|
setembro 18, 2011
Marcos Gorgatti, Car crash e outros deslocamentos no Maria Antonia por Thais Rivitti
A batida dos carros de Car crash, de Marcos Gorgatti, não fez barulho algum. Mas, se tivesse som, seria um daqueles balões das histórias em quadrinhos que imitam os sons do mundo usando onomatopeias. Crash! Bang! Pow!
O universo das HQs e das artes gráficas em geral – incluindo aí a sinalização de trânsito e o design da publicidade – são presenças marcantes no trabalho do artista. Sua pesquisa flerta a todo momento com as ditas “artes aplicadas”. Suas obras querem estar misturadas no mundo e no cotidiano das pessoas, tal como as revistas compradas em bancas de jornal, as placas de trânsito e os logotipos de uma empresa. Imagens que nos habituamos a ver sem nos perguntar quem as criou e, talvez, sem sequer reconhecer ali um índice de criação propriamente.
O trabalho de Marcos Gorgatti usa essas formas já institucionalizadas: o desenho padrão de um carro, que não mostra um carro em particular, mas todos, no geral, ilustrações encontradas em livros didáticos, como no caso de Deslocamentos, ou a repetição da forma octogonal de uma placa de sinalização de trânsito. São signos familiares, que aprendemos a ver mais como códigos do que como desenhos, imagens que decodificamos para agir, não nos atendo a seus detalhes ou possíveis interpretações.
Os trabalhos da presente exposição apresentam esses desenhos-signos, pretensamente pragmáticos, como a lhes devolver certa ambiguidade. Em Deslocamentos, percebemos a carga ideológica dos desenhos da cartilha. Em Placa paisagem, somos conduzidos por uma via inteiramente constituída por placas de PARE. Já em Car crash todo o peso trágico de um desastre automobilístico ganha ares de brincadeira de criança. Em cada um desses trabalhos parece estar em jogo um desejo de descondicionamento social, em nome, quem sabe, de uma experiência menos mediada com o mundo.
Marcos Gorgatti no Maria Antonia, São Paulo