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novembro 15, 2005
Texto de Iván de la Nuez sobre o trabalho de Edith Derdyk
Texto produzido para a exposição de Edith Derdyk no Paço das Artes, São Paulo, 19 de novembro a 23 de dezembro de 2005
IVÁN DE LA NUEZ
O começo do século XXI descreve um impressionante e irrevogável sintoma urbano: a cidade abandona suas antigas funções - as funções da vida moderna - e começa a ser "outra coisa". Assim, a cidade, como espaço de congregação e trabalho, deu espaço à cidade como âmbito de atomização e de ócio (ou desemprego); o espaço, que até pouco tempo funcionou como fantasia de encontro e realização, se transforma em um âmbito de perda e fracasso; a cidade concreta perde seus contornos e dá lugar à cidade abstrata. Além disso, as cidades utópicas já não são úteis para imaginar a urbanização da cidade global.
O que se pode esperar da fotografia em uma transição como esta? A fotografia e a cidade nem sempre estiveram lado a lado. Esta relação existiu somente na era moderna. Porém, se a fotografia não pôde descrever a fundação da cidade - salvo raras exceções, como por exemplo, Brasília - ela se revela, em compensação, um suporte adequado para captar sua dissolução, sua transição para essa outra coisa que hoje seguimos chamando da mesma maneira pela falta de outro término que sem dúvida está para surgir. Essa cidade posterior e abstrata, abandonada a si mesma, é a cidade que mostra Sérgio Belinchón em suas grandes fotografias e vídeos.
Iván de la Nuez - Diretor de Palau de la Virreina, Barcelona