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abril 15, 2020
Cancelada, SP-Arte informa que só devolverá um terço do investimento de galeristas por Clara Balbi, Folha de S. Paulo
Cancelada, SP-Arte informa que só devolverá um terço do investimento de galeristas
Matéria de Clara Balbi originalmente publicada no jornal Folha de S. Paulo em 6 de abril de 2020.
Comunicado pegou setor de surpresa; aluguel de um estande pode custar até R$ 100 mil
A SP-Arte comunicou aos galeristas que participariam da feira este ano que não ressarcirá integralmente o investimento deles na feira. Programado para o início deste mês, entre os dias 1º e 5 de abril, o evento foi suspenso por causa da pandemia do novo coronavírus.
Segundo um email enviado às galerias nesta quinta (9), apenas um terço dos pagamentos pelo aluguel dos estandes e por serviços extras serão devolvidos até o fim do mês.
Outro terço será retido para pagar a montagem do evento, que já tinha iniciado quando as medidas de distanciamento social começaram a ser decretadas no país.
A organização lista no texto gastos com, por exemplo, oito quilômetros de paredes construídas, 3.000 lâmpadas de LED e a aquisição das madeiras para construção dos estandes. Eles ainda afirmam que perderam a maioria dos patrocínios e, é claro, a receita da bilheteria.
O terço final será abatido da participação das galerias na feira do ano que vem.
O comunicado pegou de surpresa o setor –outras feiras internacionais suspensas por causa da pandemia, como a Art Basel Hong Kong, que aconteceria em março, ou a Frieze, em Nova York, prevista para maio, devolveram valores de maneira integral. Outras ainda negociam novas datas de realização. O aluguel de um estande na SP-Arte custa, em média, R$ 50 mil, e pode chegar aos R$ 100 mil.
Galeristas questionam se o seguro da feira não cobre uma situação como a do coronavírus. No ano passado, uma tempestade alagou parte do evento, mas a apólice cobriu o prejuízo dos estandes atingidos.
Eles também consideram exagerada a retenção de um terço do investimento para cobrir uma futura participação na feira, diz Thiago Gomide, da Bergamin & Gomide.
"Ninguém quer a SP-Arte endividada. Queremos ela como uma locomotiva do setor. Mas também estamos sem grana, pois não há ambiente de negócios algum [durante a pandemia]. Tem que haver um diálogo para que todos sofram o mínimo possível", ele afirma. "Podemos jogar uma boia salva-vidas, mas não um bote."
Gomide diz que a maior preocupação agora é com as galerias menores, para quem a devolução integral do investimento na feira pode significar uma sobrevida durante a pandemia. Ele diz que ele e representantes de casas estabelecidas buscam negociar com a organização para tornar menores os impactos financeiros dos espaços mais frágeis.
Um galerista que preferiu não se identificar avalia, no entanto, que a unilateralidade com a qual a feira soltou o comunicado explora justamente a desunião do setor. Ele afirma que a feira não teria uma atitude tão dura se acreditasse que as galerias conversam entre si, ou que a Abact, a Associação Brasileira de Arte Contemporânea, a confrontaria.
A organização da SP-Arte informa que está negociando com as galerias de forma individual e que conversa com as associações pertinentes.
Já a Abact diz que ainda está discutindo o tema com seus membros e que deve anunciar uma posição na semana que vem.
abril 12, 2020
Peste negra provocou retrocesso na arte; Covid-19 também poderá impactar setor por Maria Berbara, O Globo
Peste negra provocou retrocesso na arte; Covid-19 também poderá impactar setor
Artigo de Maria Berbara originalmente publicado no jornal O Globo em 11 de abril de 2020.
Historiadora Maria Berbara analisa efeitos da pandemia na Idade Média e indaga sobre o futuro da produção artística após coronavírus
"Nos tempos que correm tornou-se frequente recordar a grande pandemia de peste bubônica que assolou a Eurásia entre 1347 e 1351. Se já é difícil averiguar com exatidão — ou mesmo sem ela — números de infectados e vítimas da Covid-19 hoje em dia, determinar quantas pessoas pereceram durante o fatídico verão boreal de 1348, quando a pandemia atingiu seu pico, é missão impossível.
A partir de crônicas, imagens, censos, documentos administrativos e evidências genéticas, porém, pode-se fazer uma estimativa: a peste negra — mors nigra, como já em 1350 foi batizada — estendeu-se da Pérsia ao Egito, da Itália ao Marrocos, da Irlanda à Rússia, e dizimou entre 75 e 200 milhões de pessoas ao longo dos quatro anos que precederam e sucederam o pico da pandemia.
A enfermidade, causada pela Yersinia pestis, uma bactéria zoonótica geralmente encontrada em mamíferos de pequeno porte e em suas moscas, tem uma taxa de mortalidade extremamente alta — entre 30% e 60%, segundo dados da Organização Mundial da Saúde — para o tipo bubônico, que foi o que assolou a Eurásia em meados do século XIV.
Sua presença, estabelecida por estudos de aDNA (“ancient DNA”, ou DNA antigo) em sítios de sepultamento coletivo pesquisados em distintas localidades europeias, confirma a extensão cataclísmica da pandemia medieval. Crônicas contemporâneas falam da putrefação de pilhas de cadáveres em plena rua, dos sepultamentos em massa, do fanatismo místico, do banditismo, do caos econômico e social.
Petrarca, o grande humanista, escreveu em 1350 uma carta a um amigo expressando sua melancolia perante as perdas sofridas — incluindo a da sua célebre musa, Laura, a quem a peste ceifou em maio de 1348: “Como a posteridade entenderá que houve uma época em que, sem dilúvios, sem a conflagração do céu ou da terra, sem guerras ou outros desastres visíveis, não esta ou aquela parte do mundo, mas todo o globo despovoou-se? Onde já se viu ou ouviu semelhante calamidade? Em quais anais pode ser lido que lares ficaram vazios; cidades, abandonadas; colheitas, negligenciadas; campos abarrotados de cadáveres, e um horrível e violento deserto foi criado em todo o mundo?”
O grande clássico no campo dos estudos histórico-artísticos sobre a peste negra continua sendo “Painting in Florence and Siena after the Black Death”, publicado pelo americano Millard Meiss em 1951. Embora centrado na Toscana, o livro estabeleceu um importante paradigma para a análise de outras regiões europeias. A tese central do historiador da arte é que a inventividade revolucionária de Giotto, falecido em 1337 — alguns anos antes do início da peste, portanto — e de outros inovadores mestres ativos no início do século seria seguida por um retrocesso, um retorno ao conservadorismo religioso, à hierarquia espiritual, à representação do divino em detrimento do humano e ao que ele define como uma atmosfera de medo, pessimismo e culpa.
Meiss aponta que, graças à enorme prosperidade de que a Toscana havia desfrutado nas primeiras décadas do século XIV, membros das oligarquias capitalistas nascentes que governavam Florença e Siena haviam se convertido nos mecenas principais da arte religiosa toscana, estimulando artistas que, como Giotto ou os irmãos Lorenzetti, representavam cenas religiosas imbuídas de uma espiritualidade serena e de sentimentos profundamente humanos. A partir da crise pandêmica dos anos 1340, o sistema financeiro e comercial toscano colapsa e uma profunda recessão econômica se instaura.
Muitas das antigas oligarquias se extinguem, e o clero se enriquece graças a doações e testamentos de ricos mortos. Meiss estima que a população sienense tenha decaído de 42 mil para 15 mil pessoas, e a florentina, de 90 mil para 45 mil. Muitos pintores, escultores e arquitetos de renome são vitimados pela peste, e jovens aprendizes assumem suas funções. Seu público também se transforma: ao invés de sólidas e pujantes oligarquias, agora ordens religiosas, imigrantes e novos ricos que prosperaram na crise transformam-se nos grandes consumidores de uma arte doutrinariamente ortodoxa, onde a humanidade dos albores do século é substituída por uma maior ênfase no mundo sobrenatural e na autoridade da Igreja.
Os terrores do Juízo Final e da danação eterna ganham ênfase nos programas iconográficos, e multiplicam-se, em toda a Europa, imagens macabras de esqueletos e cadáveres em putrefação tomando de assalto cidades e campos. Embora, nas décadas seguintes à sua publicação, o livro de Meiss tenha recebido críticas pontuais, a tese central de que a peste negra tenha alterado o curso da história da arte toscana — e, por extensão, do Renascimento, tal como o conhecemos — permanece sólida.
Democratizar ou elitizar
Não esqueçamos que Meiss escreveu seu clássico poucos anos depois do fim da Segunda Guerra, com os olhos e a alma saturados pelas imagens terríveis da morte e da destruição em massa. Como a Covid-19 transformará a produção, apreciação e interpretação da arte e sua história? Alguns dos efeitos da pandemia, nesse campo, já se fazem sentir. Em poucas semanas museus foram fechados, mostras suspensas, e conferências canceladas. As artes visuais, subitamente, devem renunciar à esfera pública na qual circulam e da qual se nutrem.
Novamente a história pode dar-nos exemplos de como as artes reagiram a crises análogas: após a peste negra, por exemplo, parece ter havido um incremento na produção de obras devocionais menores e mais baratas, destinadas ao culto privado, em detrimento de grandes encomendas cívicas e religiosas. Muito mais recentemente, nos anos 1980, o forte ressurgimento da iconografia macabra (recordemos, por exemplo, a famosa caveira cravejada de brilhantes de Damien Hirst, a série de caveiras de Andy Warhol ou o autorretrato apoiado em uma bengala encimada por um crânio, de Robert Mapplethorpe) foi por alguns críticos associada aos horrores da Aids.
A recessão atingirá fortissimamente todos os setores da sociedade, e as artes — excluídas, assim como as humanidades, do horizonte prioritário de financiamento público — não serão poupadas. Por outro lado, o consumo virtual de produtos artísticos nunca foi tão alto, e, paradoxalmente, grande parte da população mundial que, antes, não dispunha de meios econômicos para frequentar museus, óperas ou teatros, pode momentaneamente desfrutar de exposições e espetáculos transmitidos gratuitamente online. Uma das questões mais relevantes que se discute no momento é, precisamente, se a virtualização das atividades artístico-culturais pode democratizar, ou pelo contrário, elitizar ainda mais a sua prática e consumo, relegando-a à esfera privilegiada dos que podem ter acesso permanente a uma internet de boa qualidade.
Mas, para além do sistema de arte, como a pandemia afetará a própria produção artística? Que novas alianças serão feitas entre a arte, a espiritualidade e a ciência? Em um mundo de “distanciamento social”, de que modo artistas poderão interagir com seu público? A qual novo horizonte cultural nos levará a inescapável crise social, moral, cultural e existencial que nos acometerá coletivamente? Certamente é cedo para responder a essas questões. Mas, enquanto nos preparamos para o impacto, podemos formular essas perguntas e lançá-las, como fez Petrarca, ao futuro."
Maria Berbara é mestre em História da Arte pela Unicamp, doutora em história da arte pela Universidade de Hamburgo (Alemanha) e autora de diversos estudos no âmbito do renascimento italiano e ibérico
abril 9, 2020
Crise do coronavírus na cultura exige medidas urgentes por Sérgio Sá Leitão, Folha de S. Paulo
Crise do coronavírus na cultura exige medidas urgentes
Matéria de Sérgio Sá Leitão originalmente publicada no jornal Folha de S. Paulo em 9 de abril de 2020.
Para Sérgio Sá Leitão, é fundamental que governo federal dê devida atenção ao setor cultural
[RESUMO] Medidas de apoio ao setor cultural do país são urgentes para enfrentar os efeitos econômicos devastadores da paralisação das atividades artísticas. Secretário estadual de Cultura de São Paulo alerta que, sem programas imediatos de crédito e fomento ao setor, pode não haver o que recuperar depois da pandemia.
O setor cultural e criativo foi um dos primeiros a sofrer o efeito devastador da crise econômica e social gerada pela pandemia do novo coronavírus. E segue como um dos mais impactados. Entre a segunda e a terceira semanas de março, as atividades nessa área foram a zero em quase todos os segmentos, à exceção da TV aberta e paga, do rádio e das plataformas de streaming e conteúdo sob demanda.
Eventos e espetáculos foram cancelados ou adiados; cinemas, teatros, museus, galerias, centros culturais, salas de shows e concertos, bares e livrarias foram fechados; e a produção de conteúdos e espetáculos foi paralisada. A oferta cultural está concentrada na internet, no cabo e na radiodifusão. Houve um aumento relevante na demanda por esses meios, o que não deixa de ser um alento.
Isso, no entanto, não alivia a crise no que diz respeito a boa parte das cadeias de valor da economia criativa brasileira. Trata-se, afinal, de um setor estratégico para o desenvolvimento de São Paulo e do Brasil, que responde por 2,64% do PIB nacional e 3,9% do PIB estadual e gera cerca de 2,5 milhões de postos de trabalho no país, sendo 1 milhão apenas em São Paulo. Com a pandemia e as necessárias medidas de distanciamento social, o cenário atual é um filme de terror.
Estudo realizado pela Secretaria de Cultura e Economia Criativa de São Paulo aponta que o setor cultural e criativo do estado deve perder em 2020 o equivalente a 1,7% do PIB estadual, ou R$ 34,5 bilhões, em virtude da crise. Cerca de 90% das empresas e instituições passarão três meses sem receita ou com receitas marginais, e o período de recuperação pode se estender por seis a nove meses.
O impacto sobre o emprego e os trabalhadores do setor é igualmente preocupante. Entre os postos de trabalho gerados em São Paulo, há 350 mil formais e 650 mil informais, temporários, MEIs (microempreendedores individuais) etc. Não apenas artistas e produtores, mas também técnicos e outros profissionais. No grupo de 350 mil, as demissões já começaram; no outro grupo, as receitas cessaram junto com as atividades.
Tome-se, por exemplo, o caso do teatro musical, que tem um impacto econômico anual de R$ 1,01 bilhão em São Paulo, segundo estudo da FGV Projetos. Todas os espetáculos que estavam em cartaz tiveram suas temporadas interrompidas, e os teatros estão fechados. Com isso, e considerando a estimativa de prazo de paralisia e recuperação, o prejuízo pode chegar a R$ 505 milhões, com a perda de 6.412 postos de trabalho.
Em tempos de “paz”, a política cultural deve ser entendida também como uma política de estímulo ao desenvolvimento econômico e social, por seu elevado efeito sobre a geração de renda, emprego e inclusão. Em tempos de “guerra”, como o atual, precisa ser encarada como uma das políticas anticíclicas prioritárias, inclusive por sua capacidade de reverberar positivamente sobre outros setores.
É fundamental que o governo federal inclua o setor cultural e criativo nas medidas anunciadas para mitigar o impacto negativo da crise sobre a economia brasileira, como fizeram os governos de países como Estados Unidos, Alemanha, Reino Unido e França. Ações específicas também são vitais, como a liberação imediata dos recursos do Fundo Setorial do Audiovisual e do Fundo Nacional de Cultura.
Em São Paulo, o governo estadual lançou há pouco duas linhas de crédito, na Desenvolve SP e no Banco do Povo, que incluem a economia criativa como um dos alvos prioritários. No primeiro caso, a demanda chegou a R$ 9,1 bilhões, para uma disponibilidade inicial de R$ 500 milhões. É um sintoma da urgência de medidas anticíclicas efetivas, como crédito e fomento. Sem isso, a recuperação pós-pandemia pode não ocorrer em setores como a economia criativa por absoluta falta do que recuperar.
Sérgio Sá Leitão é secretário de Cultura e Economia Criativa do estado de São Paulo e ex-ministro da Cultura.
abril 6, 2020
Galerista Bia Perlingeiro deixa relevante contribuição em formação da história da arte, Diário de Nordeste
Galerista Bia Perlingeiro deixa relevante contribuição em formação da história da arte
Matéria originalmente publicada no jornal Diário de Nordeste em 5 de abril de 2020.
Importante no circuito artístico cearense, a galerista deixa também notável legado na promoção de cursos, palestras e grupos de estudos; participantes de suas ações referendam os ensinamentos de Bia
"Minha vida é testemunha de um cuidado árduo, diário, afetuoso e forte dos ensinamentos que minha mãe quis passar para os outros, mas muito a mim”. As palavras do filho Victor reverberam o pensamento de quem teve o privilégio de conviver com Bia Perlingeiro, sobretudo aprender. Sua dedicação às artes extrapola as salas de exposições da Multiarte, prestigiada galeria de Fortaleza pela qual era responsável ao lado do marido, Max Perlingeiro, e do único filho. Bia faleceu no sábado (4), no Rio de Janeiro.
Para além das mostras de importantes nomes do cenário artístico nacional e da produção de catálogos realizadas, a galerista cearense criou espaços dedicados aos estudos da arte e processos criativos com grupos, palestras e cursos.
Bia coordenava dez grupos de estudos, mediados por cinco professores, sobre os mais diversos temas relacionados à história da arte. O mais recente, por exemplo, tratava das conexões entre arte e moda. “Não tinha a proposta de ser um curso engessado, era algo mais flexível, voltado para qualquer pessoa com mais interesse em conhecer sobre arte”, explica Karla Assunção, secretária pessoal de Bia e da Galeria Multiarte.
Os participantes dos grupos tinham ainda a oportunidade de estar em contato com artistas reconhecidos, obras e exposições em outros museus e galerias por meio de um intercâmbio muito valorizado pela galerista.
Semanalmente, Bia também promovia encontros com um grupo de artistas locais no intuito de partilhar experiências com Sérgio Helle, Cadeh Juaçaba, Cristina Vasconcelos, Marco Ribeiro e Sérgio Gurgel. “A Bia sempre foi muito generosa com os artistas daqui, sempre fez muita questão de ajudar. Não conheço uma pessoa em Fortaleza que tenha feito mais pela arte”, ressalta Sérgio Helle.
O esmero de Bia ecoa, da mesma forma, além-divisas do Ceará. João Cândido Portinari, fundador e diretor-geral do Projeto Portinari, ressalta a importância das ações realizadas pelo casal. O filho do pintor Portinari relembra, com satisfação, as oportunidades que teve de participar dos grupos da Multiarte.
O filho único de Bia e Max segue os passos dos pais e já exerce importante papel na Galeria como coordenador de projetos. Para Victor Perlingeiro, o legado maior é a força sem igual da mãe. “Ela construiu tanto, ajudou tanto, foi tão importante em vida, mesmo assim suas emoções maiores eram comigo, com meu pai e quem ela amasse, e ela amou muito! Não tenho dúvidas do seu protagonismo com sua vida”.
Os ensinamentos que Bia Perlingeiro transmitiu tanto para o herdeiro quanto para tantas outras pessoas no cenário das artes de Fortaleza são referendados em relatos de participantes de suas ações a seguir:
“Minha vida é testemunha de um cuidado árduo, diário, afetuoso e forte dos ensinamentos que minha mãe quis passar para os outros, mas muito à mim. Ela construiu tanto, ajudou tanto, foi tão importante em vida, mesmo assim suas emoções maiores eram comigo, com meu pai e quem ela amasse, e ela amou muito! Líder na escola, nas amizades, faculdade, em vários grupos, na vida. Irmã mais velha e cuidadora, mulher independente, empresária de nervos de aço, mãe leoa e feroz pra proteger os seus.” - Victor Perlingeiro, filho e coordenador de projetos da Multiarte
“Bia Perlingeiro traçou um caminho muito importante no cenário das artes visuais no país. Sua contribuição como mantenedora e facilitadora de diversos grupos heterogêneos de estudo e reflexão das artes plásticas trouxe muitos frutos. As exposições e publicações que coordenou, juntamente com o marido Max Perlingeiro, foram marcadas pela extrema qualidade. Levou as artes aos quatro cantos, influenciando uma geração de artistas e demais profissionais do segmento. Sua doçura e leveza marcaram.” - Ricardo Bacelar, Cônsul da Bélgica e pianista
"A Bia foi uma telha de vidro na minha vida. Nesse momento de dor imensa, encontro conforto na gratidão por ter convivido com ela. Como lidar com a ausência de tamanha presença? São muitos os ensinamentos que ela trouxe e carrego no coração.” - Bianca Cipolla, estilista e mediadora de grupo de estudos na Galeria Multiarte
“Era uma mulher visionária, delicada e cuidadosa com todos a sua volta! Nada passava despercebido do seu olhar, sempre atento e coberto de empatia e gentilezas. Bia formou uma rede de pessoas que pensam e fomentam a arte aqui no estado do Ceará, incentivando os estudos, as conexões e os artistas. Vai nos fazer muita, mas muita falta como amiga sempre fiel, e como articuladora de possibilidades na arte e na cultura.” - Adriana Helena S. Moreira, gestora do Espaço Cultural Unifor
“Neste ano, Bia Perlingeiro estava cheia de planos para fomentar o trabalho dos artistas cearenses. Sempre foi muito generosa com os artistas daqui, sempre fez muita questão de ajudar. Eu não conheço uma pessoa em Fortaleza que tenha feito mais pela arte. Era a vida dela, ela queria criar público para a arte na cidade. Bia era extremamente participativa, sempre estava a par do que acontecia nos projetos da Multiarte, fazia a programação, dava ideia e cobrava muito a gente.” - Sérgio Helle, artista plástico
“Bia foi uma fortaleza. Um verdadeiro exemplo de mulher admirável, de elegância, generosidade, inteligência, tão forte de força e de presença, de energia, de olhar profundo e encorajador, de abraço grande e gostoso, de um sorriso capaz de transformar um ambiente ou o dia. Sempre incentivadora de pessoas, realizadora, que realizou uma obra- prima nesta vida com tudo o que botou no mundo, construiu, criou, conectou e formou. Uma rede de alcance infinito, de pessoas, de entendimento.” - Anik Mourão, arquiteta
“Só tive o prazer de conhecer a Bia Perlingeiro, recentemente, no início deste ano, pelas mãos e pelo carinho da artista Ana Cristina Mendes, quando me disse que queria levar a dança para a Galeria. Do pouco - mas intenso - convívio, fica em mim a lembrança da paixão pela arte; do cuidado minucioso com tudo o que fazia; do respeito e do profissionalismo com que se dedicava às coisas; mas, sobretudo de sua alegria e de sua vivacidade.” - Andrea Bardawil, diretora da Companhia da Arte Andanças
"Bia era daquelas pessoas lindas por dentro e por fora, queria o bem sem olhar a quem. Foi uma das primeiras pessoas a me abraçar de verdade quando assumi a gestão do Mauc e me disse que o que eu precisasse poderia contar com ela! E não foi promessa ou palavras ao vento. Ela estava ali, sempre junto, apoiando, incentivando, ajudando. Se colocou também como apoio no campo pessoal, oferecendo casa, companhia, cuidado e atenção no meu pós-operatório e no que eu precisasse." - Graciele Siqueira, Diretora do Museu de Arte da UFC
"Tive o privilégio de conhecer e conviver com a Bia, especialmente, na sua Galeria; lugar de Aprendizagens e Encontros sobre Arte, sempre amalgamados pela estética e por afetos. Uma mulher especialíssima, à frente do seu tempo, que estará presente na nossa memória afetiva como alguém que agregava grupos de matizes e saberes variados, mobilizando-os ao pensar e ao fazer, de modo criativo. Corajosa, sensível e delicada, na mesma medida, primava pelo comprometimento com seu trabalho, com a vida, com seus amigos, cuidando de tudo e de todos, com muito carinho, solidariedade e delicadeza." - Grace Trocolli, professora da Unifor
"Com um sorriso aberto e lindo, seu olhar sempre brilhante de alegria, e um abraço carinhoso, era assim que a Bia recebia a todos nas exposições da Multiarte. Sua pessoa tinha um brilho de simpatia e carisma imediato. Sua competência iluminou e formou mentes e corações para amarem, familiarizarem-se e entenderem o valor do conhecimento da arte através dos grupos de estudos que formou. Bela, doce, competente, fina, exalava o perfume das orquídeas do seu belo jardim onde acolhia, com generosidade e sabores únicos, a todos." - Bete e Ricardo Bezerra
“Eu vivi 18 anos num mundo em que a Bia fazia parte. Ela me acolheu, me ensinou e me lapidou. Ela tinha uma espécie de superpoder de encontrar a força que existia dentro das pessoas e transformar as suas vidas. E com uma generosidade sem igual nos dava as suas lentes para que pudéssemos enxergar além. Amava e acreditava na arte com tanta potência que nos fazia amar e acreditar também”. - Karla Assunção, secretária particular da galerista
“Leonilson, o Leó, sempre me abriu portas e me trouxe grandes amigos. Nos últimos meses, ele me aproximou de Bia devido à exposição “Leonilson, na coleção de Antônio Dias”. Ficamos parceira, fizemos um ótimo trabalho juntas. É essa a lembrança que quero guardar de você, a amizade e carinho que nos uniu foi muito importante para mim!" - Nicinha Dias, irmã de Leonilson e presidente do Projeto Leonilson
“O Brasil perde uma pessoa determinada e engajada no trabalho cultural do nosso País. Junto ao Max, há trinta anos vem difundindo a necessidade da "Arte para que nossas vidas sejam a essência de nossa existência". Tivemos a alegria, felicidade de trabalhar com ela há mais de 15 anos, e hoje ela se foi. Mas deixou em nossas memórias: a vida, a felicidade e o profundo respeito pelas artes, os amigos, o marido, o filho e a família. Seu sorriso estará sempre brilhando no céu e no fundo dos nossos corações!!!!" - Jaildo, Stela e Matheus Marinho
“Ao longo de sua vida, Bia foi, passo a passo, construindo uma forma de proporcionar a todos uma experiência única de arte que dissesse ainda mais sobre a vida e os significados que ela poderia apresentar. Cada um tinha, ao sair dali materiais suficientes para repensar o viver ou analisar com mais cautela os gestos que deveriam ser impressos. Passando por ela, cada um deveria imaginar a marca que gostaria de imprimir nessa vida.” - Ana Cristina Mendes, artista plástica