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Como atiçar a brasa

 


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janeiro 31, 2016

Vamos sair fazendo barulho', diz diretora na última festa do Paço por Silas Martí, Folha de S. Paulo

Vamos sair fazendo barulho', diz diretora na última festa do Paço

Matéria de Silas Martí originalmente publicada no jornal Folha de S. Paulo em 29 de janeiro de 2016.

"Está de arrasar", dizia Priscila Arantes, a diretora do Paço das Artes, enquanto puxava o repórter pelo braço para dentro do museu que em março será despejado de sua sede na Cidade Universitária. "Vamos sair daqui, mas vamos sair fazendo barulho."

No último vernissage do lugar, nesta quinta, o clima era de despedida. Mas foi um velório elétrico -da blusa prateada de Arantes que cintilava entre os convidados à performance da dupla Maurício Dias e Walter Riedweg.

Mascarados, eles declamavam contos do esquizofrênico suíço Robert Walser enquanto mostravam cartazes com frases -infelizes e reais- de políticos e celebridades.

Entre elas, "se me virem dançando com mulher feia, é porque a campanha já começou", "só confio nas estatísticas que manipulo" e "quando se tem de matar um homem, não custa nada ser educado".

Nas palavras de Dias, a ação foi uma "sobreposição de realidade política e poética louca". Não é difícil, aliás, ver nesse discurso um eco da situação do museu -o Instituto Butantan vai usar seu espaço para criar uma fábrica de vacinas contra a dengue. Enquanto isso, a instituição levará mostras para endereços alternativos até encontrar uma casa nova.

Na última leva de exposições no Paço, além de uma seleção de trabalhos do artista alemão Harun Farocki, estão obras de jovens artistas como Anaisa Franco, Clara Ianni, Deyson Gilbert e Lucas Simões.

Esse último remontou ali uma instalação que simula um piso de concreto que racha sob os pés de quem caminha -crianças eufóricas sapateavam em cima da coisa observadas pelo artista.

"É uma coincidência meio triste, mas essa obra é um comentário sobre o que acontece quando muda o uso de uma arquitetura", dizia Simões. "Tem essa instabilidade."

Outra instabilidade é o abalo que o meio artístico deve sofrer com o fim do Paço. Nos catálogos das bienais mais influentes do mundo, estão nomes que despontaram ali -toda abertura no museu, aliás, sempre teve olheiros de galerias atrás de novas estrelas do circuito.

"Está escrevendo o obituário?", perguntou o artista Deyson Gilbert ao repórter. Minutos depois, um abaixo-assinado começou a circular pedindo que o governo do Estado dê uma nova sede ao museu. Ninguém deixou de assinar.

Posted by Patricia Canetti at 8:37 PM

Reflexões sobre história e esquecimento por meio dos monumentos por Camila Molina, Estado de S. Paulo

Reflexões sobre história e esquecimento por meio dos monumentos

Matéria de Camila Molina originalmente publicada no jornal Estado de S. Paulo em 24 de janeiro de 2016.

As exposições 'Memória da Amnésia' e 'Totemonumento' tratam de um tema recorrente na arte contemporânea

Deslocados de um depósito no bairro do Canindé e agora deitados sobre o chão do Arquivo Histórico de São Paulo, os fragmentos do Monumento a Olavo Bilac, de 1922, já não enaltecem o poeta parnasiano nem seus poemas, como Via Láctea. Na verdade, ali ao lado das lagostas de bronze e resina criadas em 1913 por Nicolina Vaz de Assis Pinto do Couto – grandes destaques da Fonte Monumental da Praça Júlio Mesquita – e dos pedaços de outro monumento, Herói da Aviação, que, originalmente, foi instalado em 1915 no Hipódromo da Mooca, aquelas esculturas presentes na mostra Memória da Amnésia representam uma possível “estética do esquecimento”.

“O que você esqueceu de lembrar?”; “O que você lembrou de esquecer?” – são perguntas colocadas pela artista Giselle Beiguelman em pôsteres que recebem os visitantes de sua exposição em cartaz até 25 de fevereiro no edifício projetado por Ramos de Azevedo. “Uma das grandes questões da mostra, e especialmente naquilo que mais me interessa, é a potência da arte contemporânea de tensionar a história no sentido de desmonumentalizar o passado”, sintetiza a pesquisadora.

Em Memória da Amnésia, a artista e professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP traz o tema dos “monumentos nômades” de São Paulo para levantar reflexões sobre a “história invisível” de uma cidade. Por meio de sua pesquisa, sabemos, por exemplo, que, dos 400 monumentos paulistanos catalogados, 62 já mudaram de lugar na metrópole, desde a década de 1920, pelo menos uma vez – e cerca de 40% deles, pelo menos duas vezes, conta Giselle. O mapeamento desse “nomadismo” das estátuas está registrado em fotografias de André Turazzi expostas no Arquivo Histórico – e também pode ser visto no Guia dos Monumentos Nômades –, entretanto, a mostra tem outros componentes que indicam sua vocação mais artística que documental.

Na intervenção de “desmonumentalização” de Giselle Beiguelman, as esculturas estão derrubadas e não evocam a contemplação. A artista ainda destaca que a ação de “deslocamento” – físico e de contexto das obras – é fundamental para se pensar a exposição.

Imagens fotográficas de Ana Ottoni e o vídeo de Cleisson Vidal registram o traslado dos monumentos nômades selecionados para Memória da Amnésia (uma das bases de Heróis da Aviação, para se ter ideia, pesa 1,7 tonelada), mas o que o espectador encontra no espaço expositivo não se trata de ser a ruína de alguma história e, sim, uma cena de certa forma absurda, construída por – e que revelam – diversas fragmentações.

Antimonumentos

Se de um lado as esculturas em bronze, pedra e resina do início do século passado são retomadas para “abordar o esquecimento” e buscar “compreender as políticas culturais e de patrimônio histórico”, as obras contemporâneas dos oito artistas que participam da exposição Totemonumento, em cartaz até 27 de fevereiro na Galeria Leme, também lidam com a questão da história – e, muitas vezes, de seu apagamento.

A curadora da coletiva, Isabella Rjeille, traz como referência para o projeto, como já se vê no título da mostra, a histórica ação Tiradentes: Totem-Monumento ao Preso Político, realizada por Cildo Meireles em Belo Horizonte em 1970. Às vésperas do feriado que homenageia o inconfidente mineiro outrora esquartejado e depois tomado como “herói nacional pelos militares” durante a ditadura, a peça consistiu em amarrar galinhas a uma estaca de madeira e queimá-las vivas.

Ao selecionar a fotografia em preto e branco que registra o dia seguinte ao ato, Isabella ressalta “a crítica brutal ao cinismo do poder do Estado sobre as narrativas históricas” incutida no “monumento efêmero” de Cildo e abre as reflexões para o presente. “Cada tempo pede a sua poética”, diz a curadora e, como ela define, “a ideia de monumento é um pouco sublimada na exposição”.

A obra de Clara Ianni, Reparação, é um exemplo contundente dessa chave de reflexão. Os desenhos da artista, muito sutis, remetem, na verdade, a traumatismos ósseos e fazem parte de sua pesquisa sobre desaparecidos políticos. “São pequenas linhas onde ela vai completando fraturas ósseas de fotografias de um livro de antropologia forense”, explica a curadora.

Já Jaime Lauriano faz referência direta ao Monumento às Bandeiras ao criar uma réplica reduzidíssima da obra de Brecheret fundida em latão e cartuchos de munições utilizadas pela Polícia Militar e Forças Armadas Brasileiras (e a peça fica sobre um tijolo).

Nas criações dos outros artistas da exposição, Frederico Filippi discute sobre o Descobrimento das Américas e o impacto da chegada dos colonizadores enquanto Regina Parra trata da imigração; Raphael Escobar lembra do Massacre do Carandiru dando voz a um de seus sobreviventes; e Erica Ferrari constrói “o avesso de um monumento” com destroços da cidade. Por fim, o peruano José Carlos Martinat sintetiza em Contextualizable a imagem das histórias “moldáveis” por meio da exibição de um grande totem de argila que fica à disposição das mãos dos espectadores.

Posted by Patricia Canetti at 1:48 PM

Mostra de Marilá Dardot marca reabertura da Chácara Lane por Camila Molina, Estado de S. Paulo

Mostra de Marilá Dardot marca reabertura da Chácara Lane

Matéria de Camila Molina originalmente publicada no jornal Estado de S. Paulo em 25 de janeiro de 2016.

Artista inaugura a exposição Guerra do Tempo, trabalho inédito apresentado no imóvel do século 19

Quem poderia imaginar que “paz e amor” era, em 1909, um slogan do governo de Nilo Peçanha (1867-1924), primeiro e único presidente afrodescendente do Brasil? Em Demão, a mais nova obra de Marilá Dardot, este e mais outros 41 slogans, lemas e frases de protestos pesquisados na história política brasileira – desde “Independência ou morte”, passando por “O petróleo é nosso” e “50 anos em 5” até chegar ao recente “Não vai ter golpe” – são sentenças sobrepostas cronologicamente. Em sete faces de painéis instalados na Chácara Lane, as frases foram primeiramente escritas em preto pelos letristas sr. Landau e sr. Rodrigues e depois apagadas com tinta branca, representando, agora, camadas que alternam memória e esquecimento.

Para a artista, seu trabalho, inédito, não teria agora local tão propício quanto a Chácara Lane, na Rua da Consolação, onde ela inaugura neste sábado, 30, a exposição Guerra do Tempo. “É um lugar que já teve várias funções e a própria casa, que já foi toda reformada, é uma coisa em eterna construção”, comenta Marilá Dardot. Com a abertura da mostra, o imóvel, originalmente, do século 19 e que integra a rede Museu da Cidade de São Paulo, marca sua reabertura oficial como espaço de exposições de arte contemporânea da Prefeitura.

Até 17 de abril, os visitantes da Chácara Lane, cuja construção principal foi erguida por volta dos anos 1890 para ser residência do reverendo norte-americano George Whitehill Chamberlain, vão ter a oportunidade de ver mais de 30 criações feitas por Marilá Dardot desde seu vídeo Hic et nunc (que quer dizer aqui e agora, em latim), de 2002, até o inédito Demão. Depois, como parte da programação de 2016 para a instituição, já está confirmada para setembro a realização de uma ampla mostra individual da artista Carmela Gross no local – que coincidirá com a época da 32.ª Bienal de São Paulo.

“É o espaço da Prefeitura que pode receber com melhor qualificação obras de arte por suas condições de climatização e de conservação”, afirma Douglas de Freitas, curador de artes visuais do Museu da Cidade e da exposição Guerra do Tempo. “A Chácara Lane é hoje melhor do que a Oca e o Centro Cultural São Paulo”, considera.

O imóvel na Consolação foi adquirido pelo município em 1944 e tombado em 2004 pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (Conpresp). Em sua história, a chácara, que, antes de ser comprada em 1906 pelo médico Lauriston Job Lane, sediou a Escola Americana (a origem da Universidade Presbiteriana Mackenzie), já teve funções das mais ecléticas como ter sido compartilhada com o próprio Mackenzie; transformar-se em ambulatório da Cruz Vermelha até 1953; abrigar o Arquivo Municipal Washington Luís e o projeto Circulante da Biblioteca Mário de Andrade dos anos 1950 a 1990. Mais ainda, o local passou por uma grande reforma iniciada entre 2008 e 2012 com a finalidade de se tornar sede do Gabinete do Desenho para exibição de obras sobre papel da Coleção de Arte da Cidade. Entretanto, o projeto foi abandonado e, desde 2014, o espaço não cumpria função expositiva.

Como explica o curador e a diretora do Museu da Cidade, Beatriz Cavalcanti de Arruda, a Chácara Lane terá sua programação voltada para a arte contemporânea (como a Capela do Morumbi, que comemora 25 anos e apresentará obra de Sara Ramo, e o Beco do Pinto, que receberá intervenção de Débora Bolsoni) com a realização de individuais de criadores de meio de carreira e de nomes consagrados, assim como abrigará mostras com peças do acervo da Prefeitura.

Escrita. Por Marilá Dardot tratar de questões como “tempo, memória, esquecimento e apagamento” em suas obras, Douglas de Freitas diz que foi proposital a escolha da artista para a mostra de reabertura da Chácara Lane. A individual Guerra do Tempo (que remete a Guerra del Tiempo, de 2012) exibe obras já conhecidas da mineira, como os belos Marulho (2006), com oito trechos sobre o ato de esquecer tirados de livros de autores estrangeiros e nacionais – entre eles, Guimarães Rosa e Ana Cristina Cesar, e Paisagem Sobre Neblina (2007), que nos convida a imaginar paisagens a partir de frases costuradas em retângulos de feltro.

Mais ainda, a exposição apresenta trabalhos de Marilá Dardot até então inéditos em São Paulo. É o caso do vídeo Quanto é? O Que nos Separa (2015), inspirado nos cartazes de supermercados. A peça foi apresentada em grande projeção na Praça Mauá do Rio – nela, enquanto um letrista profissional escreve, como se fossem anúncios, as discrepâncias sociais de salários e dos valores pagos pelos brasileiros, por exemplo, em aluguel, um locutor também anuncia os dados como um vendedor das lojas do Saara, centro comercial carioca.

Museu da Cidade em estruturação

“Meu olhar é de estruturação”, diz a diretora do Museu da Cidade de São Paulo, Beatriz Cavalcanti de Arruda, que assumiu o cargo em 17 de setembro de 2015. “Estamos fazendo um plano museológico e há alguns marcos legais que o Museu da Cidade precisa ter, como um regimento, o que nunca teve, assim como políticas de acervo e de exposições precisam ser escritas”, define a museóloga, “emprestada” do Museu de Arte Contemporânea da USP para dirigir a rede de 15 espaços e casas históricas vinculada à Secretaria Municipal de Cultura.

A reabertura da Chácara Lane como espaço de exposições para a arte contemporânea é uma das ações da nova gestão dos equipamentos da Prefeitura, mas Beatriz de Arruda afirma que outra iniciativa importante é a criação de um “educativo próprio” para o Museu da Cidade (supervisionado por Julia Anversa). Mais ainda, a diretora defende a dissociação do Pavilhão das Culturas Brasileiras (que será reformado este ano) e da Oca da rede do Museu, oficialmente instituído em 1993 por decreto do prefeito Paulo Maluf. “Sou também mais a favor da articulação dos acervos da cidade do que da posse”, define. Outra meta é a abertura da Casa do Sertanista, que está fechada pelo Departamento do Patrimônio Histórico.

Posted by Patricia Canetti at 1:36 PM

Paço das Artes inaugura suas últimas mostras na Cidade Universitária por Camila Molina, Estado de S. Paulo

Paço das Artes inaugura suas últimas mostras na Cidade Universitária

Matéria de Camila Molina originalmente publicada no jornal Estado de S. Paulo em 29 de janeiro de 2016.

Instituição encerra programação no prédio que ocupou desde 1994 com exposições de Harun Farocki e da Temporada de Projetos

Este será o “ano do Paço nômade”. É como a diretora do Paço das Artes, Priscila Arantes, define a por ora indefinida situação da instituição, que, a partir de abril, terá de deixar o edifício onde realizava, desde 1994, suas atividades na Cidade Universitária.

Com a notícia, na semana passada, de que o Instituto Butantan decidiu retomar seu prédio para estruturar uma fábrica de vacina da dengue, o Paço das Artes, vinculado à Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo, ficou mais uma vez sem sede. É em clima de despedida, portanto, que a instituição inaugurou nesta quinta-feira, 28, a exposição Programando o Visível, que traz obras inéditas do cineasta e artista Harun Farocki (1944-2014); e as mostras da primeira etapa da Temporada de Projetos 2016 – com exibição de trabalhos de Alex Oliveira, Anaisa Franco e Sergio Pinzón e da coletiva Jogo de Forças, projeto curatorial de Philipe F. Augusto, selecionados pelo edital criado em 1996. Mais ainda, a dupla Dias & Riedweg realizou no Paço a performance Nada Quase Nada, originada de sua instalação Blocão, de 2014 – e a ação foi registrada em vídeo.

Em 2010, Harun Farocki participou da 29.ª Bienal de São Paulo com a videoinstalação Serious Games. Na época, aquela que era sua mais recente criação fazia uma reflexão sobre o uso da animação computadorizada tomando como mote o processo terapêutico desenvolvido com soldados norte-americanos que haviam passado por situações traumáticas no Oriente Médio. Agora, em Programando o Visível, o público brasileiro tem a oportunidade de ver o passo que o diretor checo-alemão, consagrado no campo das artes visuais, deu adiante nessa pesquisa com a concepção da instalação Paralelo I-IV, de 2014, último trabalho de Farocki. É uma obra sobre “a história da imagem”, afirma a curadora Jane de Almeida – nela, o artista discorre sobre o “mistério da representação” desde a construção da perspectiva para dar “historicidade” aos games.

No Paço, Paralelo, que pode ser definido como um projeto discursivo – ou teórico, é apresentado por meio de quatro projeções nas quais Farocki compara imagens reais e computadorizadas e pergunta – “Por que estamos produzindo essa imagem dessa forma?”, sintetiza a curadora. “Suas questões são lançadas para o próximo século”, opina ainda Jane de Almeida, destacando uma das indagações principais colocadas pelo cineasta: “Será que a composição de imagem computadorizada vai liberar o cinema para outra função assim como a fotografia liberou a arte para a abstração?”.

A mostra de Farocki é formada ainda por mais dois trabalhos importantes. Interface (1995), como diz a curadora, marca a entrada do cineasta para as galerias de arte com sua reflexão sobre “editar filmes a partir de imagens existentes”. Já o histórico Frases de Impacto, Imagens de Impacto. Uma Conversa com Vilém Flusser (1986) apresenta reflexões do diretor e do filósofo sobre a mídia por meio da análise da capa de um jornal alemão. Programando o Visível será encerrada com a realização de um colóquio e o lançamento de uma publicação feita em parceria com o Cinusp que reunirá textos de estudiosos e as falas de Farocki traduzidas de suas obras.

Até 27 de março, o Paço das Artes também apresentará a obra Impermanência, de Marcia Vaitsman, mas, como o espaço tem 1,5 mil m² de área expositiva, será possível abrir no próximo dia 2, às 17 h, a mostra Antigos Artefatos / Novas Interpretações, da artista e professora Inês Raphaelian. O visitante da instituição também encontrará prorrogada a exibição da peça Títulos, de Thiago Honório. Depois de encerrada sua atividade na Cidade Universitária, o Paço distribuirá sua programação de 2016 pelo Museu da Imagem e do Som e pela Oficina Cultural Oswald de Andrade.

Diretora diz que ainda não há previsão de nova sede

O nomadismo é uma característica persistente na história do Paço das Artes. Em 1969, Tarsila do Amaral e Di Cavalcanti cortaram a faixa inaugural da mostra que marcava a criação da instituição cultural, mas foi apenas em 1970 que um decreto oficializou sua fundação – e desse ano até 1973, o Paço funcionou em imóvel no número 326 da Avenida Paulista. Depois, por dois anos, a Pinacoteca recebeu suas atividades, para mais tarde, entre 1975 e 1994, o Museu da Imagem e do Som (MIS) abrigá-lo. Entretanto, com a saída, agora, da Cidade Universitária, a instituição se vê mais uma vez enfrentando o problema de não ter um espaço próprio.

Essas passagens históricas podem ser encontradas na publicação MaPA: Memória Paço das Artes. “É um momento muito difícil, mas também é a possibilidade única de o Paço encontrar a sua sede”, diz a diretora da instituição, Priscila Arantes. Ela cita como localidades ideais para a instituição o centro da cidade ou a região do “baixo Augusta”, por exemplo.

A Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo, responsável pelo Paço, afirmou por meio de nota que “busca outra sede para o museu” e que a transferência e fragmentação da programação de 2016 da instituição para a Oficina Oswald de Andrade (onde será inaugurada em abril uma retrospectiva da artista Lenora de Barros) e para o MIS (que apresentará as próximas exposições da Temporada de Projetos) é uma “solução” temporária. Entretanto, “pulverizar o trabalho de uma instituição”, como pondera Priscila, não pode ser algo para se levar a médio ou a longo prazo. Para se ter uma ideia, o Paço recebeu 84.539 visitantes em 2014.

Como não há ainda uma resolução concreta do caso, Priscila Arantes afirma que não há condições de se pensar uma programação para 2017. Atualmente, a instituição conta com 11 funcionários. “Espero que continuemos com esse quadro enxuto”, diz a diretora, contando que levará sua equipe para o MIS (equipamento também administrado pela Organização Social Associação do Paço das Artes Francisco Matarazzo Sobrinho).

Posted by Patricia Canetti at 1:22 PM

janeiro 23, 2016

Tadeu Chiarelli: territórios de uma coleção por Ana Letícia Fialho e Paula Alzugaray, Select

Tadeu Chiarelli: territórios de uma coleção

Entrevista de Ana Letícia Fialho e Paula Alzugaray originalmente publicada na revista Select N. 27 em 8 de dezembro de 2015.

Leia íntegra de entrevista com o diretor geral da Pinacoteca do Estado de São Paulo, publicada na seLect 27, em que ele revela como orienta sua política de aquisições em função da revisão de seu acervo

Quais são as políticas desta instituição para a expansão da sua coleção? Uma mudança de gestão implica também repensar a coleção?

Quando começamos as primeiras conversas sobre o convite para eu assumir a direção geral da Pinacoteca, o museu estava prestes a completar 110 anos (o que vai ocorrer agora, em dezembro de 2015). Então já na gestão do Ivo (Mesquita), que me antecedeu, existia uma ideia, natural a meu ver, de refletir sobre as contribuições dos vários diretores que nos antecederam. Um dos trabalhos importantes do Ivo, dentro desta perspectiva, foi o relançamento do catálogo da mostra “Projeto Construtivo Brasileiro na Arte”, referente a uma exposição realizado por Aracy Amaral, quando ela foi diretora da Pina, nos anos 70. Eu acho que é possível pensar a arte brasileira no século 20 antes e depois dessa exposição organizada pela Aracy. Neste sentido, a reedição do catálogo dessa exposição foi fundamental também para se pensar sobre a importância da Pinacoteca dentro da história da arte no Brasil.

Outra atividade que já estava em pauta quando assumi, também diz respeito à história da Pina: uma exposição que será inaugurada em 25 de janeiro de 2016 e que reúne parte dos acervos da Pinacoteca e do Museu Paulista. Por que essa mostra é importante? Porque a Pinacoteca nasce como uma decorrência do Museu Paulista. As primeiras obras que iniciam nosso acervo vieram daquele museu. Quando ele começa a se reorganizar, buscando um novo foco no inicio do século passado, eles acreditam que as obras de arte que não estavam diretamente envolvidas com a representação da história de São Paulo, da história do Brasil, deveriam formar um novo museu, a Pinacoteca do Estado de São Paulo. Então, devido à importância desse fato, considerei que tinha que continuar com essa ideia porque também faz parte dessa revisão da história da Pinacoteca. Além dessa mostra existe a ideia de continuar a revisão de alguns períodos da Pinacoteca, estudando alguns dos seus diretores e as políticas que eles criaram para ampliar o acervo.

Por exemplo, em março de 2016 inaugura uma exposição dedicada ao Túlio Mugnaini, que foi um artista aqui de SP, e que foi diretor da Pinacoteca durante 2 décadas quase, entre os anos 1930 e 40. Então existe um curador que está pesquisando, tentando revê-lo como artista e também como diretor da Pinacoteca. E isso acaba levantando muitos dados.

A Pinacoteca já tem obras dele na coleção?

Sim, tem obras dele na coleção. A ideia é pegar esse núcleo de obras que nós temos aqui, ampliá-lo com obras emprestadas de outras coleções, e junto com elas, também expor documentos relativos à sua gestão como diretor da Pina.

Ele está bem deslocado da história da arte, não?

Sim, ele está, porque foi um período em que a Pinacoteca teve uma visibilidade muito discreta no cenário paulista. Ela entra com força em 1905, tem uma atividade importante, e depois, a partir dos anos 20, ela vai deixando esse protagonismo, porque o modernismo começa a ganhar força – algumas obras modernistas são absorvidas pela Pinacoteca, poucas, mas são – e depois na gestão do Túlio ela passa por um período muito discreto, com visibilidade menor. No entanto, é um momento muito importante, para que, passados todos esses anos, a gente possa revisá-lo. Dentro dessa perspectiva, eu, quando aceitei o convite para vir para cá, resolvi manter uma atitude já assumida por mim em outras experiências profissionais ligadas à direção de museus: ter o acervo já existente na instituição como parâmetro para a sua ampliação. Porque nesse momento que vivemos hoje, em que você tem uma total aceleração de vertentes e tendências, além da voracidade da própria indústria cultural, se a instituição não tiver uma perspectiva potente e sólida, ela pode se perder nesse vácuo da novidade pela novidade.

Tendo, por um lado, essa questão e, por outro, querendo dar continuidade ao processo de revisão da importância da Pinacoteca para a história da arte no país, optei por me deter em um núcleo do acervo da Pina muito estimulado por Emanuel Araujo, em sua experiência como diretor do museu: a presença de obras de artistas afrodescendentes no acervo da Pina. Outro dado importante para esse interesse, é claro, foi a percepção da qualidade das obras de alguns jovens artistas negros surgidos recentemente no Brasil.

Essas questões se tornaram rapidamente cruciais para mim porque veja bem: o Brasil é um país com a maioria da população afrodescendente; por outro, o museu de arte mais antigo de São Paulo – a Pina – possui um núcleo muito discreto de obras de artistas negros, núcleo este iniciado por um dos seus diretores – que, por sinal, foi o único diretor negro da instituição até agora. Para tornar mais complexa a questão, hoje em dia o Brasil conta com excelentes jovens artistas negros que, na minha opinião, questionam padrões estabelecidos do que o senso comum acredita ser a arte contemporânea brasileira, tornando a situação positivamente intrincada.

A partir daí, comecei a pensar numa exposição que fizesse a revisão desses problemas dentro do contexto do acervo da Pinacoteca, e que esse estudo para a exposição me ajudasse a direcionar um eixo da ampliação do acervo. A primeira obra de um artista negro que ingressa na Pinacoteca é um soberbo autorretrato do Arthur Timótheo da Costa, mas que entra na coleção no pacote de uma doação de um colecionador que é completamente desconhecido. Então ele doa uma série de autorretratos de artistas brasileiros e dentro dessa série tem um autorretrato de um artista afrodescendente.

E como se constitui esse núcleo específico de obras?

A próxima obra de um artista afrodescendente entra nove anos depois, uma outra obra do próprio Arthur Timótheo da Costa. Vai ser então com o Emanuel que esse núcleo ganhará mais tarde certa potencia dentro do museu. Esse interesse em absorver algumas obras de artistas negros ganha complexidade no período de Emanuel Araujo e depois disso será continuado pelo Marcelo Araújo.

Então havia uma política específica olhando para essa produção caraterística? Esse foco não ocorreu por acaso na gestão do Emanuel?

Eu não poderia dizer isso por ele. O que eu noto é que a partir da gestão de Emanuel essa presencia começa a ganhar certa vitalidade dentro do acervo. Vejo o seguinte: esse museu é público, ele tem que problematizar as questões sociais, políticas, dentro do viés da estética e da arte. A partir disso, comecei a estudar essa questão dentro do acervo, e direcionar algumas compras, para poder ver como se configura esse núcleo dentro do museu e como ele se expande, e se relaciona com outras questões no acervo.

Ao fazer uma exposição você acaba naturalmente tentando estabelecer “narrativas”. Mas, pelo conhecimento que tenho do acervo, me parece impossível hoje estabelecer uma narrativa coesa que una, dentro do campo da arte e da estética, as obras desses artistas afrodescendentes; que possamos fazer uma história da arte afro- brasileira com uma coerência interna.

Pode ser que eu tenha essa percepção porque o meu limite de atuação é o núcleo de obras de artistas afrodescendentes que temos hoje no acervo, mas me parece que a razão para isso não não estaria propriamente nos limites do acervo e nem na produção desses artistas, mas na posição que o negro ocupa na nossa sociedade.

Então percebo núcleos, territórios, mas não uma linha cronologicamente coesa. Por exemplo, o Arthur Timótheo da Costa e João, seu irmão, são englobados dentro dessa perspectiva da grande arte brasileira, da arte acadêmica, da arte erudita, porque eles têm todos os requisitos, eles absorvem todos os esquemas e paradigmas da pintura ocidental branca. Eles são aceitos por causa disso. Eles não têm conexão com o Miguelzinho Dutra, artista do final do séc. 18, que é visto pela historiografia atual como um gênio, porque, também de origem Africana e tendo vivido no interior de São Paulo, era considerado um autodidata.

Porém a Pinacoteca tem no seu acervo não só trabalhos de Miguelzinho Dutra – paisagens, que são lindas, de fato –, também folhas de exercícios pautados nos manuais da Academia de Arte da França. E isso vem demonstrar que ele pode não ter tido a formação da Academia Imperial de Belas Artes do Rio de Janeiro, porque ele estava em Itu, em outro contexto. Mas a possibilidade de formar-se dentro dos cânones ocidentais brancos chegou até ele via publicações de manuais franceses!. A gente tem esses desenhos que comprovam o quanto essa questão da formação de determinados artistas é complexa e é preciso estudar.

Outro núcleo, formado já no século 20, tem o próprio Emanuel Araújo e o Ruben Valentim como protagonistas, artistas, que tentam dialogar com a tradição ocidental trazendo para o debate da arte contemporânea brasileira elementos de matriz africana. E tem essa moçada mais nova, cujas obras a gente comprou. Já existia uma obra de Paulo Nazareth na coleção, o afrodescendente mais recente que nós tínhamos, e compramos algumas outras obras nesse período, obras que a gente vai apresentar nessa exposição.

Quem vocês compraram neste seu primeiro ano de gestão?

O Paulo Nazareth já tinha sido comprado pelo Ivo (Mesquita). Se existe no Brasil algum marco da presença de uma nova postura dos artistas afrodescendentes em relação à arte e à cultura brasileira, eu acho que esse marco é a produção de Rosana Paulino. Dela compramos uma importante peça, de 1994. De Jaime Lauriano compramos um importante trabalho e recebemos em doação uma outra obra desse artista que, do meu ponto de vista, é um dos artistas mais interessantes de sua geração. Compramos também Rommulo Vieira Conceição e Flávio Cerqueira. Enfim vai ser um núcleo discreto, com duas obras do Jaime, uma grande instalação da Rosana, um díptico de Paulo Nazareth, um trabalho escultórico do Flávio, e na exposição pretendemos que tenha uma escultura-instação específica do de Rommulo Conceição, embora o museu possua um díptico desse artista. A gente conseguiu também a doação de uma obra de Heitor dos Prazeres, artista extremamente importante que não tínhamos no acervo, que conseguimos a partir de uma política de sensibilização de colecionadores para realizarem doações de nosso interesse.

Este é o primeiro eixo de preocupações desta gestão. O segundo eixo diz respeito à recatalogação de nossa coleção de obras fotográficas que congrega em torno de 700 obras. Logo que entrei, e atendendo a uma preocupação já existente dentro da Pina, afirmei que seria necessário iniciar a revisão dessa catalogação.

Aí eu comecei a pensar no público – para quem, por que se coleciona? Hoje, na cena paulistana, existe o Instituto Moreira Salles que faz um trabalho no campo da fotografia. Tem um acervo de primeiríssima linha com artistas brasileiros, ou aqui residentes, que são expostos assiduamente, e eles também expõem artistas internacionais de imensa qualidade, embora não os colecione. O Instituto demonstra uma característica marcante que define a maioria de suas atividades: o que eles colecionam e mostram são exemplares da fotografia direta, da straight photography. Nesse momento que a Pinacoteca vai revisar a sua coleção e buscar encaminhamentos para ela, tenho que ter a seguinte visão: o público paulistano, a partir do excelente trabalho do IMS, está muito bem servido dessa straight photography. Então esta é nossa ideia: na hora de ampliar o nosso acervo de fotografias iremos, ampliá-lo propondo a entrada de obras que sigma a contrapelo daquela vertente que o IMS coleciona e exibe com tanta qualidade. Afinal, quem, em última instância ganhará com essa decisão, será o público da cidade que terá na Pinacoteca uma coleção que fará emergir outras possibilidades para se pensar a fotografia e a imagem fotográfica na arte.

Acabamos de contratar um curador visitante excelente, Mariano Klautau que, de alguma maneira, se alinha com essas minhas ideias. Queremos trazer para o acervo da Pina trabalhos que tensionem os limites supostamente existentes entre arte e fotografia. Neste sentido, o trabalho de Rosana Paulino – Parede da Memória – que compramos este ano me parece exemplar. A primeira motivação para compra-lo foi pelo fato de considerarmos esse trabalho de 1994 a obra pioneira, a obra que abriu o espaço da arte contemporânea no Brasil para o surgimento dessa nova geração de artistas afrodescendentes. É uma obra que tem como fundo a própria história dessa população. No entanto, seu interesse não se esgota nesta qualidade. A artista produziu mais de 1500 patuás contendo imagens fotográficas de seus familiares. Ou seja, ao mesmo tempo em que a artista traz questões sociais nessa sua produção, essa também aponta para o fato de como a imagem fotográfica pode introduzir-se e se expandir para outras modalidades artísticas que não apenas aquela da fotografia direta. Ou seja, ao mesmo tempo que a obra me ajuda a entender mais sobre o Brasil, ela me ensina a pensar sobre as possibilidades da imagem fotográfica dentro do campo da arte atual. É isso o que eu desejo: tensionar os próprios conceitos e limites da arte e da fotografia a partir de bons trabalhos. Não me interessa competir com o IMS, num universo que ele domina tão bem, mas oferecer ao público da Pina outras possibilidades de entender a fotografia num campo mais ampliado, contaminado pela vida e pela própria arte.

Você pretende visar a ampliação do público, trazendo públicos com outros repertórios?

Pretendo ampliar. Quando se fala em público, falamos de algo tão abstrato. Mas quando penso em público, gosto de pensar num garoto ou garota de 14, 15 anos que está se iniciando no campo da cultura e da arte. A Pinacoteca precisa que as pessoas que mantêm essa instituição, que é pública, se reconheçam nesse acervo. Tenho que trazer trabalhos de qualidade estética e artística, potentes e significativas, mas que estabeleçam algum grau de empatia mais imediata, com um público mais heterogêneo, e a partir daí dar mais subsídios para o setor educativo desenvolver os trabalhos que eles já desenvolvem muito bem, mas com maior participação da própria curadoria.

Então nesse campo da fotografia, a Pina faz em março ou abril a exposição de Marcelo Zocchio. Se você tiver que repensar a história da fotografia contemporânea no Brasil, essa fotografia que dialoga com outras modalidades artísticas, você deve passar pelo trabalho de Marcelo Zocchio. Neste sentido, acho muito importante que a Pinacoteca por meio de exposições também indique elementos para essa revisão do que é ou do que pode ser a fotografia na arte atual.. Zocchio é um artista que é conhecido por um segmento muito pequeno, as pessoas que se interessam pela arte contemporânea, por esse diálogo entre fotografia e tridimensional, têm sua produção como uma das referências mais significativas. A gente vai fazer essa exposição para chamar atenção para a importância de sua obra. E com ela será como se diséssemos: é que se trata, a gente quer tratar da arte contemporânea. E essa busca está pautada em questões internas do acervo. Ou seja, dentro do acervo atual da Pina, temos obras que apontam para esse hibridismo que a obra de Zocchio, a obra de Paulino apontam. É isso que nos garante que não saiamos atirando para qualquer lado, porque a gente não consegue, é impossível.

E como são as estratégias de sensibilização dos colecionadores?

Me refiro a esses achados que as vezes aparecem e que nós não temos condições de comprar. Um exemplo: Túlio Mugnaini nos interessa não apenas por ter sido um artista, mas por ter sido um diretor da Pinacoteca. Por que a partir daquilo que ele pintou você vai entender o que ele projetava no circuito pra trazer pra Pinacoteca. Um Túlio Mugnaini hoje não é um artista que valha R$ 100 ou R$ 50 mil. Hoje você compra um Mugnaini por R$ 7 mil, R$ 15 mil. Então, se surge uma oportunidade, a gente pega no telefone e o colecionador se sente muito reconhecido, porque ele sabe que é o sujeito que te ajuda numa oportunidade para comprar uma obra significativa para o museu. Não vai ganhar nome em praça pública, mas está ajudando a constituir uma coleção que tem uma significação pública.

Esses colecionadores são sempre discretos? Seus nomes não estão no conselho?

Varia muito. Tem pessoas que preferem que seu nome não apareça como doador. Mas o que é importante é que existe uma nova geração de colecionadores que finalmente entendeu que suas coleções só terão a devida importância, se as coleções de seus países também tiverem. É logico. Por que se dá tanto dinheiro para o MoMA, em Nova York? Porque no MoMa possui obras em seu acervo que dialogam com a coleção desses doadores. Esta consciência está ocorrendo aqui também.

Os colecionadores brasileiros sempre colocaram muito dinheiro nos museus estrangeiros. Mais do que nos nacionais, não?

Tem um exemplo emblemático dos anos 1990. A situação mudou, não está assim, mas quando Milú (Vilella) assumiu a presidência do MAM SP, ela fez uma pesquisa pra ver quantos “amigos” tinha no MAM e quantos amigos brasileiros havia no MoMA. No museu de Nova York havia mais do que o dobro de amigos brasileiros do que no MAM de São Paulo. Isso era muito comum. Lembro-me que nos anos 1990, quando fui curador-chefe do MAM de São Paulo, as pessoas entravam no museu dizendo; ‘É a primeira vez que entro em um museu no Brasil’. Como se isso fosse algo a ser declarado! Hoje isso mudou. As pessoas tem mais informação, elas entendem mais o que significam as instituições brasileiras.

Mas isso pelo trabalho das próprias instituições, né?

Felizmente sim. Ha uma turma jovem, com quem a instituição pode contar. Essas pessoas curtem, vibram com o trabalho que os museus desenvolvem apesar de todas as dificuldades.

Então estamos em um momento de maior correspondência entre coleções públicas e privadas?

É aqui que eu queria chegar. Hoje no Brasil, no terreno das artes visuais, vivenciamos um problema sério e muito incentivado pela própria mídia, que ligeira e superficial, na maioria esmagadora dos casos, deixou de ter verdadeiros críticos de arte. Hoje difunde-se a falsa ideia de que a única produção contemporânea de arte de qualidade é aquela que está nas galerias. É uma ligação muito direta e rasa. Penso que é nesta questão que instituições como a Pinacoteca podem ajudar. Elas podem e devem dizer sempre o seguinte: a arte contemporânea brasileira é muito maior e mais rica do que a arte contemporânea brasileira que está nas galerias. Este deve ser o nosso papel. Enquanto não mudarmos esse senso comum as relações entre instituições e colecionadores dispostos a nos ajudar não será tão fácil. Se eu peço a um colecionador que me ajude a comprar uma obra que está numa galeria respeitada, é muito mais fácil ele topar a ajuda, do que se eu quiser comprar um artista importante mas absolutamente underground, mas com uma obra importantíssima que conscientemente renega o circuito mainstream. Às vezes é difícil convencer até o próprio Conselho. Mas a instituição tem a obrigação de mostrar para eles que há artistas significativos que trafegam por outras esferas. O museu é o lugar em que os especialistas trabalham o tempo todo com esta questão e são eles os que pelo menos em tese, possuem melhores condições para descobrir o verdadeiro trigo em meio ao joio.

Posted by Patricia Canetti at 6:09 PM

Em crise, Museu de Arte Contemporânea da USP deve buscar novo diretor por Silas Martí, Folha de S. Paulo

Em crise, Museu de Arte Contemporânea da USP deve buscar novo diretor

Matéria de Silas Martí originalmente publicada no jornal Folha de S. Paulo em 23 de janeiro de 2016.

Quando a artista Kátia Canton assumiu a direção do Museu de Arte Contemporânea da USP, preenchendo o vácuo deixado por Hugo Segawa, que renunciou ao cargo em novembro do ano passado, parecia que a crise envolvendo a instituição estava perto do fim. Mas os próximos meses prometem ainda mais tumulto.

Uma mudança nas regras para a eleição de dirigentes de museus da universidade determina que o MAC abra em breve um novo concurso para escolher seu diretor –Canton, que acreditava poder ficar no posto até 2018, quando terminaria o mandato de Segawa, terá de ceder seu lugar a um novo eleito ou mesmo se candidatar à vaga que já ocupa na condição de interina.

"É uma fase muito enroscada. Bem ou mal, quem está aqui no furacão sou eu", diz Canton. "Vou terminar o mandato como diretora ou vice. Todos querem que eu fique."

Nem todos. A saída de Segawa, que deixou a direção por causa de uma briga com o conselho da instituição, desencadeou uma disputa pelo comando deste que é um dos maiores museus da América Latina, com 11 mil obras, entre elas trabalhos de pintores como Picasso e Modigliani.

Na tentativa de ampliar o número de candidatos à direção, as regras da eleição foram revistas em dezembro passado. Em vez de o conselho propor uma lista de nomes ao reitor, que então tomaria uma decisão final, o novo modelo exige que candidatos a diretor e vice concorram em chapas e sejam escolhidos por um colégio eleitoral ampliado, com integrantes de fora do museu.

Martin Grossmann, antigo vice-diretor do MAC, foi o principal articulador da mudança, sinalizando interesse em se candidatar ao posto –como está deixando o comando do Instituto de Estudos Avançados da USP em fevereiro, ele então estaria livre para concorrer à direção do museu.

Nos corredores do MAC, seu nome já circula entre os funcionários como possível futuro diretor, mas ele nega a intenção de comandar o museu.

ATAQUE

"Não sou candidato, mas tenho uma preocupação com o futuro do MAC", diz Grossmann. "Tenho críticas ao modo como o museu acabou se sujeitando a uma operação endógena e que não faz jus à sua importância. Não foi o diretor que deixou o museu nessa situação. Quem criou essa situação é um conselho muito fechado e provinciano."

Seu ataque, de certa forma, reverbera a impressão que se tem do MAC em parte do circuito artístico –uma instituição lenta, isolada da cena cultural da cidade e refém de uma burocracia asfixiante.

Mesmo quatro anos depois de se mudar para sua nova sede ao lado do parque Ibirapuera, o museu não conseguiu se instalar de modo definitivo ali.

Há três dias, a reitoria da USP liberou R$ 400 mil para bancar a mudança da biblioteca do MAC da Cidade Universitária para o Ibirapuera e a reforma do primeiro andar, reservado à administração. Canton chamou a decisão de "supervitória" e saiu para comemorar com os funcionários.

Mas, sem dinheiro para realizar exposições temporárias, o MAC deve demorar para ganhar uma posição mais robusta no circuito. O plano mais ambicioso de Canton, por enquanto, é abrir até o fim do ano uma nova mostra do acervo permanente –será um circuito cronológico, com obras do século 20 ao 21 espalhadas por três andares do edifício.

"Isso é um lugar de conhecimento. Não vai haver nenhuma exposição 'megablaster' aqui", diz Canton. "Ninguém queria ser diretor, não era a carreira que eu sonhei para mim. Achei que fosse ser terrível, mas agora o MAC vai ser a referência que deve ser."

Novas eleições, no entanto, podem mudar os planos. Quando a reitoria tornar oficial a exoneração do antigo diretor, algo que deve ocorrer até março, Canton terá um mês para convocar um novo concurso. "Para a reitoria é mais importante a equipe do MAC desenhar um projeto de como vai atuar do que a pessoa física que vai ocupar a presidência", diz Vahan Agopyan, vice-reitor da USP.

Posted by Patricia Canetti at 6:01 PM

janeiro 22, 2016

Start spreading the news: Galeria Nara Roesler abre filial em Nova York por Paula Alzugaray, Select

Start spreading the news: Galeria Nara Roesler abre filial em Nova York

Matéria de Paula Alzugaray originalmente publicada na revista Select em 21 de janeiro de 2016.

Lançamento oficial será durante a feira Armory Show 2016, em março

O Flower District, de Nova York, não é um endereço com tradição no mundo da arte. Mas é lá, entre uma loja de chapéus e um comércio de bijouterias, que a Galeria Nara Roesler está começando um novo capítulo de sua bem-sucedida trajetória no sistema de arte internacional. No segundo andar do número 47 da Rua 28, quase esquina com a Broadway, não está apenas a mais nova galeria comercial a abrir em Nova York. Está uma das principais galerias de arte contemporânea do Brasil, fundada em 1989, atuante em dois grandes espaços em São Paulo e no Rio de Janeiro e dona de um forte programa de internacionalização que começou com a participação em feiras no exterior, há 15 anos.

Alexandra Garcia, diretora da Nara Roesler New York diz que, como toda a ilha de Manhattan, aquela área está mudando rapidamente. Mas o que é realmente sedutor no Flower District é que esta é uma das últimas áreas que ainda não entraram no ciclo de especulação imobiliária e gentrificação que sobe vertiginosamente os preços de alugueis, inviabiliza pequenos comércios e expulsa os ateliês de artistas.

Chegar ao 47 W28th Street tem um gostinho de – porque não – SoHo nos anos 1970, Lower East Side nos anos 1980, ou Chelsea nos 1990, antes desses bairros terem se tornado as mecas do mercado de arte mundial e serem invadidos por lojas de design, hotéis e restaurantes 5 estrelas e grifes de luxo.

Há quem aposte que, pela proximidade com o Chelsea, o Flower District seja a bola da vez. Como vizinhos, a Nara Roesler tem a Casey Kaplan Gallery, e por pouco tempo a Broadway 1602, galeria que representa Lenora de Barros e Marcius Galan em NY, mas que está de mudança para o Upper East Side. Outros apostam no West Harlem, onde a Mendes Wood DM está a ponto de arrematar um imóvel para, em breve, instalar sua filial nova-iorquina, em operação casada com a poderosa Mike Verner Gallery, que também tem filiais em Londres e Berlim.

A chegada das duas galerias brasileiras à Big Apple se dá em um momento de reconfiguração do mapa das artes local, quando várias galerias estão debandando de um Chelsea inflacionado. É certo que o fato do compositor George Gershwin ou de Marilyn Monroe terem vivido na W28th dá ao local uma aura especial. Mas é muito menos relevante do que o fato do endereço estar realmente no coração da ilha, no meio do caminho para qualquer uma das coordenadas a norte, sul, leste ou oeste.

A ideia que norteia a operação Nara Roesler NY é justamente esta: posicionar-se no centro da ilha e do mundo, onde clientes da Europa, América Latina, Ásia e América do Norte circulam com desenvoltura. “Nova York é um hub”, afirma o diretor Daniel Roesler. “A meta é ter um endereço acolhedor para atender os clientes internacionais da galeria e para estarmos mais próximos dos curadores, dos consultores e dos comitês de aquisição dos museus”. O percentual de vendas para estrangeiros atualmente é de 20 a 25%. “Queremos dobrar esse percentual”, diz Roesler.

Operação sustentável

Com a alta do dólar, o investimento teve seu grau de risco dobrado. “Por isso, é muito importante começar esta operação com custos baixos”, diz a diretora Alexandra Garcia. “Estamos chamando o espaço de viewing room. Quero receber no estilo brasileiro, para tomar um café e falar sobre arte”.

A diretora aponta que, se o crescimento acontecer como eles planejam, em três anos podem se mudar para um ground floor. Mas o que interessa nesse momento não são os metros quadrados de paredes, nem a vitrine para a rua. Além das vendas com hora marcada para clientes, a galeria está focada em se posicionar como plataforma para articulação de projetos e parcerias institucionais que contribuam para a construção da imagem dos artistas brasileiros no exterior.

Daniel Roesler aponta como o primeiro grande projeto a individual de Tomie Ohtake na Tina Kim Gallery, uma das galerias Blue Chip de NY, com forte presença na Ásia, com abertura marcada para 2 de março. “A gente espera que essa exposição traga o entendimento da obra de Tomie que ela merece, tanto nos EUA quanto na Ásia”, diz Roesler.

A galeria está funcionando desde Dezembro de 2015 e terá seu lançamento oficial na Armory Show 2016. Mas as ações começaram muito antes disso. A lista das conquistas dos últimos três anos não são nada desprezíveis: exposição de Antonio Manuel na American Society, de Paulo Bruscky no Bronx Museum, a participação de Antonio Dias na coletiva Transmissions, no MoMA – abrindo a exposição –, e de outros artistas na coletiva Under the Same Sun: Art From Latin America Today, no Guggenheim Museum. Além disso, eles viabilizaram a publicação e distribuição para EUA e Europa 15 livros em inglês sobre arte e artistas brasileiros, editados pela APC Brasil. “Na Armory vamos mostrar um Brasil poderoso – Vik Muniz, Antonio Dias, Paulo Bruscky, Lucia Koch, Marcos Chaves, Artur Lescher. Na galeria, vamos mostrar nossos artistas internacionais”, diz Alex Garcia. Em abril/maio, durante a Frieze Art Fair, Moacir dos Anjos fará no espaço uma curadoria de Cao Guimarães.

A operação NY irá alterar o plano de participação em feiras da galeria. Este ano, a Nara Roesler deixará de fazer as feiras européias e latino-americanas para jogar todas as fichas nos EUA. Fora dos EUA, apenas a participação na Art Basel Hong Kong será mantida. A entrada de Daniel Roesler no comitê da Armory Show também irá pesar dentro do processo de aclimatação no novo endereço. O estreitamento de contatos com galeristas nova-iorquinos, que estão no comitê, como Marianne Boesky e Sean Kelly, sem dúvida renderá altas conexões e parcerias. Assim aconteceu, por exemplo, com Luciana Brito, que durante 5 anos integrou o comitê da Armory e fechou negócios de ouro, como a representação de Marina Abramovic no Brasil.

Posted by Patricia Canetti at 11:02 PM

MAC, em nova fase, busca parceiros para dinamizar sua sede por Antonio Gonçalves Filho, Estado de S. Paulo

MAC, em nova fase, busca parceiros para dinamizar sua sede

Matéria de Antonio Gonçalves Filho originalmente publicada no jornal Estado de S. Paulo em 13 de janeiro de 2016.

A diretora em exercício, Kátia Canton, pretende instalar um restaurante e um café no museu ainda este ano

Com 97,4% de sua dotação orçamentária (mais de R$ 5 bilhões) comprometida com as despesas da folha de pagamento, a Universidade de São Paulo (USP) não terá dinheiro para outra coisa este ano e ainda será obrigada a enfrentar um déficit calculado em R$ 543 milhões. Contra esse quadro desanimador, agravado pela atual crise econômica, as alternativas são poucas, mas a criação do programa Parceiros da USP, que busca a colaboração da sociedade civil por meio de doações, pode representar uma saída, especialmente para o seu Museu de Arte Contemporânea (MAC/USP).

Recentemente fechado na Cidade Universitária, o museu, agora restrito à sede no Ibirapuera, terá de recorrer à iniciativa privada para realizar suas exposições temporárias. Nada demais. Vale lembrar que o museu foi instituído em 1963 por vontade de um mecenas, Ciccillo Matarazzo, e doações internacionais (Fundação Nelson Rockefeller). Ele migrou para a universidade, mas não perdeu suas feições particulares.

Com a demissão do diretor do museu, Hugo Segawa, no fim do ano passado, assumiu seu posto a vice-diretora Kátia Canton, que pretende enfrentar esse período crítico justamente com a ajuda da iniciativa privada. Já no fim do mês, quando for inaugurada a exposição do futurista italiano Fortunato Depero (1892-1960), o patrocínio da Campari surgirá como uma dádiva num momento em que o MAC vai gastar R$ 400 mil só com a transferência de sua biblioteca e instalações administrativas para a nova sede no Ibirapuera.

Reformado pela Secretaria de Cultura do Estado ao custo de R$ 76 milhões, o prédio tem alguns problemas, como todo edifício adaptado a novas funções. É naturalmente limitado para expor arte contemporânea, além de seu acervo com quase 10 mil obras, que integram a mais importante coleção de arte moderna da América Latina (Kandinsky, Modigliani, Matisse, Klee, Morandi, Picasso e outros). As limitações não param por aí. Sua reserva técnica, de dimensões espetaculares, não pode receber essa coleção. Não está adequadamente equipada para enfrentar a umidade do subsolo do anexo nem tem as condições técnicas que oferece a antiga, no câmpus da universidade, onde as obras devem ficar até segunda ordem.

“Nossa prioridade, agora, é instalar a biblioteca, no piso térreo, e as salas da administração, no primeiro andar”, diz a diretora em exercício Kátia Canton, que deve permanecer no cargo após o reitor assinar a exoneração de Segawa. Ela tem planos para atrair novos visitantes ao museu, que terá três dos seus últimos andares reservados ao acervo permanente (com obras icônicas como o único autorretrato de Modigliani e a tela O Enigma de Um Dia, de De Chirico). Hoje, apenas 6% do acervo é mostrado ao público. “Nosso primeiro passo em direção à sociedade civil será para instalar o restaurante no último piso”, revela a nova diretora, que pretende ver funcionando esse e uma cafeteria no museu até o fim do ano. “Também estamos acertando com a Edusp a criação de uma livraria e a instalação de uma loja no museu.”

São projetos viáveis. O problema maior é mesmo a reserva técnica. Hoje, 84% das obras estão na antiga sede da Cidade Universitária e 7% no terceiro andar do prédio da Bienal, emprestado ao MAC. A reserva técnica do antigo MAC tem um sistema de prevenção de incêndio que usa um gás especial parecido com o do Louvre. Na gestão do professor Teixeira Coelho foi criado o Gabinete de Papel, que tem obras preciosas no suporte e exigem, portanto, condições de temperatura e segurança semelhantes às existentes no câmpus. “Não vejo alternativa além de recorrer à iniciativa privada, até mesmo porque o MAC não é um museu da universidade para a universidade, mas para a sociedade”, comenta.

Ao fechar a sede do Museu de Arte Contemporânea no câmpus, a USP dificultou a própria dinâmica educacional, uma vez que os docentes usam a coleção e o local para suas aulas e pesquisas. Tudo fica mais difícil para eles. Quando foi inaugurada a nova sede, das 17 exposições, 15 eram do acervo, lembra o ex-diretor Tadeu Chiarelli. Nada indica que a mostras temporárias devam crescer. A notícia boa é que a Secretaria de Estado da Cultura vai ceder em caráter definitivo o prédio do Ibirapuera ao MAC, como revela o secretário Marcelo Araújo. “O processo de transferência para a USP já está em tramitação.”

Parceria. A cessão do prédio onde funciona o MAC, no Ibirapuera, foi, segundo o vice-reitor da USP, Vahan Agopyan, “um grande ganho para a universidade”. Ainda que o déficit orçamentário previsto para 2016 seja de R$ 543 milhões, a USP não pretende suspender os planos para equipar o museu com um restaurante no topo do prédio e agilizar as obras de adequação da reserva técnica para receber as obras que ainda estão no antigo MAC. “Essa mudança não é tão rápida, mas o modelo de licitação do restaurante já está pronto”, diz. “Embora as dificuldades financeiras existam, a USP não está parada e vejo com bons olhos a participação da iniciativa privada, regulamentada pelo programa Parceiros da USP.”

Segundo o programa, ela pode vir por meio de doações de bens móveis e imóveis ou doações para reformas ou construções. “Todos os museus têm apoio externo, não só para realizar exposições ou aumentar o acervo.” Com a transferência do MAC, os professores passarão o dia todo no Ibirapuera. “Somos um museu universitário e temos de pensar no conforto dos pesquisadores e do público”, conclui Agopyan.

Posted by Patricia Canetti at 10:57 PM

Sete dos dez maiores museus do Rio não têm alvará dos Bombeiros por Mariana Filgueiras, O Globo

Sete dos dez maiores museus do Rio não têm alvará dos Bombeiros

Matéria de Mariana Filgueiras originalmente publicada no jornal O Globo em 21 de janeiro de 2016.

Incêndio que destruiu Estação da Luz, em São Paulo, completa um mês

RIO - No dia 21 de dezembro do ano passado, um incêndio no Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, matava um funcionário e destruía o prédio da instituição, a Estação da Luz. Um mês depois, a tragédia ainda não teve suas causas totalmente esclarecidas. Nem serviu de alerta. Nos últimos dias, O GLOBO percorreu os dez museus mais importantes do Rio para checar o sistema de segurança contra incêndio de cada um. Apenas três apresentaram o Certificado de Aprovação emitido (e exigido) pelo Corpo de Bombeiros, documento que prova que a entidade passou por todas as exigências da Defesa Civil e que tem sistema de segurança contra sinistro adequado.

O panorama

São eles: os recém-construídos Museu do Amanhã e Museu de Arte do Rio (MAR), que, sendo edifícios novos, nem poderiam ter sido inaugurados sem a licença; e o Museu de Arte Moderna, que já passou por um incêndio de dimensões trágicas em julho de 1978. Na ocasião, a instituição perdeu quase mil obras de arte, entre elas duas telas de Picasso, duas de Miró e centenas de trabalhos de artistas brasileiros — o trauma foi tamanho que só nos anos 1990 as instituições internacionais voltariam a confiar no país para abrigar exposições de grande porte.

Seguem funcionando sem certificado dos Bombeiros o Museu da República, o Museu Nacional de Belas Artes, o Museu Histórico Nacional, o Museu Villa-Lobos, o Museu da Chácara do Céu, o Museu do Açude e o antigo Museu da Imagem e do Som. Leia nesta página e na página 3 as explicações de cada um.

Museu Histórico Nacional

Fundado em 1922, tem um acervo de cerca de 350 mil itens, incluindo a maior coleção numismática da América do Sul e carruagens do século XIX que pertenceram à família real. Instalado na Praça XV, numa construção datada de 1764 — o Forte de Santiago, tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico Nacional (Iphan) —, o museu passou por grande reforma em 2006. Mas até hoje não tem o Certificado de Aprovação do Corpo de Bombeiros porque, segundo o Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), que responde pela instituição, ainda está passando por um “processo de normatização junto a outros museus federais”. A diretoria técnica da instituição afirma que os extintores estão em dia e que há oito brigadistas de plantão.

Museu Nacional de Belas Artes

Às vésperas de completar 80 anos (em 2017), abriga a maior e mais importante coleção de arte brasileira do século XIX, com um acervo de 70 mil pinturas, desenhos, gravuras, esculturas, objetos, documentos e livros. Estão lá, por exemplo, a monumental tela “Batalha do Avaí” (1872-1877), de Pedro Américo, medindo 66 metros quadrados; e a pintura “Primeira Missa no Brasil” (1860), de Vitor Meireles. O edifício é outro bem. Construído em 1908, o prédio de arquitetura eclética localizado na Cinelândia é tombado pelo Iphan desde 1973.

— Não temos o alvará ainda, mas seguimos todas as recomendações do Corpo de Bombeiros para a manutenção da segurança, não só contra incêndio — diz a diretora do museu, Mônica Xexéo. — Com o Ibram, preparamos um projeto de Gerenciamento de Riscos que acabou de ficar pronto. Todos os extintores estão em dia, as saídas de emergência liberadas, e a área da reserva técnica tem tudo sob controle da diretoria técnica — explica ela, que percorreu o museu com O GLOBO mostrando extintores e saídas. — Mesmo assim, estamos desde 2010 pedindo celeridade ao processo da documentação junto ao Corpo de Bombeiros. Como o prédio é tombado, porém, há uma série de exigências burocráticas que ainda não foram concluídas.

Museu da Imagem e do Som

Enquanto não transfere seu acervo para a nova sede, que está sendo construída em Copacabana, o Museu da Imagem e do Som (MIS) sediado na Lapa segue armazenando a memória da música brasileira e servindo a pesquisadores de todo o país. São 30 coleções, com cerca de 305 mil documentos, entre fotografias, negativos em vidro, estereoscópicas, além de uma discoteca de quase 60 mil discos, incluindo cerca de 18 mil discos da Rádio Nacional, com músicas, novelas e scripts de programas que marcaram época. Fazem parte desse acervo a coleção do radialista Almirante; dos músicos Abel Ferreira e Jacob do Bandolim; dos pesquisadores de música Sérgio Cabral e Hermínio Bello de Carvalho; e de intérpretes como Nara Leão, Elizeth Cardoso, Zezé Gonzaga e Paulo Tapajós. Questionada sobre a falta do certificado dos Bombeiros apesar do imenso valor histórico da coleção, a Secretaria estadual de Cultura, responsável pela instituição, admite que a documentação está pendente e promete que dará entrada no processo ainda em 2016.

Museu da República

Sede da Presidência ao longo de 64 anos, tendo servido a 18 chefes de governo, o Palácio do Catete, hoje Museu da República, já recebeu papas e reis e testemunhou movimentações políticas e sociais intensas — além de ter sido cenário do suicídio de Getúlio Vargas, foi lá que, primeira vez, uma música popular foi tocada em salões aristocráticos (“Corta Jaca”, de Chiquinha Gonzaga) . Apesar disso, apenas o cinema, que ocupa uma sala anexa do prédio, apresenta o Certificado de Aprovação contra incêndio.

— Não temos alvará, mas estamos, com o Ibram (Instituto Brasileiro de Museus), participando de reuniões para atualizar o sistema de segurança. Em julho do ano passado, a orientação do Corpo de Bombeiros foi que contratássemos empresas, recomendadas por eles, para que fizessem projetos atualizados. Mas, como já estávamos com o orçamento em andamento, só poderemos incluir o investimento neste ano. Enquanto isso, seguimos as recomendações de segurança. E contratamos um brigadista em dezembro. Até então, não tínhamos — diz a diretora, Magaly Cabral.

Museu do Açude

Cenário da novela “Roque Santeiro” (1985) — era a casa da Viúva Porcina, protagonista da trama —, o espaço, com seus 150 mil metros quadrados de Mata Atlântica, abriga um raro acervo de arte no Alto da Boa Vista. Formada sobretudo entre os anos 1920 e 60, a coleção possui mais de 22 mil itens, incluindo obras de Candido Portinari e Debret, além de uma renomada coleção de azulejaria portuguesa e de peças orientais.

Antiga propriedade privada, a casa foi reformada nos anos 1920 pelo empresário franco-brasileiro Raymundo Ottoni de Castro Maya e posteriormente aberta à visita pública. Hoje é um museu federal. Segundo o Ibram, responsável pela instituição, o museu passa por um “processo de normatização” junto a outros equipamentos federais. A direção da casa, porém, alega que já solicitou vistoria ao Corpo de Bombeiros para atualizar seu sistema de segurança. E diz que o pedido ainda não foi atendido. O Corpo de Bombeiros, por sua vez, argumenta que não localizou a solicitação.

Museu da Chácara do Céu

Herdada pelo empresário Raymundo Ottoni de Castro Maya em 1936, a casa de três pavimentos, construída em 1876, em Santa Teresa, também foi posteriormente transformada em um museu federal. Abriga coleções de arte de diversos períodos e de diferentes origens, livros raros, mobiliário e artes decorativas, com obras de Guignard, Volpi, Iberê Camargo, além da maior coleção pública de Portinari.

Em 2006, sofreu um roubo histórico, enquanto um bloco de carnaval passava pela região. E perdeu obras de Monet, Matisse, Picasso e Salvador Dalí. Nenhuma delas foi recuperada até hoje. Depois disso, o museu reviu seu sistema de segurança, mas o de incêndios continua pendente. O Ibram, que também responde pela instituição federal, não explica o porquê. A Chácara do Céu é mais um dos que estão passando pelo tal “processo de normatização” junto a outros equipamentos federais.

Museu Villa-Lobos

Fundado em 1960, um ano após a morte de Heitor Villa-Lobos, o museu federal preserva partituras, documentos e objetos que pertenceram ao compositor carioca. A instituição, localizada em Botafogo, também edita livros e discos, realiza festivais e promove concursos e concertos.

— O Museu Villa-Lobos aguarda a liberação do alvará definitivo do Corpo de Bombeiros, dependendo apenas do cumprimento de alguns trâmites burocráticos — defende a diretora do lugar, Solange Costa. — O Corpo de Bombeiros já esteve aqui, analisou todos os nossos extintores, que estão absolutamente em dia, e já começamos uma obra nas partes elétrica e hidráulica do museu a fim de modernizar os sistema de água e luz. Alguns dos nossos funcionários participaram de cursos de proteção contra incêndios, o que faz parte do Programa de Gestão de Riscos, uma das ações do Ibram (o instituto também é responsável pela instituição), no campo da preservação e segurança em museus.

Em SP, falta projeto de restauração

Atingido por um incêndio há exatamente um mês, o Museu da Língua Portuguesa, na região central de São Paulo, passa por obras para desobstrução das lajes e avaliação dos danos ao prédio, onde fica também a Estação da Luz. As plataformas da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) foram totalmente liberadas no dia 8 e seguem funcionando normalmente.

Segundo a secretaria estadual de Cultura, as obras, que começaram imediatamente após a ação dos bombeiros, seguem com a manutenção da segurança do prédio e retirada de entulhos do local. “Com o avanço deste serviço, já estão ocorrendo também as avaliações técnicas que vão orientar a elaboração de projeto e as intervenções de restauro”, diz uma nota emitida pela assessoria da secretaria.

Só após o fim desse trabalho é que serão emitidos laudos para determinar como a estrutura foi afetada para estabelecer um projeto de restauração e planos de trabalho. Como o prédio é tombado, tudo isso deverá ser submetido para aprovação ao Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e ao Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado (Condephaat). Em razão de todos esses processos, diz a secretaria, não existe um cronograma com previsão de início da restauração ou data de reabertura.

A secretaria de Segurança Pública informou, em nota, que a Polícia Civil segue com a investigação sobre as causas do acidente, a cargo do 2º Distrito Policial, no bairro do Bom Retiro: “As equipes policiais continuam coletando depoimentos e são aguardados os resultados dos laudos do Instituto de Criminalística e do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT)”.

Comitê acompanha obras

O incêndio começou no primeiro andar e se espalhou para o segundo e terceiro andares do edifício, cuja estrutura interna era composta principalmente de madeira, o que colaborou para a propagação das chamas. O prédio não estava com o Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros (AVCB) nem com alvará de funcionamento da Prefeitura de São Paulo em dia. Na ocasião, o museu estava fechado para visitação. O bombeiro civil Ronaldo Pereira da Cruz, de 38 anos, morreu ao tentar conter o início das chamas.

O governador Geraldo Alckmin criou um comitê para acompanhar as obras e o trabalho de restauração do prédio. Em conjunto com a secretaria da Cultura e a organização social ID Brasil, Cultura, Educação e Esporte, que cuida da administração do museu, o comitê atua na negociação com a empresa seguradora e os trâmites burocráticos para o prosseguimento dos trabalhos. A pasta informou que o museu possui seguro contra incêndio da ordem de R$ 45 milhões.

Posted by Patricia Canetti at 10:48 PM

janeiro 20, 2016

Diretora lamenta e fala sobre fechamento do Paço das Artes por Fernanda Cirenza, Brasileiros

Diretora lamenta e fala sobre fechamento do Paço das Artes

Matéria de Fernanda Cirenza originalmente publicada na revista Brasileiros em 19 de janeiro de 2016.

Priscila Arantes espera que o governo do Estado encontre uma sede própria para o centro cultural

À frente nos últimos oito anos do Paço das Artes, que funciona dentro da Cidade Universitária, na zona oeste de São Paulo, Priscila Arantes, diretora artística e curadora, lamenta o anúncio do fechamento do centro cultural. No entanto, atribui o ocorrido a um único aspecto: o fato de a instituição não ter tido uma sede desde a sua fundação.

O Paço funciona em um prédio da Secretaria de Estado da Saúde há 20 anos. Foi a secretaria, de acordo com Priscila, quem pediu o imóvel de volta para ampliar as dependências do Instituto Butantan. O museu tem 45 anos de vida. O paço já esteve na Avenida Paulista, Pinacoteca (sem funcionamento), no MIS (Museu da Imagem e do Som) e, finalmente, no campus da USP. “Desde que estou lá, essa situação acontece. Penso que agora chegou a hora de a Secretaria de Estado da Cultura ter um espaço próprio para o Paço. Eu vou me mobilizar para isso aconteça”, diz Priscila.

Com futuro incerto até agora, a única coisa que se sabe é que o Paço ainda abrigará a mostra do videoartista alemão Harun Farocki, com abertura marcado para o dia 28 deste mês. Com encerramento previsto para o final de março, será a última no endereço atual.

A exposição da artista Lenora de Barros, que estava marcada para abril, já foi transferida para uma das salas da Oficina Cultural Oswald de Andrade, no Bom Retiro, região central da cidade. Outra parte da programação será transferida para o MIS – o Paço integra a mesma organização social responsável pelo museu dirigido por André Sturm.

O Paço das Artes tem hoje dez funcionários. De acordo com Priscila, o quadro deverá ser mantido, mas haverá pequenas alterações. Com orçamento de R$ 15 milhões destinados ao MIS e ao Paço em 2015, Priscila prevê corte de verba. “O momento é difícil, mas o Paço sempre foi e continua sendo um equipamento cultural importante da cidade. Eu realmente espero que a Secretaria de Cultura encontre uma sede para o museu.”

Posted by Patricia Canetti at 12:25 PM

Paço das Artes perde sede na Cidade Universitária em abril por Camila Molina, Estado de S. Paulo

Paço das Artes perde sede na Cidade Universitária em abril

Matéria de Camila Molina originalmente publicada no jornal Estado de S. Paulo em 19 de janeiro de 2016.

Instituto Butantan vai retomar edifício na USP; programação da instituição será transferida para a Oficina Cultural Oswald de Andrade e para o MIS

A Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo anunciou nesta terça-feira, 19, por meio de nota, que o Paço das Artes terá sua programação transferida para o Museu da Imagem e do Som (MIS) e para a Oficina Cultural Oswald de Andrade a partir de abril. "A solução será adotada enquanto a Secretaria busca outra sede para o museu, uma vez que a atual, localizada na Cidade Universitária, será devolvida ao Instituto Butantan, proprietário do edifício, que está remodelando sua estrutura física para dar lugar à fábrica da vacina brasileira da dengue", afirmou o órgão do governo estadual. Como parte da iniciativa, a retrospectiva da obra da artista Lenora de Barros já está agendada para ser inaugurada em abril na Oficina Oswald de Andrade. O Paço das Artes encerra suas atividades na Cidade Universitária em 27 de março.

Segundo a Secretaria de Cultura, o Instituto Butantan está há oito anos solicitando a retomada de seu prédio utilizado pela instituição cultural criada em 1970 e vinculada ao governo do Estado de São Paulo. Dirigido por Priscila Arantes, o Paço das Artes  é administrado pela Organização Social (OS) Associação do Paço das Artes Francisco Matarazzo Sobrinho, também responsável pelo MIS. Desde sua inauguração, como está na nota oficial, a instituição já ocupou locais diferentes como na Avenida Paulista, na Pinacoteca do Estado e no MIS.

A Secretaria afirma através de sua assessoria de imprensa que o Paço das Artes não será extinto. A instituição confirma a realização, entre 28 de janeiro e 27 de março, das já anunciadas exposições do cineasta Harun Farocki e da Temporada de Projetos 2016 - 1.ª Etapa no prédio da Avenida da Universidade, 1, na Cidade Universitária. Será também inaugurada em 2 de fevereiro a exposição Antigos Artefatos, organizada por Inês Raphaelian, e será prorrogada no local a mostra Títulos, do artista Thiago Honório.

Posted by Patricia Canetti at 12:12 PM

Grande celeiro de jovens artistas, Paço das Artes será despejado em março por Silas Martí, Folha de S. Paulo

Grande celeiro de jovens artistas, Paço das Artes será despejado em março

Matéria de Silas Martí originalmente publicada no jornal Folha de S. Paulo em 19 de janeiro de 2016.

Uma vez encerradas as mostras que inaugura no fim deste mês, o Paço das Artes, centro cultural que funciona há 22 anos dentro da Cidade Universitária, será fechado.

No fim de março, a programação da instituição deve migrar para o Museu da Imagem e do Som e para a Oficina Cultural Oswald de Andrade, no Bom Retiro, centro da cidade.

Fora da USP, o destino do Paço, responsável por lançar nomes de peso na arte contemporânea e um dos maiores centros de experimentação estética do país, é incerto.

Sua sede na Cidade Universitária será devolvida ao Instituto Butantan, dono do imóvel, que agora pretende usar o espaço para ampliar sua fábrica de vacinas contra a dengue - segundo a Folha apurou, a Secretaria de Estado da Saúde, responsável pelo Butantan, vem pedindo seu prédio de volta há pelo menos cinco anos.

Esse desfecho repentino, de acordo com pessoas próximas às negociações, tem a ver com a pressa do Ministério da Saúde em garantir uma alternativa nacional de imunização contra a dengue. O Butantan fornecerá essas vacinas para o órgão federal.

Fundado em 1970, o Paço das Artes nunca teve sede definitiva, já tendo ocupado espaços na avenida Paulista, na Pinacoteca do Estado e no Museu da Imagem e do Som - até hoje, o centro cultural faz parte da mesma organização social responsável pelo MIS, dirigido por André Sturm.

"Estamos tentando conseguir outra sede [para o Paço]", diz Sturm. "No médio prazo, vamos transferir a programação, mas o museu vai continuar operando."

Locais alternativos estão sendo procurados agora pela Secretaria de Estado da Cultura, responsável pelo MIS e pelo Paço, para abrigar a série de mostras que estavam marcadas para ocorrer neste ano no espaço da Cidade Universitária. A última exposição a ser realizada ali será a do videoartista alemão Harun Farocki, com abertura marcada para 28 de janeiro.

Quando acabar essa mostra, em 27 de março, as atividades programadas vão se dividir entre o MIS, que receberá a Temporada de Projetos, tradicional programa responsável pelo lançamento de jovens artistas, e a Oswald de Andrade, que vai abrigar uma grande exposição de Lenora de Barros, que estava marcada para abril no Paço.

"Isso tudo é temporário, o que tem de concreto agora é que o Paço vai desenvolver suas atividades em outros equipamentos", diz Priscila Arantes, diretora artística do centro cultural. "Eu acho que essa é uma oportunidade de o Paço ter uma sede definitiva. É isso que ele merece."

Mesmo ocupando um prédio inacabado, o Paço das Artes realizou na última década algumas mostras marcantes na história recente da cidade, entre elas individuais do artista chinês Yang Fudong, da suíça Pipilotti Rist e do britânico Francis Bacon.

Também tornou mais conhecida a obra de jovens artistas, como Rodrigo Bivar, Ivan Grilo, Cristiano Lenhardt, Marcelo Moscheta, Henrique Oliveira, Regina Parra e Roberto Winter, além de lançar jovens curadores, como Felipe Scovino e Luiza Proença.

Na esteira do despejo do Paço das Artes, o orçamento de R$ 15 milhões destinado ao MIS e ao Paço no ano passado também deverá sofrer um corte de 10%, embora a decisão de fechar o centro cultural na Cidade Universitária tenha sido confirmada antes da decisão do corte.

Posted by Patricia Canetti at 12:03 PM

janeiro 18, 2016

Galerias do país exportaram US$ 67 mi no ano passado, o dobro de 2014 por Silas Martí, Folha de S. Paulo

Galerias do país exportaram US$ 67 mi no ano passado, o dobro de 2014

Matéria de Silas Martí originalmente publicada no jornal Folha de S. Paulo em 18 de janeiro de 2016.

Dados recém-compilados pelo governo e obtidos pela Folha mostram que exportações de obras de arte brasileiras para colecionadores no exterior duplicaram no ano passado em relação a 2014.

No total, US$ 66,9 milhões, cerca de R$ 271 milhões em trabalhos artísticos, deixaram o país em 2015, 97,4% a mais do que os US$ 33,9 milhões, ou R$ 137,5 milhões, vendidos para estrangeiros no ano retrasado.

Os números são de um estudo a ser divulgado em breve pela Apex, a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos. Esse órgão do governo federal acompanha as atividades das 48 galerias reunidas na Associação Brasileira de Arte Contemporânea —parceria batizada Projeto Latitude.

Nem todas as casas em atividade no Brasil integram o grupo, embora as maiores galerias nacionais façam parte dele. Ou seja, são dados representativos dos rumos do setor —compilados desde 2007, quando as galerias do país exportaram US$ 6 milhões, ou R$ 24,3 milhões, os números refletem uma alta exponencial desse mercado.

Enquanto a crise econômica corrói as vendas domésticas —a Apex deve divulgar esses dados só no segundo semestre—, a expansão das vendas no exterior indica o esforço cada vez maior de galerias nacionais para driblar o pessimismo no Brasil, lucrando com a alta do dólar em vendas para outros países.

Um reflexo desse foco no exterior é o aumento da participação das galerias brasileiras nas principais feiras do mundo, como a Art Basel Miami Beach, que acontece todo mês de dezembro no balneário americano e responde por parte expressiva do faturamento anual de várias casas no país.

Outras feiras que tiveram períodos de menor frequência de galerias brasileiras também vêm registrando um aumento na participação de casas do país, entre elas a Arco, em Madri, a ArteBA, em Buenos Aires, a Fiac, em Paris, e a ArtBO, em Bogotá.

Posted by Patricia Canetti at 6:31 PM

'A Oca Lage espera que o governo do estado cumpra seus compromissos’ por Marcio Botner, O Globo

'A Oca Lage espera que o governo do estado cumpra seus compromissos’

Artigo de Marcio Botner originalmente publicado no jornal O Globo em 18 de janeiro de 2016.

Em artigo, Marcio Botner fala sobre a situação da EAV Parque Lage e da Casa França-Brasil

RIO - A Oca Lage não pode deixar que o governo do Rio de Janeiro se esqueça de suas obrigações com a EAV Parque Lage e a Casa França-Brasil. Uma organização social na área da cultura tem a função primordial de exigir do estado, por meio de contrato, que ele esteja presente na manutenção do patrimônio artístico e cultural. A Oca Lage sente-se, portanto, no dever de pressionar o governo a repassar os recursos contratados, apesar das dificuldades orçamentárias do momento.

No ano passado, a Oca Lage honrou seu planejamento, mesmo sem receber do governo do Rio metade do repasse compromissado para o período. Nos últimos seis meses, a Oca Lage cumpriu o programa de 120 alunos bolsistas — 80 selecionados no início de 2015 por duas comissões, entre mais de 1.700 inscritos, dentro do programa Práticas Artísticas Contemporâneas, mais 40 vindos do ano anterior —, que recebem ainda auxílio de alimentação e transporte.

A Oca Lage realizou na EAV Parque Lage dezenas de eventos abertos ao público, com a participação de artistas, poetas, pensadores, cineastas, coreógrafos, em que se destacam as três exposições dentro do programa Curador Visitante — com curadorias de Bernardo Mosqueira, Bernardo José de Souza e Luisa Duarte —, performances, palestras, oficinas, shows gratuitos com Jards Macalé e Rodrigo Amarante, Cine Lage, aulas públicas e ações educativas, parcerias de residências artísticas, entre outros. Todas essas ações foram feitas com receitas próprias da Oca Lage, obtidas a partir de eventos dentro do selo Reverte pra Escola, como o show beneficente comemorativo dos 40 anos da EAV Parque Lage, com Marisa Monte, Arnaldo Antunes e Arto Lindsay, e a gravura criada pelo artista Luiz Zerbini para celebrar a data.

A Oca Lage, também com recursos levantados ao longo de 2015, realizou exposições na Casa França-Brasil, como a comemorativa de seus 25 anos, que fez uma memória da trajetória da instituição, e as individuais dos artistas Rodrigo Braga e Barrão, além de mostras com obras de Alfredo Jaar, Beto Shwafaty e Marta Neves, e com filmes de Tamar Guimarães, de Manon de Boer, de Wendelien van Oldenborgh e da dupla Peter Fischli & David Weiss. Atualmente está em cartaz o Projeto Pergunta, do coletivo chileno Mil M2, e trabalhos de Ivan Grilo e Cildo Meireles. Também com receita gerada por eventos, a Oca Lage fez as obras de adequação necessárias na Casa França-Brasil para integrá-la à reurbanização da região portuária, devolvendo ao público a entrada principal do edifício de 1820, de frente para o mar.

A passagem para 2016, sem sinalização de cronograma de recursos do governo, no entanto, exigiu medidas administrativas de contenção e readequação à realidade. Criada pelo governo do estado para profissionalizar e compartilhar com a sociedade civil a gestão de duas importantes instituições culturais, a Oca Lage se viu obrigada a adequar seu planejamento e suas ações, além de continuar pressionando o governo para que cumpra seu dever de repassar os recursos contratados. No último dia 23 de dezembro, a Oca Lage colocou seus 70 funcionários administrativos e de suporte em aviso prévio. Entre várias outras medidas de contenção de despesas e ampliação de receitas, a Oca Lage estuda fórmulas para diluir os custos de manutenção do parque, para garantir a gratuidade dos frequentadores. É preciso lembrar que a Oca Lage mantém sob sua guarda, manutenção e limpeza os 175 mil metros quadrados de área verde do Parque Lage. Estudamos parcerias com empresas ligadas à conservação de energia e meio ambiente, e ainda outras soluções produtivas e criativas.

Iniciada em abril de 2014, a organização social Oca Lage foi criada por iniciativa do governo do estado, implementada pela Secretaria de Cultura, para compartilhar e garantir a continuidade, estabilidade e transparência dos programas das duas casas. A Oca Lage tem agilidade administrativa para estabelecer conexões com as redes de instituições públicas e privadas no Brasil e no exterior, sem que o patrimônio deixe de ser do estado. Ou seja: a EAV Parque Lage e a Casa França-Brasil continuam aparelhos do estado, mas sua administração passou a ser da OS, por meio de contrato, prestação de contas e auditoria. Poderíamos dizer, portanto, que não é uma privatização, ao contrário: torna-se pública e ampla a função de cada uma dessas instituições do estado.

Neste momento, apesar de todas as suas ações pró-ativas, a Oca Lage espera que o governo do estado cumpra seus compromissos orçamentários contratuais, de modo a permitir a continuidade desse trabalho bem-sucedido de ativação e preservação desses dois espaços tão importantes para a vida social, cultural e educacional da cidade.

*Marcio Botner é presidente da Oca Lage, organização social gestora da EAV Parque Lage e da Casa França-Brasil

Posted by Patricia Canetti at 1:39 PM

janeiro 17, 2016

Crise financeira do governo do Rio ameaça escola de artes do Parque Lage por Anna Virginia Balloussier, Folha de S. Paulo

Crise financeira do governo do Rio ameaça escola de artes do Parque Lage

Matéria de Anna Virginia Balloussier originalmente publicada no jornal Folha de S. Paulo em 15 de janeiro de 2016.

Não foi exatamente um presente de Natal: no dia 23 de dezembro, os 70 funcionários que trabalham na Escola de Artes Visuais (EAV) do Parque Lage e na Casa França-Brasil receberam o aviso prévio.

Se o governo do Rio não repassar R$ 6 milhões aos polos culturais -metade nunca paga do orçamento de 2015-, todos poderão ser demitidos no dia 23, quando o prazo expira.

Na terça (19), conselheiros da Oca Lage, uma OS (organização social) contratada pelo governo para gerenciar as duas instituições, se reunirá para decidir os passos a seguir e tentar contornar a situação.

"Espero que o Estado se comprometa e que eu não precise dispensar ninguém", diz Marcio Botner, presidente da Oca Lage, sócio da galeria A Gentil Carioca e ex-professor e ex-aluno do Parque Lage.

Embora mencione a crise do Rio, que no fim de 2015 paralisou hospitais, ele não aceita conjecturar o que acontecerá caso o governo não deposite o montante devido (todos irão para a rua?) -isso sem falar nos R$ 12 milhões previstos para 2016, ainda incertos. "Não tenho bola de cristal."

Questionada sobre os orçamentos de 2015 e 2016, bem como o risco do parque -um dos principais formadores de artistas do país- e da Casa França-Brasil fecharem, a Secretaria de Cultura se limitou a responder que a pasta da Fazenda "ainda vai definir o cronograma de desembolso dos restos a pagar do ano passado".

No domingo (10), cerca de 40 alunos e professores do parque, encrustado numa área verde de 175 mil m² na encosta do morro do Corcovado, promoveram o "Ocupa Lage".

Protestavam contra o atraso de sete meses dos repasses e contra a proposta de cobrar entrada para o local -a alternativa para a secura financeira, ventilada pela Oca Lage, já foi descartada, afirma Botner.

GERAÇÃO 80

Fundada em 1975 por Rubens Gerchman (1942-2008), a escola pariu nove anos depois a exposição "Como Vai Você, Geração 80?", com 123 artistas (de Beatriz Milhazes a Leonilson) e obras que incluíam gaivotas de papel e uma tela reproduzindo a embalagem do bombom Sonho de Valsa.

Seria menos alentador perguntar como vai a geração 2010. Com 1.400 alunos em 2015, a EAV atualmente oferece cursos de verão como "#SelfiePerformance" (R$ 380). Mas periga adiar e até cancelar projetos neste ano. Já a Casa França-Brasil postergou uma mostra do artista Ângelo Venosa.

Diretora da EAV e curadora da Bienal em 2006, Lisette Lagnado diz estar "apreensiva" por não ter lançado nova convocatória para o PAC (Práticas Artísticas Contemporâneas), programa de bolsas que em 2015 contemplou 140 alunos.

"Podemos nos adequar à contenção do Estado", ela diz. "Se não for possível um seminário com 20 convidados de fora, faremos com três. Não dá para editar o livro com fotos coloridas? Não tem problema."

O jeito, por ora, tem sido procurar outras fontes de financiamento. Marisa Monte e Rodrigo Amarante já fizeram shows de graça no Parque Lage para arrecadar fundos.

Em 2016, a delegação olímpica da Grã-Bretanha terá o Parque Lage como sede (o "aluguel", segundo Botner: R$ 2 milhões), e a da Finlândia ficará na Casa França-Brasil.

Leia na íntegra o depoimento de Lisette Lagnado, diretora da Escola de Artes Visuais do Parque Lage, à Folha:

Antes de tudo é preciso afirmar que existe aqui uma consciência plena da crise existente do Estado e da necessidade de unir forças para que possamos sair dela da melhor maneira possível em favor da EAV.

A história dessa Escola é maior do que qualquer gestão que aqui esteve ou está. São 40 anos, que incluíram momentos de luta, de trabalhos prestados com imensa relevância na formação da cena artística do Rio de Janeiro e do país.

Em 2015, a convocatória para o programa de formação gratuita, re-estruturado e renomeado Práticas Artísticas Contemporâneas (PAC), recebeu 1.687 inscrições para 80 vagas novas (além de dar continuidade à formação de quase outros 60 alunos egressos do programa anterior), o que representam 720 horas/aula no total, em nove meses de imersão continuada. Além das gratuidades, é importante ressaltar que os estudantes mais necessitados tiveram acesso a auxílio alimentação e transporte.

Existe uma demanda por continuidade de um projeto que ainda pode ser melhorado. Mas agora existe, também, uma urgência por preservar a existência de uma Escola cujo valor ultrapassa qualquer projeto ou pessoa. Trata-se de uma hora na qual se deve entender tantos os méritos de tudo que foi realizado nesses quase dois anos como também da compreensão de que futuro queremos.

Hoje não somente a continuidade de um programa de ensino bem-sucedido está em risco. Duas exposições do programa Curador Visitante tiveram de passar para este ano. Sendo breve, o atraso nos repasses do Governo do Estado nos impede de quitar dividas contraídas com prestadores de serviço nos últimos meses de 2015, paralisando a relação intrínseca entre projeto pedagógico e programação expositiva.

Estou muito apreensiva por não ter podido ainda lançar a convocatória deste ano para o programa gratuito do PAC. Podemos adequar à situação de contenção do Estado: se não for possível uma formação com 360 horas concentradas em um ano, daremos 180. Se não for possível realizar um Seminário internacional com 20 convidados de fora, faremos com três ou quatro. Não dá para editar o livro com pesquisa ampla e geral e fotos coloridas? Não tem problema.

Quero dizer que na crise a gente inventa melhor e se adapta às circunstâncias. Só não pode se perder de vista um programa rigoroso e condizente com as práticas artísticas contemporâneas e colocar tudo a perder.

Em um cenário que sofre justamente pela dinâmica que repete a construção e desconstrução de ciclos em suas instituições, temos a obrigação de resguardar a continuidade, preservando as diferenças de opinião sobre o rumo que está sendo traçado.

Para contornar a falta de repasse do Estado nos últimos seis meses, a OS Oca Lage fez um trabalho ímpar e persistente de promoção de eventos pagos. Se não fossem os eventos, a crise teria estourado antes e de maneira mais grave. A OS acreditou na sinalização do Estado de que o repasse demoraria porém chegaria, e por isso não interrompeu as atividades de ensino e de atividades culturais, mesmo tendo havido um corte de 25% no início do ano da nossa equipe para se adequar a uma nova realidade.

Posted by Patricia Canetti at 3:10 PM

OS que gere Parque Lage põe 70 funcionários em aviso prévio por Nani Rubin, O Globo

OS que gere Parque Lage põe 70 funcionários em aviso prévio

Matéria de Nani Rubin originalmente publicada no jornal O Globo em 23 de dezembro de 2015.

Medida se deve ao atraso de repasse de verbas do governo do estado

RIO — A direção da Oca Lage, organização social responsável pela gestão da Escola de Artes Visuais do Parque Lage e da Casa França-Brasil, anunciou agora há pouco que está pondo em aviso prévio os 70 funcionários contratados. O diretor da OS, Marcio Botner, reuniu-se com os funcionários no Parque Lage, Zona Sul do Rio, para comunicar a decisão, provocada pelo atraso do repasse de verbas do governo do estado. Segundo comunicado, em 2015 o governo só repassou metade do valor acordado (cerca de R$ 6 milhões dos R$ 12 milhões devidos), o que estaria inviabilizando o funcionamento dos dois locais.

Ouvir entrevista de Marcio Botner na rádio CBN

— Temos funcionado, nesse período, com receita gerada pelos eventos no parque. Só que chegamos ao limite, precisamos que o governo se comprometa — diz o diretor da Oca Lage, Marcio Botner. — A OS nasceu de um contrato com o governo, e tudo o que foi feito de bom foi a partir desse contrato. O estado é o nosso parceiro, e queremos continuidade.

Segundo Botner, o governo acena com o repasse de uma parte do valor devido em fevereiro ou março de 2016. Ele diz que é pouco.

— Temos que ter algo concreto, como um cronograma de pagamento. Desde que assumimos (em maio de 2014) quadruplicamos o número de eventos, reforçamos as bolsas para os cursos de formação, oferecemos shows e eventos à população, mantivemos a área verde para os visitantes. A OS tem metas a cumprir, e batemos todas elas.

Os funcionários que entraram em aviso prévio nesta quarta-feira estão lotados na administração, produção, vigilância e setor educativo. A limpeza é terceirizada, mas o contrato com a empresa que faz o serviço corre o risco de não ser renovado para 2016. Além de gerir as duas casas, a Oca Lage mantém e preserva, por contrato, os 170 mil metros quadrados de área verde do Parque Lage, que podem sofrer com a falta de repasses do governo. Na Casa França-Brasil, a Oca Lage acaba de realizar uma obra, interna, para permitir que o prédio tenha uma saída para o mar, como era originalmente.

Posted by Patricia Canetti at 3:01 PM