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julho 10, 2005
Governo de SP rebate crítica do Paço das Artes por Fabio Cypriano
Governo de SP rebate crítica do Paço das Artes
Matéria de Fábio Cypriano publicada originalmente na Folha de S. Paulo, Ilustrada, no sábado, dia 9 de julho de 2005
Secretaria afirma administrar bem a cultura e ataca ações de museus privados
"Quem não tem política cultural são alguns museus privados e não o Estado", afirmou o secretário-adjunto de Estado da Cultura, Fabio Magalhães, em resposta às críticas de Daniela Bousso, diretora do Paço das Artes, a partir da polêmica surgida com a mostra "Ocupação", em cartaz no local.
"O Estado é bom administrador da cultura, é só ver como ele nomeia bem. Como exemplo, temos o Paulo Herkenhoff, no Museu Nacional de Belas Artes, e o Marcelo Araújo, na Pinacoteca do Estado. O mesmo não acontece com museus privados, o Masp nem tem um curador", diz Magalhães.
Na última semana, Bousso divulgou uma carta na internet, na qual denunciava a "ausência total de políticas culturais públicas para o exercício da arte contemporânea", que gerou irritação na Secretaria de Estado da Cultura. "Creio que a Daniela se sentiu ameaçada pelas críticas em relação à exposição e preferiu se fazer de vítima, em vez de defender a exposição. A mostra em cartaz é muito inteligente, nunca me passou pela cabeça que ela tem a ver com penúria, como ela descreve", conta o secretário-adjunto.
"Eu não entrei em questões conceituais, pois busquei defender a instituição dos ataques. Mas concordo com o Fábio Magalhães que o projeto da ocupação é muito rico e tem várias questões conceituais brotando dele, só a idéia em si já é um ato conceitual", disse Bousso, à Folha, anteontem.
Na carta, Bousso afirma que o Paço tem funcionários "indecentemente pagos" e o espaço funciona sem verba para programação, informações contestadas por Magalhães: "A média salarial do Paço é de R$ 1.600, o que está na média dos museus em geral, e, como toda instituição pública, as verbas saem de forma burocrática. Neste ano, já foram liberados R$ 240 mil ao Paço, mais do que no primeiro semestre do ano passado, e ainda estamos buscando liberar mais verba para as comemorações dos 35 anos do Paço."
Com isso, o secretário-adjunto volta suas críticas aos museus privados: "São eles que não têm programação coerente. O Masp nem paga suas contas, e parte dos museus privados se transformou numa ação entre amigos. Ainda que tenham boas exposições, como a Faap e o MAM, são instituições invertebradas, sem política cultural", diz Magalhães.
Ainda segundo Magalhães, as críticas de Bousso são "injustas", pois "a prioridade que ela mesmo tem apresentado é em relação ao prédio e estamos finalizando a aprovação de um projeto, em parceria com a USP e a iniciativa privada, que irá transformar o Paço". Quando o projeto for implantado, diz o secretário, o portão da USP será transferido para depois do prédio do Paço, "o que irá tirar o local do isolamento" atual.
O edifício será então finalizado, já que o Paço ocupa apenas uma pequena área da construção, tendo inclusive salas de cinema.
Masp e MAM respondem aos ataques
Para o arquiteto Júlio Neves, presidente do Masp, a questão sobre quem não tem política cultural deve ser relativizada: "Eu não culpo nem o Estado nem as instituições privadas, estamos todos com tantos problemas que a cultura é sempre relegada. Mas acredito que os três níveis de governo precisam encontrar um modelo brasileiro com participação dos museus particulares e dos museus públicos". Sobre a ausência de curadoria no Masp, Neves diz: "Estamos buscando criar um modelo".
Já Rejane Cintrão, curadora-executiva do MAM de São Paulo, aponta que o problema central, em qualquer esfera, é o personalismo: "Acho que o problema não é ausência de política no setor público ou no privado". Cintrão aponta a Pinacoteca como exemplo. "Ela começou a ter sucesso com Emanoel [Araujo] e agora tem continuidade com o Marcelo Araújo, mas o problema é que as instituições são dependentes de pessoas." O MAM, diz Cintrão, é uma mistura: "Temos a figura da Milú [Villela], que acertou a situação financeira, mas justo pela ação dela, temos obtido independência".
Cintrão contesta a suposta programação incoerente: "Desde 1997, mesclamos arte moderna e contemporânea, com privilégio para arte brasileira. Nas bienais, fazemos exposições paralelas importantes. Se isso não é coerência, não sei o que é".
O Sr. Fábio Magalhães devia ter ficado quietinho.
Fiquei com vergonha de suas declarações.
A Ocupação que ainda está acontecendo no Paço das Artes é um conceito. Ocupar um espaço e conviver com os companheiros, trocar informações ou simplesmete conversar ......qualquer coisa....isso está gerando um movimento novo - nem tanto,diriam alguns...é, já hoveram outros momentos semelhantes( RECENTEMENTE, PRESTES MAIA, O LORD PALACE-NTERVENÇÕES,EM 2004, por exemplo, ou RESIDENCIAS, ETC), - uma situação especifica de troca de experiencias que de forma rizomática,se espalha e como contaminação, dissemina......Percebemos isso desde o começo, desde os primeiros dias da "OCUPAÇÃO".... Está ficando cada vez mais claro que artistas/ trabalhadores / pessoas sob um mesmo teto geram movimentos muitas vezes inesperados. Na ultima reunião coletiva se levantaram questões referente a várias instancias....desde ocupar, expor, se expor, o artista e a instituição e também se discutiu o assunto das políticas culturais......
O interessante é que se essa " Ocupação" não tivesse acontecido essa polêmica a respeito dos museus privados e públicos estaria correndo silenciosa, nos bastidores.....poucas pessoas teriam refletido o Paço das Artes e da necessidade de ampliação das suas instalações.A importancia desse espaço naquele bairro, etc. etc. Existia ( existe ?)um projeto de ampliação - no terreno ao lado de mais de 1.000 mts. quadrados ? O Grupo Casa Blindada em 2002, tentou colocar esse espaço de 1.000 mts2( ao lado do Paço ) entre parenteses e " o ocupou" de forma virtual, com o trabalho " Zona Crux" que evidenciava uma ocupação real que existe na Rua do Ouvidor no centro da cidade de São Paulo, comentando a falta de politica habitacional.... Ainda hoje esse local, o do Paço das Artes, continua sem uma política cultural ? Será isso ? Novas perguntas, para possiveis novas respostas. Graciela Rodriguez / Grupo Casa Blindada.
Muito bem vinda a polêmica criada a partir da exposição "Ocupações" e da carta manifesto de Daniela Bousso. É diante de situações como esta que percebemos a fragilidade de nossas instituições, um resultado não apenas da falta de políticas culturais, como foi avendado pelo secretário-adjunto Fábio Magalhães, mas sim, do descompasso dos políticos com a sociedade e daqueles que estão a serviço deles. Estes funcionários públicos procuram esquivar-se diante da incapacidade do estado em gerir com competência as instituições culturais públicas ou mesmo colaborar no caso das de iniciativa privada, com respostas vagas. A verba que o Sr. Magalhães se refere e que será repassada para o Paço (se vier
) já estará vindo tarde demais, pois estamos entrando na segunda quinzena do mês de julho, na reta final do ano.
Na tentativa de desviar a atenção do problema que foi levantado, o secretário adjunto justificase avendando que o problema estaria na falta de dirigentes mais competentes diante das instituições privadas e gabase de que o estado tem feito indicações de nomes competentes para gerir as estatais.
Meu senhor, a situação atual da Pinacoteca deve sim e muito ao esforço pessoal de Emanoel Araujo com apoio discreto de Mário Covas. Marcelo Araujo tem sabido dar continuidade com competência a este trabalho bem sucedido. O Sr. Paulo Herkenhof está no Museu Nacional de Belas Artes lutando para trilhar o mesmo caminho que Emanoel Araújo fez na Pinacoteca do Estado. Vamos torcer para que ele consiga chegar lá diante das dificuldades administrativas e políticas que tem enfrentado. Competência todos sabemos que ele tem para tal.
Não se pode colocar no mesmo saco o Museu de Arte Moderna de São Paulo e o Museu de Arte de São Paulo. É no mínimo uma desatenção e desrespeito do secretário adjunto com o esforço que vem sendo feitto no caso do MAMSP, para de verdade, ter uma política cultural, um espaço museográfico e funcionários com salários minimamente decentes.
O que nós gestores de instituições culturais estamos precisando é de uma presença efetiva do estado para balizar o uso das leis de incentivo à cultura e evitar as distorções que levam à esta discussão. Não necessitamos apenas da indicação de profissionais competentes para gerir os museus, mas também de mecanismos eficazes que possibilitem uma boa administração.
O que falta é uma moralização e um redirecionamento no uso do dinheiro, fruto da isenção de impostos pelas empresas que se beneficiam destas leis. Enquanto isso, os museus como o Paço das Artes, o Museu de Arte de Moderna de São Paulo e a própria Pinacoteca do Estado travam uma luta diária para manter suas agendas administrativas e de exposições.
Diante da escassez de patrocinadores dispostos a investir em artes visuais, e pior ainda, na arte contemporânea, percebemos, no entanto, eventos teatrais como a peça enlatada O Fantasma da Ópera conseguir junto à iniciativa privada, cerca de 10 milhões de doláres para sua produção. Informação anunciada em jornal por ocasião do início de sua apresentação. Este espetáculo por sua natureza teria condições de se autopatrocinar. Mesmo com este dinheiro investido em uma peça que usa a lei de incentivo à cultura para pagar seus custos e comissões polpudas para os captadores de patrocínio, cobra-se caro pelo ingresso.
Onde estão as autoridades para justificar esta distorção? Onde está a propalada inclusão social?
Para finalizar o meu comentário, e já se alongou demais, fica uma sugestão. Se o dinheiro desta peça, de gosto duvidoso na minha opnião, fosse melhor regulamentado na sua distribuição via mescanismos governamentais transparentes, não resolveria os problemas de boa parte das principais instituições museológicas existentes no estado?
Em recente debate durante a Feira de ArteSP, em São Paulo, fomos acusados por uma captadora de patrocínios que encontrava-se na platéia (a mesma que fez a captação para o apelativo O Fantasma da Ópera, mera coincidência
) de que não eramos copetentes em conseguir os apoios para as instituições culturais e que ficavamos apenas reclamando de nossa incapacidade. Fica muito fácil pegar um blockbuster como este e conseguir patrocínio. Gostaria de saber se esta profissional teria a mesma competência e facilidade em conseguir um patrocinador para, por exemplo, o Panorama da Arte Brasileira do Museu de Arte Moderna de São Paulo. Fica aí o desafio, se é que a mostra ainda necessite de um patrocinador.
Ricardo Resende
Fortaleza, Ceará.
É interessante notar, lendo o merzblog, que o que realmente importa para os artistas é o trabalho que esta sendo desenvolvido, pois somos artistas, de modo que fica em segundo, terceiro plano ou em plano nenhum o fato de que nossa presença é, para alguns, um artifício para chamar atenção do Governo do estado para a falta de verba. Os trabalhos possuem uma qualidade real, em si, e é perverso usar essa verdade, presente nas obras criadas, para dizer: "olhem só, isso é tudo que conseguimos fazer, para o aniversário do Paço, com a verba que vocês nos dão". Duvido que qualquer artista que participa da Ocupação tenha imaginado que esse seria o seu papel e o papel do seu trabalho: na trama política entre o Paço e a Secretaria de Estado da Cultura. Isso não foi citado nas reuniões (e não sou o único a me lembrar disso), onde na verdade foi frisado que o motivo da ocupação era comemorar o aniversário do Paço e realizar o novo projeto, onde o público teria a possibilidade de entrar em contato direto com os artistas e com a criação, ao vivo. Bem, essas declarações, essas intenções que nos foram dadas de início, também estão nos jornais, também foi passado para a imprensa e para o grande público esse mesmo motivo, conforme esta bem claro no Guia do Estado. Não é possível que essa exposição tenha dois motivos concomitantes, pois eles são contraditórios, já que em um motivo o que se pretende é criar algo de qualidade e em outro motivo o que se pretende, conforme saiu nas reportagens publicadas na Ilustrada, é chamar a atenção para a falta de verba, pois essa foi "a saída possível" diante da precariedade de recursos. E os artistas nisso tudo, como ficam? Manipulados?
Posted by: zorro at julho 15, 2005 1:12 AMInteressante alguém que se auto-denomina "zorro", que não quer se identificar, dizer que está sendo manipulado....
Como já coloquei no texto que escrevi em 12 de julho, os rumos da ocupação mudaram e estão mudando a cada dia. Um dia nunca é igual ao outro ( felizmente ).O mais instigante em certos momentos é justamente a incerteza, a dúvida, pois é dessas situações que sempre surgem novos caminhos.... um processo flutuante e mutante. O conceito "Ocupação" pode ser transformado, por aqueles que sentem essa necessidade...( isto está acontecendo)o artista não deve se acomodar com obras estanques....a mutação é o motor do mundo contemporâneo...Da discussão da obra individual pulamos para discutir o conceito das obras em contextos mais amplos.... e assim outras janelas se abrirão.
A relação do privado e do público nos museus e principalmente o amadurecimento de uma política cultural em São Paulo e por aí adiante.... Vale a pena dar uma espiada no texto de Martin Grossman "Forum Permanente: Museus de Arte; entre o público e o Privado". Espero que sábado, o ultimo dia da "ocupação" seja produtivo....que novos caminhos se descortinem.....
Graciela Rodriguez / Casa Blindada
Zorro era um personagem bastante politizado...
Lembrando Glauber: "Toda arte que se relaciona com o seu tempo é política."
Posted by: Vitor Golin at julho 15, 2005 6:27 PMEU SOU SPARTACUS.
NÃO. EU SOU SPARTACUS.
NÃO! EU É QUE SOU SPARTACUS.
EU SOU SPARTACUS! EU SOU SPARTACUS!
EU SOU SPARTACUS!
EU SOU SPARTACUS!
EU SOU SPARTACUS!
"cena do filme Spartacus, de Stanley Kubric, com Kirk Douglas"
Não existe luta por espaço sem invasão do espaço. "Ocupação" significa invadir um espaço, tomar posse, esse é o significado político do termo, tão conhecido na história das lutas de classes no Brasil. Temos exemplos que vão de "Canudos" ao "MST". Para honrar esse termo, tão caro ao nosso povo, deveríamos pensar em que sentido a "Ocupação" poderia se alinhar a ele. Ou temos o direito de nos apropriar de um termo, cujo significado é de inestimável importancia, a nosso bel pazer? Ou seja, de que modo a ação dos artistas pode significar um retorno aos artistas? Ao meu ver só existe uma resposta para essa questão: que os artistas lutem para que a Ocupação se torne um projeto permanente. Mas só isso não basta: é necessário lutar para que quem determine as regras e os fins da Ocupação sejam os próprios artistas, e que aqueles que venham a ocupar não sejam escolhidos pela direção do Paço das Artes ou por nenhum júri, mas pelos próprios artistas, seja por votação, seja por sorteio. Os artistas e estudantes de arte ainda não tem algo assim no Brasil, numa instituição oficial, até onde se sabe. Seria muito benéfico para a cultura se isso acontecesse. Além disso representaria uma política, em termos de artes plásticas, que estaria em diálogo com o cenário mundial e não apenas com uma inciativa localizada.
Posted by: roger barnabe at julho 16, 2005 1:05 AMUM POR TODOS E TODOS POR UM.
Posted by: OS TRÊS MOSQUETEIROS at julho 17, 2005 7:20 AM