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junho 26, 2005

Mais Ocupação na lista de discussão do coletivo Coro

Data: 14/06/2005
De: Mauro

Adorei a idéia da Ocupação Ricardo,
Apropriação Paço das Artes Já.
Mauro de Souza

Data: 14/06/2005
De: Patricia Canetti

Oi Coro,
O Canal Contemporâneo está com um trabalho na Ocupação, que retoma o Quebra de padrão, com o objetivo de estender o espaço dessa ocupação institucional para a rede. E cumprindo com essa função, estamos publicando as msgs do Coro sobre a Ocupação nesse blog.
Acho que o Coro levanta questões muito pertinentes, mas também peca quando, ao fazer política sempre de oposição, não consegue analisar a situação com mais abrangência e precisão. Afinal, a instituição é governo e capital (quando é o caso), mas é também formada por seus funcionários e dirigentes, pelos artistas, críticos e curadores, que a utilizam para trabalhar, o que torna essa situação muito mais complexa...
Abraço,
Patricia Canetti

Data: 14/06/2005
De: Fábio Tremonte

Desculpe, Ricardo, mas e, nenhum momento disse ser reacionário ou preconceituoso o artista que se arriscar a falar de política, mas o artista que chama de burguês, conformado e outros impropérios outro artista que consegue se relacionar e se propõe a atuar dentro das instituições. Isso para mim é batido, arte é coisa de burguês, e essas pataquadas que se ouve muito por aí e por aqui. Isso, sim, é reacionário e preconceituoso.
É uma pena que seu conceito de viver em paz seja tão reduzido, acredito que podemos viver em paz, sim, mas para isso é necessário uma revolução muito maior do que descer a língua nas instituições, do que ocupar um assentamento do MST ou dos sem-teto, mas chegar coma rrinho do ano, notebook, máquinas digitais, e arte, muita arte contemporânea para dar aos pobres coitados. É disso que eles precisam? Não querem casa? Não querem comida? Não querem ver os filhos cheirosos e com roupas limpas? Eles querem bater papo com artista, que está super preocupado com a situação deles, que depois, chega em casa, toma banho de água quente, deita na cama com colchão de mola e assiste a TVA, acorda e vai para o mestrado, teorizar.
Ricardo, desculpe, mas estou cansado há muito tempo desse discurso descolado da prática.
A briga não deveria ser porque o Paço cobra R$ 3,00 para entrar lá, mas deveríamo brigar para que qualquer pessoa pudesse ter R$ 3,00 para entrar no Paço se quisesse.
MInha briga não é contra instituição, nem curador e nem crítico, mas contra aqueles que não conseguem viver de acordo com o que pregam.
Mas, se vocês acham que a medida é invadir o Paço, vamos lá. Mas, se invadir, invadam direito, levem metralhadoras e fuzis e façam reféns, talvez a guerra seja a saída, já que o respeito e a união não levam a lugar nenhum. Ainda bem que Gandhi e Dalai Lama existiram...
Abraços
Fábio

Data: 14/06/2005
De: Rodrigo Vitullo

Bem,

vimos que trata-se de delicadas situações
em que o governo mais uma vez "OMISSO" quanto essas questões
e se exclue da culpa como se a cultura tivesse se tornado
nada mais nada menos que produto.

Então o que acontece em sitações desse tipo é uma
apropriação de termos (populares) , ou seja, dos movimentos porpulares, pois

são intitucionalizados,e assim perdem sua sustentabilidade
sob suas raizes... como organização, dedicação, pureza da arte contemporânea
questionamentos que viram reflexões e por fim conclusões

Senão de que outra maneira poderá coibir
ações contra ele mesmo???
(pergunta 1)
Esse é o sistema capitailista. Infelizmente.
É como as camisetas do Tche.... virou marca.
e por fim tem reunião hoje? dia 14

Data: 14/06/2005
De: Fábio Tremonte

"Pureza da arte conteporânea"?
?????????????????????????
Não entendi!

Data: 14/06/2005
De: Ricardo Rosas

Mandou bem, Flávia!
Textos e opiniões muito lúcidos. Poderia se tentar invadir o Paço, em protesto ao preço a se pagar.
Abs
Ricardo

Data: 14/06/2005
De: Fábio Tremonte

Cinemas, teatros, também não entram nessa?

Data: 14/06/2005
De: Sergio Roclaw Basbaum

Flávia, belo texto. questões vitais aí.
meus cumprimentos
Sérgio

Data: 15/06/2005
De: Patricia Canetti

Flavia,
Os artistas foram chamados para ocupar o Paço das Artes num momento em que ele simplesmente fecharia as portas. As curadorias programadas haviam sido canceladas por falta de recursos e havia o agravante político da mudança da secretaria de Cultura que estava para acontecer. E porque não fechar, seria mais honesto, eficaz? Ou, quem sabe o governo podia gostar da idéia e alugava outro espaço para algum Banco Santos da vida ou alguma multinacional do entretenimento...
Confesso que pensei ingenuamente que o nome Ocupação conectaria as pessoas a gravidade da situação ou pelo menos fariam elas se perguntar o porque de uma instituição pública dentro de uma universidade estar fazendo uso de um termo tão forte...
Acho que a ação com real potência transformadora está se dando agora com a Ocupação, quando estamos trocando idéias aqui e lá (soube que os textos do Coro foram impressos e colocados no blog low-tec - um enorme quadro-negro com giz e tachinha, que tem a heróica tarefa de conectar os dois espaços do Quebra). O tempo interno da Ocupação está delicioso, parece cidade do interior, temos tempo para prosearmos a vontade!
Só para o seu conhecimento, já que você não tem ido muito ao Paço, o ingresso começou a ser cobrado no início do ano, justamente devido a penúria financeira da instituição.
Aproveito para te dar uma notícia sobre um outro assunto. Amanhã temos no Rio uma reunião para escolha de representantes para um seminário sobre a câmara setorial de artes visuais que, devido a falta de interesse crônica da classe artista por políticas públicas, teve o seu processo paternalizado pela Funarte, que agora escolhe os grupos que vão escolher os seus representantes, formando assim um colégio eleitoral ao seu gosto.
Esse talvez tenha sido "um evento reconhecidamente histórico, que perdemos a chance de nos mobilizamos verdadeiramente frente aos problemas culturais que nos soltam aos olhos e ouvidos".
Abraço,
Patricia

Data: 15/06/2005
De: Ricardo Rosas

Patrícia,

Dessa forma as coisas ficam mais claras. Ou seja, explicam-se certos pontos obscuros. Do jeito que parecia antes, era um uso realmente gratuito (eu diria até sarcástico) da palavra "ocupação", e sem dúvida inspirou mesmo revolta.

Se o que está acontecendo é na verdade a ameaça de fechar o Paço, a coisa muda de figura, e aqui nos vemos na mesma situação quando do fechamento da Casa das Rosas. A ação, então, se justifica, e o nome vira um adendo.

De qualquer forma, a indignação da maioria, seja da Flávia, minha ou de outros (estou falando mais por mim mesmo), deveria ser a mesma se a situação se repetisse em casos que não esse, pois toda "apropriação" de má fé de uma atitude que para os artistas envolve muito mais que pose ou estilo mas urgência de interferir numa realidade muitas vezes cruel, pede sempre uma resposta à altura, que subverta esse mesmo mecanismo indiferente de apropriação.
Abraços
Ricardo

Data: 15/06/2005
De: Alexandre Menossi

ola a todos que recebem estes emails da rede coro (sei
que sao muitos)

já que a ação de ocupação no paco das artes e sincera,
proponho a todos os artistas interessados a se dirigir
ao paco e ocupa lo de forma desordenada, de forma que
o debate possa acontecer lá dentro efetivamente, não
somente na internet.

farei isto e chamarei todos meus amigos artistas para
fazerem o mesmo.

que a arte se desamarre!
alexandre menossi

Data: 15/06/2005
De: Ricardo Rosas

Fábio, minha briga tampouco é com a instituição. Não tenho nada a favor nem contra o Paço das Artes. Nem sequer sou "artista", quando muito, escrevo sobre eles. Mas é super legítimo se revoltar contra uma apropriação que à primeira vista parecia deveras sarcástica.

Deve-se com certeza sabotar tentativas de domesticar nossas iniciativas de ação, como fizeram os Vaccuum-Cleaners (www.vaccuumcleaner.org.uk) com a marca Diesel, ao se apropriar da estética dos protestos anti-globalização. Tem de se responder a essas tiradas, em sua maioria, publicitárias.

Não estou defendendo que se joguem coqueteis molotov contra as instituições da cultura, e segundo a Canetti, que encontrei num evento ontem à noite, a ocupação literalmente se dá por que o Paço anda mal das pernas, em termos de grana. Coisa que eu não sabia. Nesse caso, a apropriação é perdoável, mas o fato foi divulgado nos releases para a imprensa? Que eu saiba, não. E isso realmente gerou mal-entendidos entre os artistas.

Outra coisa é que esta lista está literalmente rolando num blog-mural no Paço, mas foi pedida autorização a nós para esse uso? A sensação de "vigilância velada" não aconteceria se as coisas fossem mais transparentes.

Por outro lado, acho que esse debate, à parte quaisquer interpretações apressadas, é muito estimulante e vale para que se repense a questão de como coletivos podem estar sendo cooptados pela máquina publicitária e institucional sem se dar conta, como a mistura entretenimento e ação pode estar esvaziando o discurso crítico e permitindo essa cooptação, e como está patente a falta - esta sim mais revoltante que a apropriação indevida - de uma real intervenção em problemas ou situações pontuais quando necessário. Talvez seja esse um momento valioso para que discutamos se a mistura "arte, entretenimento e política" não pode estar sendo minada, por um lado, pela predominância de uma dessas partes, e por outro, pela falta de uma maior asserção em questões concretas e palpáveis.

Não será o "bunker" Daslu um caso muito mais escandaloso que um Paço precário de grana pedir a "invasão" de artistas para uma exposição?

Abraços
Ricardo

Data: 15/06/2005
De: Fábio Tremonte

Ricardo,
é isso mesmo.
Me assusta ver uma guerra entre artistas, uma guerra não declarara, muitas vezes veladas, e na maor parte do tempo sem propósito.
Acredito q devamos nos engajar e lutar contra o que realmente é poder...Daslu...Mensalão...Fome...
Concordo contigo e aperto sua mão...
Fábio

Data: 15/06/2005
De: Paulo Hartmann

Aproveito o momento mais do que oportuno para passar o texto "Coerção" de
Douglas Rushkoff q foi base de discussão
no Memefest 2005:

http://www.memefest.org/brasil/coercion.htm

Paulo Hartmann
MEMEFEST:BRASIL
www.memefest.org/brasil

Data: 15/06/2005
De: Patricia Canetti

Ricardo,
Sobre a indignação da maioria, acho que sempre cometemos um erro básico ao julgar e condenar as coisas precipitadamente, sem tempo de olhar para o outro. Esquecer dessas leis fundamentais, de que somos, a princípio, inocentes até que se prove em contrário e do direito amplo de defesa é o que leva ao comprometimento maior da liberdade de uma sociedade. Se acreditamos e trabalhamos por uma sociedade mais justa, seremos mais eficientes, se houver uma maior coerência em nossas ações.
Quanto a situação do Paço, depois escrevo a respeito, pois hoje viajo pro Rio e o dia está na maior batida!
Abraço,
Patricia

Data: 15/06/2005
De: Mariana Cavalcante

Acho legítima a realização de uma ocupação de artistas em um espaço cultural público condenado pela negligência do estado, como oportunidade de denuncia desta situação insustentável e vergonhosa por que passa o Paço das Artes e também em que se encontram muitos artistas, que não contam com o apoio das instituições públicas para a realização e veiculação de seus projetos, tendo frequentemente que arcar com os custos de seu trabalho ou mesmo trabalhar de graça para estas instituições em troca de "apoio institucional", seja lá o que isto realmente signifique.

Sob esta ótica a "ocupação" se justificaria porque seria realmente uma conquista, a posse de um espaço público negligenciado pelos artistas idem.

Seria uma ótima oportunidade para questionar a forma como se dão
estas relações entre artistas e instituições e poder público e
instituições, que deveriam ser aparelhadas para dar conta de uma
demanda enorme de produções culturais mas, como no caso do Paço,
precisam contar com o apoio dos artistas para permanecer em atividade,
invertendo a lógica de sua própria função social.

Questionável pra mim é a forma como este processo se deu.

No momento me parece que a a iniciativa da "ocupação" perdeu o
sentido quando abriu suas portas apenas para alguns artistas
pertencentes a um círculo restrito criado pelos interesses de alguns,
não sendo de forma alguma uma iniciativa de abertura e democratização
do espaço em questão.

Em uma ocupação legítima as portas não são abertas para alguns, nem
mesmo são abertas, porque o espaço deve ser tomado, conquistado por
quem precisa dele.

Duplamente questionável me parece a "ocupação" do Paço por um
escritório de arte, cujo responsável transformou seu comércio de arte
em performance e usa o espaço público para divulgar os "seus"
artistas.

Mariana Cavalcante

Data: 15/06/2005
De: Andréa Tavares

estou tenatndo entender as colacações da Flávia e do Daniel comentando alguns comentários, até porque esse evento no paço me incomoda bastante e acho a discussão ótima, o diálogo é a essência de qualquer política:

"Depois de experiências como a do ACMSTC, em que 120 artistas se
colocaram em ação, junto a Ocupação Prestes Maia, onde habitavam 2000
moradores do MSTC - Movimento Sem Teto do Centro, em novembro de 2003
e a Favela do Moinho, um ano depois... frente a vivência com os
coletivos de arte, que se esforçam para manter uma produção autônoma e
pública... fica difícil aceitar qualquer construção histórica
cultural."

Penso que uma iniciativa não invalida outra, são estratégias diferentes, trabalhos que precisam ocupar outros lugares. Além do mais essa tal autonomia dos artistas e coletivos é muito relativa, e custo a acreditar que exista mesmo. Onde quer que estajamos atuando, negociamos com instituições, mesmo que seja o MST. É difícil aceitar qualquer construção histórica, mas os eventos que você citou também são construções históricas.

"Tomar ou encher (algum lugar no espaço)."

Isso nossos colegas estão fazendo. Estão lá, e não são muitos os lugares para estarmos. Ou são muitos...

"Que sentido há nessa ocupação?
Que sutil 'reality show' a cultura se coloca e com qual finalidade!?"

Provavelmente as duas peruntas mais pertinentes nesta situação. E se posso "chutar" uma resposta, deve ser novamente uma instituição cultural com alguem um pouco preguiçoso no comando se aproveitando da situação, de artistas que querem trabalhar, sem falar que a instiuição vai para a midia com uma fachada "modernerrima" e "super trend".

Quanto a definição do dicionário...bem, ocupando um lugar no espaço nossos colegas estão, mas quem não está? Voltamos aquela perguntinha, qual o sentido dessa ocupação?

"As ocupações partem do pressuposto de que existe alguém que domina
legalmente determinado local, segundo a constituição liberal
brasileira, mas que é de fundamental importância iniciar uma práxis
que combata os pressupostos que legalizam a existência desses locais
privados."

Devagar, devagarinho... devagar... Alguémns sempre são os responsáveis por algum lugar ou alguma coisa, de fundamental importância é a transparência nas atuações e estratégias.

"As ocupações legítimas são fatos fundamentais pois criam uma cultura
da insubmissão anti-capitalista."

O que legitima uma ocupação? quem a legitimará? a história? qual história?

"A ação oportunista do Paço das Artes, e a adesão leviana (é o que
tento acreditar) por parte dos artistas é uma conjunção de forças
sociais destrutiva para a continuidade das lutas anti-capitalistas e
principalmente seu poder no imaginário social"

Levianos? Quem participa? Quem rala pra caralho e não consegue mostrar o trabalho e ganha o que parece ser uma oportunidade? Eu ainda acredito na ingenuidade de nossos pares. Destrutiva? Enfraquecedora. É só uma batalha, ainda não perdemos a guerra...que guerra. A vida não é PB. As fornteiras estão borradas.

"O pensamento dialético é o único pensamento possível."

E está fora desta sutil frase qualquer pensamento dialético. Totalidade ou dialética ou totalitarismo? Totalidade é ficção, até que apareça um pensamento que sirva para pensar qualquer coisa, em qualquer lugar ou em qualquer tempo.

"Como somente o pensamento dialético nos redime: Quem é culpado? O PAÇOdas ARTES ou os ARTISTAS que estiveram por lá?"

Culpados? A culpa é uma idéia muito fundamentalmente judaico-cristã para essa época de caça as bruxas em que vivemos. Culpa pressupõe um juizo de valor pré-concebido que não creio ser apropriado para avaliar essa situação. Parece mais apropriado seguirmos a avalição de quem sae ganhando e/ou perdendo com o evento e quais as intençoes dos sujeitos e finalmente esperar para ver o que eles conseguiram.

Por que invadir a Ocupação do Paço, quais as intenções por trás de uma ação como está?

Tentando entender...entendendo e tentando esclarecer alguns pontos.

abraço a todos,

Andréa Tavares

Data: 15/06/2005
De: Andréa Tavares

Patrícia sua explicação foi muito clara. Por isso mesmo, acho uma pena que a própria instituição, não tenha aproveitado o evento para tornar pública a situação precária em que está vivendo. E mais uma vez sinto muito por nós artistas, que acabamos por "financiar" as instituições de arte, por que ao que parece ninguém ganhou cachê ou ajuda financeira para executar os trabalhos...

um abraço
Andréa Tavares

Data: 16/06/2005
De: Gustavo Godoy

realmente,
já paguei, algumas vezes, R$ 3,00 para entrar no paço sabendo da situação, mas mesmo assim, cada vez que fazia isso, ficava mais indignado com a falta de interesse na cultural pelo nosso governo e agora, mais ainda, com a política federal!

práticas como o fechamento de um museu mostra que a cultura não é prioridade para a política do nosso país!

não podemos desistir, vamos ocupar o que temos direito. mesmo que fecharem todos os museus públicos da cidade e do país, iremos para as ruas! inclusive as ruas já vem sendo espaço de ação de muitos artistas, que de certa forma é uma reação a essa política cultural medíocre!!

continuemos a luta......
gustavo

Posted by Patricia Canetti at 7:09 PM