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setembro 12, 2012
Perambular, Experimentar e Correr Perigo no CCBNB: Mostra propõe diálogos e circuitos
Perambular, Experimentar e Correr Perigo no CCBNB: Mostra propõe diálogos e circuitos
Programa de Pesquisa do Centro de Artes Visuais de Fortaleza encerra atividades da primeira turma com a exposição Perambular, Experimentar e Correr Perigo no Centro Cultural Banco do Nordeste
Fortaleza, 6 de setembro de 2012 – Depois de dez meses de encontros e pesquisas, eis que se encerram as atividades da primeira turma do Programa de Pesquisa do Centro de Artes Visuais de Fortaleza, parceria entre a Vila das Artes – Prefeitura de Fortaleza – e o Centro Cultural Banco do Nordeste (CCBNB). Para marcar a data, o grupo de oito artistas e quatro pequisadoras abre a exposição Perambular, Experimentar e Correr Perigo no dia 14 de setembro (sexta-feira), às 18h, no térreo do CCBNB.
O grupo, formado pelos artistas André Quintino, Bartira Dias, David da Paz, Mariana Smith, Marina de Botas, Sabyne Cavalcanti e Simone Barreto e as pesquisadoras Ana Cecília Soares, Júlia Lopes, Lara Vasconcelos e Naiana Cabral, foi selecionado em outubro de 2011, a partir da seleção de portfólios e de projetos de pesquisa. O processo foi coordenado pelo artista Enrico Rocha e contou com o acompanhamento do artista Eduardo Frota.
Foram dez encontros em dez meses – com duração de uma semana cada – que reuniu artistas e pesquisadoras com curadores, artistas e professores convidados para refletir sobre os trabalhos e as proposições. Além dos encontros, os professores foram convidados a ministrar cursos abertos ao público (selecionado através de inscrições na Vila das Artes). Dessa forma, cerca de 300 pessoas participaram dos cursos oferecidos pelo Programa.
Na mostra, os artistas, de origens e propostas diversas, apresentam trabalhos que lidam com questões variadas – corpo, território, paisagem, intimidade, gênero e público - e as pesquisadoras apresentam, cada uma, seu olhar sobre a exposição. Durante o período da exposição, até 20 de outubro, inventários do processo estarão expostos e uma programação de conversas convida o público a participar dos desdobramentos dos diálogos realizados pelo grupo. Ao final, será publicado um catálogo, com registros da exposição.
As atividades do Centro de Artes Visuais tiveram início em agosto de 2011 e surgiu para atender a uma reivindicação de artistas por políticas públicas de formação. Além do Programa de Pesquisa, o Laboratório de Linguagens Visuais, coordenado pelo artista Solon Ribeiro, também está concluindo a sua primeira turma e ofereceu uma série de 12 cursos modulares. Soma-se ainda às atividades do Centro os encontros com artistas de referência que aconteceram ao longo do ano no CCBNB. A partir dessas atividades, o Centro consolida o primeiro ano de atuação, comprometido com o objetivo geral de amadurecer criticamente o circuito de arte contemporânea em Fortaleza.
O Programa de Pesquisa contou com a colaboração de artistas, críticos e professores que realizam importantes trabalhos no circuito de arte contemporânea – seja no Brasil, seja internacionalmente. São eles: Tânia Rivera, Eduardo Passos, Glória Ferreira, Mário Ramiro, Santiago Navarro, Eleonora Fabião, Orlando Maneschy, Jailton Moreira, Fernanda Albuquerque e Antoni Muntadas. O último módulo, com o artista catalão Antoni Muntadas foi realizado em parceria com o projeto Conexões Estéticas, do Instituto de Cultura e Artes da Universidade Federal do Ceará, o que confirma o esforço interinstitucional de consolidação do Centro de Artes Visuais de Fortaleza.
A exposição: as obras e os artistas
Vendido, de André Quintino
Em Vendido o artista empresta? (apropria-se de) placas de “vende-se/aluga-se” que estão no espaço público em Fortaleza. Essas placas são cortadas de modo simples, seguindo dois modelos, de maneira que a junção de suas partes forme uma casa de passarinho. Essas casas são colocadas novamente no mesmo sítio onde estavam as placas. Não são utilizados pregos, parafusos nem cola para a montagem, somente os encaixes feitos com o corte. Vendido procura, atuando e alterando algumas pequenas intervenções na cidade, propor uma discussão sobre os limites entre o público e o privado, distorcendo e reconstruindo a mensagem e o objetivo para o qual a placa de “vende-se/aluga-se” fora construída. O trabalho também chama a atenção para o crescimento da cidade, a especulação imobiliária, como também para o constante fluxo dos moradores.
André Quintino é artista multimedia, aluno do Mestrado em Criação Artística Contemporânea (UA - Pt) e bacharel em Comunicação Social (UFC - Br). Foi um dos membros fundadores do coletivo Balbucio (2003-2011). Nos últimos três anos desenvolve projetos de intervenções urbanas, instalações sonoras e arte digital; envolvendo experiências cotidianas e, em especial, as tecnologias ordinárias.
Ex-Drógeno - O dentro da pele para fora do ar, de Bartira Dias
O dentro da pele para fora do ar constitui uma das performances de transformação corporal, da série Ex-drógeno (pesquisa que se dá com a invenção e criações de corpos exteriores ao homem, iniciada em 2012). Des-significando o elemento bunda como ordem objetual da sexualidade feminina brasileira. A performer busca criar novas relações com o corpo, questionando o uso dele enquanto mercadoria, a banalização e a violência de gênero que se dá neste processo e que são subestimadas na sociedade brasileira. Com o corte da pele se faz corpo desfigurado, isento de um ideal de beleza numa sociedade machista camuflada. O bife é vendido numa irônica expressão da violência, onde o dentro da pele se põe para fora, como carne morta barata. A pele que fica para além da superfície, se livra do padrão, se permite a desconstrução do corpo, do belo e do prazer normalizados, se dando o que pensar à própria vida.
Bartira Dias é PerformerPoetaProvocadora, integrante do Movimento de arte ativista ELAS (Escola Livre de Arte Subversiva) e do Coletivo PARE (Provocação Artística Ritual Experimental). Mestranda em Educação pela faculdade de Educação da UFC, onde faz parte da linha de pesquisa Filosofias da Diferença, em que pesquisa Arte Resistência e Educação. Atualmente vem cartografando sobre o corpo da mulher na Performance, criando uma série de transformações corporais que são estabelecidas no projeto Ex-drógeno. É autora do livro Noor em Nós, onde levanta questões em torno da loucura e da mulher. Este livro foi premiado pelo edital para autor(a) cearense Caetano Ximenes em 2010 através da SECULT-CE.
Narrativas Cartográficas; Artes, Outros Espaços e Mídias Locativas Neogeográficas, de David da Paz
O projeto nasce do desejo de explorar a profundidade conceitual e as potencialidades invisíveis (pontos cegos) das mídias locativas. A ideia é engendrar um conjunto de práticas artísticas que fazem uso de mídias locativas e de redes informacionais em ações de intervenção urbana e inventar concatenações entre espaço físico e ciberespaço. Intervenções urbanas e ciberubanas.
David da Paz é artista híbrido e educador, integra o Coletivo Curto-Circuito, coordenou o Laboratório de Arte Pública/Liquidificador Sem Tampa na Secretaria Municipal de Direitos Humanos de Fortaleza. VJ e performer na Orquestra Polifônica de Levante Festivo, formação em Teatro do Oprimido pelo CTO-RIO, realizou diversas oficinas de Arte-Interveção e Arte-Tecnologia. É aluno-educador-inventor na (da) Escola de Bens Imateriais. Seus trabalhos são focados na intersecção entre arte, política, filosofia, tecnologia, comunicação e sociologia, centrado nos movimentos de ruptura como a Contracultura.
Arranha-céu, de Jared Domício
O trabalho, antes concebido para uma publicação, assume outra forma e mostra em um hibrido de desenho e fotografia, imagens de céu arranhadas com estilete, deixando transparecer os edifícios da beira mar de Fortaleza. Um céu-memória que nos traz a imagem de uma beira-mar sem construções monumentais.
Jared Domício é artista visual, bacharelado em ciências sociais (Universidade Estadual do Ceará-UECE). Realiza pesquisa onde, a partir do universo gráfico, traz à tona discussões sobre as formas de relação com a estrutura urbana.
entre flutuar e prender os pés ao chão existe um mundo, de Mariana Smith
Uma ficção que foge e escorrega, segue sem ser alcançada, se vai e esvai; também dicotômica: guarda a permanência em sua essência. Ou: um registro cartográfico de uma passagem, do vento e de um tempo? Um exercício de olhar, uma reflexão sobre a imagem, a paisagem e horizontes, será ainda possível?
Instalação – telas de LCD, emulsão de prata, som e imagens. Dimensões variáveis.
Mariana Smith é artista e tem estado interessada em fluxos e paisagens, gosta de pensar o espaço em instalações - trabalha com vídeo, fotografia e desenho. Editou a revista de artes Avoante, participou de uma série de exposições coletivas e realizou uma individual chamada Máquinas de Observação. Estudou História da Arte, Fotografia, Audiovisual e Comunicação Social. Vive em Fortaleza.
Aos porcos e Fábrica de bombas caseiras, de Marina de Botas
As questões domésticas e da intimidade são essenciais para os dois trabalhos que Marina leva para a mostra. Sua máquina de bomba caseira recupera elementos do cotidiano da mulher, como grampo e elementos da guerra, como a pólvora, para fabricar sua bomba. Uma engrenagem complexa, mas também familiar.
Marina de Botas é artista visual, videoartista e performer. Foi contemplada no programa Rumos Artes Visuais em 2009 e já participou de diversas coletivas em Fortaleza, São Paulo e Rio de Janeiro. Vive em Fortaleza, onde coordena, junto a outros sete artistas, o espaço Dança no Andar de Cima, para produção, formação e criação nas diversas linguagens artísticas.
Supra Sensação, de Sabyne Cavalcanti
O barro em deslocamento e suas funções revelaram-se com diversas experiências até chegar no corpo humano, assumindo o rito de uma cartografia de corpos, onde o receptor aceita entregar-se ao devir barro, tornando-se escultura efêmera, viva e mutante. Essa experiência acontece desde 2008 na intimidade, tornando-se pública em 2012 no CCBNB e agora apresentada em vídeo, documentando duas paisagens que colocam o corpo em estado de arte.
Sabyne Cavalcanti é bacharel em Artes Visuais pela FGF. Pesquisa deslocamentos e territórios específicos e sensíveis, com obras em acontecimento: Casa Oca, Supra Sensação e Impressão Ancestral. Habita o povoado de Moita Redonda (pólo de cerâmica em Cascavel), onde realiza cartografia do barro e organiza o Museu Vivo do Barro.
Atlas – 01, de Simone Barreto
Em Atlas – 01 a artista apresenta um livro de artista construído a partir de coleções de desenhos, anotações, resíduos de observações de estados amorosos. A partir da leitura do livro Fragmentos de um discurso amoroso, de Roland Barthes, a artista recolhe, reúne e cataloga em dois grandes cadernos a primeira parte de um Atlas. Na mostra, ela cria uma situação onde duplas são convidadas a verem juntas a obra.
Simone Barreto é artista com formação em Artes Plásticas pelo IFCE. Em suas experimentações dá ênfase ao desenho e também às experiências gráficas que aportam em cadernos e livros de artistas. Ministra oficinas práticas com crianças e adultos de desenho, gravura e bordado. Atualmente faz parte do ateliê coletivo Dança no Andar de Cima em Fortaleza.
Ana Cecília Soares é jornalista e crítica de arte, edita a revista e o site Reticências...Crítica de Arte.
Lara Vasconcelos é pesquisadora, aluna do Programa de Pós-Graduação em Comunicação (UFC) e bacharel em Comunicação Social pela mesma instituição. Atualmente se interessa pelas relações entre arte e intimidade; vídeo e escrita, rascunhos e processos criativos.
Júlia Lopes é jornalista e atualmente está à procura de outras referências.
Naiana Cabral é artista, crítica de arte, designer gráfico, pesquisadora em artes visuais pelo Programa de Pesquisa em Artes Visuais de Fortaleza, bacharel em Comunicação Social pela Universidade de Fortaleza - UNIFOR, especializada em Teorias da Comunicação e da Imagem pela Universidade Federal do Ceará - UFC e mestranda em Investigação em Arte e Criação pela Universidade Complutense de Madrid - UCM. Integra o Coletivo Curto-Circuito e o Coletivo PARE (Provocação Artística Ritual Experimental).