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março 19, 2020
ARTE SEMPRE: Daniel Lie compartilha o registro de Os Anos Negativos
O que posso falar sobre esse momento talvez possa se relacionar com as protagonistas desta exposição - seres além de humanos e com o título da exposição, Os anos negativos.
Sobre seres além de humanos, a necessidade de entendermos que não somos a consciência soberana neste mundo está se apresentando com muita força. Neste momento há um ser além do humano, um vírus afetando todo o sistema coletivo das pessoas e precisamos lidar e aprender com este outro ser.
Sobre o título penso em uma possibilidade de leitura como uma pergunta. A partir disso pensar se isso esta no passado, no futuro ou no presente? Ou até mesmo olhar de uma maneira anacrónica.
Porém também gosto de pensar na possibilidade de subverter a idéia de negativo. Anos antes da contagem hegemônica atual são frequentemente acompanhados pelo sinal (-) ou pelo termo, negativo.
Acredito que o momento atual está nos forçando a analisar profundamente o nosso viver e precisamos ver o quanto necessitamos constantemente pensar no futuro e coloca em cheque toda a estrutura capitalista. Talvez possamos ter vislumbres das possibilidades desta situação atual com essas perguntas e poder olhar situações por outros ângulos.
Daniel Lie
Março de 2020
Os Anos Negativos, realizado em 2019, na instituição Jupiter Art Land na Escócia, Reino Unido.
As intervenções em Jupiter Artland aconteceram nos espaços internos e externos, usando matérias-primas originárias da paisagem da instituição para criar cinco instalações imersivas de lugar-específico: "Quing"; "Velar a Vida"; "Incapaz de destruir"; "Solitude Conjunta"; "A privacidade Alheia”.
Ao longo do período da exposição, seres além-de-humanos (fungos, bactérias, insetos, plantas, espíritos, divindades ...) tornaram-se protagonistas da trabalha, mudando e transformando enquanto presentes, criando o que este artista descreve como uma “Geografia de Emoções”.
Este projeto se materializou como resultado de pesquisas de diferentes áreas do conhecimento, como arqueologia, micologia, história, agriculturas, fontes alternativas de energia e arte.
Com um esforço conjunto, Os Anos Negativos conseguiu criar um Bio-Aquecedor feito com matéria orgânica em decomposição - resultado de 4 anos de pesquisa artística de Daniel Lie.
No final do projeto, os materiais completaram um ciclo, retornando à terra da região.
The Negative Years, that occurred in 2019 at Jupiter Artland, Scotland, U.K.
The interventions at Jupiter Artland unfolded across both indoor and outdoor spaces using raw materials sourced from the institution landscape to create five immersive site-specific installations: "Quing"; "To Mourn the Living"; "Unable to Destroy"; "Being Alone ,Together"; "The Others Privacy”.
Over the course of the exhibition, the featured other-than-human entities (fungi, bacteria, insects, plants, spirits, deity...) became protagonists of the work, shifting and transforming over their lifespan, creating what the artist describes as a ‘Geography of Emotion’.
This project materialised as a result of research from different fields of knowledge such as archeology, mycology, history, farming, energy alternative sourcing and art.
With a conjoined effort, The Negative Years was able to create a Bio-Heater made from organic matter decaying - a result of 4 years artistic research from Daniel Lie.
At the end of the project, materials completed a cycle, returning to the landscape of region.
No trabalho de Daniel Lie o tempo é o pilar central de sua reflexão. Desde a memória mais antiga e afetiva - trazendo histórias familiares e pessoais - até o tempo das coisas no mundo; o período de uma vida, e a duração dos estados dos elementos.
Por meio de instalações, objetos e hibridização de linguagens de arte, utiliza as coisas como elas são e baseia o trabalho em conceitos relacionados à arte da performance - uma arte baseada no tempo, efemeridade e presença. Para evidenciar essas três instâncias, elementos que possuem o tempo contido em si são utilizados como a matéria em decomposição, crescimento de plantas, fungos e o corpo.
Em sua pesquisa, o olhar é voltado para tensões e tentativas de quebrar binaridades entre ciência e religião, ancestralidade e presente, morte e vida.
Artista indonésiane-pernambucane, transgênere, nasceu em São Paulo e atualmente vive um processo nômade.
Biografia do site de Daniel Lie, conheça também o perfil na Casa Triângulo.