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setembro 18, 2011
Alberto Bitar, Efêmera paisagem no Maria Antônia por Heloísa Espada
A fixação do movimento foi um dos grandes desafios da fotografia na época de sua invenção. O instantâneo fotográfico nasceu apenas em 1858, quase vinte anos depois do anúncio de Daguerre, logo se tornando um instrumento útil ao estudo da locomoção dos animais. Até essa data, a maior dificuldade do fotógrafo era conter a criança que, sem paciência de ficar imóvel por minutos, danificava a solene foto de família, tendo seu rosto borrado.
Já na década de 1910, na Itália, os irmãos Bragaglia, inspirados pela pintura futurista, não se interessavam em congelar gestos, mas em registrar a trajetória do movimento, realizando uma série de experimentos fotográficos que resultaram em imagens evanescentes.
O trabalho de Alberto Bitar tem parentesco tanto com o sentido fantasmagórico de um rosto borrado numa foto oitocentista quanto com o desejo de traduzir a velocidade e o fluxo do tempo. Nasce de memórias turvas e do anseio em observar o mundo em torno se deslocando constantemente. O que Bitar quer dizer não cabe numa única imagem. Além de habitualmente fotografar de dentro de um carro em movimento e de apresentar seus trabalhos como sequências, ele realiza diversos experimentos em vídeo. Em Efêmera paisagem, a fotografia é conduzida a um território incerto, sobrepondo as noções de passagem, transitoriedade e apagamento. No vídeo que integra a exposição, a floresta aparece em negativo, como uma massa branca e vazada, acompanhada pelo som familiar de uma balsa em seu percurso pelo rio. Em seguida, aquilo que seria uma representação “realista” da mata é mostrado junto a uma sonoridade tensa, potencializando a imagem da floresta como um monumento intransponível e ameaçador. Entre o reconhecimento e a transfiguração, Bitar nos aproxima de um estado de consciência impreciso, daquilo que é dificilmente dito ou descrito, ainda que permeie todas as formas de ver e de estar no mundo.
Alberto Bitar no Maria Antonia, São Paulo