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julho 4, 2005

seleção de textos publicados no blog dos críticos

do merzblog

Segunda-feira , 27 de Junho de 2005

de colaborações e agenciamentos

gaiad.jpg

se no primeiro turno vimos dimensões afetivas da participação em arte nos trabalhos de regina johas e beth moysés (além de instâncias colaborativas nas propostas da casa blindada, de patrícia osses e paulo buenoz), nesta segunda etapa temos alguns projetos que recolocam a questão em outra chave: paulo gaiad se põe diante da fotografia da vaca que, da janela de seu ateliê em florianópolis, ele vê pastando todos dias, e vai copiando em papel-jornal espalhado pelo chão um texto coletivo que foi elaborado a partir do envio, por dezenas de colaboradores, de frases e palavras escolhidas aleatoriamente. vera bighetti e paulo telles instalaram um boneco inflável destes que se vê pelas ruas, acionados pelo vento, dentro do paço das artes, onde o vento é substituído pelo agenciamento dos visitantes, que acionam sensores e fazem o boneco-pintor trabalhar. raquel kogan propicia aos espectadores da instituição uma espiada nos bastidores: basta se postar diante do olho mágico em uma caixa de espelho suspensa. helga stein fotografa quem estiver a fim de posar e devolve os retratos retrabalhados digitalmente (veja em http://ocupandros.nafoto.net). eduardo salvino posa de repórter e entrevista deus e o mundo para criar seus textos-pardais instalados dentro de uma arapuca. você prefere guardar a obra ou destruí-la para ter acesso à entrevista? voltaremos a estes trabalhos para análises detalhadas.

Quarta-feira , 29 de Junho de 2005

o que é que a dobra tem?

sonia.jpg

sonia guggisberg vem pesquisando há mais de 15 anos as possibilidades que vários materiais lhe oferecem de manipulação, dobra e torções. aqui, a dobra nada tem a ver com a dobra de um amílcar de castro, por exemplo. não se trata de dobrar uma matéria que oferece resistência, mas, antes, de conformar provisoriamente materiais moles. esta torção provisória se adere ao feltro, à borracha, ao plástico e até à fotografia pela ação da artista, que põe no mundo esculturas transitivas e irrepetíveis instaurando um vocabulário que ao mesmo tempo em que parece próximo ao do modernismo, promove seu desmanche. na ocupação, sonia guggisberg trabalhou duas formas em plástico transparente cheias de água. para quem visitou a exposição em dias diferentes, a operação fica mais clara: as esculturas moles foram mudando, alongando-se e retraindo-se ao sabor da manipulação. as peças encontraram uma solidez provisória quando, depois de dobradas e torcidas, aderiram ao chão. na fotografia, meio novo na experimentação da artista, o processo é semelhante. e mesmo aquilo que tenderia mais definitivamente à solidez e ao congelamento sonia põe instável, valendo-se de uma técnica de adesivar as fotografias em suportes moles. a dobra volta à tona e abre, aqui, um campo fértil para futuras experiências.

meu laboratório de desenho

fabio_tremonte.jpg

a primeira providência de fábio tremonte depois de instalar sua mesa de trabalho no paço das artes foi simular um céu numa janela à sua frente. uma vez criado o horizonte, pôs-se a desenhar. mas não foram retratos nem confissões nem monotipias que saíram de cima do tampo de vidro. a iconografia subjetiva, permeada de escritos, que estamos habituados a ver no trabalho de tremonte deu lugar a desenhos esquemáticos, palavras esquemáticas, e tudo sobre superfícies de cores artificiais. o que estaria se passando neste laboratório de desenho que o artista organizou pra si em seu espaço na ocupação? bloqueio criativo? crise? contaminação talvez seja a palavra mais adequada. tremonte está utilizando esta oportunidade para se ocupar de um interesse que há muito o acompanha: o ambiente virtual. seus novos trabalhos são desenho de observação... da internet. contaminado pelo mundo de imagens que circulam na rede, o artista está experimentando confrontar com aquele universo cotidiano tão presente em sua produção um outro cotidiano, e para isso escolheu como suporte papéis que estão à mão, como pequenos cartões pautados ou folhas cor-de-rosa e verde limão de um bloco criativo. as imagens de referência, curiosamente, lhe chegam a partir de um procedimento em tudo afeito à sua poética: ele digita em sites de busca as palavras que designam formas recorrentes em sua poética (coração, casa, céu etc.) e põe-se a desenhar, reinventando seu desenho. uma outra pesquisa também se delineia nesta ocupação: vídeos curtos, disponíveis apenas na rede. o endereço é http://tremonte.multiply.com/video. mais adiante trataremos dos vídeos.

artista-repórter

eduardo_salvino.jpg

entre um b.o. do espectador que foi seqüestrado pela ocupação e a entrevista cifrada de uma das artistas participantes (que se resume à repetição pela artista de quatro ou cinco das palavras mais importantes na descrição de seu processo criativo), eduardo salvino vai compondo suas reportagens sobre o evento no paço das artes. o artista propõe uma visão nada ortodoxa de jornalismo cultural para subverter o que considera as "arapucas da mídia": sempre que alguém é entrevistado, a manipulação do que diz é tanta que se instaura a dúvida acerca de se a pessoa foi objeto de uma reportagem ou vítima de uma cilada. gravador em punho e vestindo a camisa de repórter, na sua cobertura da ocupação salvino leva ao extremo a cultura do remix da fala alheia e gera narrativas ficcionais na forma de impressos que são, por meio de uma técnica de origami, transformadas em pequenos pardais. eles ficam dispostos no espaço e podem ser destruídos/lidos por quem quiser. o artista está fazendo uma cobertura completa, entrevistando público e participantes ao longo dos três turnos. nos sábados de encerramento de cada turno, ocorre a "pardalada", quando todas as matérias já realizadas invadem a escadaria do paço das artes. agarre o seu pardal!

Sábado , 02 de Julho de 2005

renata_barros.jpg

se me pedissem uma leitura crítica do conjunto dos trabalhos desenvolvidos no segundo turno da ocupação, eu responderia que há quatro "questões" principais que amarram as propostas destes artistas: impermanência (martha lacerda, lali krotoszynski, sonia guggisberg, renata barros), fetiche (caetano dias, helga stein, eduardo salvino, raquel kogan), participação (vera bighetti e paulo telles, regina carmona, canal contemporâneo, guto lacaz) e processo (preguiça febril, fábio tremonte, paulo gaiad, vera martins). estes parâmetros meio frouxos de análise são intercambiáveis, no sentido de que os artistas em geral transitam por mais de uma questão levantada aqui (e por outras não apontadas, claro). no caso da impermanência, chama a atenção o modo como alguns artistas pensaram a ocupação como oportunidade de reflexão sobre o espaço (não o espaço de modo geral, mas aquele espaço específico: a instituição no momento em que celebra seus 35 anos de existência). lali krotoszynski se propôs a vivenciar o espaço, ocupando-o e se deixando contaminar por ele, avançando muito lentamente sobre áreas do paço das artes conforme a área anterior se mostrava "resolvida". sua ação acontece como um misto de performance e de "negociação". o percurso pode ser visto em um traçado sutil e impermanente de fios pretos no chão do espaço. no trabalho de renata barros, vemos também a incorporação do trabalho do outro, da presença do outro no espaço. uma outra dimensão da vivência do espaço está no diário gravado em páginas de vidro e em uma superfície refletora, ambas trabalhadas ao longo do período da ocupação, espécie de avanço lento também sobre "áreas" do paço das artes. esta questão da impermanência me foi sugerida em conversa com a artista martha lacerda, que trouxe para a ocupação seus bordados efêmeros como uma forma de pensar a passagem de tantos artistas e tantos trabalhos e tantas poéticas pelo paço ao longo de seus 35 anos. os trabalhos de martha ocupam o espaço e, em sua consistência delicada, já prenunciam sua extinção.

fetiche

helga.jpg

caetano dias tarda... mas não falha (mesmo!). o artista deixou seu espaço desocupado na primeira semana do segundo turno (por conta de uma viagem de trabalho), mas apareceu esta semana no paço com uma proposta de risco: instalou um notebook no chão, que fica exibindo, ao som de um cravo, um slide-show de fotografias apropriadas de sites pornográficos da internet que mostram apenas os rostos de pessoas amordaçadas. enquanto isso, o artista distribui mordaças ao público e faz novas fotos para a série. helga stein, a poucos metros dali, promove um desdobramento de seu trabalho andros hertz, em que manipulava auto-retratos. na ocupação, ela captura os retratos de visitantes e os transfigura digitalmente. a androginia da série de trabalhos originais (http://www.projecto.com.br/andros/) dá lugar, em ocupandros, à alteração radical que provoca não mais o estranhamento diante de uma mesma identidade retrabalhada à exaustão, mas o impacto diante de "identidades" radicalmente artificiais.

Posted by Juliana Monachesi at 4:41 PM | Comentários(1)
Comments

Cara Juliana,
por favor dê uma olhada nisto:
http://www.cabezamarginal.org/cabezas/archives/001777.html

Obrigado

Posted by: Juliano Polimeno at novembro 21, 2005 5:31 PM
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