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junho 30, 2019
Museu de Arte do Rio pode fechar as portas em setembro por Tatiana Campbel, BandNews
Museu de Arte do Rio pode fechar as portas em setembro
Matéria em áudio de Tatiana Campbel originalmente publicada na rádio FM Rio BandNews em 28 de junho de 2019.
A Cidade das Artes também pode sofrer com a falta de recursos da Prefeitura
Inaugurado há 6 anos e entregue no aniversário dos 450 anos da cidade o Museu de Arte do Rio corre o risco de fechar as portas a partir de setembro deste ano.
Além dele, a Cidade das Artes também pode sofrer com a falta de recursos da Prefeitura e parar de funcionar. De acordo com o MAR, foi assinado em abril um aditivo prorrogando o contrato de gestão até setembro.
Além disso, a instituição disse que entre 25 de maio e 25 de junho, bateu o recorde de público nesse período, com mais de 70 mil visitantes. O estudante Jefferson dos Santos frequenta o Museu de Arte do Rio e diz que fechar o local é apagar a história da cidade. A historiadora Claúdia Costa comenta que é como se estivessem privando o conhecimento. Já o estudante Renato Brito fala que deveria ser o contrário, investir na cultura.
De acordo com a secretária municipal de Cultura, Mariana Ribas, duas linhas de crédito tramitam na Prefeitura para tentar evitar o fechamento das unidades. Além disso, o Museu do Amanhã, o mais visitado do país, também sofreu com cortes de investimentos da Prefeitura.
No ano que foi inaugurado, por exemplo, dos R$ 40 milhões gastos de uma forma geral, a metade foi cedida pelo município. Entretanto, atualmente, apenas R$ 2 milhões são destinados ao museu.
Em nota, a Secretaria de Cultura informou que existe um estudo em andamento acerca da viabilidade de uma mudança na gestão, entretanto, sem previsão de quando será firmado.
A direção do Museu do Amanhã informou que a licitação com a Prefeitura é válida até o dia 30 de novembro deste ano.
Abaixo-assinado: Movimento Casa das Onze Janelas - Contra o desmonte!, Change.org
Abaixo-assinado: Movimento Casa das Onze Janelas - Contra o desmonte!
Décadas atrás constituiu-se um Gabinete de Papéis no Museu Casa das Onze Janelas, com projeto museológico e arquitetônico desenhado para acolher obras de arte em papel do acervo do Estado do Pará, nesse suporte tão delicado e frágil ao clima da região Norte.
Arquitetura, museologia, educativo etc., e vários profissionais envolvidos na construção desse ambiente com dinheiro público.
Espaço que ativa processos museológicos, história da arte e memória.
Assine este abaixo-assinado no Change.org
Nos últimos dias de abril de 2019 o Gabinete foi desmontado e remontado em outro prédio, sem consulta pública, sem considerar questões museais, sem reflexão sobre seu papel para a sociedade ou sobre os processos técnicos, conceituais, simbólicos e financeiros envolvidos em sua criação e permanência.
O mais grave: este espaço de arte foi desmontado para a construção de ambiente volta à gastronomia: há anos o Museu Casa das Onze Janelas é ameaçado de fechar para que lá se crie um polo gastronômico.
A sociedade se manifestou e o decreto foi extinto!
Agora, neste novo governo, retoma-se o mesmo desrespeito às artes. Na surdina, uma sala importantíssima para a Arte, a Museologia e a Cultura é desmontada sem debate com a sociedade!
Ajude na luta para reverter essa agressão e desrespeito ao povo do Pará!
Assine esta petição para que o Gabinete de Papéis volte e permaneça em seu local original, e o Museu Casa das Onze Janelas, o único museu de arte contemporânea do Pará, e do norte do país, não seja desmontado!!!
(Atualizado)
PELO MUSEU CASA DAS ONZE JANELAS!!!
Abaixo a Carta enviada pelo Movimento Casa das Onze Janelas:
CARTA ABERTA
Ao
Sistema Integrado de Museus- SIM
Sr. Armando Sobral
Diretor
Nos últimos dias diversos rumores vem tomando de assalto as redes sociais sobre mudanças de uso de salas do Museu de Arte Casa das Onze Janelas, mais especificamente sobre o fechamento da Sala Ruy Meira, que abriga o Gabinete de Papéis, para ser ocupada com projeto de museu gastronômico.
As informações veiculadas sinalizam claramente a retomada, pelo atual governo, do intento de criação de um polo gastronômico que se utiliza indevidamente dos espaços daquele museu de arte colocando em risco a permanência do projeto artístico legitimamente consolidado em 17 anos de atuação.
Lembramos que o referido polo foi foco de intenso embate entre o Governo do Estado, na gestão de Simão Jatene, e a sociedade civil, e a mobilização entre artistas e intelectuais gerou grande eco na imprensa, ultrapassou as fronteiras nacionais e culminou inclusive na revogação do decreto que continha as linhas gerais daquele projeto.
Considerando as manifestações de atores culturais sobre o assunto solicitamos ao SIM, e consequentemente à Secult, na pessoa de sua representante máxima, Sra. Úrsula Vidal, uma audiência aberta à comunidade em geral, para esclarecimentos sobre o referido projeto.
Acreditamos ser imprescindível, em um ambiente democrático, que decisões que afetam o uso de um equipamento cultural público já consolidado sejam tomadas a partir de consulta com o segmento social por ele atendido. Aguardamos, com brevidade, uma posição quanto ao referido pleito, certos de contar com sua compreensão.
Após tentativa de diálogo com a Secretaria de Estado de Culutra do Pará, em que todos os procedimentos foram questionados e não considerados, foi aberto pregão eletrônico para a abertura de espaços alimentares nas salas que eram destinadas ao educativo e exposições, conforme pode ser evidenciado no no fragmento do documento do pregão que descaracteriza os usos da Casa das Onze Janelas.
ABAIXO DETALHES DO PREGÃO QUE ACABA COM A FUNÇÃO DO MUSEU EM SEU PISO TÉRREO
"PREGÃO ELETRONICO 06/2019 - SECULT - PROCESSO: 2019/257957
A Secretaria de Estado de Cultura do Estado do Pará - SECULT neste ato, representada pelo seu pregoeiro, de- signado pela Portaria n o 356 de 31 de maio de 2019 torna público que realizará procedimento licitatório, na modalidade Pregão Eletrônico, pelo tipo MAIOR PERCENTUAL DE DESCONTO POR ITEM, cuja finalidade é selecionar a proposta mais vantajosa para a administração, que será julgada em restrita conformidade com os princípios básicos da licitação, segundo cláusulas e condições previstas neste Instrumento Convocatório e seus anexos, a seguir.
[...]
3.2. O Restaurante Das Onze que compreende o salão com paredes de pedras e a área para cozinha industrial será um espaço onde os visitantes degustarão o melhor da culinária paraense. A apreciação será através dos pratos preparados no local com produtos regionais, produtos estes que poderão ser vendidos na loja, a qual será instalada no salão com expositores que dilvuguem os produtos em questão, e o cardápio também poderão ser apresentados em formato tipo comidinha, tal como tapas amazônicas (utilizando-se de matéria prima como pupunha, palmito, pimenta e outras iguarias locais), as quais poderão ser preparadas no balcão que ficará na sala de pedras, que poderá dar suporte a eventos gastronômicos, tais como aulas, palestras e degustações. A CESSIONÁRIA terá um restaurante cujo cardápio e produtos para venda deverão ter identidade paraense.
3.3. O Café das Onze consiste em um local onde a CESSIONÁRIA disponibilizará para venda aos visitantes produtos típicos desse comércio, tal como cafés, licores, achocolatados, pães, tortas e doces, porém tendo como matéria prima preferencial o produto regional: o café e o achocolatado produzidos em terras paraenses, o licor e quitutes de frutas regionais ou de outro elemento típico do Pará. O espaço também será destinado à venda de Sorvetes com sabores de frutas regionais amazônicas, preferencialmente. Nesta área disponibilizada à CESSIONÁRIA poderá ser incluído o logotipo e o nome fantasia próprios do estabelecimento, porém há de se ter o cuidado da identidade visual não conflitar com as características do Espaço Cultural. 3.4. O Tacacá Das Onze será um quiosque destinado à venda de comidas típicas, tal como acontece em barracas caracterís- ticas desse tipo de comércio nas ruas de Belém. A CESSIONÁRIA disponibilizará de uma estrutura para a venda de comidas típicas, como por exemplo, o tacacá, vatapá, maniçoba e arroz paraense.
3.5. A Aldeia das Onze consiste em 07 (sete) empreendimentos do tipo “Food Bike”, ou seja, serão bicicletas ornamentadas seguindo uma estrutura e estética padronizadas para que nelas possam ser comercializadas as chamadas “comidas de rua”, que são tão comuns na nossa região: cachorro quente, açaí na cuia, churrasquinho, bebidas, pipoca e salgados da culinária paraense. Neste lote também se inclui o carrinho de Raspa-Raspa (bebida feita com raspa de gelo e suco de fruta), comércio móvel muito comum nos balneários paraenses. Tais empreendimentos deverão ser disponibilizados pela CESSIONÁRIA em área próxima ao chafariz, atualmente conhecida como Esplanada."
Assim, atualizamos as informações sobre o processos.
Subscrevemo-nos,
Atenciosamente.
Movimento Casa das Onze Janelas
Assine este abaixo-assinado no Change.org
Centros culturais do Banco do Nordeste têm programação cancelada e funcionários demitidos por Cinthia Freitas, G1
Centros culturais do Banco do Nordeste têm programação cancelada e funcionários demitidos
Matéria de Cinthia Freitas originalmente publicada no portal G1 em 26 de junho de 2019.
Fontes confirmam que já houve demissões. Já o CCBNB afirma que a medida “não implica desligamento de funcionários”
As unidades do Centro Cultural Banco do Nordeste em Fortaleza e Juazeiro do Norte, no Ceará; e Sousa, na Paraíba, tiveram a programação cultural cancelada sem previsão de retorno. Artistas parceiros do equipamento, com produções marcadas para os próximos meses, foram avisados nesta terça-feira (25), por telefone, de que seus projetos junto ao CCBNB foram cancelados. Fontes confirmam que já houve demissões. Já o CCBNB afirma que a medida “não implica desligamento de funcionários”.
Em nota, o Centro Cultural, mantido pelo Banco do Nordeste, informou que, “no momento, está reestruturando seu modelo de atuação, no intuito de modernizar a estratégia de funcionamento e ampliar parcerias com outras instituições”.
A justificativa da empresa para os artistas é um contingenciamento dos recursos.
Envolvido com o equipamento desde 2011, o guitarrista Caike Falcão vai cumprir a agenda até o fim deste mês. Outras cinco apresentações dele previstas no CCBNB Fortaleza para julho e agosto foram canceladas. “Me ligaram ontem da produção, pela manhã, confirmando o evento. Já à tarde ligaram dando a notícia [do cancelamento], porque rolaram cortes, que não iam conseguir manter a programação do restante do ano", confirma.
Fontes confirmaram ao G1 que pelo menos quatro pessoas já foram demitidas na unidade de Juazeiro do Norte. Sendo três funcionários da biblioteca e um diagramador. Outros prestadores de serviços foram avisados de que não vão ter os contratos renovados, portanto, devem ser desligados das funções no fim de julho.
O secretário da Cultura do Estado, Fabiano Piúba, vê a medida com preocupação. "O que está em questão não é apenas o fechamento, seja ele provisório ou não, é uma política de cultura do BNB. O BNB estabeleceu nos últimos quinze anos uma política de fomento à cultura do Nordeste muito forte. Sobretudo no semiárido, nas capitais da região, e depois como centros culturais", sinaliza.
O secretário afirma que vai propor, em reunião com outros secretários da Cultura da Região Nordeste, uma carta cobrando explicações ao presidente do BNB.
"O que a gente não pode permitir, falo enquanto secretário e ser que atua como artista, é um retrocesso desse. O Nordeste é uma região com carência de equipamento culturais, são ambientes fundamentais pro acesso e o fomento das artes na região", reforça.
Em maio, artistas retiraram as peças de uma exposição no Centro Cultural Banco do Nordeste que abordava casamento gay. O ato ocorreu em solidariedade aos artistas Eduardo Bruno e Waldírio de Castro, que tiveram uma faixa que fazia parte da exposição retirada pela organização do local.
'Desrespeito com a sociedade'
Um dos idealizadores do projeto Jazz em Cena, promovido pelo CCNBN Fortaleza há quatro anos, Dalwton Moura se diz impactado com a decisão. “Todo cancelamento é uma medida muito grave, muito prejudicial pra nossa cena musical e cultura como um todo. Cancelar shows já divulgados pro público, que seriam os de julho, é algo que é desrespeitoso com os músicos, com o público, com a sociedade”, apontou.
O produtor cultural recebeu a determinação por telefone, nesta terça. “O Centro Cultural apenas nos informou que os shows do projeto estavam cancelados até segunda ordem, sem prazo pra voltar. O prejuízo pra nós, pra essa cena, já é bastante relevante. Se torna ainda maior depois que ficamos sabendo que esse corte é geral. É algo extremamente negativo, um prejuízo inestimável”, lamenta.
Em um dos projetos, o músico Caike Falcão toca no CCBN ao meio-dia, e reforça a importância de dar acesso gratuito à cultura em um equipamento localizado no Centro da cidade e acessível para todas as camadas sociais.
“A gente via o tanto de gente que não teria tanto acesso à cultura ali, graças a esse projeto, participando. Tinha biblioteca, dança, jazz, forró. Acredito que a cultura e a arte devem ser democratizadas. Todo mundo deve ter acesso a isso. Fica um buraco enorme”, acrescenta.
Cadeia criativa e econômica
Érika Souza é produtora e trabalhou no seu último projeto com o CCBNB de Juazeiro este mês. “Na nossa cabeça tava tudo bem. Teve chamada, tudo direitinho, não havia sinais de algo dessa forma pudesse acontecer”, relembra.
Para ela, um equipamento cultural de programação gratuita tem impacto importante pro desenvolvimento da região do Cariri.
“Pra gente é um dos maiores equipamentos fomentadores da cultura, existia toda uma cadeia criativa e econômica que se se sustentava pelo CCBNB, tem uma cadeia inteira que está sendo prejudicada por esses cortes, assusta muito. Por muito tempo se acreditou que precisaria sair do Cariri pra ter visibilidade e trabalhar com cultura na nossa região, o CCBNB era um fôlego nesse sentido. Com essa perda, é uma sensação de orfandade”, complementa.
Trabalho voluntário
Conforme artistas que criticam a situação, a medida de contingenciamento e o estreitamento no quadro de colaboradores sinaliza que os equipamentos vão servir como locação.
Em Juazeiro, o Centro Cultural abriga uma das bibliotecas com maior acervo da região. Com a demissão de funcionários, o espaço passa a ser um local de ocupação, não sendo mais permitido o empréstimo de livros.
Elvis Pinheiro, curador e mediador do projeto Cine Café em Juazeiro há nove anos, vai trabalhar de forma voluntária no próximo mês, já que possui os direitos de exibição dos filmes já pagos.
“Vou continuar fazendo a movimentação dos cinemas, mas avisando que é uma ação voluntária minha pelo cinema, pelo audiovisual. Não é um trabalho voluntário pro CCBNB, mas para o Cariri”.
junho 16, 2019
Modelo concentrador mina criatividade no mercado da arte por Vivian Gandelsman, Folha de S. Paulo
Modelo concentrador mina criatividade no mercado da arte
Artigo de Vivian Gandelsman originalmente publicado no jornal Folha de S. Paulo em 9 de junho de 2019.
Diversificar mercado tornaria arte mais dinâmica e sustentável, diz especialista
[resumo] Apesar de ter voltado a crescer após a crise de 2008, a atividade de instituições e galerias é controlada por “superplayers”; seria saudável atuar para modificar esse padrão.
Só não enxerga quem não quer: o mercado de arte tem sido incapaz de oferecer terreno fértil para o surgimento e desenvolvimento de organizações e projetos de menor porte, independentes e inovadores. Para essas iniciativas, as dificuldades se tornaram tão profundas e frequentes que uma questão ecoa: por que condições de negócio tão críticas persistem sem esforços articulados e efetivos para superá-las?
Em mais de 200 entrevistas que gravei nos últimos quatro anos, em dezenas de cidades do mundo, como parte de uma pesquisa corrente, aparecem inúmeros relatos de barreiras implacáveis e ciclos de exaustão que mostram como a instabilidade financeira, as relações áridas e os ambientes hostis viraram regras com poucas exceções no meio da arte.
As causas desse cenário pelo menos não são desconhecidas —e tampouco insuperáveis.
Produzir, financiar ou vender arte significa operar com valorações abstratas, muitas variáveis e poucas métricas, o que por si só não é fácil. No entanto, para além das dificuldades inerentes, não houve evolução em como o jogo é conduzido.
Desde que se estabeleceu na década de 1990, o mercado global de arte tem funcionado sobre as mesmas bases, isolado dos debates construtivos trazidos por movimentos culturais recentes, que despontam em direção à descentralização, à diversidade e à autonomia criativa.
Até agora, o poder e o grosso dos recursos se distribuem entre um grupo restrito que parece repetir, em benefício próprio, os mesmos nomes, pensamentos e velhas fórmulas. São instituições e galerias tradicionais, de larga escala e ultracapitalizadas —todas confortavelmente estacionadas no núcleo do “mainstream”.
Trata-se de um meio extremamente propício para a assimetria de informação, a naturalização da informalidade, os insanos processos de precificação e as práticas obscuras que influenciam fortemente, não se sabe bem como, tendências mercadológicas e visibilidades de forma geral.
Para a maioria, resta apenas uma fantasia incômoda e asfixiante, com poucas possibilidades de ascender financeiramente ou criar legados relevantes.
Se considerarmos, por um lado, que as vendas globais já se recuperaram desde a crise do final dos anos 2000, e, de outro, que a maior parte das galerias e projetos institucionais de média ou pequena escala enfrentam desafios crônicos para fechar as contas, parece evidente o processo de consolidação de um punhado de superplayers ao custo do sufocamento de empreitadas de menor estrutura.
Segundo o relatório “Art Market Report da Art Basel e UBS (2019)”, o mercado global de arte apresentou um segundo ano consecutivo de crescimento em 2018, movimentando US$ 67,4 bilhões —crescimento anual de 6%. Segundo a mesma fonte, em 2018, os negociantes com faturamento abaixo de US$ 500 mil tiveram uma queda nas vendas de 10%, enquanto aqueles que operam acima desse valor viram seus negócios aumentarem. Galeristas com vendas abaixo de US$ 250 mil relataram a queda mais significativa no volume de negócios, com um declínio de 18%.
Diante das disparidades, destaca-se a necessidade de ações para criar um ecossistema mais saudável e abundante. Iniciativas de naturezas diversas, autônomas e experimentais são essenciais para a construção de cenas culturais complexas, fortes e sólidas.
A capacidade coletiva de perceber que certos obstáculos são compartilhados e a tentativa de superá-los com inventividade e colaboração têm sido fator decisivo no desenvolvimento da humanidade, transformando práticas, objetos e até sistemas inteiros para garantir nossa adaptação.
Ainda que muitas conversas sejam travadas informalmente, é raro vermos agendas comuns em torno de problemas estruturais —e mais raro ainda medidas práticas com o objetivo de promover mudanças significativas. No entanto, é possível agir sobre uma série de aspectos notoriamente danosos que, apesar de enraizados, podem ser extirpados.
Entre eles, cito a ausência de canais de comunicação baseados em uma ética que produza clareza, diligência e confiança nas trocas. Basta pensar no quão comuns são os e-mails sem respostas, os sumiços e as interrupções de diálogo abruptas.
Os resultados são a perda de inúmeras oportunidades de negócio e cooperação, o acúmulo de transtornos negligenciados e a manutenção de fachadas sociais que não favorecem ninguém e impedem fluxos de conhecimento fundamentais para lidarmos com problemas correntes.
Avançando no ponto da falta de transparência e comprometimento, nota-se como valores, regras e processos que perfazem o mercado de arte não derivam de acordos gerais amplamente difundidos. Isso gera um aumento desnecessário dos custos de transação e torna difícil o surgimento de novos atores —sejam artistas, galeristas, colecionadores ou patronos.
Não é por acaso que o mercado de arte se apresenta tão hermético para a maioria da população e tão sedutor para movimentações que em nada dizem respeito ao potencial transformador da experiência artística.
É certo que mudanças paradigmáticas e mobilizações de maior escala levam tempo, mas é possível abordar desde já, com pragmatismo, uma série de possibilidades. Por exemplo, fomentar eventos e mecanismos que aproximem feiras, galerias, artistas e colecionadores para viabilizar projetos relevantes e prósperos para todas as partes.
Para citar um caso óbvio: por que não revelar o preço das obras junto com as demais informações durante as feiras e as mostras em galerias? Esse gesto já simplificaria as coisas, permitindo que a discussão se voltasse para o que realmente interessa: o trabalho de arte em si.
Outro aspecto seria promover a colaboração na formação de profissionais autônomos como produtores, montadores, museólogos, vendedores e assistentes, entre outros. Ou seja, o esforço conjunto para qualificar esses agentes e criar oportunidades em rede não apenas para gerar novos quadros e organizar as condições de trabalho, como também para melhorar a qualidade e consistência das organizações envolvidas.
Isso demanda, porém, o reconhecimento dos muitos elos ao longo da cadeia de valores que envolve a produção artística; e análises sobre regulamentações básicas, como preços e responsabilidades de armazenamento, transporte, seguro e outras atividades acerca de exposições e vendas. Por fim, mas não menos importante, é urgente repensarmos papéis pedagógicos, levantando gargalos e potenciais de maneira que instituições e galerias possam impulsionar ideias, movimentos e espaços. Para que possam também promover atividades que engajem público maior e crescente, o que exerceria impacto positivo na abrangência do mercado, na qualidade das experiências e no número de trocas.
Os caminhos são muitos e parte deles é mapear ideias como as trazidas aqui — vindas de diálogos com colegas e interlocutores generosos que atuam em diferentes posições e contextos geográficos.
São apenas pequenos exemplos de como o intercâmbio genuíno sobre adversidades e desejos poderia produzir efeitos contínuos para oxigenar um mercado que, até agora, foi incapaz de se repensar estruturalmente e se preparar para os novos desafios à vista.
Nesse sentido, são essenciais investimento em encontros, debates, estudos e experimentos focados em exercícios coletivos de crítica e imaginação que gerem reciprocidade e soluções factíveis para problemas comuns. Que produzam cooperação em detrimento da competição demasiada, criando atmosferas mais vibrantes, cotidianos mais prazerosos e um real senso de comunidade.
É daí que poderá surgir um sistema mais inteligente e sustentável em diferentes níveis, tornando o meio mais próspero e dinâmico. Sem precisar esquecer sua função primordialmente comercial, é vital que o mercado se deixe inspirar pelo o que há de mais nuclear na arte: o exercício experimental e crítico em relação ao mundo.
Vivian Gandelsman é pesquisadora independente e fundadora do site Artload.
O texto teve a colaboração do crítico e curador Germano Dushá e da pesquisadora Fabrícia Ramos.