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outubro 4, 2007

CONEXÃO Fortaleza/SP - Um passeio pelo Festival Videobrasil: o cinema multimídia e interativo de Peter Greenaway, por Camila Vieira

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Uma das malas de Tulse Luper: foto do blog do Videobrasil

CONEXÃO Fortaleza/SP - Um passeio pelo Festival Videobrasil: o cinema multimídia e interativo de Peter Greenaway

CAMILA VIEIRA

Consolidado como importante espaço de exposição de obras que articulam cinema, vídeo e artes visuais e de intercâmbio entre artistas contemporâneos, o 16º Festival Internacional de Arte Eletrônica Sesc_Videobrasil começou sua programação -que se estende até 25 de outubro- com o estranhamento que seu próprio slogan sugere. Não se trata de qualquer tipo de estranhamento -o que poderia sugerir algo meramente bizarro e negativo-, mas sim de um certo deslocamento de olhar. Com o lema Limite: Movimentação de imagem e muita estranheza, a nova edição do festival instiga o público a perceber inovadoras propostas da arte contemporânea, que tensionam linguagens, que superam barreiras e que até escapam dos cânones de rótulos e das classificações. Por exemplo, o que dizer do ambicioso projeto Tulse Luper Suitcases, do cineasta e multiartista britânico Peter Greenaway, principal convidado desta edição? Cinema, VJ performance, instalação, jogo para internet? Na verdade, é tudo isso junto e um pouco mais.

Envolvendo exposição, trilogia de filmes, sites e games na Internet e sessões de VJ, o novo projeto de Greenaway é, de fato, o principal atrativo deste festival. Por meio de diferentes linguagens, a intenção do cineasta não é apenas dimensionar a trajetória de seu personagem ficcional Tulse Luper, um escritor e projetista que nasceu em 1911, passou parte da vida em prisões e desapareceu em 1989, deixando seu testemunho em 92 maletas espalhadas pelo mundo. Mais do que "narrar" a vida de tal personagem, Greenaway propõe a implosão do conceito de cinema. Desde a abertura do festival, sua polêmica afirmação de que "o cinema está morto" circula nas páginas dos principais jornais do Brasil e continua sendo motivação de calorosas discussões entre os visitantes do evento.

Com cerca de 60 filmes no currículo, Greenaway não acredita no cinema narrativo, linear, marcado pelo texto e pela influência da literatura. Para o iconoclasta, este tipo de cinema morreu em 31 de setembro de 1983, com a chegada do controle remoto nas casas dos espectadores de televisão, possibilitando escolha das imagens e acenando para a necessidade do cinema encontrar para si um suporte mais interativo. Inovação que ainda não ocorreu, segundo o multiartista, que participa de palestras, durante o festival, com sede no Sesc Avenida Paulista e no CineSesc, em São Paulo.

Para demonstrar sua tese de que o "cinema morreu", Greenaway abriu o festival no último domingo com sua VJ performance, realizada ao vivo e pela primeira vez a céu aberto, em palco montado na lateral do Sesc, na rua Leôncio de Carvalho, situada entre a avenida Paulista e a alameda Santos. Apesar do frio de 14º C, cerca de duas mil pessoas -de acordo com a produção do evento- se amontoaram no local para conferir de perto o cinema multimídia e interativo que Greenaway planejava colocar em prática. Durante 50 minutos, o cineasta reeditou as principais cenas de sua trilogia de filmes The Tulse Luper Suitcases, projetadas em três telões e, do outro lado da rua, na fachada do prédio do Itaú Cultural.

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VJ Performance de Greenaway, em São Paulo: fotos do Videobrasil

Sua "VJ performance de live image" consistiu em ficar de pé diante de uma tela de plasma sensível ao toque e escolher com os dedos quais imagens desejava projetar entre mais de dois mil fragmentos de sua trilogia de sete horas de duração. A instantânea edição de imagens era acompanhada dos ruídos e dos trechos de músicas mixadas também ao vivo pelo DJ holandês Serge Dodwell. Apesar do barulho estrondoso que saiu das caixas de som, o público pareceu não ter reagido bem, já que a maioria limitou-se a permanecer parado, sem dançar, diferente do que pretendia Greenaway. Além de romper com a linearidade da projeção fílmica, o multiartista desejava que sua VJ performance sacudisse os corpos da platéia. Não foi possível. Mas os calorosos aplausos no final indicaram que o público em geral gostou do belo espetáculo visual e do estranhamento proposto.

Se você perdeu a performance de Greenaway, mas tem curiosidade em saber mais sobre o projeto Tulse Luper Suitcases, ainda dá tempo de conferir a exposição com as 92 maletas do personagem no 4º andar do Sesc Avenida Paulista. Mais informações pelo site do Festival Videobrasil.

Camila Vieira é jornalista e estudante de Filosofia pela Universidade Estadual do Ceará (UECE).

Posted by Oficina at 10:51 PM