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setembro 18, 2011
Marina Rheingantz, Everybody knows this is nowhere no Maria Antônia por José Bento Ferreira
Estamos sob o mesmo teto, feito de ideias e significados. As pinturas de Marina Rheingantz convidam-nos a andar ao ar livre, fora dele. Lugares e coisas ao relento foram tocados pela umidade da noite. Não se vê pessoas, exceto por um provável espectador interno observando o mundo sem ninguém. As pistas deixadas para trás não são promissoras: cadeiras vazias, vestígios de acampamento, um campo de futebol, casas, caminhos. Tudo o que lembra uma remota presença está mais perto de se desintegrar do que de resistir em meio ao pouco que resta.
Em vão se tenta investigar as causas desta condição. Quando se tenta olhar ao longe, a visão fica embotada. Como nas pinturas de Manet, os objetos mais distantes se diluem no espaço ou se projetam para a frente.
Em Pelada caipira, o espaço entre as traves se comprime. Somente as redes resistem ao estado irregular e viscoso. Não por muito tempo. Como em Le déjeuner sur l’herbe, o que estaria ao fundo parece próximo e tudo o mais se desmancha em pinceladas e respingos. Dois pentimentos, no alto e aos lados, revelam o efeito dissolvente. Marina Rheingantz pinta a partir de fotografias, mas não permite que a pintura fique “presa a uma imagem”.
Briso começou pelo reflexo da cidade na janela. O ritmo das luzes lembra as cintilações intermitentes de Un bar aux Folies-Bergère, onde o espaço se reflete no espelho. Em Manet também é frequente o recurso do “espectador interno”. Postes de luz se condensam em pinceladas claras em contraste com um fundo vermelho. Pinceladas grossas fazem com que o fundo envolva as figuras, o que traz todo o espaço para o primeiro plano.
O mesmo ocorre em Piscina com malha viária e Quebra-cabeça. Contornos se desfazem em formas turvas, cores vivas, sombras e escorridos. Há limites para o que se pode ver e contar. O espaço moderno não precisa estar ao abrigo do mistério do mundo.
Marina Rheingantz no Maria Antonia, São Paulo