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setembro 8, 2004
Mercado "espreme" cinema e TV na tela do celular
Matéria publicada originalmente no site da Folha de S.Paulo, no dia 8 de setembro de 2004.
DIEGO ASSIS
LAURA MATTOS
da Folha de S.Paulo
Graças a um bombardeio de propagandas e de eventos patrocinados por operadoras de telefonia e fabricantes de aparelhos, o consumidor está cada vez mais familiarizados com o que um celular já pode fazer: tirar fotos, mandar mensagens de texto, tocar músicas, baixar vídeos da internet e... ah, claro, ligar para as pessoas.
O que não se sabe bem é como esse aparelhinho transformará a forma de se criar música, cinema, TV e artes em geral. E até que ponto funcionará como uma televisão, câmera fotográfica ou "toca-músicas" portáteis. Será que essas promessas não esbarram nas limitações do celular, como o tamanho reduzido e as taxas cobradas? Quem trocaria o novelão grátis na TV, sentado num confortável sofá, por assistir a uma versão paga numa tela de menos de dez centímetros quadrados, no banco duro de um ônibus?
São questões que excitam e atormentam tanto o mercado que só neste mês haverá dois grandes eventos sobre o assunto no Brasil e dois no exterior: "Convergência de Conteúdo: da TV ao Celular" (no Rio, amanhã), o 2º Tela Viva Móvel 2 (29 e 30, em SP), "Mundo do Conteúdo de Celular" (21 a 23, em Londres) e "Festival de Cinema de Celular" (em Atlanta, com inscrições abertas em setembro).
A Endemol, produtora de "Big Brother", é uma das interessadas no debate sobre conteúdo em celular. Na Europa, lançou uma espécie de fotonovela para telefone móvel, "Fantesstic". O cliente recebe por dia cinco quadrinhos --que misturam foto, desenho e texto-- e pode interagir, decidindo, por exemplo, se a mocinha irá ou não ver o galã no dia seguinte.
Não há previsão de lançamento no país de algo exclusivamente criado para celular. "No Brasil, não há por enquanto consumidores suficientes para produção em escala de vídeo para celular. Além disso, as pessoas ainda acham incômodo assistir a algo na tela tão pequena", diz Carla Afonso, diretora da Endemol Globo. Os produtos brasileiros são, na maioria, adaptações do que é feito para TV, como jogos e "bate-papos" do "Big Brother". "Aqui, o celular é hoje mídia complementar à TV, que propicia a interatividade."
A MTV Brasil é outra empresa ávida a aproveitar as oportunidades do celular. Mas suas apostas em vídeos exclusivos para a telinha também são raras. "A qualidade da imagem é muito inferior à da televisão. Quando editamos um clipe da TV para o celular, temos de cuidar para que o trecho selecionado não seja escuro, tenha menos detalhes e mais closes", diz José Wilson Fonseca, diretor de marketing da MTV.
"Não é todo o conteúdo de TV que pode ser adaptado para celular", diz Sandra Jimenez, diretora de tecnologia da MTV. Segundo ela, o desenho da "Mega Liga MTV", que em breve será levado ao celular, é um exemplo de fácil adaptação. "É um traço chapado, de cores fortes", explica.
A produção de cinema também já se espreme para caber na telinha. "Pode parecer prematuro assistir a filmes em aparelhos sem fio hoje, mas no futuro será lugar-comum", disse à revista "Wired" (EUA) Victoria Weston, dona da produtora de filmes de internet Zoie, criadora do Festival de Cinema de Celular, com curtas-metragens de um a cinco minutos.
O primeiro evento do gênero no Brasil deve acontecer em novembro, em São Paulo. Parte do festival de música, cinema e design Resfest, o Resfest de Bolso disponibilizará ao público seis vídeos feitos para celular por designers convidados. Além disso, pretende lançar em outubro um concurso de ringtones (músicas de toque de celular) com bandas independentes.
Tudo ficará disponível na internet. "Não faria sentido obrigar a pessoa a sair de casa para acessar algo que não depende de espaço físico. Estamos falando de portabilidade", diz Carlos Farinha, organizador do evento (8 a 15/11).
Além de aspectos estéticos da produção de celular (baixa definição, interatividade, portabilidade etc), outra discussão envolve os interesses empresariais por trás dessa nova forma de criar.
Patrocinadora do festival de eletrônica e arte multimídia sónarsound, a Nokia é a grande interessada na mostra "Life Goes Mobile", cujas obras foram feitas para acesso em aparelhos da marca.
Para Giselle Beiguelman, que fez uma obra para a mostra, a criação no celular é diferente da produção para internet, pois, no caso do telefone móvel, já nasceu ligada a corporações. "Na internet, as empresas vieram depois.
Já a criação de celular é inteiramente mediada por operadoras e fabricantes." Quando se trata de unir arte e tecnologia, Beiguelman defende que não há como esperar de uma universidade, por exemplo, o mesmo aporte de verbas que essas empresas oferecem. Interessa ao patrocinador e aos artistas.