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maio 11, 2004
Dia do Nada
No vídeo, UNIFAP - Universidade Federal do Amapá.
Nas fotos, artistas reunidos na praça Rocha Pombo em Londrina, Paraná.
Comemoração - Nada a fazer
Matéria de Jackeline Seglin da reportagem local, originalmente publicada n Folha de Londrina em 4 de maio de 2004.
Depois do Dia do Trabalho, artistas voltam a comemorar em Londrina o Dia do Nada que já virou evento internacional
Para o cientista social italiano Domenico De Masi, o tempo livre e o ócio são condições urgentes de serem vividas como forma de tornar mais humanas as relações. Compactuando dessa idéia, um grupo de artistas e pessoas da comunidade celebraram ontem, em Londrina, o Dia do Nada, uma comemoração instituída há dois anos na cidade, sempre na primeira segunda-feira do mês de maio.
Pessoas dormindo em redes, sentadas à sombra para descansar, ler ou conversar, escrever e cantar sobre o nada, estourar bolinhas de plástico ou até cortar o cabelo para ficar com ''nada'' na cabeça. Esse era o cenário de ontem à tarde, na Praça Rocha Pombo, região central da cidade.
Os cidadãos que passavam pelo local paravam, observavam a cena na maior curiosidade, queriam saber do que se tratava. ''Fazer nada é muito difícil. Eu não consigo ficar sem fazer nada, mesmo que seja qualquer coisa'', diz o comerciante Manoel Fernandes, de 56 anos. ''A manifestação é legal. Mesmo porque, não fazendo nada eles já estão fazendo alguma coisa'', observa.
A zeladora Áurea Lobo da Silva, 50, não simpatiza muito com a idéia de não se fazer alguma coisa. ''Todo dia tem serviço, é só procurar. Mente desocupada significa o quê? Mas o que eles estão fazendo não é nada. Eles não são artistas? Então, estão fazendo coisas sobre o nada''.
A iniciativa do Dia do Nada é do artista plástico Rubens Pileggi Sá, colaborador da Folha. Em 2002, ele lançou a idéia como forma de reflexão sobre a importância do ócio e do lazer. Elaborou um evento artístico de caráter multidisciplinar e extensivo, cujo eixo é a relação da arte com a vida e sua possibilidade de realização no cotidiano, em espaços públicos.
Desde que foi lançada, a data foi encampada por movimentos em Macapá (AP), Pernambuco (RE), Rio de Janeiro (RJ), além das cidades paranaenses de Foz do Iguaçu, Bela Vista do Paraíso e Curitiba.
Este ano, a manifestação passa a ser chamar ''El Dia Del Nada Del Mercosud, rumo ao Nothing Day''. ''Embaixadores'' do Dia do Nada em Bela Vista do Paraíso estariam hoje em manifestação na capital argentina, Buenos Aires. ''Eles estarão de camisas da seleção Argentina com velas azuis e brancas, respirando artificialmente, para velar por Diego Maradona'', ironiza Pileggi, fazendo referência ao jogador argentino que acaba de deixar o hospital.
Outra manifestação, conta o artista, estará acontecendo na Filadélfia (EUA) até o mês de agosto. É o ''Big Nothing'', no qual várias instituições e galerias vão abrigar obras sobre o tema ''nada''. ''Essa é a parte concreta de se levar a idéia para a arte. São artistas que trabalham com isso desde os anos 60, como Robert Barry, Michael Weizer, Joseph Kosuth'', detalha Pileggi.
Segundo o artista, esses nomes tentaram pensar a arte ligada à vida, para que ela estivesse mais próxima do cotidiano das pessoas. ''É esse processo de arte que a gente reivindica no Dia do Nada'', enfatiza.
Rubens Pileggi explica que a manifestação está saindo da idéia pura de ócio para usar o ''nada'' como tema de criação. ''Os trabalhos estão menos jocosos e de referência direta ao ócio, para se concentrar mais em questões poéticas sobre o nada, o vazio, o lazer'', diz. Segundo o artista, o movimento está tentando fazer com que as pessoas, em seu cotidiano, elaborem situações criativas para fazer as coisas com prazer, com lazer, e não simplesmente por fazer. ''No trabalho do dia-a-dia, na rotina, as pessoas passam a criar um movimento de ruptura com o cotidiano robotizado, sem reflexão, simplesmente cumprindo seu dever dentro da sua atividade''.
materia de almanaque
Posted by: laura andreato at maio 17, 2004 9:57 AM