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julho 3, 2005
Sobre o encontro do dia 02 de julho na Ocupação
Hoje muito se falou de uma tentativa de atitude polítca ou coisa parecida da parte dos artistas que ocupam o Paço das Artes; entre outros assuntos tratados no encontro, quero me ater a esse especificamente.
Acho que a partir do momento em que cada artista se disponibilizou a ficar durante 12 dias, 5 horas por dia dentro do Paço das Artes, isso já se torna uma atitude política. Por quê? Primeiro: não havia cachê, nem infra-estrutura para os artistas, mas todos providenciaram a infra-estrutura de que cada um necessitava. Segundo: moramos em São Paulo, onde a simples ação de se deslocar de um lugar para o outro pode se tornar algo penoso, mas diariamente os artistas se dirigiam ao Paço. Terceiro: 5 horas por dia, durante o horário comercial não é fácil de se arranjar, ainda mais quando sabemos que artistas têm, na sua maior parte, outro trabalho, para poder comer e pagar suas contas, mas mesmo assim, fizemos negociações e ajustes para estarmos no Paço das Artes. Quarto: o que esperar de artistas passando 12 dias, 5 horas por dia em uma instituição cultural, que comemora seus 35 anos e que disponibilizou nichos para os artistas? Produção! Não importa se os artistas não tomaram a fachada do Paço, não saíram em passeata pelas ruas da Cidade Universitária e nem mesclaram seus trabalhos aos trabalhos dos outros, criando um único e grandioso trabalho coletivo e democrático. Acredito que cada atista em seu canto, no seu silêncio e reflexão estava sendo muito mais político e crítico da situação da instituição do que se tivesse que participar de algo coletivo e fake. Cada dia mais acredito que a revolução virá de atos pessoais e individuais isolados, que aos poucos vai alcançar e um dia, quem sabe, transformar. Continuo acreditando e sonhando com nuvens.
*para Leonilson
Concordo plenamente com essas colocações lúcidas.
Se queremos nos manifestar politicamente devemos reunir todos os artistas e estudantes de arte de São Paulo e vir a público, não para fazer uma exposição, mas para fazer uma manifestação.
A idéia da exposição Ocupação é política no âmbito intrínsêco da arte: traz a possibilidade de organizar um espaço expositivo de modo democrático, que ainda pode ser aperfeiçoado, é verdade, mas que já é bem legal, com a ausência de curadoria, dando possibilidade de expressão quase incondicional dentro do espaço oferecido. Ou seja, do ponto de vista de certos problemas internos da arte, a Ocupação é uma proposta totalmente coerente e interessante. Não vejo a necessidade de se questionar tanto o modo como o espaço foi organizado. A divisão do espaço, do modo como foi feita, é uma das possibilidades lógicas de se partilhar o prédio. Devem existir outras, igualmente válidas e coerentes. Mas duvido que exista a "ideal". Não vejo necessidade de que devamos obrigatoriamente trabalhar em grupo, fazer obras coletivas; muitos artistas tem um trabalho cujo fazer é individual. Mas tenho certeza, pelo que percebi, que isso poderá ser pensado mais pra frente, em outras edições da Ocupação, caso o projeto continue.