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janeiro 30, 2013
Ministério da Cultura mudará gestão da Cinemateca por Matheus Magenta e Silas Martí, Folha de S. Paulo
Ministério da Cultura mudará gestão da Cinemateca
Matéria de Matheus Magenta e Silas Martí originalmente publicada na Ilustrada no jornal Folha de S. Paulo em 26 de janeiro de 2013.
Depois de exonerar Carlos Magalhães do cargo de diretor da Cinemateca Brasileira na semana passada, o novo secretário do Audiovisual do Ministério da Cultura, Leopoldo Nunes, iniciou esforços para retomar o controle do órgão responsável pela preservação de 30 mil títulos.
Segundo ele, a secretaria foi "omissa" no controle da Cinemateca, que recebeu nos últimos dez anos cerca de R$ 170 milhões. Do total, R$ 20 milhões foram repassados diretamente pelo ministério e outros R$ 150 milhões foram captados, via renúncia fiscal e convênios com o próprio MinC, pela Sociedade Amigos da Cinemateca, uma organização sem fins lucrativos que dá apoio à gestão do órgão.
AUDITORIA
Auditorias da CGU (Controladoria-Geral da União) sobre os exercícios de 2010 e 2011 da Cinemateca apontam falta de controle do MinC sobre a execução dos recursos, além de problemas na gestão de bens e em licitações.
Após o Carnaval, uma força-tarefa formada por membros do ministério, da Sociedade Amigos da Cinemateca e da CGU irá se debruçar sobre as prestações de contas dos repasses feitos pelo MinC para a ONG.
Desde o mês passado, quando assumiu a secretaria do Audiovisual, Leopoldo Nunes --ex-diretor da Ancine (Agência Nacional do Cinema) e da TV Brasil- sinalizou que fará mudanças na estrutura da Cinemateca, que, segundo ele, sofre uma "crise de crescimento".
A Sociedade Amigos da Cinemateca passou a gerir financeiramente, nos últimos dez anos, projetos pouco ligados às atribuições da instituição.
Esse inchaço se deu porque a ONG pode contratar pessoas e gastar recursos com menos burocracia e mais rapidez que o governo.
Um exemplo é o quadro funcional da Cinemateca: 80% de seus 112 funcionários são contratados pela Sociedade Amigos da Cinemateca em regime de pessoa jurídica.
O plano do novo secretário é esvaziar o poder da ONG e transferir parte dos projetos da Cinemateca --cuja sede fica em São Paulo-- para outras áreas da pasta, como o CTAv (Centro Técnico Audiovisual), no Rio.
INQUIETAÇÃO
As incertezas sobre o novo modelo administrativo e quanto à continuidade de projetos em andamento provocaram inquietação entre gestores, conselheiros e funcionários da Cinemateca.
"Estou preocupado com a autonomia e o futuro da instituição, que atingiu um nível extraordinário e hoje está entre as cinco melhores cinematecas do mundo", afirmou Carlos Augusto Calil, ex-secretário municipal da Cultura de São Paulo e membro do conselho.
Na última quarta-feira, segundo apurou a Folha, funcionários da Cinemateca foram comunicados de que seus cargos seriam extintos após mudanças anunciadas pelo MinC, mas em seguida a diretora interina, Olga Futemma, recuou e lhes informou que o corte de vagas não é certo.
O MinC nega que haverá demissões.
RUMOS
O sucessor de Carlos Magalhães ainda não foi definido. Na próxima segunda, o conselho da Cinemateca irá discutir os rumos da instituição e o nome do novo diretor, que pode sair dessa reunião.
Ao longo da gestão de Carlos Magalhães, entre 2002 e 2013, funcionários e membros do conselho dizem que a Cinemateca ganhou mais visibilidade, verbas e equipamentos modernos, mas que a preservação do acervo acabou em segundo plano, inclusive com redução da equipe.
Procurado pela Folha, Magalhães não quis comentar sua gestão.
Leopoldo Nunes afirma que a preservação e a digitalização do acervo da Cinemateca serão prioritárias na nova gestão da instituição. Ele estabeleceu como meta digitalizar 3.000 obras até o final do ano que vem.
Galeria Moura Marsiaj fecha as portas depois de dois anos em São Paulo por Silas Martí, Folha de S. Paulo
Galeria Moura Marsiaj fecha as portas depois de dois anos em São Paulo
Matéria de Silas Martí originalmente publicada na Ilustrada no jornal Folha de S. Paulo em 24 de janeiro de 2013.
Parceria das galerias Mariana Moura, do Recife, e Laura Marsiaj, do Rio, a Moura Marsiaj funcionou por um ano e dez meses em São Paulo e anunciou nesta semana que fechará as portas a partir de fevereiro.
"Percebemos depois de dois anos que era muito puxado morarmos em duas cidades para atender cada uma duas galerias", disse Marsiaj à Folha. "Não tinha como continuar, já que a gente não conseguia se dedicar 100% ao projeto."
A galeria, que funcionava em Pinheiros, na zona oeste de São Paulo, abriu as portas num momento em que várias novas galerias montaram filiais em São Paulo ou ampliaram seus espaços, como a Mendes Wood, nos Jardins, a Baró, a Transversal e a Emma Thomas, na Barra Funda, e a Raquel Arnaud, que se mudou para um espaço maior na Vila Madalena.
Em setembro do ano passado, Mariana Moura, sócia de Marsiaj na galeria paulistana, fechou a casa que levava seu nome no Recife depois de oito anos em atividade. Sua galeria foi uma das pioneiras no cenário nordestino.
Os artistas representados pelas duas em São Paulo deverão ter suas obras vendidas agora pela galeria Laura Marsiaj, que opera em Ipanema, na zona sul do Rio.
Morre mestre Walter Zanini por Angélica de Moraes, revista Select
Morre mestre Walter Zanini
Texto de Angélica de Moraes originalmente publicado na revista Select em 29 de janeiro de 2013.
Perdemos um dos nomes fundamentais para a cultura visual brasileira, para a historiografia e a reflexão teórica da artemídia
Uma das maiores personalidades da cultura brasileira, fundou e foi diretor do MAC-USP, além de devolver o prestígio internacional à Bienal de São Paulo
Este mês de janeiro está pesado de mortes. Agora levou Walter Zanini (1925-2013), nosso querido professor Zanini, um dos nomes fundamentais para a cultura visual brasileira, para a historiografia e a reflexão teórica da artemídia. Rigoroso e objetivo ao escrever, Zanini detestava adjetivos e metáforas. Impossível reprimir, no entanto, a idéia de compará-lo a uma daquelas enormes e frondosas árvores que, ao virem ao chão, deixam uma clareira no seu entorno, difícil de ser repovoada pela floresta. Porque Zanini era como um baobá, árvore rara, imensa, sólida. Alta e generosa na sua sombra, que abrigava muitos. Chega de adjetivos, porém. Vamos aos fatos, como o mestre ensinou.
Historiador e crítico de arte, Zanini fundou e foi primeio diretor do Museu de Arte Contemporânea da USP (1963-1978). Foi no MAC-USP que ele sintonizou o circuito artístico brasileiro com a videoarte e os novos meios, a então denominada arte eletrônica, abrindo espaço também para a livre experimentação artística e para a produção das novas gerações, que exibia na mostras Jovem Arte Contemporânea (JAC) e outras tantas que transformaram o museu em centro de encontro e debate da classe artística.
Zanini foi o nome procurado pela Fundação Bienal para restaurar o prestígio internacional da instituição, fragilizada pelos anos de chumbo da ditadura militar e da censura às obras de arte. Cumprindo à risca o desafio, instituiu e exerceu pela primeira vez no país o conceito de curadoria, fazendo duas bienais antológicas, a 16ª e 17ª edições (1981 e 1983), que inscreveram novamente o evento no calendário mundial de grandes mostras periódicas de arte contemporânea. Criou o conceito de analogia de linguagens para a distribuição das obras no espaço expositivo e desatrelou-a da representação por países, modelo herdado da bienal de Veneza. Tudo isso nessas duas bienais dos anos 1980. Legados tão fortes que alguns, em passado recente, tentaram lhe roubar a primazia dessas atitudes.
Na sua primeira bienal (1981), Zanini trouxe para o âmbito principal das artes visuais as obras realizadas com alguns dos novos meios artísticos da época, como a artexerox, o videotexto e a holografia. Não bastasse isso, foi autor e coordenador da monumental História Geral da Arte no Brasil (Ed. Instituto Walther Moreira Salles, 1983, 2 volumes), o maior esforço historiográfico jamais feito nesse setor e que ocupou equipe de 16 especialistas, entre eles o antropólogo Darcy Ribeiro.
Realizou centenas de exposições e organizou outros tantos catálogos, muitos deles livros de referência incontornável. Sua produção de textos, tanto para as revistas acadêmicas quanto para a imprensa, é extensa e importante, demarcando o exercício de uma crítica baseada em muita pesquisa e método, uma quebra de paradigma na crítica de arte da época, então ainda bastante confinada a conclusões de gabinete e compradrios.
A trajetória desse professor, que conjugava prestígio acadêmico internacional a uma calorosa popularidade entre os alunos, foi bastante singular para a época em que se iniciou. Graduou-se pela Université de Paris VIII em 1956 e obteve doutoramento pela mesma universidade em 1961. Professor titular de História da Arte da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP), onde trabalhou até se aposentar, foi antes professor da mesma disciplina na Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP), onde coordenou uma equipe de professores que incluía nomes como Júlio Plaza e Regina Silveira. Zanini formou gerações de artistas e teóricos que atualmente contribuem de modo decisivo para consolidar a qualidade da produção artística brasileira.
Escreveu diversos livros importantes, entre eles Tendências da Escultura Moderna (Ed. Cultrix, SP, 1971). Foi traduzido para diversos idiomas, especialmente o italiano, o inglês e o francês. Deixa inédito um livro sobre a história da artemídia no Brasil, tarefa que o ocupou obsessivamente até seus últimos dias. Escreveu crítica de arte no jornal O Estado de S. Paulo e para a prestigiosa Leonardo, revista norteamericana de arte e tecnologia.
janeiro 26, 2013
A América profunda no Rio de Janeiro, via Casa Daros por Audrey Furlaneto, O Globo
A América profunda no Rio de Janeiro, via Casa Daros
Matéria de Audrey Furlaneto originalmente publicada no Segundo Caderno do jornal O Globo em 26 de janeiro de 2013
Com abertura marcada para 23 de março, o centro cultural pretende fazer da arte contemporânea latino-americana a porta de entrada para o Brasil conhecer os seus vizinhos
Foram seis anos de obras e a previsão inicial foi inaugurar em 2008
RIO - Agora vai. Inicialmente prometida para 2008, a Casa Daros será finalmente aberta ao público no dia 23 de março, após seis anos de um ambicioso restauro feito por 250 funcionários, que verteram um prédio de 1866 num amplo espaço para arte e educação. Nessa reta final, o movimento é intenso no casarão de 12 mil metros quadrados em Botafogo.
— Isso aqui é uma obra para o povo brasileiro — diz, animado, o curador suíço Hans-Michael Herzog, que tem a pele avermelhada dos europeus no verão carioca, fala pouco, veste Calvin Klein e passou pelo menos 13 anos visitando, em países da América Latina, os ateliês dos 117 artistas que compõem a coleção Daros Latinamerica.
Com sede em Zurique, na Suíça, são essas 1.200 obras de arte contemporânea adquiridas desde 2000 pela colecionadora suíça Ruth Schmidheiny que vão “abastecer” o novo centro cultural carioca, que na abertura mostrará 75 obras de dez artistas colombianos.
Tudo na Casa Daros foi pensado em minúcias. As paredes das 11 salas de exposição, por exemplo, são reversíveis — para se preservar a estrutura do casarão tombado, novas paredes foram erguidas a um metro de distância das antigas, e algumas têm tratamento para garantir condições climáticas adequadas a obras mais delicadas. O piso de peroba se manteve depois de longo tratamento de recuperação (60% dele é o mesmo de quando a casa foi erguida). Já o telhado foi 70% refeito. As peças das exposições vão entrar por uma espécie de elevador que fica camuflado no piso de uma das grandes salas ou por grandes portas, também invisíveis aos olhos do público.
Se a homérica obra nas instalações foi vastamente explorada pela direção da Casa Daros como um indício do trabalho cuidadoso que pretende fazer no Rio, é para o discurso sobre o conteúdo do prédio que agora se voltam Herzog, o cubano Eugenio Valdés Figueroa (diretor de arte e educação) e a brasileira Isabella Rosado Nunes (diretora-geral).
A Casa Daros, diz seu curador, há de servir como “plataforma para o intercâmbio cultural na América Latina”. Embora venha de longe, Herzog diz já ter visitado tantos países latino-americanos a ponto de poder cravar: “O brasileiro não conhece seus vizinhos.”
— Essa já é uma novidade: o público vai ter oferta de exposições e programas de arte latino-americana. Ninguém sabe quem são os artistas da região. Estamos aqui para mostrar conteúdos desconhecidos. Temos obras brasileiras na coleção, mas isso as pessoas já conhecem. Se você mora no Rio e tem interesse em arte, já viu a produção brasileira — afirma o curador, que até 2011 organizou exposições da coleção na sede em Zurique, hoje uma grande reserva técnica fechada ao público.
Segundo ele, a crise internacional e a aparente imunidade do Brasil não são motivos para que a instituição tenha escolhido o Rio. Herzog defende que a mudança de eixo e o foco na arte produzida em regiões emergentes são “efeitos orgânicos da globalização”.
— Os curadores viajam mais, as bienais são cada vez mais internacionais, e é natural que se pense mais na arte da América Latina. Isso é apenas a ponta do iceberg, e a gente quer se ocupar profundamente das questões latino-americanas — completa ele.
Por “profundamente”, leia-se com aulas, oficinas e encontros entre artistas, curadores e estudantes de arte do Brasil e de países latinos. Já no pacote da exposição inaugural da casa, “Cantos cuentos colombianos”, estão previstas conversas dos dez artistas com o público. Na lista, figuras já consagradas no cenário internacional: Doris Salcedo (que, no Brasil, tem obra em Inhotim), Fernando Arias, José Alejandro Restrepo, Juan Manuel Echavarría, María Fernanda Cardoso, Miguel Ángel Rojas, Nadín Ospina, Oscar Muñoz, Oswaldo Macià e Rosemberg Sandoval.
— A gente sabe que está falando de algo novo, que é arte contemporânea, que não tem tanto público. Por isso queremos que a casa seja um ponto de encontro, seja para tomar um café, ler um livro na biblioteca (com 4.000 volumes sobre arte latino-americana), almoçar... — explica a diretora-geral, Isabella Rosado Nunes.
Para ela, a casa terá de responder à questão: como fazer de uma instituição uma potência de comunicação? A solução, Isabella diz acreditar, pode morar num projeto como o da Daros. Lá, os donos do restaurante Miam Miam terão um café e um restaurante.
— Por conta do preço, pensamos nas duas opções: pode-se tanto tomar um café quanto almoçar — diz ela.
Ingressos a R$ 12
O custo para frequentar a casa foi uma preocupação dos diretores, que não querem espantar o público: os ingressos vão custar R$ 12, a entrada será gratuita às quartas-feiras, e grupos de escolas públicas terão livre acesso.
— Adoro ver como as pessoas entram no CCBB e se sentem à vontade. Você vê as pessoas mais diversas visitando exposições, indo ao cinema, tomando café... — comenta Isabella, para lembrar que a Daros também terá cineclube no auditório (a primeira mostra será dedicada ao cinema colombiano).
Para que os funcionários “saibam receber” o público, antes das inaugurações de mostras todos vão passar por um “mergulho” nas exposições. Cada sala terá um “auxiliar de galeria”, funcionário apto a dar informações sobre as obras em português, inglês e espanhol.
Após “Cantos cuentos colombianos”, que fica em cartaz até agosto, a Daros fará uma individual de Julio Le Parc, argentino radicado em Paris, figura central na arte cinética. A ideia é ter duas grandes mostras por ano. Em paralelo, o setor de educação criará exposições complementares — caso de “Para (saber) escutar”, que acompanha o projeto inaugural mostrando o processo de chegada da Daros ao Rio. Segundo o diretor Eugenio Valdés Figueroa, a casa é fincada na ideia de “saber escutar”.
— Estamos trazendo o respeito pela diferença — diz o cubano. — O Brasil já é um conjunto diverso. O continente é isso exponencialmente multiplicado.
Destaque na arte contemporânea, Adriana Varejão ganha exposição panorâmica no MAM por Luisa Duarte, O Globo
Destaque na arte contemporânea, Adriana Varejão ganha exposição panorâmica no MAM
Artigo de Luisa Duarte originalmente publicado no Segundo Caderno do jornal O Globo em 16 de janeiro de 2013
Artista foi a primeira brasileira viva a ter um trabalho adquirido por uma instituição de prestígio internacional como a Tate Modern
‘Sou uma operária da pintura’, afirma
Adriana Varejão - Histórias às margens, MAM, Rio de Janeiro, RJ - 17/01/2013 a 10/03/2013
RIO - Ao longo dos últimos anos, a arte contemporânea se tornou um fenômeno no Brasil. Assim, um interesse crescente na produção brasileira vem surgindo de forma notável — produção esta que antes mesmo de ganhar notoriedade aqui já era reconhecida fora do país. Na ponta desta “onda” estão alguns nomes de peso, e um dos que mais chamam a atenção e se torna quase uma grife é o de Adriana Varejão.
A ocupação deste lugar de destaque vem sendo comprovada: em 2011, Adriana se tornou a artista brasileira viva cujo trabalho foi vendido pelo mais alto preço então já pago por uma obra. O quadro “Paredes com incisões à la Fontana” saiu por 1,1 milhão de libras em um leilão na Christie’s (em 2012, o recorde foi quebrado por Beatriz Milhazes, cuja pintura “Meu limão” foi arrematada por US$ 2,1 milhões). Adriana foi, ainda, a primeira brasileira viva a ter um trabalho adquirido por uma instituição de prestígio internacional como a Tate Modern.
Mas é preciso lembrar, em meio ao alarido que seu nome provoca, que a artista de forma alguma é somente um fenômeno midiático e de vendas, mas alguém que vem construindo um dos capítulos mais singulares da cena contemporânea — as subversões realizadas no campo da pintura por Adriana merecem ser estudas em profundidade. Sobre o sucesso, ela mesma o analisa com lucidez:
— Meu foco está na pintura desde o início. É muito bom poder viver bem do próprio trabalho, pois isso reverte a favor da obra. Eu não tenho a urgência da venda da obra. Posso guardar certos trabalhos, ter um acervo em meu ateliê. A pintura é o eixo. Sou uma operária da pintura, sempre fui e sempre serei.
Livros e viagens no processo
Se Adriana se diz pintora, estamos diante de um denso programa artístico desenvolvido desde a década de 1980. É este percurso que poderá ser visto no MAM a partir de quinta-feira, na mostra panorâmica “Adriana Varejão — Histórias às margens”, com curadoria de Adriano Pedrosa. A exposição foi inaugurada ano passado no MAM-SP, tendo pequenas mudanças em sua versão carioca.
O título remete à força da História na obra da artista e ainda à atenção dada às margens, na contramão de um eurocentrismo. O arsenal de referências de Adriana passa pelas histórias do Sul, dos índios, da China, do barroco mineiro, da mestiçagem.
Com 40 trabalhos realizados nos últimos 22 anos, a seleção curatorial foi pensada de maneira a exibir os melhores exemplos de todas as séries que a artista produziu. Há ainda uma primorosa pintura de grande escala feita especialmente para a mostra, “Panorama da Guanabara”.
Visitar a exposição é entrar em contato com um universo em que se cruzam referências. Se a obra é atravessada por forte voltagem visual, sua fonte está nas ideias. Leituras e viagens são partes fundamentais do processo. O tempo gasto no departamento de Medicina de uma universidade em Tóquio para ver a técnica dos irezumis (grandes pedaços de pele inteiramente tatuada cortados de cadáveres e expostos como arte) ou a leitura de autores como Severo Sarduy e Walter Mignolo são tão importantes quanto as horas no ateliê. Da China ao barroco, da azulejaria à iconografia da colonização, da História da arte à religiosa, do corpo e seu erotismo à cerâmica e aos mapas, da tatuagem ao seres aquáticos, vasto é o mundo que lhe interessa.
Tal amálgama de referências faz de sua pintura uma manifestação que está longe de ser aquela voltada somente para si mesma, ou seja, uma pintura que discute o próprio meio.
— Acho maçante quando a pintura só fala dela mesma. Esta discussão já se esgotou. Eu escolhi falar de coisas que estão no mundo — diz Adriana.
Três dimensões
Ao longo do século XX, a pintura ganhou um corpo com três dimensões. A obra do italiano Lucio Fontana é emblemática desta passagem. A pintura de Adriana é herdeira desta superação e nos evoca de forma eloquente este “corpo da pintura”.
O trabalho da artista, desde o início, vem marcado pela presença de dois elementos recorrentes: o azulejo e a carne — uma carne claramente anedótica, teatralizada. A série de trabalhos “Ruínas de charque”, por exemplo, nos revela mais uma vez o encontro destes dois elementos. Mas se azulejo e carne encontram-se presentes em obras que datam desde 1995, nas quais já existia um claro movimento “para fora” — como no caso das “Línguas” e das “Azulejarias em carne viva” — será com as “Ruínas” que, pela primeira vez, as pinturas saem da parede para ganhar o espaço, dialogando com a escultura e a arquitetura.
Tais obras são espécies de esculturas/pinturas em forma de ruínas, revestidas por azulejos. No interior, em contraste com a superfície plana e geometrizada do exterior, encontramos a representação da carne de charque. No lugar do cimento, carne vermelha.
Severo Sarduy apontou a substituição como um dos procedimentos característicos da estética barroca. Esta substituição, dependendo de quais elementos coloque em funcionamento, não opera tão somente uma permutação neutra. Realiza, isso sim, um desvio na significação original e estabelece uma nova. As imagens das ruínas, por sua vez, são a transfiguração de um tempo inacabado.
Tempo e erotismo: dois elementos constantemente ativados por Adriana. A experiência do tempo nas cidades do Novo Mundo é descrita com precisão por Claude Lévi-Strauss (outro autor importante para a artista/pesquisadora) no capítulo dedicado à cidade brasileira de São Paulo de seu livro “Tristes trópicos”. Tal pensamento encontra sua síntese na passagem: “Aqui tudo parece que é ainda construção e já é ruína.” Este tempo em que as coisas não se concluem é o da experiência do tempo de um Novo Mundo desprovido de tradição. E será justamente da história dos ganhos desta ausência de que se vale o trabalho de Adriana. Ela realiza um livre jogo com o tempo e a História na sua pintura desde trabalhos iniciais, como “Filho bastardo” e “Passagem de Macau à Vila Rica”.
Se em uma primeira fase temos uma obra mais voltada para uma articulação crítica do passado, hoje nos deparamos com uma visualidade mais depurada, na qual o tema da colonização sai de cena, mas permanecem elementos como o corpo, a história, a teatralizacão do mundo e o erotismo. Uma série mais recente como a das “Saunas” não deixa de evocar o corpo na sua ausência ou nos seus rastros, como no quadro em que somente um chão ensaguentado revela sua passagem.
Esta generosidade da forma encontrada no trabalho de Adriana leva até a longa tradição barroca, da qual sua pintura é uma herdeira contemporânea.
Mas os mais atentos podem se perguntar neste momento: não estávamos justamente falando do fim da tradição? Como então é possível esta artista do século XXI ser uma herdeira de uma longa tradição estética? De que forma ela poderá se relacionar com a tradição barroca hoje? Também aqui Adriana opera uma reinvenção, uma inversão de sinais com a sua herança. Nas suas pinturas testemunhamos uma transmutação do elevado, do excelso, do ouro, dos anjos, de tradicionais obras barrocas, para um universo barroco agora selvagem, voraz, vermelho, erotizado, em carne viva.
“Adriana Varejão — Histórias às Margens” é uma exposição de pintura que revela como esta que é a mais antiga das linguagens artísticas pode ser palco de uma teatralização que subverte o próprio meio e, num gesto antropofágico, devora o mundo à sua volta e o devolve transfigurado, repleto de eloquência visual e verticalidade conceitual.
Waltercio Caldas lidera ranking de arte brasileira por Cassiano Ellek Machado, Folha de S. Paulo
Waltercio Caldas lidera ranking de arte brasileira
Matéria de Cassiano Ellek Machado originalmente publicada no caderno Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 16 de janeiro de 2013.
Levantamento inédito do Itaú Cultural tem carioca como artista com mais mostras nos últimos 25 anos
Pesquisa, que incluiu 19 mil mostras, no Brasil e no exterior, aponta contemporâneos à frente de modernos
No universo tão sem régua e compasso da cultura brasileira, eis que surge um levantamento estatístico revelador da produção artística do último quarto de século.
Numa pesquisa ainda inédita, o Itaú Cultural tabulou os dados de 19 mil exposições da qual participaram artistas brasileiros, no Brasil e no exterior, e chegou a uma lista dos que tiveram mais visibilidade desde 1987.
Um dos artistas mais prestigiados do país, o escultor, desenhista e artista gráfico carioca Waltercio Caldas, 66, foi o primeiro colocado do ranking, com a participação em 314 mostras, entre coletivas e individuais.
Com 14 exposições a menos, outra artista do primeiro time, a gaúcha Regina Silveira, 73, ficou em segundo lugar no ranking, seguida de Vik Muniz (296), Cildo Meireles (291) e Antonio Dias (274).
Entre os top ten da lista, só dois artistas não estão mais em atividade: Iberê Camargo (1914-1994), em sexto, e Hélio Oiticica (1937-1980), o oitavo colocado.
Oiticica chegou a liderar um ranking elaborado anteriormente pelo Itaú Cultural, que levava em conta apenas mostras realizadas entre 2001 e 2010 (período no qual teve obras em 142 exposições).
Os dados evidenciam como o prestígio do artista carioca cresceu na última década, período no qual sua arte foi objeto de grandes mostras em museus importantes como a Tate Modern (Londres) e o The Museum of Fine Arts de Houston (EUA).
O levantamento, que começou a ser feito no ano de fundação do Itaú Cultural, em 1987, ilustra também como artistas contemporâneos batem com larga margem os modernos em visibilidade.
Do grupo do primeiro modernismo, o melhor colocado no ranking é Di Cavalcanti (1897-1976), em 16º, logo à frente de Lasar Segall (1891-1957). Tarsila do Amaral (1886-1973) e Portinari (1903-62) dividem a 28ª colocação.
Dos 118 artistas presentes em mais de cem mostras, os mais jovens são a paulista Sandra Cinto e o carioca José Damasceno, de 44 anos.
A pesquisa "Artistas com maior número de exposições entre 1987 e 2012" começou a ser realizada para alimentar o banco de dados do Itaú Cultural e a "Enciclopédia de Artes Visuais" da instituição, disponível na Internet desde 2001, e que hoje conta com mais de 5.500 verbetes.
Uma equipe de três funcionários, um deles trabalhando exclusivamente na tarefa, realiza a pesquisa de modo ativo, com buscas na imprensa cultural e contatos com as principais instituições.
"Não é um trabalho exaustivo, que busque refletir dados absolutamente precisos, mas acredito que é um conjunto de dados relevante", diz Selma Cristina da Silva, gerente do Centro de Documentação e Referência.
O levantamento também tabulou as atividades dos curadores. O carioca Fernando Cocchiarale, 61, que foi por oito anos diretor do Museu de Arte Moderna do Rio, lidera o ranking, com 68 curadorias. O atual diretor do Museu de Arte Contemporânea da USP, Tadeu Chiarelli, 56, é o segundo colocado.
FRASE
"O número de espaços para expor aumentou significativamente nos últimos anos. E o mercado externo está bem mais aberto para brasileiros. Só fui ter minha primeira mostra fora aos 40. Hoje, artistas de 20 já expõem no exterior." WALTERCIO CALDAS
Veja lista completa dos artistas
janeiro 23, 2013
Um ano após inauguração no antigo prédio do Detran, MAC-USP está vazio por Silas Martí, Folha de S. Paulo
Um ano após inauguração no antigo prédio do Detran, MAC-USP está vazio
Matéria de Silas Martí, com colaboração de Matheus Magenta, originalmente publicada no caderno Ilustrada no jornal Folha de S. Paulo, em 22 de janeiro de 2013.
No livro de visitas da mostra que ocupa há um ano o térreo da nova sede do Museu de Arte Contemporânea da USP, alguém escreveu: "Fiquei decepcionado que o museu não existe. Embora divulgado como fato concreto, não passou de uma maquiagem".
Inaugurado em janeiro do ano passado, o MAC, instalado no antigo Detran, reformado pela Secretaria de Estado da Cultura a um custo de R$ 76 milhões, continua como estava no dia da abertura.
Só o térreo está aberto ao público. Lá estão 18 esculturas de artistas consagrados do acervo do museu, como Henry Moore e Maria Martins. São peças de peso, mas parcela ínfima de uma coleção que beira 10 mil obras-primas da arte moderna, todas guardadas numa reserva técnica na Cidade Universitária.
MUSEU DE FACHADA
Não há previsão para que saiam de lá e ocupem o prédio destinado a elas, um espaço dez vezes maior que a sede atual do museu na USP.
Quando o MAC estreou seu novo endereço, aliás, o decreto que transformaria o Detran em museu já fazia cinco anos, e as portas foram abertas três anos depois do previsto por causa de atrasos nas obras.
Já no novo edifício, uma nova novela começou. Desde novembro de 2011, a Secretaria de Estado da Cultura, que reformou o prédio depois cedido à USP, tenta licitar e comprar o sistema de segurança e vigilância interna do museu, mas fracassou em todas as tentativas até agora.
Segundo um levantamento da Folha, foram realizados pelo menos quatro pregões eletrônicos. O último deles, em abril do ano passado, teve o resultado questionado em julho por uma das empresas e espera, desde então, uma solução do impasse.
"Isso está aguardando a decisão da Justiça", diz o atual secretário estadual da Cultura, Marcelo Araujo, sobre a compra desse sistema, que vai custar entre R$ 3 milhões e R$ 9 milhões. "Tirando esse equipamento, o prédio já está todo concluído."
Mas sem as câmeras de segurança e detectores de metal, nada pode ser feito. Tadeu Chiarelli, diretor do MAC, diz que não levará peças do acervo, com obras de Picasso, Modigliani e De Chirico, a um prédio sem segurança.
TUDO PARADO
"Vamos ocupar aquilo que é possível ocupar. Não são os lugares ideais, são os lugares possíveis", afirma Chiarelli. "É óbvio que o museu não correspondeu às expectativas. Tem sido um exercício de paciência muito forte. Está tudo em compasso de espera, parado. Todas as tratativas são muito difíceis, morosas."
Tão morosas que, enquanto o governo tenta resolver o impasse do sistema de segurança, a USP nem começou as licitações que faltam para ocupar o prédio. Um estacionamento de 300 vagas ainda é um grande lamaçal sem previsão de ser construído.
Dentro da universidade, Chiarelli também batalha para conseguir a garantia da reitoria de que os elevadores do prédio vão funcionar. "O grosso da circulação do museu se dará na vertical", diz Chiarelli. "Isso já poderia ter sido feito, mas não foi. Tem uma burocracia difícil."
Enquanto não vem a certeza sobre o fluxo dos elevadores, Chiarelli tem ocupado só o térreo e o mezanino do prédio de oito andares. Segundo ele, em caso de um "sinistro" será mais fácil "salvar" peças que estão ao alcance da mão nesses andares mais baixos.
Nos demais pisos, ainda há trabalho a ser feito. O restaurante que ocupará a cobertura e o café que deverá funcionar no mezanino não foram licitados. Também falta adequar o espaço para receber a loja do museu, que será uma filial da Edusp, a editora da USP.
João Grandino Rodas, reitor da USP, marcou para hoje uma reunião para cobrar de todos os envolvidos uma explicação pelos atrasos. Procurado pela reportagem, ele não quis dar entrevistas.
janeiro 22, 2013
Vítima de violência é tema de instalação na Pinacoteca por Fabio Cypriano, Folha de S. Paulo
Vítima de violência é tema de instalação na Pinacoteca
Matéria de Fabio Cypriano originalmente publicada na Ilustrada no jornal Folha de S. Paulo em 11 de dezembro de 2012.
Doris Salcedo - Plegaria Muda, Estação Pinacoteca, São Paulo, SP - 09/12/2012 a 03/03/2013
Em duas salas da Estação Pinacoteca, 120 conjuntos de mesas lembram um cemitério. Cada grupo é composto por duas mesas escuras, uma sobre a outra e, no meio, como uma espécie de recheio, há terra. Graças a ela, uma frágil vegetação cresce nas frestas da mesas.
Trata-se de "Plegaria Muda", instalação da artista colombiana Doris Salcedo, uma das mais prestigiadas de seu país, que já criou obras de impacto na Tate Modern, em Londres, como uma imensa rachadura no piso, em 2008.
A instalação na Pinacoteca, aberta no último sábado e que já circulou por outros cinco museus ao redor do mundo, como no México, na Suécia e em Roma, trata de uma violência urbana que não é desconhecida em São Paulo.
"Quando estive em Los Angeles, há alguns anos, soube de milhares de mortes violentas, especialmente de membros de gangues", diz Salcedo.
Essa experiência trouxe à artista, acostumada a abordar a violência na Colômbia, uma "mudança radical" em sua obra: "Eu sempre abordava a vítima que era pura, 100% vítima; mas, neste caso, encontrei vítimas que também poderiam ser assassinos".
Por isso, as mesas estão dispostas em pares, como a indicar o caráter ambivalente dessas vítimas de "zonas marginais de todas as cidades do mundo".
"Há uma população que não importa a ninguém e ela, como a que vive aqui ao redor [da Estação Pinacoteca], pode até ser composta por contraventores, mas eles também são vítimas, então é preciso ampliar a ideia de vítima."
Para a artista, essas pessoas vivem dentro de um círculo vicioso, "ou mata ou te matam", dentro de um código de ética "estranho à classe média". Com "Plegaria Muda", Salcedo defende que é preciso "assumir que a sociedade deve chorar a todos e a cada um de seus mortos".
Raros são os artistas de renome que, como Salcedo, abordam questões políticas.
Em seu caso, isso se faz de maneira não ilustrativa, mas altamente poética. "Eu me interesso por contar histórias, narrar e representar, o que não se supõe como arte contemporânea, mas faço porque me considero política", diz.
Cada par de mesa, assim, é distinto, para apontar que cada ser humano também é diferente. O tom fúnebre é quebrado apenas pelo verde que cresce pelos buracos.
"Interessa notar que, apesar de tudo, a vida prevalece", conclui Salcedo.
Mostra reforça importância de Maiolino e Nazareth no país por Fabio Cypriano, Folha de S. Paulo
Mostra reforça importância de Maiolino e Nazareth no país
Matéria de Fabio Cypriano originalmente publicada na Ilustrada no jornal Folha de S. Paulo em 17 de janeiro de 2013.
Prêmio MASP Mercedes-Benz de Artes Visuais, MASP, São Paulo, SP - 21/12/2012 a 10/03/2013
Anna Maria Maiolino
Paulo Nazareth
As mostras de Anna Maria Maiolino e Paulo Nazareth, vencedores do Prêmio Masp Mercedes-Benz, em cartaz no Museu de Arte de São Paulo (Masp), não só justificam muito bem a decisão do júri como apontam a importância de ambos no atual cenário das artes visuais.
Maiolino e Nazareth possuem, aliás, muitas convergências em suas poéticas: ambos se autorrepresentam em suas obras, apostando no caráter subjetivo do fazer artístico.
Ambos se apropriam de elementos da cultura brasileira, reforçando a importância do contexto para a produção, e usam do humor como estratégia de comunicação.
O vídeo "Quaquaraquaqua" (1999-2004), de Maiolino, por exemplo, é hilário. Com a canção "Vou Deitar e Rolar", cantada por Elis Regina ao fundo, a artista se mostra fazendo tarefas domésticas, como limpar a casa e cozinhar.
Discutindo questões de gênero, Maiolino debocha de certo universo feminino, sem cair numa militância histérica. Por meio de ironia, a artista realiza uma apurada crítica de costumes.
Essa sutileza, aliás, está presente em muitos trabalhos expostos. A exposição reúne um conjunto significativo de obras de Maiolino desde os anos 1970.
"Monumento à Fome" (1978/2012) segue no mesmo raciocínio. Composto por dois sacos, um de arroz e outro de feijão, amarrados por uma fita negra, o trabalho lembra a miséria no país, sem se utilizar de imagens apelativas.
Ao final, em sua retrospectiva, Maiolino pode ser vista como umas das artistas centrais a pensar a condição brasileira, desde os tempos da ditadura (1964-1985).
Já Nazareth, que venceu o prêmio como jovem artista, comparece com um conjunto de obras também marcado pela ironia.
"Vendo Mi Imagem de Mombre Exótico" (vendo minha imagem de homem exótico), frase que se lê numa placa segurada pelo artista, aponta para a condição que latino-americanos são vistos nos Estados Unidos. A obra faz parte da série "Notícias da América".
Muitas vezes, prêmios são mais uma estratégia de marketing para quem os patrocina do que algo de valor para quem os recebe. Não é o caso do Masp Mercedes-Benz.
janeiro 14, 2013
Paulo Climachauska volta a voar solo no Rio por Catharina Wrede, O Globo
Paulo Climachauska volta a voar solo no Rio
Matéria de Catharina Wrede originalmente publicada no jornal O Globo em 14 de janeiro de 2013.
Cinco anos após sua última individual na cidade, o artista paulistano abre duas mostras esta semana
Paulo Climachauska:
Re-subtrações, Oi Futuro, Rio de Janeiro, RJ - 15/01/2013 a 17/03/2013
Fluxo de Caixa, Artur Fidalgo Galeria, Rio de Janeiro, RJ - 16/01/2013 a 16/02/2013
RIO - Há, em algum lugar do imaginário artístico, a vontade de criar algo verdadeiramente único. Autoral. Mas o que define um trabalho como autoral no mundo da arte contemporânea? O controle absoluto sobre os processos de feitura, o traço do artista, as formas criadas por ele? O artista plástico paulistano Paulo Climachauska questiona, com humor, toda essa dinâmica pautando sua obra e, mais especificamente, a exposição que inaugura hoje, às 19h, no Oi Futuro Flamengo, pelo acaso e pela apropriação de formas existentes.
— O campo da arte é uma das últimas fronteiras do autoritarismo — afirma Climachauska, há cinco anos sem fazer uma individual no Rio (ele é coautor, com Nuno Ramos, da exposição “O globo da morte de tudo”, em cartaz na galeria Anita Schwartz). — Mario Pedrosa dizia que a arte é um sistema de liberdade. Hoje em dia está tudo tão formatado, instituído, que não se aceita o diferente. A arte contemporânea é muito autoritária. Gosto de tirar o controle do artista em relação a tudo. Existem coisas que não dominamos. O acaso, em vários momentos da História, é determinante.
E é nesse lugar em que o domínio total nos escapa, em que coisas acontecem independentemente dos desejos, que a mostra “Re-subtrações” se encontra. Desenvolvida especialmente para o espaço do Oi Futuro Flamengo e com curadoria de Alberto Saraiva, a exposição é a primeira da trajetória do artista em que os sistemas de contas de subtração não estão desenhados nos trabalhos. A série “Tac-tic”, logo no primeiro andar, dá a ideia do que está por vir: ela é composta por 14 painéis em preto e branco que misturam fórmica e madeira, formando imagens da sombra de um ponteiro de um relógio de sol em posições diversas.
Amanhã na Artur Fidalgo
No segundo piso, na série “Blefe”, versos de cartas de baralhos são reproduzidos em grandes formatos. Garimpadas ao redor do mundo — de cassinos de Las Vegas e da Europa a colecionadores de cartas —, as diferentes e raras padronagens de baralhos estampam oito telas em silkscreen. São losangos, círculos e quadrados que, segundo o artista, remetem às pinturas abstratas construtivas dos anos 1950.
— É arte ou não é arte? — questiona o artista. — Você acha que é pintura, mas não é. É uma brincadeira, um blefe.
Mais adiante, com “Modelo para armar”, Climachauska explora as possibilidades estéticas e conceituais do jogo infantil Pega-Varetas, incluindo uma instalação com 28 varetas gigantes de alumínio dispostas como caíram ao serem lançadas. No jogo, formas geométricas são criadas ao acaso. A série também traz seis desenhos em pastel aquarelado, nos quais as varetas são reproduzidas em diferentes posições sobre fundo branco. Completam a exposição três vídeos inéditos que colocam lado a lado questionamentos lançados pelas séries “Tac-tic” e “Modelo para armar”.
Além da mostra do Oi Futuro, o artista inaugura amanhã, às 19h, a exposição “Fluxo de caixa”, na galeria Artur Fidalgo. O destaque é a série “Catedral”, composta por quatro telas que retratam grandes depósitos e galpões industriais delineados a nanquim por contas de subtração. Diferentemente de trabalhos anteriores, nesta série o artista não se apropria de espaços existentes, mas cria espaços imaginários.
janeiro 10, 2013
Gabinete do Desenho traz à tona importante coleção de São Paulo por Fabio Cypriano, Folha de S. Paulo
Gabinete do Desenho traz à tona importante coleção de São Paulo
Crítica de Fabio Cypriano originalmente publicada no caderno Ilustrada no jornal Folha de S. Paulo, em 25 de dezembro de 2012.
Gabinete do Desenho, São Paulo, SP:
Da Seção de Arte ao Prêmio Aquisição: a gênese do Gabinete do Desenho - 02/12/2012 a 24/11/2013
desenho esquema esboço bosquejo projeto debuxo ou o desenho como forma de pensamento - 02/12/2012 a 21/04/2013
Recém-inaugurado, o Gabinete do Desenho integra um conjunto de 14 equipamentos espalhados pela cidade, que incluem do Monumento do Ipiranga à Casa Modernista. O conjunto se chama Museu da Cidade de São Paulo e é gerido pela pasta de Cultura do município.
O novo espaço expositivo ocupa a Chácara Lane, uma típica construção da elite paulistana do século 19, construída fora dos limites da então pequena cidade e que servia essencialmente para lazer.
O palacete restaurado recebe a coleção em papel do município, que tem origem na seção de arte da Biblioteca Mário de Andrade, na gestão de Sérgio Milliet, em 1945.
Com obras como o álbum "Jazz", de Matisse e desenhos de Tarsila do Amaral, Anita Malfatti e Di Cavalcanti, entre outros, essa iniciativa, anterior à criação do Masp, em 1947, e do Museu de
Arte Moderna de São Paulo, em 1949, revela-se, então, como a primeira coleção modernista da cidade, condição que o Gabinete do Desenho vem sublinhar.
EXPOSIÇÕES
Na abertura, o local recebe duas exposições, ambas organizadas por Agnaldo Farias, incumbido também de criar as diretrizes para a instituição.
A arquitetura das duas mostras ficou a cargo de Marta Bogéa, que respeitou o projeto original da Chácara Lane e criou paredes expositivas que preservam a visão do projeto original da casa.
No primeiro andar, encontra-se "Da Seção de Arte ao Prêmio Aquisição: A Gênese do Gabinete do Desenho".
Trata-se de um apanhado histórico da coleção pública, por meio de 30 obras expostas, além de outras dezenas que podem ser manipuladas em arquivos.
Estão exibidos trabalhos de estrangeiros de renome, como Fernand Léger e Miró, e brasileiros como os modernistas Tarsila e Di Cavalcanti e as contemporâneas Jac Leirner e Carmela Gross.
Já no segundo andar, encontra-se "Desenho Esquema Esboço Bosquejo Projeto Debuxo", investigação mais livre sobre o uso do desenho para além da obra de arte.
É o caso dos estudos para a revista "Daytripper", assinados por Gabriel Bá e Fábio Moon, ou dos desenhos para cenários de "Castelo Rá-Tim-Bum", realizados por Andrés Sandoval, Akira Goto e Joe Ogasawara, sob a supervisão de Vera Hamburguer e Clóvis Bueno.
Entre o convencional e o experimental, as primeiras mostras do Gabinete do Desenho revelam um novo espaço que traz à tona uma importante coleção e revela-se ainda local de prospecção.
GABINETE DO DESENHO
ONDE Chácara Lane (r. da Consolação, 1.024; tel. 0/xx/11/3129-3574)
QUANDO de ter. a dom., das 9h às 17h
QUANTO grátis
AVALIAÇÃO ótimo
Obras clássicas ganham espaço em mercado de contemporâneos caros demais por Silas Martí, Folha de S. Paulo
Obras clássicas ganham espaço em mercado de contemporâneos caros demais
Matéria de Silas Martí originalmente publicada no caderno Ilustrada no jornal Folha de S. Paulo, em 7 de janeiro de 2013.
Em novembro do ano passado, uma tela do século 17, obra do belga Anton van Dyck, foi arrematada num leilão em São Paulo por R$ 2,4 milhões. Senhores ali presentes disputaram lance a lance com compradores que telefonavam na hora --em minutos, a peça estava vendida.
Leia abaixo: Agentes fazem pente fino atrás de obras de arte falsas
Dias antes, em Nova York, a Sotheby's vendeu um quadro de Beatriz Milhazes por R$ 4,3 milhões, o maior valor já pago pela obra de um brasileiro em leilão, quase o dobro do Van Dyck, um dos mestres do barroco flamengo.
Num momento em que obras de artistas contemporâneos atingem preços maiores que os de trabalhos dos grandes mestres, colecionadores têm se voltado para peças mais antigas --um investimento que consideram menos arriscado diante de valores em alta desenfreada.
"Um nome quente hoje na arte contemporânea pode não ser um nome tão quente amanhã", analisa Christopher Apostle, chefe do departamento de velhos mestres da Sotheby's. "Mas sempre haverá interesse por Van Dyck, Ticiano, Rembrandt. Eles têm 300, 400 anos de história."
De olho nessa bagagem, feiras como a Frieze, em Londres, que se consolidou como plataforma de vendas de arte contemporânea, abriu no ano passado um evento paralelo dedicado a arte antiga.
Enquanto isso, a Tefaf, a mais tradicional feira de antiguidades do mundo, que acontece em março em Maastricht, na Holanda, está buscando novos colecionadores em mercados como São Paulo e traçando estratégias para modernizar seus estandes.
"Há uma leva de colecionadores que sintonizaram suas antenas com a arte antiga", diz Ben Janssens, diretor da Tefaf. "Vejo uma mudança de hábitos, pessoas agora estão inclinadas a comprar peças de todos os períodos."
MODA E BOBAGEM
"Hoje todo mundo compra Beatriz Milhazes e Vik Muniz. E, às vezes, você compra porque todo mundo compra", diz o colecionador paulistano Luís Alberto Altílio. "Gosto de uma arte que se expressa num suporte qualificado e que não seja uma bobagem."
Na opinião de Ricardo von Brusky, que vendeu o Van Dyck em sua casa de leilões, existe agora uma espécie de "resgate da arte antiga".
"Quando você não tem cultura, um marchand malandro emplaca o que está na moda", diz Von Brusky. "Gente com berço, bagagem e cultura está voltando a comprar arte antiga e moderna porque são obras consagradas."
Mas, com ou sem berço, colecionadores estão de olho nos preços. "Ao contrário do que muitos pensam, arte antiga e clássica custa menos do que obras contemporâneas", diz Janssens, diretor da Tefaf. "O que se supõe custar milhões não custa milhões, e é isso que está se tornando evidente no mercado agora."
De fato, peças de mestres consagrados do passado têm atingido em leilões valores iguais ou até menores do que trabalhos de artistas vivos.
Na última temporada de vendas em Nova York, uma obra de Di Cavalcanti atingiu preço pouco maior do que uma fotografia de Vik Muniz. Um Van Gogh arrematado há um ano saiu por menos do que uma tela dos anos 1990 do alemão Gerhard Richter.
"Mesmo que sejam mercados diferentes, valores de arte antiga são uma pechincha perto dos preços dos contemporâneos", afirma Apostle, da Sotheby's. "É como caviar e ovos de galinha --os dois são ovos, mas não custam o mesmo por uma questão simples de oferta e demanda."
Agentes fazem pente fino atrás de obras de arte falsas
Um dia antes de a feira receber seus primeiros convidados, um time de 140 especialistas examina cada obra à venda na Tefaf, a mais tradicional feira de antiguidades do mundo, em Maastricht, na Holanda, e retiram em silêncio as peças que julgam não ser autênticas ou de procedência duvidosa.
Muitos desses especialistas, que integram o chamado comitê de análise da feira, também farejaram cada canto da Frieze, em Londres, que agora tem antiguidades e obras clássicas.
Com a valorização do mercado de peças antigas, o exame cuidadoso de obras se tornou uma preocupação constante para evitar fraudes e falsificações.
"Em geral, removemos de 70 a cem objetos de cada feira", conta Henk Van Os, diretor do comitê da Tefaf. "Galeristas podem até reclamar, mas temos de ter muito cuidado com cada peça. É uma questão de honra."
No caso da Tefaf, há 20 grupos diferentes de especialistas que analisam desde cerâmicas e tapeçarias a pinturas antigas e modernas. São estudiosos ligados a museus, universidades e também a algumas galerias.
"Tentamos criar uma maneira nova de olhar para arte antiga, mas também temos um processo rigoroso de avaliação das peças", diz Victoria Siddall, diretora da Frieze Masters, a ala de arte antiga da Frieze. "Colecionadores que vão à feira sabem que aquilo passou por um crivo, então podem confiar no que compram." (SILAS MARTÍ)
Galerias do país apostam cada vez mais em obras caras, efêmeras e invendáveis por Silas Martí, Folha de S. Paulo
Galerias do país apostam cada vez mais em obras caras, efêmeras e invendáveis
Matéria de Silas Martí originalmente publicada no caderno Ilustrada no jornal Folha de S. Paulo, em 2 de janeiro de 2013.
Em 55 segundos, o caos tomou conta da galeria. Motociclistas rodaram a toda velocidade dentro de dois globos da morte presos a estantes cheias de objetos frágeis, de copos de cerveja a vidros de nanquim e tubos de talco.
Leia abaixo: Competição com estrangeiros leva a maior ousadia das galerias
Do lado de fora, Nuno Ramos e Eduardo Climachauska, autores da performance que aconteceu no mês passado na galeria Anita Schwartz, no Rio, dirigiam a equipe de filmagem que penou para registrar cada ângulo do terremoto artificial -uma ação que destruiu em menos de um minuto um trabalho que consumiu meses.
"Foi um Pollock, adorei", disse Ramos, comparando a ação que fez tremer o espaço da Gávea à técnica de pintura do expressionista abstrato norte-americano, que pingava tinta sobre suas telas em gestos bruscos das mãos.
Mas, ao contrário de Pollock, que no final da ação tinha um quadro para vender, o trabalho de Ramos e Climachauska virou ruína. Esse tipo de ação, que investe pesado em obras efêmeras e invendáveis, marcou o cenário das galerias do país no ano que acabou anteontem.
"Tem gente dizendo que eu sou maluca", diz a galerista Anita Schwartz, que investiu R$ 300 mil na performance. "Mas essas ações revelam outro lado do artista. Não é só aquilo que ele vende, mas também aquilo que pensa."
Antes da ação no Rio, Ramos enterrou réplicas em tamanho real das casas onde viveu em enormes poças de lama e barro escavadas no chão de concreto da galeria Celma Albuquerque, em Belo Horizonte, interditando o espaço por meses numa obra que removeu 300 toneladas de entulho da galeria e custou cerca de R$ 400 mil.
"É um projeto que não dá para repetir todo ano, mas a gente encarou porque tem horas que você precisa dar um passo adiante", diz Flávia Albuquerque, diretora da galeria mineira. "Nunca fizemos algo tão dramático."
Em São Paulo, galerias mantiveram esse drama. A Fortes Vilaça ocupou todo o espaço de seu galpão na Barra Funda com uma mega-instalação de Sara Ramo, uma espécie de labirinto de paredes brancas gigantescas.
A Millan deixou Henrique Oliveira transformar seu espaço na Vila Madalena com enormes saliências e reentrân-cias no chão, nas paredes e no teto, como se o prédio derretesse diante do público.
Essa mesma galeria também quebrou o piso do estacionamento para afundar um carro numa cratera de cimento molhado, uma instalação da artista Tatiana Blass.
"São exposições que têm um custo alto", diz Socorro de Andrade Lima, sócia da Millan. "Mas não é uma equação simples e direta. O retorno disso é mostrar que a galeria acredita no trabalho daquele artista. Uma obra sólida só consegue mostrar sua solidez nessas ocasiões."
Sólidas ou não, ações desse tipo se tornaram cada vez mais necessárias para garantir a liquidez de galerias num cenário que se tornou mais competitivo, com a abertura de novas casas que disputam o passe dos nomes de peso.
VIRANDO MUSEU
"Com o boom da arte brasileira, as galerias têm novas demandas, seus espaços precisam ser mais institucionais", diz Ivo Mesquita, diretor da Pinacoteca do Estado. "Galerias estão mais ambiciosas, e o fato de investirem nessas obras complementa o trabalho dos museus."
Mas as casas comerciais, dispostas a despejar dinheiro em ações que aumentam a visibilidade de seus artistas, também acabam expondo a fragilidade dos museus no país, que não conseguem bancar ações tão faraônicas.
"No circuito brasileiro, as galerias estão mais desenvolvidas do que os museus", afirma Marcia Fortes, sócia da Fortes Vilaça, acrescentando que mostras institucionais em galerias não são uma tendência atual. "Isso também faz parte do nosso objetivo e escopo. É representar um artista por inteiro, e não por meros interesses comerciais."
(O jornalista SILAS MARTÍ viajou a convite da galeria Anita Schwartz.)
Competição com estrangeiros leva a maior ousadia das galerias
Investir em obras caras, efêmeras e impossíveis de vender na tentativa de turbinar a carreira de seus artistas deve deixar de ser só uma opção e se tornar em breve quase obrigação para galerias do país que terão de fazer frente à entrada de concorrentes de peso que chegam agora ao mercado nacional.
Enquanto a White Cube, a segunda maior galeria do mundo, abriu no mês passado uma filial em São Paulo, a expectativa é que a norte-americana Gagosian, a casa mais poderosa do planeta, abra um espaço no Rio neste ano, seguida da britânica Alison Jacques, que representa com exclusividade o espólio da artista Lygia Clark.
"Não sinto ainda o impacto da White Cube, mas vejo a consequência de um mercado mais aberto", diz Socorro de Andrade Lima, da galeria Millan. "Com isso, vamos nos reciclando, fazendo mudanças, não só pela competição mas também por demandas dos artistas e da arte."
Luisa Strina, que também investe em mostras de caráter institucional, enxerga esse movimento nos últimos anos como consequência do peso maior que São Paulo vem conquistando no circuito global das artes visuais.
"Tem muitos curadores e instituições de fora vindo para cá", diz a galerista paulistana. "Isso estimula e dá incentivos para o artista. Mesmo que seja difícil vender, a galeria tem a obrigação de fazer esse tipo de mostra."
Obras de arte expostas em praças e ruas ganham destaque em site por Maria Elisa Alves, O Globo
Obras de arte expostas em praças e ruas ganham destaque em site
Matéria de Maria Elisa Alves originalmente publicada no jornal O Globo em 18 de dezembro de 2012.
Museóloga seleciona 61 trabalhos que ocupam espaço público do Rio
RIO — As belezas naturais todo mundo conhece, mas são poucos os cariocas e turistas que prestam atenção em outra faceta do Rio: a de museu a céu aberto. A cidade abriga mais de 500 obras de arte, que, expostas em ruas e praças, nem sempre recebem a atenção que merecem. Com o desafio de corrigir essa injustiça, a Letra e Imagem Editora e Produções pôs nesta terça-feira no ar o site rioartecidade.com.br, que apresenta e detalha 61 trabalhos que ocupam o espaço público.
A seleção dos monumentos, chafarizes, grafites, esculturas e paineis foi feita pela museóloga Mariana Várzea, que, em 2010, já havia feito um inventário de todas as obras de arte espalhadas pelas ruas para escrever um livro.
No site bilíngue (português-inglês), as 61 obras são apresentadas através de fotos, um texto com dados históricos e a minibiografia do artista. Vinte delas são comentadas em vídeos, com depoimentos de artistas, arquitetos e curadores. Waltercio Caldas e Angelo Venosa, por exemplo, comentam seus trabalhos. Além disso, quem acessar o site poderá ver, no serviço de mapeamento do Google maps, a localização de cada obra. Para saber como elas interagem com o entorno, basta ver o Google Streeview, também acessado diretamente no site.
Entre as obras selecionadas estão os Arcos da Lapa, o Chafariz da Praça 15, a escultura de Franz Weissmann no jardim do MAM, a baleia, de Angelo Venosa, no Leme, o pai nel de Burle Marx no Clube de Regatas do Vasco, além, é claro, do Cristo Redentor.
— Transformamos o livro em site. A ideia é percorrer as obras, mostrando a representatividade histórica e de linguagem de cada uma delas — diz Márcia.
A museóloga acredita que, ao ter mais conhecimento sobre as obras de arte que o cercam, os cariocas podem passar a exigir mais qualidade no que é exposto nas ruas.
— Temos que trabalhar melhor a política de ocupação do espaço público. Tem que ser mais criteriosa, mais participativa. As obras deveriam ser aprovadas por um conselho, não há discussão, se instala tudo em praça pública. A representação de personagens da cidade, como o Drummond, também tem que ser trabalhada de forma mais criteriosa, tem que ser feita por artistas consagrados, se discutir se o que a cidade precisa é de realismo — diz.