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maio 5, 2006
Performance - Viva o ócio criativo', por Nelson Sato
Performance - Viva o ócio criativo'
Matéria de Nelson Sato, originalmente publicada na Folha de Londrina, no dia 2 de maio de 2006
O Calçadão de Londrina serviu de cenário, ontem, para mais uma edição do 'Dia do Nada', happening artístico e irreverente
A estudante se aproxima, senta-se no banco da praça e logo é abordada pelo repórter.
Você vai participar?
Como é que participa?
Não fazendo nada.
Ah, então eu vou participar. E já estou com vontade de dormir.
Não é a primeira vez que a curiosidade levou a universitária londrinense Patrícia Magalhães a dar uma espiada no ''Dia do Nada'', o happening que o artista plástico Rubens Pillegi Sá idealizou com o objetivo de celebrar o ócio criativo na primeira segunda-feira do mês de maio. Ela conta que também ''deu uma conferida'' na edição do ano passado.
No ano passado, aliás, a iniciativa deu o que falar terminando até em xilindró para alguns ativistas. Motivo: eles resolveram tirar a roupa em plena Praça Rocha Pombo. ''A nudez já está incorporada ao Dia do Nada. Hoje vamos responder à polêmica com arte'' diz Pilegi, referindo-se à exposição de desenhos de nus e fotos da genitália de espécies animal e vegetal que seriam montadas até o final da tarde.
Ontem, a manifestação foi realizada no Calçadão central, em frente ao Banco do Brasil. ''O Dia do Nada é um espaço de resistência. Apesar da repressão, não vamos deixar a coisa esmorecer'' completa Pilegi, enquanto outros simpatizantes da causa chegam aos poucos espalhando-se pelas redes de dormir e em volta do sistema de som. A batida preguiçosa do reggae domina a trilha sonora.
Um dos presentes, Cris, é figura conhecida no campus da UEL. Ele faz parte do coletivo da Rádio Marola, uma estação móvel que se instala diariamente ao lado do Restaurante Universitário durante o horário do almoço. Convidado para participar do hapenning no Calçadão, ele aproveita para divulgar as propostas da emissora ambulante. ''A idéia é ambientalizar sonoramente o espaço com música, críticas e recados das pessoas'' diz. É o que pretende fazer também no Centro da cidade, trajando uma saia azul.
Participam ainda do auê anarquista a ambientalista Suzana Rockembach, os artistas plásticos Erika e Leonardo Benatto e o servente de artista plástico Marcelo Henrique. Para acalmar mais os ânimos, Pilegi oferece suco de maracujá e anuncia que logo haverá sessões de massagem aos interessados. Como é feriado, poucos transeuntes passaram pelo Calçadão durante a manifestação.
Atraído pela concentração de pessoas que começava a se formar no local, o balconista Alexandre Machado olha desconfiado sem entender o que ocorre a poucos metros da farmácia onde dá plantão. ''Tem pouca gente ali. Acho que eles precisam de mais participantes, de mais apoio, senão não vão conseguir chamar a atenção'' observa ele, após ser informado do que se tratava.
O happening estava previsto para acabar às 18 horas. Uma filipeta distribuída aos passantes resumia o pensamento da trupe: ''Quem inventou o trabalho, não tinha o que fazer''.