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outubro 9, 2006

Marte É Aqui, por Juliana Monachesi

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marte é aqui foi uma exposição-festa que aconteceu no dia 27 de agosto em uma casa na vila madalena: o evento partiu de uma carta-convite a diversos artistas para entregarem no endereço especificado uma obra que gostariam de levar para marte; a artista e videasta kika nicolela, primeira artista-bolsista da nasa, agraciada com uma bolsa para desenvolver um projeto em marte, foi a encarregada de colocar em órbita as obras dos 61 artistas que responderam ao chamado. este é o catálogo virtual da mostra, inserido no quebra a convite do canal contemporâneo, que, com esta gentil iniciativa, rompe mais um padrão nos métodos convencionais de difusão, circulação e documentação da arte contemporânea brasileira. marte é aqui dá seqüência a uma série de exposições-relâmpago iniciada com paris é aqui, que ocorreu no dia 26 de janeiro deste ano em um apartamento no paraíso.

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Odeio as viagens e os exploradores. E eis que me preparo para contar minhas expedições. Mas quanto tempo para me decidir! Quarenta e três dias passaram desde que deixei Marte e, durante todos esses dias, muitas vezes planejei iniciar este catálogo virtual; toda vez, uma espécie de vergonha e de repulsa me impediram. E então? Há que narrar minuciosamente tantos pormenores insípidos, acontecimentos insignificantes? Não há lugar para a aventura na profissão de crítico de arte; ela é somente a sua servidão, pesa sobre o trabalho eficaz com o peso das semanas ou dos meses perdidos no caminho; das horas improdutivas enquanto a obra se esquiva; da fome, do cansaço, às vezes da doença; e, sempre, dessas mil tarefas penosas que corroem os dias em vão e reduzem a vida perigosa no coração das metrópoles a uma imitação da "flânerie" do turista ensandecido... Que sejam necessários tantos esforços e desgastes inúteis para alcançar o objeto de nossos estudos não confere nenhum valor ao que se deveria considerar como o aspecto negativo do nosso ofício. As verdades que vamos procurar tão longe só têm valor se desvencilhadas dessa ganga. Decerto, podem-se dedicar seis meses de viagem, de privações e de fastidiosa lassidão à coleta (que levará alguns dias, por vezes algumas horas) de um vídeo inédito, de uma regra pictórica nova, de uma lista completa de coletivos, mas essa escória da memória - "Às cinco e meia da manhã, riscava o céu um avião que trazia o fedex contendo 'Mister Big', de Doug Fishbone, 'Do you wish to save with this thread?', de Ian Monroe, e 'PSX Warrior: Helene', de Axel Stockburger" - uma recordação tão pobre merece que eu pressione teclas e mais teclas para fixá-la? Entretanto, esse gênero de relato encontra uma aceitação que para mim continua inexplicável. (apropriação do texto de abertura de Tristes Trópicos, de Claude Lévi-Strauss, com intervenção de Juliana Monachesi)

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desde que retornei da expedição à marte, pensei muito nos trabalhos que foram apresentados e na experiência incrível do encontro entre todos os artistas naquele sábado de montagem e, depois, nas conversas e embates dos visitantes com as obras naquele domingo de exposição-festa. mas o que vale a pena narrar? o que se espera de um registro de uma mostra coletiva que tem um único dia de duração mas que se estende no tempo e na memória de todos que se envolveram, de todos que se encontraram de novo ou se conheceram pela primeira vez, de todos que se depararam com uma ação artística que os marcará para sempre? eram 61 artistas, muitos de são paulo, vários de outros estados, alguns de outros países; eram mais de 70 obras espalhadas pela casa da kika, que as pessoas percorriam descobrindo uma pequena fotografia no pé da escada, um vídeo no banheiro, delicadas esculturas embaixo da escada, uma pintura estendida no varal, uma colagem digital sobre um pedestal de bíblia do lado de fora, fitando as estrelas... nos post abaixo, junto das fotos de cada um dos trabalhos, tento contar um pouco do que eles tratavam e da experiência que me proporcionaram, tento registrar, enfim, o que foi marte é aqui.

Posted by Juliana Monachesi at 2:00 PM