|
setembro 25, 2017
Censurada em Porto Alegre, mostra 'Queermuseu' será exibida no Rio, O Globo
Censurada em Porto Alegre, mostra 'Queermuseu' será exibida no Rio
Matéria originalmente publicada no jornal O globo em 23 de setembro de 2017.
Exposição foi cancelada pelo Santander Cultura após protestos
RIO — Conforme informou o colunista Ancelmo Gois, a mostra "Queermuseu", censurada pelo Santander Cultural, em Porto Alegre, será exibida no Rio de Janeiro. O local será o Museu de Arte do Rio (MAR). Ainda não há informações sobre a data da exposição.
O MAR falará sobre o assunto no início da próxima semana. O diretor cultural do museu, Evandro Salles, confirmou as negociações e disse que "há um interesse mútuo" de trazer a mostra para o Rio.
Procurado pelo GLOBO, Gaudêncio Fidelis, curador de "Queermuseu" não foi localizado até o momento. Em entrevista no dia 15, Fidelis chegou a falar em exibir a mostra em outras cidades — além do Rio, há expectativa de a exposição ir para Belo Horizonte.
— Recebemos propostas de várias cidades e estamos estudando. De Belo Horizonte, recebemos uma consulta de um assessor da secretaria de Cultura para saber se haveria o interesse de transferir a mostra para lá, caso a negociação se concretizasse. Aliás, eles obedeceram ao protocolo mais elementar, de consultar o curador para falar sobre a exposição, coisa que o Santander Cultural não fez.
ENTENDA O CASO
O Santander Cultural, em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, anunciou, no dia 10 de setembro, o cancelamento da exposição "Queermuseu — Cartografias da diferença na arte brasileira", após protestos na instituição e nas redes sociais. Em nota, o centro cultural afirmou ter entendido que as obras expostas "desrespeitavam símbolos, crenças e pessoas", o que não estaria alinhado com sua "visão de mundo". Críticos da mostra afirmaram nas redes sociais que alguns quadros representavam "imoralidade", "blasfêmia" e "apologia à zoofilia e pedofilia".
Aberta no dia 15 de agosto e prevista para acontecer até 8 de outubro, a "Queermuseu" contava com mais de 270 obras, oriundas de coleções públicas e privadas, que exploravam a diversidade de expressão de gênero. Na época em que a exposição foi anunciada, o Santander informava que "valoriza a diversidade e investe em sua unidade de cultura no Sul do País para que ela seja contemporânea, plural e criativa".
Entre os autores expostos na "Queermuseu", estavam Adriana Varejão, Alfredo Volpi, Candido Portinari, Clóvis Graciano e Lygia Clark. A mostra reunia pinturas, gravuras, fotografias, colagens, esculturas, cerâmicas e vídeos.
Após o cancelamento, ainda ocorreu uma tentativa de a mostra "Queermuseu" ser reaberta em Porto Alegre. O Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), no entanto, negou um pedido de tutela antecipada para a reabertura da exposição.
Ativistas usam bandeiras para cobrar museus sobre ausência de negros por Daniel Lima, Folha de S. Paulo
Ativistas usam bandeiras para cobrar museus sobre ausência de negros
Artigo de Daniel Lima originalmente publicado no jornal Folha de S. Paulo em 3 de setembro de 2017.
Ao invés de falar de memórias com personalidades, como é praxe neste espaço, recorro a anônimos e a encontros ocorridos a partir da intervenção da Frente 3 de Fevereiro, coletivo do qual participo há mais de 12 anos.
Em janeiro de 2015, instalamos uma bandeira gigante na fachada do Museu de Arte do Rio, localizado na praça Mauá, no centro da capital fluminense, voltado para o chamado Porto Maravilha. A flâmula questionava em letras garrafais: "ONDE ESTÃO OS NEGROS?".
O trabalho foi montado originalmente em 2006 para intervenções em estádios de futebol, em uma série da qual faziam parte outros dois estandartes: "BRASIL NEGRO SALVE" e "ZUMBI SOMOS NÓS".
Abrimos a bandeira pela primeira vez no jogo Corinthians x Ponte Preta, em Campinas. A Ponte foi, no futebol paulista, um dos primeiros times a aceitar negros na linha e, por isso, sua torcida ganhou a alcunha de macaca.
Na chegada dos jogadores para o segundo tempo, a frase se desfraldava sobre a arquibancada. Os jogadores se entreolhavam, trocando silenciosamente cúmplices perguntas: "É comigo?", "Sou eu esse negro?", "Somos nós?". O que uma pergunta tão embaraçosa fazia em um ambiente de fanáticas certezas?
No mesmo ano, em Buenos Aires, pusemos a bandeira no Palais de Glace. Foi a primeira vez que ela cobriu um museu. Deitada sobre a cúpula central, a frase ressoava por toda a exposição.
Alguns dias depois da abertura, um casal portenho nos abordou: "Aquí en el palais no los hay [negros]. Pero en las calles, los negros son los cabecitas negras". Eles se referiam a toda sorte de imigrantes da América do Sul vindos dos Andes. Bolivianos, peruanos, nativos.
Então, em 2015, estávamos montando a bandeira-pergunta na fachada do Museu de Arte do Rio para a exposição "Zona de Poesia Árida", da qual eu fazia a curadoria com Túlio Tavares. O vento da entrada da baía da Guanabara impunha um desafio único. Eis que um jovem negro que trabalhava como gari se aproximou:
– Sobre o que é isso?
Dei a resposta padrão artístico-pedagógica:
– Sobre o que você acha que é?
– Negros? Acho que é sobre o museu. Sobre a história da arte e o museu.
– Isso. Mas também onde estão os negros na sociedade.
– Essa pergunta também foi feita a um filósofo francês, Jean-Paul Sartre, quando veio ao Brasil –lançou o gari.
Lembramos a passagem da crônica "Onde Estão os Negros", de 1967, em que Nelson Rodrigues narra o incômodo do filósofo existencialista em sua visita ao Brasil. Depois de frequentar somente círculos sociais brancos, Sartre teria lançado a pergunta: "E os negros? Onde estão os negros?".
No dia seguinte, entretanto, a bandeira e a sua frase começaram a se rasgar com a força do vento. Ao meio-dia, sol a pino, trabalhadores em saída para o almoço, presenciei o suspiro derradeiro da bandeira. O rasgo se abriu de vez. Ato final da performance. Durante aquele adeus, chegou ao meu lado um homem:
– Que besteira é esta? Cada coisa que a gente vê! Não tem que fazer essa pergunta, não. Que coisa é essa de negro? Onde o negro tá? Vem com essa de direitos humanos, de Amarildo...
É a pergunta que não quer calar no Brasil, o país que mais recebeu negros escravizados em todo o mundo. O trabalho é uma luta para inscrever novas perspectivas e passa pela reinvenção dos conceitos que possam nos colocar todos num mesmo lado de uma mesma resistência. Convocar o negro não como fortaleza identitária, mas como ponto de partida comum, referência a partir da qual se tem aonde ir.
É como proclamava a Constituição do Haiti de 1805, após a revolta escrava ter tomado o poder: "Todos os cidadãos, de aqui em diante, serão conhecidos pela denominação genérica de negros". E aqui no Brasil: onde estão os negros?
DANIEL LIMA, 44, artista visual, é curador da mostra Agora Somos Todxs Negrxs?, em cartaz no Galpão VB, em São Paulo, até 16/12.
setembro 18, 2017
Não há arte possível para a gente de bem por Daniela Name, O Globo
Não há arte possível para a gente de bem
Artigo de Daniela Name originalmente publicado no jornal O Globo em 12 de setembro de 2017.
A autocensura transformada em censura pelo Santander Cultural é um sinal dos dias sombrios que atravessamos
Uma exposição que inflamou aquela cidade fria. Os cidadãos de bem comentavam, mesmo sem ter visto. As mães protegiam seus filhos daquelas telas, esculturas, fotografias e objetos, consideradas uma ameaça à família, ao espírito nacional, aos altos valores. Cada obra como um ataque premeditado à ordem; cada defensor desse tipo de arte como um pervertido, pedófilo, bandido ou prevaricador — talvez todos os atributos combinados. Uma patrulha civil, milícia da moral, de plantão do lado de fora, abordando e intimidando as pessoas. Afinal de contas, quem não é pelo bem compactua com o mal. Porto Alegre? MBL? Mostra queer? Não. Este texto começou em Munique, onde, há exatos 80 anos, em 1937, um certo Adolf Hitler transformou a mostra "Arte degenerada" em uma de suas principais peças de propaganda ideológica.
Nas paredes e no espaço, obras de Piet Mondrian, Emil Nolde e Oskar Schlemmer, entre outros grandes nomes da arte moderna. Esteticamente, eles representavam a ruptura com a ideia de verossimilhança e com o sistema de representação ordenado e hierárquico vigente desde o Renascimento.Simbolicamente, apontavam para a arte como um horizonte de ambiguidades, de opacidade e de ficção; um campo sem compromisso com o real; um impulso sempre faminto de liberdade e de utopia. E, é claro, um perigo avassalador para a intolerância e o discurso monocórdio de Hitler. A exposição "Arte degenerada" deu ao ditador a chancela para a destruição de obras dos artistas participantes e também de Picasso, Kandinsky e Matisse — todos vistos como vetores "judaico-bolcheviques". O resto da história conhecemos bem — ou ao menos deveríamos: obras de arte queimadas, escondidas, destruídas. Artistas e pensadores fugindo ou morrendo.
Na Porto Alegre do último feriado, uma instituição financeira internacional, o banco Santander, fechou um projeto que se dispôs a patrocinar. Uma exposição apresentada à opinião pública como um libelo a favor da diversidade, inaugurada há menos de um mês. No Rio, não vi a montagem da mostra, embora conheça bem boa parte das obras selecionadas pelo curador Gaudêncio Fidélis.
Ao percorrer os trabalhos reunidos em "Queermuseu — Cartografias da diferença", percebo que o subtítulo sintetiza muito melhor esse projeto do que seu título. Trata-se de um conjunto que procura debater, antes de mais nada, a importância da alteridade, e não apenas através de um filtro das bandeiras LGBT. Há um retrato de Portinari e obras relacionais de Lygia Clark mescladas a trabalhos de forte conteúdo erótico, como as fotos de Alair Gomes. E de outros trabalhos que apresentam cenas de sexo, mas para que elas discutam alto muito além dele, caso do trabalho "Cena interior II", de Adriana Varejão, uma reflexão profunda sobre os estupros e os bastardos produzidos em nosso período colonial. É uma mostra sobre duelos diversos para a conquista da diversidade, propostos por um grupo de obras que não veio ao mundo para nos oferecer paz. A arte e o museu contemporâneos serão sempre mais potentes quanto forem menos apaziguadores — e a reação à mostra gaúcha é apenas uma comprovação disso.
"Queermuseu" não ataca a fé católica, embora critique as instituições religiosas. Fala de sexualidade, mas não é uma mostra pedófila. Nesse quesito, aliás, seria difícil para a arte concorrer com a própria Igreja, com cada vez mais casos de crimes sexuais vindo à tona, para constrangimento de seu Papa progressista. A mostra que se propunha a realizar uma "cartografia da diferença" não é exclusivamente gay ou trans, mas, se fosse, o patrocinador já sabia de seu conteúdo meses antes da inauguração. Como então se arrepender apenas por uma reação da audiência? Cultura se faz pelo número de "likes" ou de "grrrrrr"? Um promotor de cultura recua sob ameaças?
Uma das manobras dos ataques produzidos presencialmente ou nas redes sociais pelo MBL e os grupos de direita contra "Queermuseu" foi a do escândalo que seria usar dinheiro público para patrocinar "pouca vergonha". Mas não seria vergonhoso mesmo usar dinheiro público para fazer uma exposição que tem alto custo de montagem, transporte, seguro e de catálogo, e depois fechá-la antes do prazo previsto?
A autocensura transformada em censura pelo Santander Cultural, instituição que tem uma folha corrida de grandes iniciativas na capital gaúcha e no resto do país, é um sinal dos dias sombrios que atravessamos. Assistimos, boquiabertos, à patrulha a Chico Buarque e a Letícia Sabatella, entre outros artistas considerados de esquerda. Chico voltou a ser atacado por grupos distintos no lançamento de seu último CD, por motivo semelhante a uma das causas que faz ˜Queermuseu" ser fechada: estamos perdendo a capacidade de compreender a metáfora e a ficção. No caso específico da arte contemporânea, de compreender que não há mais um espelho possível para um mundo de imagens ordenadas, reconhecíveis e inócuas. Um mundo que só existe na cabeça dessa gente honrada que odeia gays, pobres e negros. Dessa gente honrada que odeia. Ponto.
O caso de Porto Alegre, no entanto, amplia a estratégia miliciana desses grupos ultraconservadores ao associar a arte ao mal; os artistas aos aproveitadores dos recursos públicos, vagabundos que querem roubar o dinheiro suado (?) e o sono tranquilo (?) dessa "gente de bem". Teríamos a oportunidade de pensar os métodos distorcidos de patrocínio no país, deixando nas mãos da iniciativa privada a prerrogativa de realizar e de cancelar um projeto como "Queermuseu". Teríamos a chance de notar, mais uma vez, o quanto os monólogos intermináveis das redes sociais nos tornam cegos e surdos. Mas não conseguiremos fazer isso a um passo da degeneração. Ou já mergulhados nela.
* Daniela Name é crítica de arte e curadora
Artistas acusam Santander Cultural de censura por Nelson Gobbi, O Globo
Artistas acusam Santander Cultural de censura
Matéria de Nelson Gobbi originalmente publicada no jornal O Globo em 12 de setembro de 2017.
Cancelamento de exposição por críticas a seu conteúdo moral gera reações pelo país
RIO — O cancelamento da exposição “Queermuseu — Cartografias da diferença na arte brasileira” no Santander Cultural, em Porto Alegre, virou alvo de acalorados debates e acusações. Inaugurada no dia 14 de agosto, a mostra deveria ficar em cartaz até 8 de outubro, mas foi fechada depois que grupos pressionaram a instituição contra o que chamam de promoção de pedofilia, zoofilia e blasfêmia. Ao saberem da decisão, artistas, curadores, produtores de arte, mas também economistas, professores e profissionais de diversas áreas se manifestaram contra a posição do Santander. Ontem à tarde, a instituição anunciou que irá devolver à Receita Federal os R$ 800 mil captados pela Lei Rouanet para realizar a exposição. ONGs e entidades que se dedicam à promoção dos direitos LGBT marcaram para esta terça-feira, às 15h30m, em frente ao Santander Cultural, um ato em repúdio à decisão e em defesa da liberdade de expressão. Herdeiros da artista Lygia Clark (1920-1988), que tem duas obras na coletiva, prometeram participar. Além disso, circula na internet um manifesto, que até ontem à noite contava com cerca de 3.800 assinaturas reivindicando a reabertura da mostra.
Curador da exposição, Gaudêncio Fidelis disse que se sentia ameaçado por postagens nas redes sociais, dada a proporção que o debate tomou. Curador de duas edições da Bienal do Mercosul (em 2005, como adjunto, e em 2010, como curador-geral), Fidelis afirma que a decisão do instituto abre um precedente perigoso:
— Acredito que nunca tivemos no período democrático o caso de toda uma exposição ser cancelada por questionamentos morais do seu conteúdo. Em dois, três dias, os grupos articulados para depreciar a mostra, ligados ao MBL (Movimento Brasil Livre) conseguiram criar uma narrativa totalmente deturpada das obras apresentadas, que viralizou rapidamente. O fato de a instituição ceder aos apelos desses grupos em vez de se colocar ao lado dos artistas aumenta a gravidade desse episódio. A partir de agora, qualquer grupo poderá se sentir no direito de dizer o que a arte deve ser, e o que as pessoas devem ver, escutar.
No domingo, o banco divulgou nota oficial justificando o fechamento, e nesta segunda, em mensagem aos clientes, lamentou que o conteúdo da exposição tenha sido considerado ofensivo “por algumas pessoas e grupos”. O MBL acusa “Queermuseum” de “desrespeitar símbolos, crenças e pessoas”. Em sua página no Facebook, o movimento alegou: “A mostra promove intolerância religiosa e tem uma postura intransigente. É o típico trabalho sujo feito para denegrir ainda mais os já marginalizados pela sociedade”.
As obras que provocaram mais indignação no grupo são “Cruzando Jesus Cristo com Deusa Schiva”, de Fernando Baril, “Travesti da lambada e deusa das águas”, de Bia Leite, que traz essa inscrição sobre a imagem de duas crianças, e “Cenas do interior II”, de 1994, de Adriana Varejão, que reúne pessoas e animais.
Adriana expressou, em nota, sua posição: “Esta é uma obra adulta feita para adultos. A pintura é uma compilação de práticas sexuais existentes, algumas históricas (como as chungas, clássicas imagens eróticas da arte popular japonesa) e outras baseadas em narrativas literárias ou coletadas em viagens pelo Brasil. O trabalho não visa julgar essas práticas. Não faço apologia a nada; como artista, apenas busco jogar luz sobre coisas que muitas vezes existem escondidas. É um aspecto do meu trabalho, a reflexão adulta.”
Fernando Cocchiarale, curador do Museu de Arte Moderna do Rio, disse ser lamentável que grupos possam ditar o conteúdo exibido numa instituição:
— O fato de obras de qualquer natureza estarem expostas não quer dizer que as pessoas sejam obrigadas a vê-las, ninguém precisa se defrontar com elas se não quiser. O debate está dentro dos objetivos da arte, desde que feito dentro dos limites da sociedade de direito. Afrontar a liberdade de expressão e criação é um retrocesso que não imaginávamos ver em uma sociedade desenvolvida.
Curadora da exposição da fotógrafa americana Nan Goldin no Museu de Arte Moderna em 2012 — após o Oi Futuro, onde a mostra seria realizada inicialmente, tê-la cancelado alegando que algumas imagens, ao envolver crianças, feriam o Estatuto da Criança e do Adolescente — Ligia Canongia também lamentou o episódio:
— A arte é um dos raros territórios em que o cidadão pode, ou deveria poder, se manifestar sem medo de opressões. Atos de censura não só demonstram um Brasil arcaico e preconceituoso, como alimentam o desrespeito e a ignorância.
“CENSURA EM ESTADO PURO”, DIZ PAULO SÉRGIO DUARTE
Um dos mais engajados artistas dos anos 1960 e 70, com obras censuradas pela ditadura, Antonio Manuel diz que não esperava se deparar novamente com “tamanho retrocesso”:
— É como no caso de “Repressão outra vez”, uma obra minha de 1968. Estamos testemunhando a volta dos julgamentos morais sobre a arte, que é maior do que toda essa mesquinharia.
O crítico e historiador de arte Paulo Sérgio Duarte classificou o episódio como “uma das mais graves ocorrências culturais negativas desde a redemocratização do país”:
— Trata-se de censura em estado puro acompanhada de ações políticas diretas que poderão imperar caso se multipliquem ações semelhantes e não houver ampla mobilização de todos os democratas contra esse fechamento da exposição.
Museus já adotam autocensura para evitar repetição do caso Santander por Antonio Gonçalves Filho, O Estado de S. Paulo
Museus já adotam autocensura para evitar repetição do caso Santander
Matéria de Antonio Gonçalves Filho originalmente publicada no jornal O Estado de S. Paulo em 12 de setembro de 2017.
O Masp, por exemplo, colocou cortinas pretas nos desenhos eróticos do pernambucano Pedro Correia de Araújo, que o espectador interessado pode levantar para ver
O caso da exposição Queermuseu - Cartografias da Diferença na Arte Brasileira, cancelada pelo Santander Cultural de Porto Alegre, após protestos que viralizaram na internet contra o conteúdo da mostra, não é o primeiro nem será o último a levantar a questão da censura às obras de arte por meio da pressão financeira. Há três décadas, o Congresso americano cortou o fundo de quase US$ 100 milhões do National Endowment for the Arts (NEA) por patrocinar mostras de artistas como os fotógrafos Robert Mapplethorpe e Andres Serrano, após sofrer pressão de grupos como o America Family Association. Hoje, o NEA recebe a punição do governo Trump por ter promovido no passado exposições polêmicas como a mostra brasileira. Queermuseu foi montada com dinheiro da Lei Rouanet (R$ 800 mil), que será devolvido aos cofres públicos conforme promessa do Santander.
O exemplo do Santander Cultural de Porto Alegre se compara ao caso das poses homoeróticas dos modelos negros de Mapplethorpe ou das imagens anticlericais de Andres Serrano, que, em 1989, provocou escândalo ao exibir a foto de um crucifixo mergulhado num líquido âmbar que jurava ser sua própria urina. A mostra gaúcha tinha vários trabalhos de conteúdo considerado ofensivo pelas entidades que protestaram contra – e conseguiram fechar – a exposição, entre eles a obra Cena de Interior 2, realizada pela pintora Adriana Varejão.
Versão paródica da 'shunga', a antiga gravura erótica japonesa, em que os personagens orientais são substituídos por senhores abusando sexualmente de seus escravos, a obra de Varejão não é nem mais nem menos artística (talvez menos elaborada) que os originais de um Hokusai. Numa das gravuras do japonês, uma mulher faz sexo com um polvo – e vale lembrar que Hokusai era um homem do século 18, também autor de 36 líricas vistas do Monte Fuji. Nenhum museu civilizado proibiu até hoje a exibição do clássico Hokusai (1760-1849), endeusado pelos pintores impressionistas. Nem censurou sua zoófila imaginação.
Aqui mesmo em São Paulo, no Masp, temos uma exposição retrospectiva de desenhos e pinturas de Pedro Correia de Araújo, ativo nos anos 1920 e 1930, em que a curadoria, talvez antevendo reações de movimentos como o MBL (Movimento Brasil Livre) – que precipitou o encerramento de Queermuseu–, cobriu com uma pequena cortina preta as cenas eróticas desenhadas pelo pernambucano. Para ver, o espectador deve levantá-la. É o mesmo caso de Hokusai e Varejão: devem os museus expurgar o conteúdo erótico de suas instalações? Deve o mesmo Masp fechar as portas da retrospectiva de Toulouse-Lautrec por exibir obras de sexo explícito entre mulheres?
O Masp encontrou uma forma de manter esse tipo de conteúdo acessível apenas a maiores de idade, adotando o procedimento de avisar que a mostra não é apropriada para todas as idades. Contudo, uma cortina preta não deixa de ser equivalente a uma tarja, a uma censura de conteúdo. É preciso, afinal, discutir se o Brasil vai ou não patrocinar mostras como a gaúcha Queermuseu ou imitar o exemplo de Trump, que, em março deste ano, enviou ao Congresso uma proposta de eliminar por completo a verba do National Endowment for the Arts.
A censura, considerada como supressão de palavras ou imagens consideradas ofensivas, pode partir do governo ou de grupos de pressão, como os que postaram na internet o vídeo que levou ao cancelamento da exposição Queermuseu. Sendo a censura governamental de caráter inconstitucional nos EUA, é fácil concluir que Trump exerce mecanismos de pressão econômica para dificultar o acesso a verbas públicas de artistas não alinhados com sua visão do que seja arte. Não foi muito diferente a estratégia usada por grupos brasileiros de pressão para levar o Santander Cultural a cancelar sua mostra. Nesse particular, talvez seja bom lembrar que uma sociedade livre é aquela em que os indivíduos podem decidir que arte querem ver. Ou fazer.
'Papel da arte é fazer pensar', diz pesquisadora após exposição sobre diversidade ser cancelada em Porto Alegre por Janaína Azevedo e Hygino Vasconcellos, G1
'Papel da arte é fazer pensar', diz pesquisadora após exposição sobre diversidade ser cancelada em Porto Alegre
Matéria de Janaína Azevedo e Hygino Vasconcellos originalmente publicada no portal G1 em 11 de setembro de 2017.
Ataques nas redes sociais e no próprio museu motivaram o cancelamento. Para MBL, que coordenou as críticas, não é um caso de censura. Especialistas em arte e gênero discordam da decisão.
O cancelamento de uma exposição de diversidade sexual em Porto Alegre, no último domingo (10), levantou a discussão sobre o papel da arte na sociedade. Para um grupo de pessoas, a mostra, que ganhou o nome de Queermuseu, foi considerada ofensiva porque, segundo eles, promoveria a pedofilia, zoofilia, além de um ataque contra a religião e os bons costumes. A reação foi coordenada pelo grupo Movimento Brasil Livre (MBL).
A exposição, sediada no Santander Cultural, no Centro de Porto Alegre entrou em cartaz no dia 15 de agosto e ficaria até o dia 8 de outubro.
Para Ana Albani de Carvalho, professora do Instituto de Artes da UFRGS e pesquisadora das relações entre arte e política, na arte moderna e contemporânea, não são raros os casos em que os artistas demonstram uma perspectiva crítica com certos temas que, muitas vezes, atingem o limite do intolerável para alguns públicos. Mas isso não significa que tais obras devam ser censuradas.
"É difícil para muitas pessoas fazerem uma apreciação de uma obra que apresenta algo polêmico, e que [na visão dos críticos] estaria fazendo uma apologia, quando na verdade essa obra tem sentido de crítica, de ironia", avalia a pesquisadora.
Essa é a missão das obras artísticas, na visão de Ana. "Propor ao espectador que faça uma reflexão sobre o tema". Por isso, um quadro com imagens de crianças, ou uma instalação com deboches à determinada religião, por exemplo, não devem ser levados ao pé da letra, nem interpretados como apologia. "Se a arte tivesse tanto poder de convencer alguém a praticar algo, considerando todas as obras que mostram coisas belas, nós viveríamos no paraíso", analisa.
"A obra vai incentivar mais do que o próprio dia a dia da cidade? Do que os noticiários?", comenta a especialista.
Ana, que também atua como curadora de arte nas instituições da cidade, foi na abertura da Queermuseu, em agosto, e lamenta a decisão de fechar a exposição. "O ideal seria trazer esses grupos [que criticaram as obras] para uma discussão aberta, junto com todos".
O problema é que neste episódio específico, como comenta Ana, aqueles que levantaram acusações sobre a exposição não demonstram estarem abertos à troca de ideias. "Se uma pessoa chega com abertura, você estabelece um diálogo. Mas, se ela vem com a ideia pronta, fechada, agressiva, ou se reage com sarcasmo, tentando manipular ou afrontar as tuas palavras, isso fica difícil", analisa.
Já a professora e pesquisadora de educação e relações de gênero da UFRGS Jane Felipe classificou como "lamentável" a reação de algumas pessoas.
"[Elas] visivelmente não compreendem que o principal papel da arte hoje é fazer pensar. Muitos ainda têm uma visão romântica da arte como sinônimo de beleza e perfeição, por isso talvez se choquem com algumas obras e não consigam entendê-las na sua dimensão de trazer algumas reflexões sobre determinados temas", entende a pesquisadora.
"A arte está aí para fazer pensar e desestabilizar certezas. Não pode haver esse tipo de policiamento de uma arte mais certinha e mais palatável."
Para Jane, o problema não está na arte nem nos artistas. "O problema está no desconhecimento e desinformação das pessoas, na falta de capacidade de abstrair e refletir sobre o mundo a partir de diversos pontos de vista. É preciso admirar, isto é, olhar com atenção, ficar em silêncio e refletir sobre o que a arte tem a nos oferecer", salienta a professora.
Já a mestre em gênero, mídia e cultura Joanna Burigo entende que a situação está relacionada com atuação de grupos conservadores, que pretendem manter a ordem e a tradição, que, para ela, limita as possibilidades de expressão.
"É uma ordem social na qual sexo, sexualidade e identidade de gênero precisam ser constituídos de acordo com certas balizas: nominalmente, a heterossexualidade compulsória e a hierarquia de gênero", descreve. "Expressar-se livremente contra mecanismos de controle não é um acinte – esta é a própria livre expressão", observa ela.
Joanna diz não estar surpresa com o pedido de suspensão da exposição. "Até aí, nenhuma novidade. São eles os agentes da manutenção de uma ordem e uma tradição que excluem. O que assusta é o Santander ter acatado." Ela, que é fundadora da Casa da Mãe Joanna, enxerga outra perspectiva para o caso: o de incentivar ainda mais a produção de arte "independentemente de censuras".
'Foi um nível de agressividade que eu nunca tinha visto', diz curador
Em entrevista ao G1, o curador da exposição, Gaudêncio Fidelis, afirmou que foi xingado por integrantes do Movimento Brasil Livre (MBL), que estão envolvidos nos ataques, dentro do Santander Cultural. Além dele, frequentadores da mostra também foram abordados, o que Gaudêncio classifica como "ataques sistemáticos", que iniciaram a partir de quarta-feira (6) e prosseguiram durante o fim de semana.
"Eles ingressaram na exposição atacando público com câmera em punho, perguntando se gostavam de pornografia, de pedofilia. Foi um nível de agressividade que eu nunca tinha visto. " Segundo Gaudêncio, os seguranças intervieram e retiraram os integrantes do MBL do local, devido aos cuidados necessários com as obra.
O curador lembra que fotografias e vídeos no local são proibidos. "Não se pode ingressar em exposição e infringir direitos de imagem, não pode editar, tirar de todo o contexto, infringir todos os direitos, atribuir frases que não falaram."
Os ataques seguiram nas redes sociais, com mensagens ofensivas.
"Não é só incômodo, mas as manifestações nas redes sociais são, na maioria, de pessoas que não viram exposição", entende o curador.
Questionado sobre a acusação de incitar pedofilia e zoofilia, Gaudêncio considera que as peças foram descontextualizadas e que o MBL criou uma falsa narrativa.
"Isso foi feito com base em narrativa falsa, imagens e vídeos editados. O MBL resolveu transformar a exposição como plataforma de visibilidade."
Gaudêncio conta que soube do cancelamento da exposição por um amigo, via mensagem de whatsapp, ainda no domingo. "Foi um choque", declara. "Estamos diante de uma situação complicada, grave e trágica para a comunidade artística brasileira. Um grupo (MBL) decidiu o que podemos e o que não podemos ver."
Para coordenador do MBL, censura não é 'questão central'
Em entrevista à rádio Gaúcha, um dos coordenadores do MBL, Kim Kataguiri, admitiu que o movimento organizou um boicote à exposição e ao próprio banco. Entre as ações estava a realização de campanhas pelas redes sociais. Por outro lado, ele negou os "ataques sistemáticos", referidos pelo curador da exposição, por integrantes do MBL.
"Pedimos o boicote à exposição. Estava sendo obrigado a pagar, isso não foi só do MBL, mas de clientes do Santander, a empresa sofreu boicote. Hoje o verdadeiro rei é o consumidor, se o Santander tivesse que sobreviver com clientes que toleram zoofilia, pedofilia, mas eles não sobrevivem", disse Kataguiri.
Questionado se a ação do MBL não foi uma prática de censura, Kim desconversou. "A questão central não é essa. Estou sendo obrigado a pagar [para entrar na exposição], muitos jornalistas disseram que o MBL não estava sendo liberal. Mas não existe maior expressão de livre mercado que o boicote." Segundo a assessoria de imprensa do Santander Cultural, a entrada para a exposição era franca.
Outro que criticou a exposição é um dos fundadores do MBL e secretário de Serviços Públicos, Ramiro Rosário. "Intitulada Queermuseu, suas obras exaltam a sexualização de crianças, promovem abusos de animais e profanam imagens sagradas ao Cristianismo", disse em seu site.
Na página, afirma que um grupo está organizando um processo criminal contra os responsáveis. O G1 procurou a assessoria de imprensa do secretário, que negou entrevista. "O secretário Ramiro Rosário não dará entrevista. As posições que ele defende foram publicadas em suas redes sociais no final de semana", disse a assessoria.
Arquidiciocese manifesta 'estranheza' com a exposição
Após o episódio, a Arquidiocese de Porto Alegre emitiu uma nota, em que manifestou o que chamou de "estranheza" diante da exposição. Para a igreja, a exposição "utiliza de forma desrespeitosa símbolos, elementos e imagens, caricaturando a fé católica e a concepção de moral". Ainda, o texto cita que "é urgente combater o preconceito e a discriminação em todas as suas manifestações".
Contraponto
Em comunicado no Facebook, a instituição afirmou que "o objetivo do Santander Cultural é incentivar as artes e promover o debate sobre as grandes questões do mundo contemporâneo, e não gerar qualquer tipo de desrespeito e discórdia".
Leia a íntegra da nota publicada no Facebook do Santander Cultural
Nos últimos dias, recebemos diversas manifestações críticas sobre a exposição Queermuseu - Cartografias da diferença na Arte Brasileira. Pedimos sinceras desculpas a todos os que se sentiram ofendidos por alguma obra que fazia parte da mostra.
O objetivo do Santander Cultural é incentivar as artes e promover o debate sobre as grandes questões do mundo contemporâneo, e não gerar qualquer tipo de desrespeito e discórdia. Nosso papel, como um espaço cultural, é dar luz ao trabalho de curadores e artistas brasileiros para gerar reflexão. Sempre fazemos isso sem interferir no conteúdo para preservar a independência dos autores, e essa tem sido a maneira mais eficaz de levar ao público um trabalho inovador e de qualidade.
Desta vez, no entanto, ouvimos as manifestações e entendemos que algumas das obras da exposição Queermuseu desrespeitavam símbolos, crenças e pessoas, o que não está em linha com a nossa visão de mundo. Quando a arte não é capaz de gerar inclusão e reflexão positiva, perde seu propósito maior, que é elevar a condição humana.
O Santander Cultural não chancela um tipo de arte, mas sim a arte na sua pluralidade, alicerçada no profundo respeito que temos por cada indivíduo. Por essa razão, decidimos encerrar a mostra neste domingo, 10/09. Garantimos, no entanto, que seguimos comprometidos com a promoção do debate sobre diversidade e outros grandes temas contemporâneos.
setembro 11, 2017
Abaixo-assinado: Pela reabertura da exposição Queermuseu – cartografias da diferença na arte da brasileira, Change.org
Pela reabertura da exposição Queermuseu – cartografias da diferença na arte da brasileira
Pressionando Santander Cultural Porto Alegre
Assine este abaixo-assinado no Change.org
O fechamento da exposição Queermuseu – cartografias da diferença na arte da brasileira em cartaz no Santander Cultural em função de protestos contra o seu conteúdo é um retrocesso e a atitude exatamente contrária que deve ter um centro cultural sobre os conteúdos artísticos que viabiliza à apreciação de toda uma sociedade.Não se trata de uma casa de chá cuja proposta é agradar a clientela e sendo assim gerar polêmica e manter firme príncipios de liberdade de expressão estão sim no seu cardápio.Se a explicação dada pelo diretor de que a exposição foi fechada porque não satisfaz os desejos de uma sociedade for mantida,significa que o Santander Cultural somente reconhece como sociedade de direito uma fatia da população e pratíca junto com esta discriminação e exclusão e deve,caso esta seja sua postura final,deixar de ter o direito de atuar como centro cultural e se transformar oficialmente em uma casa de chá a servicio dos interesses e gostos desta sua "clientela" a qual apoia e beneficia em detrimento da sociedade e cidadania como um todo.Que seja reaberta a exposição como demostração que a sociedade não se limita a alguns segmentos ou então que cerre suas portas este pseudo centro cultural que com verba apoiada pela da lei Rounet desperdiça cultura.Não estão em seu direito de se manter como polo cultural se mantiverem esta postura e o mesmo vale para todo aquele que respalda esta ação que segmenta e que significa um perigoso retrocesso...uma porta que se abre ao obscurescimento da luz,justo em tempos já tão estranhos.Cabe a mim,a você a todos nós deter esta marcha que se levanta em vários pontos e que acenam ao pior que tem em si as sociedades...
Ler matéria do Jornal do Comércio de Porto Alegre: Após protestos, Santander Cultural encerra exposição queer um mês antes.
Assine este abaixo-assinado no Change.org
Após protestos, Santander Cultural encerra exposição queer um mês antes, Jornal do Comércio
Após protestos, Santander Cultural encerra exposição queer um mês antes
Matéria originalmente publicada no Jornal do Comércio em 10 de setembro de 2017.
Poucos dias antes de completar um mês em cartaz no Santander Cultural (Sete de Setembro, 1.028), no Centro de Porto Alegre, a exposição Queermuseu - Cartografias da diferença na América Latina teve de ser fechada e encerrada neste domingo (10), após protestos - segundo informações preliminares que vêm circulando nas redes sociais - em que pessoas contrárias ao teor das obras teriam causado tumulto em frente ao museu, ainda neste sábado, em manifestação contra a exposição.
O Jornal do Comércio buscou informações junto ao Santander Cultural, mas só obteve informações da segurança, presente na portaria do local, de que de fato a exposição, que funcionaria das 14h às 19h neste domingo, está fechada em razão de "imprevistos" ocorridos ontem. No início da tarde, o Santander Cultural emitiu uma nota em que afirmou estar recebendo diversas manifestações críticas a respeito da exposição e confirmou o encerramento da mostra neste domingo.
"O objetivo do Santander Cultural é incentivar as artes e promover o debate sobre as grandes questões do mundo contemporâneo, e não gerar qualquer tipo de desrespeito e discórdia", diz o texto. "Desta vez, no entanto, ouvimos as manifestações e entendemos que algumas das obras da exposição Queermuseu desrespeitavam símbolos, crenças e pessoas, o que não está em linha com a nossa visão de mundo. Quando a arte não é capaz de gerar inclusão e reflexão positiva, perde seu propósito maior, que é elevar a condição humana", afirma a nota da instituição.
Com curadoria de Gaudêncio Fidelis, a Queermuseu é formada por mais de 270 obras (oriundas de coleções públicas e privadas) que percorrem o período histórico de meados do século XX até os dias de hoje. A iniciativa explora a diversidade de expressão de gênero e a diferença na arte e na cultura. A exposição foi aberta na metade de agosto, com entrada franca, e seguiria até 8 de outubro. A mostra foi viabilizada pela captação de R$ 800 mil por meio da Lei Rouanet.
Em protesto contra o encerramento da mostra, o Nuances - Grupo Pela Livre Expressão Sexual organiza nesta terça-feira (12) à tarde, em frente ao Santander Cultural, o Ato pela Liberdade de Expressão Artística e Contra a LGBTTFobia, "em defesa da liberdade de expressão artística e das liberdades democráticas".
Além da feira por Luana Fortes, seLecT
Além da feira
Matéria de Luana Fortes originalmente publicada na revista seLecT em 5 de setembro de 2017.
Conversas ArtRio, iniciativa realizada em parceria com a seLecT e Canal Curta!, consolida feira de arte como espaço para debate
Além de um evento comercial, feiras de arte cada vez mais se posicionam no universo artístico como verdadeiros articuladores de debate. Com a ArtRio 2017, não será diferente. A partir de uma parceria com a seLecT e o Canal Curta!, acontecem as Conversas ArtRio no Espaço Transversal, sala multiuso pensada especialmente para a ocasião.
Assuntos recorrentes da arte são problematizados em mesas de debate, com a participação de curadores, diretores de museu e pesquisadores da área, diante de mediação da equipe seLecT. Para dar início à rodada de bate-papos, em 14/9 (quinta-feira) às 17h, o museu entra em pauta. Com mediação de Marion Strecker, editora da seLecT, desenrola-se a conversa Museu é o Mundo. Os profissionais Fernando Cochiaralle, curador do MAM-Rio, Kelly Taxter, curadora do programa Solo da ArtRio e do Jewish Museum em Nova York, e o artista Guga Ferraz discutem as funções de instituições desse tipo no século 21, passando pela aquisição de obras e pela gestão de acervos.
Dando continuidade ao ciclo, em 14/9 (quinta-feira) às 19h, O Colecionismo Ativo propõe uma discussão sobre colecionadores que viabilizam iniciativas que escapam de planejamentos orçamentários de museus. Dessa vez, os participantes são Frances Reynolds, colecionadora e presidente da Inclusartiz, e o também colecionador José Olympio. A mediação é de Paula Alzugaray, editora da seLecT.
Já no dia 15/9 (sexta-feira) às 17h, o museu continua pautando as conversas em Museu Além do Museu, com mediação de Giselle Beiguelman, editora da seLecT. A mesa composta por Jochen Volz, curador da 32ª Bienal de São Paulo e da Pinacoteca de São Paulo, e pelo curador Paulo Herkenhoff debate as reconfigurações do museu na contemporaneidade, problematizando suas relações com a cidade e sua inserção política.
Por fim, acontecem mais duas mesas em 16/9 (sábado). Às 17h, Não Te Esqueças Nunca Que Eu Venho dos Trópicos, com título emprestado de uma obra de Maria Martins feita em 1942, traz embates entre o passado e o contemporâneo. Nessa conversa, são feitas revisões críticas da produção artística do Brasil, em relação às matrizes indígena e afro-brasileira. O artista Arjan Martins, a curadora Marta Mestre e Solange Farkas, curadora e diretora do Videobrasil, conversam com mediação de Paula Alzugaray. E às 19h são discutidos os pretextos que regem as formações de acervos particulares e os mecanismos para torná-los acessíveis em O Colecionismo: Público e Privado. Marion Strecker fala com Ana Gonçalves Magalhães, historiadora, professora e curadora, Fabio Szwarcwald, colecionador e diretor da EAV Parque Lage, e Ana Letícia Fialho, diretora do Departamento de Estratégia Produtiva da Secretaria da Economia da Cultura no Ministério da Cultura.
Se ainda pareceu pouco, a programação da parceria entre ArtRio, seLecT e Canal Curta! não para por aí. O Espaço Transversal também promove exibições de filmes do acervo do Videobrasil, com curadoria de Paula Alzugaray, vídeos e entrevistas do Canal Curta!, além de conversas e palestras com foco em design, organizadas pela IDA – Feira de Design do Rio.
Conversas ArtRio
ArtRio Feira Internacional de Arte do Rio de Janeiro
Marina da Glória – Av. Infante Dom Henrique, S/N – Rio de Janeiro
De 13/9 a 17/9
artrio.art.br