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junho 29, 2004

Uma lente para ver a pós-subjetividade

Conheça o projeto de rede desenvolvido por Giselle Beiguelman para hiPer

JULIANA MONACHESI

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"Hackeie o museu", incentiva a home do Egoscópio 2.0, trabalho de Giselle Beiguelman na hiPer, que pode ser visitado no endereço www.desvirtual.com. "Você é o WebJ", encoraja a página de postagem de arquivos de texto ou de imagem. Toda e qualquer coisa enviada para o egoscópio é jogada imediatamente em uma projeção dentro do Santander Cultural. A atividade de "webjaying" pode ser fixa ou nômade, integrando um número incontável de variáveis (e subjetividades) que, surpreendentemente, resulta em um retrato inteligível.

As imagens "artísticas" ou de obras de arte reconhecíveis disputam espaço com fotos do tipo que se costuma encontrar em fotologs (retratos anônimos de família, amigos, caras e bocas, poses etc.), com cenas de Porto Alegre e da própia exposição no Santander (muito em função da "parceria" não programada entre o Narkes, trabalho de Helga Stein que será apresentado e discutido mais adiante no Quebra de Padrão, e o Egoscópio) e com imagens de cunho jornalístico e/ou publicitário (o símbolo do time de futebol, a foto da cantora predileta etc.). Os textos variam do "fulano esteve aqui", fazendo do painel uma parede em que se deixa uma pichação banal, a máximas e comentários curiosos.

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Como o próprio nome do trabalho diz, trata-se de uma nova versão do primeiro Egoscópio -"upgrade", nas palavras da artista. A versão 1.0 é apresentada no site desvirtual como "uma teleintervenção que propunha mapear um personagem fluido chamado Egoscópio. Combinando recursos de Internet e Intranet, o Egoscópio configurou-se como experiência bem-sucedida de ação de público aberto que recebeu mais de 2.200 contribuições gerando um interessante banco de dados das múltiplas identidades do nosso caráter 'descorporificado'. Egoscópio discutiu não apenas formatos de nova subjetividade, mas também veiculou práticas de autoria e recepção interceptadas por processos de entropia e aceleração".

Realizado em agosto de 2002, durante o FILE, o trabalho consistia em veicular as informações postadas no site do Egoscópio em dois painéis eletrônicos publicitários da avenida Faria Lima. Os usuários participavam escolhendo entre opções pré-determinadas e restritas a URLs, que indicavam o tipo de roupa, obras de arte, a língua materna etc. que configurariam este "sujeito pós-subjetivo, sem identidade porque amálgama da identidade de todos nós, sujeitos mediados por mídias". O trabalho logo fugiu ao controle da artista; cada um punha no ar o que bem entendia, a maioria tentando se promover. "Apesar de eu querer fazer um trabalho sobre subjetividade, as pessoas queriam seus dez segundos de 'cybercelebrity'", conta.

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Desta vez, Giselle Beiguelman abre mão do controle da variáveis, permitindo o envio de qualquer tipo de arquivo, de forma que o Egoscópio 2.0 configura-se de fato como um instrumento para ver a subjetividade contemporânea. O usuário de internet fixa ou de tecnologias de internet móvel (SMS, MMS), assim como o visitante da exposição, pode colaborar com imagens ou textos. "A proposta é que o trabalho funcione como webjing mesmo", explica. A artista acredita no fator "peopleware", não estabelecendo qualquer controle apriorístico dos conteúdos postados: "Acho que o trabalho não se presta a determinadas coisas e o Egoscópio é uma aposta de que existe inteligência coletiva, sim. Eu nunca tive problema com público, nunca tive o site derrubado".

Interface em que Beiguelman se apaga como autora, o projeto não sobrepõe nem sampleia as intervenções alheias, antes dispõe de forma democrática as variadas colaborações (e nisso dialoga com a tentativa de conferir dignidade ao anônimo presente na obra de Jurandir Muller e Kiko Goifman - ver texto do dia 10 de junho). O borramento de limites entre mundo real e virtual, tão acentuado nas críticas elogiosas que a artista recebeu (em textos de sites especializados a matéria no NYT), propiciado pela interação entre a intimidade da navegação feita em casa e a veiculação em painéis na rua, sofre nesta versão um rebaixamento uma vez que o resultado pode ser visto apenas na projeção dentro do Santander Cultural.


Posted by Juliana Monachesi at 1:43 AM