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maio 11, 2009
Laurie Anderson entrou pelo Cubo no Festival STRP
Espaço sem-fim em um cubo reflexível gigante
Crescenti e Cantoni mostraram os seus trabalhos em todo o mundo, mas a sua contribuição para este ano para o STRIP marca sua estréia na Holanda.
Imagine um cubo de 3 x 3 x 3 metros, coberto de espelhos e equilibrado sobre quatro molas 25 centímetros acima do solo e atado a todos os tipos de cabos e polias. Entrar no cubo é como entrar em uma alienante, caleidoscópica experiência. A profusão de imagens espelhadas vem a você de todos os ângulos, mesmo de fora. Se você se mover, o cubo inclina-se em direções diferentes, dependendo do seu movimento. Usando a combinação do seu peso, seus movimentos, os espelhos e da estrutura, você essencialmente experimenta um espaço sem-fim, que desafia toda lógica matemática.
O Festival STRP é um dos maiores festivais de arte e tecnologia na Europa e o mistura de música, arte e tecnologia o torna único. O programa multidisciplinar atrai uma vasta audiência. O foco durante o fim de semana de abertura em 2009 é impacto e experiência, enquanto a segunda parte concentra-se em investigar com mais profundidade, surpreendendo e acalmando. Além do festival, a Fundação STRP também organizou o 5MM (museu de cinco minutos) em cooperação com o Espaço de Arte Eindhoven MU.
Porquê STRP?
Stripe (fita), strip (tira), sssttttrrrrrppp: você pode pronunciar de qualquer forma que quiser, mas você pode estar se perguntando o que exatamente isso significa. Você não está sozinho; nós ainda somos perguntados muitas vezes sobre o seu significado. STRP vem de Strijp, o nome do local industrial onde se realiza o Festival STRP. A localização Strijp-S é uma enorme zona industrial aonde a Philips iniciou-se com praticamente todos os seus inventos revolucionários no século passado. Este é o lugar onde o cassete de áudio, o CD e sistema de vídeo 2000 nasceram. Além de todos esses avanços tecnológicos, Strijp-S também foi palco de uma sincera revolução criativa. Philips trabalhou em estreita colaboração com um número considerável de artistas e deu-lhes a oportunidade de realizar os seus sonhos usando a tecnologia mais recente. Mesmo então Strijp-S foi um grupo de formação criativo em que arte e tecnologia estavam fundidos.
Depois que a Philips deixou o lugar, era preciso encontrar um novo uso para Strijp-S. A solução foi desenvolver um espaço para o centro urbano criativo de Eindhoven: "A Cidade Criativa '. E que melhor lugar para hospedar o STRP Festival do que as antigas instalações da Philips, onde foram gastos décadas em experimentações com a arte e tecnologia.
maio 6, 2009
Relato do debate Estamos Preparados para o Público 2.0? por Ananda Carvalho
Sobre a tecnologia, as artes visuais, a produção colaborativa e a propriedade intelectual.
ANANDA CARVALHO
Especial para o Canal Contemporâneo
O grupo de pesquisas Net Art (CNPq/PUC-SP) realizou em parceria com a Agência Click, no dia 14 de abril de 2009, um debate com : Geert Lovink (Institute of Network Cultures, Holanda) e Ronaldo Lemos (Creative Commons Brasil/FGV-RJ). O encontro enfocou as perspectivas da criação artística e da produção de informação no contexto da Web 2.0.
Ronaldo Lemos apresentou dois temas principais: o papel do artista em tempos de internet e cultura colaborativa; e a relação entre arte e tecnologia. Geert Lovink abriu a segunda parte do evento discutindo questões como mídia ativismo e a relação entre arte e cultura. Entretanto, a questão mais relevante, apareceu no debate, no qual os dois palestrantes apresentaram opiniões díspares sobre a propriedade intelectual, a produção criativa e colaborativa em tempos de cultura remix.
O evento contou com uma ótima documentação que está disponível na rede: foi transmitido online pelo Twitter, seus registros em vídeos estão publicados no Youtube, as fotos publicadas no Flickr e os links citados no Delicious. A Agência Click já publicou um relato e Geert Lovink também comentou as discussões do debate em seu blog.
Ronaldo Lemos
Ronaldo Lemos intitulou sua apresentação como invasões bárbaras para contextualizar novos interlocutores que querem entrar e serem reconhecidos numa esfera que tem suas regras. A arte de rua, o picho, o grafite seriam o primeiro sintoma de invasões bárbaras nas artes plásticas. O segundo seria a criação tecnológica. Ronaldo propôs que “parece existir uma separação invisível entre os circuitos de artes plásticas e os circuitos das novas mídias, cada um seguindo caminhos paralelos”. Segundo o palestrante, nas grandes exposições de arte, Kassel, Veneza, entre outros, não se encontra a problematização da tecnologia como processo de criação. Essa aparece apenas em alguns eventos específicos como o Ars Electronica na Áustria ou o ISEA (Inter-Society for Electronic Arts).
Ronaldo observou que há uma resistência do circuito de artes plásticas em relação a criação tecnológica pois ainda não se sabe ao certo o resultado dessas interconexões, nem como abordá-las conceitualmente. Entretanto, ressaltou que essa não é uma problemática apenas das artes e as outras esferas sociais sofrem o mesmo impacto. Citou exemplos para pensar as reações que o campo político apresenta em relação a campanha política realizada na internet. Para abordar a Ciência, observou as dualidades criadas para classificar e opor o conhecimento científico e o conhecimento leigo/amador. E por último, contextualizou as discussões que as novas tecnologias trouxeram em relação ao direito de propriedade intelectual. Em relação a esse tema, relembrou o projeto do Senador Reinaldo Azeredo, Cibercrime.
Ronaldo fez uma diferenciação entre direito moderno e arte moderna. Quando o primeiro ganha autonomia e autoridade própria, passa a ter a pretensão de ser um sistema fechado. Já a arte, segundo o palestrante, quando ganha autonomia jamais teve a pretensão de se fechar num sistema. Para Ronaldo, a arte sempre teve a capacidade de refletir, de ser maleável e reflete formas sociais de maneira apropriada. Essa questão me deixou com uma pulga atrás da orelha: já que a arte reflete formas sociais, também não engloba um circuito que apresenta barreiras?
Para finalizar, Ronaldo Lemos questionou como um artista pode se posicionar em relação ao futuro e apresentou 4 possibilidades para quem é artista: levar as últimas conseqüências os rompimentos que a tecnologia forneceu, como a autoria, a produção colaborativa, a transindividualidade; a possibilidade de se trabalhar com a obsolescência; engajamento frente a frente com o sistema científico, ou seja, participar de igual para igual com engenheiros e matemáticos; por último, a apropriação das tecnologias por parte das periferias globais.
Geert Lovink
Geert Lovink observou que hoje as pessoas comuns estão usando as tecnologias, enquanto os teóricos, os artistas e os políticos não a entendem. Ter um blog ou rede social é uma coisa comum para muitas pessoas, entretanto, as redes ficam na moda por um tempo e depois desaparecem. Comentou que não podemos mais dizer que o momento 2.0 está em moda. Segundo Lovink, existe apenas as práticas, a internet cresceu, mas o nosso conhecimento está muito atrasado.
Lovink explicou um novo projeto, um evento que estão organizando no ano que vem sobre o Google e a busca. Ressaltou que as ferramentas do Google também estão no cotidiano das pessoas. As pessoas falam “eu não uso mais internet, uso só o Google”. Comentou também o fenômeno da Wikipédia e que este deve ser analisado de uma forma mais profunda e não apenas observar aspectos positivos ou negativos.
Observou também que toda a idéia de notícia alternativa tem que ser revista e o ativismo tem que ser realizado num sentido mais estrito. Citou o caso do indymedia, um sítio de movimento antiglobalização, em que a última notícia postada era de uma semana atrás. Para Lovink, a notícia tem que ser algo em tempo real, pois com o celular, as pessoas podem carregar toda a notícia independente em seu bolso. Enfatizou que a gravabilidade dos eventos tem mudado muito e agora temos a possibilidade de publicar imediatamente.
Para Lovink, as redes rotuladas como 2.0 tendem a se configurar como redes organizadas: redes focadas, com menos pessoas, com o objetivo de atingir algo. Como justificativa, considerou que, há muito ruído e pouco envolvimento nas redes sociais. Para o palestrante, uma rede apresenta uma participação mínima se observarmos a quantidade de indivíduos que a compõe. Mesmo na Wikipédia, há uma grande disparidade em que um grupo pequeno contribui muito. Lovink comentou que isso não é muito democrático e que não queremos que as redes sejam regidas por leis como as da monarquia antiga. E, ressaltou que não podemos fazer distinção entre o comportamento social e a tecnologia.
Para finalizar, Lovink comentou as atividades no campo das artes e questionou como os artistas vão realmente ganhar dinheiro com a cultura em rede? Enfatizou que temos que pensar mais seriamente em modelos alternativos e econômicos. Sobre esse tema observou: a lei de propriedade intelectual é passado. Temos que ir em direção ao futuro. O palestrante incita a platéia com as questões: se dizer não a propriedade intelectual, como os artistas vão ganhar dinheiro se não encontrarmos modelos alternativos? Temos que abrir a discussão e parar com o mantra da cultura livre sem oferecer um modelo econômico. Como desenvolver um sistema de pagamento fora dos bancos?
Debate
Abel Reis abriu o debate questionando se a lógica da cultura confessional é uma forma de controle. Giselle Beiguelman, que mediava o debate, comentou que as redes sociais podem ser observadas a partir de uma abordagem narcisista, em que o poder se produz de tal forma que chega a banalidade. Relembrou o massacre na Virgínia, no qual um universitário coreano matou dezenas de pessoas e antes de se suicidar enviou um press kit mórbido a rede de TV americana NBC. Com esse exemplo, Giselle comentou que tem um nível de público 2.0 que a apavora.
Uma pessoa do público, Adriano, resumiu a questão mais polêmica do debate. Segundo ele, ficamos presos entre muros, por um lado, as pessoas são levadas a mostrar todos os seus conhecimentos, por outro, como transformar sua produção em algo comercial que você possa viver disso. Por último, observou, se você cobrar, você se sente culpado. Em relação, a esse tema, Diego Assis pediu para Ronaldo Lemos citar exemplos de modelos de negócios alternativos. Por último, Holmes Wilson comentou que a informação tornou-se muito barata e você não saberá quais coisas farão sucesso enquanto não deixar isso aberto na rede.
Ronaldo Lemos observou o fim da fase heróica da web 2.0, que considera a participação das pessoas nos sites. Entretanto, os princípios da web colaborativa passam a ser institucionais, assimilados, como os casos dos portais da Globo e do Estadão.
Em relação ao “mantra da cultura livre”, Ronaldo falou que não é obrigatório que as pessoas disponibilizem toda a sua produção no Creative Commons. É o contrário disso, segundo Ronaldo, o Creative Commons trás racionalidade ao direito autoral, na medida em que é uma ferramenta tecnológica padronizada. De acordo com o palestrante, a propriedade intelectual se tornou livre devido ao jeito que a internet é constituída. Para Ronaldo, há uma falha de mercado que ainda não compreendeu totalmente essa questão e muitas pessoas estão perdendo. E sugeriu que deve-se experimentar: na música, no jornal, no audiovisual, etc. Geert Lovink interrompeu a fala de Ronaldo Lemos para enfaticamente demonstrar sua opinião contrária: temos que parar com o mantra da cultura livre.
Entretanto, se os dois palestrantes não concordam em relação ao tema da propriedade intelectual, faltou aos dois exemplificar possibilidades objetivas que compreendam a contemporaneidade em seus aspectos sociais e econômicos.
Uma questão que fica é como o usuário comum e os pesquisadores estão realmente entendendo o conceito de colaboração? A colaboração envolve uma participação de inúmeras pessoas? A sociedade, ao longo da história, sempre se reconfigurou a partir das diversas técnicas/tecnologias que foram inventadas. Nos falta compreender como as tecnologias do nosso tempo influenciam as configurações sociais para poder colocar em prática as novas demandas econômicas. E em nosso caso, o que as artes visuais estão trazendo para pensar as questões de colaboração, participação, transmissão e informação?
Links para outros textos sobre esse tema:
Geert Lovink e Ned Rossiter. Ten Theses on Non-Democratic Electronics Organized Networks Updated. Blog do underscore.
Geoff Mulgan, Tom Steinberg, Omar Salem. Wide Open: Open source methods and
their future potential. Demos, 2005.
Giselle Beiguelman. Por uma estética da transmissão. Conferência proferida no SESC Pinheiros, no contexto do projeto Interterritorialidades, 04/08/2005.
Giselle Beiguelman. O ovo da serpente 2.0. Revista Trópico 22/05/2008.
Lucas Bambozzi. Arte Digital em Rede. Interfaces Críticas, 2007.
Roger Pascoal. Colaboração e Cognição na World Wide Web. Dissertação de Mestrado, PUC-SP, 2008.
Rogério da Costa. Por um novo conceito de comunidade: redes sociais, comunidades pessoais,
inteligência coletiva. Interface (Botucatu), Botucatu, v. 9, n. 17, 2005 .
Tim O’Reilly. What is Web 2.0: Design Patterns and Business Models for the Next
Generation of Software. O'Reilly Media, 2005.