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abril 6, 2016
SP-Arte vive polarização política entre galeristas pró e anti-impeachment por Silas Martí, Folha de S. Paulo
SP-Arte vive polarização política entre galeristas pró e anti-impeachment
Matéria de Silas Martí originalmente publicada no jornal Folha de S. Paulo em 6 de abril de 2016.
Mesmo com muito açúcar, os biscoitos criados pela dupla de artistas Los Carpinteros têm o gosto amargo da "corrupção", dos "panelaços" e de outras crises. Levados à SP-Arte, feira que abre agora sua 12ª edição no pavilhão da Bienal, esses docinhos refletem o clima indigesto que abala o país e polariza também o mundo da arte.
Enquanto o agravamento da recessão vem paralisando vendas e fez a feira perder 16 galerias –o número caiu de 140 no ano passado para 124 neste ano–, o debate em torno do impeachment da presidente Dilma Rousseff opõe artistas que se manifestam contra o que entendem como golpe "jurídico-midiático" e galeristas a favor do impedimento ou da renúncia da petista.
Esse racha ficou mais nítido desde que artistas, em nome dos "profissionais das artes", lançaram uma petição há duas semanas nas redes sociais repudiando "tentativas de ruptura da ordem democrática" e "perseguições político-ideológicas". Nenhum galerista assinou o manifesto que tem mais de 3.500 adesões.
"Galerista é contra Dilma e artista é a favor. Eles têm uma visão mais utópica do que seria o PT", diz a marchande Nara Roesler, dona de uma das maiores casas do país. "A galeria continua trabalhando, então não está doendo no bolso deles. Mas preferia que a presidente renunciasse para o país voltar a funcionar."
Luisa Strina, outra galerista que está entre as mais poderosas do país, também defende o fim do atual governo. "Sou a favor do impeachment. Nunca vivi uma crise igual a essa que estamos vivendo", diz. "A bancarrota é ruim para todo mundo. Qualquer coisa é melhor que isso."
No fundo, mesmo esse não sendo um debate simples, artistas veem a polarização como luta de classes.
"Na arte todo mundo é de esquerda, mas o mercado é outra coisa", diz o pintor Thiago Martins de Melo. "O cara do mercado quer que se foda o mundo. A gente está vivendo uma tentativa de golpe, e a elite não está percebendo. Vejo isso com um viés ideológico de classe. Existe um grau de psicopatia, como se a gente fosse marginal porque não apoia o impeachment."
Rodrigo Braga, artista que despontou nos últimos anos com fotografias sobre o descalabro ecológico do país, conta que está cada vez mais difícil vender seus trabalhos por causa da crise econômica, mas não quer que a "presidente seja deposta" em respeito "à democracia e à Constituição".
"Isso é um consenso entre os artistas", diz Braga. "O que está acontecendo no Brasil é uma briga de classes. A gente sabe que o mercado de arte é dominado por pessoas de alto poder aquisitivo. E elas não sofrem, acabam sendo intocáveis nessas flutuações."
Uma estratégia dos galeristas para continuar intocáveis, aliás, é vender no exterior –dados do governo mostram que exportações de obras de arte dobraram no ano passado em relação a 2014, totalizando R$ 246 milhões.
Fernanda Feitosa, diretora da SP-Arte, também acredita que o mercado resiste. Ela ampliou a feira para incluir galerias de design, enquanto grandes casas, como Luisa Strina, Millan, Luciana Brito e Casa Triângulo, investem em novas sedes para chamar a atenção.
Embora a previsão seja de uma retração nas vendas –transações recuaram pelo menos 12% no ano passado, de acordo com a Fazenda estadual– o circuito comercial e a feira, sua maior festa, fazem esforços para manter a pose.
"Esperamos que o país recupere a estabilidade", diz Feitosa, que não quis opinar sobre o cenário político, dizendo que isso foge ao assunto. "A arte ao longo da história tem uma formidável capacidade de preservar o seu valor."
Na tentativa de evitar um fracasso, muitas casas talharam suas seleções para levar trabalhos mais baratos à feira. "Não é o momento de estar ali com grandes valores", diz Marcia Fortes, da Fortes Vilaça, que terá peças de no máximo R$ 700 mil. No passado, a feira já vendeu obras na faixa dos R$ 15 milhões.
Nesse sentido, o discurso otimista de alguns galeristas, em especial os que evitam falar de política, ganha verniz quase escapista nos dias da SP-Arte, um mantra contra tudo que possa abalar as vendas.
"Sou apolítico, não me envolvo", diz Ricardo Trevisan, da galeria Casa Triângulo. "Fico num mundo à parte."
Da mesma forma que boa parte dos galeristas prefere o silêncio, alguns artistas têm receio de se manifestar, relatando até casos de bullying.
"Não tem por que galeria ou colecionador boicotar artista que tem opinião diferente", diz o pintor Bruno Dunley. "Mas já ouvi falar que isso está acontecendo. Só tenho esperança que essas polarizações políticas não levem a retaliações."
Quebrando o coro dos que defendem a manutenção do governo, Nelson Leirner é um dos poucos artistas a se manifestar a favor do impedimento da presidente. "Se ela não renunciar, o impeachment é a solução", diz. "O que a nossa sociedade está aguentando é horrível. No Japão, Lula e Dilma já teriam feito haraquiri."
SP-ARTE
QUANDO abre nesta quarta (6), para convidados; de 7/4 a 9/4, das 13h às 21h; 10/4, das 11h às 19h
ONDE pavilhão da Bienal de São Paulo, pq. Ibirapuera, portão 3
QUANTO R$ 40
abril 5, 2016
Huck no Masp mostra museu longe do pensamento artístico por Fabio Cypriano, Folha de S. Paulo
Huck no Masp mostra museu longe do pensamento artístico
Crítica de Fabio Cypriano originalmente publicada no jornal Folha de S. Paulo em 1 de abril de 2016.
Foi aprovada, na quarta-feira (30), no Conselho Deliberativo do Museu de Arte de São Paulo (Masp), a entrada de Luciano Huck como membro. Junto a ele, outros quatro novos integrantes: os advogados Leo Krakowiak e Beno Suchodolski, o banqueiro Eric Hime, e o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles.
Mesmo antes da aprovação, o nome de Huck já havia se tornado público na revista "Veja SP" de sábado (26), o que gerou comentários nas redes sociais ironizando-o.
No artigo, afirma-se que Huck pagaria R$ 150 mil para entrar no conselho. A assessoria de imprensa do Masp afirma que "a contribuição anual obrigatória é de R$ 27 mil", mas que o apresentador ainda "não confirmou o valor". Mas R$ 150 mil, diz o Masp, é a contribuição média anual do conselho.
A entrada de Huck no Masp mostra uma estratégia desenvolvida pelo atual diretor-presidente do museu, Heitor Martins, desde que assumiu a Fundação Bienal de SP em estado de falência, em 2009.
Assis Chateaubriand e Ciccillo Matarazzo, grandes mecenas, fundadores do Masp e da Bienal, tornaram viáveis as duas instituições com aportes pessoais, nos anos 1950. Após suas saídas, o modelo sucumbiu, já que seus sucessores, com raras exceções, não conseguiram manter os altos custos de suas manutenções.
Martins, então, passou a levar para a Bienal e depois para o Masp um grupo de empresários que quitou as dívidas. Claro que, agora, com grande ajuda de leis de incentivo fiscais.
Tanto Chateaubriand como Matarazzo se cercavam de pessoas com sensibilidade para a arte, o que foi essencial para as instituições.
No novo modelo, porém, os conselhos de ambas são feitos de "figuras do setor financeiro, empresarial, comunicação, arquitetura e entretenimento", na definição do museu.
Ou seja, figuras um tanto distantes do pensamento artístico especializado. Praticamente não há artistas, curadores, críticos. Quem toma decisões importantes, como a eleição do diretor, são basicamente figuras estratégicas para captação financeira, que na melhor das hipóteses são colecionadores.
Aí apresenta-se outro problema: um dos diretores do Masp, por exemplo, conseguiu o comodato (empréstimo) de imagens do Foto Cine Clube Bandeirante para o museu, sendo que esse conjunto foi uma das primeiras mostras da nova gestão. Contudo, o próprio diretor é colecionador dessas imagens, o que dá a impressão de que está usando o museu para valorizar sua própria coleção.
Assim, Huck é apenas mais um exemplo de que, nesse novo sistema, as instituições de arte têm em seus conselhos superiores interesses um tanto distantes do que na arte realmente importa.
abril 2, 2016
SP-Arte movimenta calendário de exposições; veja 17 estreias em galerias por Mariana Marinho, Folha de S. Paulo
SP-Arte movimenta calendário de exposições; veja 17 estreias em galerias
Matéria de Mariana Marinho originalmente publicada no jornal Folha de S. Paulo em 1 de abril de 2016.
A partir de quinta (7), a SP-Arte - Feira Internacional de Arte de São Paulo inicia no Pavilhão da Bienal, no parque Ibirapuera, sua 12ª edição —o evento é a maior feira de arte da América Latina.
"A SP-Arte é uma forma de reforçar a arte brasileira, além de alavancar o mercado e colocar as galerias em contato com potenciais colecionadores", diz a galerista Marilia Razuk. Sua galeria é parte dos cerca de 120 participantes, nacionais e estrangeiros, que colocam em exibição e à venda obras de seus artistas.
Tamanha a importância da feira, sua data de realização costuma concentrar um grande número de aberturas de exposições na cidade. Neste sábado (2), a Nara Roesler inaugura individuais de René Francisco e Antonio Dias. Daí em diante, a semana é agitada —com direito a drinques em galerias na segunda (4) e na terça (5).
Para você ir treinando o olhar para visitar a feira, o "Guia" reuniu 17 estreias de mostras em galerias, que ocorrem até quarta (6). Olhares aquecidos, hora de desbravar a SP-Arte: tem estreia de um setor de design, espaço de performance, bate-papos e outras atrações.
Veja os detalhes a seguir e abra contagem: são pelo menos nove dias de imersão no mundo das artes.
SÁBADO, DIA 2
Beto Shwafaty
A nova edição do projeto SITU, da Galeria Leme, convida Beto Shwafaty. Ele cria no pátio uma instalação que parte de um trapiche de açúcar —segundo pesquisa do artista, o bairro do Butantã teria sido o primeiro da cidade a receber a máquina.
Galeria Leme - av. Valdemar Ferreira, 130, Butantã, tel. 3093-8184. Ter. a sex.: 10h às 19h. Sáb.: 10h às 17h. Abertura: 2/4, 13h às 17h. Até 4/6. GRÁTIS
Descaracter
É a primeira individual de Débora Bolsoni na galeria Jaqueline Martins. A artista carioca exibe instalações, objetos e desenhos.
Galeria Jaqueline Martins - r. Dr. Virgílio de Carvalho Pinto, 74, Pinheiros, região oeste, tel. 2628-1943. Seg. a sex.: 10h às 19h. Sáb.: 12h às 17h. Até 14/5. GRÁTIS
Emmanuel Nassar e Henrique Oliveira
Emmanuel Nassar elaborou na maior parede da Galeria Millan uma colagem composta por objetos, chapas de ferro e outros elementos encontrados em ruas e mercados paraenses. Já Henrique Oliveira exibe no anexo da galeria suas pinturas, esculturas e instalações mais recentes.
Galeria Millan - r. Fradique Coutinho, 1.360 e 1.416, Pinheiros, tel. 3031-6007. Ter. a sex.: 10h às 19h. Sáb.: 11h às 18h. Abertura: 2/4, 19h. Até 30/4. GRÁTIS
René Francisco e Antonio Dias
A galeria Nara Roesler inaugura individuais dos dois artistas. Em sua estreia no Brasil, o cubano René Francisco apresenta sua arte crítica em desenhos, pinturas e assemblages (tipo de colagem). Já o paraibano Antonio Dias reúne papéis produzidos no Nepal durante uma viagem em 1977.
Galeria Nara Roesler - av. Europa, 655, Jardim Europa, região oeste, tel. 3063-2344. Seg. a sex.: 10h às 19h. Sáb.: 11h às 15h. Até 4/6. GRÁTIS
Ricardo Rendón e Zé Carlos Garcia
O mexicano e o carioca apresentam as mostras "Memória Possível" e "Ganimedes" na Zipper Galeria. A primeira busca pensar a escultura como performance. A segunda também foca a escultura: para criar suas estruturas tridimensionais, Garcia utiliza penas.
Zipper Galeria - r. Estados Unidos, 1.494, Jd. América, tel. 4306-4306. Seg. a sex.: 10h às 19h. Sáb.: 11h às 17h. Abertura: 2/4, 14h às 18h. Até 30/4. GRÁTIS
DOMINGO, DIA 3
Panos de Mesa/Objetos do Paraguay
Rafael RG exibe na Sé Galeria fotografias, esculturas, objetos e vídeos criados entre 2010 e 2016. Eles foram pautados na relação do artista com o outro.
Sé Galeria - r. Roberto Simonsen, 108. Ter. a sex.: 11h às 19h. Sáb.: 12h às 17h. Abertura: 3/4, 12h às 18h. Até 21/5. GRÁTIS
Residência Moderna
A mostra, que inaugura o novo espaço da Galeria Luciana Brito em uma casa tombada, reúne artistas que participaram da revitalização do imóvel e criaram obras e intervenções para ela. Há trabalhos de nomes como Caio Reisewitz e Regina Silveira.
Luciana Brito Galeria - av. Nove de Julho, 5.162, Jardins, tel. 3842-0634. Ter. a sex.: 10h às 19h. Sáb.: 11h às 18h. Abertura: 3/4, 11h às 19h. Até 21/5. GRÁTIS
SEGUNDA, DIA 4
Gallery Night
Parte de uma programação paralela à SP-Arte, as galerias Raquel Arnaud (foto), Millan e Fortes Vilaça, na Vila Madalena, abrem as portas das 18h às 22h. Além das exposições, os espaços servem drinques e cerveja. Na terça (5), é a vez das galerias dos Jardins participarem —entre elas, Luisa Strina e Mendes Wood DM.
TERÇA, DIA 5
Composições
Na Casa Triângulo, Darío Escobar (foto) exibe composições e instalações que utilizam objetos cotidianos, como traseiras de caminhões e bolas de basquete.
Casa Triângulo - r. Estados Unidos, 1.324, Jardim América, região oeste, tel. 3167-5621. Seg. a sáb.: 10h às 19h. Abertura: 5/4, 18h. Até 8/5. GRÁTIS
Elizabeth Jobim e Ester Grinspum
Nas individuais, Elizabeth exibe séries recentes que exploram as fronteiras entre pintura, escultura e instalação, e Ester mostra desenhos e objetos que partem do romance "Doutor Fausto".
Galeria Raquel Arnaud - r. Fidalga, 125, tel. 3083-6322. Seg. a sex.: 10h às 19h. Sáb.: 12h às 16h. Até 28/5. GRÁTIS
A Fuga
O alemão Norbert Bisky exibe na Baró Galeria oito pinturas inéditas que refletem sobre a liberdade de mobilidade e a situação migratória na Europa.
Baró Galeria - r. da Consolação, 3.417, tel. 3666-6489. Seg. a sáb.: 10h30 às 19h30. Abertura: 5/4, 18h às 22h. Até 7/5. GRÁTIS
Geometria Invertida
Luiz Hermano apresenta 16 obras da série homônima na Galeria Lume. Utilizando materiais como aço e alumínio, ele cria objetos que simulam movimento e profundidade.
Galeria Lume - r. Gumercindo Saraiva, 54, Jardim Europa, tel. 4883-0351. Seg. a sex.: 10h às 19h. Sáb.: 11h às 15h. Abertura: 5/4, 19h. Até 7/5. GRÁTIS
Mateo López e Caetano de Almeida
Novas pinturas e um desenho integram a individual de Caetano de Almeida na Galeria Luisa Strina. O espaço também recebe o trabalho de Mateo López, que transita entre desenho, vídeo, escultura, design e performance.
Galeria Luisa Strina - r. Pe. João Manuel, 755, Cerqueira César, tel. 3088-2471. Seg. a sex.: 10h às 19h. Sáb.: 10h às 17h. Abertura: 5/4, 19h. Até 21/5. GRÁTIS
QUARTA, DIA 6
Amilcar de Castro
A ideia é apresentar trabalhos menos conhecidos do escultor Amilcar de Castro (1920-2000), como as colunas de vidro —peças nas quais lâminas são encaixadas numa base de madeira.
Galeria Marília Razuk - r. Jerônimo da Veiga, 131B, sl. 1, Jd. Europa, tel. 3079-0853. Seg. a sex.: 10h30 às 19h. Sáb.: 12h às 17h. Até 30/4. GRÁTIS
Beuys
A mostra reúne objetos e vídeos de performances de Joseph Beuys (foto) criados entre as décadas de 1950 e 80. O alemão é considerado um dos artistas mais influentes do século 20.
Galeria Bergamin & Gomide - r. Oscar Freire, 379, tel. 3853-5800. Seg. a sex.: 10h às 19h. Sáb.: 10h às 15h. Até 30/4. GRÁTIS