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setembro 18, 2011
Paulo Mendes da Rocha no Maria Antonia por Guilherme Wisnik
A visão de Paulo Mendes da Rocha sobre a arquitetura é fortemente lastreada pela noção de território, que remonta às suas memórias do porto de Vitória, cidade onde nasceu, bem como à admiração confessa pela paisagem construída de cidades como Veneza e Rio de Janeiro. Paulo tem uma visão fenomênica da natureza, e não bucólica. Para ele a natureza é fenômeno, e a arquitetura é coisa, assim como a linguagem. Portanto, mais do que construir objetos edificados isoladamente, a arquitetura deveria se dedicar, em sua opinião, a conceber obras de consolidação do lugar, isto é, obras territoriais que possam contrastar com a natureza, ressignificando-a.
Em muitos dos seus projetos, a construção de “terrenos artificiais” soltos do solo, por um lado, e a construção do próprio solo, por outro, engendram uma revisão crítica, à luz das ciências e das técnicas disponíveis hoje, dos erros históricos do colonialismo, de maneira a perguntar: que outra ocupação do território americano seria possível, se tivesse sido pensada de modo absolutamente artificial, de sorte a deixar o terreno sempre intacto, in natura, sem a necessidade de cortes, dragagens ou muros de contenção? Ou então: que sociedade teríamos hoje, se tivéssemos mantido limpos os rios, e construído cidades que amparassem a navegação fluvial interligando o continente por dentro, de modo a contrariar a divisão imposta pelo Tratado de Tordesilhas? Feitas em termos arquitetônicos, essas perguntas equivalem a dizer o seguinte: como seria hoje a América se não tivéssemos massacrado os índios e escravizado as populações trazidas da África? Perguntas que visam, em última análise, indagações prospectivas, tais como: que outra América é ainda possível hoje e no futuro? Ou melhor: que mundo é possível imaginar a partir de uma revisão da experiência americana?
Paulo Mendes da Rocha no Maria Antonia, São Paulo