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maio 14, 2010
Exposição no Rio reúne obras do goiano Siron Franco, estadao.com.br
Matéria originalmente publicada no Caderno Cultura do estadao.com.br em 13 de maio de 2010.
Artista foi vítima de sequetro na Venezuela e passou três anos produzindo obras para a mostra 'Segredos'
Em 2001, o casamento de seu filho com uma venezuelana levou o artista plástico goiano Siron Franco a Caracas. Assim que ele pousou, entrou num pesadelo: o táxi que deveria levá-lo do aeroporto era dirigido por um bandido, que o manteve refém por três horas. O homem achou que se tratava de um milionário em visita ao país. O incidente traumatizou Franco de tal forma que deixou ecos em sua produção mais recente, como se comprova na exposição "Segredos", em cartaz na Caixa Cultural do Rio desde a última terça-feira, até 11 de julho.
O "Primeiro Segredo" é uma tela pintada com carvão e aplicações de 17 CDs. A imagem remete ao cartão magnético que Franco usava como chave do hotel em que ficou na Venezuela, todo perfurado. Exposta em sua última mostra no Centro Cultural Banco do Brasil do Rio, há três anos, a obra indicou o caminho para outros segredos. A partir dela, surgiu uma série de 15 telas, diante das quais se tem a impressão de que há algo encoberto, escondido, secreto.
As telas trazidas ao Rio foram preparadas nos últimos três anos. Desde o fim de 2009, ele se dedicou a elas mais intensamente. Franco começou a preparar vários quadros de uma vez. Depois de um período inicial de secagem, as telas foram viradas para a parede, para que as cores não se misturassem aos olhos do artista, embaralhando sua visão. Franco então voltava a cada uma delas - em alguns casos, a pincelada inicial ainda pode ser vista; noutros, está encoberta por camadas e camadas de tinta a óleo.
Boa parte dessa produção foi descartada. Franco sabia o que não queria, mas não conseguia chegar à essência do que buscava dizer. Chegou a pensar em cancelar a data já acertada com a Caixa Cultural. "Sempre penso que meu compromisso maior é comigo. Eu não posso chegar aqui mentindo", justifica o artista, que, passado o bloqueio, alcançou não só com os óleos, mas também com esculturas aquilo que desejava.
A mostra "Segredos" chega à Caixa Cultural de São Paulo em setembro; em outubro, será aberta em Brasília. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Escultora se dividiu entre o marido e Marcel Duchamp por Silas Martí, Folha de S. Paulo
Matéria de Silas Martí originalmente publicada na Ilustrada da Folha de S. Paulo em 14 de maio de 2010.
Maria Martins viveu uma vida dupla. Passava parte do tempo como embaixatriz em Washington e mantinha um ateliê em Nova York, onde se encontrava com o amante Marcel Duchamp, um dos artistas mais importantes do século 20.
Em sua obra mais célebre, "O Impossível", Martins mostra um conflito entre seres masculino e feminino. São garras em riste e um ato sexual não consumado, metáfora para o amor que viveu com Duchamp.
Num poema, ela provoca o amante. "Quero que a lembrança de mim enrosque em seu corpo como serpente de fogo", diz um dos versos. "Para você, quero longas noites insones."
Em resposta à relação impossível, Duchamp decide então fazer sua obra mais enigmática, "Étant Donnés".
Ficou 20 anos trancado num ateliê secreto reconstruindo as formas de Martins para fazer a mulher que está nua num cenário fantástico. Nas cartas que escreveu para a amante ao longo dos anos 40, Duchamp implorava para que ela se casasse e fugisse com ele.
"Minha pequena, dediquemos todo o tempo possível a nós mesmos", escreveu Duchamp. "Nada vale o esforço de suar sangue pelos outros."
Visões de Maria por Silas Martí, Folha de S. Paulo
Matéria de Silas Martí originalmente publicada na Ilustrada da Folha de S. Paulo em 14 de maio de 2010.
Novo livro reúne imagens de toda a produção da escultora Maria Martins e traz interpretações contrastantes sobre a primeira surrealista na América Latina
Quando Maria Martins mostrou suas esculturas na Valentine Gallery em Nova York, um crítico chamou sua obra de "esquisita, complicada, fantástica", um "rococó assustador". Era 1946 e a madame Carlos Martins, como era conhecida a mulher do embaixador brasileiro, parecia antecipar as críticas. Um dos trabalhos na mostra se chamava "Não te Esqueças que Venho dos Trópicos".
Esculpiu uma mulher deitada de costas, com braços alongados e mãos em forma de garras. Martins descreveu depois a figura como personagem com "a crueldade de um monstro e a doçura de um fruto selvagem".
Não está muito distante da fama que ficou dela mesma. Artista à frente de seu tempo, amante voraz e ao mesmo tempo a anfitriã da embaixada, Martins se dividiu entre mundos, um Brasil folclorizado e o furacão de vanguardas na ponte entre Nova York e Paris.
Sua obra ficou dispersa entre os continentes e agora ressurge catalogada no maior livro já lançado sobre a artista.
"Maria", que a Cosac Naify entrega no fim deste mês, faz um resgate visual de toda a produção de Martins, considerada a primeira escultora surrealista da América Latina e fundadora de um modernismo tropical.
Essa estética bruta, de formas que parecem saltar da matéria amorfa, aparece com toda a força nas fotografias do livro. "Toda a textura dela vem à frente, como se fosse um arranhão no olho", descreve Vicente de Mello, fotógrafo que viajou de Buenos Aires a San Francisco, passando por Paris, para registrar todas as obras da artista. "É uma luz mais surreal, com certa fantasmagoria."
Entre a América pujante e a Europa arrasada pela guerra, André Breton, líder do movimento surrealista, enxergou na época a potência da obra de Martins, ao contrário do que diziam os críticos americanos.
"Nos últimos anos, o espírito humano não deixou de soprar desde as regiões cálidas", escreveu Breton sobre a artista, que conheceu em Nova York. "Outro vento em vão sonda as chaminés da Europa onde grelhas ardem sem produzir calor." Referências constantes a mitos amazônicos e a uma ancestralidade tropical serviram de base para as formas de Martins.
Barroco
Enquanto se misturava aos nomes mais fortes da vanguarda europeia exilada em Nova York, frequentando os jantares de Peggy Guggenheim com Breton e Duchamp, ela explorava um arcabouço estranho, tórrido e sensual para arquitetar suas criaturas híbridas.
"Tem algo de barroco na escultura dela", afirma à Folha a crítica britânica Dawn Ades, que tem um ensaio no livro. "Ela parece desconectada do tempo dela, mas vista pelo ângulo da magia e da metamorfose, parece mais em harmonia com o pensamento da época."
Barroco também foi o termo que o crítico Clement Greenberg, cronista dos expressionistas abstratos, como Jackson Pollock, usou para descrever a obra de Martins -era uma crítica dura e não um elogio.
Mas esse contraste entre o senso trágico do barroco e uma modernidade em formação é hoje chave de leitura para entender Martins e o caminho trilhado pelo modernismo que se radicou na América Latina.
"Era uma modernidade alternativa, que não precisava ser dominada por Nova York", diz Ades. "Ela fez parte disso." Mesmo causando estranheza e sob fogo dos críticos, Martins foi um sucesso comercial em sua época. Vendia todas as obras que mostrava e chegou a apadrinhar artistas com obras encalhadas, como o construtivista holandês Piet Mondrian.
Ela chegou a comprar a tela "Broadway Boogie Woogie", um dos trabalhos mais emblemáticos do artista, que depois doou para o acervo do MoMA. Mas enquanto a crítica esmiuça agora o legado da escultora, a dispersão de suas obras pelo mundo e um fim de vida menos produtivo -ela morreu no Rio, em 1973- mergulharam a artista no esquecimento.
"Não há contexto, o trabalho dela não tem aderência aqui", diz o escultor José Resende. "Ela continua sendo exceção."
maio 13, 2010
Novo olhar sobre a arte por Suzana Velasco, O Globo
Matéria de Suzana Velasco originalmente publicada no Segundo Caderno do O Globo em 13 de maio de 2010
Conheça três jovens cariocas que reforçam a curadoria de exposições no país
Se os jovens artistas indicam os novos rumos da arte no país, cresce com eles uma geração de curadores que refletem sobre esses caminhos. Eles são novos pela idade, mas também por imprimir um olhar fresco à curadoria de exposições, que são organizadas em espaços antes impensados, como galerias comerciais.
Entre 30 e poucos e 30 e muitos anos, os cariocas Felipe Scovino, Daniela Labra e Marcelo Campos são três desses curadores cariocas que se dividem entre a crítica e a produção, entre as aulas e os editais de exposições — e, nesse vaivém, têm renovado a curadoria no país.
Com um pós-doutorado aos 31 anos, Felipe Scovino é um dos mais proeminentes curadores em atividade.
Ele começou a partir de um ícone da arte brasileira do século XX, Lygia Clark, a quem dedicou sua dissertação de mestrado, depois trabalhando na fundação que cuida de suas obras. Ali, enquanto fazia seu doutorado, ele aprendeu toda a parte prática de montagem e produção de exposições que a universidade não podia lhe dar.
— Na América Latina, geralmente o curador é também crítico de arte, quase sempre ligado a um trabalho acadêmico. É praticamente impossível sobreviver só como curador.
E, por estar dentro da academia, você quer transformar a pesquisa guardada na gaveta em algo material — diz Scovino, que dá aula de teoria da arte na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.
Foi a pesquisa acadêmica que originou a primeira curadoria de Scovino numa instituição. Com um doutorado sobre a arte brasileira nos anos 60 e 70, ele relacionou essa produção à das décadas de 90 e 2000, no livro “Arte contemporânea”, feito com uma bolsa da Funarte, e numa exposição no Museu de Arte Contemporânea de Niterói, em 2009. Depois de cuidar da curadoria de uma exposição de Décio Vieira, em cartaz até o próximo dia 23 no Centro Universitário Maria Antonia, em São Paulo, Scovino prepara a mostra “Entre desejos e utopias”, que será inaugurada sábado, na galeria A Gentil Carioca, no Centro do Rio. Mais uma vez, ele unirá diferentes gerações de artistas — estão juntos, por exemplo, Cildo Meireles, Antonio Dias, Renata Lucas e Thiago Rocha Pitta —, desta vez por meio de esboços, desenhos e maquetes de seus projetos não realizados: — Tento não fazer projetos cronológicos, ponho em questão a palavra geração. Isso me levou a buscar artistas mais jovens que fazem obras com a qualidade de um Cildo ou Antonio Dias, que criam trabalhos atemporais e transnacionais.
Da brasilidade à performance
No sentido inverso, Marcelo Campos, de 37 anos, busca a brasilidade na arte contemporânea brasileira, característica geralmente identificada com o modernismo. Mas, como Scovino, foi também a pesquisa acadêmica que desaguou na curadoria.
Seu primeiro trabalho de curador, no Castelinho do Flamengo, em 2004, partiu de um capítulo de sua tese de doutorado. “Memórias heterogêneas” reuniu o mineiro Farnese de Andrade, o pernambucano Renato Bezerra de Mello, o cearense Efrain Almeida e o paraibano José Rufino — artistas que, segundo ele, carregam a marca da brasilidade, ainda que sem estereótipos.
— Eles lidam com sua própria memória e, ao assumir a primeira pessoa, acabam trazendo um pouco do imaginário brasileiro. É bem diferente da arte moderna, que queria nos dizer algo sobre o Brasil — diz ele. — A formação de muitos teóricos da arte é filosófica. Eu busquei um olhar mais antropológico.
Hoje, Campos contamina a pesquisa acadêmica com a curadoria. Na Uerj, ele dá aulas de Laboratório de História e Crítica e prepara, com os alunos, a mostra “Sobre ilhas e pontes”, que a galeria da instituição abre no dia 6 de julho. Campos também contamina a curadoria com a pesquisa acadêmica. Para chegar a “Sertão contemporâneo” — que rodou as filiais da Caixa Cultural no país, incluindo o Rio, em 2008 —, sugeriu que artistas visitassem regiões sertanejas, trazendo na volta diários de viagem.
Já Daniela Labra, diferentemente de Scovino e Campos, mergulhou primeiro na curadoria para depois se voltar mais profundamente à pesquisa acadêmica. Após se formar em teoria do teatro, em 1998, ela fez a típica viagem mochileira pela Europa, que culminou com um ano de pósgraduação em Madri. Antes disso, sua ligação mais direta com as artes visuais havia sido como secretária do artista plástico Daniel Senise.
— Na Europa, descobri esse ofício de curadora, que fica entre o prático e a teórico. Não me interessava ficar só no meio acadêmico, mas também não queria ligar para kombis ou fazer lista de salgadinhos — conta.
De volta ao Rio, em 2000, Daniela fez muitas listas de salgadinhos como produtora de festivais de cinema e teatro. Só no ano seguinte, quando foi morar em São Paulo, trabalhando em galerias e participando de grupos de estudos, ela se aproximou da atividade que deslancharia de vez em 2004, com sua primeira curadoria institucional, no Centro Maria Antonia. Intitulada “O artista-personagem”, a mostra indicava o que seria um de seus caminhos centrais, ainda que não exclusivo: a performance. Ela agora prepara, para novembro, a terceira edição do festival Performance Presente Futuro, no Oi Futuro.
— Meu maior interesse é a dimensão política da arte, e a performance exerce um impacto estético sobre o mundo — diz ela, que este ano começou um doutorado em História da Arte e critica os cursos para curadores que se espalham pelo país. — Curadoria não implica apenas organizar algo, mas estabelecer relações. O termo está superbanalizado.
Criadora da mostra de performance “Verbo”, na Galeria Vermelho, em São Paulo, Daniela mostra, como Scovino — que faz seu terceiro trabalho na Gentil Carioca —, que hoje o curador carioca tem que ir além da instituição para conseguir emplacar seus projetos. Além de se apoiar na ousadia de certas galerias, Scovino também tem passado mais tempo em São Paulo do que por aqui.
— No Rio, houve uma emergência de várias galerias nos últimos dez anos, mas o trabalho institucional está à deriva. A diferença em relação a São Paulo é brutal — diz ele.
"Felipe Scovino, 31 (em frente a foto de Luiza Baldan) Principais exposições: “Arquivo contemporâneo” (MAC de Niterói), “Décio Vieira: investigações geométricas” (Centro Universitário Maria Antonia, SP), atualmente em cartaz Tento não fazer projetos cronológicos, ponho em questão a palavra ‘geração’ “
"Marcelo Campos, 37 (em frente a obra de José Rufino) Principais exposições: “Sertão contemporâneo” (filiais da Caixa Cultural pelo Brasil), “Faustus”, de José Rufino (Palácio da Aclamação, Salvador) A formação de muitos teóricos da arte é filosófica.
“ Eu busquei um olhar mais antropológico”
"Daniela Labra, 35 (em frente a tela de Eduardo Berliner) Principais exposições: “Performance presente futuro” (Oi Futuro do Rio), “Verbo” (Galeria Vermelho, SP) Meu maior interesse é a dimensão política da arte, e a performance exerce impacto estético sobre o mundo"“
É Dia de Feira por Nina Gazire, Istoé
Matéria de Nina Gazire originalmente publicada na Istoé em 12 de maio de 2010
Artistas realizam intervenções na tradicional feira de São Joaquim, em Salvador
Com a proposta de um flashmob estético-político, cerca de 60 artistas de todo o Brasil realizam, no dia 14 de maio, o evento Ocupação da Artística da Feira de São Joaquim. A feira é uma das maiores do país, e a maior feira livre da cidade de Salvador, sendo a mais tradicional para a população de baixa renda, não só dos soteropolitanos como do recôncavo baiano. O evento tem a curadoria de Leonel Mattos, artista que recentemente tem se dedicado a discutir a relação entre arte e política em uma série de trabalhos que protagonizam novas formas de inclusão e exposição artísticas e que colocam em perspectiva os espaços urbanos soteropolitanos. A Ocupação Artística na Feira de São Joaquim possui manifesto assinado pelo artista Vauluizo Bezerra Rodrigues, que participa da mostra propondo a similaridade do espaço da feira aos espaços das feiras tradicionais de arte contemporânea. “Caótica e pouco asséptica, mas viva em sua dinâmica funcional, a feira não difere estruturalmente das grandes feiras internacionais de arte e seus biombos milionários”, ironiza. Porém, a ocupação da Feira de São Joaquim pretende se apropriar dessa semelhança como forma de pastiche.
Na realidade a manifestação realiza uma crítica às instituições de arte tradicionais, celebrando aquilo que a arte dos museus muitas vezes não consegue alcançar: a dinâmica das ruas em tempo real. Talvez por isso, o evento se dá como uma manifestação efêmera, com duração de apenas um dia. Localizada na Cidade Baixa entre a Baía de Todos os Santos e a Avenida Oscar Pontes, no bairro do Comércio, a feira de São Joaquim, possui uma área de 34 mil m², sua importância é vital para o comércio, cultura e favorecimento dos menos abastados, devido aos bons preços. Mas, muito além de uma oportunidade pechincha, a feira é um patrimônio cultural. Tanto que um dos objetivos dessa intervenção artística é apropriação desse espaço como cenário expositivo e performático como forma de celebração da identidade baiana. “A ocupação dos espaços da Feira de São Joaquim e' um ato político acertado porque não atinge pessoas, antes, investe contra as clássicas instituições e seus clássicos pecados. Não existe nada mais baiano e menos turístico (para a grande maioria das pessoas) que A Feira. È a antítese de tudo que é permeável as instituições de arte”, afirma Vauluizo em seu texto sobre os objetivos da intervenção artística.
Kracjberg acusa Curitiba de descuido com obras por Dimitri do Valle, Folha de S. Paulo
Matéria de Dimitri do Valle originalmente publicada na Ilustrada da Folha de S. Paulo em 13 de maio de 2010.
O artista Frans Kracjberg, 89, acusa a Prefeitura de Curitiba de abandonar obras doadas nos anos 90. Ele quer a devolução das peças e estuda processar o município caso não as tenha de volta. "Para mim acabou. Nunca fui tão humilhado", disse por telefone à Folha, da Bahia.
As 110 esculturas de troncos de árvores estão no Espaço Cultural Frans Kracjberg, no Jardim Botânico. "Viraram lixo", afirma o artista, que diz que o local foi fechado por mais de um ano.
A FCC (Fundação Cultural de Curitiba) nega o abandono e diz que o artista recusa a aplicação de um programa oficial de restauro.
A entidade afirma fazer manutenção e que o espaço, fechado para a "conservação das obras", foi reaberto no início do ano. A FCC pensa em recorrer à Justiça pelo direito de restaurar as peças.
MuBE terá novo anexo e foco em arte de rua por Silas Marí, Folha de S. Paulo
Matéria de Silas Martí originalmente publicada na Ilustrada da Folha de S. Paulo em 13 de maio de 2010.
Museu chega aos 15 anos com planos de completar projeto de Mendes da Rocha
Presidente da instituição diz que alvo nunca foi escultura e que museu pretende ter "multiarte", com mostras de vídeo, fotografia e grafite
No ano em que completa 15 anos, o Museu Brasileiro da Escultura tenta se "realinhar" na cena institucional paulistana.
Depois de demitir o curador Jacob Klintowitz em agosto do ano passado, afirmando não ser necessário alguém no cargo, a direção do MuBE anuncia agora a construção de um anexo ao edifício projetado por Paulo Mendes da Rocha e um novo foco em grafite e arte de rua.
Já estava no projeto original de Mendes da Rocha o prédio que será erguido até o ano que vem, segundo as previsões do MuBE. "Como está agora, o museu não tem um depósito de acervo, carpintaria, nem boas instalações para os funcionários", diz Mendes da Rocha.
"Será uma torre baixa ao lado do que está lá", resume o arquiteto. "Essa construção começa lá embaixo, no nível inferior do museu, e ultrapassa a marquise." Do subsolo ao topo, terá 15 metros de altura.
Enquanto garante que sairá do papel o novo prédio, orçado em cerca de R$ 6 milhões, o MuBE não definiu ainda o que fará no espaço. A direção só adianta que o anexo, além de abrigar o pequeno acervo do museu, não terá muito a ver com o nome da instituição.
Um dos planos é dar aulas de arte pagas e gratuitas no local.
"Nunca fomos um museu de escultura", afirma Jorge Landmann, presidente do MuBE. "São Paulo já tem muitos museus de escultura, na Consolação, na Doutor Arnaldo, cheios de Brecheret", diz, em referência aos cemitérios da região. "Nós não queremos ser isso."
Mas ainda não parece claro o que quer ser esse museu. Em entrevista à Folha, Landmann falou em ter no MuBE "todos os aspectos da arte", desde vídeo e fotografia à arte de rua. "É multiarte, todo tipo de arte."
Ele preside o museu desde 2007. Em abril daquele ano, a prefeitura chegou a revogar a concessão de uso do espaço -embora seja privado, o museu ocupa um terreno da prefeitura e, por isso, é considerado propriedade pública cedida em comodato desde 1987.
Landmann contornou a situação transformando o museu numa organização social de interesse público, o que permite maior acesso a recursos públicos e direito à captação de verbas pelas leis de incentivo.
Mas não foi suficiente para acabar com a pecha de "museu de aluguel", como ficou conhecido o MuBE pelo número de eventos comerciais que recebe.
Landmann diz ter reduzido a frequência dessas ações, mas sua gestão abriu espaço para um campeonato de baristas, desfiles de calças jeans e reuniões de associações de bairro.
À época da demissão do curador Jacob Klintowitz, que hoje diz que o MuBE "não tem missão", o secretário municipal da Cultura, Carlos Augusto Calil, disse que o museu é "impermeável a projeto cultural".
Sob críticas, o MuBE virou alvo de seu vizinho. O Museu da Imagem e do Som tentou negociar com Landmann a transferência do Paço das Artes, que deverá desocupar sua sede na Cidade Universitária, para o prédio do MuBE, o que levaria à extinção do museu.
Embora confirme as negociações, Landmann diz que o plano está "fora de cogitação".
maio 11, 2010
O grande utópico por por Paula Alzugaray , Istoé
Matéria de Paula Alzugaray originalmente publicada na Istoé em 11 de maio de 2010
Duas exposições mostram o idealismo do artista e arquiteto que projetou uma cidade modernista em que homens usavam saias
Embora o arquiteto Flavio de Carvalho tenha projetado dezenas de edifícios e monumentos públicos tanto ou mais utópicos que Brasília, foi um projeto de 1956 que realmente o tornou uma figura pública. “Flavio de Carvalho estreou seu New Look. É de nylon e brim. Acalma os nervos. Evita as guerras. Previne resfriados”, dizia a chamada de uma reportagem na revista “Manchete” de 27 de outubro daquele ano. Intitulada “Experiência nº 3”, a caminhada do arquiteto pela avenida Paulista, vestindo saias, para divulgar seu projeto de utopia urbana, é hoje considerada a primeira performance da arte brasileira. As únicas imagens que ficaram para contar a história foram feitas por fotojornalistas da “Manchete” e de “O Cruzeiro”, e integram as exposições que o MAM-SP dedica a Carvalho.
A retrospectiva na Grande Sala apresenta um panorama de sua produção como arquiteto, cenógrafo, pintor e performer. Embora tenha sido dado destaque para um projeto para o Viaduto do Chá, o carro-chefe da exposição são as pinturas. O expressivo conjunto de aquarelas, óleos e desenhos mostra que Carvalho era um retratista de mão cheia, que captava com maestria a tensão e a gravidade dos rostos de seus retratados. Entre as pinturas que fez de escritores, psicanalistas e artistas figura um expressivo Oswald de Andrade acompanhado de sua terceira esposa, a escritora Julieta Barbara.
Na Sala Paulo Figueiredo, “A Cidade do Homem Nu”, curadoria de Inti Guerrero, faz uma livre interpretação do idealismo de Carvalho, que concebera um projeto urbanístico para um homem “sem deus, sem propriedade, sem matrimônio e sem tabus escolásticos, livre para o raciocínio e o pensamento”. A mostra apresenta obras contemporâneas brasileiras e estrangeiras que dialogam com as ideias do artista modernista e arrisca um interessante cruzamento com a performance libertária de Ney Matogrosso na fase Secos & Molhados. Ao exibir a roupa e o videoclipe desse músico também provocador, o curador reafirma a identidade multimídia de Carvalho, para quem a vida cotidiana e a arte pertenciam a um mesmo campo de ação.
Multi artista apresenta arte instantânea no Mamam, Diário de Pernambuco
Matéria publicada originalmente no caderno Viver do Diário de Pernambuco em 11 de maio de 2010
Um bilhete de loteria pode significar esperança, mudança de vida, riqueza ou, para os mais céticos, uma remota probabilidade disso tudo. A partir das 12h de hoje, porém, o bilhete ganhará um sentido de arte para os que comparecerem ao Museu de Arte Moderna Aloisio Magalhães. É que até as 14h, o artista visual paulista Alex Flemming faz um happening no local, experimentando a condição de "Rei Midas" para transformar os bilhetes lotéricos em obras de arte a partir da sua assinatura.
"Vou fazer um trabalho performático, incorporar algo industrial ao mundo das artes. Estou incorporando o mundo das loterias. Quando um artista assina um objeto, ele está transformando aquilo numa obra de arte", explica Flemming, que hoje vive na Alemanha. Essa é a primeira vez que o paulista vai apresentar essa performance, que depois será realizada no Museu Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro, e no Museu de Arte de São Paulo (Masp).
O princípio da performance não é novo, segue a mesma linha conceitual proposta por Marcel Duchamp quando deslocou um mictório e o pôs num salão de artes. "Na hora em que Duchamp fez isso, ele transformou o mictório numa outra coisa. O mictório perdeu sua funcionalidade e passou a ser visto dentro de um conceito de tridimensionalidade plástica", analisa Flemming.
A ideia de usar a assinatura como fator de entrelaçamento artístico também foi usada pelo pintor Salvador Dalí. No entanto, Flemming estabelece diferenças entre sua performance com a do artista espanhol, que passou a vender autógrafos como uma crítica à lógica comercial do mercado das artes. Conhecido pelo teor político de suas obras, a performance de Flemming mantém esse viés. "A experiência é radical porque levo a arte para todos, vou democratizar a obra para quem quiser", defende ele.
Os bilhetes que vão atingir o status de arte são os que a Caixa Econômica Federal fez em comemoração ao Dia do Artista Plástico. Como o homenageado deste ano é o próprio Flemming, os bilhetes trazem uma foto do artista enquanto ele montava a instalação Galileu Galilei, exposto na Pinacoteca de São Paulo. Os tíquetes serão carimbados com tinta acrílica e assinados por Flemming com uma caneta permanente.
Criação coletiva por Alinne Rodrigues, O Povo
Matéria de Alinne Rodrigues originalmente publicada no caderno Vida & Arte do jornal O Povo em 11 de maio de 2010.
Criar um desenho totalmente no computador: possibilidade de cores testadas, recortes perfeitos, de desfazer o que deu errado, tudo a um só clique de distância. Ao final, salvar o produto em uma pasta junto com centenas de outros, muitos dos quais nem o artista se lembra. Fotografar em câmera digital: tentar dezenas de vezes cada foto, verificando em tempo real se ela ficou do jeito que se desejava. Depois, armazenar em uma pasta no computador e acumular gigas de informação bruta.
Trimestralmente, a revista digital IdeaFixa – de artes visuais, ilustração, design e fotografia – recebe, por e-mail, bytes e bytes desses trabalhos. A publicação, no entanto, tenta manter vivo o toque, o nanquim e o papel em seus projetos especiais. Há um ano, o primeiro deles chegou a Fortaleza: a exposição Enox Expressions. Parceria entre a publicação e a rede de mídia indoor Enox, a ideia foi imprimir 39 peças de 32 artistas em papel fotográfico e fazê-los circular por 22 cidades em espaços reservados à publicidade alternativa, como banheiros de bares e restaurantes.
A aposta na itinerância física, fora da Internet, continua. Na última semana, mais um projeto chegou por aqui. Desta vez, a exposição vem em forma de um sketchbook (um caderno de rascunho), que vai sendo preenchido com arte enquanto viaja pelas mãos dos criadores. A ação começou em fevereiro de 2009, com a abertura de inscrições, e a seleção dos artistas participantes. Entre quase 500 candidatos, 89 foram selecionados. Dois deles do Ceará: Daniel Chastinet e Natalia Kataoka. “A seleção foi feita por qualidade do trabalho. Outro ponto importante foi a diversidade de estilos, mas não houve uma preocupação geográfica. As pessoas que entraram eram realmente as melhores”, explica Janara Lopes, editora da IdeaFixa e curadora do projeto Cadernos de Viagem.
Para que ele se tornasse realidade, Janara procurou a marca Caderno Listrado, que confecciona os sketchbooks artesanalmente. Desde então, quatro deles têm viajado e sido preenchidos com as mais variadas formas de arte: colagens, aquarelas, pop-ups (aquelas figuras que saltam do papel quando a página é aberta), tem de tudo. Em Fortaleza, a passagem ocorre em duas etapas. A primeira, cumprida na última sexta-feira, foi a intervenção do ilustrador Daniel Chastinet, 25. Oficialmente engenheiro civil, ele dedica o tempo entre uma obra e outra ao desenho.
“Comecei em 2006 fazendo desenho vetorial, no computador, para estampar camisetas e participar de concursos em sites. Aí fui conversando com outros criadores e aprendendo o que era legal e o que não era”, lembra. A ilustração analógica só veio depois, nas paredes do quarto, atrás da porta, na geladeira de um albergue onde morou por um tempo, na Argentina, em pedaços de tábua colhidos em obras. “O Caderno é massa porque tem coletivos de designers que trabalham principalmente com o digital. É como se chegassem e dissessem: ‘Agora me mostra o que você sabe fazer com as mãos’”.
O tempo de execução de sua colaboração para o Cadernos de Viagem foi de três dias. Para desenvolvê-la, ele pensou nas significações de uma viagem. Focado no tema “jogar o corpo no mundo”, ele desenhou com nanquim e tinta acrílica casas expulsando seus moradores e utilizou o recorte de um barquinho de lego. A segunda etapa teve início do último domingo. Daniel passou a bola para Natalia Kataoka, 24, que, oficialmente, é publicitária, mas se dedica à fotografia. “Ainda não decidi o que vou ser quando crescer”, ela brinca.
A história de Kataoka teve início na faculdade, com as disciplinas de fotografia. Com a câmera digital compacta do pai, ela ficou em terceiro lugar na Exposição de Pesquisa Experimental em Comunicação (Expocom), realizada no encontro nacional da Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom). “Eu não esperava que fosse conseguir uma colocação assim em um evento nacional. Foi quando eu percebi que poderia começar a experimentar com fotografia e comprei minha primeira câmera profissional”, rememora. A empolgação, no entanto, durou pouco tempo. “Comecei a perceber que não gostava tanto do digital. Tem pouco ruído, é muito limpa a imagem. Aí eu sempre ia no Photoshop botar sujeira”.
Em 2007, ela descobriu a lomografia, o tipo peculiar de fotografia feita a partir de uma câmera russa da marca Lomo. Feitas, em sua maioria de plástico – inclusive as lentes –, as lomos passaram a ser desejadas em todo o mundo por causa da distorção presente nas imagens produzidas. A tal sujeirinha que Kataoka procurava. “Hoje uso a digital muito mais para trabalhar. Quando quero tocar um projeto pessoal, só uso câmera de filme”, conta.
Dona de uma Holga, um modelo antigo de Lomo, é com a míni Diana que ela fotografa, esta semana, suas viagens para o Caderno. “Eu vou fazer diferente do Daniel. Não quero pensar viagem como um trajeto. Quero usar o mar, porque a gente está em Fortaleza, e o mar é um elemento muito forte, e quero usar pessoas com máscaras para fazer essa viagem”, adianta.
De São Paulo, o caderno que está em Fortaleza foi para o Rio de Janeiro, passou por Belo Horizonte e subiu para o Nordeste. Mas afinal, qual será o destino desse sketchbook artístico? “Os melhores trabalhos estarão num livro. Haverá uma exposição em algumas capitais, com fotos do processo, as imagens impressas e os cadernos - protegidos por uma redoma, claro. No final do processos, haverá uma festa em São Paulo com um leilão dos cadernos. O valor será revertido para instituições de caridade com foco no ensino das artes”, revela a editora Janara Lopes.
maio 10, 2010
Nova Lei de Fomento à Cultura em debate no Recife, Diário de Pernambuco
Matéria publicada originalmente no caderno Viver do Diário de Pernambuco em 10 de maio de 2010
A Nova Lei de Fomento à Cultura, o Procultura está em debate hoje no Recife. Acontece esta tarde, no auditório da Assembleia Legislativa de Pernambuco, o encontro regional do Procultura, que visa aderir ao Projeto de Lei 6.722/2010, que institui o Programa Nacional de Fomento e Incentivo à Cultura, com novas propostas, sugestões e moções.
Participam das discussões o secretário de Fomento e Incentivo à Cultura do Ministério da Cultura, Henilton Menezes; a secretária de Articulação Institucional do MinC, Silvana Meireles; o secretário de Políticas Culturais do MinC, José Luiz Herência; o coordenador nacional do Sistema Nacional de Cultura do MinC, João Roberto Peixe; a chefe da Representação Regional Nordeste do MinC, Tarciana Portella; além dos deputados federais, Maurício Rands, Raul Henry, Paulo Rubem Santiago e Alice Portugal, relatora do Projeto de Lei.
A iniciativa faz parte de uma série de debates convocados pela Comissão de Educação e Cultura da Câmara dos Deputados. Já foram realizadas reuniões públicas em São Paulo, Salvador, Curitiba e Porto Alegre. Ainda este mês também estão previstos debates no Rio de Janeiro, no dia 11; Belém, dia 14; Belo Horizonte, dia 17; e em Brasília, dia 24.
O ministro da Cultura, Juca Ferreira, aponta que os investimentos da renúncia fiscal estão concentrados no eixo RJ-SP, e que, mesmo nesses estados, apenas 3% dos proponentes ficam com mais da metade dos recursos.
Dentre as principais mudanças na Lei Federal de Incentivo à Cultura estão a renovação do Fundo Nacional de Cultura (FNC), reforçado e dividido em nove fundos setoriais; a diversificação dos mecanismos de financiamento; o estabelecimento de critérios objetivos e transparentes para a avaliação das iniciativas que buscam apoio financeiro; o aprofundamento da parceria entre Estado e sociedade civil para a melhor destinação dos recursos públicos; e o estímulo à cooperação federativa, com repasses a fundos estaduais e municipais.