo na memória o ato de buscar as referências nos fichários do Instituto de Artes da Ufrgs desde os meus tempos de estudante”. Há alguns anos, Elida encontrou alguns pacotes contendo as fichas catalográficas que seriam descartadas após a digitalização. “Certamente o trabalho assumiria uma espécie de homenagem à biblioteca”.

O trabalho resultou em um móvel de madeira, evocando a gaveta do fichário original, apresentado de forma circular, aludindo a um determinado ciclo de tempo. As fichas foram classificadas em ordem alfabética pelo sobrenome do autor, sem distinguir as áreas de conhecimento: música, teatro, artes visuais, arquitetura, literatura, física, filosofia entre outras. Além das letras do alfabeto, um dos separadores indica uma nova possibilidade de classificação, com a palavra impressa em latim: et cetera.

Além de todas as fichas da biblioteca do Instituto de Artes, a artista criou 40 fichas catalográficas correspondendo a trabalhos realizados por ela a partir de obras literárias, mimetizando a forma de apresentação gráfica das fichas originais. “Nos tempos atuais, quando tanto se discute a substituição do ‘objeto livro’ pelo ‘livro eletrônico’, e por esta via, as aceleradas transformações que estamos vivendo, este trabalho propõe uma reflexão sobre o descarte e a memória das coisas”.

SOBRE OS ARTISTAS

Elida Tessler é artista plástica e professora do Departamento de Artes Visuais e do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais do Instituto de Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Realizou doutorado em História da Arte Contemporânea na Université de Paris I - Panthéon-Sorbonne (França), e Pós-Doutorado na EHESS-Ecole des Hautes Etudes en Sciences Sociales e junto ao Centro de Filosofia da Arte - UFR de Philosophie - Université de Paris I- Panthéon – Sorbonne. É pesquisadora do CNPq, desenvolvendo pesquisa em torno das questões que envolvem arte e literatura, relacionando a palavra escrita à imagem visual. Manteve durante 16 anos em Porto Alegre, ao lado de Jailton Moreira, o Torreão, espaço de trabalho, formação e intervenções de arte contemporânea.

Paulo Pasta vive e trabalha em São Paulo. É doutor em artes plásticas pela Escola de Comunicações e Artes da USP. Lecionou pintura nesta instituição e é professor licenciado da Faap. Participou de várias exposições coletivas, nacionais e internacionais, bem como de mostras individuais em museus, galerias e instituições. Em 2012, a editora WF Martins Fontes, publicou seu livro de ensaios A Educação pela Pintura. Teve uma sala especial na 22ª Bienal de São Paulo (1994) e foi premiado no Salão Nacional (1989) e no Panorama da Arte Brasileira do MAM (1997). Em 2000, foi um dos onze artistas brasileiros selecionados para a Mostra do Redescobrimento: Brasil 500 Anos, que inaugurou em São Paulo e foi também exibida em Portugal.

SOBRE OS CURADORES

Glória Ferreira é doutora em História da Arte pela Universidade de Paris I - Sorbonne, professora colaboradora da EBA/UFRJ, crítica e curadora. Entre suas curadorias recentes destaca-se Arte como questão – anos 70 (2007) e, entre suas publicações, coorganizou as coletâneas Clement Greenberg e o debate crítico (1997) e Escritos de artistas 1960/1970 (2006); organizou a coletânea Crítica de arte no Brasil: temáticas contemporâneas (2006) e Arte contemporáneo brasileño: documentos y críticas / Contemporary Brazilian Art: Documents and Critical Texts (2009) e é coautora do livro Sobre o Ofício do Curador (2010).

Tadeu Chiarelli é professor titular junto ao Departamento de Artes Plásticas da ECA-USP e diretor do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, desde 2010. Foi curador-chefe do Museu de Arte Moderna de São Paulo entre 1996 e 2000. Em 1999, publicou a coletânea de artigos Arte Internacional Brasileira, pela Lemos Editorial. Tem livros publicados sobre a obra de Leda Catunda (Cosac Naify) e Nelson Leirner (Takano). Tem no prelo o livro sobre a crítica de arte de Mário de Andrade, baseado em sua tese de doutoramento, defendida na USP em 1996.

Posted by Patricia Canetti at 9:41 AM