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outubro 11, 2005
alô, câmbio!
Estamos diante de mais um desafio para o jornalismo cultural e a crítica de arte: como "cobrir" um evento que se caracteriza por ações efêmeras em ruas nem sempre pré-determinadas e em horários nem sempre marcados? Como analisar trabalhos de arte que não se deixam analisar porque preferem a fluidez e a contaminação da cidade em lugar da rigidez e da proteção do espaço expositivo?
Como a crítica se posiciona, afinal, diante de obras que não foram pensadas para o público de arte? Para quem esta crítica, caso ela seja possível, deve se endereçar?
Nosso cenário é o SPA 2005 (Semana de Artes Visuais do Recife), que está em sua quarta edição e congrega intervenções urbanas, performances e ações nas ruas, mostras de fotografia e vídeo, palestras, oficinas e serões performáticos (também conhecidos como baladas).
As perguntas acima não são novidade. Não é de hoje que a crítica de arte tem de sair correndo, debaixo de sol, por quebradas suspeitas, à cata de seu objeto. Às vezes o objeto nos escapa e nos contentamos em escrever a partir dos malfadados registros de performance. Às vezes trombamos com as ações e produzimos, nós mesmos, nossos registros textuais.
Durante o período de realização deste SPA, um grupo de pessoas, reunido por conta de uma oficina de crítica oferecida pelo evento, se dispôs a encarar o desafio e produzir textos no calor da hora, sem pretender dar conta de todos os acontecimentos, mas interferindo aqui e ali, sempre que possível, com leituras críticas dos projetos apresentados.
Estes textos serão publicados no Quebra de Padrão, que gentilmente nos cedeu o espaço para fazer circular de forma mais ampla esta experiência de produção de pensamento a respeito da arte contemporânea brasileira.
"Nós" somos: Adriana Dória, Amélia Couto Córdula, Clarissa Diniz, Júlia Rebouças, Juliana Monachesi, Júlio Cavani, Marília Sales e Silvia Paes Barreto.
desculpem pelo tamanho do comentario, mas num mundo de relaçoes efemeras onde tudo se liquefaz, achei que poderia interessar esse evento:
Trans-siberian conference 11-20 Sept 2005
***The Connection Between the War Against Terrorism, Economics and
Media-Art***
Researchers, activists and media-artists meet on the Trans-Siberian train
from Moscow to Beijing for the first ephemera conference; September 11th -
20th 2005.
The conference "Capturing the Moving Minds" gathers a pack of people ...
artists, economists, researchers, philosophers, activists ... who are
interested in the new logic of the economy, the new form of war against
terrorism and in the new cooperative modes of creation and resistance,
together in a space moving in time. Spatially moving bodies and bodies
moving in time (through the different time zones) creates an event, a
meeting that not really 'is' but 'is going on'.
Is this project about economics, is it political activity or a work of art?
This "boundlessness" or "indeterminacy", which always characterizes the
creation of new, is where the energy of the project is coming from: The
enterprise expresses and exposes the "knowledge economy" in which it exists.
It is something the orthodox conceptions about work, action, economy and art
are unable to grasp. In this organizational experiment everybody is "alone
together" like a pack of wolves around a fire having neighbours to the left
and to the right but nobody behind their backs exposed to the desert.
There are 50 participants on the train involving well known media-artists,
frontline contemporary thinkers and political activists. The project has
been invited to participate in the International ARS2006 biennial at Kiasma
Museum of Contemporary Art in Helsinki and to arrange an exhibition at the
Villa Croce Museo d'arte contemporanea di Genova during summer 2006.
Mobicasting brings the event directly to all: The Trans-siberian conference
is documented and broadcasted through an audiovisual mobicasting platform to
the internet. The documentarists, photographers, artists and researchers
produce discussions, ideas, interviews, texts and films along the route. The
documentation will be projected in Kiasma during the journey and it will
also be available on several international www-channels. The mobicasting
webpages http://www.kiasma.fi/transsiberia will be opened on September 7th.
There will also be a moving radio station on the train; See
http://trans-siberianradio.org
Further info on the conference and the participants:
http://www.ephemeraweb.org/conference (contact Akseli Virtanen +358
400-302010 akseli.virtanen@hkkk.fi or Steffen Bohm +44 794 111 0998
sgbohm@essex.ac.uk directly on the train)
Capturing the Moving Mind Live: http://www.kiasma.fi/transsiberia (Further
info on the mobicasting platform: m-cult, http://www.m-cult.org, Netta Norro
+358 40-5618004)
Trans-siberian Radio station: http://trans-siberianradio.org
The event is organised by ephemera, Tutkijaliitto, Kiasma, Frame, m-cult,
Helsinki School of Economics and the Chydenius Institute
Queridos "nós somos": Concordo totalmente com as interrogações que vcs.colocam... É um super desafio tratar de articular teóricamente os "objetos dardos", vagos, efemeros e fluidos em tempos de pós-arte. Talvez a articulação discursiva, deva acompanhar tbém esta efemeridade e esta falta voluntária e estratégica de registro proposta pelos artistas...
Posted by: marta martins lindote at outubro 29, 2005 6:29 PMSobre os problemas da arte contemporânea a respeito dos 'gestos invisíveis', é interessante ler o que diz a curadora Eva Grinstein (curadora da Argentina nessa V edição da Bienal do Mercosul), no texto que apresentou no simpósio de abertura da bienal (publicado em DUARTE, Paulo Sérgio. ROSA DOS VENTOS. Posições e direções na arte contemporânea. Porto Alegre: Fundação Bienal de Artes Visuais do Mercosul, 2005), que trata justamente dos desafios de apresentar,criticar, inserir no sistema... obras que pretendem a 'invisibilidade' como parte fundamental de seu conteúdo poético(sem data marcada, sem local marcado, sem registros, mesclando-se com o ambiente urbano, etc.) . A curadora aponta a dificuldade de 'bienalizar' propostas com este formato, e comenta a atuação do grupo La Baulera na atualmente na Argentina, fazendo uma reflexão sobre os motivos que ela, como curadora, não pôde incorporar este grupo à delegação argentina:
"Apesar de estar convencida de que ser testemunho casual de uma ação de La Baulera poderia trazer a um hipotético espectador altos benefícios perceptivos e emocionais, reconheço minha própria falta de imaginação para conseguir inclui-los sem trair essa liberdade que me é tão atrativa em seu trabalho".
Prezadíssimos "nós":
Esse estranhamento verbalizado por vocês é algo que me enche de alegria. Afinal, isso só surge em jornalistas e/ou críticos desobedientes, que não aceitam trabalhar apenas sobre a rígida pauta de eventos estabelecida pela indústria cultural(por mais relevantes que, por vezes, alguns desses eventos sejam). Acho que a crítica de artes visuais tem muito a ganhar quando assume a postura do repórter que vai à cata da notícia em lugar de ficar sentado esperando o release e a foto e (até!) a sugestão de comentário já escrita pelo assessor de imprensa. Por outro lado, tem que fugir também da tal "torre de marfim" da crítica que "fica se sentindo" em vez de sentir...a arte!
Aqui vai meu abraço. Congratulations! Ah...quanto ao problema. Não é um problema: é uma solução! Para a arte que inventa outros caminhos, nada melhor do que inventar novos caminhos para refletir sobre arte. Este aqui do Canal, aliás, é bem interessante. Vamulá, moçada! Tem que ir onde o povo da arte vai. Reportar no calor da hora.
Abraços grandes
Angélica de Moraes