|
outubro 31, 2013
Abaporu sai de cena por Julio Maria, Estado de S. Paulo
Abaporu sai de cena
Matéria de Julio Maria originalmente publicada no jornal Estado de S. Paulo em 23 de outubro de 2013.
Depois de ser procurado por herdeiros de Tarsila do Amaral, Stagium paga e retira obra de espetáculo modernista
Um espetáculo de dança do Ballet Stagium, feito para homenagear os maiores artistas modernistas do País, não fará mais nenhuma referência às obras da pintora paulista Tarsila do Amaral (1886-1973). A decisão foi tomada pela coreógrafa Marika Gidali, responsável pelo Stagium, depois que um representante dos herdeiros de Tarsila pediu que o espetáculo pagasse pelo uso da obra Abaporu, de 1928, que aparecia em forma de um grande boneco por cerca de um minuto e trinta segundos no início da montagem, batizada por Marika de A Semana noventa@vinteedois.
As partes começaram uma negociação que levou algumas semanas. De uma proposta financeira considerada alta pelo espetáculo (acima de R$ 50 mil no total, segundo fontes) o valor foi baixando até que se fechasse um acordo (ninguém quis revelar a quantia exata). Marika pagou pelo uso da figura do Abaporu calculado desde a estreia da montagem, em meados do ano passado, até a reestreia deste ano. E resolveu retirá-lo de cena. "Pagamos pelo tempo de uso e vamos retirar, é uma pena", disse a coreógrafa.
Raquel Lemos, advogada de Marika, diz que, depois de negociar valores para a liberação da obra, não houve mais clima para o uso da imagem. "Sentimos um mal estar grande, mesmo depois de pagarmos por ela. Estamos chateados." Ela diz ainda que havia argumentos legais para a permanência da imagem, já que o espetáculo não era sobre Tarsila nem sobre o Abaporu. "Em um espetáculo de quase duas horas, ele aparecia por pouco mais de um minuto."
O representante dos herdeiros de Tarsila, Paulo Ferreira, não quis falar com a reportagem do Estado sobre o assunto. Antes que o repórter fizesse a pergunta, por telefone, ele interrompeu: "Eu não vou falar sobre isso com você, me desculpe. Esse era um caso que não gostaríamos de tratar na imprensa, foi algum linguarudo que deve ter contado a você. Respeito o Ballet Stagium e não vou comentar, não vou ganhar nada com isso."
Sobrinha-neta de Tarsila, sua homônima Tarsilinha do Amaral diz que lamenta a decisão de Marika. "Sempre queremos chegar a um acordo. Nunca queremos barrar um espetáculo, sobretudo um espetáculo de dança tão bonito." Sobre valores, ela afirma que eles são sempre negociáveis. "Chegamos a autorizar muitas coisas de graça."
Exposições e uso de imagem de obras de arte no País criam muitas vezes pontos de colisão entre herdeiros e curadores. Quando há poder de negociação entre as partes, os finais podem ser felizes. Quando não, o público sai perdendo. "São problemas, muitas vezes, por pura picuinha familiar", diz Renata Junqueira, diretora do Mube, o Museu Brasileiro da Escultura. Ela conta que por pelo menos duas vezes sofreu com desentendimentos que inviabilizaram exposições na casa. "Gostaríamos muito de ter feito uma exposição da escultora Felícia Leiner (1904-1996)." Mas, segundo Renata, não houve entendimento sobre a mostra entre seus filhos (os também escultores Nelson e Giselda Leiner). "Seria muito importante colocá-la (Felícia) em evidência, mas não foi dessa vez." Renata diz que, muitas vezes, é mais fácil produzir uma exposição com artistas internacionais do que com brasileiros. "Consigo facilidades financeiras com entidades e órgãos de relações exteriores desses países que acabam pagando muitas despesas."
O historiador e curador Ivo Mesquita, diretor-técnico da Pinacoteca do Estado de São Paulo, diz que o problema está mais no uso de imagens do que na realização de exposições. "Não há nenhuma regulamentação para isso. Podemos pagar um preço X ou duas vezes mais esse preço para a liberação de alguma imagem que precisamos para fazer os folders de uma exposição, por exemplo." As agências internacionais que cuidam das imagens de autores como Picasso e Matisse, diz Ivo, seriam exemplos de como é que as coisas deveriam ser no Brasil. "É tudo especificado, existe um padrão. Há preços para filmes, livros, folders. Existe um padrão."
Tadeu Chiarelli, diretor do Museu de Arte Contemporânea da USP, o MAC, chegou a ter problemas com familiares de Emiliano Di Cavalcanti e Alfredo Volpi. Depois de negociar com todos, conseguiu bons desfechos. Os primeiros, herdeiros de Di, começaram com preços para ele impraticáveis quando a exposição Di Humanista começou a ser erguida para colocar 67 obras do pintor em cena. "Mas eles acabaram compreendendo as particularidades do museu, que não cobra ingresso, não tem caráter comercial. Foi tudo resolvido e tivemos as obras expostas." A segunda experiência foi com os herdeiros de Volpi para uma mostra recente. "Começamos com propostas altas, mas todo o material foi liberado no bojo da negociação de quatro obras que estavam com um dos herdeiros do pintor. As obras e o uso das imagens foram concedidos."
Não é sempre assim. Isa Grinspum Ferraz, cineasta, curadora e idealizadora do Museu da Língua Portuguesa, dentre outros espaços para mostras contemporâneas, não dá nomes para evitar represálias, mas diz que a situação é difícil para quem trabalha em seu meio. "Tenho enfrentado essa questão nas exposições e nos museus em que tenho trabalhado, e também nos meus filmes. Está cada vez mais difícil acessar e pagar certos arquivos. Muitas vezes, a pesquisa é dificultada e os valores são impeditivos. É um erro. Essas obras foram criadas por seus autores para estarem no mundo, democraticamente, e não apenas para serem usufruídas por uma elite letrada em suas casas ou em bibliotecas acadêmicas. Ou para ficarem aprisionadas em arquivos particulares. Essa política só fará com que, cada vez mais, o povo brasileiro fique privado de obras fundamentais para o conhecimento do Brasil."
outubro 25, 2013
The ArtReview Power 100: Luisa Strina e Bernardo Paz são os brasileiros na lista
The ArtReview Power 100
Lista dos 100 mais influentes do mundo da arte contemporânea
[Scroll down to read in English]
61
Luisa Strina
Um dos maiores e melhores canais para a arte brasileira (2012: 71)
Enquanto a maioria das vendas de galerias comerciais do Brasil ainda são domésticas, a receita das vendas de arte no exterior está em alta. Dramaticamente em alta: um aumento de US$ 18 milhões registrados em 2011 para US$ 27 milhões em 2012, de acordo com a ABACT, a associação de galerias brasileiras. Luisa Strina terá gerado uma boa parte disso através de seu espaço de mesmo nome. Equipamento mais antigo e venerado de São Paulo, a galeria vai para todas as grandes feiras (Strina está na comissão de seleção da Art Basel Miami Beach) e tem sido fundamental para desenvolver e apoiar as carreiras de tantos artistas que já estão, ou estão se tornando, nomes estelares fora da América Latina - incluindo a estrela da capa da edição de setembro da ArtReview, Fernanda Gomes. Com Alexandre da Cunha, Cildo Meireles e Pedro Reyes, também entre os artistas que a galeria representa, há um calendário constante de mostras em museus a serem também apoiados.
75
Bernardo Paz 80
Fundador de Inhotim, 2.000 hectares de arte e botânica no campo minerador brasileiro (2012: 80)
Cerca de 400.000 pessoas estão previstas para visitar Inhotim este ano. Nada mal para um parque de esculturas localizado a uma longa distância da cidade mais próxima. Com exceção de algumas instalações adquiridas, seu fundador, Bernardo Paz (Forbes estima que sua fortuna vale US$817 milhões), encomendou a maior parte dos trabalhos em exposição no parque de 2.000 hectares. Ele foi competentemente assistido por alguns potentes curadores: depois que Jochen Volz assumiu uma posição na Serpentine Gallery, em Londres, no ano passado, Paz foi capaz de convencer Eungie Joo a se mudar para a distante instituição do New Museum, em Nova York. Grandes instalações de site-specific de autoria de nomes como Olafur Eliasson, Rirkrit Tiravanija, Rivane Neuenschwander e Matthew Barney formam o acervo de Inhotim, alojados em pavilhões especialmente projetados. E está em expansão - Paz possui muito mais terra no estado de Minas Gerais do que o pedaço que o parque abrange atualmente.
The ArtReview Power 100
A ranked list of the contemporary artworld's most powerful figures
01 2012 11
Sheikha Al-Mayassa bint Hamad bin Khalifa Al-Thani
Sponsor of major international projects and head of the Qatar Museums Authority (QMA)
02 2012 05
David Zwirner
Established international gallerist with a roster of the biggest selling artists and a impressive new exhibition building in New York
03 2012 04
Iwan Wirth
Established international gallerist with five venues in Zurich, London and New York, and new projects including a UK arts and education complex in Somerset
04 2012 02
Larry Gagosian
Established gallerist with 13 venues worldwide putting on museum quality exhibitions
05 2012 10
Hans Ulrich Obrist & Julia Peyton-Jones
Directors of the Serpentine Galleries, with Hans Ulrich Obrist also the initiator of numerous international art projects and exhibitions
06 2012 08
Nicholas Serota
Tate Director
07 2012 07
Beatrix Ruf
Director Kunsthalle Zurich and board member of organisations including the Ringier collection and Vienna’s MUMOK
08 2012 09
Glenn D. Lowry
Director Museum of Modern Art (MoMA), New York
09 2012 03
Ai Weiwei
Artist and social activist, prominent in reconnecting art with issues of social and cultural value
10 2012 19
Massimiliano Gioni
Artistic director of the 2013 Venice Biennale, director of the nomadic Trussardi Foundation and associate director of New York’s New Museum
11 2012 35
Marina Abramović
Performance artist turned celebrity inspirer and admirer, and successful crowdfunder for the Marina Abramović Institute
12 2012 14
Alain Seban & Alfred Pacquement
President and Director of Pompidou Centre, Paris
13 2012 13
Cindy Sherman
Photographic artist famous for using herself as a model to create a variety of characters
14 2012 18
Marian Goodman
Established gallerist with a roster of high profile artists and spaces in New York and Paris
15 2012 06
Gerhard Richter
Highest selling living artist who broke his own auction record in 2013 for a painting sold for $37m
16 2012 16
Marc Spiegler
Art Basel director
17 2012 17
Marc & Arne Glimcher
Father and son partnership in charge of Pace, with galleries in New York, London and Beijing
18 2012 15
Adam D. Weinberg
Director of the Whitney Museum of American Art
19 2012 21
François Pinault
Owner of the Palazzo Grassi and Punta della Dogana in Venice, where works are shown from the Pinault Collection
20 2012 01
Carolyn Christov-Bakargiev
Curator of Documenta 13 in 2012
21 2012 12
Anton Vidokle, Julieta Aranda & Brian Kuan Wood/e-flux
Conduit for finding out what’s happening in the global artworld through email, publishing and exhibitions
22 2012 20
Jay Jopling
Founder of White Cube – 1990s home to Hirst and the YBA'S, now with galleries in London, Hong Kong and São Paulo
23 2012 22
Klaus Biesenbach
Director of MoMA PS1 and chief curator at large at The Museum of Modern Art New York
24 2012 25
RoseLee Goldberg
Founder and director of New York based visual art performance biennial, Performa
25 2012 27
Patricia Phelps de Cisneros
A patron, whose holdings of modern and contemporary Latin American art are unmatched in breadth, depth and quality
26 2012 33
Maja Hoffmann
Tate trustee, president of the Kunsthalle Zurich Foundation, on the board of the Palais de Tokyo, New York’s New Museum and Bard College
27 2012 23
Matthew Slotover & Amanda Sharp
Founders of the Frieze Art Fair
28 2012 26
Eli & Edythe Broad
Super collectors
29 2012 24
Barbara Gladstone
American gallerist with a wealth of omnipresent artists
30 2012 34
Tim Blum & Jeff Poe
Big draw gallerists on the LA scene
31 2012 28
Bernard Arnault
Luxury-goods magnate, collector and patron of art
32 2012 29
Nicholas Logsdail
Stalwart London gallerist
33 2012 38
Monika Sprüth & Philomene Magers
John Baldessari to Kraftwerk and Ryan Trecartin: these London and Berlin-based gallerists have it covered
34 2012 40
Gavin Brown
New York gallerist who does it his way
35 2012 46
Isa Genzken
Mainstay artist and an enduring influence on younger generations
36 2012 59
Steve McQueen
Artist turned film director
37 2012 36
Dakis Joannou
The life of Dakis: a Jeff Koons-design yacht, an art foundation and some famous friends.
38 2012 32
Victor Pinchuk
Ukrainian steel pipe magnate and art collector, founder of the Future Generation Art Prize
39 2007 44
Thomas Hirschhorn
A Swiss artist going public
40 2012 56
Theaster Gates
The poster boy for socially engaged art
41 2012 42
Rosemarie Trockel
Her who-says-I-can’t-do-this? approach makes her at once one of our most persuasive feminist artists
42 2012 30
Liam Gillick
Artist, writer, critic, teacher – and this year Gillick added movie star to his CV
43 2012 44
Agnes Gund
A pivot to New York society
44 2012 43
Wolfgang Tillmans
Seeing the world through the German artist's camera lens
45 2006 48
Pierre Huyghe
The new Duchampian
46 2012 39
Matthew Marks
Gallerist with a Chelsea space since the 1990s and an LA space since 2012
47 2012 48
Anne Pasternak
President and artistic director of Creative Time
48 2012 84
Sheikha Hoor Al-Qasimi
President of the Sharjah Art Foundation
49 2012 37
Udo Kittelmann
Director of Berlin’s State Museums
50 2012 74
Brett Gorvy
Chairman and International Head of Post-War and Contemporary Art, Christie's
51 2012 51
Toby Webster
The magician of the Glasgow miracle
52 2012 75
Tobias Meyer & Cheyenne Westphal
Sotheby's worldwide head of contemporary art and chairman of contemporary art Europe
53 2012 55
Michael Ringier
Collector and founder of JRP Ringier art publishing house
54 2012 69
Tino Sehgal
The artist who never makes a thing
55 2012 49
Sadie Coles
London gallerist with three spaces
56 2012 58
Jeff Koons
Balloon Dog millionaire
57 2009 40
Michael Govan
Head honcho at Los Angeles County Museum of Art
58 2012 62
Emmanuel Perrotin
Hong Kong, New York and Paris gallerist
59
Eva Presenhuber
Thoughtful Zurich-based gallerist
60 2012 50
Daniel Buchholz
Cologne-based gallerist making careers
61 2012 71
Luisa Strina
One of the biggest and best conduits to Brazilian art
62 2012 60
Takashi Murakami
Multi-role fufilling Japanese artist
63 2012 83
John Baldessari
Artist who is still cool after more than forty years in the business
64
Ryan Trecartin
Young American artist who has lept from YouTube to the museum under a critical acclaim
65 2012 67
Chang Tsong-zung
Gallerist building bridges between China and India
66 2010 38
Eugenio López
Collector and founder of the largest private museum in Latin America
67
Yayoi Kusama
Red, white, and instantly recognisable: the highest-earning living female artist
68 2012 86
Vasif Kortun
Curator spearheading the Turkish art scene
69
Hito Steyerl
Artist-as-theorist, theorist-as-artist
70 2012 63
Richard Chang
Collector of both Western and Asian art and also a key broker of ties between the two artistic communities
71 2012 66
Thaddaeus Ropac
The gallerist prince of Paris
72 2012 64
Tim Neuger & Burkhard Riemschneider
The gallerists behind Neugerriemschneider
73
Lars Nittve
Founding director of Tate Modern, now heading M+, Hong Kong
74 2012 73
José Kuri & Mónica Manzutto
Founders of Kurimanzutto, Mexico City
75 2012 80
Bernardo Paz
Founder of Inhotim, 2,000-hectares of art and botany in Brazilian mining country
76 2012 72
Claire Hsu
Cofounder of Asia Art Archive
77 2012 79
Massimo De Carlo
Established Milanese gallerist, establishing himself in London
78
Städelschule
The Frankfurt school
79 2012 76
Budi Tek
Chinese-Indonesian collector, founder of the Yuz Foundation
80
Bard College
Art School, Annandale-on-Hudson
81
Quentin Meillassoux, Graham Harman, Ray Brassier & Iain Hamilton Grant / Speculative Realism
Philosophical movement rethinking assumptions about the relationship of the subject to the world
82
Mark Leckey
The artist whose technological enquiries into the the nature of objects have had a powerful influence on a younger generation of digital natives
83
Zeng Fanzhi
Currently China's highest-selling artist, with plans for his own museum showcasing Western and Chinese figurative art
84 2012 70
Christian & Karen Boros
Collectors who curate and show their works in a converted concrete bunker, also involved in publishing and artfair VIP programming
85 2012 82
Mario Cristiani, Lorenzo Fiaschi, Maurizio Rigillo
Trio behind Galleria Continua, with a trio of spaces, one each in the Tuscan town of San Gimignano, west of Paris, and in Beijing
86 2012 85
Dasha Zhukova
Founder of Moscow's private art foundation the Garage Center for Contemporary Culture
87 2010 56
Nicolas Bourriaud
Cofounder of the Palais de Tokyo and father of the omnipresent relational aesthetics movement
88 2012 97
Victoria Miro
Established London gallerist with major international artists and gallery spaces in East London and Mayfair
89
Sean Kelly
New York gallery making an impact with a crowd-pleasing programme and a focus on live and durational art
90 2012 91
Franco Noero & Pierpaolo Falone
Turin-based gallerists with a talent for combining national and international artists, and commerce and credibility
91
Zhang Wei/Vitamin Creative Space
Cofounder of the multidisciplinary Vitamin Creative Space, based in Guangzhou and Beijing
92
Anselm Franke
A master of the essay-exhibition: rich, sprawling topographies of imagery, research and speculation
93
Forrest Nash
Blogfounder whose site, which posts images of, rather than text about, exhibitions, has well over one million page views a month
94
Sunjung Kim
Curator of international projects and exhibitions and founder of the Seoul based SAMUSO: Space for Contemporary Art
95
Eugene Tan
Director of the National Art Gallery, Singapore, and stage setter for Singapore’s potential emergence as a Southeast Asian arts hub
96 2012 94
Maureen Paley
Longstanding East London gallerist showing major international artists alongside the new and lesser known
97 2012 95
Mera, Don, Jennifer & Jason Rubell
Owners of one of the largest private contemporary art collections, with children (Jennifer and Jason) who have art careers of their own
98
El Anatsui
Sculptor and teacher whose shimmering curtains made of thousands of throwaway metal objects have seen an upsurge in demand and value
99
Jennifer Flay
Director of the increasingly important and internationally focused FIAC Art Fair in Paris
100
Eko Nugroho
Star artist on the Indonesian art scene, with an international profile, and whose work is embedded in both local traditions and global culture
61
Luisa Strina
One of the biggest and best conduits to Brazilian art (2012: 71)
While the majority of sales for Brazil’s commercial galleries are still domestic, income from selling art abroad is on the up. Rather dramatically on the up: an increase from $18 million registered in 2011 to $27m in 2012, according to ABACT, the Brazilian gallery association. Luisa Strina will have generated a good chunk of that through her eponymous space. Sao Paulo’s oldest and most venerated outfit, the gallery goes to all the major fairs (Strina is on the selection committee for Art Basel Miami Beach) and has been instrumental in developing and supporting the careers of so many artists that are now, or are becoming, stellar names outside Latin America - including the cover star of the September issue of A rtRevz'ew, Fernanda Gomes. With Alexandre da Cunha, Cildo Meireles and Pedro Reyes also among the artists the gallery represents, there is a constant calendar of museum shows to offer support, too.
75
Bernardo Paz 80
Founder of Inhotim, 2,000-hectares of art and botany in Brazilian mining country (2012: 80)
Some 400,000 people are predicted to visit Inhotim this year. Not bad for a sculpture park located a long drive from the nearest city. But then Inhotim is a one-off. Aside from a few viewing-room purchases, its founder, Bernardo Paz (who Forbes estimates is worth $817 million), has commissioned most of the work on display at the 2,000-hectare park. He’s been ably assisted by some high-powered curators: after Jochen Volz took a position at London’s Serpentine Gallery last year, Paz was able to get Eungie Joo to move to the remote institution from the New Museum in New York. Large site-specific installations authored by the likes of Olafur Eliasson, Rirkrit Tiravanija, Rivane Neuenschwander and Matthew Barney are Inhotim’s stock in trade, housed in specially designed pavilions. And it’s expanding – Paz owns a lot more land in the state of Minas Gerais than the bit the park currently covers.
FONTE: http://artreview.com/power_100/
outubro 23, 2013
Videobrasil comemora aniversário com seminário e mostra por Antonio Gonçalves Filho, Estado de S. Paulo
Videobrasil comemora aniversário com seminário e mostra
Matéria de Antonio Gonçalves Filho originalmente publicada no jornal Estado de S. Paulo em 15 de outubro de 2013.
Evento ocupa, em novembro, torre de esportes do Sesc Pompeia
Nos anos 1980, garotos como Tadeu Jungle e Fernando Meirelles buscavam um modelo alternativo de televisão, experimentando novas linguagens e meios de expressão. O Sesc Pompeia abrigou suas primeiras experiências em vídeo. Um festival que dava seus primeiros passos, em 1983, registrou esse processo embrionário de programas fora do circuito comercial e pioneiras peças de videoarte. Esse festival, Videobrasil, criado há 30 anos por Solange Farkas, acompanhou não só a evolução dos citados realizadores como trouxe ao Brasil, pela primeira vez, videomakers respeitados como Nam June Paik, Bill Viola e Gary Hill, além do cineasta Peter Greenaway e o artista sul-africano William Kentridge. Para comemorar seu aniversário, o Videobrasil promove, nesta quarta e quinta, no Sesc Pompeia, dois encontros para debater a linguagem do vídeo realizado no Brasil justamente nessa época.
O evento integra a programação do 18º Festival de Arte Contemporânea Sesc_Videobrasil, que vai inaugurar em novembro, no mesmo Sesc Pompeia, mostras com veteranos e realizadores da novíssima geração. Hoje, às 20 horas, Tadeu Jungle conversa com o diretor de teatro José Celso Martinez Correa e os videomakers pioneiros Walter Silveira e Pedro Vieira sobre as experiência dos Teatro Oficina e da produtora TVDO. Amanhã, o cineasta Fernando Meirelles, diretor do filme Cidade de Deus, discute com Marcelo Tas, Marcelo Machado e Goulart de Andrade a contribuição do vídeo para o desenvolvimento das novas mídias.
O seminário do Videobrasil conta como esses realizadores apostaram na experimentação quando a videoarte ainda nem existia com esse nome e enfrentava a ação da Censura, como lembra a criadora do festival, inicialmente realizado em parceria com o Museu da Imagem e do Som (MIS) e há 18 anos transformado numa mostra mais abrangente com o apoio do Sesc. “Lembro de oficiais de Justiça entrando no MIS e dos processos que respondemos por causa de vídeos, não tanto por seu conteúdo político, mas por cenas de nudez, consumo de drogas e outros temas presentes nas produções dos anos 1980”.
Curiosamente, a política marca algumas das 90 obras selecionadas para a mostra Panoramas do Sul, entre elas o vídeo Sitiado, do chileno Carlos Gusmán, de 26 anos, que trata dos anos de ditadura em seu país. Esse, porém, não é o tema dominante na mostra que será aberta em novembro e vai trazer nomes de jovens realizadores apontados por Solange Farkas como apostas do Videobrasil – três deles na faixa dos 30 anos, Bakary Diallo, do Mali, o israelense Dor Guez e o africano Emikal Eyonghakpe, da República dos Camarões.
A mostra chama-se Panoramas do Sul porque essa foi uma aposta – acertada– da criadora do Videobrasil. Até o sétimo festival não havia efetivamente a preocupação de exibir uma visão panorâmica do que estava sendo produzido na zona sul do globo. Os realizadores do Hemisfério Norte eram privilegiados no festival. Foi em 1990, ao visitar uma exposição de Nam June Paik no Pompidou, que a curadora teve seu momento epifânico. “Percebi claramente o lugar do vídeo ao visitar produtoras como o Canal Plus (criado em 1984) e o Channel Four (que começou a transmitir em 1982), decidindo dedicar mais atenção aos realizadores latinos, africanos e do Oriente.” Foi assim que nomes como o do libanês Akram Zaatari (hoje uma das estrelas da Bienal de Veneza) foram consagrados aqui, sendo homenageados com documentários produzidos pelo Videobrasil. Esse acervo cresceu e hoje conta com vídeos de Gary Hill, Bill Viola, William Kentridge e Marina Abramovic, entre outros.
VIDEOBRASIL – SEMINÁRIO
Sesc Pompeia. Teatro. R. Clélia, 93, 3871-7700. 4ª e 5ª, 20 h. Grátis – retirar ingressos 1 h antes – http://site.videobrasil.org.br
outubro 17, 2013
A vida das coisas nas obras da mostra de Barrão por Audrey Furlaneto, O Globo
A vida das coisas nas obras da mostra de Barrão
Matéria de Audrey Furlaneto originalmente publicada no jornal O Globo em 13 de outubro de 2013.
De Budas a gatinhos, objetos de louça coletados em feiras, como a da Praça XV, ganham formas improváveis na exposição que o artista inicia
Barrão - Arrumação, Galeria Laura Marsiaj, Rio de Janeiro, RJ - 16/10/2013 a 21/11/2013
RIO - No ateliê que mantém desde os primórdios da Bhering, na Zona Portuária do Rio, Barrão guarda centenas de peças de louças. Há prateleiras dedicadas a cachorros, outras a imagens de Buda ou a objetos cor de rosa. Cachorros, budas e vasinhos vêm de feiras como a da Praça XV, da Ladra, em Lisboa, ou de Dusseldorf, na Alemanha. Estão lá, na Bhering, desde os anos 2000, quando o artista começou essa espécie de coleção que vem dando origem a muitas de suas obras.
Na exposição “Arrumação”, que a galeria Laura Marsiaj abre amanhã, às 19h, ele expõe sete esculturas criadas com os cacarecos de louça ora inteiros, ora quebrados e reorganizados em formas improváveis, já distantes da função de objeto decorativo que um dia tiveram. Há um gato de louça azul (coletado na Praça XV) de cujo rabo parece explodir uma forma alongada, composta de vasos e seus cacos. Trata-se de “Rastro”, obra que ele concluiu em 2013, mas que há pelo menos um ano vem sendo desenvolvida no ateliê.
Longo processo de criação
A colagem de objetos já prontos é algo recorrente na obra de Barrão. Nos anos 1980, ele lembra, comprava aspiradores de pó e até motores de geladeiras e fogões que rearranjava em obras de arte. Naquele tempo, os eletrodomésticos, e não os objetos de louça, apinhavam o ateliê.
— Na verdade, eu não encaro esses objetos que guardo como uma coleção, mas a maneira como trabalho passa um pouco por essa coisa de colecionar, de acumular coisas — diz o artista. — Tinha pensado, lá atrás, no final dos anos 1980, em fazer um trabalho com louça, mas era só um, com uns bichos colados e tal. Nunca fiz esse trabalho e passou. Um dia resolvi fazer. No ano 2000, fui atrás dessas coisas, fiz e achei que o resultado estava legal, gostei de como tudo se misturava. Aí fiz outro e outro...
Então, Barrão passou a comprar objetos de louça em feiras populares. Primeiro, ia aos locais focado: comprava apenas objetos em forma de cachorros, por exemplo. Depois, o artista diz ter percebido que a diversidade seria útil — e, assim, começou a comprar e levar de tudo um pouco para o ateliê.
— Esse jeito de criar um acervo para trabalhar é algo que sempre foi assim para mim. Não sei ter uma ideia e sair para comprar, produzir. Preciso ter as coisas para pensar a partir delas — explica.
Assim, uma série de Budas prateados que Barrão encontrou em Dusseldorf acabou agrupada a pequeninos bules brancos num objeto de parede. Uma mulher esculpida em louça azul, recostada em troncos (também azuis), forma uma composição com um cofre de moedas em forma de pênis, chuchus, um cachimbo, legumes — tudo em louça, tudo fálico, como pretendia Barrão.
Embora os objetos criados pelo artista carioca possam ter estética um tanto kitsch, ele diz que não é isso, “de forma alguma”, o que pretende com essas esculturas.
— Nem penso nisso. Talvez eu tenha um sentimento mais flexível em relação a isso. Quer dizer, eu não enquadro as peças como kitsch, de jeito nenhum. Nem gosto quando é um objeto muito característico, ou algo de muito valor ou de uma estética valiosa. Gosto de quando os objetos perdem suas características individuais e se descobrem novamente numa reunião com outra coisa.
O processo de criação das esculturas, ele completa, é longo. Justamente porque é preciso encontrar peças que se encaixem ou “produzir” cacos perfeitos que completem uma obra. E Barrão faz quase tudo sozinho (tem um assistente no ateliê, que o ajuda em questões técnicas e, por conviver com o artista, também dá sugestões para as criações).
— Não gosto muito de delegar, gosto de fazer — afirma. — Me interessa muito esse imaginário popular, que tem uns bichos, umas decorações, umas coisas que acho muito bonitas, e outras, bem loucas. Essa diversidade cria uma possibilidade de misturar tudo.
De urubus e outros entortamentos por Noemi Jaffe, Folha de S. Paulo
De urubus e outros entortamentos
Texto de Noemi Jaffe originalmente publicado em Tendências/Debates no jornal Folha de S. Paulo em 29 de setembro de 2013.
Um dos méritos da arte moderna e contemporânea foi ampliar a ideia de belo. Por que não considerar arte algo emocionante ou estranho?
Com insistência, o poeta Ferreira Gullar vem reiterando em sua coluna na Folha que os "urubus presos em gaiolas", ou "o casal nu postado numa porta" não são obras de arte.
Seus principais argumentos seriam: 1) o fato de elas não terem sido produzidas por mãos humanas e o fato de que este seja, há mais de 5.000 anos, o critério para definir o que é arte; 2) o fato de elas não poderem ser consideradas belas; 3) o fato de não poderem ser criticadas, pois não haveria critério para avaliar algo que ninguém fez.
Em primeiro lugar, o argumento de que a arte tenha sido feita de uma certa maneira há muito tempo não define o que é arte. O ser humano trabalhou durante séculos como artesão dos produtos que consumia e, na atualidade, mal coloca a mão sobre esses produtos. Isso não muda o termo "trabalho" para ambas as intervenções: artesanal ou eletrônica.
Seguindo por esse raciocínio, os urubus de Nuno Ramos podem igualmente ser chamados de arte. E, mesmo assim, também neles houve intervenção humana: na concepção, na montagem, na relação espacial que se criou pelo contraste entre os urubus e o prédio de Niemeyer, no poema emitido pelas caixas de som e no estranhamento causado pela presença horrífica em um lugar em que se supõe encontrar somente o "belo".
Poemas de Carlos Drummond de Andrade se baseiam em bulas e verbetes de lista telefônica: onde está a mão humana? No efeito combinatório (o que não é pouco). O mesmo se aplica a Marcel Duchamp, a Marina Abramovic e tantos outros.
Gullar cita a ausência do "belo" para desqualificar os urubus. Ora, um dos méritos da arte moderna e contemporânea foi relativizar e ampliar a ideia de belo. Platão já questionava como era possível, para um escultor, esculpir belamente um homem feio. Seriam belas esculturas.
Por que não posso considerar que algo emocionante ou estranho também seja tido como arte? E por que não posso chamar de belo aquilo que me faz revisitar o conceito do que seja belo?
Afinal, Van Gogh foi considerado feio em seu tempo, assim como o próprio Picasso, citado por Gullar sob a rubrica de "cubistas".
Finalmente, não é verdade que não possa haver crítica de arte sobre o trabalho de Nuno Ramos, tanto que houve, assim como as há relativas a várias obras conceituais, minimalistas etc., que tampouco exigem o trabalho direto da mão humana.
Eu mesma escrevi sobre uma obra de Tatiana Blass: um carro semienterrado numa calçada de rua. Escrevi sobre o efeito de estranhamento, sobre a intervenção estético-crítica e sobre a "beleza" inesperada desse entortamento do banal.
Muito me estranha que alguém que tenha escrito sobre o apodrecimento e sobre a morte não entenda o papel do assim chamado "feio" na arte. É certo que foi o próprio poeta que produziu esses poemas. Mas que se pense no "Poema Tirado de uma Notícia de Jornal", de Manuel Bandeira. A arte existe justamente porque a vida não basta (como já dizia Fernando Pessoa) e essas obras não negam a arte, mas a reafirmam, problematizam e ampliam a dimensão da própria vida.
NOEMI JAFFE, 51, é escritora e doutora em literatura brasileira pela Universidade de São Paulo
Porque a vida não basta por Ferreira Gullar, Folha de S. Paulo
Porque a vida não basta
Texto de Ferreira Gullar originalmente publicado no jornal Folha de S. Paulo em 22 de setembro de 2013.
A arte contemporânea acabou com a crítica; isso é expressão da crise por que passam as artes plásticas
Embora tenha frequentemente criticado o que se chama de arte contemporânea, devo deixar claro que não pretendo negá-la como fato cultural. Seria, sem dúvida, infundado vê-la como fruto da irresponsabilidade de alguns pseudoartistas, que visam apenas chocar o público.
Há isso também, é claro. Mas não justificaria reduzir a tais exemplos um fenômeno que já se estende por muitas décadas e encontra seguidores em quase todos os países.
Por isso, se com frequência escrevo sobre esse fenômeno cultural, faço-o porque estou sempre refletindo sobre ele. Devo admitir que ninguém me convenceria de que pôr urubus numa gaiola é fazer arte, não obstante, me pergunto por que alguém se dá ao trabalho de pensar e realizar semelhante coisa e, mais ainda, por que há instituições que a acolhem e consequentemente a avalizam.
O fato de negar o caráter estético de tais expressões obriga-me, por isso mesmo, a tentar explicar o fenômeno, a meu ver tão contrário a tudo o que, até bem pouco, era considerado obra de arte. Não resta dúvida de que alguma razão há para que esse tipo de manifestação antiarte (como a designava Marcel Duchamp, seu criador) se mantenha durante tantos anos.
Não vou aqui repetir as explicações que tenho dado a tais manifestações, as quais, em última análise, negam essencialmente o que se entende por arte. Devo admitir, porém, que a sobrevivência de tal tendência, durante tanto tempo, indica que alguma razão existe para que isso aconteça, e deve ser buscada, creio eu, em certas características da sociedade midiática de hoje. O fato de instituições de grande prestígio, como museus de arte e mostras internacionais de arte, acolherem tais manifestações é mais uma razão para que discutamos o assunto.
Uma observação que me ocorre com frequência, quando reflito sobre isso, é o fato de que obra de arte, ao longo de 20 mil anos, sempre foi produto do fazer humano, o resultado de uma aventura em que o acaso se torna necessidade graças à criatividade do artista e seu domínio sobre a linguagem da arte.
Das paredes das cavernas, no Paleolítico, aos afrescos dos conventos e igrejas medievais, às primeiras pinturas a óleo na Renascença e, atravessando cinco séculos, até a implosão cubista, no começo do século 20, todas as obras realizadas pelos artistas o foram graças à elaboração, invenção e reinvenção de uma linguagem que ganhou o apelido de pintura.
Isso não significa que toda beleza é produto do trabalho humano. Eu, por exemplo, tenho na minha estante uma pedra --um seixo rolado-- que achei numa praia de Lima, no Peru, em 1973, que é linda, mas não foi feita por nenhum artista. É linda, mas não é obra de arte, já que obra de arte é produto do trabalho humano.
Pense então: se esse seixo rolado, belo como é, não pode ser considerado obra de arte, imagine um casal de urubus postos numa gaiola, que de belo não tem nada nem mantém qualquer relação com o que, ao longo de milênios, é tido como arte. Não se trata, portanto, de que a coisa tenha ou não tenha qualidades estéticas --pois o seixo as tem-- e, sim, que arte é um produto do trabalho e da criatividade humana. Se é boa arte ou não, cabe à crítica avaliar.
E toca-se aqui em outro problema surgido com essa nova atitude em face da arte. É que, assim como o que não é fruto do trabalho humano não é arte, também não é possível exercer-se a crítica de arte acerca de uma coisa que ninguém fez.
O que pode o crítico dizer a respeito dos urubus mandados à Bienal de São Paulo? A respeito de um quadro, poderia ele dizer que está bem mal-executado, que a composição é pobre ou as cores inexpressivas, mas a respeito dos urubus, que diria ele? Que não seriam suficientemente negros ou que melhor seria três em vez de dois? Não o diria, pois nada disso teria cabimento. Não diria isso nem diria nada, porque não é possível exercer a crítica de arte sobre o que ninguém fez.
Desse modo --e inevitavelmente--, a chamada arte contemporânea acabou também com a crítica de arte. Isso tudo é, sem dúvida, a expressão da crise grave por que passam hoje as artes plásticas.
Costumo dizer que a arte existe porque a vida não basta. Negar a arte é como dizer que a vida se basta, não precisa de arte. Uma pobreza!
outubro 13, 2013
Dossiê: O episódio da censura à obra da artista Márcia X por parte do CCBB
Publicações no Canal Contemporâneo - cartas e manifestos de artistas, abaixo-assinado, matérias e editoriais, posicionamentos do Banco do Brasil e do então Ministro da Cultura Gilberto Gil - sobre a censura à obra "Desenhando com Terços", de Márcia X, na exposição Erótica no Centro Cultural do Banco do Brasil do Rio de Janeiro, em 2006, que culminou com o cancelamento da itinerância da mostra para o CCBB de Brasília.
CARTAS, MANIFESTOS E ABAIXO-ASSINADO
Exigimos que a obra censurada pelo CCBB retorne à exposição, A Gentil Carioca - 24/04/2006
Carta enviada ao Banco do Brasil pelos artistas Maurício Dias e Walter Riedweg - 24/04/2006
ABAIXO-ASSINADO CENSURA NÃO! - Pelo retorno da obra de Márcia X à exposição Erótica no CCBB - parte 1
ABAIXO-ASSINADO CENSURA NÃO! - Pelo retorno da obra de Márcia X à exposição Erótica no CCBB - parte 2
Comentários enviados pelos signatários do abaixo-assinado Censura Não!
Comentários enviados pelos signatários do abaixo-assinado Censura Não! - continuação
Banco do Brasil responde a três perguntas do Canal Contemporâneo - 24/04/2006
Cartas de Rosângela Rennó e Annelise Davée Llerena para o CCBB em 24 de abril de 2006 - 25/04/2006
Nota à Imprensa: Ministro da Cultura, Gilberto Gil, manifesta-se contrário à proibição de obra da artista plástica Márcia X - 25/04/2006
Resposta ao Prof.Felipe Aquino e ao Prof.Paulo Adib Casseb pela Profa.Deborah Sztajnberg - 29/04/2006
Márcia X - Manifestação de 29 de abril, por Alex Hamburger - 01/05/2006
Uma polêmica censurada ou o x da congestão erótica, por Marcos Hill - 04/05/2006
Marcia X e o CCBB - Censura e/ou a lógica do sistema?, por Paulo Paes e Luiz Camillo Osorio - 19/05/2006
O Corpo da Arte - É o seu silêncio que permite que tudo isso aconteça, por Bia Medeiros e Daniela Bezerra - 26/05/2006
MATÉRIAS E EDITORIAIS
Banco retira "terço erótico" de exposição no RJ, do Terra Online - 20/04/2006
Banco proíbe "terço erótico" em exposição por Talita Figueiredo, Folha de S. Paulo - 20/04/2006
Curador diz ter ficado chocado e que havia restrição de idade por Luiz Fernando Vianna, Folha de S. Paulo - 20/04/2006
Matérias do jornal Extra / Globo Online sobre a Manifestação contra a censura à obra de Márcia X no CCBB - 21/04/2006
Opus Christi quer proibir outra obra erótica por Talita Figueiredo, Folha de S. Paulo - 21/04/2006
Camiseta vai expor peça censurada por Mario Cesar Carvalho, Folha de S. Paulo - 21/04/2006
Maioria dos internautas não concorda com a retirada de obra polêmica do CCBB-RJ, Extra/Globo Online - 24/04/2006
Ato é protesto contra censura por Talita Figueiredo, Folha de S. Paulo - 25/04/2006
Ministro Gilberto Gil se manifesta contra censura à obra de Márcia X. por Suzana Velasco, o Globo - 25/04/2006
Arte Crucificada - Editorial da Folha de S. Paulo - 29/04/2006
BB cancela a exposição "Erotica" em Brasília por Mario Cesar Carvalho, Folha Online - 03/05/2006
CCBB cancela etapa de ‘Erotica’ em Brasília por Bernardo Araujo, O Globo - 04/05/2006
Obra de Marcia X considerada profana é proibida outra vez, Globo Online - 26/05/2006
E-NFORMES
ABAIXO-ASSINADO - CENSURA NÃO! - Pelo retorno da obra de Márcia X à exposição Erótica no CCBB - 25/04/2006
Passeata do Paço Imperial ao CCBB, EDUCA-AÇÃO / CENSURA NÃO! - 26/04/2006
CIRCUITO Artista também é correntista. Ação contra censura no CCBB, Brasília
Projeção da obra Desenhando co Terços pelo artista Leo Ayres na manifestação de 22 de julho de 2013
Alvo de censura, Márcia X tem obra iconoclasta revista em livro por Silas Martí, Folha de S. Paulo
Alvo de censura, Márcia X tem obra iconoclasta revista em livro
Matéria de Silas Martí originalmente publicada no jornal Folha de S. Paulo em 12 de outubro de 2013.
Dossiê: O episódio da censura à obra da artista Márcia X por parte do CCBB
"É interessante pensar a impossibilidade das instituições de incorporar uma produção que tem carga pornográfica. Como o público vai ver um monte de pirocas depois de ter visto Monet?"
Quem pergunta é Márcia X, performer carioca morta em 2005, aos 45 anos, de câncer, antes de a resposta chegar.
Sua obra, de tão censurada e perseguida, ficou anos fora do radar até ressurgir com força numa mostra no Museu de Arte Moderna do Rio, no ano passado, e agora em livro organizado por Beatriz Lemos, que documenta todas as suas performances.
São quase 600 páginas de textos e imagens, só disponíveis em bibliotecas e centros culturais, já que o volume --financiado pela Funarte-- não pode ser vendido em livrarias.
Não deixa de ser, no entanto, um esforço louvável de dissecar a obra de Márcia X, que será sempre lembrada por usar terços para desenhar contornos de pênis em uma obra mostrada há sete anos no Centro Cultural Banco do Brasil, no Rio, e que foi removida depois de grande pressão da comunidade católica.
Também por aparecer nua, só coberta com plástico transparente, num shopping do Rio. E por criar uma bacanal com bonequinhos de bebês, ou usar pênis de sex shop estilizados numa instalação.
"É claro que eram trabalhos que iam despertar uma reação", diz Ricardo Ventura, viúvo da artista. "Ela mexia com barris de pólvora."
primeiro confronto
Ou com "tabus muito fortes da nossa sociedade", nas palavras do poeta Alex Hamburger, que também foi casado com Márcia X. Ele estava lá, aliás, quando ela teve seu primeiro confronto público.
"Eu lia poemas e ia cortando partes da roupa, que era de plástico transparente com manchas vermelhas nas partes íntimas", diz Hamburger. "Foi um problema com a polícia, chegaram a apontar uma arma para a gente."
Dias depois do episódio, em 1986, Márcia X mandou uma carta de desabafo a um colunista do"Jornal do Brasil" que não entendera a ação.
"Já não é a primeira vez que vejo citada de forma incorreta a performance", escreveu a artista. "Ninguém sabia o que significava performance. Agora, a imprensa se ocupa em dizer que isso é a última moda, demonstrando que a situação evoluiu da ignorância completa para uma confusão diluidora."
É uma confusão que persiste. Museus e galerias lidam ainda hoje com o paradoxo de uma obra de arte que não tem presença física -uma ação efêmera, que a princípio não tem valor de mercado.
"Performance era uma coisa que não entendiam", diz Hamburger. "Só depois que nos separamos, em 1992, ela passou a incorporar objetos à obra, como coisas de sex shop. Até eu fiquei chocado."
Filha de pai militar e mãe ultracatólica, Márcia X também chocou a família com sua obra de teor iconoclasta.
"Um artista sempre trabalha com suas obsessões", afirma Ventura. "Sua obra infantilizava o mundo adulto e erotizava o mundo infantil."
outubro 10, 2013
SP-Arte anuncia membros do comitê de seleção para a edição de 2014
Equipe SP-Arte anuncia em 10 de outubro de 2013 o novo comitê de seleção.
A SP-Arte divulgou a lista de membros que farão parte do comitê de seleção para a edição de 2014 da feira, que acontece entre 3 e 6 de abril do próximo ano.
O grupo, composto de oito galeristas, será responsável pela escolha das galerias que participarão da SP-Arte 2014. Eles também compartilharão com a organização da feira ideias de como melhorar o evento em suas próximas edições.
Confira a seguir a lista dos nomes confirmados:
- Akio Aoki [Galeria Vermelho]
- Alessandra D’Aloia [Galeria Fortes Vilaça]
- Burkhard Riemschneider [Neugerriemschneider]
- Daniel Roesler [Galeria Nara Roesler]
- Felipe Dmab [Mendes Wood DM]
- Flavio Cohn [Dan Galeria]
- Luciana Brito [Luciana Brito Galeria]
A SP-Arte gostaria de dar boas-vindas ao novo comitê :)
Utopias e projeções no Ibirapuera: Mario Gioia entrevista Lisette Lagnado, Bazaar Art Brasil
Utopias e projeções no Ibirapuera
O Canal Contemporâneo publica com exclusividade a íntegra da entrevista de Mario Gioia com Lisette Lagnado originalmente publicada na revista número 1 da Bazaar ART Brasil, lançada em setembro de 2013.
Panorama 2013 centra o foco no questionamento da ‘transitoriedade’ de um museu já forte na cidade de São Paulo, o MAM, e leva para fora do parque projetos que o reinserem na zona central da capital paulista
P33: Formas únicas da continuidade no espaço, MAM, São Paulo, SP - 06/10/2013 a 15/12/2013
A partir de um olhar “retroprospectivo”, como a curadora-assistente Ana Maria Maia gosta de frisar, o Panorama 2013 se reinventa, deixando de ser um mapeamento do que acontece nas artes visuais em âmbito nacional. Prefere, sim, questionar o status instável da instituição à qual está abrigada _ o MAM-SP (Museu de Arte Moderna de São Paulo). Quem está à frente dessa provocação é Lisette Lagnado, ex-Bienal de São Paulo, que, para a mostra que é iniciada em 5 de outubro, lança mão de projetos utópicos de escritórios de arquitetura e investigações críticas de artistas a respeito do circuito contemporâneo e da frágil situação em que se encontram museus, centros culturais e equipamentos diversos. A seguir, Lagnado comenta mais sobre a exposição e seus desdobramentos.
Mario Gioia - Como se deu a escolha do eixo curatorial do Panorama 2013? Por que a problematização do status ‘temporário’ da própria instituição?
Lisette Lagnado - Entendo que toda exposição deve responder à situação em que está colocada: a partir de que lugar (cidade, bairro, instituição) está falando? No caso do Panorama, precisei revisitar os propósitos da criação em 1969 desta mostra quase tão regular quanto a Bienal. E, nesse percurso, verifiquei que sua principal missão inicial já havia sido cumprida: inserir o MAM na cena artística brasileira e formar um acervo próprio depois da perda da coleção original que foi doada em 1963 para a Universidade de São Paulo fundar o Museu de Arte Contemporânea (MAC-USP). Além de conseguir formar um acervo novo, o Panorama protagoniza outras conquistas: abolir divisões em suportes e linguagens como pintura, desenho e gravura e tridimensionalidade (Ivo Mesquita); descentralizar o eixo Rio-São Paulo; convidar um curador estrangeiro (Gerardo Mosquera); incluir artistas não-brasileiros e internacionalizar o debate estético (Adriano Pedrosa). Isso faz do Panorama hoje um espaço de destaque para curadorias fortes. O que falta então ao MAM hoje? Uma sede adequada para desenvolver um programa à altura de uma coleção que continua crescendo. A problematização desse status temporário foi uma deriva natural de uma reflexão mais profunda.
Mario Gioia - Fale sobre o processo de seleção dos artistas e dos escritórios de arquitetura. Quais os principais fatores que levaram à escolha desses nomes?
Lisette Lagnado - Procurei articular um diálogo entre artistas e arquitetos com a finalidade de agregar ideias em torno de uma nova sede (fosse ela real, utópica ou virtual). Qual a sua ligação com a marquise? Deveria permanecer no parque Ibirapuera ou buscar ampliar seu raio de ação? Enquanto Beto Shwafaty e Deyson Gilbert comentam obras da coleção “perdida” (Max Bill e Umberto Boccioni), outros (Pablo Uribe e Per Hüttner) trazem peças do acervo atual e levantam problemas espaciais (Clara Ianni, Daniel Steegmann, Vitor Cesar). Já para os seis escritórios de arquitetura de São Paulo e o escritório convidado de Montevidéu, é necessária a reproposição do programa moderno a partir da constatação da potencialidade de crescimento do museu. Somado a todos esses fatores, sua situação é desproporcional com o volume dos demais pavilhões no parque, como a Oca, o Pavilhão Manoel da Nóbrega....
Mario Gioia - Houve diálogo, nas obras finais, entre arquitetos e artistas?
Lisette Lagnado - Sim, o tempo todo, principalmente com as obras feitas especificamente para o local. Preocupei-me em evitar sobreposições de partidos arquitetônicos. Cada escritório defende um lugar e um edifício com características “supersingulares”. Quanto aos trabalhos dos artistas, alguns já existiam, porém ganham outra dimensão o contexto do P33. É o caso do filme do Yuri Firmeza e da Amanda Melo da Mota sobre a desfuncionalidade do complexo da Pampulha em Belo Horizonte, uma joia da arquitetura do Niemeyer, cassino transformado em Museu cujo programa também serve para festas de casamento e da série de fotografias do Mauro Restiffe. É importante acrescentar que esta exposição, além de ter um tom meio futurista (o título é emprestado do Boccioni, cuja peça comemora 100 anos!), vai mostrar muita pesquisa documental: Affonso Reidy, Lina Bo Bardi, Francisco du Bocage, Marcel Gautherot, Michel Aertsens...
Mario Gioia - Haverá trabalhos expostos fora da sede do MAM. Poderia comentar mais sobre eles e o porquê da localização?
Lisette Lagnado - Os trabalhos fora do Ibirapuera se devem ao projeto do gruposp, de Álvaro Puntoni e João Sodré, cujo escritório fica no Edifício Esther, um lugar estratégico para repensar o modernismo. Na análise deles, o MAM deveria voltar ao centro histórico onde já funcionou. Eles imaginaram uma inserção pulverizada em vários pontos, com vocação para se multiplicar. Aproximando a arte dos centros de maior densidade populacional, aumenta-se o “direito cultural” do cidadão. Então, além do Edifício Guinle na Rua Sete de Abril, identificaram a galeria Nova Barão, que, para Dominique Gonzalez-Foerster, remete ao Rio de Janeiro pelo desenho de seu piso. Pablo León de la Barra sustenta a ideia de um museu urbano, com acesso direto pela rua, mais vivo e popular, à maneira do Yona Friedman, que também está no P33.
Mario Gioia - Quais os elos do Panorama 2013 com outras cidades? As viagens a Recife, Belo Horizonte, Salvador e Rio geraram quais diálogos com as questões centrais da curadoria?
Lisette Lagnado - Além destas viagens, é preciso dizer que eu fui para Montevideo e San José, duas viagens que já estavam programadas quando fui convidada a fazer o Panorama. E incorporei estes outros ritmos de modernização porque entendo que o curador está em pesquisa permanente. É legal perceber que nesse momento de hiperconsumismo e aquecimento global, há arquitetos que se opõem a novas construções. Além do Yona, Phillippe Rahm virá ao seminário falar de arquitetura atmosférica. Somos um país tropical, um traço que influenciou os projetos do Flavio de Carvalho nos anos 1930 e 1940 e que Pablo León de la Barra desenvolve hoje com muita paixão e determinação. O Rio de Janeiro e a Bahia entraram na exposição para mostrar outros programas de museus de arte moderna. Affonso Reidy está representado graças ao trabalho de Fernanda Gomes e Pat Kilgore.
Mario Gioia - De certa forma, parece que a exposição atesta uma modernidade bem típica do Brasil, onde o provisório (as instalações do MAM) acaba se tornando sedimentado e ganha novo status, menos instável, mas, ao mesmo tempo, sempre motivo de críticas e especulações (explico melhor: a interrupção da circulação da marquise pelo museu foi criticada por nomes como Paulo Mendes da Rocha; e uma nova sede sempre foi aventada, ora na Oca, ora no Pavilhão das Culturas Brasileiras etc.). Acredita que todo esse debate fala muito sobre a situação particular e pouco segura das instituições museológicas nacionais?
Lisette Lagnado - De maneira transversal, sim, acabou acontecendo. Mas, para mim, isso que você menciona é um desdobramento. Acho que a tônica que predomina é nossa vocação para adaptar o moderno.
Mario Gioia - O projeto de Oscar Niemeyer para uma nova configuração dos equipamentos culturais no parque Ibirapuera será exibido. Na sua opinião, o modernismo imbricado no projeto do arquiteto, inaugurado em 1954, ainda faz sentido? Quais suas vantagens e desvantagens? Como lidar com um projeto nunca implementado totalmente e criado em uma outra situação urbana?
Lisette Lagnado - Assim como foi postulado, esse projeto não faz mais sentido e isso é normal. Não podemos ser nostálgicos. Os escritórios de Andrade e Morettin, SPBR e Tacoa têm um respeito por esse legado sem contudo deixar de repropô-lo. No 4º Centenário, foi ousado ganhar um parque como o Ibirapuera. Qual seria o presente a ser dado à cidade de São Paulo no 5º Centenário?
Mario Gioia - Como curadora de uma das principais exposições sobre o legado de Lina Bo Bardi (Desvíos de La Deriva, no Reina Sofía, em 2010), como vê os projetos de autoria dela para o MAM? E, por extensão, como avalia a importância atual dela no cenário internacional?
Lisette Lagnado - Obrigada por seu comentário. Não sei se fiz tanto assim. O que eu quis mostrar no Reina Sofía foram projetos de caráter mais lúdico e humanista, que por algum motivo não vingaram. Acredito que sejamos situacionistas e praticamos a psicogeografia no dia-a-dia sem necessariamente conhecer Guy Debord ou Asger Jorn. Nesse percurso, as Experiências urbanas de Flavio de Carvalho foram meu ponto de partida. A importância de Lina Bo Bardi vem, na minha opinião, de sua audácia em valorizar uma modernidade que não condene nem o vernacular, nem a cultura popular.
Mario Gioia - Acredita que o Panorama tenha perdido a função original de ‘mapear/revelar’ o cenário atual das artes visuais no Brasil?
Lisette Lagnado - Sim. Quando o Panorama foi criado, não existiam os programas que temos hoje, tais como o Rumos do Itaú Cultural, a Bolsa Pampulha, o Prêmio Marcantonio Vilaça. Se o formato do Salão já caducou, não faz sentido aplicá-lo a uma mostra com o prestígio do Panorama!
Mario Gioia - Quais as influências das edições do Panorama de Adriano Pedrosa e de Gerardo Mosquera na concepção deste de 2013?
Lisette Lagnado - Graças às mostras deles, foram dados saltos significativos para o Panorama deixar de ter uma importância local. Isso encoraja os curadores a pensar além. O debate cresceu porque absorveu as mudanças propostas por esses curadores. É preciso dar continuidade aos pensamentos anteriores ao invés de escondê-los em gavetas proibidas...
Fala Julio Le Parc: entrevista exclusiva para Paula Alzugaray, seLecT
Fala Julio Le Parc
Uma entrevista exclusiva de Paula Alzugaray com o mestre argentino da op art originalmente publicada na revista seLecT em 7 de outubro de 2013.
Durante montagem de três exposições no Brasil, pioneiro da arte cinética conversa com seLecT
Julio Le Parc - Uma busca contínua, Galeria Nara Roesler, São Paulo, SP - 04/10/2013 a 30/11/2013
2013 foi um ano de consagrações para Julio Le Parc. No primeiro semestre, uma exposição individual do artista argentino levou 170 mil pessoas ao Palais de Tokyo, de Paris. Esta semana, ele está no Brasil para a abertura de três exposições (leia nota publicada na seLecT #14). Com importantes trabalhos realizados da década de 1950 até hoje – todos à venda –, “Uma busca contínua” abriu em 3 de outubro na galeria Nara Roesler, em São Paulo; na Carbono Galeria, na mesma cidade, o artista apresenta uma retrospectiva de seus múltiplos, todos inéditos no país. E no sábado, 12, a Casa Daros inaugura no Rio “Le Parc Lumière”, exposição antológica das trinta obras de Le Parc que integram a coleção Daros Latinamerica. Durante a montagem em São Paulo, o artista conversou com seLecT.
seLecT: Uma arte transitória e sem fins comerciais foi a proposta lançada pelo sr. nos anos 1960. Mas em que medida a conotação sócio-política que sua obra instaurou nos anos 1960 permanece em um momento de soberania do mercado?
Julio Le Parc: A crítica que eu continuo a fazer com minha obra é em relação à postura exclusivista de certo meio social. O que nós buscávamos eram outras locações para a criação contemporânea, que não passassem unicamente pelos circuitos estabelecidos. As instituições onde estou expondo no Brasil são espaços de difusão dessas ideias.
seLecT: A Casa Daros é a maior colecionadora de sua obra. Qual a importância de ter trinta de suas obras nessa coleção?
JLP: A Daros é muito meticulosa no cuidado com a obra. Fiquei impressionado, por exemplo, com o material levado para a montagem da exposição Le Parc Lumière, no México. Eles têm um trabalho meu dos anos 1960, feito com lampadinhas russas. E eles conseguiram várias peças de reposição do mesmo modelo e procedência russa! Além disso, a coleção Daros não é uma coleção imóvel. Eles colocam a obra em permanente confronto e difusão, em exposições, conversas, seminários, livros... Há um livro meu dos anos 1960, “Historieta” que será editado agora em português. É um livro que especula se a arte é uma mercadoria ou não.
seLecT: Mas sua relação com instituições nem sempre existiu. Nos anos 1970, você recusou um convite de expor no Musée d’Art Moderne de la Ville de Paris. A recusa foi decidida na sorte. Como foi essa história?
JLP: Havia uma mobilização de artistas contra uma exposição de arte francesa que estavam organizando em segredo no Grand Palais, e que cobriria a arte francesa de 1962 a 1972. Nós pedimos para sermos informados sobre os critérios e o processo de concepção dessa exposição, mas as autoridades nos negaram acesso. Logicamente, os artistas condenaram essa forma de proceder. Dentro desse contexto, me convidaram para fazer uma exposição no Musée d’Arte Moderne de Paris. Então, convoquei uma reunião com os representantes de meu meio: colegas artistas, galerista, família, colecionadores e os funcionários do museu. Foi uma ação. Eu li um texto e depois dei uma moeda para meu filho Yamil jogar. Deu negativa, então não expus.
seLecT: Como Estrellita B. Brodsky, colecionadora e curadora de sua exposição na galeria Nara Roesler me disse, a animação é a estrutura formal intrínseca de toda a sua obra. Muitos de seus desenhos parecem roteiros visuais, frames de flip books. Como se relaciona com o cinema?
JLP: Há um paralelismo. Assim como minha obra, o cinema é feito de imagens em movimento. Mas meu trabalho não pode ser interpretado como uma forma experimental de cinema. Meus desenhos não têm nenhuma pretensão de competir com o cinema, porque se limitam a esquemas. A partir deles, desenvolvo outros temas, como móbiles e instalações que colocam a luz em movimento.
seLecT: Sua experimentação com luz em movimento se faz sempre a partir dos mesmos elementos: espelhos, transparências... Os elementos são os mesmos. O que muda é a relação entre eles?
JLP: O espectador é o outro elemento central de minha obra. Minha atitude de experimentação me levou de uma coisa a outra, e fui incorporando outros materiais. Todas as técnicas surgem dentro de uma problemática. O meio por si mesmo não importa, mas a problemática. Se sua preocupação é pela atualidade de uma tecnologia, pode correr o risco de se esvaziar.
'30 x Bienal' traz recorte óbvio de sua história por Fabio Cypriano, Folha de S. Paulo
'30 x Bienal' traz recorte óbvio de sua história
Crítica de Fabio Cypriano originalmente publicada no jornal Folha de S. Paulo em 8 de outubro de 2013.
"Diga conosco BU-RO-CRA-CIA." Esse texto --parte de um obra sem título de Anna Bella Geiger de 1979 que critica o sistema da arte-- é a melhor síntese da mostra "30 x Bienal - Transformações na Arte Brasileira da 1ª à 30ª Edição".
O trabalho de Geiger é um dos 220 de 111 artistas brasileiros selecionados pelo curador Paulo Venâncio Filho, que percorrem 30 edições da Bienal de São Paulo desde sua primeira edição, em 1951.
Contudo, longe de apontar a contribuição da Bienal ao cenário artístico brasileiro, a mostra se resume a uma seleção de artistas já consagrados na historiografia nacional. E, pior, a maioria das obras expostas sequer foi vista de fato na Bienal, além de pertencerem a poucos colecionadores.
Assim, "30 x Bienal" é superficial e desnecessária, já que se resume a um percurso óbvio da produção artística brasileira, que pode ser bastante didático, mas não traz nenhuma pesquisa de fôlego sobre a importância da instituição.
A história das exposições é uma nova área em desenvolvimento e tem sido objeto de muitos estudos. Ela serve para se compreender como os discursos das curadorias podem criar novas formas de percepção da produção artística e lançar debates que suscitem novos caminhos para essa produção.
Sem dúvida, em suas 30 edições, a Bienal foi essencial para o meio artístico brasileiro e motivou muitas transformações.
A 17ª edição, organizada por Walter Zanini em 1983, ressaltou a performance e as novas mídias, enquanto a 18ª edição, organizada por Sheila Leirner, polemizou o retorno da pintura --para ficar apenas em dois exemplos.
Pois os artistas dessas duas edições que participam de "30 x Bienal" não aparecem contextualizados, como se a instituição não tivesse introduzido um importante debate nesse período.
Mesmo uma das poucas obras de porte da mostra, "Ondas Paradas da Probabilidade", de Mira Schendel, é vista sem sua relação com o momento nacional. Ela tomou parte da 10ª edição, de 1969, a chamada Bienal do Boicote, por conta do recrudescimento da ditadura.
As poucas referências à história da Bienal são fotos ampliadas que mostram como algumas obras foram exibidas. É muito pouco para uma instituição tão essencial.
O modelo que Geiger criticava no sistema das artes nos anos 1970, burocratizado, sem pesquisa, sem ousadia, acabou sendo incorporado pela Fundação Bienal.
Manifestações mudam conceito e dão tom político à Bienal de Istambul por Fabio Cypriano, Folha de S. Paulo
Manifestações mudam conceito e dão tom político à Bienal de Istambul
Matéria de Fabio Cypriano originalmente publicada no jornal Folha de S. Paulo em 1 de outubro de 2013.
As manifestações em defesa do parque Gezi, na capital turca, e contra o primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan, que tiveram início em maio desse ano, transformaram o conceito da 13ª Bienal de Istambul, aberta em 12 de setembro e que vai até 20 de outubro.
Com o título "Mom, Am I a Barbarian?" (mãe, eu sou um bárbaro?), a mostra teria como temática arte em espaços públicos com 14 obras instaladas pela cidade, incluindo o parque Gezi.
"Percebi que não teria sentido ocupar lugares públicos com a aprovação de um governo que considero ilegítimo, sendo que esse mesmo governo jogava gás nos cidadãos e chegou a matar sete deles", conta a curadora turca Fulya Erdemci.
Bienal de Istambul 2013 - ver imagens na matéria da Folha Ilustrada.
Com isso, além de ocupar os dois locais inicialmente planejados, o Antrepo, que tem sido a sede permanente da Bienal, e uma escola primária, outros três espaços foram agregados ao evento, dois deles galerias privadas. "Isso foi decidido em agosto, na última hora. Mas achei importante tornar públicos, lugares que são privados."
Outra mudança significativa na Bienal, motivada pelos manifestantes, foi a gratuidade da exposição. Até então paga, a mostra obtinha cerca de 20% de seu orçamento, de € 2 milhões (cerca de R$ 6 milhões), pela bilheteria. Para compensar a perda, foram canceladas festas e a mostra foi encurtada em três semanas, ficando em cartaz até 20 de outubro.
Todas essas alterações, contudo, são para Erdemci a comprovação do acerto de sua temática: "As questões que eu levantava em meu conceito inicial, tais como se é possível reunir coletivamente diferentes mundos, sejam étnicos ou ideológicos, aconteceram de fato nas ruas da Turquia, ao menos por quinze dias."
Essa energia reverbera pela mostra, que carrega forte carga política. Mesmo obras que não necessariamente surgiram a partir dessa questões, como o vídeo dos brasileiros Cinthia Marcelle e Thiago Mata Machado, "O século" (2011), no qual se observam detritos sendo jogados na rua e uma estranha fumaça surgindo em meio a eles, lembram agora cenas de um confronto impedido com gás lacrimogêneo.
Mais explícito é o videoclipe de um grupo de rap, realizado por Halil Altindere, sobre a destruição de bairros populares de Istambul para construção de casas de alto padrão, uma das motivações dos protestos na Turquia. Detalhe: a obra foi feita em fevereiro, meses antes dos protestos terem início.
"A arte pode abrir os poros do sistema para apontar novas possibilidades, para sugerir novas utopias", conta Erdemci, comentando o trabalho de Altindere.
Para ela, aliás, essa é a inspiração do título. "Bárbaros são os que não falam a língua oficial, portanto os poetas, revolucionários, os anarquistas, os marginais, aqueles que buscam transformação".
POSTURAS POSSÍVEIS
Contudo, a mostra não aponta apenas atitudes engajadas politicamente. "Eu acredito que existem sempre duas possibilidades: ou se parte para a luta ou se retira para reflexão, e por isso considero o trabalho do Cadu uma das peças essenciais da exposição", diz a curadora.
"Projeto Estações", do brasileiro Cadu, é uma espécie de performance, realizada ao longo de um ano, na qual ele viveu, de forma autossuficiente, em um cabana construída por ele mesmo em uma floresta em Petrópolis (RJ). Em Istambul, Cadu apresenta uma maquete da cabana e imagens realizadas em sua experiências, vistas também na Bienal de São Paulo, no ano passado.
A exposição, com 88 artistas, traz ainda outros dois brasileiros: Fernanda Gomes, com uma sala feita por objetos coletados nas ruas da cidade, e Fernando Piola, com a documentação de intervenções suas em São Paulo, plantando flores vermelhas em locais próximos de onde houve tortura durante a ditadura brasileira.
Política e poética, "Mom, Am I a Barbarian?" revela como a arte pode ser sintonizada com o presente sem ser panfletária.
O jornalista FABIO CYPRIANO viajou a convite da Fundação para Cultura e Arte de Istambul.
outubro 2, 2013
Mostra reúne obras do argentino León Ferrari produzidas no exílio em SP por Silas Martí, Folha de S. Paulo
Mostra reúne obras do argentino León Ferrari produzidas no exílio em SP
Matéria de Silas Martí originalmente publicada no jornal Folha de S. Paulo em 30 de setembro de 2013.
León Ferrari - Lembranças de meu pai, MAC USP Nova Sede, São Paulo, SP - 29/09/2013 a 29/03/2014
Um inimigo declarado da Igreja já arquitetou catedrais.
León Ferrari, um dos maiores artistas argentinos, morto em julho deste ano, aos 92, fez de sua obra plástica um ataque visceral à religião católica, com uma imagem de Cristo crucificado num caça norte-americano, entre outras peças "blasfemas", na opinião do papa Francisco.
MAC-USP exibe recorte de seu acervo de fotos
Mas também ajudou seu pai arquiteto a desenhar igrejas. Um resquício dessa experiência parece orientar a obra mais importante da primeira mostra póstuma do artista em São Paulo, agora em cartaz no Museu de Arte Contemporânea da USP.
No fundo da sala, na mesma posição do altar de uma igreja, está "Lembranças de Meu Pai", obra que dá nome à exposição --cujas 57 peças foram produzidas durante o exílio do artista no Brasil.
Ferrari criou nessa obra uma arquitetura translúcida, de fios de arame que delimitam espaços em um emaranhado metálico, e iluminou tudo por baixo, como se em plena ascensão divina.
"É uma tentativa de mostrar que estamos dentro de um templo profanado", diz Carmen Aranha, curadora da mostra. "A ideia dele sempre foi atacar as violências da Igreja contra as pessoas."
Diante de sua catedral abstrata, que a crítica Aracy Amaral chamou de "infinito aprisionado em prismas, em expansão vertical irradiante", seus ataques à religião se manifestam sem pudor algum, em delirantes alegorias figurativas e hiperbólicas.
Uma pintura ao lado mostra um Cristo kitsch agonizando diante de um abutre à espreita. Em outra série, Ferrari esconde figuras fazendo sexo em meio a ilustrações bíblicas que fotocopiou de um livro do alemão Albrecht Dührer (1471-1528).
De certa forma, essas peças marcam o auge de sua virulência estética, o momento em que deixou a Argentina, vítima de um golpe militar em 1976, e se exilou em São Paulo após seu filho se tornar um desaparecido dada ditadura de seu país.
O exílio, contudo, também abriu caminho para trabalhos menos carregados, como a série de peças em que retrata o caos urbano.
Uma delas mostra um emaranhado alucinante de pistas e elevados sobrepostos, enquanto pedestres estão confinados a uma única e estreitíssima passarela. Outra, de multidões que se encontram num cruzamento, chega a lembrar as recentes manifestações de junho.
Mais ou menos explícitas, as obras de Ferrari parecem estar todas lastreadas por um diálogo impossível, de anjos pilotando aviões de guerra a suas imagens abstratas com linhas negras de densidade vertiginosa sobre folhas brancas de papel.
De acordo com o artista, que dizia não ver a arte como "algo solene" nem como plataforma de uma "revolução social", todo o seu trabalho foi em nome da "possibilidade de falar das coisas que não têm palavras".
MAC-USP exibe recorte de seu acervo de fotos por Silas Martí, Folha de S. Paulo
MAC-USP exibe recorte de seu acervo de fotos
Matéria de Silas Martí originalmente publicada no jornal Folha de S. Paulo em 30 de setembro de 2013.
Lábios e olhos. Pelos do corpo, pele de todas as cores: o corpo fragmentado, quase violentado pela fotografia, serve de abre-alas à nova mostra do acervo do Museu de Arte Contemporânea da USP.
Desde que a instituição começou a colecionar fotografias, nos anos 1970, o foco parece ter sempre se dirigido para experimentos de linguagem mais ousados, que aproximam a técnica da arte contemporânea em detrimento do registro documental.
Mostra reúne obras do argentino León Ferrari produzidas no exílio em SP
Na exposição agora em cartaz, artistas mais e menos conhecidos, do concretista Waldemar Cordeiro aos fotógrafos Claudia Andujar e Boris Kossoy, passando por pioneiros das artes do corpo, como Hudinilson Jr., exploram a arquitetura da imagem, assim como a anatomia esquadrinha o corpo humano.
"É o tema do corpo, mas também a própria fotografia que ganha corporeidade", analisa Helouise Costa, curadora da mostra. "Foi um momento de romper fronteiras."
Uma primeira leva desse movimento está na obra de poloneses que expuseram no MAC nos anos 1970, como Janusz Bakowski, que cria repetições vertiginosas de lábios e orelhas em montagens fotográficas, e Edward Grochowick, com um painel só de olhos em primeiro plano.
A mostra parte de uma reflexão ao mesmo tempo intimista e transgressora sobre o corpo, para depois examinar o comportamento desse corpo na paisagem, seja ela a das metrópoles ou a dos sertões.
Maureen Bisilliat tem na mostra o célebre ensaio "Pele Preta", que alterna planos abertos e fechados no registro de personagens negros.
Outra série poderosa --a das imagens um tanto lisérgicas que Claudia Andujar fez dos índios ianomâmi em ocas que parecem se abrir para céus estrelados e ultracoloridos-- contrasta com a austeridade monumental do Palácio do Planalto, retratado pela alemã Candida Höfer.
DICOTOMIA
Visões contrastantes de Brasil e de corpo dominam a exposição, indo do corpo humano instrumentalizado, visto em chave metonímica, à ideia de corpo na cidade, com prédios belos ou que se mostram opressores.
Imagens fragmentadas da avenida Juscelino Kubitschek, obra de Cassio Vasconcellos, ou aviões e helicópteros sobrevoando prédios imensos, no registro de Nancy Davenport, e mesmo um Copan desmilinguido em fragmentos molengas, de Odires Mlászho, exacerbam com força essa dicotomia.
Na mostra, conforme o olhar fotográfico vai perdendo a ambição de ser um registro definitivo do real, os fragmentos furtivos, ou tudo que é visto de soslaio, ganham peso maior nas composições.
Numa alusão ao próximo passo da fotografia, as imagens em movimento, a mostra no MAC se encerra com experimentos nessa linha.
Em uma colagem, o britânico David Hockney justapõe, na mesma superfície, o registro de momentos distintos do encontro entre duas pessoas, como um filme cujos fotogramas não se veem em sequência, mas ao mesmo tempo.
São exercícios que, nas palavras da curadora, "redimensionam tudo o que a gente pode ver".
A febre do arquivo por Paula Alzugaray, Istoé
A febre do arquivo
Matéria de Paula Alzugaray originalmente publicada na revista Istoé em 27 de setembro de 2013.
Artistas vasculham gavetas, escaninhos, livros, documentos e pinturas antigas para criar novas versões da história
Arquivo Vivo, Paço das Artes, São Paulo, SP - 02/10/2013 a 08/12/2013
Um arquivo é, por excelência, um espaço incompleto, aberto a novas intervenções e escrituras. Esta é a concepção que norteia a exposição coletiva “Arquivo Vivo”, no Paço das Artes, a partir da terça-feira 1º. A escolha dos 22 artistas participantes indica que o espectro de pesquisas sobre o tema hoje é bastante amplo. A curadoria traz desde o francês Christian Boltanski, um dos primeiros a assumir os arquivos pessoais como matéria de trabalho – retratos da infância, roupas, sapatos –, até a pesquisa com biotecnologia do brasileiro Eduardo Kac, residente nos EUA, que nos anos 1990 realizou a obra “Time Capsule”, que usa informações de um chip implantado em seu calcanhar esquerdo. Em “Arquivo Vivo” serão mostrados os registros dessa performance que levanta uma discussão sobre a ética na era digital, em que a memória artificial é armazenada no corpo.
“Pensar o arquivo como um espaço em transformação e de possíveis reescrituras pode apontar, em um primeiro momento, para a ideia de um suposto infinito; para a impossibilidade de uma única construção; de um único discurso legitimador”, diz a curadora Priscila Arantes, diretora-técnica do Paço das Artes. “E é exatamente isto que me interessa: a possibilidade de sempre termos outros olhares em relação ao que é dito. Cabe a nós escolher o olhar que iremos ou queremos defender.”
O olhar crítico em relação aos documentos e discursos da história faz-se presente, por exemplo, nas obras do londrino Yinka Shonibare MBE, que trabalha sobre a temática do pós-colonialismo; da argentina Nicola Constantino, que se debruça sobre a história da arte, reinterpretando seus papéis; e da espanhola Cristina Lucas. Em “La Liberté Raisonnée”, de 2009, ela reencena em vídeo a famosa pintura de Delacroix que representa a revolução de julho de 1830. Em quatro minutos, a artista faz uma releitura sobre os sentidos da liberdade exaltados na história da França.