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junho 27, 2005

Esclarecendo o sentido da Ocupação no Paço das Artes

Aos artistas da "Ocupação", ao pessoal do Coro e a todos que ainda se interessam por instituições culturais.

Caros,

Que bom que finalmente a discussão começa a tomar rumos interessantes.

A proposta de "Ocupação" do Paço das Artes deve-se à necessidade que a equipe do Paço e eu sentimos em nos posicionar frente a penúria que as instituições culturais estão vivendo em nosso país. Não se trata apenas de falta de verbas, mas sim, o que é mais grave, da ausência total de políticas culturais públicas para o exercício pleno da arte contemporânea.

A idéia de oferecer o Paço à "Ocupação" dos artistas responde, de forma silenciosa, a uma situação lamentável em nosso meio: de um lado as elites se impõem à cultura pelo exercício da plutocracia, ou, pior ainda, como bem lembrou o jornalista Mário César Carvalho em recente artigo "A morte do MASP", as nossas elites preferem pagar R$8.000,00 por um terno a colaborarem ativamente com as instituições, em crítica ao advento da Daslu. De outro lado, o circuito de arte (artistas, curadores, produtores, instituições e mercado) parece pouco atento a estas circunstâncias.

O Paço das Artes chega aos seus 35 anos com o perfil de programação definido e sistemático, mas ainda assim sem verbas para novas programações, com um mobiliário mambembe, funcionários apaixonados pelo seu trabalho, mas indecentemente pagos, e sem verbas para poder continuar o trabalho de forma planejada pela falta de manutenção do seu cotidiano - tal como reforma elétrica, de cabeamento de rede, atualizações de computadores e linhas telefônicas com funcionamento precário ou quase nulo. Poucos, a não ser nós mesmos parecem se importar com a gravidade de tal situação.

Todos os artistas que participam da "Ocupação" foram alertados com muita clareza a respeito desses fatos. Discutimos até que não caberia a diretoria do Paço das Artes encabeçar mobilizações a esse respeito, mas apenas dar ao meio total ciência dos fatos e abertura à "Ocupação" e aos debates que dela poderiam surgir.

Ao tentarmos tornar esses fatos públicos, fomos surpreendidos com a omissão total da mídia impressa. Em entrevista ao Estadão e a Folha enumerei pessoalmente os problemas elencados e a razão de fazermos uma "celebração", hélas, com um vernissage de espaço em branco, mas a imprensa mostrou-se surda, cega e muda, limitando-se a publicar o tal do arroz-feijão, ou seja, apenas o serviço.

O projeto da Ocupação pretende, isso sim, criar oportunidade de encontros e trocas entre os interessados na continuidade de uma instituição como essa, pois cabe a sociedade civil e ao meio artístico lutar pelos seus interesses. Como temos visto em nosso meio, o que é que está faltando?

Primeiro, a clareza de discernirmos em que medida a ausência de instituições culturais equipadas e aparatadas para suportar as demandas da contemporaneidade nos beneficia ou prejudica. Incluem-se aí verbas para programações completas (que pudessem subsidiar obras e cachês de artistas, para além dos orçamentos normais de produção, exibição e difusão de mostras) e manutenção básica dos espaços.

Segundo, falta a discussão profunda e livre de preconceitos entre as partes, acompanhada de análise realista da situação.

Terceiro, a decisão pelo traçado de estratégias de ação. Ou deixar o processo a deriva, já que nem mais a dimensão simbólica prevalece nas instituições brasileiras.

Esse espaço de discussão - potencialmente constelado no Paço das Artes durante seus 45 dias de Ocupação - poderá ou não gerar resultados interessantes tanto em direções políticas, quanto mercadológicas e culturais. Ou poderá revelar, mais uma vez, a nossa inaptidão a nos mantermos vivos no sistema vigente e seu devir.

Quem somos? Onde estamos? E para onde queremos ir de fato? Dependerá de todos nós e da nossa inteligência para conduzirmos negociações e estratégias. A conversa começa agora e sinceramente espero que seja construtiva. Sugiro um primeiro encontro com data e hora marcada no Paço das Artes. E aí, quando será?

Um abraço a todos,

Daniela Bousso

Posted by Patricia Canetti at 10:24 PM | Comentários(5)
Comments

O descaso em relação aos artistas e consequentemente à arte,desestimula a produtividade e acaba por diminuir o contingente enteressado em boas mostras.
Tal frase é terrível e verdadeira,ainda mais quando se trata de artes visuais sérias,trabalhos inteligentes e quase nada comerciais,por serem verdadeiramente bons.
Não sei exatamente o que se passa com o "paço",mas acredito na movimentação dos artistas para reverter a situação,não só do "paço" mas das instituições em geral e quero participar do que for...

Posted by: Fernando Bastos at julho 2, 2005 4:13 PM

Gostaria de questionar a razão pela qual os artistas estão tentando se reunir na ocupação.
O motivo expresso abertamente pela curadora Daniela Bousso em seu recente e-mail é sensibilizar a sociedade, ou parte dela, ou os artistas, ou os interessados, para o fato de que as condições das instituições culturais, no caso o Paço das Artes, estão sendo negligenciadas por aqueles poderiam, ou deveriam, mante-las com o mínimo de dignidade.
Mas é esse o motivo pelo qual os artistas deveriam estar unidos? Temos interesse em salvar a instituição por que temos interesse em salvar a arte contemporânea? Ou temos, como artistas, interesse em nos reunir como classe, para termos força, para termos voz?
Será que mais uma vez vai ficar claro que o poder dos que comandam intituições é algo absolutamente necessário para que consigamos nos organizar em conjunto?
Por que se isso acontecer, novamente o controle vai estar na mão de quem comanda as instituições e não nas mãos dos artistas.
Os artistas deveriam se reunir sem hierarquias, sem comando.
Se fizessem isso conseguiriam mais facilmente ganhar seu próprio espaço na sociedade, de modo independente.
Se o Paço das Artes queria realmente fazer algo não só pela sua intituição ou pelas intituições em geral, mas sim, pela arte, pelos que fazem arte, teria com facilidade convocado todos os artistas de São Paulo: artistas consagrados, jovens artistas, estudantes de arte e artistas esquecidos.
E não os teria reunido para uma exposição, mas para protestar, como sabem fazer aqueles que entram em greve, nas portas de fábrica.
Isso sim teria grande força, imensa força.
E não é difícil imaginar algo assim, não é mesmo?
Mas o aniversário do Paço precisava de uma exposição, de alguma atração...
Agora, 60 artistas entrarem em greve, é ridículo, realmente.

Posted by: Roger Barnabé at julho 3, 2005 4:07 AM

Você começa o seu comentário questionando a participação dos artistas e o modo destes se colocarem ou deixarem de se colocar, depois, você passa a criticar a forma como a instituição fez o seu movimento para chamar a atenção dos artistas e da sociedade...

Parece que você descarrega na instituição a frustração por não ver uma atividade de sua classe mais propositiva e afirmativa policamente...

Posted by: Vitor Golin at julho 3, 2005 11:53 PM

Quem não esta frustrado por não ver os artistas reunidos como classe, independentemente, defendendo politicamente seus interesses? Todos os outros trabalhadores correntemente empregados tem alguma estabilidade no sistema capitalista, pois fazem parte dos meios de produção, são necessários ao funcionamento mecânico do sistema como um todo. No entanto, mesmo assim, todos tem sindicatos e muitos sabem se organizar eficazmente. Se você não liga para o fato de que os artistas não estão unidos, organizados, é problema seu. Acredito, é claro, que você não deve se o único a ser um "não-frustrado", pois se fosse assim as relações de organização entre os artistas seriam bem diferentes. Mas acredite, meu caro, muitos pensam como eu e se sentem frustrados nesse ponto. Outra coisa: não descarreguei nada sobre a instituição. Não estou cobrando nada da instituição. Estou cobrando dos artistas. A instituição tem um papel, bem ou mal, já amplamente estabelecido, necessário, importante. Quem questionaria isso? Deveriam existir 50 Paços das Artes em São Paulo, por que a sociedade precisa de cultura, de museus, de escolas, de universidades. Nunca diria que uma instituição cultural é algo que deva ser esquecido ou destruído! Pelo contrário. Os artistas, entretanto, ainda carecem de se estabelecerem como grupo coeso e firme, para poder se colocarem com dignidade perante a sociedade e devem fazer isso dando seus próprios passos. Não se irrite, apenas dei minha opinião. Se é uma opinião forte demais, sinto muito.

Posted by: Roger Barnabé at julho 5, 2005 2:02 AM

Aproveito o mote corajosamente levantado por Daniela Bousso e friso: a grande questão cultural hoje no país é conseguir articular os diversos segmentos da cultura para formular uma política de baixo para cima. Os governos (e não importam as siglas partidárias) desta última década só reforçaram o descaso com a cultura. Seja permitindo florescer a plutocracia, seja matando à míngua de verbas os órgãos públicos dedicados à cultura. Está mais do que claro: se a gente quer, a gente é que tem que correr atrás. Precisamos criar instrumentos de pressão para fazer o governo cumprir seu papel, ou seja, executar uma política cultural pensada pela comunidade cultural. Mas atenção: enquanto a gente ficar raciocinando em termos dicotômicos tipo "eles e eu", "instituição versus artistas", "artistas versus críticos" e etc...nada vai sair do lugar e nada vai andar. Que tal começar a pensar junto, moçada??? Na dúvida, é terapêutico observar como funciona o movimento comunitário da favela de Heliópolis (São Paulo), por exemplo. Estou em contato com eles e me emociono cada vez. Lá, o povo pensa junto. Soluciona junto os problemas. Há um entendimento de que são parte de um todo, que são integrantes de uma comunidade. Pois é. Nós, da chamada classe média, só conseguimos olhar o próprio umbigo,calar opiniões macro para não prejudicar interesses pessoais micro e, mesmo diante de tanta miopia de horizontes e inércia pessoal, ainda reclamar de que algo tem que ser feito. Que tal começar a fazer???? Que tal focar objetivos é arregaçar as mangas? Quem se habilita??? Em Sampa, hoje (quinta, dia 07 de julho) tem reunião no Centro Maria Antonia, (19h30, na sala 100) para tratar das câmaras setoriais. É um começo de mobilização. Claro que a eficácia das câmaras estará na razão direta de nossa mobilização. Que tal aproveitarmos esses debates das câmaras para agendar novos encontros em que se possa elencar prioridades de politica cultural e articular formas de execução? Ou vamos deixar tudo a cargo apenas de nossos representantes eleitos para essas câmaras? Votar neles e dar a missão como cumprida? É claro que devemos apoiá-los, inclusive e principalmente com formulação de estratégias de ação política e formas de pressão. Delegar representação não é, absolutamente, eximir-se de pegar junto...de ajudar. De agir como comunidade. Maiores detalhes com o sr. João Miranda, presidente da UNAS (União dos Núcleos e Associações de Moradores de Heliópolis e São João Climaco). Esse paraibano com curso primário incompleto tem muito a ensinar para nós, os chamados intelectuais...

Posted by: Angélica de Moraes at julho 7, 2005 12:44 PM
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