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setembro 27, 2013
Perfil - Anna Barros: “Sempre a mais velha, com o trabalho mais novo” por Rafael Munduruca, Vila Mundo
Anna Barros 1932-2013
“Sempre a mais velha, com o trabalho mais novo”
Publicamos o perfil originalmente publicado no Vila Mundo, em 27 de julho de 2010, por Rafael Munduruca, por ocasião do falecimento da artista Anna Barros em 26 de setembro de 2013.
Quem poderia imaginar que uma senhora, de 79 anos, com três filhos e quatro netos, poderia ser um dos principais nomes em arte digital no Brasil? Anna Barros é uma artista multimídia, que mora logo ali, na rua Harmonia. Ela tem um currículo extenso. Desenvolveu pesquisa de pós-doutoramento em comunicação e semiótica. Participa de simpósios e congressos nacionais e internacionais e apresenta seu trabalho artístico no Brasil e no exterior desde 1974.
Anna morou por muitos anos em Los Angeles, Califórnia, onde cursou o Otis Art Institute. Durante o tempo em que esteve por lá, recebeu influência dos artistas locais que exploravam o uso da luz no espaço das instalações. No Brasil, ela traduziu todo esse conhecimento para a linguagem dos meios tecnológicos.
Desenvolveu diversos trabalhos em que a luz virava matéria aplicada a ambientes. Mas não faz mais esse tipo de instalação. A última, realizada há três anos no Centro Cultural São Paulo, propunha um “mergulho no azul, uma coisa silenciosa, que sugeria uma atitude de meditação”.
"Eu sou sempre a mais velha, com o trabalho mais novo."
Desde 1993 ela vem trabalhando com animações através do computador, sempre explorando o tema da luz e sua imaterialidade. Há cinco anos começou a pesquisar a nanotecnologia. Foi até São Carlos, no Instituto de Física da USP, para saber como funcionava esta ciência. Em 2008 ela realizou a curadoria da exposição “Nano, Poética de um Mundo Novo”. A mostra, criada para o Museu de Arte Brasileira da FAAP, era composta por seis instalações interativas, que integravam arte, ciência e tecnologia, criadas pela artista multimidiática Victoria Vesna e pelo nanocientista James Gimzewski, da Universidade da Califórnia em Los Angeles – UCLA.
Este ano Anna deu o primeiro curso de Nanoarte do Brasil, intitulado “NANOARTE: Um novo mundo para a criação de trabalhos de arte”, que teve como objetivo tecer uma trama risomática entre a nanociência e a arte por meio da apresentação, análise e conteúdo de trabalhos de artistas em colaboração com cientistas. O curso aconteceu no mês de junho, no MuBE – Museu Brasileiro de Esculturas.
No vídeo, Anna Barros fala sobre sua pesquisa atual que envolve uma semente, uma árvore e uma árvore petrificada de 200 milhões de anos.
Anna explica que “o mundo nano é tão diminuto, que a gente nunca vai enchergar”. O que o computador faz é rastrear a amostra, captando a corrente elétrica presente, criando uma imagem como se fosse a topografia de um terreno. “O computador traduz isso para imagem”. Ela vai apresentar parte desta pesquisa na próxima quarta-feira, dia 28, às 17h30, no Instituto Cervantes, numa palestra que tem como tema “Acredite ou não, nós somos nano”, dentro da programação do Symposium no FILE 2010 – Festival Internacional de Arte Eletrônica.
Apesar da idade, Anna não para. Depois do FILE, no início de setembro, ela segue para o Rio Grande do Sul, onde participará do 5º Simpósio de Arte Contemporânea: poéticas digitais, na Universidade Federal de Santa Maria. Na sequência vai para a Bahia e depois Brasilia, onde montará uma exposição no Museu da República, sempre com trabalhos utilizando a nanotecnologia.
Segundo Anna, não é possível viver de seus trabalhos de arte. Não são animações comerciais, são muito específicas e abstratas. “As vezes eu fico dias em cima de uma luz até acertar aquela que eu quero”. Ela Foi professora universitária, na graduação e pós-graduação, durante “vinte e tantos anos”. Ela escreve e publica muitos artigos em congressos e as vezes capítulos de livros. Entre suas publicações, se destacam: “A Arte da Percepção – um namoro entre a luz e o espaço” e “Nano – Poética de um mundo novo.
"Com cultura e com arte, nesta terra, a gente não vive. Você tem que dar aula, fazer alguma outra coisa, senão não dá para viver."
No ano passado Anna foi indicada para o 8º Prêmio Sergio Motta de Arte e Tecnologia 2009/2010, na categoria “Percurso de Carreira”.
Outros trabalhos
Entre os trabalhos que ela mais gostou de realizar se destaca um processo desenvolvido com borracha, em que ela pincelava latéx liquido em árvores. “Eu escolhia um lugar da árvore, como se fosse uma ferida ou algo assim. Pincelava, pincelava, pincelava e depois arrancava (…) Quando eu fiz isso foi um sucesso louco. Fiz uma árvore que tinha três metros de comprimento, depois não conseguia nem arrancar da árvore”. Também gostava do trabalho de laboratório quando produzia fotografias.
Primeiro ela pintava. Na sala de sua casa há trabalhos de quase trinta anos, são telas de 1982. Passou dez anos pintando em azul. Mas ela conta que quando você olha para as telas de outros ângulos é possível perceber um monte de cores embaixo. Conforme a luz, você vai enxergando várias cores. Foi quando parou de pintar que ela iniciou os trabalhos com computador.
Uma das obras que estampam as paredes da sala de Anna foi extraida de um frame de animação. “É um tipo de gravura feito somente em Nova York, chamado Iris Print”. É uma impressão em papel e tinta especiais utilizados em museu. “Uma coisa que dura pra sempre”. Esse trabalho não é mais desmaterializado porque está impresso em um suporte de papel, mas representa uma obra imaterial. Ele está assumindo uma corporeidade.
O vídeo acima é uma animação, que foi parte da instalação “Viveiro Svetliná”, exibida na exposição “Luz da luz”, no Sesc São Paulo, entre outubro de 2006 e Janeiro de 2007. As animações eram projetadas sobre um jardim criado especialmente com plantas da Mata Atlântica. Um projeto do Grupo SDVila – Anna Barros, Alberto Blumenschein, Nicoleta Kerinska, Rafael Carlucci. A trilha sonora é de Wilson Sukorski.
Outras animações de Anna Barros podem ser conferidas em seu canal do youtube (youtube.com/annamcbarros). Informações sobre suas pesquisas e trabalhos no site annabarros.art.br.
setembro 26, 2013
Folha visita museus da cidade de SP e avalia questões como estrutura e organização por Camila Caron, Folha de S. Paulo
Folha visita museus da cidade de SP e avalia questões como estrutura e organização
Matéria de Camila Caron originalmente publicada no jornal Folha de S. Paulo em 25 de setembro de 2013.
A maior parte dos museus de São Paulo está despreparada para receber e guiar grupos em visitas espontâneas. Quem deseja orientação para conhecer o acervo das instituições precisa fazer o agendamento.
A reportagem visitou 11 museus observando esse item e ainda acessibilidade, presença de informações sobre obras com ou sem traduções, serviços interativos, presença de loja e café, atrações para crianças e condição dos banheiros. A situação de cada um foi avaliada de acordo com o que encontrou a reportagem no dia da visita.
Análise: Em SP, museus públicos estão melhores que os privados em conteúdo
Uma pesquisa realizada pela Embratur com 453 turistas estrangeiros nas cidades-sede da Copa das Confederações, em junho, apontou que cerca de 40% deles procuraram por museus, exposições e casas de cultura. Embora São Paulo não tenha recebido jogos, o número pode refletir uma tendência para a metrópole na Copa.
Segundo o presidente do Ibram (Instituto Brasileiro de Museus), Ângelo Oswaldo de Araujo Santos, o instituto investirá nos museus brasileiros vinculados a ele R$ 20 milhões vindos da Petrobrás e mais R$ 134 milhões vindos do governo federal, com vistas à Copa.
Em São Paulo, o Lasar Segall receberá verbas para a restauração da biblioteca.
Embora a estrutura dos museus da cidade seja boa, a oferta de visitas monitoradas deixa a desejar. Em instituições como MAM (Museu de Arte Moderna), MAC (Museu de Arte Contemporânea) e Oca é preciso agendar para garantir o passeio orientado.
"O número de monitores está sendo ampliado a partir da experiência que estamos tendo" diz Tadeu Chiarelli, diretor do MAC, museu que conta com seis educadores.
"Não existe necessidade de um mediador o tempo todo para dar explicação; com as visitas programadas, temos um trabalho mais rico", afirma Paula Selli, do área educativa do Lasar Segall, que só oferece monitor em caso de agendamento.
No MIS, nem todas as obras apresentavam etiquetas com sua descrição no dia da visita da reportagem.
No MIS (Museu da Imagem e do Som), há sempre um ou dois educadores disponíveis para o público espontâneo.
Quem vai ao Masp (Museu de Arte de São Paulo) pode ter acompanhamento mediante o pagamento de R$ 10, valor que inclui o ingresso. Na visita da Folha ao MuBE (Museu Brasileiro da Escultura), a equipe apresentou, sem agendamento prévio, as obras em exposição.
Se museus como o da Língua Portuguesa e o do Futebol --ambos administrados pelo Instituto de Arte do Futebol Brasileiro-- dispõem de recursos como monitores interativos com textos e vídeos e sensores de movimento, outros espaços, como a Oca, ainda são tímidos em tecnologia --o que se nota nas projeções realizadas na casa.
Entre os museus visitados, a maioria tem estrutura para receber deficientes físicos.
A Capela do Morumbi, porém, tem somente uma escada para o acesso, sem rampa ou elevador, e calçadas estreitas, o que impossibilita a visita de cadeirantes.
De acordo com a diretoria do museu, há um projeto de acessibilidade para o local, mas por se tratar de um edifício histórico, a reforma encontra obstáculos.
Independentemente da realização de eventos internacionais, Nascimento afirma que para o desenvolvimento dos museus, é necessário haver um investimento permanente nesses espaços.
Em SP, museus públicos estão melhores que os privados em conteúdo por Fabio Cypriano, Folha de S. Paulo
Em SP, museus públicos estão melhores que os privados em conteúdo
Análise de Fabio Cypriano originalmente publicada no jornal Folha de S. Paulo em 25 de setembro de 2013.
A situação dos museus paulistas é muito melhor hoje do que há 20 anos. Essa realidade está relacionada à criação da Lei de Incentivo à Cultura, a Lei Rouanet, em 1991. Desde então, grandes investimentos privados, mas frutos de renúncia fiscal, foram destinados à requalificação, programação e criação de museus.
O que se sobressai, contudo, é que museus públicos estão, do ponto de vista de conteúdo e projeto, em situação melhor que os privados, o que parece uma anomalia frente ao contexto brasileiro.
Folha visita museus da cidade de SP e avalia questões como estrutura e organização
Instituições como a Pinacoteca do Estado, o MAC (Museu de Arte Contemporânea da USP) e o MIS (Museu da Imagem e do Som) têm se apresentado mais dinâmicas e coerentes do que suas correspondentes privadas como o Masp (Museu de Arte de São Paulo) e o MAM-SP (Museu de Arte Moderna).
Criadas por mecenas centralizadores, essas instituições mantêm a cultura do personalismo em sua estrutura, o que contrasta com o profissionalismo das públicas.
Enquanto Masp e MAM permanecem estagnados -- o primeiro não consegue terminar sua nova ala, no edifício vizinho à sede, e o segundo insiste em permanecer em um puxadinho improvisado-- os museus públicos ainda passam por processo de ampliação.
O MAC recentemente anunciou, após ter aberto uma nova sede de 8.000 metros quadrados, que vai inaugurar um novo prédio na praça dos Museus, na USP, para obras contemporâneas de grande porte.
A Pinacoteca segue com projeto de ampliação na praça da Luz enquanto, no próximo mês inaugura nova ala de seu acervo permanente na Estação Pinacoteca, até então dedicada a mostras temporárias.
O Lasar Segall, único museu federal na cidade e o em pior estado, acaba de receber R$ 1 milhão do Ministério da Cultura para reformas.
E a Oca, da Prefeitura de São Paulo, que até agora é um espaço alugado para vários fins, incluindo exposições, passa a sediar, a partir de janeiro, o acervo da Museu da Cidade, que é uma importante coleção da cidade. Ao menos na área dos museus, os três níveis do poder público mostram-se atuantes.
Mira Schendel ganha retrospectiva com 270 obras expostas em Londres por Vivian Oswald, O Globo
Mira Schendel ganha retrospectiva com 270 obras expostas em Londres
Matéria de Vivian Oswald originalmente publicada no jornal O Globo em 25 de setembro de 2013.
Artista brasileira nascida na Suíça ocupa 14 salas da Tate Modern
LONDRES - Quase meio século depois de uma exposição individual na extinta galeria Signals, na capital britânica, a obra da artista plástica Mira Schendel volta a Londres em grande estilo numa retrospectiva inédita que ocupa 14 salas da Tate Modern a partir de hoje. Parte importante das cerca de 270 obras pertence ao acervo da família da artista. Muitas delas estão sendo apresentadas ao público pela primeira vez.
Entre as obras inéditas está uma série monocromática das paisagens de Itatiaia, todas sem título, que pertencem à família da artista e, segundo a curadora da Pinacoteca do Estado de São Paulo, Taisa Palhares, estavam esquecidas em uma gaveta. Os delicados “cadernos”, hoje estimados em cerca de 150, também estão na exposição londrina. Muitos deles pela primeira vez. Frágeis, quase não foram exibidos, até porque, segundo a própria artista, não teriam sido compreendidos pelo público. As imagens acabaram dando origem a um filme feito por um dos alunos do filósofo e amigo Max Bense, por ocasião de uma exposição de Mira na Alemanha. O filme também pode ser visto na Tate.
Organizada durante dois anos, a mostra reúne pinturas a óleo, gravuras, esculturas, trabalhos em papel; um pouco de tudo o que a artista produziu. E é fruto de uma parceria firmada entre a galeria britânica e a Pinacoteca do Estado de São Paulo, que levará a exposição para o Brasil em julho de 2014.
— Já foram realizadas exposições só de pinturas ou desenhos, mas nunca uma retrospectiva deste porte, porque é difícil entender a unidade do trabalho de Mira — diz Taisa.
Nascida em Zurique, na Suíça, e criada em Milão, na Itália, Myrrha Dagmar Dub, ou apenas Mira, como gostava de ser chamada, mudou-se para o Brasil em 1949, onde viveu e trabalhou de maneira incessante até sua morte, em 1988, aos 69 anos. Educada em ambiente católico, perseguida pelas origens judaicas durante a Segunda Guerra e forçada a abandonar a faculdade de Filosofia após a introdução de leis antissemitas na Itália, Mira acabou fugindo para a então Iugoslávia. E desembarcou em solo brasileiro, aos 30 anos, indo viver em Porto Alegre com o marido. Depois da separação, em 1953, seguiu para São Paulo, onde se aproximou de intelectuais e rapidamente se firmou na cena artística como um de seus expoentes, junto com Lygia Clark e Hélio Oiticica, reinventando a linguagem do modernismo europeu no Brasil.
A obra de Mira é um retrato de sua vida. Revela as raízes (o excesso ou a falta delas), as contradições religiosas e o interesse por filosofia, semiótica e os idiomas. De citações brasileiras a Chico Buarque e João Cabral de Melo Neto ou ao samba, passava para textos em italiano, alemão, que usava para devorar livros de filosofia, ou checo, idioma do segundo marido, além de citações da Bíblia.
— Ela era muito consciente dos idiomas, da maneira de operá-los e mostrar como a língua muda as experiências de mundo. Mover-se de um idioma para outro era mover-se de um mundo para outro — explica a curadora da Tate, Tanya Barsons, especialista em arte latino-americana.
Talvez por sua história tumultuada, Mira nunca tenha mergulhado em questões políticas, que tratava apenas de forma tangencial, segundo Taisa. A primeira vez que teria produzido peças abertamente políticas foi na série “Sarrafos”, de telas brancas com sarrafos negros que cortam parte delas, no fim da década de 1980, período de instabilidade no Brasil que Mira teria comparado ao entreguerras na Alemanha. Outra peça, “Ondas paradas de probabilidade”, de 1969 (pouco depois do AI-5 no Brasil), com fios de nylon que pendem do teto, acompanhados de uma citação da Bíblia, também é vista com conotação política. Feita para ser exposta naquele mesmo ano na Bienal de São Paulo, que ficou conhecida como a Bienal do Boicote, a obra desafiou os artistas brasileiros e estrangeiros que decidiram não participar do evento.
A exposição na Tate não é apenas o retorno da artista “transnacional”, como gostam de chamá-la os especialistas, à cena londrina, mas a um marco da sua vida. A individual de Mira na capital britânica em outubro de 1966 teve múltiplos significados para ela. Profissional e pessoalmente. Segundo Tanya, que também foi curadora da retrospectiva de Hélio Oiticica na Tate, em 2007, a vinda da artista a Londres naquela época marcou um momento de transição em sua carreira.
— Era uma nova fase de Mira, com uma obra de peso e um dos grandes momentos em que ela faria conexões com outros artistas importantes na cena internacional e que passariam a influenciá-la — diz Tanya.
A última exibição da badalada galeria alternativa Signals, que funcionou apenas entre 1964 e 1966, levou ao público londrino de então as mesmas obras feitas a partir de papel de arroz — “Droguinhas” e “Trenzinho”, além de algumas monotipias — que haviam sido expostas aos brasileiros no Museu de Arte Moderna (MAM) do Rio de Janeiro meses antes. Para a decepção da artista, a recepção no Brasil foi totalmente diferente, o que a levou a afirmar, em entrevista ao pintor Jorge Guinle, em 1981, que não havia sido compreendida no Rio. Agora, as peças estão todas de volta a Londres.
A ida da artista à capital britânica na época foi também sua primeira viagem à Europa desde que deixara o continente, no pós-guerra. Um reencontro com suas origens. E a primeira das várias viagens que passou a fazer em seguida à região, que já não sentia mais como sua casa, assim como o próprio Brasil, país que escolheu para passar o resto da vida.
A exposição fica em cartaz até o dia 19 de janeiro. De Londres, ela segue para a Fundação de Serralves — Museu de Arte Contemporânea, no Porto, em Portugal, para voltar ao Brasil no ano que vem. De 24 de julho a 19 de outubro de 2014, as obras de Mira Schendel estarão em exibição na Pinacoteca do Estado de São Paulo. Por mais que se trate da mesma mostra, porém, para o público brasileiro a disposição das peças deve ser outra, menos didática ou cronológica como está sendo na Inglaterra.
—Vamos manter as peças centrais, mas será algo mais voltado para um público que a conhece melhor. Portanto, vamos brincar mais com as obras. Aliás, cada uma das exposições, a do Porto inclusive, será um pouco diferente — destaca Taisa.
setembro 8, 2013
Após tumulto, feira ArtRio chega enxuta à 3ª edição por Silas Martí, Folha de S. Paulo
Após tumulto, feira ArtRio chega enxuta à 3ª edição
Matéria de Silas Martí originalmente publicada no jornal Folha de S. Paulo em 4 de setembro de 2013.
ArtRio 2013: Panorama, Pier Mauá, Rio de Janeiro, RJ - 05/09/2013 a 08/09/2013
Depois de dobrar de tamanho e sofrer com graves problemas estruturais no ano passado, a ArtRio levou sua equipe para uma espécie de retiro num hotel em Santa Teresa. Lá no alto, decidiram fazer da edição que começa hoje, no Rio, uma feira menor, talvez mais direta ao ponto.
Querem evitar o tumulto do ano passado, quando 74 mil pessoas foram à feira e alguns mais afoitos chegaram a subir em cima das obras, aterrorizando os galeristas.
Também se livraram da área externa, então reservada a galerias emergentes, que sofreram com a invasão de pombos e gaivotas, apelidando o espaço de "favelinha".
Sem "favelinha" e com ingressos limitados a 60 mil, a ArtRio também fez uma seleção mais enxuta de galerias, reduzidas de 120 para 106.
"Fizemos isso pensando mais nos artistas", diz Brenda Valansi, uma das diretoras da ArtRio, em entrevista à Folha. "Somos um mercado em ascensão, então não adianta ter um monte de galerias super 'avant-garde'."
Talvez não sejam mesmo tão vanguardistas assim, nem é isso que se espera de um evento comercial, mas as melhores e mais caras do mundo parecem ter esquecido os problemas e voltaram à feira.
Na lista mais enxuta, há espaço para algumas das maiores casas do mundo, como as norte-americanas Gagosian, David Zwirner e Pace e a britânica White Cube. Estreiam no Rio mais duas gigantes --as também americanas Gladstone e Marian Goodman.
Todas elas parecem ter a intenção de criar um eco com o circuito dos museus no país, levando à feira os nomes de seus times agora em cartaz no Brasil ou que em breve devem ganhar mais espaço nos museus brasileiros.
No caso da Marian Goodman, esse foi o fator decisivo para a galeria decidir entrar na ArtRio. A casa representa a artista espanhola Cristina Iglesias, que agora tem uma mostra na Casa França-Brasil, no Rio, e o sul-africano William Kentridge, agora na Pinacoteca, em São Paulo.
"Instituições brasileiras têm apoiado nossos artistas, então pensamos em melhorar a conversa com os colecionadores também", diz Rose Lord, uma das diretoras da Marian Goodman. "Já vendemos para compradores no país e vemos que há um público muito bem informado."
Essa abertura a obras de fora é tão forte entre os brasileiros que a galeria britânica White Cube abriu sede em São Paulo no ano passado.
Mas vendas nas feiras costumam ser mais intensas por causa da isenção de alguns impostos sobre obras importadas, medida implantada na ArtRio desde sua primeira edição, em 2011, e depois copiada na paulistana SP-Arte.
É um desconto que pode chegar a 50% do valor da obra, mas que só vale para transações realizadas na feira. Não deixa de ser um incentivo quando peças nos estandes ultrapassam cifras de alguns milhões de dólares.
DÓLAR E CRISE
Esse, aliás, deve ser o fantasma a rondar esta edição da feira. Com a disparada da moeda americana, obras estrangeiras com preços cotados em dólar vão custar mais caro mesmo que galerias tenham mantido valores no patamar normal dos artistas.
"É a primeira vez que vamos ver o reflexo disso", diz Karla Meneghel, diretora da White Cube em São Paulo. "Toda negociação é feita em cima disso. As obras vêm de fora, então não tem jeito."
Talvez por isso, a direção da ArtRio, que diz que a feira movimentou R$ 150 milhões no ano passado, não arrisca nenhuma previsão agora. "Estamos vivendo uma crise, sim", diz Valansi. "Mas não vai ter uma percepção tão grande dessa crise, porque teremos novos compradores."
Despreocupada, a Gagosian está levando ao Rio obras de seu caríssimo "elenco habitual", como o cubista Pablo Picasso e o escultor Alberto Giacometti, duas das maiores estrelas do mercado internacional. A casa não divulga valores, mas numa estimativa conservadora são peças que chegam fácil a R$ 10 milhões.
"Compradores querem o melhor e mais raro", diz Victoria Gelfand-Magalhães, da Gagosian. "Então, mesmo com a recessão, ninguém hesita ao investir em arte. Nunca tantas pessoas entraram nesse mercado na história."
ArtRio em dias de dólar alto: menos público e galerias por Roberta Pennafort, Estado de S. Paulo
ArtRio em dias de dólar alto: menos público e galerias
Matéria de Roberta Pennafort originalmente publicada no jornal Estado de S. Paulo em 4 de setembro de 2013.
Objetivo da feira é ficar entre as 5 maiores do mundo
ArtRio 2013: Panorama, Pier Mauá, Rio de Janeiro, RJ - 05/09/2013 a 08/09/2013
Em sua terceira edição, mas com credenciais de feira já estabelecida, a ArtRio foi aberta na última quarta (4) a colecionadores e curadores com boas vendas e discursos cautelosos com relação à alta do dólar. Só nesta quinta (5) o público que paga ingresso (R$ 20), para o qual os galpões do cais do porto se transformam numa gigantesca exposição a ser visitada, terá acesso à produção exposta pelas 106 galerias participantes, brasileiras e estrangeiras vindas da Europa e das Américas.
Das 11 às 13 horas, só VIPs tiveram acesso aos armazéns. Cerca de 3 mil convites foram distribuídos para os 30 principais clientes de cada galeria. Negócios foram fechados rapidamente. Na paulistana Nara Roesler, uma escultura de Angelo Venosa saiu por R$ 80 mil; a Vermelho, também de SP, que não quis divulgar valores, vendeu obras de Marcelo Cidade e Nícolas Bacal. “São colecionadores que sabem muito bem o que estão comprando”, comentou Eduardo Brandão, que trouxe a Vermelho.
N’A Gentil Carioca, já às 13h30 um Rodrigo Torres havia sido comprado por R$ 15 mil, e três artistas estavam com obras reservadas: Jarbas Lopes, ao preço de R$ 65 mil, José Bento, por R$ 45 mil, e Laura Lima, por R$ 35 mil.
Na nova-iorquina Pace, vários móbiles de Alexander Calder estavam reservados também nas primeiras horas da ArtRio. “É nosso primeiro ano na feira e percebemos que há um grande interesse pelo Calder aqui”, disse a diretora internacional, Elizabeth Esteve.
Na quarta, os Calders foram possivelmente a maior atração da ArtRio: o espaço da Pace ficou lotado. A espanhola Mayoral exibe Mirós; a Gagosian, considerada a maior do mundo, Picasso, Degas, Giacometti, Pollock, Andy Warhol e Damien Hirst, entre outros artistas que movimentam milhões.
Representado por duas de suas galerias na feira, Vik Muniz batia papo no espaço da Gagosian. “Eu não venho a feiras ver arte, venho ver gente”, contava. “Eu não acreditava nessa feira, achava que o mercado estava perto da saturação, mas errei. Ainda assim, acho difícil trazer o colecionador internacional, porque ele pode comprar mais barato em Nova York.”
O dólar alto dificulta a vida dos brasileiros que levam artistas estrangeiros – mas esta é uma minoria entre os compradores. A maior parte é de estrangeiros e brasileiros que compram nossos artistas. “Claro que o dólar impacta, mas temos tantos compradores que não acho que vá influenciar no resultado geral”, avalia Brenda Valansi, uma das idealizadoras da ArtRio.
Ela acredita que a cada edição chegam novos interessados em arte – gente que não tem quadro algum em casa e decide levar uma obra de R$ 20 mil.
As galerias oferecem peças de R$ 1.000 a US$ 20 milhões (R$ 47 milhões). Os mais abastados têm à disposição uma salinha privada, no último armazém, onde podem apreciar o que lhe interessou mais detidamente, e fazer o cheque sem ninguém por perto. O private view room é uma praxe nas feiras internacionais e foi uma demanda das galerias estrangeiras à organização.
A seleção das participantes este ano foi mais rígida (o número de galerias no ano passado foi 120). Além de dar mais qualidade à feira, a intenção é tornar o espaço mais agradável. Para tal, também está sendo limitado o volume de pessoas circulando. Em 2011, foram 46 mil; em 2012, 74 mil; desta vez, estão sendo disponibilizados 60 mil ingressos. Até anteontem, um terço havia sido vendido.
Ano passado, por conta da superlotação, chegou a haver preocupação com relação à segurança das obras. Mas isso não fez com que os organizadores mudassem o foco: persiste a visão da feira não só como uma iniciativa com fins comerciais, mas também como um evento cultural que busca atrair a população não iniciada.
A meta da ArtRio é figurar entre as cinco maiores do mundo. No caso dos contemporâneos, os frequentadores do circuito de arte preferem ver a produção mais recente dos artistas na feira do que simplesmente ir às galerias. “Aqui está o novo do novo”, justifica o galerista Márcio Botner, d’A Gentil Carioca.
ArtRio: feira carioca, projeto internacional por Audrey Furlaneto, O Globo
ArtRio: feira carioca, projeto internacional
Matéria de Audrey Furlaneto originalmente publicada no jornal O Globo em 4 de setembro de 2013.
Em terceira edição, que abre nesta quinta-feira ao público, evento tenta atingir padrão de qualidade dos maiores eventos do gênero
Cidade é um dos principais atrativos para estrangeiros
ArtRio 2013: Panorama, Pier Mauá, Rio de Janeiro, RJ - 05/09/2013 a 08/09/2013
RIO - Faltavam dez minutos para as 11h, horário marcado para a abertura da ArtRio, quando o primeiro micro-ônibus de convidados da feira de arte estacionou no Píer Mauá. Na chuva, os VIPs se espremiam diante das catracas à espera da abertura de fato. Passavam por detectores de metais, recebiam seus catálogos e, em seguida, corriam em busca dos escassos guarda-chuvas oferecidos pela organização da feira até chegar à entrada de um dos quatro armazéns.
Se nessa prévia para convidados, na quarta-feira, a ArtRio distribuiu oito mil ingressos, nesta quinta-feira, quando a feira abre ao público pagante, o evento espera receber 12 mil pessoas, número máximo estabelecido dentro de um projeto de “enxugamento” da feira. Após uma segunda edição permeada por queixas de galeristas diante do excesso de público e da falta de organização, a ArtRio, em nome de um alardeado “padrão internacional”, optou pela restrição: o público não poderá passar dos 12 mil visitantes diários (até domingo, poderá chegar a 60 mil; em 2012, foram 74 mil). A venda antecipada de ingressos, pelo site www.ingressorapido.com. br, também faz parte da medida de organização — até anteontem, porém, o site só havia vendido 15 mil ingressos dos 48 mil postos à venda.
Com mais espaço (a área passou de 17 mil m² para 20 mil m²), é mais agradável transitar entre as galerias (ao menos no dia em que a feira se abriu aos VIPs). Há mais área livre não só entre as representantes, mas dentro delas, em estandes de 40m² a até 120m² — apesar de o número de trabalhos total da feira ter aumentado, de seis mil para sete mil. Ao aumento da área da feira soma-se o fato de o evento ter reduzido o número de galerias participantes, que passou de 120 para 106 neste ano. A queda está, sobretudo, entre as estrangeiras, que, no ano passado, eram 60 e, agora, são 45. Não se trata, porém, de desistência, defende uma das sócias da ArtRio, Brenda Valansi.
— Em todas as edições de feiras pelo mundo, há transição de galerias e, neste caso, foi por decisão do nosso comitê, que se baseou não na porcentagem de galerias nacionais e estrangeiras, mas na qualidade delas. Tenho certeza de que internacionalmente a ArtRio é bem avaliada — diz Brenda.
“O Rio é um lugar a que se deseja vir”
No estande da estreante Marian Goodman, o diretor da filial parisiense da galeria Andrew Heyward parecia concordar com a sócia da feira (“Está me parecendo bem organizada, sem crise”), mas ponderava o motivo para sua vinda ao Rio:
— Nós vamos a muitas feiras todos os anos, algo entre seis e nove eventos. Ouvi falar bem da ArtRio, sim, mas a verdade é que escolhemos estar aqui porque setembro é um bom mês e porque o Rio é um lugar a que se deseja vir em algum momento — explicou Heyward.
No estande, ele mostrava aos colecionadores obras de Gerhard Richter, Cristina Iglesias e William Kentridge — os dois últimos com exposições institucionais no país (Iglesias na Casa França-Brasil, no Rio; Kentridge na Pinacoteca de São Paulo). Para Heyward, as mostras em instituições daqui foram a primeira entrada de seus artistas no Brasil, e a feira é a segunda parte da estratégia para estreitar laços com o mercado nacional.
— Os impostos são sempre difíceis, é verdade. É mais complicado aqui do que em qualquer outro lugar do mundo, mas é parte do mercado, não podemos nos lamentar — completou, lembrando que trouxe à feira obras a partir de US$ 20 mil.
Agaleria Marian Goodman está no último armazém da ArtRio que, neste ano, optou por começar pelas galerias jovens, numa espécie de recompensa pelo fato de, no ano passado, elas terem ficado no final do percurso, com obras expostas à chuva e aos pássaros da Zona Portuária. Assim, à esquerda da entrada, o público logo verá as galerias novas, com até seis anos de existência. Do lado direito, estão os estandes de arte moderna. É só mais adiante, no terceiro e no quarto armazéns, que estão as grandes casas internacionais e o primeiro time das brasileiras de arte contemporânea.
No terceiro, por exemplo, a gigante Gagosian é separada apenas por uma parede da londrina White Cube — soa irônico que nela, aliás, esteja uma tela de Damien Hirst, artista que recentemente debandou da vizinha Gagosian. É lá também que estão potências nacionais, como as paulistanas Fortes Vilaça e Luisa Strina.
No quarto e último armazém, a Pace, também estreante no evento, dedica boa parte de seus 120m² a obras de Alexander Calder. Embora as próprias galerias evitem falar de números, comenta-se que é dele a obra mais cara da feira (algo em torno de R$ 20 milhões). Próxima dali, a galerista Juliana Cintra, da carioca Silvia Cintra + Box 4, contava que vinha recebendo e-mails de colecionadores a caminho da feira, mas sem conseguir pousar na cidade (o Aeroporto Santos Dumont ficou fechado durante boa parte da manhã de ontem).
— Eles ligam tensos, mandam e-mails, pedem para reservar obras e até compram antes. Já temos uma longa relação com alguns deles — afirmou Juliana. — Estamos aqui no último armazém e, para nós, a feira começa mais tarde, depois que as pessoas cruzarem tudo.
Sua vizinha de pavilhão, a galerista Eliana Finkelnstein, da paulistana Vermelho, dizia estar contente com a distribuição de galerias nos armazéns:
— O que estava desproporcional no ano passado era aquele espaço da Gagosian (a galeria tinha uma área para expor esculturas, além do espaço de seu estande). Para a feira, é interessante dividir.
Números:
Investimento total na feira:
R$ 9,5 milhões
Quantidade de galerias:
106 , sendo 61 nacionais e 45 internacionais
Área total da feira, que ocupa quatro armazéns no Píer Mauá:
20 mil metros²
Público:
60 mil esperado entre quinta e domingo