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agosto 3, 2003
Como pão e gente
Instalação realizada em Grande Orlândia, em abril 2003, Rio de Janeiro.
Foto de Rachel Korman.
Como pão e gente,
é tudo igual, e é tudo diferente.
Padrões de coletividades se somam na formação das individualidades. Não se trata de uma soma por adição, mas por interseção e combinação, que através de suas inúmeras inter-relações e entrelaçamentos, estrutura o funcionamento de um sistema de crescimento não linear. A cronologia própria deste sistema é resultado da capacidade dialética e da permeabilidade geradas nesta dinâmica dos padrões, em cada um dos encontros, ou em cada nova formação destas camadas.
Padrões familiares, comportamentais, genéticos, culturais, religiosos, escolares, regionais, profissionais compõem esta dinâmica, com uma quantidade de elementos informacionais advindos de temporalidades diversas, que são bagagem, mas também vivência, e constroem assim o tempo único de cada individualidade.
O plano, que se constrói através das relações, tem suas linhas desenhadas pela repetição de pensamentos e ações. Muitas linhas, e os seus cruzamentos, delimitam os espaços formando os padrões. Padrão, espaços de tempo como compassos de música, que se altera e desloca na sua evolução. O ir e vir por estes planos, através das pontes formadas pelos seus encontros, nos levam a transitar por camadas, e a estruturar um espaço a partir do tempo percorrido.
Os encontros, aqui e ali conectados nestes vários planos, passam a ser parte de um caminho, que muitas vezes repetido, marca e estrutura cada individualidade. Estas marcas são o início de outro processo: a dinâmica dos padrões das coletividades na construção das individualidades nos leva a dinâmica dos padrões das individualidades na construção das coletividades.
Estas duas dinâmicas em movimento constante, este estar um dentro do outro, constituem uma relação de tempo e espaço estruturadoras do espaço cibernético. Como os padrões dos mosaicos na arquitetura servem para ampliar e movimentar zonas espaciais, através da organização da luz, os padrões das individualidades e coletividades demarcam situações que promovem a profundidade no espaço cibernético.
Patricia Canetti
Artista plástica e criadora do Canal Contemporâneo.
Texto originalmente publicado no jornal Inclassificados N. 1, em maio de 2003.