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maio 21, 2010
MAC detalha nova mostra por Juliana Girão, O Povo
Matéria de Juliana Girão originalmente publicada no jornal O Povo em 20 de maio de 2010
Com orçamento de R$ 440 mil, Museu de Arte Contemporânea expõe, a partir de 30 de junho, obras de 45 artistas internacionais, entre eles Picasso e Matisse. Todo o acervo foi disponibilizado gratuitamente por museus parceiros. De Fortaleza, a mostra segue para Sobral
Ao todo: R$ 440 mil. Esse é o valor que o Governo do Estado irá desembolsar para trazer ao Ceará a exposição De Picasso a Gary Hill, que reunirá, a partir do dia 30 de junho, no Museu de Arte Contemporânea (MAC), obras de 45 artistas de reconhecimento mundial, como Pablo Picasso, Henri Matisse, Salvador Dalí, Juan Miró e Paul Klee. O número de peças, no entanto, ainda não foi definido. A mostra, antecipada por O POVO com exclusividade na edição de 7 de abril, pretende quebrar recorde de público do museu do Centro Dragão do Mar, que hoje é de 75 mil visitantes, registrados durante a individual do escultor francês Auguste Rodin, quase dez anos atrás. As informações foram dadas na coletiva de imprensa, promovida pela Secretaria da Cultura, na manhã de ontem, no Palácio Iracema.
O valor empregado para a exposição, segundo o curador e diretor de Ação Cultural do Centro Dragão do Mar, Roberto Galvão, é baixo, pois todas as obras foram disponibilizadas gratuitamente. ``O orçamento será para seguro, transporte e montagem da exposição``, explica. Segundo o diretor do MAC e também curador da mostra, José Guedes, alguns museus chegam a cobrar U$ 200 mil só para conceder temporariamente uma peça de Pablo Picasso. ``Na exposição, nós teremos três Picasso``, destaca Guedes. São eles: Le Peintre au Travail (Guache sobre papel/1964), Les Lutteurs (carvão sobre papel/1921) e Figuras (óleo sobre tela/1945).
Durante a coletiva, o secretario da Cultura do Estado, Auto Filho, destacou a importância ``histórica`` da mostra coletiva. ``É a primeira exposição que se realiza no Ceará com a intenção de fazer um mapa da arte mundial no século XX``, disse. Para atingir o público em cheio, a curadoria pretende apostar no caráter pedagógico da mostra, que será dividia em sete blocos, que vão do figurativismo expressivo até os laços com a tecnologia. Em cartaz até o dia 15 de agosto, em Fortaleza, a exposição segue em setembro para Sobral, onde permanece durante um mês no Museu Madi.
A exposição contará com obras do Instituto Valenciano de Arte Moderna (IVAM), do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, do Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará, além de coleções particulares da Espanha e do Ceará. Serão expostos trabalhos de mestres modernistas, como os já citados, além de Marc Chagall, Antoni Tapies, Antonio Saura e Alexander Calder, também como artistas contemporâneos, a exemplo de Christian Boltanski, Gary Hill, Bruce Nauman, Richard Serra e Arden Quin. Este último criador do movimento Madi, que contribuiu para o surgimento da arte cinética na América Latina e para o neoconcretismo no Brasil.
A arte da experiência por Nina Gazire, Istoé
Matéria de Nina Gazire originalmente publicada na Istoé em 19 de maio de 2010
Desde os anos 1950, a artista paulistana Amélia Toledo, 83 anos, produz uma obra rica e diversificada. Com 60 anos de trajetória artística, exposições vistas e prêmios conquistados em diversos países do mundo, sua produção enfatiza as expressões de uma experiência individual materializada em cores e formas que flertam com o concretismo e com a arquitetura.
A artista costuma afirmar que suas obras são resultado da liberdade de experimentar as relações entre materiais e processos, forma simples, clara. Segundo Amélia, essas são questões essenciais, como a tensão que a chapa precisa sofrer para criar uma curva. Atualmente, ela realiza sua primeira exposição individual, “Minas de Cor”, no Estado de Minas Gerais, na Quadrum Galeria de Arte, em Belo Horizonte.
Segundo o crítico de arte Agnaldo Farias, o trabalho de Amélia é caracterizado por uma experimentação incessante. “Sua arte mergulha na matéria - vegetal, mineral, líquida – para dissecá-la, esquadrinhar sua intimidade, revelar suas peculiaridades e, por fim, trazê-la para diante de nós, acreditando no poder curativo do contato com a arte”, afirma o crítico.
A exposição “Minas de Cor” apresenta trabalhos de duas séries, uma com trabalhos em pintura e outra com esculturas. “Horizontes e Campos de Cor” é constituída de pinturas abstratas construídas com gestos e cores. Já a série “Impulsos e Poços” traz esculturas criadas com pedras, molas, aço e concreto.
O construtor de ruínas por Paula Alzugaray, Istoé
Matéria de Paula Alzugaray originalmente publicada na Istoé em 10 de maio de 2010
“Eu queria construir uma ruína. Embora eu saiba que a ruína é uma desconstrução.” A frase de Manoel de Barros, apropriada por Rosângela Rennó e utilizada em sua instalação “Matéria de Poesia”, que esteve em cartaz até o dia 8 na Galeria Vermelho, em São Paulo, poderia ser transportada para o contexto da individual de Caetano Dias, em Salvador. Uma ruína não se constrói, mas em “Transverso” o artista baiano interpreta a ruína social produzida pelo alagamento da cidade baiana de Remanso para a construção da Represa de Sobradinho, em 1978. Da cidade, restaram as lembranças de antigos moradores, recolhidas no videodocumentário “1978 – Cidade Submersa”. Sobrou também a visão de uma caixa-d’água, flutuando como um farol, marcando a presença de um passado apagado pelo nível de água. O objeto foi documentado na série fotográfica “Água Invertida” e reinterpretado em uma escultura, fabricada em resina e cimento, intitulada “Edifício 510” (foto). Índice solitário da história de Sobradinho, o edifício alagado tem presença central na exposição.
A água e as marés, suas enchentes e vazantes, são os temas aqui tratados. Para o crítico Josué Mattos, “Caetano Dias conjugou a existência de tempos paralelos”, aproximando os acontecimentos de 1978 das tragédias que anualmente matam e desabrigam famílias durante a época das chuvas. Na galeria, o edifício está cercado de vídeos e imagens fotográficas que contribuem para essa narrativa da enchente. As fotos da série “Construção” mostram ruínas de edifícios destruídos por infiltrações, e na videoinstalação “Submerso” um corpo mergulhado em água é projetado sobre um piso de cerâmica, que poderia muito bem pertencer ao “Edifício 510”.
Sussuro da imagem por Paula Alzugaray, Istoé
Matéria de Paula Alzugaray originalmente publicada na Istoé em 30 de abril de 2010
Veterana da videoarte, Sonia Andrade incorpora indagações da poesia metafísica em nova videoinstalação
Uma frase (des)orienta o visitante da exposição de Sonia Andrade. Impressa na parede da entrada da instalação, “Get With Child a Mandrake Root,” é o título da exposição e corresponde a um verso do poema “Song”, do poeta inglês John Donne (1572-1631). “Donne sempre pede ao leitor coisas impossíveis”, diz a artista. “Como emprenhar uma raiz de mandrágora?” Esta é a quinta exposição em que Sonia se refere aos versos do poema de Donne. Se a linguagem poética desse autor se presta mais a criar enigmas do que a elucidá-los, a videoinstalação de Sonia funciona também como escavação aos sentidos ocultos de plantas mágicas e de poemas antigos.
A raiz da mandrágora, como explica a crítica Marisa Flórido Cesar no texto de apresentação da exposição, é cultuada e temida em várias culturas pelos poderes alquímicos, afrodisíacos, narcóticos e analgésicos que lhe são atribuídos. Segundo uma lenda medieval, o momento de sua colheita era cercado por lamento tão terrível que poderia matar. Seguindo o viés metafórico e metafísico de Donne, Sonia representa a mitologia da mandrágora com a gravação em vídeo das raízes de uma antiga árvore chorona do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, que se projetam para fora da terra. A árvore, que no parque se agiganta em direção ao céu, é apenas adivinhada no espaço da exposição. Nas paredes, 25 telas de vídeo dispostas em linha irregular desenham um mapa das raízes, como se também escrevessem um texto. A pequena dimensão das telas dá a esse texto videográfico a qualidade de um segredo. Em cada tela, surgem pequenos acontecimentos – uma formiga que passa, uma brisa leve sobre a folhagem da grama – que nos fazem apenas intuir o crescimento invisível das raízes. Em vez de berrar como a mandrágora, as imagens de Sonia sussurram a sutileza de seu movimento.
A exposição comporta-se como uma reconstrução poética do espaço do Jardim Botânico, que é também representado em dois travellings de um de seus muros. Um deles corresponde ao primeiro vídeo da artista, gravado em 1974 com uma câmera Portapak, primeiro equipamento de vídeo portátil já lançado. Um exemplar foi trazido para o Rio por Jom Tob Azulay, que colocou a câmera à disposição de artistas cariocas, fomentando assim as experiências pioneiras com videoarte no Brasil. A tela em frente exibe o mesmo muro, gravado em 2010, com uma câmera DVC PRO-HD de última geração. Os dois muros conduzem o visitante à imagem final da exposição: uma flor de lótus, posicionada como em um altar. Com essa imagem, Sonia parece responder ao enigma de Donne: o verso sugere, afinal, que a magia floresça e espalhe seus frutos.
Brasil no Prix Ars Electronica 2010 por Nina Gazire, Istoé
Matéria de Nina Gazire originalmente publicada na Istoé em 20 de maio de 2010
Trabalho do brasileiro Lucas Bambozzi recebe menção honrosa na maior premiação de arte e tecnologia do ano
No dia 17 de maio, o Prix Ars Electronica, maior e mais antigo prêmio de arte e tecnologia do mundo, anunciou os vencedores de sua edição de 2010. A tradicional premiação Golden Nica contemplou sete trabalhos nas categorias Comunidades Digitais, Arte Interativa, Arte Híbrida, Soundart e Animação Computacional.
Além da premiação máxima, o Prix Ars Electronica concedeu prêmios de Distinção e Menções Honrosas a 80 trabalhos, dentre os 3.500 inscritos nessa edição, inclusive para o Brasil. Entre os vencedores das Menções Honrosas, o site brasileiro CulturaDigital.br foi contemplado na categoria Comunidades Digitais, e o trabalho “Mobile Crash”, de Lucas Bambozzi, na categoria Arte Interativa.
“Mobile Crash” ainda não foi apresentado no Brasil, mas apenas na exposição Geografias Celulares, em suas edições na Argentina, em 2009, e no Peru, em janeiro deste ano. “Receber esta distinção é mesmo um incentivo a continuar produzindo instalações dessa natureza, que exigem ajustes e cuidados bastante complexos na sua montagem, algo nem sempre é bem visto pelas instituições ou espaços expositivos que se dispõem a abrigar projetos envolvendo interatividade”, afirma Lucas Bambozzi, criador do projeto.
O trabalho foi desenvolvido com a ajuda de Ricardo Palimieri, Roger Sodré, Paloma Oliveira e Lucas Gervilla, emprega software livre (Ubuntu, Pure Data, e openFrameworks). A instalação tem inspiração na live performance “Da Obsolescência Programada”, que trata da rápida obsolescência das novas mídias. Mobile Crash é um ambiente criado por 4 vídeo-projeções em grande escala, que reajem à presença do público, disparando vídeos aleatórios retirados do registro da performance “Da Obsolescência Programada”, realizada em 2009 (foto).
A instalação também será mostrada na Europa ainda neste ano. Primeiro no ISEA-Inter Society for Electronic Arst, festival da Alemanha, e em mostra junto ao próprio Ars Eletronica, que tem sede na Áustria.
Além das menções honrosas recebidas, o Brasil teve a sua primeira participação no júri da categoria Arte Interativa, com a presença da curadora e artista Giselle Beiguelman. André Lemos, professor da UFBA, é membro do conselho consultivo internacional do Prix Ars Electronica, indicando projetos na categoria Comunidades Digitais desde 2003.
Presença brasileira cresce na Bienal por Fábio Cypriano, Folha de S. Paulo
Matéria de Fábio Cypriano originalmente publicada na Ilustrada da Folha de S. Paulo em 20 de maio de 2010.
Se confirmada lista com 51 nomes, brasileiros corresponderão a 34% do total da mostra, o maior número desde 1991
Projeto do curador, Moacir dos Anjos, estabeleceu uma espécie de revisão histórica das últimas três décadas da produção artística nacional
Contrariando uma tendência das últimas sete bienais de São Paulo, a presença dos artistas brasileiros cresce na 29ª Bienal, chegando a 34% do total, se o número de artistas confirmar os 51 entre 148 já convidados.
Na Bienal do Vazio, em 2008, os artistas do país chegaram perto, com 33%, mas a exposição, reduzida por conta da polêmica, configura-se mais exceção do que regra.
Esse "verde-amarelismo" já era esperado desde o ano passado, quando Heitor Martins assumiu a presidência da Fundação Bienal e, em entrevista à Folha, defendeu que seria importante uma presença brasileira expressiva na mostra.
O próprio curador, Moacir dos Anjos, também defendeu essa tese por conta da "insipiência e da fragilidade dos mecanismos institucionais para absorção e circulação da produção artística existentes no Brasil", conforme disse à Folha também no ano passado.
Em seu projeto, o curador estabeleceu que a Bienal realizasse uma espécie de revisão histórica das últimas décadas da produção artística a partir dos anos 1970.
Assim, não é de estranhar a grande quantidade de nomes com caráter histórico na mostra, caso de Hélio Oiticica, Lygia Clark, Lygia Pape (1927-2004), Anna Maria Maiolino, Antonio Manuel e Milton Machado, entre outros, todos associados ao neoconcretismo.
A última Bienal com tantos brasileiros foi a 21ª, em 1991, com 79 artistas de um total de 183, ou seja, 43%.
Com curadoria de João Candido Galvão e Jacob Klintowitz, que abandonou o posto no meio do processo, a mostra foi muito criticada pela irregularidade, pois a seleção foi feita através de inscrições.
Já em 1998, Paulo Herkenhoff selecionou um alto número de brasileiros, 71, mas que representaram apenas 26% dos 271 artistas.
Bienal de SP busca consenso político por Fábio Cypriano, Folha de S. Paulo
Matéria de Fábio Cypriano originalmente publicada na Ilustrada da Folha de S. Paulo em 20 de maio de 2010.
Lista provisória obtida pela Folha adianta nomes dos 148 convidados para a 29ª edição, que começa em setembro
A relação entre arte e política, na concepção dos curadores da 29ª Bienal de São Paulo, será vista por um espectro de artistas com visões bem distintas.
A extensão dessa concepção parece abarcar modalidades tão diversas de produção que a lista dos selecionados para a mostra sugere que a curadoria está criando um consenso no circuito artístico.
A política, assim, ganha um caráter inclusivo no evento. Essa é umas das possíveis leituras da lista de trabalho com 148 artistas previstos para a exposição, com início em setembro.
Até agora, a Fundação Bienal já havia confirmado a presença de 48 nomes. A listagem obtida pela Folha, de 4 de maio, reúne artistas já convidados, mas nem todos confirmados.
A assessoria de imprensa da Fundação Bienal informou que a lista final será anunciada no dia 1º de junho.
Segundo a nota da instituição, "toda e qualquer versão da lista divulgada antes da coletiva oficial de imprensa não é definitiva, estando sujeita, portanto, a informações equivocadas e a possíveis alterações".
Contudo, mesmo sendo uma lista ainda em caráter transitório, devem ser anunciados cerca de 120 artistas, segundo o novo site da fundação.
Por esse inventário, é possível identificar algumas marcas da curadoria chefiada por Moacir dos Anjos e Agnaldo Farias com a assistência de outros cinco curadores estrangeiros.
Entre os 51 brasileiros, há uma grande diversidade, que vai de nomes como Flávio de Carvalho (1899-1973) e Oswaldo Goeldi (1895-1961) a artistas da nova geração como Jonathas de Andrade, que já participou da Bienal do Mercosul no ano passado.
Entre esses dois pólos, há todo tipo de produção. De um lado, estão as experimentais da década de 1970, como as de Hélio Oiticica (1937-1980) e Lygia Clark (1920-1988).
De outro, as da Geração 80, como as de Daniel Senise e Rodrigo Andrade, ambos com obras centrada na pintura.
Segundo a lista, também já estão definidos os responsáveis pelos seis "terreiros" da mostra, espaços que terão temáticas e arquitetura próprias.
São eles os brasileiros Carlos Teixeira, Ernesto Neto, Marilá Dardot e, em dupla, o arquiteto Roberto Loeb e Kboco. Já entre os nomes do exterior, foram escolhidos o sloveno Tobias Putrih e o escritório holandês UN Studio.
Entre os 97 estrangeiros, um destaque é Aernout Mik, que participou da 26ª Bienal de São Paulo e da 52ª Bienal de Veneza, em 2007, com a instalação "Citizens and Subjects" (cidadãos e temas), uma das mais comentadas daquela edição.
Outro nome com grande projeção é o do escocês Douglas Gordon, especialmente por conta do filme realizado com Philippe Parreno, sobre o jogador Zidane, em 2006.
Vinculado também ao cinema, Kutlug Ataman, da Turquia, é mais um selecionado, assim como Ilya Kabakov, o artista russo com maior projeção no cenário internacional.
Também faz parte da lista a sul-africana Marlene Dumas, que pela pintura alcança uma forte narrativa sobre questões políticas, caso da exposição na galeria David Zwirner, em Nova York, encerrada no mês passado, que abordou as relações entre Palestina e Israel.
Depois do Brasil, o país com maior presença na Bienal será a Argentina, com 11 artistas selecionados. A África inteira terá oito, estando inclusa aí Dumas, que vive na Holanda.
Na maioria, os argentinos escolhidos possuem forte projeção desde os anos 1970, como Leon Ferrari, Marta Minujin, Victor Grippo e o grupo Tucumãn Arde, que esteve na última Documenta, em Kassel.
maio 17, 2010
CCBB abr hoje retrospectiva 'Aguilar 50 anos' em SP, no estadao.com.br
Matéria originalmente publicada no estadao.com.br em 11 de maio de 2010
Quando tinha 22 anos, o artista José Roberto Aguilar participou da 7.ª Bienal de São Paulo, em 1963, com quadros coloridos e de cores vibrantes, nos quais figuras se conectam nas composições, como seres híbridos da natureza. "Era o auge do abstracionismo e causou certo rebuliço essa espécie de realismo fantástico que eu estava fazendo", diz Aguilar, hoje, aos 69 anos. Ele ia todos os dias à Bienal acompanhar o que as pessoas achavam de suas obras e agora são as três pinturas que ele exibiu no evento, na década de 1960, que abrem o percurso cronológico de "Aguilar 50 Anos", retrospectiva do artista aberta hoje ao público, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) de São Paulo.
Pintor, videomaker, performer, escultor, escritor, músico e curador, Aguilar já fez um pouco de tudo - criou, até mesmo, na década de 1980, a Banda Performática (com Arnaldo Antunes, Paulo Miklos, entre outros). Mas, antes de qualquer coisa, considera que todas as suas criações nasceram da pintura. "Até a literatura que escrevo é do pictórico", diz o artista - e, sendo assim, são os quadros que se tornam o fio condutor de sua retrospectiva.
Por todos os andares do CCBB, há mais de 75 pinturas, de tamanhos variados e compreendendo sua carreira da década de 1960 até hoje - no hall central do prédio, ainda, a instalação "Vestidos de Noiva" é uma composição de 15 quadros pendurados, todos eles feitos de composição com as roupas prensadas em plástico e pintadas com cores diversas. "É como estar surfando: a gente só se enxerga com o olhar dos outros", afirma Aguilar sobre essa oportunidade de ver sua carreira exibida e condensada na mostra. "É horrível fazer uma retrospectiva. Fiz um distanciamento e comecei a ver as pinturas como se não fossem minhas", diz Aguilar. Segundo ele, a exposição é, na verdade, um ''trailer'' para um grande livro que a Imprensa Oficial do Estado de São Paulo vai lançar no segundo semestre sobre sua carreira.
A retrospectiva de Aguilar é uma mostra cronológica e didática. O artista, que cursava economia, mas participava, desde 1958, do movimento Kaos de literatura e começou a pintar na década de 1960, sempre foi um experimentador. Seu ateliê na Rua Frei Caneca, 348, era, na época, polo de reunião de comunistas e de gente da direita, mas, antes de tudo, espaço para a criação. As informações são do Jornal da Tarde.
Cinemas do futuro por Paula Alzugaray, Istoé
Matéria de Paula Alzugaray originalmente publicada na Istoé em 14 de maio de 2010
André Parente cria o Visorama e Giselle Beiguelman e Rafael Marchetti propõem o celular como nova tecnologia de visualização
Uma tela panorâmica de 9x4m descortina um mosaico de imagens tão diversas quanto o E.T. de Steven Spielberg; um tecido de roupa interativo; o Chacrinha; um teclado-vestível; um celular-bolsa; um aparelho de cinema portátil; uma coleira de cachorro com GPS. Quinhentas e cinquenta e cinco imagens compõem a obra “Telebits 2.0”, de Giselle Beiguelman e Rafael Marchetti, que faz um recorrido pela história das relações entre telecomunicação e cultura. Instalada na exposição “Tão Longe, Tão Perto”, realizada pela Fundação Telefonica, “Tele_bits 2.0” não tem a forma do que tradicionalmente conhecemos como uma obra audiovisual. Isto é, não consiste em uma projeção de imagens previamente editadas por um autor. Trata-se de uma projeção de dados, que serão organizados pelos visitantes por meio de telefones celulares com programas de leitura QR-Codes (códigos de barra lidos por celulares). O celular, em “Tele_bits 2.0”, corresponde a um novo instrumento de visualização. Da mesma forma, o Visorama, da instalação “Figuras na Paisagem”, de André Parente, em exposição até o final do mês no Oi Futuro, Rio de Janeiro, é um dispositivo de imersão do espectador na obra audiovisual. Ambos os trabalhos trazem respostas de artistas pesquisadores às indagações sobre o presente e o futuro do cinema, em seu encontro com as novas mídias digitais.
Para conceber o Visorama, o artista e pesquisador André Parente esteve nos últimos 12 anos envolvido em uma pesquisa científica similar à que levou os irmãos Lumière a criar, em 1898, uma câmera para fotografar panorâmicas e um sistema de projeções fotográficas em 360º. Esses primeiros sistemas fotográficos imersivos são a base conceitual do dispositivo de Parente, concebido no núcleo de tecnologia da imagem da Escola de Comunicação da UFRJ. O Visorama consiste em um software e em um aparelho de visionamento, que se parece com um binóculo. Nele, o espectador visualiza paisagens em 360º, que podem ser animadas a partir do acionamento de botões com três funções: rotações horizontais e verticais, zoom e saltos de imagem. Com esses recursos, Parente entrega ao usuário do aparelho as ferramentas de edição do filme, para a elaboração das narrativas de uma espécie de cinema ao vivo. “O dispositivo serve não apenas à arte. Pode ser usado em turismo histórico, em educação, em museologia, etc.”, aponta ele.
Em “Tele_bits 2.0”, o filme também é feito pelo espectador participante, que aponta o telefone celular para os códigos de barra, acionando imagens, vídeos e verbetes arquivados em um banco de dados no Flickr (site de compartilhamento de imagens). Trata-se, portanto, de um audiovisual “em camadas”, que acontece além da superfície da tela de projeção. Fruto de uma convergência de mídias, a obra poderia ser definida como “datacinema” ou “metacinema”. “Nenhuma das imagens foi captada por nós, todas foram trazidas da internet”, diz Giselle Beiguelman. “Este é o filme do ‘homem sem a câmera’”, diz ela, referindo-se ao clássico “O Homem com a Câmera”, de Dziga Vertov, 1929.
Se Vertov e Eisenstein pressentiram que uma nova sociedade exigia um novo tipo de visão, as recentes pesquisas com imagens, feitas com ou sem câmera, permitem compreensões múltiplas da realidade e são comparáveis ao grande período das experimentações com técnicas e linguagens do cinema.