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Como atiçar a brasa

 


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maio 28, 2010

Pinacoteca reúne ouro que inspirou Eldorado por Fabio Cypriano, Folha de S. Paulo

Matéria de Fabio Cypriano originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 28 de maio de 2010.

Exposição exibe coleção de 291 artefatos feitos antes de colonização

Peças, com caráter religioso, foram trazidas em apenas quatro malas de Museu do Ouro de Bogotá

A partir de amanhã, algumas das peças que levaram os colonizadores espanhóis, no século 16, a idealizarem o mito de Eldorado, a cidade toda construída em ouro, serão exibidas na Pinacoteca do Estado, na região da Luz.

"Ouros de Eldorado - Arte Pré-Hispânica da Colômbia" apresenta 291 artefatos do Museu do Ouro de Bogotá, trazidos em apenas quatro malas. Dispostos em seis grandes salas, são 251 peças em ouro e 40 objetos arqueológicos em cerâmica.

"Buscamos apresentar um olhar estético para a metalurgia pré-hispânica", conta Clara Isabel Botero, diretora do Museu do Ouro.

Um Pororo, de 600 d.C., e uma pequena folha de palmeira em ouro, criada entre 100 a.C. e 500 d.C, são apontados por ela como os grandes destaques da mostra. Ambos deixaram a exposição permanente do museu, reinaugurado há cerca de dois anos, após uma completa reforma e ampliação. Sua coleção, com 52 mil peças, 34 mil em metal, é a maior coleção do tipo no mundo.

O pororo, que pela forma afilada e elegante foi apelidado Brancusi, em referência ao escultor romeno, era um recipiente usado pelos índios para misturar cal na coca.

Já a palmeira, com seu formato achatado e longo, foi forjada para possibilitar a reflexão de luz. "Existem duas particularidades entre os objetos: foram feitos para emitir som e luz", explica Botero. Eles possuíam caráter religioso ou "simbólico", como define a diretora e, por isso, muitos têm pingentes ou uma área que deixa refletir a luz do sol ou do fogo.

Posted by Marília Sales at 4:44 PM

Mostra da Capital discute nomes que expandiram limites da arte, Jornal do Comércio

Matéria originalmente publicada no Jornal do Comércio em 26de maio de 2010.

O Santander Cultural de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, reuniu videoinstalações, vídeos, objetos, fotos, filmes e livros que remetem ao "fazer" de 16 artistas que modificaram concepções e influenciam a cena cultural contemporânea desde os anos 60 e 70 do século passado na mostra "Horizonte Expandido", que começa nesta quarta-feira (26) e segue até 15 de agosto.

A mostra conta com obras dos norte-americanos Allan Kaprow, Bruce Nauman, Chris Burden, Dan Graham, Dennis Oppenheim, Gordon Matta-Clark, Nancy Holt, Robert Smithson e Vito Acconci, do brasileiro Hélio Oiticica, da cubana Ana Mendieta, do holandês Bas Jan Ader, do alemão Joseph Beuys, da sérvia Marina Abramovic do austríaco Valie Export e do argentino Victor Grippo. Assim como era intenção dos autores, suas obras e registro delas seguem convidando o público a participar e se manifestar.

Após apreciar a exposição, o visitante poder discuti-la com mediadores e até com os curadores André Severo e Maria Helena Bernardes, no hall de entrada e saída do edifício. Ambos são do Projeto Areal, que há dez anos investiga a experiência direta entre artista e público a partir de incursões pelos campos, praias e lagoas, e do contato direto com moradores do litoral sul gaúcho, ambiente considerado por eles "símbolo dos limites cada vez mais imprecisos na arte como disciplina na atualidade". Essa busca já foi registrada em filmes e livros.

"A ideia é convidar todos a pensarem com a gente a criação desses artistas que colocaram questões com que a arte trabalha até hoje", explica Severo. "Eles viveram uma espécie de crise feliz em busca da interlocução direta com seu contemporâneo, o vizinho, o transeunte", acrescenta Maria Helena.

Assim, "Horizonte Expandido" não se presta apenas à contemplação, mas promove uma espécie de encontro dos artistas com o público. Embora sem a presença física deles, de todos se vê o rosto e se ouve a voz.

Posted by Marília Sales at 4:40 PM

Sem limites por Michele Rolim, Jornal do Comércio

Matéria de Michele Rolim originalmente publicada Panorama no Jornal do Comércio, em 26 de maio de 2010

O que é arte? Para que serve a arte? Ela é feita para ficar isolada dentro de um museu? Essas e outras questões serão discutidas na exposição Horizonte expandido, que abre hoje e segue até o dia 15 de agosto, no Santander Cultural (Sete de Setembro, 1.028 - de terça a sexta, das 10h às 19h; sábados, domingos e feriados, das 11h às 19h). A mostra reúne 72 obras de alguns dos nomes mais importantes nas artes visuais nas décadas de 1960 e 1970.

A iniciativa parte da comemoração dos 10 anos do projeto Areal. Concebido em 2000 pelos pesquisadores e artistas Maria Helena Bernardes e André Severo, propõe a realização de trabalhos artísticos normalmente não financiados por instituições convencionais do circuito de arte contemporânea. “Os trabalhos financiados ou feitos a convite devem ter um caráter expositivo, e a nossa proposta é que não tenha uma finalidade predeterminada, ou seja, que a gente comece uma experiência artística sem saber como ela vai terminar”, explica Maria. A dupla optou por viajar pelo Interior e Litoral do Rio Grande do Sul documentando através de livro e filmes as impressões dos lugares e das pessoas. “Vamos para os lugares e nos deixamos impressionar. Traduzimos isso, seja na literatura, cinema e artes plásticas. O projeto é isso: o não saber”, enfatiza Severo.

E é essa mesma dupla que assina a curadoria. Segundo eles, a proposta é mostrar as referências pelas quais o projeto se guia. “Quando fomos convidados, pensamos por que escolheram logo nós, que desistimos de trabalhar com exposições há algum tempo. Mas tínhamos uma dívida com o movimento que nos influenciou”, argumenta Severo.

Eles contam que receberam carta branca para montarem no espaço do Santander as obras - instalações, vídeos, imagens, fotografias e documentos - como os artistas queriam que elas fossem vistas. Para isso, não há mediação convencional, e sim uma biblioteca e documentos referentes a esses artistas, além de pesquisadores para falar sobre o assunto. “Queremos que as pessoas vivam suas próprias experiências”, defende Maria Helena. Também haverá 10 percursos (nas quartas pela manhã), nos quais os curadores caminharão pelo espaço expositivo conversando sobre a vida e obra dos artistas presentes. “Vamos falar sobre o sentido que esta exposição tem para a cidade e para nós”, acrescenta Severo.
Voz, face e escrita

Ao total, são 16 artistas reunidos na exposição Horizonte expandido. A mostra reúne obras de nove coleções internacionais, como Fundación Cisneros, Eletronic Arts Intermix e James Cohan Gallery. Estão presentes obras significativas para a história da arte, como o filme Spiral Jetty, de Robert Smithson, com sua célebre intervenção paisagística. “Esse autor deixou uma carreira promissora como escultor para realizar outro tipo de experiência, que não se limitasse à necessidade de expor”, explica Maria Helena Bernardes, responsável pela curadoria ao lado de André Severo.

Também estão expostas as atividades de Allan Kaprow, o criador do happening, e séries fotográficas e filmes de Ana Mendieta, Marina Abramovic e Chris Burden, em que se apresentam experiências dramáticas, seja pelo caráter político ou pela provocação dos próprios limites físicos, emocionais e existenciais.

O público gaúcho terá acesso, pela primeira vez, a obras de Gordon Matta-Clark, Nancy Holt, Vito Acconci, Dennis Openheim e os precursores da performance filmada, VALIE EXPORT (em letras maiúsculas mesmo) e o holandês Bas Jan Ader, além de performances caracterizadas por movimentos repetitivos protagonizados por Bruce Naumam. “Um dos destaques é a produção de Jan Ader que levou em conta tão radicalmente o conceito de arte e vida que acabou desaparecendo no mar quando estava realizando o seu último trabalho”, conta Maria.

A iniciativa também dá destaque para Victor Grippo, principal artista conceitual argentino. Além de Dan Graham e Vito Aconcci, que assinam filmes que marcaram a história da performance conceitual. Joseph Beuys e Hélio Oiticica ganham ênfase nos depoimentos e testemunhos de suas trajetórias marcadas por profundo entendimento da arte como forma de vida. “Tivemos o cuidado de escolher obras em que os artistas são uma presença viva na sala de exposição, o público pode ouvir a voz, ver a face e ler o manuscrito. A intenção é promover um encontro de fato com o público”, diz Severo. A entrada é franca.

Posted by Marília Sales at 4:16 PM

maio 27, 2010

A arte do encontro por Fábio Prikladnicki, Zero Hora

Matéria de Fábio Prikladnicki originalmente publicada no Segundo Caderno Zero Hora em 26 de maio de 2010.

Mostra “Horizonte Expandido”, no Santander Cultural, traz nomes que renovaram a arte nos anos 1960 e 70

Sentados ao redor da mesa de uma pequena biblioteca instalada no meio do museu, os curadores afirmam que o público não vai apenas assistir a obras de arte. Irá viver um encontro com os artistas. Em vídeo, foto ou áudio. Um dos grandes eventos de artes visuais do ano, a mostra Horizonte Expandido, que será aberta hoje ao público no Santander Cultural, apresenta obras – a maioria delas inéditas na Capital – de nomes fundamentais das décadas de 1960 e 70 como Robert Smithson, Allan Kaprow, Joseph Beuys e Hélio Oiticica. São 72 trabalhos de 16 artistas que redefiniram as fronteiras da arte.

É o caso de Kaprow, que criou o manifesto Como Fazer um Happening (os visitantes podem inclusive levar para casa um exemplar do livreto traduzido para o português), em que explica o conceito que ele mesmo criou para se referir a uma performance com a participação do público. Por meio de fones de ouvido, é possível ouvir a voz do artista lendo o texto, em inglês, em uma gravação de 1966.

A exposição reúne nomes que inspiraram o projeto Areal, que celebra 10 anos, com coordenação de André Severo e Maria Helena Bernardes – artistas gaúchos que assinam a curadoria de Horizonte Expandido.

Com perfil internacional e produção local, a mostra pretende aproximar público e artistas. A avaliação é que o mundo das artes tem afastado as pessoas de um contato direto com as obras. Daí a proposta de enxugar a atuação de mediadores e o uso de textos explicativos.

– As obras da exposição têm sua densidade, mas não acreditamos que densidade seja sinônimo de hermetismo – afirma André Severo.

Muitos destes artistas escolheram trabalhar fora do espaço tradicional dos museus, realizando intervenções no espaço natural – caso de Robert Smithson, um dos destaques – ou performances na rua, como a artista VALIE EXPORT (assim mesmo, em maiúsculas). O quanto o material exposto é uma obra em si ou o registro de um processo faz parte das reflexões.

– Estas obras pedem que nos desprendamos dessa interrogação e recebamos o que está sendo proposto. São artistas que procuram uma ampliação do conceito de arte – diz Maria Helena Bernardes.

Posted by Marília Sales at 6:54 PM

Paredes derrubadas, Zero Hora

Matéria originalmente publicada no Segundo Caderno do Zero Hora em 22 de maio de 2010.

Peças de Joseph Beuys, Robert Smithson, Allan Kaprow, Hélio Oiticica e outros antipapas da arte contemporânea podem ser conferidas pela primeira vez em Porto Alegre a partir de quarta-feira no Santander Cultural

Há momentos que representam mudanças de rumo tão significativas na história da arte que acabam expandindo a própria ideia do que seja uma obra. Foi assim nas décadas de 1960 e 1970. Quem imaginaria, pouco tempo antes, contemplar uma enorme intervenção em forma de caracol, com 457 metros de comprimento, feita de barro, sal e rochas, no Grande Lago Salgado em Utah, Estados Unidos?

O filme de 1970 em que aparece essa intervenção do americano Robert Smithson (1938 – 1973), intitulado Spiral Jetty (e que é, em si mesmo, uma outra obra), está entre as principais atrações da exposição Horizonte Expandido, em cartaz no Santander Cultural, na Capital, a partir de quarta-feira. Com curadoria de André Severo e Maria Helena Bernardes, a mostra traz 72 trabalhos de 16 artistas, entre eles o alemão Joseph Beuys e o brasileiro Hélio Oiticica, que marcaram a transição entre a arte moderna e a contemporânea, renovando até mesmo a terminologia estética. É o caso do americano Allan Kaprow (1927 – 2006), que criou o termo happening para se referir a atividades envolvendo artista e público que borram as fronteiras entre arte e vida cotidiana. Contando com obras (em sua maioria) inéditas na Capital, Horizonte Expandido tem origem no projeto Areal, idealizado por Maria Helena e por Severo, que completa 10 anos de atividade, com diversos livros e filmes produzidos. A seguir, três motivos para conferir a mostra no Santander Cultural:

Para entender o vocabulário da arte contemporânea

Desde o início do século 20, diversos movimentos, como o futurismo, o surrealismo e outros “ismos” exploraram novas dimensões para a arte além dos suportes tradicionais, como pintura, escultura e outros. As performances, por exemplo, incorporaram o tempo como um elemento indissociável das obras – presente na música e no teatro, mas até então ausente das artes visuais. A partir da década de 1960, essa e outras experiências foram retomadas e desenvolvidas. Muito do que hoje se vê com certa naturalidade sob o rótulo genérico de arte contemporânea representou, na época, um choque.

– O contexto da arte era completamente diferente. Estamos falando de uma sociedade pós-industrializada, que descobria novas mídias, como o vídeo – afirma Maria Helena Bernardes.

Para descobrir o que os artistas (e não apenas as obras) têm a dizer

Uma das surpresas reservadas pela mostra Horizonte Expandido é que, no momento em que deparar com as obras, o público vai encontrar também os próprios artistas – em vídeos e gravações de som. Muitos dos trabalhos são registros de suas reflexões sobre arte. Hélio Oiticica (1937 – 1980), único brasileiro na exposição, não está representado pelos objetos que o tornaram célebre, como os parangolés, mas por documentos (fotos e textos de sua autoria) e pela projeção do filme Heliophonia, de Marcos Bonisson. O alemão Joseph Beuys (1921 – 1986), um dos nomes mais importantes do século 20, está em um filme de duas horas de duração em que fala diretamente à câmera, ou melhor, ao público.

Como esses artistas buscaram fugir de espaços de exposição sacralizados, como os museus, um dos desafios dos curadores foi encontrar um ponto de contato.

– Os trabalhos que não poderiam estar em um museu deixamos para comentar diretamente com o público – diz André Severo.

Pensando nisso, os curadores farão 10 passeios guiados por partes da exposição (confira datas no quadro). Também haverá um espaço de leitura com uma biblioteca de cerca de cem volumes à disposição dos visitantes.

Para contemplar a arte sem se preocupar se é arte

Uma das ideias que norteiam a exposição é que o conceito de arte às vezes se impõe como uma dificuldade entre o público e a obra. Nesse caso, a resposta para a manjada pergunta “Isso é arte?” seria: não importa. A proposta está em sintonia com os artistas, que procuraram escapar de gêneros e rótulos. Ao perceber que o termo happening estava institucionalizado no mundo das artes, o mesmo Allan Kaprow que o havia cunhado o deixou de lado, passando a usar uma palavra sem carga histórica – “atividade” – para se referir a suas ações. Os curadores da mostra procuraram seguir a ideia: diferentemente de exposições que procuram relacionar os artistas por meio de um conceito, Horizonte Expandido propositadamente não oferece uma proposta de leitura.

– Hoje temos uma mediação institucional muito densa entre o público e as obras. Há muita explicação, muito texto, muito folder. Queremos tentar mostrar essas obras como foram pensadas no primeiro momento pelos artistas – afirma Maria Helena.

Posted by Marília Sales at 6:43 PM | Comentários (1)

Eles colocaram a arte em xeque por André Dib, Diario de Pernambuco

Matéria de André Dib originalmente publicada no Caderno Viver do Diário de Pernambuco em 26 de maio de 2010.

Com nove coleções internacionais, algumas inéditas no país, exposição Horizonte expandido propõe um contato com o pensamento de artistas que ampliaram o conceito da arte

Porto Alegre (RS) - O ímpeto libertário dos anos 1960 teve tanto impacto no mundo da arte a ponto de alguns artistas se dedicarem a questionar sua essência, seu modo de produção, sua finalidade. A mostra Horizonte expandido, instalada desde ontem na capital gaúcha, reúne 16 criadores que ampliaram conceitos sobre o que é arte, para que ela serve e o significado do artista. A iniciativa, patrocinada pelo Santander Cultural, trouxe nove coleções internacionais, algumas inéditas no país. Longe de qualquer intenção sacralizante, a proposta é fazer contato não com as obras, mas com o pensamento de Robert Smithson, Bruce Naumann, Gordon Matta-Clark, Dan Graham, Ana Mendieta, Victor Grippo, Nancy Holt, Joseph Beuys, Bas Jan Ader, Valie Export, Dennis Oppenheim, Allan Kaprow, Marina Abramovic, Vito Aconcci, Chris Burden e Hélio Oiticica.

VIVER11_1.jpg Foto: Espolio do Bas Jan Ader e Patric

A exposição está montada em um palácio dos anos 1930 há 10 anos ocupado pelo Santander Cultural. Mesmo para quem está longe para fazer uma visita,vale a pena conhecer seu conceito, reaplicável em qualquer realidade. Ao contrário da maioria das exposições de arte, Horizonte expandido não conta com visita guiada, roteiro, catálogo, material pedagógico ou qualquer outra "bengala" da estrutura expositiva convencional. A não ser pelo amparo teórico de uma pequena biblioteca com obras de referência, o visitante é convidado a decifrar a mostra por conta própria. "É uma museografia voltada para o pensamento. Por isso, eliminamos o máximo de interpostos", diz o artista gaúcho André Severo, curador da mostra ao lado de Maria Helena Bernardes.

"Reunimos artistas referenciais para a nossa formação, por terem questionado a função social de sua arte. Eles colocaram a arte em xeque de tal maneira que ficou difícil seguir em frente. Então passaram por cima deles", diz Severo. "Não pensamos em obras, mas em atitudes, pessoas movidas por interrogações existenciais", diz Helena.

A primeira reação dos curadores, no entanto, foi negar o convite. Como trazer para o engessante espaço do museu artistas que trabalharam processos fluidos, efêmeros? A solução foi reunir registros desses momentos, em filmes, fotografias e textos. Em alguns casos, é possível ouvir depoimentos gravados dos próprios artistas. "Eles romperam com a ideia de que o artista produz para expor. E 99% dos artistas ainda pensam assim. Há uma pressão para que todo o mundo da arte contemporânea caiba nesse sapatinho", diz Maria Helena.

Nesse sentido, Robert Smithson é um dos principais nomes e ganhou espaço central na mostra. Em 1970, sua busca pelo confinamento geológico em paisagens inóspitas gerou obras intrigrantes como uma gigantesca espiral de água e areia intitulada Spiral Jetty. "Ele procurou sua identidade longe da moldura social, que conforta a persona do artista", diz Maria Helena. Uma sala inteira é dedicada a Joseph Beuys, que desenvolveu o conceito de escultura social, da vida enquanto arte. Se tudo está em mutação, é preciso moldar o pensamento, o mundo.

Horizonte expandido não traz objetos consagrados, como os parangolés de Hélio Oiticica. Prefere privilegiar imagens e textos dele, que falam diretamente ao espectador. Como no filme Héliophonia (2002), de Marcos Bonisson, colagem de imagens raras feitas ou protagonizadas pelo artista carioca. "Queremos desmitificar Oiticica. Ele está se tornando o grande produto da arte brasileira, mas tudo que ele não queria era ser objeto de fetiche.".

De Alan Kaprow, criador do happening e pioneiro da performance, a mostra traz áudio, uma série de fotos e curiosos folhetos intitulados Como fazer um happening. Da artista ioguslava Marina Abramovic foi trazido um vídeo de 1980, em que explora os limites de uma relação a dois. Em outros vídeos, é possível assistir Gordon Matta-Clark, o fatiador de edifícios, em ação; Oppenheim experimentando o transfer drawing; o touch-cinema de Valie Export e o bed place de Chris Burden.

- O repórter viajou a convite do Santander Cultural.


Posted by Cecília Bedê at 4:57 PM

Yuri desnuda a alma e o moletom por Natércia Pontes, Revista Aldeota

Íntegra da entrevista feita por Natércia Pontes originalmente publicada na Revista Aldeota em 27 de maio de 2010

O artista plástico Yuri Firmeza fala sobre políticas culturais, transitoriedade e zumbis.

Vestido de camisa branca e moletom puído, Yuri Firmeza recebe a gente no pequeno apartamento que divide com a tia, em um condomínio do Jardim Bonfiglioli — sua base na capital paulista.

yuri_4.jpgFoto: Patrícia Araújo

Andarilho, Yuri tem medo de avião, mas vive viajando entre Fortaleza, São Paulo, Belo Horizonte, Lima, Rio de Janeiro, Buenos Aires, Curitiba etc. Suas andanças pelos céus de brigadeiro da América Latina têm uma justificativa: dar conta de um mestrado em Poéticas Visuais na USP, participar de projetos de residência, ministrar workshops mundo afora e figurar em exposições em museus da estirpe do MAM do Rio de Janeiro, do Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo, do Nano Stockholm, na Suécia, do Centro Cultural de Belas Artes, no Peru e, mais uma vez, etc.

O artista cearense que criou em 2006 a persona nipônica de Souzousareta Geijutsuka, — e revelou que alguns jornalistas pagam pau pra gringo e mal acessam o Google, que dirá as fontes —, dorme em um quarto minúsculo apinhado de livros, dvd’s e móveis das Casas Bahia. Devido às dimensões enxutas do espaço, optamos por fazer a entrevista no playground.

O sol se punha quando sentamos no gira-gira colorido, ladeado por um escorregador e uma gangorra, sobre um chão de grama artificial. Um menininho com fuça de Peter Pan interrompia vez ou outra a entrevista com seus gritos. Além do rio Pinheiros, o clima onírico nos deixou à vontade para versar sobre clichês tão necessários, como a Morte e a Arte. De quebra, com a naturalidade de um performer setentista e sem medo de transgredir o que já foi transgredido, Yuri infringiu as normas de atentado ao pudor do condomínio e ficou nu.

Que sorte a sua chamar-se Yuri Firmeza. É um nome elegante, de artista. Se você se chamasse Wesley Pereira, por exemplo, usaria um pseudônimo?

(Risos) Ai, Natércia! Tem que pensar, né, cara... Wesley Pereira? Cara, que pergunta troncha! (Silêncio) É difícil responder porque...

Você não quer ofender os Wesleys?

(Mais risos) Não é isso, é porque já que não tenho esse nome, eu não tenho como me transportar ou me pensar no lugar desse nome, ou no lugar de Yuri Firmeza, mesmo. Ainda que muita gente ache que “Yuri Firmeza” seja um pseudônimo, mas é o meu sobrenome real, que eu uso como nome de artista. Mas, Wesley Pereira? Eu até gosto de Pereira e... ah, acho que, na verdade, eu não sei responder essa tua pergunta...

Você já respondeu! Como você descobriu que é artista?

Eu não sei bem o que é ser artista. Eu não sei em que momento começou, porque é algo tão imbricado com a própria vida, que não tem como descolar do momento que sou ou que não sou. Do ponto de vista da criação, é algo que vem sendo semeado há muito tempo. Quando eu era criança, já tinha uma afinidade com a criação, desde as brincadeiras até os cursos que fiz, de desenho, escultura, música... sempre gostei de fazer barulho. No ponto de vista da legitimação por um circuito de arte, isso vem ocorrendo há pouco tempo. Mas o artista legitimado não é necessariamente um artista legítimo. Tem um texto do Enrico (Rocha), um texto curto e bem bacana, que fala sobre isso.

Yuri, você acha que todos somos artistas ou só alguns são artistas?

Eu acho que ser artista é uma forma de se posicionar no mundo. É muito mais uma questão ética do que estética. Ser artista é mais do que criar. Existem artistas que são rotulados como artistas e a meu ver não são artistas. O artista que quer ser "artista", stricto sensu, tem que estar de alguma forma inserido no mercado de arte — no sentido de um status social. E quando quer ser artista muitas vezes é justamente o momento que deixa de ser artista. Eu não acredito que todos são artistas... O Andy Warhol disse que todo mundo terá seus quinze minutos de fama, eu acho que aí ele está falando de espetáculo, de mídia. E eu não entendo que ser artista é estar em evidência, dentro do métier. A meu ver o artista tem que romper com os paradigmas do que é ser artista.

Yuri, é mais difícil mentir ou dizer a verdade? O artista precisa mentir?

Pode soar muito clichê, mas penso que a estética, e a ética, estão para além do moralismo impregnados nessas — e por essas — duas palavras: mentira e verdade. Se estamos de acordo que o instinto moral é um hábito, e se concordarmos com a máxima de Mário Pedrosa, a arte como exercício experimental da liberdade, parece-me ficar claro que a arte e o artista se aproximam mais de operações contra as forças do hábito do que de debater-se contra esses termos gerais e caducos... o potencial da arte não é a mentira ou a verdade, é a invenção.

Você viaja muito, certo? Isso te atrapalha ou te ajuda a criar? As cidades são coadjuvantes ou simples cenários da tua narrativa?

Isso me ajuda e me atrapalha ao mesmo tempo. Me ajuda porque eu adoro estar em trânsito, porque eu acho que é uma oportunidade de me colocar como estrangeiro — no sentido da ingenuidade de um olhar investigatório que tateia, que busca essa imersão no estranhamento do lugar. É um espaço que não foi “cartografado”ainda e onde construo minhas referências nessa relação direta entre corpo e lugar. De outro modo, me sinto um pouco atrapalhado por essas viagens, porque às vezes elas são tão de passagem que é impossível estabelecer uma “conversa” com a cidade. E quando eu falo de lugar eu falo também de pessoas. Mas esse processo de “inventar uma cidade” não é propriamente vinculado com o tempo que passo nela. Às vezes eu fico um mês numa cidade e não estabeleço nenhum vínculo com o lugar e noutros casos em fração de segundos já “borrei” e fui “borrado” pelo lugar.

Você tem medo de parar de ser interessante ou de se interessar?

(Silêncio) Tenho mais medo de parar de me interessar. Até porque nem acho que sou interessante! Parar de se interessar é como viver morto. Tem tanta gente zumbi por aí, né?

Tem, mas você é bastante interessante. Você acha que a arte está para todos?

Bom, como falar isso sem soar arrogante? A arte é elitista, sempre foi. É feita por uma elite e infelizmente para uma elite. Não acredito que seja uma imagem caricata: é fato. Eu acho que a arte não tem interesse nenhum nesse discurso de arte para as massas, ela não pretende e nem deve ser demagógica. Mas eu acho que o acesso deva ser para todos, só que a partir de uma invenção do público. Não essa formação hipócrita de público que transforma o trabalho ‘mastigado’ dos artistas nesse discurso diluído para as massas, mas a invenção de um público que se dá principalmente pela educação. A demanda de um público não pode ser ponto de partida para a criação. Também acho que outras políticas culturais devem correr além das políticas de editais — para evitar que caiamos em um clientelismo. Ter acesso à arte não é só ter museu gratuito, mas inventar um público que alcance essa discussão e que esteja de fato envolvido. Tem um trabalho do Antoni Muntadas que resume bem o que quero dizer: “Atenção: percepção requer envolvimento”.

Você esvazia a cabeça entre um projeto e outro ou está sempre tendo idéias — e por isso fala tão rápida e articuladamente?

Lembrei uma história de que o Macalé havia surtado na época da Ditadura e ficou muito aflito porque não conseguia mais produzir. Aí ele fez umas sessões com a Lygia Clark, que disse pra ele: “Não lute contra seu silêncio. É o momento que você vai estar consigo, o momento de uma lacuna necessária para a criação, não lute contra nada”. Eu acho isso super lindo. Tenho silêncios enormes, brancos, que eu adoro. São momentos saudáveis de decantação do que já foi feito... Há épocas na vida que eu estou com quinze projetos e sou obrigado a pensar constantemente, numa espécie de tagarelice mental. Sou forçado a pensar por uma questão vital, por uma questão de vida ou morte. E assim sou reinventado constantemente.

Eu sei que você é amante do cinema. Conta o último filme bom que você viu.

Eu revi Alphaville do Godard, mas não vou falar dele porque dez mil pessoas já falaram...

Ah, tá. Você quer soar o mais entendido o possível, né?

(Risos) Não. Mas o último filme que eu vi mesmo, e revi pela sexta vez, foi “Acidente”, de Cao Guimarães e Pablo Lobato. O documentário feito no interior de Minas que, como um jogo de dados, constrói um poema através dos nomes dessas cidades que eles visitam. É um documentário, que é cinema, é vídeo-arte, é poesia, é tudo isso, mas não é nada disso porque implode essas categorias.

Você tem muito segredos? Diz pra mim o que você acha que acontece depois que a gente morre.

Eu tenho uns segredos que até eu desconheço. Mas trabalhos e amigos sempre acabam me revelando alguns deles ou fazem com que eu acabe inventando coisas que vão se tornar segredos. Ultimamente tenho feito umas experiências com sal grosso — dormindo com as mãos enfiadas em sacos de sal grosso — o que tem me colocado numas relações enigmáticas minhas com outros Yuris. Mas eu sou um cara transparente, eu não tenho muitos segredos, não. Agora sobre a morte... Eu acredito muito em energia, que quando se morre a gente passa a ser só energia, a gente entra em outra frequência, em outra dimensão.

Tomara que façam vernissage nessa outra dimensão, né?(Risos)


Posted by Marília Sales at 4:32 PM | Comentários (4)

Traço barroco por Silas Martí, Folha de S. Paulo

Matéria de Silas Martí originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo, em 27 de maio de 2010

Em entrevista à Folha, artista carioca Adriana Varejão lembra vozes e saunas da infância e reclama
da "armadilha" do mercado



No celular, aparece a mensagem. "Aqui ventou muito esta noite", escreveu Adriana Varejão. "Te espero."


Foram sete palavras carregadas de drama antes do encontro em seu ateliê no Rio.


Num dia de céu de chumbo, ela ouve Cartola enquanto tenta fazer as luzes saírem pelas bordas na pintura de um prato gigantesco para a sua próxima mostra.


"Sou meio samba", diz. "Muito samba e choro."


Também é teatro. Ela é a artista que canibalizou o barroco, reencenando o gênero em suas paredes de azulejos e carne cenográfica. Rasga suas telas para revelar convulsões vermelho-sangue.


Um livro recém-lançado analisa as ruínas que usa para construir seu trabalho, o que ela resume como "construção da desconstrução".


São textos de Silviano Santiago, Lilia Moritz Schwarcz e outros intelectuais que tentam mensurar as dimensões de Varejão. Falam do azul da artista, de como ela conseguiu fugir à tradição concreta e arquitetar uma via estética com paredes de charque.


Na superfície, estão quadrados assépticos. Pelas bordas, vazam entranhas de poliuretano. A sangria congelada começou com "Ruínas de Charque", há dez anos, e é hoje sua obra mais cara.


Uma dessas paredes foi arrematada em abril por R$ 551 mil num leilão em São Paulo.


No balanço geral, sua obra se valorizou 5.000% na última década, mais do que qualquer outra artista brasileira.


"Estou longe de ser uma unanimidade", dispara.


"Tem dias que acho tudo uma maravilha, outros em que acho tudo um horror."

São polos opostos também na sua obra. "Lido com esquartejamento, carne e sangue", diz. "Preciso desse teatro, claro e escuro, a assepsia em contraponto à volúpia, é uma estratégia barroca."


Na vida real, Varejão aprendeu outra estratégia.


Não está nos vernissages, estampada em jornais, badalando em festas. Passa os dias no Jardim Botânico, escondida no ateliê em forma de caixa, aberto à mata.


"Quando senti que ia cair nessa armadilha, eu resisti", diz. "É uma sinuca de bico."


Armadilha, no caso, é o jogo nada teatral do mercado.


São valores reais inflados num ritmo tão acelerado que parecem de mentira, cifrões que ofuscam qualquer obra.
Beatriz Milhazes, sua colega de geração com ateliê perto dali, foi a primeira brasileira alvo do furacão especulativo, batendo US$ 1 milhão num leilão nova-iorquino.


"Ficou chato ter uma etiqueta de valor no trabalho dela", diz Varejão. "Você para de ver a pintura e passa a ver outra coisa no lugar."


Talvez por isso, Varejão quer distância do dinheiro.


Mesmo casada com o megacolecionador Bernardo Paz, o homem por trás do Inhotim, onde investiu R$ 400 milhões em arte contemporânea, ela vive no Rio e vai a Brumadinho, no interior mineiro, uma vez a cada 15 dias para ver o marido.
"Distância não atrapalha, ajuda", diz Varejão. "Nosso casamento está ótimo."



CONSTRUÇÃO


Tanto no Rio quanto em Minas, suas obras ficam num cubo suspenso, espaços de linhas retas projetados pelo arquiteto Rodrigo Cerviño.


É uma casca neutra e impenetrável para a latência sanguínea de seus trabalhos, do mesmo jeito que brigam as entranhas das obras com a pele plástica do lado de fora.


"É como se tivesse dentro de uma igreja barroca e ouvisse uma buzina lá fora", descreve. "Tento fazer essas associações inesperadas."

Mas, voltando ao próprio passado, não vê traumas por trás das chacinas emparedadas de agora. "É afetuosa minha relação com arquitetura.


Quando era pequena, tinha a sensação de estar dentro de um corpo, a casa era um ser e havia pessoas nas paredes."


Depois dos quartos cheios de vozes, ela grudou os olhos nos azulejos das saunas que visitava com a mãe.


"Foi a primeira vez que vi mulheres peladas naquele contexto de intimidade", lembra. "Ali estava aquele chão azulejado, isso ficou preso na minha cabeça."


ADRIANA VAREJÃO - ENTRE CARNES E MARES
AUTORES Silviano Santiago, Lilia Moritz Schwarcz, Karl Erik Schollhammer, Luiz Camillo Osório, Zalinda Cartaxo
EDITORA Cobogó

Posted by Cecília Bedê at 2:12 PM

maio 25, 2010

Soldado das artes por Pedro Rocha, O Povo

Matéria originalmente publicada no caderno Vida & Arte do jornal O Povo em 17 de maio de 2010

No centenário de Jean-Pierre Chabloz, o Mauc abre exposição hoje com cartazes e ilustrações do artista plástico suíço que transfigurou nordestinos em seringueiros

Um suíço grandalhão e conversador que frequentava as rodas de artistas plásticos, escritores e músicos de Fortaleza. Artista plástico formado no final da década de 1930 na Accademia Belle Arti di Berna, em Milão, Jean-Pierre Chabloz mudou-se para o Rio de Janeiro com a família logo depois, em 1940, por causa da eclosão da Segunda Grande Guerra, onde participou da movimentação cultural. Fez pequenos trabalhos como a publicação de um curso de desenho em uma revista ilustrada para jovens até ser convidado para chefiar a propaganda do Serviço Especial de Mobilização de Trabalhadores para a Amazônia (Semta), que naquele momento deslocava sua sede de São Luiz (MA) para a capital cearense.

Chabloz dizia-se que sua chegada ao Ceará estava predestinada, e isso aconteceu em 1943, com o convite feito por um amigo suíço, representante no Brasil dos interesses norte-americanos, no caso, a necessidade bélica de borracha, muita borracha. Criado por Getúlio Vargas, o Semta tinha o objetivo de arregimentar nordestinos para a extração do látex, retirando os trabalhadores do sertão nordestino para alojá-los no seio da floresta tropical. O artista plástico suíço foi quem deu os traços e as cores dessa miragem.

Expostos nas vitrines do Centro da cidade e no hall do Cine Diogo à época, os 60 cartazes e ilustrações produzidos entre janeiro e julho de 1943 compõem a exposição, que será aberta hoje, no Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará (Mauc). As peças conjugam a valorização do mito do Eldorado amazônico em contraposição à vida de incerteza da seca, ao passo que exaltam os serviços do Semta.

Para Pedro Eymar, diretor do Mauc, as peças têm um peso significativo não só para o Brasil, mas como representante dessa propaganda mundial vinculada à guerra. A coleção é um dos pilares no processo, ainda em curso, de tombamento federal do museu.

"Impressiona nesse trabalho primeiro a escala, A percepção de todo esse imaginário da Amazônia. É uma propaganda de convencimento, onde a escala e a geografia são alteradas. Impressiona pelo vigor do traço, pela percepção que ele vai tendo não só do cenário amazônico, como do homem nordestino. O Nordeste e a paisagem amazônica transfiguradas``.

Personalidade
Pedro Eymar chegou a ter aulas de desenho com o suíço na década de 1960. ``O que impressionava no Chabloz era essa postura didática, notadamente sobre o desenho, sobre a pintura. Era difícil você conversar uma vez com o Chabloz em que não saísse com uma nova informação``, diz.

Professor de artistas plásticos cearenses como Sérvulo Esmeraldo, Descartes Gadelha e Estrigas, Chabloz foi uma figura de importante atuação no cenário artístico cearense, seja na formação de artistas em cursos ou artigos jornalísticos, como os publicados na coluna Arte e Cultural, no jornal O Estado, seja no incentivo à carreira de nomes como Antônio Bandeira e Chico da Silva, artista descoberto pelo próprio Chabloz no Pirambu e que ganhou projeção no Brasil e na Europa graças ao trabalho de divulgação do suíço.

Na memória de Estrigas, Chabloz ficou como um homem grande, que chamava a atenção e conversava muito. Um cidadão excêntrico e que animava o meio artístico, com uma formação acadêmica e um conhecimento vasto de arte e filosofia que o fez transitar por vários meios artísticos da capital, como a Sociedade Cearense de Artes Plásticas (Scap) e a Sociedade Musical Henrique Jorge.

"Era uma pessoa fora do comum. Quando ele ouvia um jumento relinchar na Aldeota, ele achava aquilo lindo. Era o sabor daquela coisa original que ele não tinha na Suíça. Por exemplo, eu presenciei uma vez uma cena do Chabloz chegando na Associação Musical Henrique Jorge com uma coleira no pescoço e, na ponta, um garoto puxando. Era uma excentricidade. Uma maneira de proceder não todo dia, mas um espírito de blague``, conta.

Chabloz viveu por décadas em um constante trânsito entre Fortaleza, Rio de Janeiro e Europa, sempre participando da movimentação artística na cidade e divulgação a produção brasileira no exterior, até 1984, quando debilitado de saúde voltou a cidade para nunca mais deixá-la. O corpo do artista está sepultado no cemitério Parque da Paz.

Posted by Marília Sales at 1:28 PM

Museu de Lisboa exibe obras da dupla osgêmeos, Estado de S. Paulo

Matéria originalmente publicada no Caderno Cultura do estadao.com.br em 25 de maio de 2010.

Os artistas plásticos paulistanos osgêmeos abriram na semana passada, no Museu Coleção Berardo, em Lisboa, a mostra "Pra Quem Mora Lá, O Céu É Lá", com obras dos irmãos Otávio e Gustavo Pandolfo, em cartaz até setembro. "É a nossa primeira vez num museu", conta Gustavo. No ano passado, a dupla mostrou sua produção do lado de fora da Tate Gallery, em Londres.

São duas salas com suas obras. Na primeira, do lado direito, há três pinturas. Do lado esquerdo, uma instalação com caixas de som com bocas, olhos e ouvidos pintados e na frente instrumentos que podem ser tocados por qualquer visitante - guitarra, baixo, bateria e teclado.

Na outra sala, dois painéis ocupam toda a parede, com 6 metros de altura por 16 comprimento. De um lado, portas velhas pintadas cada uma com tema diferente. "As portas estão relacionadas com o passar para outro patamar", explica Gustavo. Na parede do outro lado, há o que os dois chamam de chão: uma base com tábuas e portas com pinturas diversas. Presas na parede, a uns 4 m de altura, estão duas pequenas casas deitadas. No fundo da sala, uma pequena casa, com um quarto que tem cama com travesseiro. As paredes e o teto são espelhados. Um ambiente convida a sentar ou a até deitar na cama.

Segundo o curador da exposição, o francês Eric Corne, as pinturas fazem uma mistura de estilos brasileiros. "São obras que sintetizam muitas experiências: a cultura hip-hop, a arte primitivista do País e algumas das pinturas lembram Guignard, Volpi e Portinari."

Vindo do grafite, os dois irmãos se irritam quando alguém fala que estão trazendo essa forma de arte para os museus. "Não tem nada a ver. O que está na rua é da rua. A gente não concebe as obras da mesma forma. O grafite tem que manter o clima de rua, o anonimato", diz Corne. É a segunda vez que eles estão em Portugal. Em 1997, na primeira viagem, deixaram uma pintura no muro de uma escola em Carcavelos, a 15 quilômetros de Lisboa.

Posted by Cecília Bedê at 12:39 PM

Obras de Picasso e Matisse são roubadas em Paris, O Povo

Matéria originalmente publicada no caderno Diversão & Arte do jornal O Povo em 20 de maio de 2010

Os serviços especializados da polícia apontaram diversas vezes para a falta de proteção dos museus

Cinco quadros de mestres como Matisse e Picasso foram roubados na madrugada desta quinta-feira no Museu de Arte Moderna da Cidade de Paris, com valores estimados em 100 milhões de euros (232 milhões de reais).

Segundo um fonte judicial, as obras dos pintores Pablo Picasso "Pigeon aux petits pois" ("Os pombos e as ervilhas"), Henri Matisse "La pastorale" ("A pastoral"), Georges Braque "L'olivier près de l'Estaque" ("A oliveira perto de Estaque"), Fernand Léger "Nature morte, chandeliers" ("Natureza morta com candelabros") e Amedeo Modigliani "La femme à l'éventail" ("A mulher com leque"), foram roubados por assaltantes que, aparentemente, só precisaram quebrar uma janela e arrombar um cadeado para entrar.

O roubo foi descoberto na manhã desta quinta-feira às 6h50 locais (1h50 no Brasil), antes da abertura do museu que ocupa parte do 'Palais de Tokyo', prédio em estilo Arte Déco, debruçado sobre o rio Sena em um bairro chique da capital.

Os responsáveis pelo museu constataram a violação da janela e do cadeado, além de imagens registradas pelas câmeras de segurança do momento em que o ladrão entrou no estabelecimento pela janela.

Os serviços especializados da polícia apontaram diversas vezes para a falta de proteção dos museus, principalmente em Paris.

Em junho de 2009, no museu Picasso da capital um caderno de desenhos do artista, com valor estimado em 3 milhões de euros, foi roubado durante o dia. Em dezembro, um desenho em pastel de Edgar Degas, "Les Choristes" ("As Coristas"), foi roubado do museu Cantini de Marselha.

Desde que o roubo foi descoberto, a ocorrência e fotos dos quadros foram divulgadas em todas as bases de dados policiais existentes do mundo, via Interpol.

O escritório central de luta contra o tráfico de bens culturais (OCBC), serviço da polícia judiciária único e especializado desde 1975 nesse domínio, mostra uma base de dados que contabiliza 80 mil imagens de obras de arte desaparecidas.

A Interpol tem um base similar que rastreia cerca de 26 mil imagens de "obras de arte mais procuradas no mundo".

As obras roubadas foram recentemente recuperadas de outro assalto. A justiça francesa se prepara para julgar três homens pela posse ilegal das duas telas de Picasso, levadas em 2007 do domicílio em Paris de uma das netas da artista Diana Widmaier-Picasso, e que valiam mais de 50 milhões de euros. As pinturas foram encontradas depois de cinco meses de investigação.

O Museu de Arte Moderna de Paris, inaugurado em 1961 e mantido regularmente graças as doações, abriga mais de 8 mil obras ilustrando as diversas vertentes da arte do século XX (Fauvismo, Cubismo, Novo Realismo...).

Pablo Picasso, Henri Matisse, Raoul Dufy, Maurice de Vlaminck, Georges Rouault, Chirico, Pierre Bonnard, Suzanne Valadon, Maurice Utrillo, Jean Arp, Alberto Giacometti ou ainda Pierre Soulages estão entre os artistas em exposição.

(Para um esclarecimento maior, o roubo não aconteceu no Museu nacional de Arte Moderna - Centro Pompidou, mas no Museu de Arte Moderna da Cidade de Paris).

Posted by Cecília Bedê at 12:17 PM

maio 24, 2010

Alice no país do horror por Cristiane Ramalho, TPM

Matéria de Cristiane Ramalho originalmente publicada na Revista TPM em 11 de maio de 2010

Alice Miceli resolveu encarar o risco da radiação e faz arte na cidade fantasma Chernobyl

Carioca, 30 anos, bonita, inteligente, viajada. Depois de ter estudado cinema em Paris e artes no Rio, Alice Miceli poderia levar uma vida mansa. Mas quis fazer arte em um dos lugares mais desolados do planeta: a zona de exclusão de Chernobyl, entre a Ucrânia e Belarus

Criada numa família de intelectuais de esquerda do Rio, entre livros de arte, boas escolas e a brisa da praia, Alice Miceli, 30, poderia escolher caminhos fáceis. Mas a artista carioca é do tipo que gosta de um desafio. Em meio à neve e ao frio cortante do inverno de Berlim, onde mora sozinha há três anos, ela não desiste de andar de bicicleta. Nem de correr, seu esporte favorito. Sua arte segue a mesma trilha. Para fazer seu mais recente trabalho, ainda inédito no Brasil, Alice mergulhou na zona de exclusão de Chernobyl - região até hoje contaminada pelo maior acidente nuclear de todos os tempos.

Embora não seja o melhor lugar do mundo para estar, ela foi oito vezes à região, levada pela obsessão de registrar o invisível: os rastros da radioatividade. "O lugar é lindo. É como se fosse uma reserva natural. Só que está tudo envenenado e isso você não sente, não cheira e não vê." A não ser, conta Alice, pelas casas abandonadas com restos de louça, roupa, brinquedos, livros e jornais. "E pelos inúmeros casos de câncer que ainda são registrados", lembra a artista, que pendurou na parede da sala fotos em preto e branco que fez na região.

Nos últimos dez anos, Alice passou temporadas entre idas e vindas e rodou 150 mil quilômetros para estudar ou fazer arte. Seus destinos incluem França, Camboja, Indonésia, Finlândia e Belarus (antiga Bielo-Rússia) - onde fica parte da zona de exclusão de Chernobyl.

Formada em cinema em Paris, pela Escola Superior de Estudos Cinematográficos, foi assistente de direção de cinema e vídeo no Brasil. Trabalhou com diretores como Sandra Kogut, Silvio Tendler e Maurice Capovilla. Mas foi se aproximando, cada vez mais, da videoarte. O que se reflete na pós-graduação que escolheu fazer na PUC-RJ: história da arte e arquitetura.

Aos poucos, Alice vem conquistando espaço na Europa. Além de mostrar seu trabalho em países como Bélgica, Holanda e Espanha, já participou de quatro edições do badalado festival Transmediale, talvez o mais antigo festival de artes e novas mídias da Alemanha, criado nos anos 80.

"O lugar é lindo, parece uma reserva natural. Só que está tudo envenenado e isso você não sente, não cheira, não vê"

tpm98-alice-001.jpg Retratos de Chernobyl: para “fotografar” a radioatividade, Alice adotou as “autorradiografias”, filmes de 30 x 40 centímetros que registram a contaminação do ambiente após longo tempo de exposição

Extremamente conceitual, sua obra nem sempre é popular. Mas agrada a alemães como Stephen Kovats, diretor artístico do Transmediale. "O trabalho dela tem uma poética forte e, junto com metodologias e processos científicos, revela problemáticas políticas e sociais que são universais", explica. Chernobyl começou a surgir durante um grupo de estudos, coordenado pelo professor Charles Watson, na Escola de Artes Visuais do Rio de Janeiro. Quando propôs o silêncio como tema, Alice pensou imediatamente na região.

Mas, até lá, seria um longo caminho. Para registrar a radioatividade, teve que desenvolver, com a ajuda de cientistas, uma série de experimentos. Começou com uma rudimentar câmera pin hole. Mas acabou adotando as "autorradiografias" - filmes de 30 x 40 centímetros capazes de registrar a contaminação do ambiente depois de um longo tempo de exposição. "O resultado é uma espécie de Santo Sudário", compara Alice. Nada a ver com fotografia, portanto. "Não vai dar para identificar se as imagens vêm de um prédio ou de uma árvore. Mas elas terão a forma da respectiva contaminação", explica a artista, que deu início ao projeto em 2006, ao ganhar o prêmio Sérgio Motta de Arte e Tecnologia.

Alice teve ajuda de pesquisadores do Instituto de Radioproteção e Dosimetria do Rio, assim como apoio do Instituto de Radiação Otto Hug, de Munique, que desde 1990 trabalha na região com diagnóstico e tratamento de pacientes com câncer - e abriu as portas de Chernobyl para ela.

"Ajudar Alice é uma forma de mostrar o que realmente significa a energia nuclear, pois o elemento que produz as imagens no filme também muda o núcleo das nossas células, produzindo câncer", diz a alemã Christine Frenzel, cientista do Otto Hug, lembrando que "a catástrofe pode voltar a acontecer em qualquer uma das mais de 400 usinas mundo afora". Christine gostou de trabalhar com a artista: "Ela é uma jovem ativa, flexível, corajosa e determinada".

"É como subir o Himalaia"
Nas oito visitas que fez a Chernobyl, nos últimos três anos, Alice ficou exposta à radiação durante quase 70 horas. Se sentiu medo? "Um pouco." E explica: "Risco sempre tem. Mas é um risco controlado. É como subir o Himalaia. Quem está totalmente a salvo?".

Segundo a artista, o perigo está na exposição prolongada à radiação. No seu caso, foram muitas visitas, mas de apenas um dia. O importante era evitar tocar nas coisas, lavar a roupa imediatamente após sair da zona de exclusão e usar sapatos "descartáveis", como galochas. "A contaminação é uma questão de tempo. Por isso, os guardas seguem rígidos turnos de trabalho", conclui.

A região, que fica entre Belarus e a Ucrânia, é uma terra de ninguém que isola um raio de 30 quilômetros ao redor da antiga usina. As casas continuam de pé e as árvores voltaram a crescer. "Mas cada coisa foi substancialmente alterada para sempre", lembra Alice, que enfrentava as longas jornadas de trabalho em jejum, já que levar alimentos é proibido.

Alice, em Minsk, capital de Belarus, com Sergei Baida, tradutor russo-alemão, e Sascha Nartschuk , intérprete russo-alemão-inglês, parceiros do projeto

Alice, em Minsk, capital de Belarus, com Sergei Baida, tradutor russo-alemão, e Sascha Nartschuk , intérprete russo-alemão-inglês, parceiros do projeto

A cada viagem à zona de exclusão, a moça precisou de uma suada permissão do governo, que autorizou sua entrada como integrante da equipe científica. Lá dentro, passava por uma sucessão de postos de controle, até uma última barreira, a partir da qual só se prossegue com um guarda. "É tudo supervigiado, mas os guardas têm GPS e acabam servindo de guia."

Durante as viagens para Chernobyl, Alice se hospedava num hotel "bem ruinzinho", na cidade de Gomel, a duas horas da zona de exclusão, no lado de Belarus. Para ir de Berlim a Minsk, capital de Belarus, pegava o trem russo Berlim-Moscou Express: "A viagem é uma tortura que pode durar até 25 horas".

Por tortura, entenda-se intimidade forçada - já que não há cabine privativa -, um banheiro imundo, uma luz branca de neon e nenhum vagão-restaurante. "Esses trens russos são ruins, velhos e cheiram mal", confessa a artista, que já precisou dividir uma cabine com uma avó, a mãe e um bebê. "A menina tinha um peixinho que cantava sem parar, a mãe trocava fraldas naquele espaço mínimo e com as janelas fechadas, e tínhamos que nos apertar em meio à tralha da família." Sem saída, a carioca socializou e acabou aceitando o frango frito oferecido pelas russas. Uma refeição bem-vinda para quem levava apenas barrinhas de cereais.

Ao chegar a primeira vez a Minsk, a impressão foi péssima. "Quase ninguém fala uma língua estrangeira [ela sabe francês, inglês, arranha alemão, espanhol e italiano] e não há cultura de turismo. Ninguém te ajuda", relata a artista, que passou a carregar um bloquinho com palavras básicas do alfabeto cirílico.


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Retratos de Chernobyl: para “fotografar” a radioatividade, Alice adotou as “autorradiografias”, filmes de 30 x 40 centímetros que registram a contaminação do ambiente após longo tempo de exposição

À medida que se vai para o campo, o clima muda. "Os camponeses ficavam agradecidos quando descobriam o que eu estava fazendo." Como Larissa e seus dois filhos, que Alice conheceu num jantar em Gomel, oferecido pelo alemão Scumeck Sabottka, dono da Agência MCT - um dos financiadores do projeto. "A Larissa é uma mulher de 40 e poucos anos e já viúva", conta. O filho mais velho era bebê quando o reator nuclear explodiu, em abril de 1986. "A mãe se assustou e saiu de casa correndo com o menino no colo. Até hoje, ele apresenta comprometimentos do raciocínio e da fala", conta a artista. O mais novo, beirando os 20, ainda se recupera de um câncer. Eles têm noção de que sofreram uma injustiça tremenda. Mas não são amargos nem acomodados", lembra.

Mídia arcaica
Alice tinha 6 anos quando o reator explodiu. A nuvem radioativa, além de contaminar regiões da antiga União Soviética, espalhou-se por Europa e Escandinávia. "Houve um pesar na minha casa, até pela simpatia que meus pais tinham pelos comunistas", diz a carioca, filha de antropólogos de esquerda - ex-guerrilheiro da VAR-Palmares, seu pai é professor de história da PUC-RJ. "Lembro das imagens na TV, que mostravam um lugar assombrado. Aquilo me marcou."

Alice se esquiva de ser enquadrada como uma artista engajada. "O trabalho, evidentemente, toca em questões políticas. E revela consequências do que está envolvido na geração gananciosa e irresponsável da energia nuclear. Mas não me cabe prever o impacto que terá sobre as pessoas." Acostumada a transitar pela videoarte, Alice é identificada na Alemanha com o grupo de "new media arts" (artes de novas mídias). Mas rejeita rótulos e lembra que a mídia usada em Chernobyl "é arcaica: novo foi pensar nela desse jeito".

O projeto teve estreia mundial em outubro de 2009, no México. Agora, o Brasil pode conferir o trabalho, na Bienal Internacional de Artes de São Paulo, prevista para começar em setembro.


Texto por Cristiane Ramalho, de Berlim Fotos Fernando Miceli

Posted by Cecília Bedê at 4:03 PM

Hora de pensar grande por Paula Alzugaray, Istoé

Matéria de Paula Alzugaray originalmente publicada na Istoé em 21 de maio de 2010

Atuantes há décadas no mercado de arte brasileiro, os marchands Maria Baró e Fabio Cimino abrem galerias com projetos ousados

Em tempos de mercado aquecido e interesse crescente na produção contemporânea por parte de jovens colecionadores, surgem em São Paulo duas novas galerias que prometem oxigenar o sistema de arte.

Para ocupar o espaço monumental do galpão de Santa Cecília, só mesmo um projeto ousado, com direito a 1.500 m2 de área expositiva, mais uma loja, um café, um ateliê para artistas e um apartamento para residências artísticas. A fórmula da nova Baró Galeria, que abre neste sábado 22, inclui a sinergia com a Galeria Emma Thomas, espaço experimental que desde 2006 aproxima artistas de diferentes backgrounds, da moda e da publicidade à arte urbana. “O papel de uma galeria apenas como local de venda está obsoleto”, afirma a catalã Maria Baró, há 13 anos radicada em São Paulo. “Nosso principal objetivo continua sendo comercial, mas queremos aglutinar artistas, curadores e colecionadores de diferentes gerações para fomentar a discussão sobre a criação artística.”

A mostra “Arsenal” celebra a abertura do espaço apresentando as “armas” da Baró e da Emma Thomas: 55 artistas do Brasil, Argentina, Colômbia, Peru, México, Chile, Guatemala, Espanha e Inglaterra. A exposição ilustra bem o projeto da galeria: colocar lado a lado artistas consagrados, como Carlos Fajardo, e novatos, como Érica Ferrari. Entre os grandes trunfos, Maria Baró anuncia a representação da “Cosmococa CC1 Trashiscapes”, de Hélio Oiticica e Neville D’Almeida. Design, arte sonora e novas mídias são outras frentes de atuação que a equipe vai assumir. “Se nosso desafio é repensar a função de uma galeria comercial, temos que pensar também como a artemídia pode ser absorvida pelo galerismo” , diz Adriano Casanova, diretor e curador da Baró Galeria.

A tecnologia também é um foco da Zipper Galeria, que Fabio Cimino inaugura em julho, um ano depois do fim da sociedade Brito-Cimino, e agora com a antena voltada para artistas em começo de carreira, como a paulistana Flávia Junqueira e o fluminense Pedro Varela. “Não quero uma arte hermética nem conceitual, quero ampliação de público”, diz Cimino, que iniciou a carreira nos anos 80, trabalhando com arte conceitual, junto à galerista Raquel Arnaud. “Quero falar com a geração do meu filho, por isso não coloquei meu nome na galeria. O Cimino já está careca e a Zipper será o lugar onde se abrem boas exposições e se fecham bons negócios”, diz. O otimismo é a alma do negócio e seu filho, Lucas Cimino, 22 anos, responsável pelo site da galeria e sua inserção em redes sociais, arremata: “A galeria nem foi aberta e já temos 1.600 seguidores no Twitter e no Facebook. Mais que a Fortes Vilaça.”

Posted by Cecília Bedê at 3:47 PM

FCCR abre inscrição para dois projetos no caderno Lazer & Turismo, JC Online

Matéria originalmente publicada em Lazer & Turismo, JC Online em 23 de maio de 2010.

A Fundação de Cultura Cidade do Recife (FCCR) abre inscrições para selecionar exposições a partir de curadorias e apoiar um projeto de pesquisa sobre Murillo La Greca. Para tanto foram lançados dois editais: Amplificadores de Artes Visuais e Amplificadores de Pesquisa sobre o Pintor Vicente Murilo La Greca.

As inscrições começam nesta segunda-feira (24) e vão até o dia 15 de junho, de segunda à sexta, em dois horários: 9h às 12h e 14h às 17h. Elas podem ser feitas no Museu Murillo La Greca ou pelos Correios - com data de postagem até 15/6.

O Pojeto Amplificadores de Artes Visuais tem como proposta abrir espaço para exposições e discussões de arte contemporânea e questões curatoriais. Já a pesquisa sobre La Greca terá como resultado uma publicação lançada até o fim deste ano. O valor das exposições será de R$ 5 mil e a pesquisa tem bolsa de R$ 3 mil.

Posted by Cecília Bedê at 3:30 PM

A educação mobilizando o Brasil por Milú Villela e Mozart Neves Ramos, Folha de S. Paulo

Matéria de Milú Villela e Mozart Neves Ramos originalmente publicada em Tendências/Debates da Folha de S. Paulo em 24 de maio de 2010.

Uma coisa é certa: o grande salto na educação do Brasil só ocorrerá quando houver a valorização definitiva do trabalho dos professores

Vai ficando cada vez mais evidente que o próximo desafio para o país é a oferta de educação de qualidade para todos os brasileiros.

Hoje, é consenso que, sem educação, será difícil alinhar o desenvolvimento econômico e os ventos de prosperidade a uma mudança sustentável no campo social.

Somente a educação é capaz de promover a construção de um país mais justo para todos. Segundo o economista da Fundação Getulio Vargas (RJ) Marcelo Néri, membro do movimento Todos pela Educação, cada ano de estudo produz um impacto de 15% na renda média do trabalhador brasileiro.

O Brasil deslancha na economia, tornando-se cada vez mais um porto seguro para novos investimentos estrangeiros. As janelas de oportunidades criadas por essa economia próspera, entretanto, não serão devidamente aproveitadas por nossos jovens, por conta da baixa qualidade do ensino.

Se, no passado, havia falta de oportunidades de emprego no mercado de trabalho, agora há falta de gente qualificada para aproveitá-las. A precariedade do ensino parece ser o grande entrave para o crescimento sustentável do Brasil.

Por essa razão, os vários segmentos da sociedade estão cada vez mais engajados na causa educacional. A atmosfera de mobilização nacional em prol da universalização da educação de qualidade vem se fortalecendo a cada dia, desde o surgimento do movimento Todos pela Educação, com o apoio decisivo dos meios de comunicação.

Com cinco metas claras para a educação brasileira, o Todos pela Educação vem abrindo novas frentes de participação social; setores que, antes, só se preocupavam com a causa da educação de qualidade, agora participam ativamente.

Antes mesmo da confirmação oficial dos candidatos à Presidência da República, diferentes setores da sociedade civil, todos engajados na mesma causa, já começam a preparar propostas e documentos que possam contribuir para que a educação dê um salto de qualidade nos próximos anos, aproveitando as conquistas alcançadas até aqui.

O próprio Todos pela Educação, junto com outras entidades vinculadas à área de educação, vem trabalhando numa carta-compromisso a ser entregue aos candidatos à Presidência da República, aos governos estaduais e ao Congresso.

Uma coisa é certa e parece unânime em todas as frentes engajadas pela educação de qualidade: o grande salto na educação só ocorrerá quando o país definitivamente valorizar os seus professores, o que é fundamental para atrair os jovens mais talentosos e preparados do ensino médio para o magistério.
E a receita para isso já é bem conhecida: salários iniciais atraentes, carreira promissora, formação inicial sólida e condições de trabalho apropriadas. Foi assim que fizeram os países que estão no topo da educação mundial.

Todo esse movimento sinaliza um tempo de forte mobilização pela educação. Há quatro anos atrás, o Todos pela Educação tinha um sonho, o de ver este país mobilizado, engajado nessa causa. Esse sonho começa a se materializar. Para o bem do país e da manutenção de nosso vigor econômico.

Posted by Cecília Bedê at 3:04 PM

Na prática é diferente por Ferrreira Gullar, Folha de S. Paulo

Matéria de Ferreira Gullar originalmente publicada na Ilustrada da Folha de S. Paulo em 23 de maio de 2010.

Um carro esporte da marca Bugatti foi vendido em leilão por US$ 40 milhões. Não foi uma escultura de Rodin nem um quadro de Picasso, mas simplesmente um automóvel, ou seja, um produto industrial feito em série. É verdade que desse Bugatti só foram fabricados três exemplares, mas há casos de outros, de muito maior tiragem, que alcançaram vários milhões de dólares.

Tais fatos, sem dúvida, deixariam perplexo o pensador alemão Walter Benjamin, segundo o qual os produtos industriais não possuem aura, como as obras de arte consagradas.

O que então explicaria a verdadeira idolatria de certos colecionadores por automóveis antigos? Talvez o leitor não esteja entendendo por que Walter Benjamin ficaria perplexo. É que ele é o autor de um célebre ensaio intitulado "A Obra de Artena Época de Reprodutibilidade Técnica", no qual expõe a teoria da aura que envolve as obras de arte, que são originais únicos, como, por exemplo, "A Guarda Noturna", de Rembrandt, ou "Le Déjeneur sur Lherbe" (almoço sobre o gramado), de Manet.

Aliás, é próprio da pintura, por ser produto artesanal, criar originais únicos, contrariamente à fotografia, produto tecnológico, que possibilita a criação de numerosas cópias, sem original: o original da fotografia era, até recentemente, antes da câmera digital, o negativo.

As fotos assim obtidas eram cópias. Ou todas elas originais? Mas, quando Benjamin escreveu seu ensaio, nem sonhava coma foto digital. De qualquer modo, naquela época, como hoje, um automóvel também não tinha original, isto é, tinha, mas era o projeto do designer. Essa constatação levou o ensaísta alemão a desenvolver uma teoria, segundo a qual o conceito fundamental da obra de arte havia sido destruído pelas novas técnicas de reprodução das obras criadas.

Nascia, assim, segundo ele, um novo conceito de arte que eliminava a concepção tradicional de obra única e consequentemente o conceito de artista como indivíduo dotado de genialidade ou talento. É como consequência dessa tese que Benjamin afirma que as novas técnicas de reprodução extinguiram a aura que envolvia e sacralizava a obra única.

Por trás dessa tese está a concepção da sociedade de massa, vista como um avanço na história humana, quando, enfim, a coletividade se sobrepõe à individualidade, dispensando, portanto, o conceito de gênio, indivíduo superdotado, que seria na verdade fruto de uma mistificação da arte. Em seu entendimento, a aura que envolve as chamadas obras-primas nasceu da visão religiosa que estava na origem das criações artísticas da Antiguidade. Confundia-se a devoção aos deuses com a expressão estética, e assim a aura mística contaminava a expressão artística.

Mais tarde, quando a arte se libertou da religião, aquele sentimento místico se transferiu para a contemplação estética. A arte pela arte não seria outra coisa senão o resultado dessa transferência do místico para o estético. Tese perigosa que desconhece a diferença entre as pessoas, ao pressupor que todas têm as mesmas qualidades, o mesmo gênio de um Albert Einstein ou de um Leonard DaVinci. Mas os fatos foram suficientes para pôr abaixo a teoria.

Ao contrário do que afirmava, as reproduções da Mona Lisa, em vez de destruir-lhe a aura, a aumentaram, tornando-a mais admirada, já que todos desejam conhecer o original daquela reprodução que lhe caíra nas mãos. Cada ano, novos milhares de pessoas se a cotovelam no Louvre, atraídos pela aura da obra de Da Vinci.

Contrariando a previsão de Benjamin, a reprodução veio garantir e ampliar a aura. É evidente que ele se equivocou. A aura que envolve esse ou aquele objeto -seja um quadro ou um automóvel- depende de fatores muito diversos, que tanto pode ser a qualidade estética, sua condição de objeto raro ou extravagante, como a história ou lenda que o envolva.

Posted by Cecília Bedê at 2:39 PM

Mostra preenche vácuo de Rebecca Horn no Brasil por Fábio Cypriano, Folha de S. Paulo

Matéria de Fábio Cypriano originalmente publicada na Ilustrada da Folha de S. Paulo em 22 de maio de 2010.

Alemã, que integrou Documenta de Kassel, ganha primeira grande exposição na América do Sul, no CCBB carioca

Com seis filmes e 19 obras, várias delas feitas com próteses, "Rebelião em Silêncio" está em negociações para vir a SP

Rebecca Horn é uma das primeiras artistas que configuraram a arte como é vista hoje. Alemã de Hamburgo, já em 1972, mal saída da universidade de sua cidade, tomava parte da histórica Documenta de Kassel, com curadoria de Harald Szeemann (1933-2005), que lá a estimulou a registrar suas performances em vídeos.

Até agora, no entanto, havia um vácuo sobre a artista, de 66 anos, no Brasil, já que nem da Bienal de São Paulo ela chegou a tomar parte.

Essa falha se corrige agora com "Rebelião em Silêncio", primeira grande mostra de Horn na América do Sul, aberta, anteontem, no Centro Cultural Banco do Brasil do Rio e que está em negociação para vir a São Paulo.

"Nós fomos os pioneiros de uma época que o dinheiro não era importante e na qual conseguíamos ocupar espaços apenas improvisando", disse a artista de cabelos vermelhos à Folha, durante a montagem da mostra.

Organizada por Marcelo Dantas, a exposição chega ao Brasil após ser vista em Tóquio, mas com trabalhos selecionados pela própria artista para o centro carioca.

Com 19 obras e seis filmes, exibidos em três salas de cinema especialmente construídas, Horn ocupa ainda o monumental saguão do CCBB com "O Universo em uma Pérola", uma instalação composta por espelhos que trabalham com a percepção do espaço.

Desde 1968, quando ficou no hospital com infecção pulmonar por seis meses, além dos outros que passou na cama, Horn vem investigando maneiras de ocupar o espaço. "Como fiquei imobilizada, eu criava próteses que permitiam a expansão do meu próprio corpo."

Várias obras com próteses estão na mostra, mas a que, na verdade, trouxe a artista ao Brasil foi "Concerto dos Suspiros", criada para a Bienal de Veneza, em 1997. "Esse trabalho me impressionou muito e, desde então, estava tentando trazê-lo para cá", conta Dantas.

Murmúrios
"Concerto dos Suspiros" é composto por uma pilha de escombros, de onde saem diversos tubos de metal. Por estes tubos pode-se ouvir murmúrios de pessoas, em várias línguas diferentes. A fragilidade dessas vozes, que atravessa os destroços pesados, revela muito da poética de Horn, com sua "Rebelião em Silêncio", uma retrospectiva que fala muito da esperança em um mundo de crises.

Posted by Cecília Bedê at 2:19 PM

Exposição reúne cartazes gritantes de artistas russos por Silas Martí, Folha de S. Paulo

Matéria de Silas Martí originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 22 de maio de 2010.

Instituto Tomie Ohtake apresenta obras de designers do Ostengruppe, de influência construtivista e traços diretos

"A meta de um cartaz é desviar olhar da paisagem", explica artista do grupo que domina a cena de Moscou com energia e simplicidade

Parte do legado construtivista e uma proposta de fazer tudo com as próprias mãos está na base da obra gráfica do Ostengruppe, time de designers russos que dominam a cena de Moscou com seus cartazes.

São propostas simples que ganham contundência formal pelo traço direto, sem solavancos. É preto no branco, ideias estruturadas com tanta economia de meios que faz martelar a imagem. Chega a ser gritante em algumas peças.

"Queremos distância do glamour e não temos dinheiro para contratar fotógrafos ou modelos", resume Eric Beloussov, designer do grupo que faz mostra no Instituto Tomie Ohtake. "Nossa energia é mais dinâmica, e a meta de um cartaz é desviar os olhos da paisagem."

Posted by Marília Sales at 2:05 PM