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março 30, 2013
Hamish Fulton expõe Atacama 1234567 na Galeria Nara Roesler, São Paulo
Artista inglês Hamish Fulton apresenta sua walking art em sua primeira individual na América do Sul na galeria Nara Roesler
Exposição abre no dia 2 de abril e compõe a 22ª edição do projeto Roesler Hotel. A curadoria é de Alexia Atala
A chilena Alexia Tala é a convidada para assinar a vigésima segunda edição do Roesler Hotel, programa permanente de parcerias junto a curadores nacionais e internacionais da Galeria Nara Roesler, com abertura no dia 2 de abril em São Paulo. Com reconhecido trabalho curatorial em arte contemporânea e atuando em várias frentes, ela é criadora e diretora artística do projeto independente Plataforma Atacama que se dedica a convidar artistas internacionais para desenvolverem propostas em diferentes regiões do Chile. Tala volta a trabalhar no Brasil, após ter sido curadora-adjunta da 8ª Bienal do Mercosul (2011), trazendo pela primeira vez à América do Sul e América Central, uma mostra solo do artista britânico Hamish Fulton. Intitulada Atacama: 1234567, a exposição reúne pinturas, esculturas de madeira e gravuras, resultantes da participação de Fulton no projeto chileno, a convite de Tala. Como procedimento usual na produção do artista, a mostra se completa com a publicação que mapeia sua expedição ao deserto mais árido do mundo, localizado na região norte do Chile. Serão realizados ainda palestra da curadora sobre o trabalho de Fulton, dia 1º no Centro Brasileiro Britânico, e o slowalk do artista no Parque Ibirapuera, no dia 4.
Hamish Fulton (Londres, 1946) costuma se definir como um “artista que anda” (walking artist) e, ao longo das últimas décadas, tem percorrido de 30 a 50 quilômetros diários com o objetivo de unir duas atividades aparentemente incompatíveis: caminhada e arte. Já no começo de carreira, seu processo de trabalho apontava para a prática artística que consiste, simplesmente, em andar por diferentes regiões do mundo. A partir dessas vivências, Fulton elabora registros em variados meios e linguagens, incluindo gravuras, desenhos, obras em madeira e fitas, slowalks e pinturas. Entre suas produções mais conhecidas, estão as fotografias, além das pinturas murais, contendo dados factuais sem qualquer descrição subjetiva do artista ou de eventos ocorridos na paisagem.
Diferentemente de alguns de seus contemporâneos, como Andy Goldsworthy ou Richard Long - com quem trabalhou no início de carreira - ele não deixa pegadas de seus passos nem traz nada da viagem para a galeria. A curadora Alexia Tala diz que “a arte de Fulton vive em sua memória, em sua experiência”. Tala afirma ainda, no texto da publicação Atacama: 1234567, que o processo usado por ele “estaria mais próximo daquilo que Miwon Kwon definiu como práticas de site-oriented”. Ou, como resume o artista, sua arte “é simplesmente sobre o ato de caminhar, sem enfeites”.
Em novembro de 2012, numa viagem de 14 dias, Fulton participou da Plataforma Atacama, iniciativa que busca uma forma de ativar os espaços abrangidos, sua geografia, seu povo e suas tradições. O cenário escolhido para dar início às atividades da plataforma, no ano passado, foi a paisagem desértica voltada para a Cordilheira dos Andes e seus vulcões. A expedição do britânico teve como base o povoado de Machuca, no caminho entre San Pedro de Atacama e os gêiseres de El Tatio. A pequena vila, situada a 4050 metros de altitude e próxima ao Cerro Jorquencal, tem população permanente de apenas 15 pessoas.
Com o número sete em mente e o nome Atacama cumprindo essa relação que dá título à mostra Atacama: 1234567, Hamish Fulton organizou e definiu o sistema de caminhada e o itinerário da viagem. Ao invés de andar por uma grande extensão do vasto deserto, por questões logísticas, ele optou por caminhadas de estrutura repetitiva, subindo e descendo o Jorquencal em sete dias alternados. Como sempre, vinha munido de informações sobre distâncias, temperatura, acampamentos, reservas naturais e mapas da região visitada. Por mais diferentes que sejam os contextos experimentados, Fulton não trabalha com acasos. Suas viagens estão interligadas por ideias claras de construção definida do início ao fim.
ROESLER HOTEL
Idealizado em 2006, o projeto começou como uma rede de intercâmbio: uma oportunidade de convidar artistas e curadores para desenvolverem projetos e exporem suas obras. Até hoje, foram vinte e uma edições, entre elas coletivas como Lo bueno y lo malo (2012), curada por Patrick Charpenel, Buzz (2012), curada por Vik Muniz, Otras Floras (2008), curada por José Roca e individuais de Sutapa Biswas (2008), Rosário Lopez Parra (2008), José León Cerrillo (2007), Paul Ramirez Jonas (2011) e muitas outras.
Em 2012, com a ampliação da Galeria Nara Roesler, o projeto Roesler Hotel começou uma nova fase, tornando-se um programa permanente, paralelo ao da Galeria, no qual curadores e artistas são convidados a colaborar. Este espaço foi idealizado para provocar novos modos de pensar e produzir, articulando a rede de artistas, galerias e curadores.
Hoje, em sua vigésima segunda edição, a Galeria reforça seu compromisso com a exploração de relações transnacionais e convida Alexia Tala, diretora da Plataforma Atacama, para a curadoria da exposição Atacama 1234567, trazendo pela primeira vez à América do Sul e América Central, uma mostra solo do artista britânico Hamish Fulton.
O ARTISTA
Hamish Fulton iniciou os estudos em arte no Hammersmith College of Art (1964-1965), seguidos pela Escola de Arte San Martins (1966-1968) e Royal College of Art (1969). Realizou inúmeros projetos artísticos em mais de 25 países. Desde 1972, fez oito expedições às América Latina, inicialmente com Richard Long – mas seu trabalho foi mostrado apenas uma vez, no México, em 1990. Teve mais de 40 individuais em galerias e espaços de arte contemporânea em diferentes partes do mundo. Entre as mais importantes, destacam-se as mostras na IKON Gallery, Birmingham e Turner Contemporary, Margate, (UK/2012), além de retrospectivas na Tate Britain (UK/2002), no Museu de Arte Moderna, Wakayama (Japão/1996) e no Centro de Arte Contemporânea (Genebra/1995). Tem cerca de 40 publicações em torno de suas caminhadas, e influentes críticos de arte escreveram sobre seu trabalho.
A CURADORA
Alexia Tala (Chile, 1966) é mestre em artes pelo Camberwell College of Arts (Londres). Entre outras atuações, foi curadora da primeira Bienal de Performance Deformes (Chile, 2006) e curadora-adjunta da 8ª Bienal Mercosul (Porto Alegre/Brasil/2011). Atualmente é curadora do Clube de Gravura do MSSA (Museu da Solidariedade Salvador Allende), curadora geral do projeto itinerante de residências artísticas LARA e curadora-adjunta no Solo Projects: Focus Latin America para a ARCO 2013. Escreve para revistas de arte da América Latina e Reino Unido e é autora da publicação Installations and experimental printmaking (2009). A criação da Plataforma Atacama foi motivada por questões de interesse pessoal e não apenas de arte. A familiaridade com as comunidades do norte chileno, onde está sua origem, o posterior interesse pelos projetos site-oriented e a necessidade de repensar a própria prática de curadora em relação ao ritmo acelerado do meio artístico internacional a levaram a criar um projeto “cuja escala fosse humana”.
PROGRAMAÇÃO COMPLEMENTAR
Encontro com artista e curador: dia 1º de abril, às 17h30 na Sala Cultura Inglesa do Centro Brasileiro Britânico (Duke of York Auditorium), Rua Ferreira de Araújo 741, Pinheiros, São Paulo, SP
Slowalk: dia 4 de abril, às 13h no Parque do Ibirapuera, Portão 3, em frente ao MAM, São Paulo, SP