|
setembro 18, 2011
Pintura ampliada por Felipe Scovino no CCBNB, Fortaleza
O diálogo entre as obras aqui expostas não se encontra na sua aparência imediata, mas na transformação simbólica que a pintura sofre na contemporaneidade, isto é, uma constante negociação entre a sua história e os incômodos questionamentos sobre a sua morte (e, portanto, validade) e a sua ligação com meios e técnicas que poderiam vislumbrar novas possibilidades para a sua aparição. Estamos sendo guiados pela experimentação desses artistas e não por uma tentativa fugidia e insípida de se criar uma “nova e radical condição para a pintura.” A recusa à figuração reúne esse conjunto de obras que procura tratar do lugar sem o apoio de referências externas. Rafael Alonso nos remete à artificialidade de
paisagens virtuais ao articular extensos campos de cores sintéticas e luminosas utilizando fitas adesivas. Há uma sensação de reconhecimento de uma paisagem aliada a uma delicada pesquisa sobre a abstração geométrica. A pintura em Alonso não é delimitadora de um espaço ou de fronteiras mas estabelecimentos de dúvidas, que transmitem um forte sentimento de colisão entre imagem e realidade.
Na Instalação sem título, de Alvaro Seixas, a relação entre a forma como se dá a aparição das obras no espaço e as obras em si não é um mero acaso. Em uma trajetória que remonta a Malevich e a tradição de uma pintura que pensa o seu limite e a concepção de uma ideia de modernidade, o artista nos revela a condição de um estado contemporâneo para a pintura, que no caso dele se faz presente a partir de uma vagueza por meio de uma repetição de imagens já existentes na história da arte. Estamos diante de espessas camadas de tinta que recobrem a superfície revelando ora construções geométricas que guardam semelhanças com a história, ora composições pictóricas que dialogam com formas arquitetônicas. Aparição de vestígios que nos desafiam a buscar um entendimento não na exatidão da representação, mas no que o sensível exprime. Veladuras que, guardadas suas especificidades, criam um diálogo com a mais recente série de trabalhos de Alonso, na qual o artista por meio de inúmeras pinceladas recobre as imagens dos convites de exposição, questionando uma espécie de lugar para a imagem.
Na obra de Houayek acreditamos ser significativo que seus trabalhos tenham emergido da pintura, e tenham modificado a orientação da mesma. É uma obra, que por se localizar na fronteira entre ser pintura ou escultura, exibe o comportamento dos materiais, originando daí o seu significado. Acentuando o caráter de camuflagem, sua pintura quer a todo momento exibir as idas e vindas entre ideia e imagem, entre imagem e fala. Entendimentos de um mundo por meio das experiências daqueles que legitimam para nós sua presença e que, ao mesmo tempo, nos revela quanto esse tecido de certezas que o constitui é frágil e consistente.
Pintura ampliada não quer afirmar um estado de novidade, mas de negociação entre a pintura e uma ideia de mundo, que pode ser entendida como irônica, vaga, cruel, reticente mas nunca irrelevante.
Pintura ampliada no CCBNB, Fortaleza