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agosto 15, 2005
Coordenação de Artes Visuais do Gasômetro negligencia exposição de artistas mineiros em Porto Alegre, por Isabela Goulart
Coordenação de Artes Visuais do Gasômetro negligencia exposição de artistas mineiros em Porto Alegre
Carta de Isabela Goulart, em nome dos participantes da exposição "não há nada superior ao sopro das sílabas"
"Realmente concordamos que não há mais tempo para fazer o convite.", palavras da Coordenação de Artes Visuais do Gasômetro, enviadas por e-mail, no dia 11 de agosto, ao grupo de Belo Horizonte formado pelos artistas Benjamim Abras, Denilson Rugsvann, Isabela Goulart, Marcos Palmeira e Sebastião Miguel, selecionado pela Secretaria Municipal de Cultura para realizar exposição na Galeria do 4º andar da Usina do Gasômetro, no período de 19 de agosto a 02 de setembro de 2005.
A Coordenação de Artes Visuais do Gasômetro demonstrou o seu descaso desde os primeiros contatos realizados pelo grupo para esclarecimentos sobre a montagem da exposição. Não responder aos vários e incansáveis e-mails enviados pelos artistas ou formular respostas curtas, rápidas e desprovidas de esclarecimentos necessários para montagem foi a estratégia adotada pela Coordenação de Artes Visuais para provocar a desconfiança do grupo quanto a seriedade do trabalho desenvolvido pelos profissionais desse "nobre espaço cultural de Porto Alegre". Da série dos "curtos, confusos e descoordenados" e-mails destacamos os enviados até 10 de agosto (pasmem!) cobrando do grupo a arte do convite para a aprovação da Assessoria de Comunicação. Detalhe para assombrar ainda mais os assombrados: A arte do convite foi enviada pelo grupo à Coordenação de Artes Visuais do Gasômetro dentro do prazo estipulado - no início de julho. Realmente assombroso!
Após reconhecer sua falha por não realizar o que era da sua competência - providenciar a impressão de 500 convites formato postal - a Coordenação de Artes Visuais finaliza seu e-mail do dia 11 de agosto lamentando o ocorrido e "estimulando o grupo a seguir em frente" com as seguintes palavras: "... infelizmente não podemos adiar a data da exposição, pois os nossos espaços já estão reservados para a Fundação Bienal do Mercosul. Sendo assim, deixamos a cargo de vocês decidirem dar continuidade ou não a instauração desta exposição, ressaltando que, apesar dos problemas em função do convite, tudo o mais está ok.".
Pela incapacidade de decifrar o tudo o mais, para o grupo nada está ok, a não ser a triste constatação: Os espaços estão todos reservados para a Fundação Bienal do Mercosul, os esforços estão todos voltados para a Fundação Bienal do Mercosul, todas as atenções estão voltadas para a Fundação Bienal do Mercosul, e "não há nada superior à Fundação Bienal do Mercosul". Quem é mineiro, mas não é de ferro como Amilcar de Castro, não cabe no Gasômetro.
Que fique claro:
Nada contra Amilcar de Castro, nosso Eterno Mestre das dobras de ferro!
Nada contra também os outros artistas envolvidos com a Bienal do Mercosul, muito pelo contrário.
Apenas nossa indignação com os gestores culturais de nosso país e a nossa decisão:
Não, não vamos dar continuidade à nossa exposição!
"... que tudo o mais vá pro inferno" e, como diz o Zé Simão "Nóis sofre, mas nóis goza. Hoje, só amanhã. Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno. E vai indo que eu não vou! Quem fica parado é poste!".
Isabela Goulart
Em nome de todo o grupo, da exposição "não há nada superior ao sopro das sílabas"*.
Belo Horizonte, 11-12 agosto de 2005
* "não há nada superior ao sopro das sílabas" - exposição itinerante, iniciou sua trajetória em março de 2005, na "Funarte" (Fundação Nacional de Arte - Ministério da Cultura), no Rio de Janeiro, partindo para o "Museu de Arte de Ribeirão Preto", em São Paulo, onde ficou em cartaz até 5 de agosto.
Então... Infelizmente somos atingidos diretamente por políticas culturais frágeis e mentirosas, que apenas desenvolvem seus interesses e usam o patrimônio público de forma contraditória.
Mas devemos agir contra estes disatinos. Manifestar nossa força intelectual em prol da construção de um circuito sério e eficaz.
A denúncia é um passo importante, porém não basta.
Se não podemos modificar estruturas políticas, podemos criar ações paralelas e independentes, descartando os circuitos duvidosos.
Ação...
É lamentável que a nossa comunicação ainda esteja nesse nível. Precisamos urgentemente da gestão participativa, dos conselhos. Não se faz democracia de outro jeito.