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janeiro 19, 2010
Cálculo de Expressão e Iberê Camargo na Iberê Camargo, Porto Alegre
Exposição Cálculo de Expressão, que abre no dia 10 de dezembro, oferece uma oportunidade rara de encontrar reunidas em um só lugar as obras gráficas de três ícones da arte moderna brasileira, em um total de 156 gravuras, 12 matrizes e nove livros ilustrados. No mesmo dia, também é inaugurada a exposição Paisagens de Dentro, conjunto de 25 pinturas produzidas nos últimos anos de vida de Iberê Camargo. A abertura das duas exposições ocorre às 19h, no átrio da Fundação. Cálculo da Expressão permanece em Porto Alegre até 21 de março e Paisagens de Dentro, até 5 de setembro
Obras de três dos principais nomes da arte moderna brasileira e responsáveis por algumas das mais ricas produções gráficas do país estarão reunidas na Fundação Iberê Camargo, em Porto Alegre, a partir de 10 de dezembro, na exposição Cálculo de Expressão. A reunião das gravuras de Lasar Segall, Oswaldo Goeldi e Iberê Camargo é um encontro raro, segundo define a historiadora de arte e doutora em História pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e professora do Instituto de Artes da UERJ, Vera Beatriz Siqueira, que assina a curadoria da mostra.
A exposição fica em cartaz até 21 de março, com 156 gravuras, 12 matrizes e nove livros ilustrados dos três mestres. O patrocínio é das empresas Gerdau, Itaú, Camargo Corrêa, Vonpar e De Lage Landen. Exibida no segundo e terceiro andares da Fundação, a mostra é um convite ao diálogo e à confrontação da produção destes três grandes nomes, donos de visões muito particulares sobre o fazer artístico. Segundo a curadora, os três estão reunidos sob o rótulo de expressionistas, não como vertente artística, mas pela busca obstinada da arte como expressão máxima, como suporte para a experiência pessoal. "Artistas modernos e contemporâneos, como Goeldi, Iberê e Segall, buscavam construir meios plásticos para a expressão, na tentativa de se repor como artista em cada gesto", afirma.
Desta busca, explica Vera, surge o título da exposição. “Há um hiato entre a intenção do artista, a realização da obra e a percepção do público. Transpor esse espaço exige um elaborado cálculo em busca da expressividade. A ideia da mostra é apresentar as gravuras dos três artistas como um processo estruturado para reproduzir o potencial visual que eles almejavam. A economia de meios de Goeldi, a formalização erudita de Segall, a concentração e intensidade formal de Iberê Camargo seriam esses cálculos de expressão”, completa.
Para compor a mostra, estão presentes na Fundação gravuras que exemplificam ao público a trajetória artística e pessoal de cada artista. Há 44 gravuras e três matrizes de Iberê Camargo, 51 gravuras e sete matrizes de Goeldi e 61 gravuras e duas matrizes de Segall. “Vale destacar as séries Pescadores de Goeldi, os Emigrantes de Segall e os Ciclistas de Iberê Camargo, que são imperdíveis, pois exemplificam bem o tema proposto na mostra: a busca por expressão e afirmação do eu”, avisa a curadora, que optou por posicionar as obras juntas nas salas de exposições. “Reunir as obras destes três nomes deve permitir a reflexão sobre as semelhanças e distinções entre os universos temáticos, as dimensões técnicas e os cálculos estéticos de cada artista, além de propiciar interpretações renovadas para essa vertente expressiva da arte brasileira”, completa.
Os artistas estarão lado a lado, propondo um diálogo direto entre as produções e as influências dos contemporâneos Goeldi e Segall sobre a obra gráfica de Iberê Camargo. “O encontro destes três grandes mestres da arte brasileira, todos exímios gravadores, representa uma rara oportunidade para conhecer mais detalhadamente sua obra gráfica, e investigar de que maneira Goeldi e Segall influenciaram Iberê Camargo e como Iberê Camargo trabalhou e incorporou esses elementos em sua própria produção”, resume o superintendente cultural da Fundação, Fábio Coutinho.
As gravuras presentes em Cálculo da Expressão integram os acervos da Fundação Iberê Camargo, Museu Lasar Segall, Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro e Museu Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro.
Sobre os artistas da Cálculo de Expressão
Oswaldo Goeldi
Oswaldo Goeldi (Rio de Janeiro, 31 de outubro de 1895 – 15 de fevereiro de 1961) é filho de Adelina Meyer e do naturalista Emilio Goeldi. Após seu nascimento, a família vai para Belém do Pará, onde o pai dirige o atual Museu Goeldi. Lá vive até 1901, quando se muda para a Suíça. Goeldi permanece na Europa até 1919, momento em que inicia sua formação artística junto ao ateliê de Hermann Kummerly, onde aprende a técnica da litografia. De volta ao Brasil, se estabelece no Rio de Janeiro, trabalhando como ilustrador de revistas e jornais. Em 1924, aprende com o xilógrafo alemão Ricardo Bampi a gravar em madeira, utilizando pequenos tacos e instrumentos improvisados. Seu vocabulário conciso em preto e branco dá lugar a experiências com cor a partir de 1937, quando ilustra Cobra Norato, de Raul Bopp. Goeldi dedica-se integralmente ao desenho e à gravura, realizando pequenas tiragens sobre papel de arroz, explorando a poética das aberturas de frestas de luz pelo corte na madeira.
Lasar Segall
Lasar Segall (Vilna, 21 de julho de 1891 – São Paulo, 2 de agosto de 1957) é filho de Esther e Abel Segall, escriba de Torá. Inicia bem jovem sua formação artística, viajando para a Alemanha. Em 1912 vem ao Brasil visitar os irmãos que aqui moravam e no ano seguinte realiza exposições no país. Em 1919 funda com outros artistas a Secessão de Dresden. Nesse momento, sua obra apresenta uma linguagem sintética, na qual tem destaque os contornos agudos e a presença do vazio. A partir do início da década de 1920, aproxima-se das tendências realistas do expressionismo alemão. Em 1923 muda-se definitivamente para o Brasil, passando a participar ativamente do movimento modernista. Sua linguagem sofre mudanças na incorporação afetiva da nova realidade. Sobressaem os temas do desenraizamento, em imagens introspectivas e melancólicas, de contornos arredondados e tratamento volumétrico do espaço. Dedica-se ao desenho, à pintura, à gravura e à escultura.
Exposição Paisagens de dentro: as últimas pinturas de Iberê Camargo
No dia 10 de dezembro, mesma data em que a Fundação Iberê Camargo abre a Cálculo da Expressão, inaugura também Paisagens de Dentro, mostra que traz 25 quadros pertencentes ao acervo da Fundação Iberê Camargo e é, também, um mergulho na entrega de Iberê à sua essência como artista e à expressão máxima de sua realidade interior transposta para as telas.
A curadoria de Icleia Cattani busca nos últimos quadros produzidos pelo artista, na década de 90, o período de retorno de Iberê não apenas à reinterpretação das figuras humanas, mas principalmente às paisagens, que desta vez reaparecem como externalização dos signos, imagens e experiências pessoais, como se fossem paisagens interiores. “Nas telas de Iberê dos anos 90, as paisagens parecem ser geradas de dentro do próprio pintor, de dentro dos corpos humanos presentes nas telas, como se fossem criadas à sua medida. Essa característica é notável até sua última tela, Solidão”, avalia a curadora, crítica de arte professora titular do Instituto de Artes da UFRGS.
Solidão, derradeiro quadro produzido em 1994, ano da morte do artista, surge na exposição acompanhado de outras obras emblemáticas da trajetória final de Iberê, como as séries Tudo te é fácil e inútil e as Idiotas. Elas reproduzem algumas das principais características mantidas pelo artista para compor essas “paisagens”, como os tons monocromáticos, e as figuras planas e desmaterializadas. A exposição ocorre no quarto andar expositivo da Fundação.
Sobre Iberê Camargo
Iberê Camargo (Restinga Seca, 18 de novembro de 1914 – Porto Alegre, 9 de agosto de 1994) é filho de Doralice Bassani de Camargo e de Adelino Alves de Camargo, ferroviário. Inicia seus estudos em Santa Maria e em 1939 vai para Porto Alegre. No mesmo ano, casa-se com Maria Coussirat. Em 1942 se muda para o Rio de Janeiro, onde trava contato com Portinari e Guignard, passando a freqüentar o curso livre por este ministrado. Explora a técnica da gravura, com o mestre Hans Steiner. Em 1948 Iberê viaja para a Europa, onde permanece por dois anos, estudando e visitando museus. De volta ao Brasil, leciona em seu ateliê. Realiza ilustrações, estudos técnicos, escreve ensaios e participa da fundação de cursos de gravura, interessando-lhe investigar todas as possibilidades do meio. Em 1982, volta a residir em Porto Alegre. Nesta época, quando sua série de carretéis e núcleos é celebrada por críticos e pelo mercado, retorna ao tema da figura humana e de sua dor essencial. Dedica-se ao desenho, à pintura e à gravura.