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setembro 28, 2012
Perto do coração por Silas Martí, Folha de S. Paulo
Perto do coração
Matéria de Silas Martí originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 28 de setembro de 2012.
Biografia narra em detalhes vida de Matisse e conta como o artista francês criou obras revolucionárias
"Se minha história fosse contada em detalhes, deixaria espantados todos que a lessem", escreveu Henri Matisse. "Quando fui arrastado pela lama, nunca protestei. À medida que passa o tempo, cada vez mais me convenço de quanto fui injustiçado."
Um dos artistas mais revolucionários da história da arte, o francês conhecido por suas telas berrantes, carregadas de cor, passou a vida sendo alvo de ataques de seus contemporâneos, que não entendiam aonde ele queria chegar com sua obsessão.
Da fama de louco à consagração como líder da vanguarda parisiense no começo do século 20, a trajetória de Matisse está agora esmiuçada numa extensa biografia.
Hilary Spurling, a autora de "Matisse, Uma Vida", que sai agora pela Cosac Naify, passou 12 anos fazendo entrevistas e visitando todos os pontos por onde o artista passou em busca da luz de suas obras, compondo um retrato minucioso de seu trabalho.
Embora tenha quase 600 páginas, a versão brasileira do livro é a junção condensada de dois tomos originais escritos por Spurling, que considera essa a edição definitiva da obra, livre de excessos.
"Uma biografia é um retrato da pessoa, como uma pintura", diz Spurling, em entrevista à Folha. "Mas, se estiver muito carregada de detalhes, é impossível chegar à essência do personagem."
Matisse concordaria. "Quando fecho os olhos, consigo ver melhor do que com eles abertos", escreveu.
"Vejo o tema despojado de detalhes incidentais -é isso o que pinto."
Mas o artista manteve os olhos bem abertos para a luz radiante do sul da França, do Marrocos e até das ilhas do Pacífico para criar suas telas.
Nascido numa zona industrial do norte da França em 1869, Matisse morreu em 1954 aclamado como o pintor do sul, que extraiu do sol do Mediterrâneo a luminosidade de seus trabalhos mais célebres, como "Dança" e "Música".
Mas não foi uma rota sem percalços. Ele encarou a ira do pai, que discordava de sua decisão de ser artista, fugiu para Paris e acabou se decepcionando com um meio artístico incapaz de digerir a vanguarda dos impressionistas então em voga e muito menos de aceitar suas obras.
"Era como chegar a um país onde se fala outra língua", escreveu Matisse. "Achava que seria incapaz de pintar."
Essa dúvida prevaleceu ao longo de toda a carreira. Matisse se questionava o tempo todo e foi atacado por críticos da época pela "confusão deliberada" e "selvageria gratuita" de suas composições.
Em crise, chegou a pensar em se matar. "Seu corpo reagia com violência a tudo que se interpunha entre ele e sua pintura", escreveu Spurling. "E isso ocorreu desde as misteriosas dores nas costas que o afligiam na adolescência."
Matisse viveu entre o paraíso e o inferno
Artista, que criou obras estonteantes, se isolou para pintar e foi repudiado pela crítica quase toda a sua vida
Livro analisa relação conturbada do pintor com contemporâneos seus, como Picasso, Rénoir e Cézanne
Não seria exagero dizer que a obra de Henri Matisse foi construída na solidão. "O mundo todo lhe deu as costas", contou Lydia Delectorskaya, sua última mulher. "Todos se alinharam aos cubistas, e ele nunca quis se expor, demonstrar o quanto aquilo o machucou."
Matisse então fugiu para compor sua obra. Nos dois momentos chave de sua produção -os anos que antecederam a Primeira Guerra Mundial, quando fez a "Dança", e o fim da vida, quando criou suas colagens de papel recortado-, o artista estava quase sempre sozinho.
Em sua biografia, Hilary Spurling revê a relação complicada do artista com seus contemporâneos, da reverência que tinha por Cézanne, "um deus para ele", e a amizade com Renoir aos atritos intensos com Picasso.
"Eles se reconheciam como rivais", diz Spurling sobre a relação entre Matisse e Picaso. "Mas as brigas fizeram com que cada um tentasse coisas que antes seriam impossíveis em seus trabalhos."
Em reação ao "Nu Azul", de Matisse, Picasso começou a pintar "Les Demoiselles d'Avignon", obra que inaugurou o movimento cubista.
Mas as aproximações não vão muito além. Matisse estava mais preocupado com a vibração das cores do que em rever conceitos de volume e espaço. Suas obras eram visões "estonteantes, ofuscantes e alegres", "um clamor que parecia berrar das paredes".
Ele pendurou na porta de seu ateliê um pequeno quadro de Cézanne e tinha o hábito de olhar para a tela do mestre pós-impressionista antes de trabalhar, uma espécie de guia visual.
Na construção de sua obra, no entanto, Matisse só teve o apoio real da mulher com quem passou quase toda a sua vida, Amélie Parayre.
Num de seus retratos mais célebres, que escandalizou Paris, ele pintou o rosto dela cortado ao meio por uma faixa verde, dividindo a tela em fortes campos de cor, quase uma síntese de seu estilo.
ESPINHA DORSAL
"Amélie era a única pessoa que acreditava nele no mundo", diz Spurling. "Ele dizia que a amava, mas que amava mais a pintura. Essa era a condição do casamento, e ela foi sua espinha dorsal."
Tanto que muito da história de Matisse está na correspondência entre eles. Em suas viagens, Matisse escrevia quase todos os dias à mulher, num estilo que sua biógrafa compara ao fluxo de consciência de Virginia Woolf.
Numa das cartas, ele descreve apaixonado a paisagem marroquina: "Quando parou a chuva, brotou da terra uma vegetação florescente", escreveu. "Todas as colinas em torno de Tânger, antes cor de pele de leão, ficaram recobertas de um verde extraordinário sob o céu turbulento, como num quadro de Delacroix."
"Ele foi um dos grandes missivistas do século 20", diz Spurling. "Ler essas cartas é como estar na pele dele, ver o mundo pelos olhos dele."
Muitas dessas visões, aliás, são recorrentes também na obra do artista. Em várias fases da vida, Matisse voltaria a alguns temas com certa insistência, quase um reflexo do que sentia no momento.
Quando se mudou para o balneário de Collioure, no sul da França, Matisse pintou uma janela aberta à luz ultracolorida, exemplo de sua "convicção de que a pintura dá acesso a outro mundo".
Mais tarde, em 1914, às vésperas da Primeira Guerra, ele volta ao tema, mas pinta um vazio negro visto pela janela, o que o poeta Louis Aragon viu como abertura para "o silêncio de um futuro negro".
São dois pontos de vista que refletem o céu e o inferno da vida real de Matisse, um artista atormentado pela incerteza e pela obsessão.
Ao final da vida, ele diria que suas telas mais alegres surgiram em momentos amargos-uma luz que vem das trevas.
MATISSE: UMA VIDA
AUTOR Hilary Spurling
TRADUTOR Claudio Marcondes
EDITORA Cosac Naify
QUANTO R$ 109 (592 págs.)
Raio-x: Henri Matisse
VIDA
Nasceu em 1869 em Le Cateau-Cambrésis, na França. Viveu e trabalhou em Paris e em Nice, e criou suas obras no Mediterrâneo, em ilhas do Pacífico e no Marrocos. Morreu em Nice, em 1954
OBRA
Ficou conhecido por obras monumentais como o tríptico "Dança", hoje no Hermitage, em São Petersburgo (Rússia). Também fez "O Ateliê Vermelho", hoje no acervo do MoMA, em NY
ESTILO
Foi enquadrado entre os fovistas por recriar nas telas a luminosidade intensa do Mediterrâneo. É considerado um dos maiores coloristas da história da arte
setembro 27, 2012
Marta elogia Bienal e diz que MinC tem interesse em resolver contas por Camila Molina, O Estado de S. Paulo
Marta elogia Bienal e diz que MinC tem interesse em resolver contas
Matéria de Camila Molina originalmente publicada no caderno de cultura do jornal O Estado de S. Paulo em 26 de setembro de 2012.
Em janeiro, a entidade teve suas contas bloqueadas por questionamentos da Controladoria-Geral da União
A ministra da Cultura, Marta Suplicy, realizou nesta quarta-feira, 26, pela manhã, sua primeira visita oficial à Fundação Bienal de São Paulo para discutir o futuro da instituição. Em janeiro, a entidade teve suas contas bloqueadas por questionamentos da Controladoria-Geral da União (CGU) sobre convênios firmados pela Bienal entre 1999 e 2007. Uma liminar concedida em março pelo Tribunal Regional Federal (TRF) de São Paulo possibilitou que a instituição tivesse seus recursos desbloqueados apenas para fazer a captação orçamentária para a 30.ª edição. "Esta Bienal é considerada uma das três mais importantes do mundo. O MinC tem interesse que seus problemas sejam solucionados", disse a ministra, completando, depois, que será necessário usar uma "régua" para tratar dos problemas do passado da instituição de modo a não interferir em seu presente e futuro.
De uma maneira mais palpável, Marta Suplicy afirmou que a Fundação Bienal de São Paulo vai enviar ao MinC, na próxima semana, o resultado de uma auditoria interna e independente que a instituição realizou referente aos 13 convênios questionados. "No momento em que a auditoria chega ao MinC, a Bienal passa de inadimplente para adimplente e estamos estudando um TAC (Termo de Ajustamento de Conduta)", disse a ministra.
Segundo Marta Suplicy, depois das análises das contas da instituição vai ser definido se a Bienal causou ou não danos aos cofres públicos. A ministra também citou a possibilidade de o pagamento ser feito em parcelas. "Vai ser rápido, teremos um grupo só para fazer isso", disse Marta Suplicy.
Por intermédio dos 13 convênios questionados pela CGU, que incluem atividades referentes a edições da Bienal de Veneza e da Bienal de Arquitetura, o Ministério da Cultura repassou para a Fundação Bienal de São Paulo, durante 1999 e 2007, um montante de R$ 33 milhões. A auditoria feita pela instituição comprova esse valor, mas há problemas de falta de documentação, por exemplo.
A diretoria da Bienal vê o diálogo com o MinC muito positivo para resolver o caso. "Foi uma decisão excelente para a fundação e que faz sentido. Não dá para parar a instituição enquanto se discute algo que reconhecemos também", afirmou o presidente da Fundação Bienal de São Paulo, Heitor Martins. "Acho que o esforço vai ser para que se resolva o problema em curto prazo", continua Martins, eleito presidente da instituição em 2009 e cujo mandato termina em dezembro. O objetivo da entidade é começar 2013 já como instituição adimplente para poder ser a proponente de suas atividades e captar recursos por meio da Lei Rouanet.
Depois de se reunir com membros da diretoria da instituição, a ministra Marta Suplicy fez uma visita pela 30.ª Bienal de São Paulo guiada pelo curador-geral da edição, o venezuelano Luis Pérez-Oramas.
Marta anuncia novo acordo com Bienal por Matheus Magenta, Folha de S. Paulo
Marta anuncia novo acordo com Bienal
Matéria de Matheus Magenta originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 27 de setembro de 2012.
Em visita à mostra, ministra fez seu primeiro ato político ao declarar que a fundação deve voltar a captar recursos
Fundação Bienal tem pendências de cerca de R$ 33 milhões com o MinC referentes a gestões ocorridas de 1999 a 2007
A ministra da Cultura, Marta Suplicy, declarou ontem, em visita à 30ª Bienal de São Paulo, que a Fundação Bienal poderá voltar a ser adimplente na próxima semana, o que permitirá a ela captar novos recursos incentivados.
Para isso, a fundação terá de apresentar uma auditoria sobre 13 convênios firmados com a pasta entre 1999 e 2007, que somam um total de R$ 33 milhões -uma pendência da fundação com o MinC, que considera o montante um rombo nas contas do órgão.
"A Bienal de São Paulo é considerada uma das três mais importantes do mundo. E o Ministério da Cultura tem extremo interesse que seus problemas sejam solucionados", afirmou Marta ontem no pavilhão da Bienal.
Essa medida é o primeiro ato político da ministra, que tomou posse no início do mês. Até então, Marta vinha evitando se posicionar sobre os temas polêmicos do ministério, como o caso da Bienal.
Em janeiro deste ano, o Ministério da Cultura e a Controladoria-Geral da União declararam a Fundação Bienal de São Paulo inadimplente com base em avaliação das prestações de conta referentes a esses convênios. As contas foram, então, bloqueadas, pondo em risco a realização da atual edição da mostra.
Em março, o Tribunal Regional Federal de São Paulo publicou um acórdão em que considerou que a apuração das irregularidades por parte do governo federal não poderia inviabilizar a captação de recursos e as contas da fundação.
Com a decisão anunciada ontem, assim que entregar a auditoria externa feita pela empresa Partwork, a Fundação Bienal de São Paulo poderá voltar a captar recursos e a firmar convênios com o governo federal.
Segundo Marta, um grupo foi formado dentro do ministério para analisar a auditoria. Após a análise, se discutirá se a fundação poderá voltar a captar recursos.
"É uma decisão excelente. Não queremos nos evadir da prestação de contas. Só queremos que o passado não comprometa o presente", disse Heitor Martins, presidente da Fundação Bienal.
O acordo entre o MinC e a fundação será formalizado na semana que vem por meio de um TAC (termo de ajustamento de conduta).
E só a partir da análise do MinC é que se poderá determinar qual é o valor que a fundação deverá devolver aos cofres públicos.
Em análises anteriores, a Justiça chegou a estipular um rombo nas prestações de contas de até R$ 75 milhões.
Arquiteta mineira vai assumir Iphan
A primeira mudança da gestão Marta foi anunciada ontem, com a nomeação de Jurema Machado para a presidência do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Ela substitui o arquiteto Luiz Fernando de Almeida, que presidia o Iphan desde 2006 e cuja saída já estava acertada desde a gestão Ana de Hollanda. Segundo Marta, a prioridade de Jurema será conduzir o "PAC das cidades históricas". Leia mais em folha.com/no1159543.
setembro 26, 2012
Carta à Ministra Marta Suplicy da representação de segmentos culturais do CNPC
Excelentíssima Sra. Marta Suplicy
Ministra de Estado da Cultura
Presidente do Conselho Nacional de Política Cultural
Brasília, 20 de setembro de 2012.
Na qualidade de membros titulares do Conselho Nacional de Política Cultural – CNPC (2010-2012), representantes da sociedade civil, saudamos a Ministra Marta Suplicy, desejando uma gestão proficua e de grande eficácia à frente do Ministério da Cultura. Confiamos que a escolha de V.Exª para assumir a pasta da Cultura trará avanços na implementação das políticas culturais e efetividade na participação da sociedade civil por meio do CNPC, instância central na estrutura do Sistema Nacional de Cultura.
Sem representação dos setores da Cultura que constituem o Plenário desse importante Conselho, os signatários desta carta estão com o mandato findo e o processo eleitoral para a formação ou reconstituição dos Colegiados Setoriais e escolha Conselheiros do CNPC está em andamento. Como partícipes desse momento, na mobilização social e em comissões eleitorais ainda vigentes designadas pelo MinC, manifestamos aqui nossas preocupações em relação ao andamento deste processo.
Com intuito de pactuar com o MinC uma alternativa legal ao processo, sugerimos que sejam convocados por V.Exª os membros da Comissão Temática do Sistema Nacional de Cultura, composta pelos representantes da sociedade civil Charles Narloch, Dora Pankararu e Rosa Coimbra e pelos representantes do poder público Ignácio Kornowski e João Roberto Peixe. Num segundo passo, também importante para o estabelecimento e valorização desta instância de participação da sociedade junto ao MinC, sugerimos a convocação de todos os representantes dos 19 segmentos culturais representados no Conselho, sem prejuízo ao cronograma previsto para a realização dos Fóruns Nacionais Setoriais.
Respeitosamente,
Alice Viveiros – Circo
Antônio Ferreira – Cultura Afro
Charles Narloch – Artes Visuais
Dora Pankararu – Cultura Indígena
Du Oliveira – Música Erudita
Freddy Van Camp – Design
Heloísa Esser dos Reis – Arquivos
Isaac Loureiro – Culturas Populares
Ivan Ferraro – Música Popular
Jeferson Dantas Navolar – Arquitetura e Urbanismo
Luiz Alberto Cassol – Audio Visual
Marcos Olender – Patrimônio Material
Nilton Bobato – Leitura, Livro e Literatura
Patrícia Canetti – Arte Digital
Renato da Silva Moura – Artesanato
Rosa Coimbra – Dança
Virgínia Lúcia Menezes – Teatro
Washington Queiroz – Patrimônio Imaterial
Dragão do Mar, uma "refinaria da cultura" por Pedro Rocha, O Povo
Dragão do Mar, uma "refinaria da cultura"
Matéria de Pedro Rocha originalmente publicada no caderno Vida & Arte em 26 de setembro de 2012.
Novo presidente do IACC, o sociólogo Paulo Linhares fala pela primeira vez sobre seus planos para o Dragão do Mar
Há 20 dias o nome de Paulo Linhares foi confirmado pelo governador Cid Gomes como o novo presidente do Instituto de Arte e Cultura do Ceará (IACC), instituição responsável pela gestão do Dragão do Mar. O anúncio, em meio ao que se chamou de “virada cultural”, um pacote de investimentos do Governo do Estado para reorientar a política da Secretaria da Cultura, gerou grandes expectativas, principalmente em torno do nome de Linhares. Ex-secretário da cultura no governo Ciro Gomes, o sociólogo foi o idealizador do maior centro cultural do Estado, mas nunca havia gerido o equipamento, inaugurado após sua saída da Secult.
Na última segunda-feira, antes de sua primeira reunião com a nova diretoria, ele concedeu entrevista exclusiva ao Vida & Arte, quando falou sobre seus inúmeros projetos para os próximos dois anos à frente do Dragão do Mar (tempo que resta do segundo mandato de Cid). Entre as propostas, o fortalecimento da formação, da criação e da difusão cultural – os três eixos estabelecidos para sua gestão –, assim como o estreitamento da relação com os moradores do entorno do espaço. Projetos ambiciosos, como já se deve esperar de Linhares, e com verba garantida, segundo ele, pelo próprio governador. Confira abaixo, trechos dos depoimentos de Paulo ao O POVO.
Refinaria da Cultura
Eu falo brincando que o Dragão é a refinaria da cultura, porque ele tem que qualificar do ponto de vista de formação e tem que incentivar a criação, por isso que a gente tá trabalhando com a ideia de “laboratório”, onde essa a criação se dá juntamente com o processo de qualificação. E depois o Dragão tem que ter uma preocupação com a difusão. Isso aqui recebe dois milhões de pessoas por ano, pode chegar a três, quatro, principalmente se você tiver uma diversidade de públicos.
A nova formação
Nós temos um grande projeto que é a criação do Porto Iracema, que é o novo Instituto Dragão do Mar. No Porto Iracema, teremos duas vertentes, uma de formação básica e outra de laboratório. A formação básica são cursos de mais ou menos 50 horas/aula e a gente vai criar um modelo em que o aluno não faça só um, mas pelo menos cinco cursos. Se ele vai ser cinegrafista, então ele faz luz, fotografia etc., aí quando ele completar tem o básico. O Instituto Dragão do Mar me ensinou uma coisa: quando você tem gente qualificada, se cria o mercado. Vamos terminar de reformar ali a Capitania (dos Portos, prédio que está à disposição do centro cultural agora). A segunda fase são os laboratórios, que serão destinados aos profissionais que já estão no mercado. A gente selecionou as 10 principais linguagens e para cada linguagem será criado um laboratório. Música, por exemplo, a gente escolhe oito projetos musicais naquele ano e vai supervisionar e dar qualidade pra esses projetos. Então vamos trazer um diretor de cena, um diretor musical e, de comum acordo com o pessoal do projeto, produzir esse espetáculo. É uma maneira de fazer formação com criação. Projetos de um ano.
Ciclos temáticos (difusão)
O que eu sempre pensei, que era o projeto original do Dragão e que eu acho que é um certo padrão dos centros culturais do mundo, é eleger grandes ciclos temáticos de discussão. No caso específico do Dragão, nós vamos eleger trimestralmente um grande tema, que tem um diálogo com o Ceará, com o Brasil. Não vou te dizer logo os quatro, não, que perde a graça, mas o primeiro vai chamar “CEPIRA: o pop e o caldo popular”. Vai ser uma discussão em janeiro, fevereiro e março. Ceará, Piauí e Pará. Uma discussão sobre esse fluxo de cultura que se criou a partir do Ceará e que vai pro Pará no que eu chamo o “rastro do boi”, e volta pra cá também. Não é o axé baiano, nem a cultura pernambucana, é um eixo completamente diferente que vamos discutir, essa questão do brega-pop, que gerou essa onda todinha da Gabi Amarantos, Aviões do Forró... Acho que uma das tarefas dos centros culturais é dar visibilidade a esses fenômenos que são mais ou menos conceitualmente invisíveis, então vai ter ciclo de debates, exposição, shows... Esse é o primeiro.
Casa de criação
A parte de incentivo à criação tem uma dupla mão, desde os laboratórios, até a questão da programação do Dragão, que deixa de ser uma casa de recepção e passa a ser uma casa de criação. Claro que nós vamos receber exposições também, mas vamos deixar de ser uma casa passiva para ser uma casa de criação. E aí tem dois projetos interessantes. Nós vamos fazer um grande festival anual que vai se chamar “Ceará, Mostra a tua Cara”, que vai envolver toda a Praia de Iracema. Vai acontecer em janeiro, todo ano, e pretende ser um balanço anual do que aconteceu na cultura. Começa em 2014. Vai ter festival de cinema, música... Vai ser um grande movimento.
Segurança
A gente tem três projetos. Primeiro a gente tem um problema, a gente precisa trabalhar o entorno do Dragão. Quando o Dragão começou, tínhamos um projeto para que, se tivesse uma opção entre o pessoal do Poço da Draga, eles seriam privilegiados em possíveis contratações. Então a gente tem que retomar essa relação, o Dragão tem que sofrer as dores e as alegrias do Poço da Draga, tem que estar ligado com eles, tem que ter um trabalho social com o entorno, incentivar o trabalho e a participação, a vivência dessas pessoas com o Dragão. Depois a gente quer fazer um “Centro de Criação Cultural” pra esse pessoal. Não adianta a gente imaginar que vai eliminar esse pessoal por decreto. É um trabalho a longo prazo, um trabalho extremamente delicado. E a terceira coisa, a gente vai colocar aqui seria um “Batalhão de Cultura e Arte” da Polícia Militar. Queremos selecionar (os policiais) de acordo com o nível de ligação que têm com a cultura, aí a ideia é que a gente tenha em oito pontos do Dragão um casal fixo e estabelecer também um sistema de câmeras de segurança e uma central de inteligência.
Dinheiro
Já arranjei. O orçamento do Dragão hoje é de apenas 9 (milhões) para os três equipamentos. Mas já negociei dinheiro pra formação, pra programação, aquele dinheiro que foi apresentado lá (no lançamento da virada cultural). Não estou nem contando com esse dinheiro da reforma (R$ 11 milhões para integração com a Biblioteca Menezes Pimentel). Eu tenho negociado 49 milhões pra dois anos. São dois anos só (até o fim do mandando de Cid gomes). Esse dinheiro é o seguinte. Existem dois fluxos de investimentos no Dragão, tem um contrato de gestão e tem investimentos fora do contrato de gestão que o governador aprova via MAPP (Monitoramento de Ações e Projetos Prioritários). No contrato de gestão, é claro, vamos colocar o máximo, mas ele tem limites orçamentários, porque na verdade os orçamentos fixos sobem no máximo 10%, aí já vai ser uma luta. O resto vai ser via MAPP. Você cria projetos, o governador aprova e eles entram via Secretaria da Cultura. O governador já aprovou os projetos. Eu fiz uma grande discussão com ele, item por item. Aquela fase todinha em que eu não falava nada foi uma grande conversa com o governador. A preocupação número 1 dele é formação. E nesse dinheiro praticamente não existe obra, ele é quase todo é pra a cultura mesmo.
Saiba mais
Nova diretoria no IACC
Paulo Linhares trocou vários cargos da diretoria do IACC com a sua chegada. A professora de audiovisual Beth Jaguaribe assume a nova Diretoria de Formação. A jornalista Isabel Andrade passa a ser a diretora de Ação Cultural e Maninha Morais, secretária adjunta da Secult, entra na Diretoria de Planejamento e Gestão. Valéria Sales permanece na Diretoria Financeira, assim como Diana Pinheiro no comando do Centro Cultural Bom Jardim. A ex-presidente do IACC Isabel Fernandes agora comanda a gestão da Escola de Artes e Ofícios Thomaz Pompeu Sobrinho. Linhares ainda assume provisoriamente a curadoria do Museu de Arte Contemporânea do Dragão do Mar.
setembro 25, 2012
Mostra em SP revê evolução da fotografia britânica no século 20 por Silas Martí, Folha de S. Paulo
Mostra em SP revê evolução da fotografia britânica no século 20
Exposição tem obras de grandes nomes como Cecil Beaton, Wolfgang Tillmans e Martin Parr
Dos anos 1930 até hoje, panorama de imagens documenta evolução histórica do país e suas transformações sociais
Entre 1936 e 1947, um grupo de 1.500 observadores varreu o Reino Unido fotografando os hábitos dos britânicos.
Chamado "mass observation", esse movimento serve de ponto de partida para um amplo painel da fotografia britânica que está agora numa mostra na Galeria de Arte do Sesi, em São Paulo.
Não escapam nomes mais badalados da história imagética do país, dos fru-frus do fotógrafo de moda Cecil Beaton às excentricidades inglesas capturadas pelas lentes de Martin Parr. Mas há espaço para nomes menos conhecidos, que documentaram a evolução de uma sociedade.
Enquanto os registros dos anos 1930 e 1940 ainda simulam um olhar frio e documental, a fotografia britânica também soube retratar a realidade de formas mais engajadas.
No começo do século, Bill Brandt lançou um olhar crítico à estratificação da sociedade britânica, que então se tornava mais evidente. Mais adiante, na Segunda Guerra, outros fotógrafos, como George Rodger, mostram as barricadas erguidas em Londres contra os bombardeios.
São visões que oscilam entre documento histórico e crônica social. Mas é no pós-Guerra que a fotografia do país se torna mais crítica e parece tomar gosto pelo retrato da classe média, o glamour e os modos de vestir dos mais ricos e as mudanças arquitetônicas e sociais nas cidades.
"Nos anos 1960 e 1970, fotógrafos começam a questionar a ideia de fotografia como um meio objetivo", diz Martin Caiger-Smith, um dos curadores da mostra. "São aspectos do caráter da nação que chamam a atenção, coisas estranhas e peculiares pinçadas da realidade do país."
TRANSFORMAÇÃO
Nesse momento de transição, em que a fotografia também passa a ser colorida e se torna uma ferramenta crítica nas mãos dos artistas, surgem retratos de uma juventude multiétnica, dos punks, dos neonazistas e da depressão na era Margaret Thatcher.
Chris Killip é talvez o nome mais forte da mostra nesse período de desmanche do parque industrial britânico. Suas imagens de personagens sem rumo em cenários urbanos destroçados são flagrantes do que ele enxergou como "vidas descartáveis".
Outros nomes, como James Evans, que retratou jovens negros com roupas de alta-costura em cenários suburbanos sem graça, tentam desconstruir estereótipos sobre classe social e raça no país.
Shirley Baker também testemunha o surgimento de uma Londres cosmopolita, o turbilhão de sotaques e cores que marcam a metrópole.
De olho no hedonismo dos jovens londrinos, o alemão Wolfgang Tillmans fez imagens que diluem fronteiras entre os gêneros fotográficos, alternando entre registros da vida pública e privada.
Em exercícios metonímicos, os fotógrafos Gareth McConnell e Richard Billingham retratam família e amigos como um microcosmo que ilustra os rumos da nação.
É dessa forma, com um olhar ácido sobre os ingleses em veraneio, que Martin Parr constrói sua obra -a praia como símbolo torto do país.
setembro 24, 2012
Votos de um longo caminho por Paula Alzugaray, Isto é
Votos de um longo caminho
Matéria de Paula Alzugaray originalmente publicada na revista Isto é em 21 de setembro de 2012.
A cidade do Rio de Janeiro é desvendada e homenageada em 13 trabalhos da dupla Dias & Riedweg, em exposição panorâmica
Se partires um dia rumo a Ítaca, faz votos de que o caminho seja longo, repleto de aventuras, repleto de saber. Assim aconselha o poeta grego Constantino Kavafis ao se referir à ilha que é o destino da viagem de Ulisses, na “Odisseia”. Assim afirmam os artistas Maurício Dias e Walter Riedweg ao realizar seu mais recente trabalho, a videoinstalação “O Espelho e a Tarde” (2012). Aqui, um morador do Complexo do Alemão, no Rio, carrega um espelho por suas alamedas, ruelas e praças, seguido pela câmera.
Ao acompanhar o caminhar do personagem, multiplicado pelo reflexo do espelho e editado em três telas na instalação, vivenciamos a sensação labiríntica do traçado da favela. Há muita vontade de saber aonde o caminhante vai chegar. Mas existe apenas uma progressão evidente nesse caminho: ele começa de dia e termina de noite. Nunca para, segue sempre em processo. Como na Ítaca de Kavafis, a meta é o caminho.
Semelhante às vias e moradias do Complexo do Alemão, a construção da obra de Dias & Riedweg, é cotidiana e continuamente inacabada. Talvez por isso eles elegem o cronista João do Rio como um fio condutor entre as 13 obras expostas na mostra “Até Que a Rua nos Separe”, em cartaz no Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica. “Flanar é a distinção de perambular com inteligência”, escreveu João do Rio na primeira década do século XX, sobre a “alma encantadora” das ruas do Rio de Janeiro.
“Devotionalia” (1994-2004), primeiro trabalho realizado pela dupla, é também sua primeira declaração de amor às ruas. O projeto foi constituído por um ateliê móvel que rodou a cidade em 1995, do qual participaram 600 meninos de rua. Entre eles, Sandro do Nascimento, depois de sobreviver à chacina da Candelária e antes de morrer no episódio do sequestro do ônibus 174. Nas oficinas, as crianças realizaram reproduções em cera de seus pés e mãos, e para elas dedicavam um sonho ou desejo. Esses objetos, que adquiriram o significado de ex-votos, compõem o trabalho ao lado de um videodocumentário sobre todo o processo de realização do projeto.
Em “Caminhão de Mudança”, projeto em andamento desde 2009 e permanentemente inacabado, a cidade do Rio é conectada a Bruxelas, Nova York, Lisboa, Cidade do México, Houston e Copenhague. O trabalho consiste em um caminhão que circula pelas ruas de uma cidade. Filmado, esse perambular é depois projetado em outro caminhão em trânsito em outra cidade, de modo que um é projetado dentro de outro, que é projetado dentro de outro, e assim por diante. “Esse projeto contextualiza no espaço o destino de toda imagem em movimento: ser apagada pela imagem seguinte”, afirma a dupla em texto do catálogo.
No percurso proposto pela exposição, o flanar do visitante vai dar no espaço simbólico do baile funk, acionado em duas instalações que ficam no terceiro andar da instituição. Em “Universo do Baile”, três ícones nacionais – o hino, a bandeira e a Constituição – são distorcidos a fim de apontar para os mecanismos de exclusão social. Em “Funk Staden”, Maurício Dias e Walter Riedweg reescrevem a história de canibalismo narrada por Hans Staden no século XVI, contextualizada no Morro Dona Marta, em 2007.
setembro 21, 2012
Instituições montam exposições atraentes como alternativas à Bienal em SP por Mario Gioia, UOL
Instituições montam exposições atraentes como alternativas à Bienal em SP
Matéria de Mario Gioia originalmente publicada no caderno Entrentenimento no UOL em 21 de setembro de 2012
Por conta da visibilidade da 30ª Bienal de São Paulo, tanto em relação a visitantes do exterior como ao público que vem de Estados diversos, setembro é um mês-chave na agenda de importantes instituições e centros ligados às artes. Por isso, o UOL elencou algumas das principais mostras que ocorrem fora da cidade de São Paulo, também com recortes privilegiados e artistas relevantes.
Em Brumadinho (MG), na Grande Belo Horizonte, Inhotim agora conta com novos pavilhões e obras permanentes. Considerado um dos centros de arte contemporânea mais importantes do país, as novas obras conferem ao espaço um destaque ainda maior à arte brasileira, com a abertura da galeria Tunga, um dos artistas brasileiros mais prestigiados em âmbito internacional, e a colocação permanente de T-téia (2002), um dos trabalhos-chave de Lygia Pape (1927-2004) em edifício exclusivo.
“Com a obra de Lygia agora exibida, existe um avanço da discussão da instalação dentro da história da arte brasileira a partir do que está sendo mostrado aqui, como Magic Square, do Hélio Oiticica, e peças do acervo, como as de Artur Barrio”, explica o crítico de arte e curador de Inhotim Jochen Volz, que permanecerá no cargo acumulando, já no mês que vem, a função de curador-chefe na Serpentine Gallery, em Londres, uma das instituições mais importantes da área. “Também é reforçada a investigação sobre a história da arte na América Latina, já que considero que Pape dialoga com, por exemplo, a obra do argentino Victor Grippo.”
Em termos de espaço, a galeria Tunga vai abrindo caminho para novos desdobramentos territoriais para o centro. Em uma área que ainda permanecia desocupada, o pavilhão de 2,5 mil metros quadrados e quatro níveis, no ano que vem, será vizinho da pousada de luxo que também está sendo erguida no local.
Tunga é um dos artistas brasileiros mais bem representados na coleção de Paz e já tinha obras de destaque em Inhotim, como "True Rouge" (1997). Oito trabalhos de variados suportes terão lugar na nova galeria, assinada pelo escritório mineiro de arquitetura Rizoma. O edifício impressiona: com ventilação natural constante, está encravado num belo platô de mata atlântica vigorosa e tem um alto pé-direito, além de espaços expositivos generosos. "A La Lumière des Deux Mondes" (2005), apresentada no Museu do Louvre, em Paris, será uma das grandes peças expostas. “Na sua geração, junto com Cildo Meireles, Tunga é um dos principais artistas brasileiros da coleção, ajudou a idealizar todo esse centro e agora tem um prédio permanente à altura da sua importância”, afirma Volz.
Lygia Pape é uma das artistas-chave na arte contemporânea brasileira e tem sido foco de revisão crítica no Brasil e no exterior. "T-téia" (2002) é uma de suas principais obras e é sucesso certo em todo local onde é exposta. Por meio de um jogo de luz e escuridão, os fios dourados que pendem do teto ao chão fazem com que o olhar do observador se embaralhe e que ele tenha uma experiência de imersão ao caminhar ao lado da instalação.
Cristina Iglesias é um dos principais nomes da arte contemporânea espanhola. Seu site specific (obra exclusivamente feita para o local) é uma das mais instigantes no complexo. Utilizando elementos simples -- uma corrente d´água e um cubo de aço que reflete o entorno --, Iglesias dá continuidade à pesquisa dos elos entre natureza e construção e cria uma peça que se vale da disposição labiríntica e do som para conquistar o visitante.
O cubano Carlos Garaicoa se utiliza de um antigo estábulo para apresentar a instalação Now Let’s Play to Disappear (2002). Ele usa velas, cera, circuito de câmeras e projeção para criar uma cidade imaginária, que reúne miniaturas de prédios célebres, a serem acendidas diariamente.Na nova configuração, também há trabalhos de Edward Krasinski, João José Costa, Juan Araujo, León Ferrari, Luisa Lambri, Mateo López e Renata Lucas.
No interior de SP
O Instituto Figueiredo Ferraz, em Ribeirão Preto (SP), também surpreende pela coleção que ostenta, originária de um dos casais mais importantes na área em âmbito nacional. Dulce e João Figueiredo Ferraz criaram em 2011 um edifício com área expositiva de 1,8 mil metros quadrados para abrigar mostras temporárias, assinadas por nomes importantes da curadoria nacional, como Agnaldo Farias, fundamentadas na rica coleção.
“Queria dividir tudo isso”, diz João, que teve formação de engenheiro, mas hoje dedica-se mais ao espaço, numa cidade que não tem muita tradição em arte contemporânea. “A visitação e a adesão da cidade ainda têm de melhorar, mas acho que isso é um processo não muito rápido.” Até o dia 26 de outubro, uma exposição dedicada ao mineiro Amilcar de Castro (1920-2002), com 152 obras, está em cartaz. A coletiva "Além da Forma: Plano, Matéria, Espaço e Tempo", com curadoria de Cauê Alves, continua sendo exibida, com interessante diálogo entre trabalhos de nomes recentes, como Ana Prata, Marcelo Moscheta e Mariana Serri, e egressos de outras gerações, como Mira Schendel (1919-1988), Paulo Monteiro e Carlos Fajardo.
Pelo Brasil
Em outros Estados, alguns espaços tradicionais, como o MAM carioca, e recentemente criados, como a Fundação Iberê Camargo, têm programação de destaque.
No MAM, localizado no aterro do Flamengo, no Rio, até 23 de setembro segue a retrospectiva dedicada a Angelo Venosa. Montada num dos andares onde é possível ver a baía do entorno, as grandes esculturas do artista paulistano radicado no Rio, feitas nos seus 30 anos de carreira, atestam a sua versatilidade, tanto de materiais como de abordagens.
O carioca Waltercio Caldas é foco de uma grande exposição, na Fundação Iberê Camargo, em Porto Alegre, em cartaz até 18 de novembro. Com curadoria de Gabriel Pérez-Barreiro e Ursula-Davila Villa, "O Ar Mais Próximo e Outras Matérias" também tem um tom de antologia, reunindo obras que vem desde a década de 60. Waltercio é um dos artistas brasileiros com mais prestígio no exterior, tendo exposto na Bienal de Veneza, entre outras mostras de peso. Na mesma cidade, Miguel Rio Branco, outro brasileiro de destaque na cena internacional, apresenta até 11 de novembro 110 trabalhos no Santander Cultural.
Serviço
NOVOS PAVILHÕES E OBRAS
Onde: Instituto Inhotim (r. B, 20, Brumadinho, Minas Gerais; tel. 0/xx/31/3227-0001)
Quando: de terça a sexta, das 9h30 às 16h30; sábado, domingo e feriados, das 9h30 às 17h30
Quanto: R$ 20 a 28; às terças, entrada franca
AMILCAR DE CASTRO/Além da Forma: Plano, Matéria, Espaço e Tempo
Onde:Instituto Figueiredo Ferraz (r. Maestro Ignácio Stabile, 200, Ribeirão Preto, SP; tel. 0/xx/16/3623-2262)
Quando: de terça à sábado, das 14h às 18h
Quanto: entrada franca
ANGELO VENOSA
Onde:Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (Av. Infante Dom Henrique, 85, Rio de Janeiro; tel. 0/xx/21/2240-4944
Quando:de terça a sexta, das 12h às 18h; sábado, domingo e feriado, das 12h às 19h; a bilheteria fecha 30 min antes do término do horário de visitação.
Quanto: R$ 12
WALTERCIO CALDAS - O Ar Mais Próximo e Outras Matérias
Onde:Fundação Iberê Camargo (Av. Padre Cacique, 2000, Porto Alegre, RS; tel. 0/xx/51/3247-8000
Quando:de terça a domingo, inclusive feriados, das 12h às 19h; quintas, até as 21h
Quanto: entrada franca
MIGUEL RIO BRANCO
Onde:Santander Cultural (Av. Alberto Bins, 383, Porto Alegre, RS; tel. 0/xx/51/3287-5940
Quando:de terça a sábado, das 10h às 19h; domingo, das 13h às 19h
Quanto: entrada franca
A Bienal e suas perspectivas por José Henrique Fabre Rolim, Panorama Brasil
A Bienal e suas perspectivas
Matéria de José Henrique Fabre Rolim originalmente publicada na seção de Artes Plásticas do Panorama Brasil em 21 de setembro de 2012
A intensa programação de mostras impressiona pelo teor de suas intenções, abrangendo uma diversidade espantosa
A intensa programação de mostras impressiona pelo teor de suas intenções, abrangendo uma diversidade espantosa. Percorrendo os museus, galerias e espaços culturais institucionais percebe-se certo clima efusivo que emana do circuito das artes visuais que atingiu também o Rio de Janeiro com a extraordinária Art Rio, em sua segunda edição, uma Feira Internacional de Arte Contemporânea que aconteceu semana passada no Pier Mauá, já considerada a mais importante da América Latina.
Enquanto em São Paulo, a 30º Bienal, se estende por diversos espaços nobres como o Museu de Arte Brasileira da Faap com as obras de José Arnaud Bello, Robert Smithson e Xu Bing, o Instituto Tomie Ohtake com a mostra individual de Bruno Munari que será aberta no dia 4 de outubro a Capela do Morumbi com a proposta plástica de Maryanne Amacher, o Masp com trabalhos de Benet Rossell e Jutta Koether, a Casa Modernista, por sua vez abriga performances e instalações de Sergei Tcherepnin e Ei Arakawa, a Casa do Bandeirante expõe Hugo Canoilas, enquanto na Avenida Paulista acontecerá as intervenções de Alexandre Navarro Moreira e na Estação da Luz, na Passarela Central, Charlotte Posenenske apresenta sua obra proporcionando uma integração com a complexidade de uma metrópole com sua malha cultural.
Dando um giro pelas artes visuais fora do âmbito da Bienal, onde até a famosa dupla Gilbert & George circularam pela cidade, várias mostras se sobressaem, como a individual de Alejandro Otero (1921-1990) que com seus Coloritmos envolve o visitante, pois, deve-se notar que de 1955 a 1960, ele criou 75 dessas obras, um capítulo importante da abstração geométrica na América Latina. Dessa série memorável, 44 peças estão expostas na Estação Pinacoteca (Largo General Osório, 66, Luz), uma oportunidade extraordinária para se aquilatar a força da arte venezuelana no século XX, num diálogo constante com os construtivistas brasileiros. A musicalidade da cor numa escala tridimensional, em certo sentido, arquitetônica.
Comparações poderão ser feitas com as obras de Lygia Clark e Willys de Castro coincidentemente com mostras em cartaz, respectivamente no Itaú Cultural e no IAC – Instituto de Arte Contemporânea, que aquecem os eventos paralelos à Bienal, aprimorando o olhar do espectador com a verdadeira dimensão do construtivismo que protagonizou uma revolução estética sem precedentes. A vibração cromática na obra de Alejandro Otero é intensa, que tem origem em seus profundos estudos sobre as incursões de Piet Mondrian, construtivista holandês que dimensionou espaço, forma e cor com sutileza e ritmo. Paralelamente a mostra “Cruz-Diez: A Cor no Espaço e no Tempo”, com 150 obras, montada na Pinacoteca do Estado (Praça da Luz, 2) possibilita um confronto do percurso de dois mestres da arte de raiz concreta da Venezuela.
No outro lado da cidade, em Pinheiros, acontece no Instituto Tomie Ohtake (Avenida Faria Lima, 201) uma mostra de grande impacto estético, com a obra do arquiteto Thom Mayne, que recentemente ganhou o concurso para projetar a nova sede da Cornell University, em Roosevelt Island, Nova York. A exposição denominada “Morphosis, Formas Combinatórias”, formada por 86 maquetes e painéis fotográficos dá uma visão geral da obra de um arquiteto que prima pelo inesperado, pela surpresa. Projetos arrojados como Phare (Farol) , uma imponente torre comercial, a ser inaugurada em 2015, em La Defense, famoso bairro de Paris por sua arquitetura inovadora. O escritório do arquiteto, o Morphosis tem se notabilizado por posturas onde predomina a transparência em conexão com as mais avançadas tecnologias. Dos projetos elogiados por especialistas se destacam o San Francisco Office Building (2006), o centro estudantil da University of Cincinnati (2006) e a Wayne L. Morse United States Courthouse em Oregon entre tantos como o impressionante prédio Cooper Union, em Nova York, que parece florescer de um abalo sísmico. A montagem da mostra é também especial com iluminação focada nas surpreendentes maquetes além da sutil elevação do piso para entrar no clima da linha arquitetônica de um revolucionário da forma.
Prosseguindo no mesmo espaço numa outra sala o espectador se defronta com a obra de Paulo Bruscky, um dos artistas mais atuantes, representante máximo da mail art, que nos anos 70 e 80 agitaram as visuais criando uma rede de artistas que produziam uma infinidade de obras em suportes inimagináveis. Na atual mostra “Banco de Ideias”, Bruscky apresenta uma série de projetos inconclusos, delineados desde o final dos anos 60 até a atualidade. Suas obras revelam o seu caráter multifacetado, como os curiosos classificados que divulgam máquinas incríveis, aquelas que gravam sonhos, além de iniciativas contrárias a forte censura da ditadura militar. Dentre as propostas provocadoras e/ou perturbadoras da época se destaca a mostra “Nadaista”, que fazia uma homenagem ao vazio organizada em virtude de ter sido seguido por olheiros do exército. Uma das instalações marcantes foi o velório da arte realizado pelo artista em 1971, conduzido por um antigo rabecão, que foi inteiramente reproduzida no Instituto. A instalação é denominada Way, uma homenagem atualíssima ao artista chinês Ai Wewei, que sofreu uma série de agressões do governo chinês, tendo até sido encarcerado. A presente obra tem também o intuito de criticar a liquidez e o artificialismo do mercado financeiro que reflete atual crise mundial.
Seguindo uns passos a mais o espectador vislumbra ainda no Instituto Tomie Ohtake, uma mostra proveniente da Escandinávia, que focaliza a obra de Asger Jorn (1914-1973), um dos membros mais ativos do grupo CoBrA ( acrônimo de Copenhague, Bruxelas e Amsterdam). No período de 1948 a 1951, o CoBrA se estruturou com 6 artistas provenientes das três cidades, que realizaram uma série de pesquisas sobre o inconsciente, com pinturas gestuais com cores exuberantes. Espírito agudo, experimentador em iniciativas múltiplas, o dinamarquês Asger Jorn deixou uma obra plástica de grande liberdade, tanto na pintura como no desenho, na cerâmica, na escultura, na tapeçaria e na arte gráfica.
Canteiros de obras por Paula Alzugaray, Isto é
Canteiros de obras
Matéria de Paula Alzugaray originalmente publicada na seção de Artes Visuais da Revista Istoé em 14 de setembro de 2012
Quatro exposições individuais em São Paulo ostentam a inteligência e o rigor brasileiro pela construção
Ana Holck – Perimetrais, Zipper Galeria, São Paulo, SP - 05/09/2012 a 11/10/2012
Lucia Koch – Materiais de Construção/ Galeria Nara Roesler, SP/ até 6/10
Jac Leirner - Hardware seda – Hardware silk, Galeria Fortes Vilaça, São Paulo, SP - 04/09/2012 a 27/10/2012
Héctor Zamora – Inconstância material, Luciana Brito Galeria, São Paulo, SP - 03/09/2012 a 27/10/2012
A arte e a poesia concreta surgem no início dos anos 1950 no Brasil, intimamente associadas ao impulso modernizador que levantou Brasília e ao boom desenvolvimentista que prometia um avanço histórico de “50 anos em cinco”. Mais de meio século se passou, e tanto o empenho construtivo quanto a abstração geométrica que modificou os parâmetros artísticos naqueles anos ainda ecoam na arte brasileira. Quatro exposições em cartaz hoje evocam a inteligência e o rigor brasileiro pela construção. Ou pela desconstrução.
Com uma consistente pesquisa sobre as relações entre a escultura e a arquitetura, a artista carioca Ana Holck trabalhou sobre a estrutura do elevado da Perimetral, no Rio de Janeiro, cuja construção começou a ser realizada nos anos de Juscelino, e está com os dias contados – sua demolição faz parte do projeto de revitalização da área portuária. Na mostra “Perimetrais”, a artista “dissecou” a perimetral em cortes, representados em gravuras de metal. Com o mesmo rigor analítico com que desconstruiu a perimetral, a artista usou de cálculos de peso para criar estruturas com mourões de concreto e outros objetos de delicado equilíbrio.
Lucia Koch, que há 20 anos realiza intervenções com cor, luz e sombra nos espaços arquitetônicos onde expõe, montou na Galeria Nara Roesler uma espécie de arquivo de todos os seus projetos. “Materiais de Construção” é formado por esculturas que funcionam como mostruários dos materiais com os quais trabalhou: placas de acrílico, MDF, chapas recortadas a laser com padrões vazados, telas translúcidas, mosaicos fotográficos compostos a partir de imagens de azulejos, pastilhas e cerâmicas, trazidas das fachadas de cidades que frequenta.
Na individual “Hardware Seda”, Jac Leirner aproxima matérias leves – como papel de seda e cartões-postais antigos – com outras mais pesadas como ferragens, correntes, porcas, extensores e cabos de aço. Obedecendo a uma prática já consolidada – mas cada vez mais surpreendente – de reagrupar objetos do cotidiano em estruturas de rigor formal, Jac Leirner elabora composições de delicadeza e engenhosidade ímpares. Mais que obras de engenharia, cada uma das 12 obras expostas na Fortes Vilaça pode ser comparada a uma joia, elaborada por um ourives.
Em sua primeira individual em São Paulo, o artista mexicano Héctor Zamora, radicado no Brasil desde 2007, investiga a fundo questões como a “desmaterialização da arte” e os processos e caminhos de construção da obra de arte. No projeto “Inconstância Material”, o artista levou 20 pedreiros para dentro da galeria Luciana Brito e arregimentou uma dinâmica coreográfica de “passa mão” (ação de jogar tijolos que ajuda os trabalhadores da construção civil a dinamizar o processo das grandes construções). De mão em mão, a tradição construtiva da arte brasileira ganha novas dinâmicas e contornos.
setembro 19, 2012
Arte Contemporânea: ArtRio e Bienal SP por Antonio Campos, Jornal do Brasil
Arte Contemporânea: ArtRio e Bienal SP
Matéria de Antonio Campos originalmente publicada no caderno Cultura do Jornal do Brasil em 19 de setembro de 2012
A Bienal de São Paulo e o ArtRio dão um verdadeiro exemplo de amor à arte contemporânea. O objetivo é aproximar a população das artes visuais e, além disso, tornar a esse tipo de arte ainda mais acessível e atraente. Na capital carioca, por exemplo, a ArtRio, Feira Internacional de Arte Contemporânea, prolifera a boa e moderna arte, tentando levá-la para a rotina das pessoas, até o próximo dia 16 de setembro.
Na programação, que acontece no Píer Mauá, mais de uma centena de galerias nacionais e internacionais levam e comercializam a contemporaneidade artística mundial para a cidade maravilhosa, contando, ainda com um espaço voltado para o público infantil e palestras gratuitas dentro da temática. Esse ano, por exemplo, contará com a participação da considerada maior galeria de arte do mundo, a Gagosian, de Nova Iorque, que trará obras de artistas como Picasso e Henry Moore. A ArtRio inspirou-se na SP-Arte, feira que se encontra em sua oitava edição sob a direção e idealização de Fernanda Feitosa.
Também em São Paulo, a consagrada Bienal, em sua 30ª edição, traz cerca de 3000 obras de mais de 100 artistas, apresentando à sociedade o que há de relevante no cenário artístico da arte contemporânea mundial. Para os amantes e curiosos da arte contemporânea, esses são momentos, e oportunidades, imperdíveis. A efervescência artística mundial, apresentada no nosso país, é bela e transformadora. E precisa da atenção, e contemplação, de todos nós.
Vila das Artes: celebração e velhos desafios por Iracema Sales, Diario do Nordeste
Vila das Artes: celebração e velhos desafios
Matéria de Iracema Sales originalmente publicada no Caderno 3 do Diário do Nordeste em 19 de setembro de 2012
Programação gratuita acontece até sábado, envolvendo alunos e professores do equipamento cultural
A Vila das Artes funciona com apenas um dos três casarões previstos
Há quatro anos que o Vila das Artes ganhou oficialmente uma sede, além de passar a integrar alguns centenas de metros quadrados do privilegiado centro histórico de Fortaleza. E para celebrar o aniversário, a semana toda vai ser de festa no equipamento cultura da Prefeitura de Fortaleza. Até sábado, uma diversificada programação celebra o funcionamento na Vila do Barão de Camocim.
Dessa maneira, o equipamento, vinculado à Secretaria de Cultura de Fortaleza, cumpre com, no mínimo, três funções básicas ao longo de sua existência: contribuir para a formação artística nas áreas de audiovisual, dança, artes visuais, teatro e cultura digital, além de estimular a requalificação do centro da Cidade. O roteiro da programação de aniversário da Vila das Artes inclui intervenções, apresentações de dança, teatro, exposição, instalação, e mostras de filmes com produções de alunos, ex-alunos e parceiros.
Exibição de filmes das turmas de audiovisual integra a progamação de aniversário dos quatro anos da Vila das Artes. A projeção acontece na noite de sexta-feira e promete adentrar pela madrugada .
Em clima de festa, a diretora da Vila das Artes, Sílvia Bessa, não pensa duas vezes quando o assunto é o futuro do equipamento. "Acredito que o principal projeto é a ampliação da estrutura física, proposta desde o início da Vila: que inclui o restauro da Casa do Barão de Camocim e a construção da Casa do Cinema". Na Casa do Barão, diz, vai funcionar uma biblioteca, o espaço expositivo do Centro de Artes Visuais e um café. No outro prédio, ilhas de edição, salas de produção, equipamentos disponíveis para os produtores independentes, além de sala de projeção que também poderá ser usada como estúdio. "A ampliação do espaço são fundamentais para propiciar mais encontros na Cidade", opina a gestora.
Avaliação
Ao ser indagada sobre que avaliação faz dos quatro anos de existência do equipamento, responde: "É difícil mensurar o que realizamos. Talvez seja mais fácil um olhar de fora. Mas sempre acho que um dos pilares para pensar uma escola de artes é pensar se oferecemos uma formação livre". Segundo ela, a arte é sobretudo um exercício de liberdade, seja de violação de regras, de enfrentamento do status quo ou de rompimento com o hábito. Ou seja, "de oferecer a capacidade de, a partir da realidade, inventar o real".
Outra pista para avaliar o caminho percorrido, até agora, é olhar para o trabalho dos alunos. "Penso que estamos conseguindo", diz. De acordo com Sílvia Bessa, a Vila das Artes fez muita informação circular, abrigou encontros, promoveu trabalhos que fogem ao convencional e problematizou questões importantes para a Cidade.
Para Sílvia, o equipamento cumpre uma parte do papel que consiste no preenchimento da lacuna de espaços para a formação artística em Fortaleza. "Existem outras instituições, como o Cuca Che Guevara, o Theatro José de Alencar, Instituto Federal do Ceará, Instituto de Cultura e Arte, que cuida do Dragão do Mar e do Centro Cultural Bom Jardim, e algumas Ongs que atuam nesta área da cultura", enumera.
"Entendo que o verdadeiro acesso não está em garantir público a grandes espetáculos, mas de dar possibilidade de ter um acesso qualificado às obras de arte e fomentar novos criadores, e neste sentido, é fundamental a formação".
Acesso
Todas as atividades da Vila das Artes são gratuitas. O público atendido é predominantemente jovem. O maior número é de crianças, que participam de dois programas de dança. O maior deles é o Dançando na Escola, em parceria com a Secretaria de Educação do Município, atende a 900 crianças da rede pública. Já o Formação Básica em Dança, que leva a dança para 62 crianças entre 8 a 13 anos.
Segundo Sílvia Bessa, a Vila das Artes não conta com uma grade de cursos fixa, nem tampouco, corpo de professores permanente. "Aliás, este é um diferencial que achamos importante manter", assinala. Diferente de outras instituições na Cidade destinadas à formação em artes, diz ser possível "estar em constante diálogo com a cena, aproveitar circunstâncias, trazer com mais facilidade algum professor que está no Brasil".
A história da Vila da Artes começou em 2006, com um curso de audiovisual, daí passa a oferecer atividades de formação, além de apoio a produção, incentivo a pesquisa e difusão cultural. A iniciativa de ocupar o Centro do poder público como forma de requalificação do espaço, mantido pela Prefeitura, a Vila foi criada a partir da demanda de artistas que reivindicam políticas de formação.
Sempre de olho na formação de plateia também, o foco do trabalho da Vila das Artes é a oferta de cursos direcionados a diferentes públicos. O objetivo do trabalho é potencializar os processos de criação, sem perder de vista a reflexão e o debate sobre as questões relacionadas à sociedade contemporânea. O local que abriga o equipamento, o antigo casarão da família Leite Barbosa Pinheiro, foi desapropriado pela Prefeitura de Fortaleza, em dezembro de 2005, sendo requalificado seguindo à risca o seu desenho original.
O equipamento abriga salas de aula, ateliês, ilhas de edição, mini auditório, biblioteca, salas de aulas e as escolas públicas de Audiovisual, Dança e Teatro; Centro de Artes Visuais de Fortaleza (espaço mantido na Vila das Artes em parceria com o Centro Cultural Banco do Nordeste), Núcleo de Produção Digital, que acolheu, há pouco, uma coordenação de Cultura Digital.
Todas as atividades oferecidas são gratuitas. O projeto original ocupa também outros dois imóveis contíguos, dentre eles, a Casa do Barão de Camocim, uma das obras arquitetônicas mais antigas da Cidade construída em 1870, sem previsão de inauguração.
Mais informações:
Programação do IV Aniversário da Vila das Artes. Até dia 22, na Vila das Artes (Rua 24 de Maio, 1221, Centro). Contatos: (85) 3252.1444 ou viladasartes.fortaleza.ce.gov.br
SAIBA MAIS
Dia 20
De 8h às 18h - Exposição Corpo e Cidade, Instalação e Sala Estúdio
14h - Cine da Tarde - Cinema Clássico Brasileiro
16h - Diálogos Teatrais - participantes do curso "Teatro: Conexões Contemporâneas" apresentam suas pesquisas (artigos escritos apresentados em congressos, encontros de arte ou seminários). No dia 21, pesquisadores de outros espaços da cidade também poderão apresentar seus trabalhos.
18h - Roda de Conversa - encontro com diretores de teatro
18h - Cine Café
Dia 21
De 8 às 18h - Exposição
14h - Cine da Tarde
15h - Dançando na Escola -Apresentação de dança dos alunos 16h - Diálogos Teatrais
17h - Aula aberta ao público de Salsa com o professor Éder Barbosa.
18h - Aula aberta ao público de Dança de Rua e salsa.
18h - Roda de Conversa
18h - Cine Colchão - exibição invade a madrugada, até as 6h da manhã com filmes produzidos e apoiados pela Vila das Artes.
Confira a programação completa em http://viladasartes.fortaleza.ce.gov.br/
Política cultural: Artes plásticas, Gazeta de Alagoas
Política cultural: Artes plásticas
Matéria originalmente publicada no Caderno B da gazeta de Alagoas em 18 de setembro de 2012.
Agora que o Ministério da Cultura já tem um novo mandatário, a classe artística começa a expor suas (antigas) demandas
Para artistas, curadores e colecionadores, há pelo menos três nós na relação do governo federal com as artes visuais: política de formação de acervo, hoje quase inexistente, altos impostos de importação (que chegam a 40% do valor de uma obra de arte) e o trabalho ainda pífio para o fortalecimento das instituições que divulgam as obras de arte no país. O primeiro ponto crítico, a falta de trabalho consistente para constituir acervos de qualidade, é dos mais lembrados e urgentes. O artista Carlos Vergara exemplifica: “Quando curadores internacionais vêm ao país, eles têm de ir à casa dos artistas, porque os museus não têm política de compra. Vamos ter Copa do Mundo e Olimpíadas, acho que é uma chance grande de mostrar que há vida inteligente por aqui”. Para o crítico Frederico Coelho, “a formação de acervo é o principal trabalho que o Estado pode exercer: fazer com que as pessoas que trabalham com arte possam ter perspectivas de que seu trabalho vai circular”, ele assinala.
Curador do Museu de Arte Moderna do Rio (MAM-RJ), Luiz Camillo Osorio defende o fortalecimento institucional, com “o mapeamento das instituições de caráter regional, nacional e internacional, para a consequente criação de uma política nesse sentido”. “Sinto falta disso e da articulação internacional, com o Ministério das Relações Exteriores, para criar uma instituição como o Instituto Cervantes ou o British Council, que divulgam seus artistas no exterior”, diz Camillo. No mercado, a queixa recorrente repousa na questão fiscal. O marchand Max Perlingeiro afirma que “hoje, o colecionador é quase penalizado,com imposto de 42,5%, ao tentar repatriar obras de arte brasileira”.
Artes plásticas: MinC carece de política de formação de acervo, globo.com
Artes plásticas: MinC carece de política de formação de acervo
Matéria originalmente publicada no caderno Cultura do jornal globo.com em 19 de setembro de 2012
‘Falta articulação com o Ministério das Relações Exteriores’, diz curador do MAM do Rio
RIO - Para artistas, curadores e colecionadores, há pelo menos três nós na relação do governo federal com as artes visuais: política de formação de acervo, hoje quase inexistente, altos impostos de importação (que chegam a 40% do valor de uma obra de arte) e o trabalho ainda pífio para o fortalecimento das instituições que divulgam as obras de arte no país. O primeiro ponto crítico, a falta de trabalho consistente para constituir acervos de qualidade, é dos mais lembrados e urgentes. O artista Carlos Vergara exemplifica:
— Quando curadores internacionais vêm ao país, eles têm de ir à casa dos artistas, porque os museus não têm política de compra. Vamos ter Copa e Olimpíadas, acho que é uma chance grande de mostrar que há vida inteligente por aqui.
Para o crítico Frederico Coelho, “a formação de acervo é o principal trabalho que o Estado pode exercer: fazer com que as pessoas que trabalham com arte possam ter perspectivas de que seu trabalho vai circular”.
Curador do Museu de Arte Moderna do Rio, Luiz Camillo Osorio defende o fortalecimento institucional, com “o mapeamento das instituições de caráter regional, nacional e internacional, para a consequente criação de uma política nesse sentido”.
— Sinto falta disso e da articulação internacional, com o Ministério das Relações Exteriores, para criar uma instituição como o Instituto Cervantes ou o British Council, que divulgam seus artistas no exterior — diz Camillo.
No mercado, a queixa recorrente repousa na questão fiscal. O marchand Max Perlingeiro afirma que “hoje, o colecionador é quase penalizado, com imposto de 42,5%, ao tentar repatriar obras de arte brasileira”.
setembro 18, 2012
ABL recua e admite censura à palestra de historiador da arte, Folha de S. Paulo
ABL recua e admite censura à palestra de historiador da arte
Matéria originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 17 de setembro de 2012
Após negar ter autorizado veto à conferência de Joge Coli sobre sexo, academia muda versão
Depois de negar ter censurado uma conferência do historiador de arte Jorge Coli ocorrida em seu auditório, a ABL (Academia Brasileira de Letras) voltou atrás e admitiu ter vetado parte do conteúdo da palestra.
Coli queixou-se de que trechos da conferência "Sexo Não é Mais o Que Era", transmitida via internet na última quarta, foram censurados.
O historiador contou ter sido alertado por meio de espectadores de que palavras de sua fala e imagens originalmente programadas para a apresentação foram cortadas da transmissão.
Entre as imagens censuradas estava a tela "A Origem do Mundo", de Gustave Courbet, que retrata uma mulher com as pernas abertas e o sexo à mostra.
Primeiro a direção da ABL afirmou não ter responsabilidade alguma sobre a censura. Na última quinta à noite, o acadêmico Geraldo Holanda Cavalcanti, interinamente no comando da Casa durante viagem ao exterior da presidente Ana Maria Machado, negou responsabilidade sobre os cortes.
"Não é evento nosso. Apenas cedemos nosso espaço. Não censuramos nada."
No fim da tarde de sexta-feira, a ABL mudou a versão e informou, por meio da assessoria de imprensa, que a suspensão da transmissão ocorreu porque a conferência continha imagens impróprias para menores de 18 anos e tratava de pornografia.
"A suspensão da transmissão da conferência foi autorizada por não estar em conformidade com os parâmetros que permitem a sua utilização, notadamente diante das advertências apresentadas pelo conferencista, entre outras, de que envolvia imagens impróprias até 18 anos e de que iria tratar de pornografia", disse o texto enviado pela assessoria.
CONTRA A CENSURA
"O público-alvo das mensagens da Academia via internet abrange todas as idades, em destaque jovens estudantes de todos os graus de ensino. A diretoria afirma que a ABL é contra toda forma de censura, mas que é também consciente de sua responsabilidade pela matéria que divulga no seu site", encerra o comunicado enviado pelo assessor de imprensa Antonio Carlos Athayde.
Conceito da Bienal passa despercebido por Cadão Volpato, Folha de S. Paulo
Conceito da Bienal passa despercebido
Matéria de Cadão Volpato originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 16 de asetembro de 2012
Mesmo com a boa aceitação da mostra, título "A Iminência das Poéticas" não esclarece proposta para o público
Para o artista Nuno Ramos, entusiasta da edição deste ano, não há conceito que dê conta de uma Bienal
Uma simples garrafinha de água depositada por um visitante num canto da 30ª Bienal Internacional de São Paulo provocou mais um dos muitos questionamentos que o curador venezuelano Luis Pérez-Oramas vem enfrentando desde que assumiu a tarefa de dar sentido à exposição.
Um funcionário havia levantado a lebre: "Isso aqui é uma obra de arte?". Para o bem-humorado Pérez-Oramas, até que poderia ser.
Ele mesmo teve experiência semelhante ao encontrar um papelzinho depositado numa das obras, no segundo dia da abertura ao público.
Pensou um pouco antes de retirá-lo, mas foi pego com a mão na massa por um dos guardas do local e teve que se apresentar.
Um visitante da Bienal pode passar batido pelo tema/conceito/motivo que dá nome ao evento, mas quem prestar atenção não vai entender de primeira.
Afinal, o que quer dizer "A Iminência das Poéticas"?
Diante da pergunta, Pérez-Oramas abre um sorriso maroto. "A ideia da iminência na arte e nas poéticas é que as coisas podem em qualquer momento resultar numa experiência estética. Qualquer coisa, qualquer circunstância, qualquer situação."
E continua: "Mas é algo que ainda não assumimos plenamente, porque os processos históricos são lentos, porque nós, cidadãos ordinários, ainda somos dominados pela ideia de que a arte é algo absolutamente constituído, e de que não podemos fazer nada para mudar isso".
Tem a ver com poesia? "Não. Só tangencialmente", diz. "Usamos o termo num sentido mais antigo, é a parte da retórica que regula as possibilidades discursivas."
Esse tipo de coisa não assusta o público? "Acho que não. Essa é uma Bienal clara logo na entrada, com muitas coisas para se ver e encontrar, aberta para as transparências do prédio e que permite uma circulação entre os artistas. Se o título assusta, espero que na entrada o susto passe e comece a experiência."
PÚBLICO E ARTISTAS
De fato, o público ouvido na última semana parecia mais absorto na experiência do que preocupado com o conceito da mostra.
Uma rápida consulta às Bienais anteriores confirma o sucesso de público independente dos nomes bizarros. A 29ª Bienal trazia como conceito o enigmático verso de Jorge de Lima: "Há Sempre um Copo de Mar para um Homem Navegar".
O título da 27ª era "Como Viver Junto". O da 28ª, "Em Vivo Contato". E já foi pior, como o óbvio "O Homem e a Vida ", que denominava a 18ª edição, em 1985, e lembra os temas de redação escolar.
Do lado dos artistas, ninguém parece reparar nisso.
Nuno Ramos, cuja "Bandeira Branca", com os urubus, sacudiu a Bienal anterior, é um entusiasta da versão 2012 do evento, mesmo com o tema obscuro.
"Não há conceito possível que dê conta", ele diz. "O grande título de uma Bienal seria: ST, sem título." Nuno reflete sobre o próprio trabalho: "Quando acho um título bom para uma obra, sinto que andei 10 km. Quando não acho, fica tudo mais difícil".
Uma das estrelas dessa Bienal sem estrelas, Thiago Rocha Pitta, também releva o "conceito-que-deveria-vir-com-bula". "É fácil ver os trabalhos nessa Bienal. A arquitetura respeita as obras, a curadoria não se sobrepõe."
O artista tascou de próprio punho, com esferográfica e letra tortuosa, um título provisório para a sua obra exposta logo na entrada do segundo andar, que os visitantes apelidaram de "o trabalho do barranco".
Rocha Pitta chamou o impressionante monte de terra vermelha cortado por cortinas mergulhadas em concreto de "Half Buried Monument to the Continental Drift" (algo como monumento meio enterrado à deriva continental). Quase tão bom quanto "A Iminência das Poéticas".
Milhazes é primeira do país a ganhar retrospectiva no Malba por Sylvia Colombo, Folha de S. Paulo
Milhazes é primeira do país a ganhar retrospectiva no Malba
Matéria de Sylvia Colombo originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 15 de agosto de 2012.
A exposição da artista plástica carioca Beatriz Milhazes, 51, que é aberta hoje no Malba (Museo de Arte Latinoamericano de Buenos Aires), rompe algumas tradições.
Trata-se da primeira retrospectiva de sua obra num museu hispano-americano e a primeira de um artista brasileiro no Malba, uma instituição especializada na arte do continente.
"É impressionante como falta diálogo entre as culturas e como há dificuldades para organizar coisas entre os nossos países", disse Milhazes à Folha.
Para introduzir aos argentinos seu trabalho, de projeção internacional reconhecida, a artista e o curador da mostra, o francês Frederic Paul, resolveram fechar o recorte apenas nas pinturas. Ficaram de fora as colagens, gravuras e outros gêneros. "Como primeira mostra, achei bom focar naquilo que é o centro da minha produção desde os anos 1980", diz Milhazes.
As mais de 30 telas estão distribuídas de forma generosa no segundo piso do museu, que conta com bastante luz natural, ajudando a projetar as cores de suas telas.
A disposição das obras não obedece uma ordem cronológica, mas sua organização permite distinguir as diversas fases de seu trabalho, do início com muitas referências da cultura brasileira até a fase atual, mais abstrata.
Vieram quadros de coleções latino-americanas e dos EUA, entre eles "Os Pares" (1999), "O Caipira" (2004) e "Pierrot e Colombina" (2009). Na abertura da sala, está uma cortina realizada para um dos espetáculos de dança de sua irmã, a coreógrafa Marcia.
ACEITAÇÃO
Milhazes diz que não sabe como será a recepção do público argentino a seu trabalho, mas adianta que as diferenças entre percepções de distintos países não obedece a questões geográficas.
No México, por exemplo, diz que foi mais difícil ser entendida do que na Alemanha. "O México tem uma tradição figurativa, expressionista e com uma carga dramática que dificulta a leitura do tipo abstrato que eu desenvolvo. Já a Alemanha e a Inglaterra tiveram uma compreensão imediata porque têm forte relação com essa tradição", resume a artista.
A exposição fica em cartaz em Buenos Aires até o dia 19 de novembro.
ArtRio cresce em tamanho e problemas por Silas Martí, Folha de S. Paulo
ArtRio cresce em tamanho e problemas
Matéria de Silas Martí originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 15 de asetembro de 2012.
Feira, que encerra amanhã 2ª edição, registra falhas de organização, e galeristas nacionais se sentem preteridos
Direção reconhece erros estruturais do evento; membros do comitê de seleção das galerias estudam pedir demissão
Em sua segunda edição, a ArtRio dobrou de tamanho e multiplicou também os problemas. Galeristas que trabalham na feira, que vai até amanhã no píer Mauá, na zona portuária do Rio, reclamam de graves falhas estruturais e contestam atitudes dos organizadores.
Membros do comitê de seleção da feira também estudam pedir demissão. "Não sei o que é esse comitê, até agora não entendo o que estamos fazendo aqui", diz um conselheiro que não quis ser identificado. "É um horror."
Outro horror, segundo os galeristas, é a área externa da feira, reservada a casas emergentes, que ficou conhecida como "favelinha".
Quando chove, donos dos estandes mais próximos da entrada correm para retirar as obras, que ficam expostas à maresia e à água. Pássaros que entram no espaço também danificaram trabalhos.
Uma das maiores galerias do mundo, a britânica White Cube, relatou problemas de montagem e indefinição sobre regras para dar ou não descontos de impostos em vendas realizadas na feira.
"Recebemos informações falsas e vamos tomar uma atitude. É grande a frustração, e a organização é ausente.", diz Denis Gardarin, um dos diretores da galeria.
Uma das crises entre as galerias foi a disputa por paredes mais altas nos espaços expositivos, concedidas só à gigante americana Gagosian.
Diretores de galerias nacionais, em especial as menores, também reclamam que a feira privilegia os estrangeiros e não se esforça para resolver os problemas técnicos que atrapalharam suas vendas.
Brenda Valansi Osorio, uma das organizadoras da feira, reconheceu problemas estruturais. "Sinto muito por quem está chateado", diz. "Nosso intuito é fazer o melhor para todos e não deixar as falhas ocorrerem de novo".
Segundo a diretora, o maior problema era a entrada de pássaros na área das galerias emergentes, a ser solucionado com a instalação de uma proteção de tecido.
Osorio também disse que a área destinada às jovens galerias é a "menininha dos olhos" da feira e que foi grande o investimento nessa área -o metro quadrado do lado de fora dos armazéns custa o mesmo que o espaço dentro.
"Há os que reclamam e os que acham agradável", diz a diretora. "A gente foi crescendo e não tem mesmo como agradar a todo mundo."
ArtRio: movimentação de R$ 150 mi em negócios por Celina Côrtes, Jornal do Brasil
ArtRio: movimentação de R$ 150 mi em negócios
Matéria de Celina Côrtes originalmente publicada no Caderno Cultura do Jornal do Brasil em 16 de setembro de 2012
Neste último dia de evento (16), são esperados 60 mil visitantes
O sonho, aparentemente impossível, de arquirir obras de artistas como Pablo Picasso, Andy Wahol, Salvador Dalí e Di Cavalcanti, entre outros monstros da arte moderna, pode se concretizar nesta segunda edição da Feira Internacional de Arte Moderna e Contemporânea do Rio de Janeiro, a ArtRio, inaugurada na quinta-feira (13), no Pier Mauá, Zona Portuária da cidade. E para os simples mortais, trata-se de oportunidade imperdível para conhecer o melhor da arte nacional e internacional.
O evento reúne o acervo de 120 galerias nacionais e estrangeiras em quatro armazéns e em um anexo do Pier Mauá, são ao todo 13 mil m² de área de feira. Na véspera (quarta-feira 12), convidados especiais puderam desfrutar do magnífico acervo de mais de 1 mil artistas, com o qual os organizadores esperam movimentar R$ 150 milhões em negócios.
São esperados cerca de 60 mil visitantes até este domingo(16), último dia de feira, que também poderão apreciar obras de alguns dos mais renomados artistas plásticos brasileiros, a exemplo de Adriana Varejão e Beatriz Milhases, ambas com fama internacional. E existe ainda a possibilidade de conhecer destaques da arte contemporânea internacional, como Damien Hirst e Takashi Murakami.
Foram criados 14 circuitos de arte na cidade, a exemplo do Porto, onde podem ser vistas desde obras de arte expostas a projetos arquitetônicos de relevo na cidade, como o Restaurante Albamar, torre remanescente do antigo Mercado do Peixe, demolido para abrir caminho à construção da Perimetral (que agora a prefeitura quer riscar do mapa).
Além disso, grandes galerias internacionais, como a norte-americana Gagosian e a japonesa Kaikai Kiki, debutam no evento, dividindo uma área de 7 mil m² com galerias nacionais. Entre elas, as cariocas Anita Schwartz, e as paulistas Vermelho e Mendes Wood. São ao todo 120 galerias, metade brasileira e a outra metade internacional. Um mês depois de enfrentar um incêndio que destruiu a maior parte de sua extraordinária coleção, o marchand Jean Boghici participa pela segunda vez da ArtRio.
Em sua primeira edição (2011), a feira dispunha de 83 grandes galerias expositoras, 33 delas estrangeiras, com obras de 700 artistas que atraíram 46 mil visitantes. A movimentação foi de R$ 120 milhões em vendas. O evento já está consagrado como uma das maiores feiras de arte da América Latina. O projeto BEX, produtora cultural especializada em artes visuais criada em 2009 por Brenda Valansi e Elisangela Valadares, ganhou a adesão em 2001 dos empresários Alexandre Accioly e Luiz Calainho.
Sob a proteção dos museus de arte por Iracema Sales, Diário do Nordeste
Sob a proteção dos museus de arte
Matéria de Iracema Sales originalmente publicada no Caderno 3 do Diário do Nordeste em 16 de setembro de 2012
Pesquisadores discutem as formas de preservar a memória de obras realizadas a partir de suportes efêmeros
Dos museus para as ruas ou para o ciberespaço. A necessidade de preservação da memória das obras de arte é um consenso. Elas podem até ser confeccionadas com materiais perecíveis, mas de efêmeras não têm nada, já que, lançando mão às tecnologias, analógicas ou digitais, aos poucos, os artistas constroem os seus arquivos visuais.
Um coiote e Joseph Beyeus...
Hoje, o questionamento que se coloca não é mais se essas manifestações podem ou não ser preservadas, ou mesmo narradas para as gerações futuras, nem tampouco se as suas "auras" serão alteradas pelos processos de reprodução, como alertava Walter Benjamin, em texto que continua atual quando à intercessão arte e tecnologia. O X da questão é quanto à fragilidade desses meios para a preservação da memória, tema que perpassa também o campo da comunicação, área com a qual a arte contemporânea dialoga com maior frequência, sobretudo a partir dos anos 1960.
Coleção
"Neste aspecto, o museu tem um papel determinante na história humana, sobretudo quando o assunto é preservação da memória", destaca Silvana Boone, professora na Universidade de Caxias do Sul (UCS), doutoranda em Artes Visuais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (PPGAVI-UFRGS), com pesquisa sobre arte computacional nos museus da arte contemporânea brasileira
...na célebre performance "I like America and America likes Me"
"A origem do museu, da forma que conhecemos hoje, - de caráter público, ligado às ideias de coleção, resgate de memória e patrimônio, permanência e conservação da história da arte - tem seu início no século XIX", explica. A pesquisadora lembra que a ação de conservar e apresentar objetos existe desde o Renascimento, quando as famílias nobres e o clero guardavam suas coleções, cujo acesso era restrito à aristocracia e aos religiosos, que detinham o saber e a cultura erudita.
Silvana Boone destaca que o século XIX constitui um período de importantes acontecimentos para a arte e inicia a chamada "era dos museus", lembrando que a França, por exemplo, abre suas coleções privadas durante a Revolução Francesa, no final do século XVIII. Mas é no século XIX que se origina a ideia de museu como lugar de guardar a história coletiva do homem e do conhecimento que se tem dele, a partir dos objetos e da arte produzida em diferentes épocas, completa.
O Museu do Louvre, em Paris, é inaugurado em 1793 como o primeiro museu público francês. A constituição das coleções de arte a partir de então será fundamental para o conceito de museu que será instaurado no século XX. "Teoricamente, o museu deve guardar e conservar o novo e o antigo para a história futura e sua estrutura deve acompanhar o tempo presente", assinala.
Performances
Com relação à formação da memória, a partir do conceito de arte contemporânea quando, muitas vezes, a obra usa material perecível, responde: "A questão da efemeridade na arte não é recente e ao longo da segunda metade do século XX, as manifestações artísticas com esse caráter se davam em tempo e espaço apropriados enquanto um acontecimento". Cita manifestações como Body Art, Happenings e mesmo algumas obras da Arte Conceitual, as quais só puderam ser resgatadas na recente história da arte, através dos registros fotográficos ou em vídeo, porém, com o caráter de memória do evento e não como uma produção estética.
Para Silvana Boone, "a essência ou característica maior de um happening ou de uma intervenção geralmente é o seu tempo de existência". O registro, explica, é um "outro" que conta um tempo passado. Não é mais a obra. O que ocorre é que, hoje, boa parte desses registros encontram-se nos museus, em substituição à própria obra.
O historiador de arte e professor da Universidade Estadual do Ceará (Uece), Álbio Sales, afirma ser a arte contemporânea bastante abrangente, chamando a atenção para a arte digital cujo armazenamento se dá no ciberespaço. Fica em aberto o tempo que essa obra vai ficar disponibilizada, sendo necessário ser enviadas informações para vários locais desse ambiente virtual.
Ele reitera a posição de Silvana Boone, ao se referir às manifestações como happenings e performances, criadas para desconstruir a ideia de obra de arte como algo concreto. "A arte contemporânea dispensa a materialidade", diz, explicando ser diferente da arte grega, por exemplo, caracterizada pelo material.
Esclarece que o homem moderno inventa os conceitos de preservação. Hoje, alguns museus guardam os elementos que deram origem à obra, na falta de sua materialidade, conceito que pode ser traduzido como "o espiritual ou não- material", característica da arte contemporânea, possibilitando a fruição diretamente com o que o artista buscou, ou seja, a sua ideia.
Fotografia
A fotografia é uma forma de registrar a memória de uma obra, lembrando que também é arte. "Ela existe como registro e como expressão estética", explica o historiador. A intervenção é por natureza efêmera, feita para ficar nas ruas, por um determinado tempo. Ela é baseada no subversão da ordem. A fotografia é apenas um registro e não mais a obra. Existem livros com os comunicados das performances, explicando como é realizada, mas também constitui um evento único, restando o registro. A imagem fotográfica não dá a noção da tri-dimensionalidade, e no caso do videoarte, o material deve ser bruto e não passar por edição.
Aliás, esse tema abre uma discussão também no campo da informação jornalística, como coloca no livro "Videologias", o jornalista Eugênio Bucci, no capítulo "A história na era de sua reprodutibilidade técnica", reclamando que, hoje, nem mesmo se tem acesso aos negativos das fotografias, fazendo referência, ainda, entre o material bruto, colhido pelo jornalista nas rua, e quando passa pela edição, no caso do telejornalismo. "Jornais impressos são coisas palpáveis, concretas, estão materializados em papel. No papel está seu suporte físico. Do papel, assim como da tinta, podem-se examinar a idade e a autenticidade. Já em televisão, como em toda forma de mídia eletrônica, é cada vez mais difícil encontrar o suporte físico original da informação".
No campo da arte, os processos artísticos eram utilizados levando em consideração a durabilidade da obra, diferente do comportamento das vanguardas do inicio do século XX, que apostavam em obras e eventos para chocar e provocar discussões. Não eram feitas para durar, causando dificuldade para a recuperação dessas memórias, citando trabalhos feitos por Picasso, usando papeis colados em telas, sendo difícil a preservação. Outra característica da arte contemporânea é a negação da obra como mercadoria
Pela preservação da memória da arte por Iracema Sales, Diário do Nordeste
Pela preservação da memória da arte
Matéria de Iracema Sales originalmente publicada no Caderno 3 do Diário do Nordeste em 16 de setembro de 2012
De acordo com o diretor técnico do Centro Cultural Inhotim, Lucas Sigefredo, um dos focos do trabalho do lugar é a manutenção da integridade das obras de seu acervo
Como é que os museus, as galerias e os centros de arte e cultura trabalham a preservação de obras de arte contemporânea, algumas, feitas com a utilização de diversos materiais perecíveis?
Por ser uma tecnologia nova, que exige muita pesquisa e também pelo acelerado ritmo de produção em arte contemporânea, creio não ser possível falar em um padrão único de cuidado com essas obras. Até mesmo pela diversidade de mídias exploradas pelos artistas, os desafios em entender e significar os procedimentos de conservação, manutenção e restauro são tão vastos quanto o universo de pesquisa criativa. No caso específico de Inhotim, o trabalho realizado com a coleção do instituto prioriza a perpetuação da experiência artística de maneira atemporal, ou seja, buscamos promover a integridade física das obras e seus mais diversos elementos para mantê-las acessíveis às futuras gerações. Com os recursos de novos materiais buscados pelos artistas, em alguns casos, a dificuldade de conservação pode ter um caráter conceitual para a obra de arte. Um dos nossos focos de trabalho é exatamente em torno da elaboração e preservação da memória dos processos de produção artística. Com um banco de dados composto por informações múltiplas e de alta qualidade, conseguimos reconstituir elementos básicos que, devidamente combinados, possibilitam eventuais intervenções e até mesmo reconstruções de obras de arte contemporânea.
Lucas afirma que "não seria condizente com o valor das artes negar às futuras gerações um contato de qualidade com obras relevantes para a humanidade"
No Centro Cultural do Instituto Inhotim existem muitas obras de artistas como Hélio Oiticica e Artur Barrio. Como todas essas obras são conservadas, cada uma com sua especificidade, a exemplo de Barrio, que trabalhou com material perecível, como a carne de boi?
Estes artistas e muitos de seus trabalhos são objetos de longas discussões teóricas, conceituais e práticas sobre os procedimentos de restauro, conservação, manutenção e, até mesmo, coautoria das obras de arte. A performance é um dos elementos chave dessas discussões. A partir do momento em que a presença do espectador ou do ´performista´ se faz necessária para dar vida à obra, cabe a pergunta: se a obra de arte subsiste como objeto estático e inanimado. Alheios às conclusões acerca das discussões conceituais sobre o tema, os profissionais responsáveis pela salvaguarda do acervo artístico de Inhotim têm todo o cuidado de preservar a memória de cada uma das cerca de 600 obras pertencentes ao acervo do instituto. Não caberia, no caso da obra de Artur Barrio, tentarmos preservar o objeto central da performance realizada nos anos 1960 (pedaços de carne de boi, sangue, papel higiênico, tecidos etc.), mas, sim, toda a memória gerada pelo próprio artista em fotografias, vídeos e textos. O contexto político no qual foi realizada a performance dá o tom preciso ao trabalho que, ainda hoje, permanece atual e sempre terá alto valor histórico.
Você acha que é possível a construção da memória da arte contemporânea, mesmo diante da enorme fragilidade dos seus suportes e dos materiais efêmeros?
Nós acreditamos que sim. Grande parte do nosso trabalho é exatamente em função dessa construção. Não seria condizente com o valor das artes plásticas negar às futuras gerações um contato de qualidade com obras de arte relevantes para a humanidade. Grandes realizações humanas devem ser lembradas e celebradas em qualquer tempo e contexto. A memória é peça fundamental na construção da história e do futuro de qualquer sociedade
setembro 14, 2012
A arte que nasce das diferenças por Eduardo Siqueira, O Povo
A arte que nasce das diferenças
Matéria de Eduardo Siqueira originalmente publicada na seção de Vida e Artedo jornal O Povo em 14 de setembro de 2012
Ao longo de dez meses, artistas e críticos se propuseram a reinventar suas perspectivas sobre a arte contemporânea. O resultado deu origem à exposição Perambular, Experimentar e Correr Perigo, que será aberta hoje
Como parte das atividades do Programa de Pesquisa do Centro de Artes Visuais de Fortaleza, o Centro Cultural Banco Do Nordeste (CCBNB) recebe, a partir de hoje, a exposição Perambular, Experimentar e Correr Perigo. A mostra é formada por trabalhos de integrantes da primeira turma do programa, realizado através da parceria entre a Vila das Artes e o CCBNB. Oito artistas e quatro pesquisadores participam da exposição, que além da exibição dos trabalhos, também contempla debates e palestras.
O grupo - formado pelos artistas André Quintino, Bartira Dias, David da Paz, Mariana Smith, Marina de Botas, Sabyne Cavalcanti e Simone Barreto e as pesquisadoras Ana Cecília Soares, Júlia Lopes, Lara Vasconcelos e Naiana Cabral - foi selecionado através de edital público em meados de setembro do ano passado. Todos os candidatos foram avaliados, segundo Enrico Rocha, coordenador do Programa de Pesquisa em Artes Visuais da Vila das Artes, a partir dos projetos apresentados, da trajetória e do contexto da apresentação de cada pesquisa.
O programa é resultado de uma demanda antiga dos artistas por iniciativas de formação dentro do universo das artes visuais, mais precisamente da arte contemporânea. ”É importante uma inciativa dessa para a Cidade, pois revigora o discurso, traz gente para perto da arte contemporânea”, comemora André Quintino, autor da série Vendido. A pesquisadora Lara Vasconcelos vê nessa mescla de artistas diferentes, um caminho para um novo tipo de criação. “Esses trabalhos e esses sujeitos entram em certo desvio e encontram-se com o inesperado”, pontua.
Críticos
Durante dez meses os artistas, com propostas bem diferentes entre si, compartilharam suas ideias e seus conhecimentos e contaram com a colaboração de artistas, críticos e professores que realizam importantes trabalhos no circuito da arte contemporânea – seja no Brasil ou no exterior. Entre eles, Tânia Rivera, Eduardo Passos e Glória Ferreira. “Eles se encontravam com o grupo por uma semana. O convidado acompanhava e promovia um debate em torno do projeto”, relata Enrico sobre a metodologia desses encontros com os especialistas.
Durante a exposição, todos os trabalhos estarão expostos juntos e ainda haverá uma performance da artista Bartira Dias na abertura. “Só foi possível realizar esse trabalho coletivo a partir desse amadurecimento enquanto grupo. Compreender que nossos trabalhos individuais constituem diferenças primordiais”, comemora Enrico sobre essa diversidade de artistas em um único projeto.
SERVIÇO
Perambular, Experimentar e Correr Perigo
O Quê: Exposição dos artistas e pesquisadoras do Programa de Pesquisa do Centro de Artes Visuais de Fortaleza
Quando: Abertura: hoje (14), às 18h. Visitação de 15 de setembro a 20 de outubro
Onde: Centro Cultural Banco do Nordeste (Rua Floriano Peixoto, 941, Centro).
Outras informações: 85 3252 1444 / 85 34643108
Acesso gratuito
Brasil com Z por Paula Alzugaray e Nina Gazire, Isto é
Brasil com Z
Matéria de Paula Alzugaray e Nina Gazire originalmente publicada na seção de Artes Visuais da Revista Istoé em 6 de setembro de 2012
Com a participação de importantes galerias estrangeiras como a Gagosian e a David Zwirner, a feira ArtRio dobra sua área e prova que os olhos do mundo estão voltados para a arte brasileira
Em sua segunda edição, a feira ArtRio, que acontece a partir da quinta-feira 13 no Rio de Janeiro, dobrou a área expositiva e aposta em vendas superiores a R$ 150 milhões, um crescimento de 25% no faturamento.
O que salta aos olhos, no entanto, é como essa performance sinaliza para a crescente participação da América Latina no mercado internacional – com o Brasil à frente. Entre as 120 galerias participantes (contra 83 no ano passado), a Sonnabend Gallery, de Nova York, marca presença abrindo mão de participar de qualquer outro evento do gênero no mundo. “O aumento do número de colecionadores interessados em arte brasileira é algo que nos atrai”, disse à Istoé o seu diretor, Jason Ysenburg. Comprometida com 15 feiras internacionais, a tradicional David Zwirner Gallery vem à América do Sul pela primeira vez. “Trata-se de uma plataforma essencial para atingirmos compradores privados e também museus”, afirma o seu diretor de venda, Greg Lulay.
Números recentemente revelados respaldam essas expectativas: pesquisa da Associação Brasileira de Arte Contemporânea (Abact), em conjunto com o programa setorial integrado (Apex), aponta que, nos últimos dois anos, o volume de negócios de galeristas brasileiros cresceu, em média, 44%, bem acima de outros setores da economia. Ainda segundo a Apex, o Brasil é o país que mais exporta arte em sua região. É um aumento de 225% no período entre 2010 e 2011. Esses índices são extremamente atraentes para as galerias da Europa e dos EUA, que apostam nas feiras brasileiras, fugindo de seus mercados em crise e mudando o foco de investimentos após o flerte com Rússia e China.
A Gagosian, por exemplo, reuniu 80 obras de 30 estrelas como Damien Hirst, Takashi Murakami e Pablo Picasso, avaliadas entre US$ 10 milhões e US$ 15 milhões. Segundo estimativas da Bloomberg, o pacote totaliza US$ 130 milhões. A coincidência do evento com a Bienal de São Paulo e a abertura de novos pavilhões em Inhotim (MG) contribuiu para o clima positivo. “Esperamos que esse ambiente traga mais colecionadores e curadores internacionais ao Brasil”, diz Serena Cattaneo Adorno, diretora da filial de Paris da Gagosian. Outro fator de atração é a isenção de 100% de ICMS para obras comercializadas dentro da feira, benefício também concedido à SP-Arte. Na avaliação de galeristas brasileiros, contudo, estamos distantes das facilidades oferecidas pelo mercado europeu, com taxas inferiores à metade dos valores cobrados aqui. “As políticas públicas favorecem os automóveis brasileiros, mas fazem o contrário em relação à arte”, afirma a galerista Luisa Strina, de São Paulo. Segundo Alessandra D’Aloia, diretora da Galeria Fortes Vilaça, o imposto sobre a importação de obras de arte é de 60%. “Devido ao potencial de negócios, o governo diminui as taxas durante a feira e atrai galerias a investir no País. Mas isso está longe de ser a solução”, afirma ela.
Quando esteve à frente da Abact, Alessandra encomendou uma pesquisa que já apontava esse momento favorável. Da casa de leilões Christie’s à European Fine Art Foundation, produtora de um dos mais importantes relatórios sobre o mercado de arte, o Tefaf, todos se mostravam de olho no Brasil. “Clare McAndrew, organizadora do Tefaf, acaba de me contatar. Quer ter um capítulo sobre o País no relatório de 2013”, diz Ana Leticia Fialho, autora da pesquisa. Sociedade entre empresários dos setores de arte, entretenimento e comunicações, que estão investindo R$ 9,5 milhões, a ArtRio é empreendimento em expansão. “Nosso objetivo não é crescer em números, mas em qualidade e eventos paralelos”, afirma Brenda Valansi, uma das sócias da ArtRio.
Especial ArtRio Fair - Entrevistas com cinco galerias internacionais
Especial ArtRio Fair - Entrevistas com cinco galerias internacionais
Matéria de Paula Alzugaray e Nina Gazire originalmente publicada na seção de Artes Visuais da Revista Istoé em 6 de setembro de 2012
Confira as entrevistas com os representantes das galerias
Entrevistas com cinco galerias internacionais participantes da Art Rio Fair
Entre os dias 13 e 16 de setembro, a segunda edição da ArtRio Fair coloca o Brasil em destaque no calendário das feiras de arte internacionais. Das 120 galerias que estarão no evento, metade corresponde a participação de galerias internacionais: 60 ao todo. Em uma série de entrevistas especiais a Revista Istoé conversou com alguns dos diretores das mais importantes galerias mundiais sobre o crescimento do interesse do mercado de arte internacional na arte latino-americana e sobre as expectativas em relação ArtRio Fair. Confira abaixo a entrevista com os representantes das galerias Sikkema & Jenkins CO (Nova York), Kai Kai Kiki (Japão), Gagosian (Paris), David Zwirner (New York), Sonnabend Gallery (Nova York) e Tania Bonakdar (Nova York)
Entrevista Katie Rashid, diretora da galeria Sikkema & Jenkkins CO. – Nova York
Por que a ArtRio Fair foi incluída no calendário de eventos da galeria Sikkema & Jenkins Co.? De quantas feiras a galeria participará este ano?
Ficamos interessados em participar da ArtRio Fair desde a primeira edição da feira, no ano passado. Consideramos o fato de que nossa galeria representa artistas do Brasil e demais países da América do Sul e que, portanto, já tínhamos alguma presença na região. Estamos ansiosos para rever nossos clientes, com os quais já trabalhamos há anos e vê-los visitando nossa galeria, só que agora em seu próprio país natal. Além da ArtRio Fair, já participamos de cinco feiras este ano.
Quais foram os critérios da galeria ao selecionar os artistas que serão mostrados no Rio?
Escolhemos incluir uma seleção representativa do nosso elenco, mostrando artistas que são do país ou que já tiveram exposições no Brasil, como Vik Muniz, Janaina Tschape, bem como a Kara Walker, cujo trabalho já foi apresentado na Bienal de São Paulo em 2002, e a artista Sheila Hicks que participará desta edição da Bienal.
Quais são as expectativas da galeria em relação a ArtRio Fair?
A participação na feira será uma ótima oportunidade para prospectarmos e apresentarmos nosso programa e assim expandir nossos relacionamentos. Esperamos fazer novos clientes e tornar mais forte as relações que já temos com o Brasil e a América Latina.
Entrevista com coletivo de arte e design Kai Kai Kiki, da Galeria Kai Kai Kiki -Tokyo
Por que a galeria decidiu incluir a RioArt Fair em seu calendário de atividades e feiras em 2012? De quantas feiras a galeria irá participar neste ano?
Recentemente, nós participamos de muitas feiras na América Latina e recebemos uma resposta muito calorosa. A maneira como as pessoas vêem e apreciam arte por aí é muito similar a maneira do Japão. Além da feira do Rio, participamos do Armory Show de Nova York, Zona Maco, SP Arte, Art Melbourne, Art Hong Kong e Art Stage Singapore. Por apreciar muito a cerâmica japonesa, Takashi Murakami abriu outra galeria dedicada à venda de cerâmicas e outros itens, e por isso participaremos da Sofa Chicago, que é uma feira dedicada às artes aplicadas.
Qual foi o critério de seleção da galeria para escolher os artistas que serão mostrados na ArtRio Fair?
Se tivéssemos que descrever em apenas uma única palavra os nossos critérios seriam definidos pela expressão polinização. Nós exibimos artistas que quebram as fronteiras japonesas e cujo trabalho é amplo e de difícil classificação de gênero ou práticas metodológicas. Por outro lado, nossos artistas produzem obras em um contexto particular cultural e ao mesmo tempo criam algo universal. Para a ArtRio Fair estamos considerando o clima e o contexto cultural do lugar, fazendo um esforço consciente para escolher artistas cujos temas e cores se encaixam nesses requisitos.
Quais são as expectativas da galeria em relação a ArtRio Fair?
Nós sempre consideramos o modo de vida e o gosto de cada área das feiras que participamos. Para o Brasil, nosso objetivo é o de agradar com obras vívidas e apaixonantes.
Entrevista com Greg Lulay, diretor da David Zwirner Gallery- Nova York
Porque a ArtRio Fair foi incluída no calendário de feiras da galeria para o ano de 2012? De quantas feiras a galeria irá participar este ano?
A galeria participará de 15 feiras internacionais neste ano de 2012. Nos últimos anos, participamos de feiras nos EUA, Europa, Asia, América Latina e Oriente Médio e achamos que agora é a ocasião ideal para adicionar a ArtRio Fair no nosso programa, devido ao crescimento de colecionadores advindos dessa região. A ArtRio é um marco porque é a primeira vez que a David Zwirner Gallery participará de uma feira na América do Sul. E nossa decisão foi dada devido à longa tradição de colecionismo no Brasil. Construímos um relacionamento de peso com colecionadores brasileiros, que possuem coleções centradas no período Neoconcreto. Nos últimos tempos, esses colecionadores voltaram suas atenções para o Modernismo Internacional e para artistas da Arte Contemporânea, incluindo alguns artistas do Minimalismo. A tradição do Colecionismo está combinada ao crescimento econômico brasileiro que também está fomentando o surgimento de novos colecionadores.
Qual critério a galeria usou para escolher em seu elenco os artistas que serão apresentados nessa edição da ArtRio Fair?
A galeria planeja exibir grandes trabalhos feitos por artistas Minimalistas e Conceituais como Donald Judd, Dan Flavin, Fred Sandback, On Kawara e John McCracken. Também apresentaremos alguns trabalhos dos principais fotógrafos contemporâneos como Thomas Ruff, Stan Douglas, Philip-Lorcca diCorcia, James Welling e Christopher Williams, rodeados pela obra-prima do pintor americano Alice Neel. Também teremos o trabalho de Francis Alÿs e Chris Ofili.
Quais são as expectativas da galeria em relação a essa edição da ArtRio Fair?
A feira será uma plataforma essencial para a galeria atingir tanto colecionadores privados quanto museus. Estamos ansiosos em mostrar nosso programa aos curadores da região, bem como nossos artistas esperam participar de mais eventos na América do Sul.
Entrevista com Tanya Bonakdar, diretora da galeria Tanya Bonakdar- Nova York
Porque a ArtRio Fair foi incluída no calendário de feiras da galeria para o ano de 2012? De quantas feiras a galeria irá participar este ano?
A galeria participa da Art Basel, da Miami Basel, Frieze de Londres, e agora Frieze Art Rio. Nós sempre tivemos um circuito internacional para nossos artistas. Nós sentimos que é essencial como galeria a projetar nosssos artistas para além do âmbito nacional. Uma das maneiras de fazer isso é participar de feiras de arte. Quando participamos da Art Basel em junho e da Frieze Londres, em outubro, queremos atingir o público europeu que não tem oportunidade de nos visitar em Nova York. Da mesma forma, quando estamos na Frieze Nova York e na Miami Basel, estamos alcançando o público americano. Agora participando de Arte do Rio, queremos chegar aos públicos latino-americanos.
Qual critério a galeria usou para escolher em seu elenco os artistas que serão apresentados nessa edição da ArtRio Fair?
Vamos trazer obras de Ernesto Neto, Olafur Eliasson, Tomas Saraceno e Thomas Scheibitz. Nós sentimos que esses artistas têm força no mercado brasileiro por causa de sua presença no Brasil em Bienais passadas e em exposições por aí. Recentemente, Olafur teve sua primeira exposição individual na América Latina, em São Paulo, em um show multi-local, no Sesc Belenzinho, SESC Pompéia, e Pinacoteca do Estado. Tomas Saraceno participou da Bienal de SP em 2006 e Thomas Scheibitz em 2004.
Quais são as expectativas da galeria em relação a essa edição da ArtRio Fair?
A galeria vem trabalhando com artistas brasileiros há um longo tempo. Fizemos a primeira mostra de Ernesto Neto em 1997, Sandra Cinto, em 1999, e Rivane Neuenschwander, em 2006. Visatmos as Bienais de SP desde 1994, com curadoria de Paulo Herkenhoff e Adriano Pedrosa , que exibiu o trabalho de Ernesto Neto, Sandra Cinto e Olafur Eliasson, que são representados por nós. A conexão com o Brasil sempre foi importante e os colecionadores brasileiros demonstraram apoio ao nosso programa ao longo dos anos. Estamos ansiosos para continuar a desenvolver esse relacionamento no ArtRio.
Entrevista com Jason Ysenburg, Diretor da Sonnabend Gallery- Nova York
Porque a ArtRio Fair foi incluída no calendário de feiras da galeria para o ano de 2012? De quantas feiras a galeria irá participar este ano?
Este ano participaremos apenas da ArtRio Fair. Privilegiamos a Feira em nosso programa de eventos devido a importância que o mercado latino-americano vem ganhando. O crescimento do número de colecionadores interessados em arte brasileira também é algo que nos atrai.
Qual critério a galeria usou para escolher em seu elenco os artistas que serão apresentados nessa edição da ArtRio Fair?
Nós queremos reproduzir na ArtRio aquilo que fazemos enquanto galeria aqui em Nova York. O que posso revelar a princípio, é que transformaremos nosso estande em uma instalação provocativa.
Quais são as expectativas da galeria em relação a ArtRio Fair?
Nossa principal expectativa é a de estabelecer novos diálogos com novos colecionadores da região e conhecer os curadores dos museus e instituições culturais da América do Sul.Nós acreditamos que é importante investir em coisas que possuem relevância para a nossas próprias ideias, modo de vida e interesses. Inclusive, representamos artistas que refletem o nosso modo de pensar. Estamos buscando novas oportunidades e novos horizontes para não dependermos exclusivamente de um cenário em crise a qual também acreditamos que será passageira.
Especial ArtRio Fair - Três galeristas brasileiros comentam sobre a participação na feira por Paula Alzugaray e Nina Gazire, Isto é
Especial ArtRio Fair - Três galeristas brasileiros comentam sobre a participação na feira
Matéria de Paula Alzugaray e Nina Gazire originalmente publicada na seção de Artes Visuais da Revista Istoé em 6 de setembro de 2012
Confira as entrevistas com as galeristas Luciana Brito (Luciana Brito Galeria), Alessandra D'Aloya (Galeria Fortes Vilaça) e Daniel Roesler (Galeria Nara Roesler)
Entrevista com Galeristas Nacionais
Entre os dias 13 e 16 de setembro, a segunda edição da ArtRio Fair coloca o Brasil em destaque no calendário das feiras de arte internacionais. Em uma série de entrevistas especiais a Revista Istoé conversou com alguns galeristas brasileiros sobre o interesse internacional sobre o mercado de arte nacional e sobre como as feiras de arte vem desempenhando um papel importante no fomento à arte do Brasil. Confira a entrevista com as galeristas Luciana Brito (Luciana Brito Galeria), Alessandra D’Aloya (Galeria Fortes Vilaça) e Daniel Roesler (Galeria Nara Roesler) sobre as expectativas para ArtRio Fair:
Entrevista com Luciana Brito-Luciana Brito Galeria-São Paulo
Galerias brasileiras passaram a ser mais requisitadas por colecionadores e instituições estrangeiras diante do atual cenário de crescimento?
Sem dúvidas. Além de estarmos vivendo isso, existem números que provam. Se eu não me engano a Abact (Associação Brasileira de Arte Contemporânea) fez uma pesquisa recentemente sobre isso. Eventos como as feiras SPArte e ArtRio, bem como a Bienal de São Paulo também movimentam muito o mercado e fidelizam esses clientes.
Apesar da isenção fiscal concedida nas últimas feiras brasileiras (SP-Arte e ArtRio), o que falta ainda por parte do governo e do setor fiscal para impulsionar a circulação e o mercado da arte brasileira no setor internacional?
Os impostos devem ser revistos não só para durante as feiras. Ainda é muito alto o custo de importar e nacionalizar uma obra no Brasil. O setor de artes no Brasil está ganhando cada vez mais notoriedade e cresce exponencialmente. É muito importante que as regras fiscais sejam revistas para acompanhar esse momento.
Tem sido comum durante as feiras de arte brasileiras o incentivo a aquisição e doação de obras para coleções de Museus e outras Instituições de arte por empresas. Mesmo assim, a prática desse tipo de ação é escassa no cenário nacional. Por que se investe pouco no colecionismo da arte contemporânea quando esse setor nunca esteve em tanta evidência? Que incentivos deveriam ser criados para modificar esse cenário?
Acho que ainda é deficiente devido à falta de incentivo e conhecimento. Educação e informação contam muito nessas horas e quase nunca acompanham a onda de crescimento do setor. Isso é uma característica do Brasil, não só para o setor das Artes. Mas também acredito que esteja mudando, melhorando.
A sua galeria já teve obras adquiridas ou doadas à coleções brasileiras ou internacionais? Quais?
Sim, muitas. Nem saberia dizer. Todos os artistas que representamos possuem obras em coleções importantes, sejam doadas ou adquiridas.
Feiras de arte se multiplicam pelo mundo. Por que é importante estar na maioria delas? Quantas feiras a galeria fará este ano? Qual é a mais importante para a galeria?
Participamos de uma média de 8 feiras por ano. As feiras são um canal não só para vendas, mas também para conexões, contatos e visibilidade. As feiras servem também como um termômetro para o setor. Ficamos atualizados com o que acontece no mundo nessa área participando das feiras. Não acho que exista uma feira que se destaque para a galeria. Cada uma tem sua vantagem.
Entrevista com Daniel Roesler- Galeria Nara Roesler - São Paulo
Galerias brasileiras passaram a ser mais requisitadas por colecionadores e instituições estrangeiras diante do atual cenário de crescimento?
Já faz algum tempo que o interesse internacional pela arte brasileira aumentou. Hoje é normal recebermos visitas de colecionadores estrangeiros na galeria em São Paulo. Além disso, depois de anos participando de feiras internacionais, temos uma rede de relações com colecionadores e instituições de bom tamanho.
Apesar, da isenção fiscal concedida nas últimas feiras brasileiras (SP-Arte e ArtRio), o que falta ainda por parte do governo e do setor fiscal para impulsionar mais ainda a circulação e o mercado da arte brasileira no setor internacional?
Acredito que a isenção fiscal oferecida na feira _ a isenção de ICMS_ deveria ser transformada em definitiva para estimular a circulação cultural. A arte ainda é tratada um como bem de consumo de luxo. Porém, o incentivo deve desonerar igualmente as importações e a circulação doméstica. No mínimo o Mercosul deveria ter uma livre circulação de obras, sem barreiras à importação. A APEX (Agência Brasileira de Promoção de Importações e Investimentos) tem atuado no estímulo à exportação com ótimos resultados. Acho que esse projeto poderia ser incrementado e ganhar nova escala.
Tem sido comum durante as feiras de arte brasileiras o incentivo a aquisição e doação de obras para coleções de Museus e outras Instituições de arte por empresas. Mesmo assim, a prática desse tipo de ação é escassa no cenário nacional. Por que se investe pouco no colecionismo da arte contemporânea quando esse setor nunca esteve em tanta evidência? Que incentivos deveriam ser criados para modificar esse cenário?
Acredito que a escassez se deva mais ao processo usado nas leis de incentivo, que dificulta programas de aquisição dos museus _o museu precisa aprovar no Ministério da Cultura um projeto de aquisição de obras específicas, comprovar preços com três fornecedores e conseguir os patrocinadores_ o que resulta em uma enorme lentidão neste processo e muitas dificuldades práticas. Ainda há a questão de que o percentual de isenção da Lei Rouanet faz com que somente empresas muito grandes tenham volume suficiente para bancar os projetos. Seria importante pulverizar a possibilidade de apoio para formação de coleções entre empresas de tamanho menor. Empresas familiares, por exemplo, poderiam ter mais vínculos com coleções de arte , ao invés de focar a captação de recursos apenas por grandes corporações que estão em busca de oportunidades de marketing.
A sua galeria já teve obras adquiridas ou doadas à coleções brasileiras ou internacionais? Quais?
O MoMA adquiriu obras de Abraham Palatnik, Antônio Manuel, Cao Guimarães. A Tate Gallery tem na coleção Paulo Bruscky e Antônio Manuel. O Walker Art Center adquiriu obras de Hélio Oiticica & Neville D'Almeida. O SFMoMA possui trabalhos de Cao Guimarães. Na Espanha, a Colección Jumex, o Museu de Madri, o Centro de Arte de Burgos e a Fondation Cartier, que é francesa, adquiriram obras do artista José Patrício.
Feiras de arte se multiplicam pelo mundo. Quantas feiras a galeria fará este ano? Qual é a mais importante para a galeria?
As feiras são o ponto de encontro do mundo da arte. Lá, em quatro dias, se dão trocas muito importantes entre os colecionadores, curadores, galeristas e artistas. A construção das relações também é acelerada com os encontros nas feiras. Esse ano estaremos em sete, todas importantes pro nosso projeto de galeria.
Entrevista com Alessandra D'Aloia, Galeria Fortes Vilaça_ São Paulo
Feiras de arte se multiplicam pelo mundo. Por que é importante estar na maioria delas?
As feiras de arte se tornaram importantes centros por atraírem um público especializado, e proporcionarem a atuação de uma rede de contatos altamente especializada. Hoje curadores, galeristas e artistas viajam o mundo para participar de feiras com o intuito de acompanhar, adquirir ou ainda conhecer o melhor da produção dos artistas. No entanto, não creio que seja importante estar na maioria delas, e sim traçar uma estratégia que se encaixe com o perfil da galeria e de seus artistas. Para uma galeria jovem é importante fazer muitas feiras, para nós é importante estar apenas onde já construímos uma base. Felizmente o Brasil já comporta duas feiras, a SP Arte e a ArtRio, com visibilidade internacional.
Quantas feiras fará este ano? Qual é a mais importante para a galeria?
Faremos 6 feiras no total. Fizemos a Frieze NY em Março, a SP Arte em Maio, Basel em Junho, e faremos a ArtRio em Setembro, Frieze em Outubro e Miami Basel em Dezembro. Cada uma delas tem seu diferencial, as vendas devem sempre entrar como um fator primordial pelo investimento que representam, mas também há questões de visibilidade, alcance curatorial e institucional, ou formação de mercado (novos colecionadores). Em resumo, cada uma delas é importante por um motivo diferente, se a feira não tem nenhum destes pontos fortes, não vale a pena fazê-la, é muito trabalho.
A feira é importante para compor parcerias com galerias estrangeiras?
É extremamente importante. Temos que entender que as feiras nos dão possibilidades muito além de só vender uma obra de arte. Ali é um grande ponto de encontro onde artistas galeristas, curadores e museus se encontram, trocam idéias, exposições, e vendas. Muitas parcerias acontecem numa feira, tanto de novos artistas para expor em nossa galeria assim como parcerias de nossos artistas em outras galerias. É o caso de Iran do Espírito Santo e Leda Catunda que abriram ontem uma mostra em Buenos Aires, na galeria Ruth Benzacar. Esta exposição foi planejada há 2 anos atrás em Miami Basel e um Museu Argentino já sonda os artistas para fazer uma exposição, razão a qual esta parceria é fundamental.
Que impacto a crise econômica teve no mercado de arte contemporânea?
Em 2008 quando o mercado internacional sofreu a crise econômica estávamos em Londres, e achamos que não venderíamos nada. De fato a crise veio, mas o mercado não parou. Acredito que haja hoje mais consciência na hora de comprar arte por parte do mercado internacional, e o Brasil passa por um momento áureo onde além de sermos procurados por colecionadores internacionais e grandes museus com interesse em nossa arte, despertamos o interesse por parte do brasileiro que ainda não comprava , possibilitando galerias e museus a transformá-los em futuros colecionadores.
Apesar, da isenção fiscal concedida nas últimas feiras brasileiras, O que falta ainda por parte do governo e do setor fiscal para impulsionar mais ainda a circulação e o mercado da arte brasileira no setor internacional?
Hoje o governo trata a arte da mesma forma que trata a indústria de calçados, por exemplo. O que falta é transformar e olhar para esta indústria como uma indústria cultural. Falta o governo tomar conhecimento de dados quantitativos de nossa área. Em Dezembro de 2007, um grupo de galerias fundou a ABACT- Associação Brasileira de Arte Contemporânea, com o intuito de mapear as necessidades deste mercado. Fizemos primeiramente um planejamento estratégico que nos ajudou a compreender nossos gargalos e priorizar nossas ações. Dois anos depois assinávamos o Convênio entre ABACT e APEX. Um dado importante para mencionar é que o governo não nos via até então como um setor e isso é grave. Em Abril do ano passado, com o intuito de ampliar nossas ações com o governo e trazer apoio ao setor, a ABACT se reuniu com o BNDES com a finalidade de criar parcerias e buscar apoio. Hoje taxamos em até 60% a importação de uma obra de arte brasileira(ou internacional), impedindo que a cultura volte para casa. Por causa do potencial de negócios apontados pelas feiras de arte no Brasil, o governo inicia uma diminuição das taxas de importação, que se estende ao período da feira, e que atrai galerias a investirem em nosso país, mas isso está longe de ser nossa solução.
Especial ArtRio Fair - Entrevista Brenda Valansi por Paula Alzugaray e Nina Gazire, Isto é
Especial ArtRio Fair - Entrevista Brenda Valansi
Matéria de Paula Alzugaray e Nina Gazire originalmente publicada na seção de Artes Visuais da Revista Istoé em 6 de setembro de 2012.
Diretora da feira de arte do Rio de Janeiro fala sobre expectativa em relação a segunda edição do evento
Entrevista Brenda Valansi- Diretora da Feira ArtRio Fair
Brenda Valansi, ao lado dos sócios Alexandre Accioly, Luiz Calainho e Elisangela Valadares, comanda a ArtRio Fair, feira internacional de arte contemporânea do Rio de Janeiro que teve sua primeira edição realizada em setembro de 2011. Em sua segunda edição, o evento atraiu grandes galerias internacionais, como por exemplo, a galeria Gagosian que participa pela primeira vez de uma feira de arte brasileira. Na edição de 2012, a ArtRio recebeu cerca de R$ 9, 5 milhões em investimentos, terá a participação 120 galerias nacionais e internacionais que reunirão mais de mil artistas no pier Mauá. Ao todo, o evento vai gerar 820 empregos diretos, com expectativas de vendas em torno de 150 milhões de reais. Em entrevista, Brenda Valansi fala sobre o crescimento do mercado de arte impulsionado pelas feiras de arte nacionais e sobre o interesse de galerias internacionais em eventos brasileiros:
Segundo pesquisa realizada pela ABACT/Apex, o volume de negócios das galerias brasileiras de arte contemporânea cresceu em média 44% nos últimos dois anos. Bem acima de outros setores da economia. Qual o papel das feiras brasileiras nesse processo?
As feiras tem um grande papel no aumento do mercado, pois promovem o intercâmbio entre galerias nacionais e internacionais. Além de atraírem um grande número de público que são compradores em potencial. A ArtRio investe bastante na aproximação do público com a arte com o movimento que criamos, onde além da feira, também promovemos palestras, concertos e bastante conteúdo através do portal artirio.art.br
A expansão da programação ArtRio para além dos limites da feira segue algum modelo internacional?
As feiras internacionais promovem visitas a casa de colecionadores e estúdios de artistas. Porém, nenhuma feira que eu conheça tem um movimento que perdura todos os dias do ano.
Houve um crescimento considerável de galerias participantes de 2011 para 2012. A meta é continuar ampliando o espectro? Qual a estratégia para crescer e manter a qualidade?
Estamos no máximo de nossa capacidade com 4 armazéns no pier Mauá. Nosso objetivo não é crescer em número de galerias, mas sim em qualidade de eventos paralelos.
Bienal em expansão por Paula Alzugaray, Isto é
Bienal em expansão
Matéria de Paula Alzugaray originalmente publicada na seção de Artes Visuais da Revista Istoé em 6 de setembro de 2012.
Curador venezuelano Luis Pérez-Oramas organiza 2.900 obras de 111 artistas em constelações e realiza 12 exposições em uma
30ª Bienal de São Paulo/ A Iminência das Poéticas/Pavilhão da Bienal, SP/ de 7/9 a 9/12
As exposições de arte são geralmente organizadas segundo um grande conceito que norteia a escolha de todas as obras. Mas Luis Pérez-Oramas, o primeiro curador estrangeiro a coordenar a Bienal de São Paulo, propõe 12 conceitos para a 30a Bienal. A construção da imagem, a teatralidade, o objeto encontrado, o mundo ficcionalizado, a dimensão sonora da imagem, a serialidade, o olhar antropológico sobre a realidade cotidiana, o inesperado, a linguagem, o âmbito público, o arquivo, o território. Temos aí 12 temas pungentes da produção artística contemporânea, que dividem os 25 mil metros quadrados do Pavilhão da Bienal, na mostra “A Iminência das Poéticas”.
Sem apelar para grandes estrelas, a Bienal de Oramas oferece um panorama contundente da arte mundial, apresentando microexposições de cada um dos 111 artistas convidados. Segundo o curador, elas correspondem a “constelações pessoais” desses artistas. “Em Bienais anteriores tínhamos salas especiais dedicadas a artistas históricos, mostrando a diversidade de sua obra. Agora todos os artistas têm direito a salas especiais, porque afinal todos são especiais”, diz o presidente da Fundação Bienal, Heitor Martins, à Istoé. “Sabemos que as obras não produzem sentido sozinhas, mas pertencem ao mundo e suas relações. Por isso fizemos uma bienal constelar”, afirma o curador Luis Pérez-Oramas. “Fizemos uma Bienal para a ressonância dos artistas e de suas obras. Uma Bienal inteligente, não bombástica, cheia de vínculos construídos e por construir”, completa.
Nos vínculos construídos por Oramas, a instalação “Monumento à Deriva Continental”, do artista mineiro Thiago Rocha Pitta, por exemplo, pertence ao mesmo universo conceitual dos protótipos de carros utópicos criados pelo norte-americano Dave Hullfish Bailey. Ambos são artistas que trabalham com territórios, trajetos, percursos, distâncias. Já David Moreno, que na obra “Silence” joga com a visualidade do som, interage com obras sonoras como “Imperial Distortion”, do músico e artista visual australiano Marco Fusinato, ou com os trabalhos da compositora, performer
e artista Maryanne Amacher.
Assim, as microexposições dos 111 artistas se espalham na Bienal, como universos particulares que se relacionam entre si. “Porém, a exposição não se concentra em apenas 12 constelações”, adverte Oramas, sugerindo que o conceito se expande para além do espaço expositivo. Estimulada pela proposta, a comunicação visual da mostra, comandada por André Stolarski, projetou 30 cartazes em vez de apenas um. O aplicativo para iPad e celular é outra forma de materialização constelar da mostra. Realizado em parceria com a revista “seLecT”, o app “#30Bienal seLecTed – powered by Bloomberg” vai permitir, além de uma viagem imersiva, que cada visitante crie e compartilhe com outros visitantes suas próprias constelações de obras e conceitos contidos na exposição, expandindo e multiplicando aquilo que é visto no recinto da mostra.
No contrafluxo do movimento expansionista da curadoria, a gestão de Heitor Martins apresenta números em encolhimento: este ano a Bienal foi realizada com R$ 22,4 milhões. “A Bienal está 20% mais enxuta que a edição passada. Essa redução é reflexo da busca por um modelo sustentável. A longo prazo, queremos ser um exemplo de gestão cultural”, disse o presidente da Bienal.
setembro 13, 2012
Para fortalecer Marta, Senado vota proposta sobre investimentos na área cultural por Gabriela Guerreiro, Folha de S. Paulo
Para fortalecer Marta, Senado vota proposta sobre investimentos na área cultural
Matéria de Gabriela Guerreiro originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 12 de setembro de 2012
Na tentativa de fortalecer a indicação da senadora Marta Suplicy (PT-SP) para o Ministério da Cultura, o Senado vai votar nesta quarta-feira (12) a chamada PEC (proposta de emenda constitucional) da Cultura, relatada pela parlamentar petista na Casa. A proposta chegou ao Senado em julho, depois de ser aprovada pela Câmara, mas os senadores decidiram acelerar a sua votação depois da indicação da senadora para o ministério.
O líder do governo no Senado, Eduardo Braga (PMDB-AM), disse que pelo "esforço" da senadora Marta em prol da PEC os líderes dos partidos decidiram incluí-la nas votações. "A Marta vai levar para o ministério uma interlocução maior com o governo e o Congresso. Como ela não é oriunda da classe da cultura, vai poder transitar em todos os grupos sem resistência", afirmou
Braga disse que Marta terá uma interlocução "muito mais forte" com o Congresso do que a ministra Ana de Hollanda, que deixou o cargo nesta terça (11) após a presidente Dilma Rousseff indicar a senadora para substituí-la.
Marta deve renunciar hoje à vice-presidência do Senado para que o cargo permaneça com o PT. O partido reúne esta tarde sua bancada para indicar o substituto, que vai ocupar a vaga somente até o final da atual legislatura, em fevereiro --quando será empossada a nova Mesa Diretora da Casa. O regimento do Senado não permite que um membro da atual Mesa dispute novamente cargos de comando.
PEC
A PEC cria o SNC (Sistema Nacional de Cultura), determinando a ampliação progressiva de recursos para o setor. O objetivo do SNC é integrar os governos federal, estadual e municipal, além da sociedade, no investimento na cultura nacional. O sistema também assegura a continuidade das políticas públicas na área cultural.
A proposta, no entanto, ainda remete vários pontos para regulamentação após sanção presidencial, como a questão dos recursos progressivos. Atualmente, não há vinculação de receita para o setor.
O Sistema Nacional de Cultura organiza a gestão de políticas públicas culturais e tem como princípios diversidade das expressões culturais, universalização do acesso aos bens e serviços culturais e fomento à produção, à difusão e à circulação da arte. Também prevê que agentes públicos e privados se complementem na área de cultura.
Galeria Mariana Moura fecha as portas depois de oito anos no Recife por Silas Martí, Folha de S. Paulo
Galeria Mariana Moura fecha as portas depois de oito anos no Recife
Matéria de Silas Martí originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 13 de setembro de 2012
Depois de oito anos em atividade no Recife, onde foi uma das pioneiras na cena nordestina, a galeria Mariana Moura anunciou hoje que fechará seu espaço na capital pernambucana.
A Mariana Moura opera também em São Paulo, em parceria com a galeria Laura Marsiaj, do Rio, com o nome Moura Marsiaj.
Desde que dividiu as operações entre Recife e São Paulo, a marchande Mariana Moura disse à Folha que sentiu dificuldades em manter os dois espaços e adiantou que montará uma residência artística no Recife nos moldes da célebre Gasworks, de Londres, e do Capacete, projeto com pontos em São Paulo e no Rio.
"Quero focar minhas energias em São Paulo e fazer no Recife algo mais livre", diz Moura. "Já que o mercado me deu essa resposta tão rápido, decidi experimentar mais no Recife."
Parte de sua equipe, como o gerente da galeria e "art adviser" Aslan Cabral, continuará atuando no Recife em projetos paralelos.
Coletânea de experiências e processos artísticos por Adriana Martins, Diário do Nordeste
Coletânea de experiências e processos artísticos
Matéria de Adriana Martins originalmente publicada no Caderno 3 do jornal O Estadão em 13 de setembro de 2012
Primeira turma do Programa de Pesquisa do Centro de Artes Visuais de Fortaleza abre exposição amanhã
Limites entre público e privado, transformação corporal, redes informacionais, paisagem urbana e universo feminino são alguns dos temas explorados na exposição "Perambular, Experimentar e Correr Perigo", que reúne trabalhos desenvolvidos por oito artistas e quatro pesquisadoras integrantes da primeira turma do Programa de Pesquisa do Centro de Artes Visuais de Fortaleza. A abertura acontece amanhã, no Centro Cultural Banco do Nordeste (CCBNB).
Uma das peças do projeto "Vendido", desenvolvido pelo artista cearense André Quintino: anúncios de venda de imóveis transformados em casas de passarinho sugerem reflexão sobre espaços públicos e privados e especulação imobiliária
O programa é resultado de uma parceria entre a Vila das Artes, equipamento da Prefeitura de Fortaleza, e o CCBNB. O grupo é formado pelos artistas André Quintino, Bartira Dias, David da Paz, Mariana Smith, Marina de Botas, Sabyne Cavalcanti e Simone Barreto e as pesquisadoras Ana Cecília Soares, Júlia Lopes, Lara Vasconcelos e Naiana Cabral.
A seleção dos candidatos aconteceu em outubro de 2011, a partir da seleção de portfólios e de projetos de pesquisa. O processo foi coordenado pelo artista Enrico Rocha e contou com o acompanhamento do artista Eduardo Frota. As atividades e discussões do programa foram desenvolvidas ao longo de 10 encontros mensais, cada um com uma semana de duração. Nessas ocasiões, os participantes se reuniam com curadores, artistas e professores convidados para refletir sobre temas e propostas de trabalho.
Entre esses profissionais estiveram nomes como Tânia Rivera, Eduardo Passos, Glória Ferreira, Mário Ramiro, Santiago Navarro, Eleonora Fabião, Orlando Maneschy, Jailton Moreira, Fernanda Albuquerque e Antoni Muntadas. O último módulo, com o artista catalão Muntadas, foi realizado em parceria com o projeto Conexões Estéticas, do Instituto de Cultura e Artes da UFC. Além dos encontros, os convidados ministraram cursos abertos ao público (selecionado através de inscrições na Vila das Artes).
Diversidade
Entre os trabalhos elaborados para "Perambular, Experimentar e Correr Perigo" está, por exemplo, "Vendido", de André Quintino, que propõe uma discussão sobre os limites entre público e privado, o crescimento da cidade e a especulação imobiliária.
Para isso, Quintino construiu casas de passarinho com placas de "vende-se/aluga-se" recolhidas pela cidade. Depois, as peças foram colocadas nos mesmos locais onde se encontravam as placas, cujas mensagens são, assim, reconstruídas e ressignificadas.
Outro projeto que reflete sobre a questões urbanas é "Arranha-céu", de Jared Domício. Mistura entre desenho e fotografia, a obra consiste em imagens de céu arranhadas com estilete, que sugerem ao espectador a visão de uma Beira Mar sem grandes construções.
Já a artista Bartira Dias mergulha no universo do corpo e seus significados, com a performance "O dentro da pele para fora do ar", da série "Ex-drógeno". O trabalho questiona o uso do corpo enquanto mercadoria, além de refletir sobre a violência de gênero que se dá nesse processo.
Mais informações
"Perambular, Experimentar e Correr Perigo" - abertura amanhã, às 18 horas, no CCBNB ( R. Floriano Peixoto, 941, Centro). Visitação de 15 a 20 de outubro, de terça a sábado, das 10 às 20 horas. Acesso livre. Contato: (85) 3252.1444
ArtRio tenta atrair mais público e superar vendas da primeira edição por Roberta Pennaforte, O Estadão
ArtRio tenta atrair mais público e superar vendas da primeira edição
Matéria de Roberta Pennaforte originalmente publicada no Cultura do jornal O Estadão em 12 de setembro de 2012
Feira começa nesta quarta, 12, e tem a participação de 60 galerias brasileiras e 60 estrangeiras
RIO - São duas as principais ambições da ArtRio, feira que será aberta nesta quarta-feira, 12, para convidados com a participação de 60 galerias brasileiras e 60 estrangeiras: uma de curto e outra de longo prazo. A primeira é vender bem, superando os números já surpreendentes da primeira edição, ano passado - a estimativa é de se bater R$ 150 milhões, contra R$ 120 milhões de 2011. A segunda é despertar o interesse pela arte num público mais amplo, o carioca comum, que não frequenta esse tipo de evento. O que se refletiria, pelas expectativas, num aumento na visitação de 46 mil para 60 mil pessoas, em quatro dias.
Para atingir o primeiro objetivo, os organizadores fizeram uma seleção criteriosa, que limou galerias candidatas de todo o Brasil e também de cidades como Paris e Nova York. Entre as que montaram seus estandes no Píer Mauá - dessa vez com área ampliada de 3.850 para 7.500 m² - estão a maior do mundo, a Gagosian, com sede em Nova York e presença em mais seis países, a londrina White Cube, e as mais relevantes do Brasil: Fortes Villaça (SP), Luisa Strina (SP), Silvia Cintra (RJ) e Anita Schwartz (RJ), entre outras.
Para chamar a atenção do não-iniciado, surgiu o portal www.artrio.art.br, com informações atualizadas sobre o setor e mantido não só durante a feira. O slogan é "O Rio é arte, o tempo todo, em toda parte". Para quem não é colecionador, a ideia que fica é a de que a ArtRio é uma enorme e múltipla exposição, que merece ser visitada (o ingresso é R$ 30). Para chamar atenção também para as sedes das galerias, foram montados percursos num ônibus especial, gratuito, que transitará até domingo por elas.
A grande expectativa é já pelo primeiro dia. É quando os convidados supervips são chamados a percorrer os galpões em horário privilegiado: das 11 às 14 horas, antes da abertura oficial. Dois mil convites do tipo foram distribuídos aqui e fora.
"São os grandes players desse mercado, os colecionadores que realmente importam, que são vips em todas as maiores feiras do mundo", conta Brenda Valansi, organizadora, com Elisangela Valadares e os sócios Luiz Calainho e Alexandre Accioly. "O primeiro dia tem essa expectativa enorme, define muita coisa. Ano passado o que aconteceu é que o primeiro dia foi um bombardeio que se manteve até o fim."
Na ocasião, os negócios fechados em 24 horas ficaram em torno de R$ 60 milhões, sendo que se esperava movimentar R$ 100 milhões em quatro dias. Os galeristas brasileiros se surpreenderam com a voracidade dos compradores; os vindos de longe se ressentiram um pouco do fato de a maior parte preferir comprar arte brasileira.
A Fortes Villaça não participou, por estar envolvida com feiras internacionais na mesma época. Já esse ano investiu num espaço de 120 m², o maior disponível. "Fazer uma feira dá muito trabalho, então é preciso ter certeza de que vale a pena", explicava ontem o diretor Alexandre Gabriel, que dará destaque a artistas brasileiros em alta, como Adriana Varejão, Beatriz Milhazes e Ernesto Neto, além dos estrangeiros Sarah Morris e Simon Evans.
Tarsila rara. Duas obras de Adriana são o carro-chefe da Almeida&Dale (SP). A tela Moreno, de Beatriz Milhazes, foi vendida antes mesmo de chegar à feira - custou "milhões", revela apenas a assistente da galeria Mônica Tachotte. Foi substituída por uma raríssima Tarsila do Amaral, A Feira III, de 1953. Recentemente, a tela, pela qual são pedidos R$ 8 milhões, esteve numa retrospectiva da pintora. O dono agora resolveu se desfazer dela.
Marcia Barrozo do Amaral vende exemplares de Frans Krajcberg de diversas épocas. Laura Marsiaj aposta em jovens, como Renata de Bonis e Alexande Mury. A ArtRio terá ainda Picasso, Miró, Andy Warhol, Portinari, Volpi e Hélio Oiticica.
São Paulo e Rio têm o mesmo número de representantes: 27. Para a mineira Celma Albuquerque, assim como para galerias de Porto Alegre, Curitiba e Recife, é crucial se fazer mais visível. "Viemos em 2011 e ficamos surpresos. O retorno institucional vale tanto quanto a venda", diz a diretora Flávia Alburquerque, que trouxe obras de Antonio Dias de 20 anos atrás, mas nunca vistas.
Exposição reúne obras em paisagens do Rio de Janeiro por Roberta Pennaforte, O Estadão
Exposição reúne obras em paisagens do Rio de Janeiro
Matéria de Roberta Pennaforte originalmente publicada no Cultura do jornal O Estadão em 12 de setembro de 2012
Mostra internacional de arte pública 'OIR - Outras Ideias para o Rio' gera até protesto de cariocas
RIO - Há um ano, os ingleses Andy Goldsworthy e Brian Eno, o espanhol Jaume Plensa, o norte-americano Robert Morris, o japonês Ryoji Ikeda e o paulista Henrique Oliveira foram convidados a intervir artisticamente em paisagens do Rio. A ideia do curador Marcello Dantas era dar novo olhar, uma perspectiva estrangeira, a lugares por onde cariocas passam todos os dias. "A imagem da cidade nos foi em grande parte passada pelos estrangeiros que passaram aqui", ele lembra.
O resultado é a mostra internacional de arte pública OIR - Outras Ideias para o Rio, com instalações, esculturas e projeções desenvolvidas pelos artistas e inauguradas no feriadão passado. A exposição a céu aberto vai até o dia 2 de novembro. A exceção é para as obras de Ryoji Ikeda e Brian Eno, efêmeras. Ikeda atraiu visitantes à noite à pequena Praia do Diabo, em Ipanema, com suas projeções na areia e no mar, no último fim de semana - algo nunca visto por lá. Eno vai interferir nos Arcos da Lapa entre os dias 19 e 21 de outubro, com luzes e música.
Na Praia de Botafogo, a monumental cabeça de mulher de Jaume Plensa emerge das águas, transformando, a depender do ângulo de observação, o cartão postal do Pão de Açúcar - a obra chegou a gerar protestos de cariocas enciumados, que gritaram "Fora, cabeção!".
Na movimentada Cinelândia, Robert Morris construiu um labirinto de vidro; no Cais do Porto - perto da ArtRio -, despedaça-se desde a semana passada o frágil Domo de Argila de Andy Goldsworthy. No Parque de Madureira, recém-inaugurado pela Prefeitura onde antes havia uma favela, Henrique Oliveira instalou sua Cascasa de restos de madeira, um túnel curvilíneo que vem despertando a curiosidade de moradores numa área distante do circuito de museus. Um ônibus com guias leva visitantes por um passeio pelas obras aos fins de semana e feriados. Inscrições pelo site www.oir.art.br. Planeja-se que a mostra seja bienal.
Troca de comando atingirá segundo escalão da pasta por Matheus Magenta, Folha de S. Paulo
Troca de comando atingirá segundo escalão da pasta
Matéria de Matheus Magenta originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 13 de setembro de 2012
A troca de ministra da Cultura deve gerar ampla dança das cadeiras no segundo escalão da pasta, semelhante à que houve quando Juca Ferreira (então PV) deu lugar a Ana de Hollanda em 2011.
Em 2003, quando Gilberto Gil (PV) assumiu a pasta, no governo Lula, petistas diretamente envolvidos no programa cultural do partido, como Antonio Grassi e Sérgio Mamberti, se tornaram opositores dentro do próprio MinC.
Foram esses mesmos divergentes que ocuparam postos importantes na gestão Ana de Hollanda e que agora lutam para continuar nos cargos.
Além de Grassi, hoje à frente da Funarte, e de Mamberti, secretário de Políticas Culturais, podem deixar o MinC o secretário-executivo da pasta, Vitor Ortiz, o secretário de Articulação Instituicional, Roberto Peixe, e o presidente da Fundação Biblioteca Nacional, Galeno Amorim.
Nos bastidores, a chegada de Marta ao MinC fortaleceu a possível volta de nomes como o do ator Celso Frateschi, que foi secretário de cultura durante a gestão dela na Prefeitura de São Paulo (2001-2004) e comandou a Funarte até 2008 -deixou o cargo sob críticas de autoritarismo.
Ele diz que sofreu resistência por ter diminuído a centralização das ações no eixo Rio-SP e acabado com "uma indústria de favorecimento" que funcionava no órgão.
Outros nomes cotados para compor o novo ministério são Gustavo Vidigal, que foi secretário-executivo-adjunto na gestão Juca e trabalhou com Marta, e o produtor Alexandre Youssef, coordenador de juventude durante a gestão municipal da petista.
Marco Aurélio Garcia, assessor especial da Presidência da República para assuntos internacionais, e o deputado federal Paulo Teixeira são vistos como futuras eminências pardas do MinC.
A briga deve ser forte também pelo comando do Iphan (Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), cujo orçamento foi reforçado com o PAC das Cidades Históricas, e da Ancine (Agência Nacional do Cinema), responsável por gerir a nova lei da TV paga e o financiamento do desenvolvimento da indústria audiovisual do país (embora o estatuto da agência só permita mudanças em 2013).
Mamberti afirmou que a transição deverá ser pacífica.
"Todos nós, numa aceitação de mudança, colocamos nossos cargos à disposição da nova ministra. Essa é a posição dos secretários. A gente está passando as informações no sentido de que não haja relação traumática."
Colaborou ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER, de São Paulo
Nova ministra veste Chanel, vê novelas e aprecia ópera e artes por Silas Martí, Folha de S. Paulo
Nova ministra veste Chanel, vê novelas e aprecia ópera e artes
Matéria de Silas Martí originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 13 de setembro de 2012
Marta Suplicy é descrita como "culta" e "sofisticada" e ao mesmo tempo valoriza cultura pop
Ex-prefeita coleciona bonequinhos de argila do Nordeste, mas no vestuário segue o estilo "perua clássica"
Quando seus filhos eram pequenos, Marta Suplicy, que assume hoje o Ministério da Cultura, se arriscava como pintora. Uma de suas obras, a cabeça gigante de um leão, deve ter ido para o lixo, segundo o roqueiro Supla.
Mas se sua própria tela não agradou, Marta sabe apreciar o trabalho dos mestres.
Semanas depois de perder as eleições para a prefeitura paulistana há quatro anos, Marta foi vista sozinha no MoMA, em Nova York, concentrada nos densos campos de cor de Mark Rothko.
A nova ministra gosta mesmo do pintor abstrato. Neste ano, viu em São Paulo a montagem teatral em que Antonio Fagundes vive o artista e recomendou a peça a amigas.
É com as amigas que Marta costuma frequentar balés, óperas e exposições de arte. Mas elas também destacam um outro lado da ministra.
Marta coleciona "bonequinhos de argila do Nordeste", rasga elogios a "Avenida Brasil", a atual novela das 21h, e vibra ao som da cantora country norte-americana Patsy Cline e com sucessos como "American Pie", de Don McLean, que conheceu em temporada de estudos nos Estados Unidos.
Seu gosto é -para dizer o mínimo- eclético. Se o iTunes de Marta comporta clássicos americanos e um ou outro rock, por influência de Supla, também há espaço para ícones da MPB -Chico Buarque, Caetano Veloso e Elis Regina- e medalhões como Roberto Carlos e Rita Lee.
No caso da cantora, Marta chegou a analisar em sua coluna nesta Folha a adequação de uma música de Lee para embalar as travessuras amorosas de Cadinho e suas três mulheres na novela da faixa nobre global, a "parte elegante da trama: hipócrita, cheirosa, culta e com grife".
PERUA CLÁSSICA
Em parte, é uma descrição que quase se aplica a ela mesma. Marta, na definição de amigos, é "culta, sofisticada" e faz questão de vestir a grife francesa Chanel, encarnando o estilo que fashionistas chamam "perua clássica": conjuntinhos de silhueta discreta e tailleurs impecáveis.
Na moda nacional, a ministra só encampou de fato as criações de Alexandre
Herchcovitch, e frequentou a primeira fila de seus desfiles na São Paulo Fashion Week, posando para retratos até mesmo na passarela.
Mas Marta exagera nos acessórios, com excessos de joias, assim como já pecou pela extravagância em nome da alta cultura.
Em seu mandato na Prefeitura de São Paulo, uma viagem a Milão causou polêmica.
Enquanto paulistanos naufragavam no túnel da Rebouças, que havia inundado, e a prefeitura vivia crise com corte de serviços como varrição de ruas, Marta estava na reabertura do Scala, templo da ópera italiana, dividindo a plateia com Sophia Loren.
Um jornalista descreveu seu figurino dourado, carregado de adereços, como look da madrasta de Cinderela.
Fora dos contos de fada, Marta, que depois de dois divórcios hoje namora o ex-presidente do Jockey, Márcio Toledo, continua viajando à Europa, um destino frequente.
Em sua última passagem por Paris, ao lado do namorado, refez o trajeto do protagonista de "A Lebre com Olhos de Âmbar". O livro de Edmund De Waal segue o destino de um conjunto de bibelôs japoneses, espalhados entre a capital francesa e Viena.
No cinema, Marta também caiu de amores pelo mais recente filme de Woody Allen. Ela comparou a trama passada em Roma aos enredos fantásticos de Federico Fellini.
Mas Europa não é tudo. Entre os livros de cabeceira da nova ministra, já esteve "Relato de um Certo Oriente", estreia de Milton Hatoum, uma ode memorialista a Manaus.
Colaborou THALES DE MENEZES, editor-assistente da "Ilustrada"
Os 5 maiores desafios de Marta, Folha de S. Paulo
Os 5 maiores desafios de Marta
Matéria originalmente publicada no caderno Ilustrada da Folha de S. Paulo em 13 de setembro de 2012
Petista assume hoje Ministério da Cultura para tentar destravar projetos e aumentar verba
Ao assumir o Ministério da Cultura hoje, em substituição a Ana de Hollanda, Marta Suplicy terá de se desafiar a desemperrar projetos tidos como prioritários pelos antecessores bem como a garantir um orçamento maior para um dos nanicos da Esplanada.
Entre os programas cruciais estão a reforma da Lei Rouanet. Batizado de Procultura, o projeto tramita na Câmara e tem como um dos objetivos forçar os patrocinadores a aumentar sua contrapartida pela renúncia fiscal que recebem do governo.
Outro projeto prioritário é a reforma da Lei do Direito Autoral, maior motivo de divergência entre as equipes de Ana (que defendia menor tolerância à flexibilização dos direitos dos autores) e dos antecessores Gilberto Gil e Juca Ferreira (defensores de um uso mais tolerante de conteúdos culturais sem pagamento de direito autoral). O projeto está parado na Casa Civil.
Para garantir mais recursos à pasta, cujo Orçamento para 2013 é de R$ 2,9 bilhões (o valor em geral diminui ao longo do ano), o desafio é aprovar uma PEC (Proposta de Emenda à Constituição) que vincula 2% da receita da União para a Cultura.
Tirar os projetos do papel, entretanto, exigirá articulação política no Congresso, uma das maiores fraquezas de Ana de Hollanda.
Marta tem mais trunfos, por ser ela própria uma política e por contar com articuladores fortes no Congresso, como os deputados petistas Paulo Teixeira, Cândido Vacarezza e José Mentor.
"Acho que o maior desafio da nova ministra é o mesmo de seus antecessores: o aumento do orçamento e da importância do ministério. Espero que Marta não se acomode com o tamanho que ele tem", diz o ator Wagner Moura.
Para o escritor Fernando Morais, a nova titular do MinC "é muito ativa" e parece "mais dispostas a chutar a porta do Ministério da Fazenda pedindo mais orçamento"
setembro 12, 2012
Marta Suplicy ocupará Ministério da Cultura; posse será na quinta, O Estado de S. Paulo
Marta Suplicy ocupará Ministério da Cultura; posse será na quinta
Matéria originalmente publicada no O Estado de S. Paulo em 11 de setembro de 2012
A senadora Marta Suplicy (PT-SP) será a nova ministra da Cultura. Ela substituirá Ana de Hollanda, que há tempos vinha sendo “fritada” no governo. A presidente Dilma Rousseff decidiu fazer a troca logo depois que Marta concordou em apoiar o candidato do PT à Prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad. A senadora tomará posse na próxima quinta-feira, 13.
A saída de Ana de Hollanda estava prevista para o início do ano que vem, quando Dilma fará nova reforma na equipe. A presidente, porém, decidiu antecipar a troca por causa das eleições municipais. Além disso, ela ficou muito irritada com o vazamento de uma carta escrita pela ministra da Cultura para a titular do Planejamento, Miriam Belchior. Na carta, Ana reivindicava mais verbas para a pasta.
Marta boicotou a campanha de Haddad por quase dez meses e só concordou em ajudá-lo há duas semanas, após conversas com Dilma e com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A senadora estava magoada com Lula por ter sido obrigada a desistir da disputa pela Prefeitura, no ano passado, para dar a vaga a Haddad.
O primeiro suplente de Marta no Senado é o vereador Antônio Carlos Rodrigues (PR-SP), presidente do PR paulistano. Ele deverá se licenciar para assumir a vaga. Embora seja da base do governo no Congresso, o PR está na coligação de partidos que apoiam José Serra (PSDB) à Prefeitura.
Ernesto Neto faz obra suspensa e interativa em estação no Rio por Marco Aurélio Canônico, Folha de S.Paulo
Ernesto Neto faz obra suspensa e interativa em estação no Rio
Matéria de Marco Aurélio Canônico originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 12 de setembro de 2012
"Eu queria criar um trabalho em que as pessoas andassem no espaço", diz o carioca Ernesto Neto, explicando a gênese de "ObichoSusPensoNaPaisaGen", obra que estará aberta para visitação (e interação) pública a partir de hoje, no Rio.
A instalação é uma espécie de floresta suspensa a cerca de cinco metros do chão, com 42 metros de extensão e 12 metros de largura.
É feita numa técnica de crochê manual, com cordas de polipropileno que lembram teias. O piso por onde os visitantes caminham (descalços) é de bolas plásticas encapsuladas pelas cordas.
Andar pela montagem é como fazer um circuito de arvorismo, a prática esportiva em que se caminha por estruturas montadas entre as copas das árvores: é preciso um tanto de fôlego e de equilíbrio e nenhum medo de altura.
Segundo o artista, a instalação suportara até 70 pessoas simultaneamente, mas vai receber, no máximo, 20 visitantes por vez.
Criada no ano passado para o Faena Art Center, de Buenos Aires, "ObichoSusPensoNaPaisaGen" chega ao Rio patrocinada pela Nike e ocupa a estação Leopoldina, parada ferroviária tombada pelo Inepac (Instituto Estadual do Patrimônio Cultural).
A instalação das cinco vigas que sustentam a obra gerou uma saia justa com o Inepac, que não foi consultado, o que é obrigatório em prédios tombados. Posteriormente, o órgão deu sua aprovação.
Para Neto, a amplitude da nova localização favorece seu trabalho. "Ele foi feito para uma sala, aqui ele me parece mais solto, como se estivesse voando mesmo", diz.
O artista ressalta o caráter lúdico e participativo da obra.
"As artes plásticas muitas vezes são um tanto herméticas, mas essa é uma obra aberta, uma coisa com que as pessoas terão relação direta. Vão tocar, deitar, sair do contemplativo para o vivencial."
OBICHOSUSPENSO- NAPAISAGEN
QUANDO abre hoje; qua. a sex., das 10h às 19h, sáb., das 10h às 20h, dom., das 10h às 17h; até 16/10
ONDE Estação Leopoldina (r. Franciso Bicalho, s/nº, Rio, tel. 0/xx/21/2535-9848)
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Galerias brigam por espaço em feiras disputadas por Silas Martí, Folha de S. Paulo
Galerias brigam por espaço em feiras disputadas
Matéria de Silas Martí originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 12 de setembro de 2012
Enquanto galerias se multiplicam, feiras como SP-Arte e ArtRio e as estrangeiras Frieze, de Londres, e Art Basel Miami Beach, nos EUA, se esforçam para acomodar um número crescente de casas ao mesmo tempo em que tentam manter a qualidade dos participantes.
Cada uma delas mantém um comitê de seleção, implantado nas últimas edições das feiras brasileiras e já atuante há anos no mercado internacional. São críticos e galeristas que se reúnem para dizer sim ou não à presença de uma galeria.
Luisa Strina, por exemplo, deixa neste ano seu posto no comitê da Art Basel Miami Beach, a feira de maior peso para o mercado de arte latino-americano.
Sua saída, depois de 12 anos no posto, já provoca especulações sobre uma queda no número de galerias brasileiras na feira.
"Quando galerias saem, dizem que é minha a culpa. Quando entram, ninguém fala nada", diz Strina. "Essa situação é horrível."
Galerista que não foi aceita para a edição da feira de Miami que começa em dezembro, Raquel Arnaud diz que "a Art Basel está com problemas". "Parece que nem leram os projetos."
Marcia Fortes, que está no conselho da Frieze, compara a posição a ter uma "cadeira nas Nações Unidas".
"É um trabalho político, eles me convidaram para ter um olhar mais aberto para o resto do mundo, eu virei a representante da periferia", afirma Fortes. "Quando eu entrei, havia só duas galerias brasileiras, e depois consegui botar Casa Triângulo, Vermelho e A Gentil Carioca na Frieze."
Ela chegou a ser convidada para ocupar o lugar de Luisa Strina na Art Basel Miami Beach, mas declinou por não poder representar as duas ao mesmo tempo.
Marcio Botner, da galeria A Gentil Carioca, é hoje o único brasileiro no time de Miami, mas se restringe à seleção de casas emergentes.
"Tem um certo exagero de achar que o comitê é o vilão", diz Botner. "Quem se coloca dentro da feira é a própria galeria. O que a faz entrar é seu programa, a atitude do galerista, o trabalho que realiza em sua cidade."
Também importa a relevância de uma galeria no plano global. Luciana Brito, que mantém uma casa com seu nome em São Paulo, foi convidada para o comitê da Arco, de Madri, quando a feira decidiu se reformular, cortando o número de espanhóis e focando a presença estrangeira de alto padrão.
"Não sinto pressão das galerias que querem entrar", conta Brito. "Mas sou abordada por quem quer saber os critérios de seleção."
Mesmo com amigos ou desafetos nos comitês, galeristas não acham simples prever a aceitação numa feira. "Tem intriga, mentira, mas ninguém tem tanto poder sozinho", diz Eduardo Leme, que já foi da Arco.
ArtRio dobra de tamanho em 2ª edição por Silas Martí, Folha de S. Paulo
ArtRio dobra de tamanho em 2ª edição
Matéria de Silas Martí originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 12 de setembro de 2012
Feira carioca começa hoje com 120 galerias, entre elas, as gigantes Gagosian, dos EUA, e a britânica White Cube
Após faturar R$ 120 milhões no ano passado, evento tem isenção de ICMS para vender até R$ 150 milhões neste ano
Depois de uma primeira edição em que polarizou o mercado de arte no país, faturando três vezes mais que a SP-Arte, sua maior concorrente, a ArtRio é aberta hoje no píer Mauá com a presença de 120 galerias, entre elas as gigantes Gagosian, dos EUA, e a britânica White Cube.
Da primeira para a segunda edição, a feira de arte carioca mais do que dobrou seu espaço físico, passando a ocupar quatro armazéns na zona portuária, e aumentou seu orçamento de R$ 6 milhões para R$ 9,5 milhões -a feira conseguiu autorização para captar R$ 6,4 milhões em recursos incentivados.
Neste ano, o evento também terá um site de notícias e programas de rádio, o que um de seus organizadores, Luiz Calainho, chama de "tsunami do bem" para a arte.
Bem ou mal, a feira, que diz ter vendido R$ 120 milhões em obras na edição passada, pretende bater a marca dos R$ 150 milhões neste ano, uma estimativa "conservadora", de acordo com Calainho.
Esse aumento das compras está ancorado mais uma vez na isenção do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) sobre as transações realizadas na feira, o que costuma cortar em mais de metade o volume -alto para padrões internacionais- de impostos pagos no país em compras de arte.
"Esse ano vai ser definitivo para a gente se firmar no calendário internacional", diz Brenda Valansi Osorio, outra organizadora da ArtRio.
Na semana seguinte à abertura da Bienal de São Paulo, a feira aproveita a presença de curadores e galeristas de fora para turbinar as vendas.
Galerias como a Gagosian apostam no alto poder aquisitivo do mercado brasileiro e trazem à ArtRio obras de Picasso, Giacometti, Warhol e outras peças que não saem por menos de US$ 1 milhão.
Esse furor também força as galerias brasileiras a fazer jornada dupla, marcando presença obrigatória na SP-Arte e na ArtRio, que reúne as maiores casas de São Paulo do outro lado da ponte aérea.
setembro 11, 2012
Após série de desgastes, Ana de Hollanda deixa Ministério da Cultura; Marta Suplicy assume por Camila Campanerut, UOL Notícias
Após série de desgastes, Ana de Hollanda deixa Ministério da Cultura; Marta Suplicy assume
Matéria de Camila Campanerut originalmente publicada no UOL Notícias em 11 de setembro de 2012
O governo federal anunciou oficialmente, na tarde desta terça-feira (11), a saída da ministra da Cultura, Ana de Hollanda, da pasta. A ex-ministra do Turismo e atual senadora Marta Suplicy (PT-SP) assume o cargo, segundo informações da ministra das Comunicações, Helena Chagas. Marta toma posse na próxima quinta-feira (13). No Senado, assumirá a vaga deixada por Marta seu suplente, o vereador Antonio Carlos Rodrigues (PR-SP).
Segundo a “Folha de S.Paulo”, a troca fez parte de um acordo para que a senadora se integrasse à campanha do petista Fernando Haddad pela Prefeitura de São Paulo. Sua entrada na campanha ocorreu após um almoço com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no final do mês passado.
Ana de Hollanda se reuniu com a presidente Dilma Rousseff nesta tarde, às 15h. A reunião durou menos de meia hora, e Hollanda deixou o Palácio do Planalto sem falar com a imprensa.
Após assumir a vaga, Marta afirmou a jornalistas no Senado: "Eu aceitei o convite e agora vamos trabalhar". "O Ministério da Cultura para mim é um ministério extremamente importante. A identidade brasileira é a cultura. Então, é um enorme desafio que vou enfrentar", completou.
Leia a íntegra divulgada pelo Planalto sobre a troca no ministério:
A Presidente da República, Dilma Rousseff, convidou a senadora Marta Suplicy para ocupar o Ministério da Cultura. Ela substituirá a artista e compositora Ana de Hollanda, a quem a presidenta agradeceu hoje o empenho e os relevantes serviços prestados ao país desde janeiro de 2011.
Dilma Rousseff manifestou confiança de que Marta Suplicy, que vinha dando importante colaboração ao governo no Senado, dará prosseguimento às políticas públicas e aos projetos que estão transformando a área da Cultura nos últimos anos.
A posse será realizada na próxima quinta-feira às 11h.
Trajetória turbulenta
A trajetória de Ana de Hollanda, cantora e irmã de Chico Buarque, no governo de Dilma Rousseff foi turbulenta desde sua chegada, no início de 2011. Aos 64 anos, a agora ex-ministra fez carreira burocrática na Funarte (Fundação Nacional das Artes) e há meses era cogitada como uma das que deixaria o cargo na reforma ministerial.
Sua primeira medida que causou discórdia foi tomada com menos de um mês no ministério: retirou do site da pasta a licença “Creative Commons”, que permite ampla disseminação e cópia de produção cultural. Ana alegou que os textos divulgados por órgãos do governo federal já permitem isso sem restrições, mas não conseguiu aplacar a fúria dos adversários.
no Rio de Janeiro sem agenda oficial, o que teria rendido, em quatro meses de 2011, R$ 35,5 mil em 65 diárias, sendo que em pelo menos 16 delas a ministra não tinha compromissos de trabalho. A Controladoria Geral da União (CGU) determinou que Ana devolvesse cinco diárias que recebeu.
Pouco depois, sua pasta foi criticada por captar R$ 1,9 milhão para a primeira turnê da cantora Bebel Gilberto –sobrinha de Ana. Liberada pela Comissão de Ética Pública da Presidência da República, a ministra afirmou que as críticas à sua gestão eram “turbulências forjadas”.
Resistente às quedas de ministros no ano passado, Ana teve de aguentar as vaias na abertura do Festival de Brasília de Cinema Brasileiro, em setembro de 2011. Em meio à crise que levou à queda de Orlando Silva, titular da pasta dos Esportes, a ministra também sobreviveu ao boato, em outubro, de que teria deixado o cargo para a deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ).
Em março deste ano, a Comissão de Ética Pública pediu esclarecimentos à ministra por ter recebido camisetas da escola de samba Império Serrano para desfilar no Carnaval. O caso foi revelado pelo jornal "Correio Braziliense". O brinde foi enviado seis meses após o ministério zerar a inadimplência da agremiação carioca, desbloqueando o CNPJ da escola.
O último episódio de desgaste ocorreu no final de agosto deste ano, quando o jornal “O Globo” afirmou que o Planalto ficou incomodado com uma carta enviada pela ministra para sua colega Miriam Belchior (Planejamento) reclamando de falta de recursos para a pasta. A mensagem vazou para a imprensa, contrariando a presidente Dilma.
Ministra da Cultura deve deixar o cargo; Marta Suplicy é cotada para assumir pasta por Natuza Nery e Valdo Cruz, Folha de S. Paulo
Ministra da Cultura deve deixar o cargo; Marta Suplicy é cotada para assumir pasta
Matéria de Natuza Nery e Valdo Cruz originalmente publicada no Poder do jornal Folha de S. Paulo em 11 de setembro de 2012
A ministra Ana de Hollanda (Cultura) deve deixar o cargo nesta terça-feira (11). Para seu lugar, a presidente Dilma Rousseff pode indicar a senadora petista Marta Suplicy (SP).
A ministra tem uma audiência no Palácio do Planalto e pode já definir sua saída do governo.
Segundo a Folha apurou, a troca estava prevista para ocorrer depois das eleições, mas pode ser antecipada. A participação de Marta na campanha do petista Fernando Haddad (SP) foi decisiva para definir a troca.
Irmã do compositor Chico Buarque, Ana de Hollanda é cantora e fez carreira na burocracia estatal, trabalhando inclusive na Funarte.
Sua gestão foi marcada por críticas e poucas realizações. Em diversas oportunidades, o Planalto teve que negar a saída da ministra.
Com a virada do ano, houve a expectativa de uma reforma ministerial e o nome da ministra figurava entre as possíveis trocas.
Um dos primeiros problemas de sua gestão foi a retirada do selo "Creative Commons", que facilita o trânsito de obras na internet, já que regulamenta os direitos do autor sem que haja necessidade de contrato escrito.
Outra crítica de parte do setor cultural é que ela não teria se empenhado para garantir um corte menor no Orçamento da Cultura.
A ministra foi alvo de campanha dentro do próprio PT, que teve início quando cancelada a nomeação do sociólogo Emir Sader para presidir a Fundação Casa de Rui Barbosa.
No ano passado, a CGU (Controladoria Geral da União) determinou ainda que Ana devolvesse cinco diárias que recebeu quando estava no Rio de Janeiro sem compromissos oficiais.
Em março, a Comissão de Ética Pública da Presidência pediu esclarecimentos à ministra por ter recebido camisetas da escola de samba Império Serrano para desfilar no Carnaval.
O brinde foi enviado seis meses após o ministério zerar a inadimplência da agremiação carioca, desbloqueando o CNPJ da escola.
Entrevista: São Paulo se tornou um centro para a arte contemporânea por Silas Martí, Folha de S. Paulo
São Paulo se tornou um centro para a arte contemporânea
Matéria de Silas Martí originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 11 de setembro de 2012
Diretor da Tate, de Londres, vê confiança e estabilidade nos museus e mostras do Brasil
Nicholas Serota quase não chama a atenção. Usa ternos discretos, de corte justo, e caminha rápido na multidão, quase imperceptível. Fala baixo, com longas pausas, e parece avesso a flashes e holofotes, ao contrário da instituição que ele representa.
Faz 24 anos que esse britânico comanda a Tate, de Londres, o museu de arte moderna mais frequentado do mundo, com 5 milhões de visitas ao ano, um orçamento que beira os R$ 250 milhões e uma coleção de 70 mil obras.
Mesmo com a sua experiência, Serota diz que está no Brasil para "aprender".
Fechou uma parceria com a Pinacoteca do Estado, que considera um "museu modelo", e vê nas instituições brasileiras um novo senso de "confiança e estabilidade".
Depois de dedicar retrospectivas a Hélio Oiticica e Cildo Meireles, ajudando a posicionar o Brasil no contexto global, a Tate vai abrir no segundo semestre de 2013 uma mostra dedicada à artista suíço-brasileira Mira Schendel.
Serota falou com a Folha durante a abertura da Bienal de São Paulo na semana passada. Leia a entrevista a seguir.
Folha - Como você vê esse momento para a arte brasileira?
Nicholas Serota - Parece haver mais confiança em São Paulo, mais do que antigamente, e acho que isso reflete uma série de fatores. Primeiro, o país está muito bem na economia mundial. Em segundo lugar, a última Bienal foi muito boa e esta, também. Há uma sensação de estabilidade e propósito na Bienal, que parece ter estado ausente nos últimos anos. Claro que também muitos dos museus estão fazendo projetos excelentes. Na Pinacoteca, eu vi as exposições de Cruz-Diez e Willys de Castro, as duas muito fortes. Tenho a impressão de que este seja um momento de força. Também diria que há uma apreciação crescente de arte contemporânea brasileira além de arte dos anos 50 e 60, e isso é um contexto interessante para a Bienal. Há interesse internacional pelo que acontece no Brasil.
O MAM tem uma tradição de fazer grandes mostras individuais e acabamos de emprestar uma obra da Tate para a exposição de Adriana Varejão. Também há instituições menores fazendo projetos.
Isso tem a ver com a ascensão da arte brasileira no mercado global?
Acho que o interesse parte primeiro dos curadores internacionais, que estão fazendo exposições. Por exemplo, na Tate tivemos Oiticica, Cildo Meireles, agora preparamos uma mostra de Mira Schendel. Isso aguça a atenção de colecionadores e do público, que então passa a descobrir novos artistas, não só os que exibimos normalmente. Há uma orientação do mundo da arte, que tem olhado na direção contrária de Nova York, contrária à Europa ocidental. Estamos olhando para outras atividades. Você observa isso também na Documenta, onde há um interesse pela arte fora dos centros tradicionais. São Paulo agora é um centro.
Depois de ter feito mostras de Oiticica e Meireles, a Tate está interessada nesta região do mundo particularmente?
Em 2000, decidimos que precisávamos olhar para o mundo com mais abrangência. Para nós, o primeiro lugar para olhar era a América Latina, em especial o Brasil. Em parte por causa de figuras históricas como Hélio Oiticica, Lygia Clark e Mira Schendel, mas também por causa de artistas contemporâneos. Temos comprado arte latino-americana pelos últimos dez, 15 anos e mostramos isso.
Há algum motivo especial para ter começado com o Brasil? Tem a ver com a tradição construtivista britânica e sua relação com os concretistas brasileiros?
Nosso interesse começou pelo que estava acontecendo aqui nos anos 50 e 60, mas esse interesse aumentou pelo que está acontecendo agora. Certamente, eu vi essa mostra que está em cartaz no Centro Brasileiro Britânico. Eu conheço o trabalho desses artistas ingleses e vendo isso no contexto de concretistas brasileiros é muito interessante.
Esse deslocamento da perspectiva para países emergentes está atrelado à redefinição de poderes econômicos e geopolíticos no mundo hoje?
Acredito que o interesse em nível cultural vem antes dos interesses econômicos e políticos. Eu me lembro de tentar convencer o governo britânico a se interessar pelo que acontecia no Brasil há cinco anos e ninguém se interessava. Agora há uma série de eventos sendo planejados em parceria entre São Paulo e Londres nos próximos dois, três anos. A motivação é antes de tudo artística, mas há uma consciência dos assuntos tratados pelos artistas daqui, que também interessam aos artistas de lá, como foi o caso dos construtivistas.
Que momento histórico foi crucial para essa aproximação entre os países?
Para mim, a Bienal de 1998, organizada pelo Paulo Herkenhoff, foi um ponto crítico. Não vi essa exposição, mas conheço muito bem o catálogo. Gostaria de ter visto essa mostra. Foi um momento crítico porque deu uma nova leitura de arte brasileira, um novo conhecimento de como a arte se desenvolve, em paralelo ao mercado. Deu uma nova consciência dos processos.
Você acredita que a mostra dedicada a Mira Schendel que a Tate prepara agora será outro momento desses?
A mostra está sendo preparada por curadores da Tate e da Pinacoteca juntos. O propósito da exposição será apresentar o caráter exemplar do trabalho dela, a fragilidade do trabalho dela, mas não só a partir de pequenos exemplos, mas com um amplo recorte dessa obra, um olhar sobre a evolução desse trabalho. E também pretendemos conduzir novas pesquisas e produzir novos escritos sobre o trabalho dela, na esperança de produzir novo conhecimento sobre essa obra.
Ainda há uma grande diferença na habilidade e na prática de instituições do mundo desenvolvido e museus brasileiros na condução de mostras desse tipo? Você acredita que essa diferença está diminuindo?
Acredito que isso está mudando. A Tate e a Pinacoteca gostariam de trabalhar juntas em outros projetos, alguns começando em Londres e outros em São Paulo. Acredito que podemos aprender muito com a experiência aqui. Esse tipo de parceria é mais importante do que criar satélites da Tate em outros países. Eu não estaria interessado em fazer uma exposição em Londres para depois trazer a São Paulo ou o contrário, uma mostra daqui que só é transportada até Londres. Ainda estamos discutindo projetos futuros. Nossas discussões estão mais avançadas com a Pinacoteca simplesmente pelo fato de a Pinacoteca ser mais desenvolvida do que outros museus, é um museu modelo.
Por que o sr. considera a Pinacoteca um possível modelo para a Tate?
Eu visitei a nova organização do acervo da Pinacoteca. Vi ali alguns princípios museológicos muito interessantes sendo desenvolvidos. Nos quatro cantos do prédio, além da apresentação cronológica, eles têm quatro recortes mais aprofundados. Esse é um plano que vamos implantar na Tate Britain no ano que vem. Teremos espaços mais aprofundados, explorando conceitos apresentados em cada sala, escrevendo novos ensaios sobre esses artistas. Teremos uma apresentação cronológica, mas também esses espaços mais focados em alguns assuntos, que serão tema de publicações, pesquisas, bolsas de estudo. A Pinacoteca trabalha em paralelo conosco. Podemos aprender uns com os outros.
O sr. acha que o papel de um museu, além de realizar exposições, também é pesquisar e produzir novos conhecimentos sobre a obra de um artista?
Museus tradicionalmente têm a ver com conhecimento, eles servem para colecionar, examinar, dissecar e apresentar esse conhecimento para outros estudiosos e para o público. Essa função de um museu permanece, é isso que dá autoridade a um museu, expertise e um domínio sobre seu programa. Sem uma vocação para pesquisa, o museu só repete ideias em vez de inventar essas ideias. O público respeita museus engajados nesse tipo de atividade. Mesmo que ele não perceba uma exposição com grandes esforços de pesquisa, esse conhecimento acumulado se torna importante para a instituição, ajuda a construir relações entre o museu e os artistas. Artistas são seres criativos envolvidos 100% em suas pesquisas, buscas e tentativas de ver o mundo. Museus precisam estar à altura disso, é importante fazer em vez de receber apenas.
Qual é o orçamento da Tate e como ele se divide?
Cerca de 40% do nosso orçamento vem do governo e os outros 60% vêm de receitas próprias, patrocínios, dinheiro de venda de ingressos, do restaurante, das vendas das lojas. Somos em grande parte uma instituição pública, temos 14 conselheiros, sendo que três deles são artistas. Eles se reúnem seis vezes ao ano e ajudam a determinar a política da instituição. Nós gastamos cerca de R$ 250 milhões por ano, mas isso inclui a Tate Modern, a Tate Britain, a Tate St. Ives, a Tate Liverpool e nossos programas nacionais e internacionais.
Por receber financiamento do governo, a Tate precisa atingir metas de público?
Sabemos que algumas mostras terão grande público, mas sabemos também que outras terão pouco público. Às vezes nos surpreendemos, esperamos um público pequeno, mas a exposição acaba conquistando as pessoas. Somos um grande museu, que recebe muito dinheiro público, então temos que atrair um grande público, mas não montamos nossa programação pensando só em sucessos de bilheteria.
Temos várias vertentes no programa, algumas exposições são feitas para públicos menores, mais especializados. Em 1979, eu trabalhava na Whitechapel e fiz uma exposição de Gerhard Richter. Tivemos 5.000 visitantes em dois meses. No ano passado, fizemos uma mostra do Richter e atraímos 250 mil visitantes. Há um tempo específico para cada coisa.
Não há uma meta específica de público, e o governo tenta avaliar nosso desempenho como um todo, mas também tentamos ajudar o governo a estabelecer critérios para essa avaliação, os critérios justos para essa avaliação. Se você usa dinheiro público num museu público, você precisa responder por isso, prestar contas, mas é preciso ser avaliado a longo prazo, não ano a ano. Museus servem para pensar sobre os próximos cem anos, não as próximas seis semanas ou o ano seguinte. Acredito que se constrói público com muita consistência no programa, apresentando exposições com seriedade e convicção. É dessa forma que se constrói um público. Se você é condescendente com o público, perde o respeito dele.
Quais são alguns dos objetivos da Tate agora com relação à coleção? Que aquisições precisam ser feitas para preencher lacunas no acervo?
Na esfera contemporânea, vamos continuar a colecionar no mundo todo, com foco específico em certas partes do mundo, como a América Latina, a África e o extremo Oriente. Também abrimos novos espaços, em que vamos mostrar performances e instalações. Pretendemos chamar artistas para fazer isso. Nossa relação com o público também está mudando, eles querem estar envolvidos num diálogo. Nossos curadores fazem blogs na internet que se tornam sucessos durante a montagem das exposições. A internet se torna um canal e uma plataforma para nós, e queremos desenvolver projetos que aconteçam sempre nessa plataforma.
Qual é o tamanho do acervo da Tate?
Temos cerca de 9.000 pinturas e esculturas na coleção. Se pensarmos também em trabalhos sobre papel, são 50 mil ou 60 mil. Devemos, é claro, comprar obras de Mira Schendel com essa exposição que estamos montando. Quando fizemos a mostra do Oiticica, compramos muitas obras, o que acabou sendo uma escolha feliz, porque muito se perdeu no incêndio no acervo dele no Rio.
Como a Tate tem sido afetada pela crise econômica?
A crise atinge todos. É claro que tivemos de fazer reduções no programa. Temos menos dinheiro para fazer aquisições e os funcionários tiveram seus salários congelados. Não é fácil. Não podemos continuar cortando o orçamento e produzir mostras da mesma qualidade. Meu trabalho é evitar o avanço desses cortes. Perdemos cerca de 25% do nosso orçamento nos últimos anos.
É possível dizer que há uma tendência hoje em colecionar performances ou mudar o estatuto desse gênero para melhor enquadrar essas obras ante as regras do circuito?
Temos tentado incorporar performance ao nosso acervo, buscando formas de documentar e então apresentar essas obras no museu.
O sr. enxerga o surgimento de novos movimentos, escolas ou tendências no mundo globalizado? Qual é a cara da arte do século 21?
Como você vê nesta Bienal de São Paulo, uma das características da arte do século 21 é tentar organizar informação, arquivos, documentos e usar esse acúmulo de informações para apresentar ideias que surgem do estudo dessa informação. Há um excesso de informação, mas a noção de arquivo parece ser cada vez mais importante. Isso é uma característica da arte do século 21, que não é espetacular, que presta atenção ao detalhe, que está obcecada por gestos pequenos. São pensamentos sobre como organizamos nossas vidas. Há um fascínio sobre como lidamos com desafios e problemas que surgem na vida. Nessas obras você vê artistas lidando com relações institucionais, engajamento político. Esse tipo de exame detalhado faz as pessoas se engajarem.
Como o sr. vê a Tate hoje no panorama global dos grandes museus, como o MoMA e o Pompidou?
O MoMA tem a melhor coleção de arte moderna do mundo. Como não temos uma coleção tão exemplar, precisamos ser mais inventivos e nos arriscar mais no terreno da arte contemporânea. O que a Tate tem feito nos últimos dez anos é apostar no contemporâneo e, através disso, dar novas interpretações de arte histórica. Nos últimos cinco anos talvez tenhamos sido mais ousados do que outras instituições na tentativa de colecionar artistas de outras partes do mundo.
O Pompidou é talvez maior do que a Tate, mas temos uma pequena vantagem. Londres é um bom lugar a partir do qual ver o resto do mundo, é uma cidade cosmopolita e bem posicionada entre os fusos horários das Américas e da Ásia, o que nos permite manter relações com os dois lados do mundo. Diria que Nova York está numa posição mais difícil.
setembro 10, 2012
Críticos aprovam a 'Bienal sem estrelas' por Silas Martí, Folha de S. Paulo
Críticos aprovam a 'Bienal sem estrelas'
Matéria de Silas Martí originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 7 de setembro de 2012.
Curadores destacam tom sóbrio da mostra, aberta hoje ao público, e frisam 'sensibilidade' na seleção de artistas
Presença de pinturas divide opiniões, mas montagem é elogiada por respeitar escala dos trabalhos expostos
É uma mostra "clara", "limpa", "solene", "sensível" e sem obras monumentais a Bienal de São Paulo que será aberta hoje ao público.
Críticos e curadores que circularam pela mostra nos dias de visitação para imprensa e convidados aprovaram e elogiaram a curadoria um tanto minimalista do venezuelano Luis Pérez-Oramas, à frente desta 30ª edição do evento paulistano.
Com 111 artistas, em grande parte figuras relegadas ao segundo plano do panorama atual ou nomes ainda pouco conhecidos da nova geração de latino-americanos, a mostra, dividida pelos curadores em "constelações", frisou em suas escolhas a ausência de grandes astros.
"É uma exposição muito sóbria, que evita trabalhos espetaculares", diz Rodrigo Moura, um dos curadores do Instituto Inhotim. "Tem um caráter tranquilo e solene."
Nicholas Serota, diretor da Tate, de Londres, também elogiou a ideia de diluir no conjunto da mostra seus principais conceitos, em vez de centrar o foco em trabalhos de grandes dimensões.
"Não é uma Bienal cheia de objetos únicos, memoráveis, mas sim uma associação de ideias", afirma Serota. "Ela refuta o espetáculo."
Nessa decisão de reduzir a escala e resgatar nomes, Teixeira Coelho, curador do Masp, vê um posicionamento radical de Pérez-Oramas, classificando a mostra como uma "Bienal autoral".
"É uma das melhores bienais que já vi nos últimos tempos", afirma. "É clara, firme e bem trabalhada. Dá para ver que há um autor e um pensamento por trás dela."
PINTURA POLÊMICA
Outro ponto elogiado por Teixeira Coelho foi a forte presença de pinturas, algo que dividiu os críticos. "Tem que acabar com a baboseira de que pintura não é contemporâneo", afirma. "Aqui, as pinturas estão colocadas como parceiras legítimas do resto das obras expostas."
Luiz Camillo Osorio, curador do Museu de Arte Moderna do Rio, também elogiou a presença de pintores, como a artista Lucia Laguna.
Mas Agustín Pérez Rubio, curador do Museu de Arte Contemporânea de Castilla y León, na Espanha, criticou a presença de pinturas, estendendo o ataque à seleção de jovens artistas brasileiros.
"Não sou fã de pintura e também acho que seria possível pensar numa seleção melhor de jovens artistas brasileiros", diz Pérez Rubio. "Mas em seu conjunto, essa é uma Bienal muito correta, limpa e com muita sensibilidade estética e intelectual."
Jochen Volz, curador de Inhotim e da Serpentine, de Londres, e Moacir dos Anjos, curador da última edição da Bienal de São Paulo, elogiaram o resgate de nomes esquecidos de outras gerações presentes na mostra, em especial artistas ligados à educação, como os franceses Fernand Deligny e Robert Filliou.
Também se disseram impressionados com a montagem da exposição, coordenada pelo arquiteto Martin Corullon, que usou paredes de alturas que variam de acordo com a escala das obras.
"É um espaço que funciona, em que a obra dita o programa", diz Volz. "Mesmo os núcleos históricos estão integrados ao resto do conjunto com muita naturalidade."
Osorio, do MAM do Rio, destacou a montagem, dizendo que o projeto tem a "pegada do curador" e é "respeitoso" com todos os trabalhos.
Depoimento: São necessários dois dias para visitar a Bienal de metrô e ônibus por Marcos Grispum Ferraz, Folha de S. Paulo
Depoimento: São necessários dois dias para visitar a Bienal de metrô e ônibus
Matéria de Marcos Grispum Ferraz originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 10 de setembro de 2012.
Três repórteres, três trajetos, três meios diferentes: carro, transporte público e bicicleta. Na última sexta-feira, primeiro dia da 30ª Bienal para a visitação pública, a Folha visitou os pontos do evento fora do pavilhão do parque Ibirapuera.
Um texto que exige do repórter percorrer em um dia oito pontos da cidade (espalhados por três regiões), apenas usando ônibus, metrô (e as próprias pernas), poderia estar no caderno "Cotidiano". Daria uma boa discussão sobre as carências do sistema municipal de transporte.
Mas, como o assunto é artes plásticas --os oito pontos abrigam as obras da Bienal--, e a pauta é para a "Ilustrada", fica a dica para o leitor que pretende encarar uma empreitada como essa: leve um MP3 cheio e um bom livro. O trajeto vai ser demorado.
Às 8h30, em frente ao cemitério da Lapa, começa a viagem. Até o fim do dia seriam cinco ônibus, três metrôs e cerca de seis quilômetros de caminhada, em dez horas. O primeiro ponto de parada é a Casa do Bandeirante, que abriga a obra de Hugo Canoilas. Dali, sigo para a estação da Luz --a escultura de Charlotte Posenenske quase não é notada por alguns transeuntes, mas em outros gera grande curiosidade.
Mais um metrô até a Consolação e uma caminhada até a Faap, e, às 11h15, ocorre o primeiro erro de reportagem. O museu da faculdade abre às 13h no feriado, e não às 10h, como em uma sexta comum. Fico de fora: paciência.
Mas paciência mesmo é o que se precisa para pegar o ônibus seguinte, do Pacaembu à Paulista. A consolação para 40 minutos de espera são os grafites assinados por Treco no local, que fazem dali um ponto paralelo ao circuito de artes da cidade.
No Masp, a fila de uma hora atrasa mais os planos do dia. Ali, as obras da Bienal estão integradas à exposição permanente e só valem a visita para quem quer ver o resto do museu. Afinal, por que pagar R$ 15 para ver a obra de dois artistas quando se tem outros cem expostos gratuitamente no pavilhão?
Sigo para o Ibirapuera, para pegar a van que abriga a obra sonora de Leandro Tartaglia e leva até a Capela do Morumbi, onde está a instalação de Maryanne Amacher.
Às 17h30, de volta ao parque, faltava apenas a visita à Casa Modernista, que fechava às 18h. Mas, claro, 30 minutos não bastariam para ir de ônibus até o local, que abriga obras de Sergei Tcherepnin e Ei Arakawa.
Vindos de Boston (EUA) e Iwaki (Japão), os dois certamente estranhariam o fato de seu trabalho não ser visto por questões de transporte urbano. Mas aqui é São Paulo.
Após mais uma hora e dois ônibus, chego à minha casa com duas conclusões: no feriado, o metrô funciona, mas esperar ônibus passar é teste de paciência; logo, é preciso reservar dois dias para fazer o circuito da Bienal pela cidade em transporte público
Depoimento: Circuito da Bienal fora do pavilhão é hostil à 'magrela' por Marcos Dávila, Folha de S. Paulo
Depoimento: Circuito da Bienal fora do pavilhão é hostil à 'magrela'
Matéria de Marcos Dávila originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 10 de setembro de 2012.
Três repórteres, três trajetos, três meios diferentes: carro, transporte público e bicicleta. Na última sexta-feira, primeiro dia da 30ª Bienal para a visitação pública, a Folha visitou os pontos do evento fora do pavilhão do parque Ibirapuera.
Aqui, o trio relata suas impressões, das quais duas conclusões sobressaem: mesmo em feriado de sol, é impossível cobrir tudo se não se viaja em automóvel. E, se for ao Masp, vá com tempo para ver também a exposição de Caravaggio, pois a fila é única --e longa.
Oito e vinte da manhã. Sete de Setembro. A magrela acordou cedo e já engatou no subidão da rua Aurélia, na Lapa, até o espigão da Cerro Corá. Um estudo da topografia da região é fundamental para o roteiro de bicicleta.
Pelas ladeiras (abaixo) do Alto de Pinheiros, em poucos minutos chego à praça Panamericana. Como é feriado, a ciclofaixa que atravessa a ponte da Cidade Universitária está aberta (das 7h às 16h).
Do alto da ponte, o rio Pinheiros margeado pela linha do trem e pela ciclovia sugere um futuro possível -na contramão da indústria automobilística.
8h40. Chegada na Casa do Bandeirante, que expõe a obra do artista português Hugo Canoilas. Não há paraciclo, então tranco a bicicleta num poste -ação recorrente no percurso. Sigo com a corrida maluca.
A despeito do "cheiro de ralo", é um alívio rodar pela ciclovia da marginal Pinheiros (aberta das 6h às 18h). Mas tenho a infeliz surpresa de constatar que não há saída na estação Morumbi.
Sou obrigado a retornar duas estações até a Vila Olímpia. Se não há acesso em todas as paradas, a ciclovia se reduz a pista de passeio.
Entro com a bicicleta no trem (é permitido o dia inteiro aos domingos e feriados; e aos sábados após as 14h) e em poucos minutos estou de volta à estação Morumbi.
Atravesso a ponte e enfrento a subida até a Capela do Morumbi. 11h30. A ruidosa instalação sonora de Maryanne Amacher fica suave depois do grito de um motorista de carro que levei na orelha, só para assustar. A vida fora das ciclovias é hostil.
Sigo viagem no trem até a estação da Luz, que abriga uma escultura minimalista da inglesa Charlotte Posenenske. Brincadeira de Lego com peças parecidas a coifas.
Uma hora da tarde. A pedalada até a Faap inclui um passeio pela cracolândia ("site specific" involuntário em permanente estado performático) e um atalho pelo Minhocão (fechado para carros aos domingos e feriados).
Aproveito a ciclofaixa na avenida Paulista (domingos e nos feriados, das 7h às 16h).
Com uma fila de duas horas no Masp, desisto de entra e resta curtir o happening "Independence Day" da Polícia Militar, que chega com derrapadas e armas para revistar um grupo inofensivo de punks. Pego carona no metrô para chegar à Casa Modernista -mas a encontro fechada.
Depoimento: Com a cidade mais vazia, dá para visitar todas as instalações da Bienal por Silas Martí, Folha de S. Paulo
Depoimento: Com a cidade mais vazia, dá para visitar todas as instalações da Bienal
Matéria de Silas Martí originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 10 de setembro de 2012.
Três repórteres, três trajetos, três meios diferentes: carro, transporte público e bicicleta. Na última sexta-feira, primeiro dia da 30ª Bienal para a visitação pública, a Folha visitou os pontos do evento fora do pavilhão do parque Ibirapuera.
Aqui, o trio relata suas impressões, das quais duas conclusões sobressaem: mesmo em feriado de sol, é impossível cobrir tudo se não se viaja em automóvel. E, se for ao Masp, vá com tempo para ver também a exposição de Caravaggio, pois a fila é única --e longa.
DE CARRO
Tomo o primeiro voo de Belo Horizonte, onde estava por conta da abertura dos pavilhões de Tunga e Lygia Pape no Instituto Inhotim, para São Paulo. Encontro o motorista do jornal em Congonhas e optamos por uma rota circular, começando pelos pontos mais distantes do centro.
Pela avenida dos Bandeirantes, com trânsito pesado mesmo em feriado, atravessamos a cidade com cara de ferrugem rumo à Casa do Bandeirante, no Butantã. Às 9h51, eu era o único visitante da instalação do português Hugo Canoilas.
Dali, tentamos achar uma saída sentido Morumbi, já que algumas ruas estão bloqueadas por obras na região.
Na Capela do Morumbi está uma montagem póstuma de propostas da artista Maryanne Amacher: uma instalação sonora que envolve objetos metálicos e a luz que entra pelas frestas nas paredes de taipa da capela, reformada pelo arquiteto Gregori Warchavchik (1896-1972). Também ali eu estava só.
Não demoramos a chegar à Casa Modernista, na Vila Mariana. Esta é outra obra de Warchavchik e nela também há instalações sonoras.
O americano Sergei Tcherepin e o japonês Ei Arakawa criaram chapas metálicas que, manipuladas com luvas de borracha pelos visitantes, distorcem os sons na antiga residência do arquiteto e de sua mulher, Mina Klabin.
A caminho do Masp, onde estão trabalhos de Benet Rossell e Jutta Koether, o trânsito engrossa, até ficar caótico na Paulista. O inverno quente não ajuda. Diante da fila, desisto e vou almoçar. Meia hora mais tarde, ela aumentou e dá voltas no vão livre.
Em meio aos que aguardam para ver Caravaggio sem sonhar que há uma parte da Bienal ali, uma enfermeira propõe medir minha pressão, megafones gritam contra a corrupção e poetas e pastores oferecem versos e sermões. Enfim lá dentro, gosto de como ficaram as obras no museu, embora gaste só 15 minutos, após 60 na fila.
Na Faap, onde estão filmes de Robert Smithson e trabalhos do chinês Xu Bing e do mexicano José Arnaud Bello, alívio. É talvez o melhor ponto da Bienal fora do pavilhão -em parte graças ao ar-condicionado e à chance de sentar para ver os clássicos de Smithson. Dali, trânsito tranquilo até a Luz. A instalação de Charlotte Posenenske flutua sobre a estação e passa despercebida, até que alguém para e olha para cima.
Depoimento: São necessários dois dias para visitar a Bienal de metrô e ônibus por Marcos Grispum Ferraz, Folha de S. Paulo
Depoimento: São necessários dois dias para visitar a Bienal de metrô e ônibus
Matéria de Marcos Grispum Ferraz originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 10 de setembro de 2012.
Três repórteres, três trajetos, três meios diferentes: carro, transporte público e bicicleta. Na última sexta-feira, primeiro dia da 30ª Bienal para a visitação pública, a Folha visitou os pontos do evento fora do pavilhão do parque Ibirapuera.
Um texto que exige do repórter percorrer em um dia oito pontos da cidade (espalhados por três regiões), apenas usando ônibus, metrô (e as próprias pernas), poderia estar no caderno "Cotidiano". Daria uma boa discussão sobre as carências do sistema municipal de transporte.
Mas, como o assunto é artes plásticas --os oito pontos abrigam as obras da Bienal--, e a pauta é para a "Ilustrada", fica a dica para o leitor que pretende encarar uma empreitada como essa: leve um MP3 cheio e um bom livro. O trajeto vai ser demorado.
Às 8h30, em frente ao cemitério da Lapa, começa a viagem. Até o fim do dia seriam cinco ônibus, três metrôs e cerca de seis quilômetros de caminhada, em dez horas. O primeiro ponto de parada é a Casa do Bandeirante, que abriga a obra de Hugo Canoilas. Dali, sigo para a estação da Luz --a escultura de Charlotte Posenenske quase não é notada por alguns transeuntes, mas em outros gera grande curiosidade.
Mais um metrô até a Consolação e uma caminhada até a Faap, e, às 11h15, ocorre o primeiro erro de reportagem. O museu da faculdade abre às 13h no feriado, e não às 10h, como em uma sexta comum. Fico de fora: paciência.
Mas paciência mesmo é o que se precisa para pegar o ônibus seguinte, do Pacaembu à Paulista. A consolação para 40 minutos de espera são os grafites assinados por Treco no local, que fazem dali um ponto paralelo ao circuito de artes da cidade.
No Masp, a fila de uma hora atrasa mais os planos do dia. Ali, as obras da Bienal estão integradas à exposição permanente e só valem a visita para quem quer ver o resto do museu. Afinal, por que pagar R$ 15 para ver a obra de dois artistas quando se tem outros cem expostos gratuitamente no pavilhão?
Sigo para o Ibirapuera, para pegar a van que abriga a obra sonora de Leandro Tartaglia e leva até a Capela do Morumbi, onde está a instalação de Maryanne Amacher.
Às 17h30, de volta ao parque, faltava apenas a visita à Casa Modernista, que fechava às 18h. Mas, claro, 30 minutos não bastariam para ir de ônibus até o local, que abriga obras de Sergei Tcherepnin e Ei Arakawa.
Vindos de Boston (EUA) e Iwaki (Japão), os dois certamente estranhariam o fato de seu trabalho não ser visto por questões de transporte urbano. Mas aqui é São Paulo.
Após mais uma hora e dois ônibus, chego à minha casa com duas conclusões: no feriado, o metrô funciona, mas esperar ônibus passar é teste de paciência; logo, é preciso reservar dois dias para fazer o circuito da Bienal pela cidade em transporte público.
Diante do espelho por Adriana Martins, Diario do Nordeste
Diante do espelho
Matéria de Adriana Martins originalmente publicada no Caderno 3 do jornal globo.com em 8 de setembro de 2012.
O espanhol Antoni Muntadas cria obras que se propõem a refletir sobre o campo da criação estética
As primeiras atividades iniciaram-se em outubro de 2011. De lá para cá, foram 10 cursos modulares de caráter teórico e uma carga horária de 200 horas/aula, que resultaram, quase um ano depois, na primeira turma formada pelo Programa de Pesquisa do Centro de Artes Visuais de Fortaleza - mantido pela Prefeitura de Fortaleza, por meio da Vila das Artes, em parceria com o Centro Cultural Banco do Nordeste (CCBNB).
Em seus trabalhos, Antoni Muntadas se aventura pelo terreno de intercessão entre as artes e o universo dos meios de comunicação. Recursos de vídeo e experimentos com as mídias digitais contribuem para uma obra que pensa a própria arte hoje
Para marcar a ocasião, foi concebida a exposição "Perambular, experimentar e correr perigo", que reúne pesquisas e produções dos integrantes do programa - os artistas André Quintino, Bartira Dias, David da Paz, Mariana Smith, Marina de Botas, Sabyne Cavalcanti e Simone Barreto e as pesquisadoras Ana Cecília Soares, Júlia Lopes, Lara Vasconcelos e Naiana Cabral. A abertura acontece na próxima sexta-feira, no espaço Centro Cultural Banco do Nordeste; lá, a exposição permanece aberta a visitação até 10 de outubro.
Entre os professores, artistas e pesquisadores convidados a colaborar com programa esteve o espanhol Antoni Muntadas, um dos pioneiros da arte multimídia (especialmente a partir de suportes como vídeo e internet) e autor de trabalhos emblemáticos no campo da reflexão que liga arte e comunicação.
Metodologia
Em Fortaleza, Muntadas ministrou a palestra "A metodologia do projeto" (La metodologia del proyecto), aberta ao público geral, e um minicurso exclusivo para alunos do programa do Centro de Artes Visuais para bolsistas do programa Conexões Estéticas, do curso de Cinema e Audiovisual da UFC. Em entrevista ao Caderno 3, ele falou sobre sua carreira, seu processo criativo e a relação com o Brasil.
Nascido em Barcelona, em 1942, Muntadas mudou-se para Nova York no início dos anos 1970, onde iniciou sua carreira. Antes, chegou a se dedicar brevemente à pintura, linguagem da qual se afastou gradualmente frente ao interesse pelos diferentes meios de comunicação e produção audiovisual.
Ao longo de sua atuação profissional, estabeleceu-se como referência mundial no campo da arte contemporânea, especialmente pelo fato de circular por diferentes países e pela relevância dos temas abordados em seus projetos - entre eles a comunicação e seus mecanismos de significação, tradução e recepção, os limites entre o público e o privado, a construção da opinião pública e do senso comum, o medo, a pertença e as territorialidades, as esferas de poder e a problematização da mídia.
Para tanto, Muntadas recorre a conceitos de diferentes áreas, desde a comunicação até a antropologia, a sociologia e a história. Não por acaso, até hoje o espanhol divide seu tempo entre a atuação como artista e como professor: atualmente é professor visitante do Centro para Estudos Visuais Avançados, no Instituto de Tecnologia de Massachusetts - MIT, onde foi pesquisador entre 1977 e 1984.
Para compreender a natureza do trabalho de Muntadas, uma boa estratégia é conhecer alguns de seus projetos mais emblemáticos. Entre eles está, por exemplo, "Between the frames", uma série de oito vídeos que reúne características marcantes do processo de criação do artista espanhol. A começar pelo tempo de elaboração, em torno de dez anos (1983-1993).
Durante esse período Muntadas entrevistou diferentes agentes relacionados à cadeia de produção, circulação e mediação da arte - cada tipo de profissional ou instituição constitui um capítulo: marchands, colecionadores, galerias, museus, professores, críticos, mídia e, claro, artistas.
Nesse sentido, "Between the frames" constitui um amplo olhar sobre o sistema artístico dos anos 1980, ao se debruçar sobre as relações entre arte, sociedade, mídia, comércio e cultura popular, além de aspectos como representação e interpretação.
Outro projeto emblemático do artista é "The file Room", um dos mais conhecidos, criado em 1994 e até hoje em continuidade (thefileroom.org). Trata-se de um banco de dados que coleta, em escala mundial, casos de censura no campo da arte. Em exposições, tanto "Between the frames" quanto "The file room" e outros trabalhos de Antoni Muntadas materializam-se na forma de instalações.
Marcelo Coutinho e Rodrigo Braga na Bienal de São Paulo, JC on-line
Marcelo Coutinho e Rodrigo Braga na Bienal de São Paulo
Matéria originalmente publicada no caderno Cultura do Jornal do Commercio on-line em 8 de setembro de 2012.
Os dois artistas estão entre os 111 selecionados para esta edição do evento, que segue o tema A iminência das poéticas
Um nasceu em Manaus (AM) e outro em Campina Grande (PB), mas há um bom tempo já estão integrados ao circuito de artes visuais de Pernambuco. A partir de agora, as trajetórias artísticas de Rodrigo Braga e Marcelo Coutinho contarão com mais um ponto em comum: os dois estreiam juntos na Bienal de São Paulo, apresentando novos trabalhos. Eles estão entre os 111 artistas selecionados para a 30ª edição do evento, que foi aberta ao público na sexta-feira (7/9) no Parque Ibirapuera. A visitação continua até o dia 9 de dezembro.
Tônus é o nome do conjunto inédito que Rodrigo apresenta na Bienal. São cinco fotografias e três vídeos. "Eles têm relações entre si, funcionam juntos. Os vídeos mostram ações minhas, em que estou com animais ou com a paisagem, como em outros trabalhos. Nas fotografias, já não tem a presença do meu corpo", resume o artista.
Marcelo participa do conjunto de poéticas proposto este ano pela Bienal de São Paulo com filmes e palavras. Desde 1997, ele cria neologismos relacionados aos já citados filmes, a performances, objetos e instalações. Palavras que "procuram definir os acometimentos provocados por deslizes perceptivos, rupturas espaciais, lapsos corporais, ausências temporais e invasões repentinas de outras lógicas", como é definido no texto da exposição.
Estudo aponta os novos centros da arte no mundo por Maria Eugênia de Menezes, Estadão
Estudo aponta os novos centros da arte no mundo
Matéria de Maria Eugênia de Menezes originalmente publicada no caderno Cultura do jornal Estadão de S. Paulo em 4 de setembro de 2012.
São Paulo é a única representante latina, mas enfrenta o desafio de melhorar sua infraestrutura
Quais são as capitais culturais do mundo? A resposta correta inclui escolhas óbvias. Nenhuma cidade tem tantos cinemas quanto Paris. Ninguém possui tantos museus quanto Londres. E Nova York continua imbatível quando se trata de teatro. Os dados estão no World Cities Culture Report. Maior estudo do gênero já publicado, o relatório confirma o protagonismo dos grandes centros. Insinua, porém, que essa história começa a ganhar novos e importantes personagens.
Se na economia o poder está mudando de mãos, na área cultural a tônica também não é diferente. A pesquisa elege 12 cidades em todos os continentes e torna evidente que as potências da cultura e da arte não estão mais apenas nos Estados Unidos e na Europa. Além das onipresentes Londres, Paris, Berlim e Nova York, aparecem na lista Tóquio, Istambul, Johannesburgo, Xangai, Sydney, Cingapura, Mumbai e São Paulo. A capital paulista é a única representante da América Latina nesse panorama. "As cidades emergentes estão inventando um perfil cultural próprio, que não é o mesmo das cidades europeias e americanas", diz Paul Owens, diretor da BOP Consulting, empresa britânica de consultoria que realizou a pesquisa.
Encomendado pela prefeitura de Londres e divulgado em agosto, o estudo mede 60 indicativos nas áreas de literatura, cinema, artes visuais, artes do espetáculo e em setores novos, como o de games.
Com os dados aferidos em mãos, é possível traçar uma infinidade de rankings. Mas os organizadores frisam que não é essa a intenção. Não se trata de saber quem detém os números mais robustos ou exerce maior influência no universo das artes. "As cidades sempre investiram em cultura por razões de prestígio, para mostrar poder político ou sucesso econômico. Esse era o modelo de desenvolvimento próprio das cidades americanas e europeias no século 19", apontou Owens em entrevista ao Estado.
Hoje, os investimentos em arte não são para exibir pujança econômica. Mas para gerá-la. Essa não é uma ideia nova. Ganhou força no fim do século 20. A atual pesquisa, entretanto, expande e confirma a impressão. Mostra resultados consistentes em cidades como Londres, onde o setor movimenta £ 12 bilhões e emprega 386 mil pessoas. Também deixa no ar a impressão de que, apesar do potencial, São Paulo ainda tem muito a fazer.
"Ao se ver essas questões sob o ângulo restrito apenas ao da cultura, está se perdendo a chance de perceber o impacto que isso pode ter em uma economia do tamanho da cidade de São Paulo", aponta a economista Lidia Goldenstein, especializada em economia criativa. "É a política industrial deste século. O setor mais importante na geração de emprego e renda na sociedade moderna. Estamos muito atrasados na compreensão do que esses setores da economia criativa representam no mundo hoje. Aqui, isso ainda é visto como algo circunscrito à cultura ou às políticas de inclusão social. Muito diferente dos países que estão levando a sério, entre eles a Inglaterra e a China, que colocou o tema no seu plano quinquenal. Esse é um tema de campanha, era o que devia estar sendo discutido, porque é isso que vai definir o futuro da cidade."
Mesmo entre representantes do setor público, reconhece-se a timidez do setor. "A cultura ainda não entrou na agenda política", acredita o secretário municipal de Cultura, Carlos Augusto Calil, que completará oito anos no cargo. "Aqui, a área ocupa um lugar tão inexpressivo que não é levada em conta nas propostas de planejamento. O que foi feito na Colômbia, com a criação de grandes bibliotecas, ou na Venezuela, que tem um projeto musical de nível internacional, só aconteceu porque se tratava de um projeto de governo e não apenas dos órgãos da cultura."
Mesmo sem receber os incentivos devidos, São Paulo tem alguns dados surpreendentes a exibir. Conta, por exemplo, com 869 livrarias, número de lojas superior ao de Londres, que tem 802, ou Nova York, com 750. Outra surpresa: seus cinemas recebem cerca de 50 milhões de espectadores, deixando centros como Tóquio, Londres, Berlim e Cingapura para trás.
Os resultados, porém, não são da mesma magnitude quando se trata de infraestrutura. E dão a impressão de que não temos espaços suficientemente equipados para dar conta nem da demanda nem da oferta de atividades culturais. Mesmo com tanto público nos cinemas, só existem 282 telas na cidade. Patamar bastante inferior não apenas ao dos grandes centros europeus, mas abaixo também de metrópoles emergentes, como Johannesburgo, com 368, e Xangai, com 670. Com apenas uma biblioteca para cada 100 mil habitantes, só não perdemos para Mumbai, Cingapura e Istambul.
Já no caso dos teatros, a situação não melhora muito. Com 116 salas, ficamos bem atrás de cidades como Paris, com 353. "A maioria das cidades tem planos ambiciosos de desenvolver sua infraestrutura cultural, sem saber como garantir que essas facilidades atraiam as suas populações", acredita Paul Owens. "A impressão é de que São Paulo enfrenta o problema exatamente oposto. Muita demanda e oferta insuficiente. Será que essa não é uma situação que outras cidades deveriam invejar?"
Pode até ser. "Existe uma imensa demanda reprimida", aponta o secretário de Cultura. "Cada novo mínimo acréscimo é absorvido, cada mesa que colocamos a mais em uma biblioteca é imediatamente ocupada. É justamente a existência dessa demanda que nos alimenta."
Se existe um imenso público ávido por consumir cultura, também não falta uma parcela considerável que ambiciona criar. "O interessante é que, em São Paulo, a infraestrutura da cultura não está em todos os lugares. Mas a criação pode ser vista por toda parte. O grafite, por exemplo, é uma forma de arte que acontece de maneira informal, mas está se tornando cada vez mais e mais importante", acredita Matthieu Prin, um dos pesquisadores da BOP Consulting que participou do estudo.
Tudo isso não quer dizer, ele ressalva, que se possa prescindir de questões estruturais. "Infraestrutura é o meio de expor essa criatividade. Se ela não existe, as pessoas terão que achar outras formas de exibir seu potencial. Mas isso não significa que criatividade seja mais importante do que a estrutura."
Para a economista Lidia Goldenstein, não bastasse ser imenso, o problema exige uma visão que concilie a tradição e as inovações. "A gente ficou 30 anos sem investir em estrutura. Agora, não dá para só correr atrás do prejuízo sem investir no novo. O mundo não espera. O nosso problema é que temos que investir na estrutura do velho paradigma: sala de teatro convencional, sala de cinema. E a gente também tem que construir a infraestrutura do novo paradigma, que é banda larga."
O peso econômico dos setores criativos já seria argumento mais do que suficiente para justificar mais investimentos e políticas. "O setor 'videogames e efeitos especiais' representa para o século 21 o que a indústria automobilística foi para o século 20", lembra Lidia.
Nas metrópoles, contudo, cultura e arte podem desempenhar ainda um outro papel. "A dimensão não material da cultura parece ser mais forte a cada dia. E se torna particularmente importante se considerarmos os imensos desafios sociais que essas grandes cidades enfrentam", observa Paul Owens.
Obviamente, a cultura não pode ser vista como a panaceia para todos os problemas sociais, lembra Matthieu Prin. "Não é uma solução mágica. Não acaba com a pobreza. Tem que estar aliada a outros projetos." Mas, nos países da América do Sul, ela pode ter uma dupla utilidade: extrapola a propalada capacidade de revitalizar áreas degradadas (expediente usado em ampla escala na Europa). Pode tornar-se um importante mecanismo em regiões que não chegaram sequer a ser urbanizadas. "Se você anda pela periferia, fica muito claro como a cultura é uma proposta de urbanização", afirma Calil. "A maior necessidade das pessoas em uma cidade maltratada como a nossa, em que não existem praças ou parques, é por espaços em que possam conviver, estar juntas. Tenho convicção de que aqui esse é o maior papel que a cultura pode cumprir."
Novo espaço cultural em São Paulo pretende dar mais liberdade a artistas por Graça Adjuto, Jornal Dia Dia
Novo espaço cultural em São Paulo pretende dar mais liberdade a artistas
Matéria de Graça Adjuto originalmente publicada no caderno de Arte e Cultura do Jornal Dia a Dia em 10 de setembro de 2012.
São Paulo – Um espaço cultural independente para expor e pesquisar a produção contemporânea é a proposta do Pivô, inaugurado hoje (8) no centro de São Paulo. O projeto está instalado em área de 3,5 mil metros quadrados no Copan, edifício projetado por Oscar Niemeyer e conhecido como um dos símbolos da capital paulista. Segundo a diretora de Comunicação e Planejamento do Pivô, Marta Ramos-Yzquierdo, o local pretende dar espaço a artistas, sem pressões comerciais das galerias ou demandas burocráticas dos museus e instituições públicas.
“Vai ser um centro permanente. Estamos estudando novos projetos e a ideia é mostrar arte contemporânea, que nas galerias fica muito fechada em um projeto que, no final, tem que ser comercial e faz com que o artista muitas vezes não tenha liberdade completa”, explica.
Para a inauguração, o novo espaço conta com a exposição Da Próxima Vez Eu Fazia Tudo Diferente, feita em parceria com duas galerias. Entre as obras está a a produção Quase Sombra, do artista Alexandre Brandão. "Que fala de claro e escuro, que tem muito a ver com a obra dele, com esses desenhos que ele faz, e tem a ver com esse espaço que ficou na sombra 20 anos”, diz Marta ao relacionar a mostra ao espaço que estava fechado e sem uso e foi cedido pelo proprietário para a instalação do centro cultural.
A instalação Dimensão Encerrada, de Lucas Simões, também dialoga com o espaço ao criar um labirinto dentro do Pivô. De acordo com Marta, o diferencial do centro será apresentar o processo de produção dos artistas ao público. “Mostrar o artista trabalhando. Porque queremos aproximar mais [o público] do que são esses processos, porque arte contemporânea muitas vezes fica afastada do público”.
Para o futuro, o Pivô espera fazer novas parcerias e, inclusive, buscar recursos por meio das leis de incentivo à cultura.
setembro 5, 2012
Curador da Bienal fala sobre a exposição, TV Estadão
Curador da Bienal fala sobre a exposição
Vídeo originalmente publicado na TV Estadão.
Luis Pérez-Oramas fala sobre arte e o conceito "relacional" da 30ª Bienal de São Paulo, que acontece a partir do dia 7 de setembro no Parque do Ibirapuera
Ineditismo marca nova edição da Bienal por Camila Molina, O Estado de S. Paulo
Ineditismo marca nova edição da Bienal
Matéria de Camila Molina originalmente publicada no caderno de Cultura do jornal O Estado de S. Paulo em 4 de setembro de 2012.
A mostra será inaugurada nesta terça-feira, 04, para convidados e reúne criações de 111 artistas
"Uma Bienal inteligente, mas não bombástica", definiu ontem, em coletiva de imprensa, o venezuelano Luis Pérez-Oramas, responsável pela concepção da 30.ª Bienal de São Paulo, que será inaugurada nesta terça-feira, 04, para convidados e na sexta-feira, 07, para o público no grande pavilhão projetado por Oscar Niemeyer, no Parque do Ibirapuera. A edição do evento apresenta 2.900 obras de 111 artistas, segundo o diretor-presidente da Fundação Bienal de São Paulo, Heitor Martins. "Essa edição se distingue por seu vigor e ineditismo", afirmou o empresário, completando que 75% dos artistas participantes da exposição possuem trabalhos nunca exibidos. A edição também se espalha por outras instituições da cidade.
Na manhã de ontem, na apresentação da mostra para a imprensa, um dos painéis da parte externa do prédio da Bienal, na região destinada à entrada do público, apareceu pichado com iniciais de algum grupo. Como o fantasma da pichação vem rondando as aberturas das Bienais desde 2008 - com as polêmicas pichações nas últimas 28.ª e 29.ª mostras -, deu-se ontem, com o fato, o primeiro sinal de alerta. No início da tarde, funcionários da instituição já tentaram limpar as letras pichadas.
"Agora a 30.ª Bienal passa de iminência a experiência", disse ontem Oramas, referindo-se, na verdade, ao título da 30.ª edição, A Iminência das Poéticas. "Passamos por águas turbulentas e chegamos hoje ao porto", afirmou ainda o curador, desta vez, fazendo a menção à instabilidade pela qual a Fundação Bienal de São Paulo enfrentou no início do ano - em janeiro, a entidade teve suas contas bloqueadas por questionamentos da Controladoria-Geral da União sobre convênios firmados pela Bienal entre 1999 e 2007, mas conseguiu liminar pelo Tribunal Regional Federal de São Paulo para ter seus recursos desbloqueados e realizar a exposição.
Heitor Martins afirmou que o orçamento da mostra, de R$ 22,4 milhões, está assegurado. "Tivemos mais de 50 fontes de recursos", contou ele, cuja gestão termina em dezembro. Em comparação com 2009, o evento teve orçamento "20% menor", consumindo R$ 28,3 milhões e recebendo 530 mil visitantes. Martins enumerou que 65% do orçamento (cerca de R$ 15 milhões) foi captado por meio das Leis de Incentivo; 9% são recursos da Prefeitura de São Paulo; 7% do governo estadual; 2% através de serviços; e 17% de fontes privadas.
A 30.ª Bienal também tem programada para 2013, a partir de parceria com o Sesc, itinerância de recortes da mostra para cidades de São Paulo. "O número de itinerâncias será menor que em 2011, mas com presenças mais robustas de obras", disse Martins, calculando entre 7 ou 8 exposições.
Mostra sem curador reúne iniciantes e nomes consagrados por Gustavo Fioratti, Folha de S. Paulo
Mostra sem curador reúne iniciantes e nomes consagrados
Matéria de Gustavo Fioratti originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 4 de setembro de 2012.
Para participar de exposição no Liceu de SP bastava levar uma obra de autoria própria
Para construir a obra "Totem", o italiano Francesco Di Tillo, 28, passou o domingo recolhendo o lixo produzido pelos 310 artistas que compartilharam um mesmo espaço.
Bem no centro do galpão do Liceu de Artes e Ofícios, na Luz, a montanha foi ganhando volume, cheia de plástico bolha e papelão.
Assim como Tillo, os outros artistas da exposição "Artes e Ofícios¹ - Para Todos" não foram selecionados por um curador. Para conseguir um lugarzinho, bastava chegar com uma obra de autoria própria e fazer a inscrição.
A porta do galpão foi aberta às 11h, quatro horas depois de o estudante de artes Fernando Braida, 21, de Juiz de Fora (MG), chegar com um retrato em aquarela. A fila cresceu até quase cem metros. Ao meio-dia, a organização passou a distribuir senhas, para que os artistas não precisassem ficar em fila sob o sol.
Ao som de marteladas, os trabalhos foram ocupando todo o galpão. Alguns artistas mais cotados deram as caras, como Rodolpho Parigi, Fábio Gurjão e Antonio Malta.
O diretor de criação Nathan Cornes, 37, não conhecia o trabalho de Nuno Ramos, que instalou um tríptico à direita de sua obra. "Acho ótimo igualar todo mundo. Aqui, você vai ter um quadro de um cara da praça da República e outro feito por alguém da USP que está desconstruindo a arte do século 20", diz.
A obra de Cornes chama-se "Pirueta". Nela, cubos de gelo com aquarela derretem sobre a tela, dando origem a paisagens quadriculadas.
A divulgação da exposição, por Facebook, chegou aos ouvidos de artistas que trabalham fora do Brasil. As suecas Merzedes Sturm-Lie, 20, e Cecilie Hundevad Meng Sovensen, 26, demarcaram com fita adesiva o lugar onde vão realizar uma performance.
A dupla está pesquisando fatos relacionados ao anarquismo no Brasil e se interessou pela comunidade italiana Colônia Cecília, que existiu no Paraná no século 19.
São Paulo vira um ponto de encontro de curadores por Fabio Cypriano, Folha de S. Paulo
São Paulo vira um ponto de encontro de curadores
Matéria de Fabio Cypriano originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 4 de setembro de 2012.
A semana de abertura da 30ª Bienal de São Paulo (hoje para convidados, na sexta para o público) tornou-se uma plataforma de pesquisa e de divulgação de outras bienais ao redor do mundo.
Estão em São Paulo os curadores Fulya Erdemci, da Bienal de Istambul, Lauren Cornell, da Trienal do New Museum (Nova York), Gunnar Kvaran, da Bienal de Lyon, Yuko Hasegawa, da Bienal de Charjah (Emirados Árabes), Sofía Hernández Chong Cuy, da Bienal do Mercosul (Porto Alegre), e Massimiliano Gioni, de Veneza.
Kvaran, que no ano passado foi o curador da mostra "Em Nome dos Artistas", no pavilhão da Bienal de São Paulo, lança, hoje, para convidados, no Museu de Arte Moderna de São Paulo, o projeto da 12ª Bienal de Lyon.
"Proponho uma exploração das narrativas contemporâneas de arte em suas várias formas", disse Kvaran à Folha. "Estou agora num processo de prospecção de artistas que nos surpreendam ao recontar seus mundos em estruturas originais", diz ainda.
A Bienal de Lyon será aberta no próximo dia 12 de setembro e, um mês depois, Kvaran inaugura uma mostra de artistas brasileiros no museu Astrup Fearnley, em Oslo, realizada em parceria com Hans Ulrich Obrist.
Já amanhã, no Instituto Tomie Ohtake, Hasegawa anuncia a lista de artistas da 11ª Bienal de Charjah. Junto a ela estará a xeque Hoor Al-Qasimi, presidente da Fundação de Arte Charjah (SAF).
Antes de vir ao Brasil, ambas passaram por Lima, no Peru, de onde Al-Quasimi falou com a Folha.
A xeque, que tinha apenas 13 anos quando da primeira da Bienal, em 1991, hoje é a responsável pela SAF, fundação pública que a organiza.
Al-Qasimi estudou arte em Londres, onde completou mestrado na Royal Academy. Em Charjah, ela também organiza exposições.
"Vou aproveitar a viagem a São Paulo, que visito pela segunda vez, para conhecer artistas e curadores brasileiros com os quais eu possa trabalhar", afirma.
Na edição passada, a Bienal de Charjah tornou-se o centro de uma polêmica por retirar uma obra pública na cidade, realizada pelo argelino Mustapha Benfodil.
"Foi um erro ter aprovado essa obra, ela não teria lugar em espaços públicos em Nova York ou Londres. Mas foi um pedido da comunidade e aprendemos que é importante não esquecer o público local", diz a xeque.
setembro 3, 2012
Bienal de São Paulo chega à 30ª edição renovada por Camila Molina, O Estado de S. Paulo
Bienal de São Paulo chega à 30ª edição renovada
Matéria de Camila Molina originalmente publicada no caderno de Cultura do jornal O Estado de S. Paulo em 2bde setembro de 2012.
O maior evento das artes no Brasil solucionou problemas que ameaçaram sua realização
A Bienal de São Paulo chega à sua 30.ª edição de forma renovada, apesar das dificuldades de percurso que quase inviabilizaram sua realização. Com um amplo número de obras, cerca de três mil, criadas por 111 artistas, e um projeto curatorial consistente, idealizado pelo venezuelano Luis Pérez-Oramas, a abertura da mostra se desdobrará em três momentos ao longo desta semana. Na terça, será a vez dos convidados; quarta e quinta, o pavilhão estará reservado para eventos do serviço educativo. E na sexta-feira, no feriado de 7 de setembro, os portões da Bienal serão abertos para o público.
O título da 30.ª Bienal de São Paulo, A Iminência das Poéticas, é considerado pela curadoria não um tema, mas um eixo condutor da mostra. "Trata-se mais de um pretexto para pensar, para lançar perguntas", explica Oramas, curador responsável pelo departamento de arte latino-americana do Museum of Modern Art (MoMA) de Nova York.
A seleção de artistas e obras da mostra foi feita em conjunto com os curadores-associados André Severo e Tobi Maier e a curadora-assistente Isabela Villanueva. Questões como multiplicidade, recorrência e mutabilidade das poéticas, aspectos fortemente presentes no mundo contemporâneo, estão privilegiados nesta edição.
"Fizemos uma mostra como poucas na história da Bienal. Ela propõe uma temática nova de debate, um discurso novo", analisa o presidente da Fundação Bienal de São Paulo, o empresário Heitor Martins, à frente da diretoria da instituição desde 2009. Segundo ele, a 30.ª edição foi realizada com um orçamento "20% menor" que o da edição anterior. "Concluímos toda a captação de recursos, de R$ 22,4 milhões, antes da abertura da mostra."
Nos primeiros meses do ano, a Fundação Bienal passou por momento de insegurança quanto à realização desta edição do evento. Em janeiro, a entidade teve suas contas bloqueadas por questionamentos da Controladoria-Geral da União (CGU) sobre convênios firmados pela Bienal entre 1999 e 2007. Uma liminar concedida em março pelo Tribunal Regional Federal (TRF) de São Paulo possibilitou que a instituição tivesse seus recursos desbloqueados e pudesse fazer a captação orçamentária para a 30.ª edição. "Vejo o futuro com otimismo. Paradoxalmente, a crise fortaleceu o diálogo com o Ministério da Cultura e estamos buscando caminhos para analisar as contas do passado e buscar soluções concretas", diz Heitor Martins.
Nesta edição, além de um mapa do pavilhão da Bienal e informações sobre outros espaços que dialogam com a mostra, textos analisam as diversas facetas do evento. A partir de conversa com Oramas, Antonio Gonçalves Filho apresenta as ideias que guiaram suas escolhas. A crítica Maria Hirszman trata da estrutura da exposição. Simonetta Persichetti aborda a presença da fotografia. Já o crítico Rodrigo Naves investiga as relações entre arte e loucura por meio da obra de Artur Bispo do Rosário, um dos homenageados deste ano. E Teixeira Coelho, curador do Masp, traça um panorama histórico das 29 edições anteriores do evento e discute seus desafios futuros.
Obras artesanais de Cruz-Diez ultrapassam ambição high-tech por Fabio Cypriano, Folha de S. Paulo
Obras artesanais de Cruz-Diez ultrapassam ambição high-tech
Matéria de Fabio Cypriano originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 2 de setembro de 2012.
Ao perceber a natureza instável da cor, Cruz-Diez criou um corpo de trabalhos caracterizados pela exigência da participação do espectador
Muitos foram os caminhos trilhados por artistas latino-americanos para escapar dos cânones modernos e proporcionar ao espectador novas formas de percepção da arte.
"Cruz-Diez: a Cor no Espaço e no Tempo", em cartaz na Pinacoteca do Estado, apresenta uma das pesquisas mais originais e consistentes de uma dessas trilhas, a partir da trajetória do venezuelano Carlos Cruz-Diez, 89.
A mostra, organizada pelo Museu de Belas Artes de Houston e com curadoria de Mari Carmen Ramírez, apresenta 150 obras que abarcam toda a trajetória de Cruz-Diez.
Como grande parte dos artistas de sua geração, ele iniciou sua carreira com pinturas figurativas, nos anos 1950.
Contudo a temática de conteúdo social, como a miséria de Caracas, logo foi trocada por murais cromáticos, graças a uma lógica de certa forma comum a outros latinos.
Se ao pintar a pobreza Cruz-Diez não podia transformá-la, melhor criar situações que alterassem a percepção dos que olhassem para suas obras, permitindo, assim, novas experiências.
Com isso, sua grande investigação passa a ser a manifestação da cor no espaço.
Percebendo a natureza instável da cor, de acordo com o deslocamento do observador e a organização cromática na obra, Cruz-Diez criou um corpo de trabalhos caracterizados pela exigência da participação do espectador.
Afinal, é apenas com o movimento do espectador que seus trabalhos se realizam de fato, o que se pode comprovar na série "Fisiocromias", na Pinacoteca.
Tal procedimento ampliou-se para obras de grande porte, como os projetos apresentados na mostra em maquetes e fotos.
Apesar da construção de suas obras partir de um caráter simples e artesanal, Cruz-Diez alcança um resultado que vai muito além do que se produz com alta tecnologia.
Mostra no MAM revisita a carreira de Adriana Varejão por Gustavo Fioratti, Folha de S. Paulo
Mostra no MAM revisita a carreira de Adriana Varejão
Matéria de Gustavo Fioratti originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 1 de setembro de 2012.
Adriana Varejão - Histórias às margens no MAM-SP - 04/09/2012 a 16/12/2012
Conjunto de obras da artista plástica abre ao público nesta terça e reúne obras inéditas no Brasil em exposição paralela à Bienal de SP
Poucos artistas jovens conquistaram o espaço que o MAM vai conceder a partir desta terça-feira à artista carioca Adriana Varejão, com uma mostra panorâmica de sua carreira.
A exposição "Histórias às Margens" abre também em um mês nobre no calendário do museu, às vésperas do início da Bienal de São Paulo.
O quadro mais antigo presente na mostra, "Milagre dos Peixes", de 1991, já se debruça sobre uma das principais investigações da artista: imitar outro suporte. A obra reproduz a óleo o que seriam peixes pintados sobre cacos de porcelana.
Em pé, diante de uma paisagem da mesma série pintada à moda chinesa dos séculos 11 e 12, a artista explica: "Aqui eu imito nanquim sobre papel, mas refaço em óleo sobre tela; mudo a técnica mas preservo a maneira de pintar, como se eu estivesse fazendo uma pintura chinesa de outro século".
O quadro pertence à série "Terra Incógnita", em que a artista cria um contato cultural entre Brasil e China. A pintura funde, em uma mesma paisagem, iconografia dos dois universos.
"É um território híbrido, um território que não existe", lembra Adriano Pedrosa, curador da mostra.
Em detalhes, há desenhos que vasculham a influência chinesa no barroco brasileiro intermediada pela colonização portuguesa -que tinha terras na África e na Ásia.
Com 47 anos, Varejão consolidou uma obra de destaque entre artistas brasileiros de sua geração, dedicada ainda a uma outra questão: a interface entre pintura e representação tridimensional.
Em quadros que imitam azulejarias, por exemplo, pulsam cortes e incisões de onde saltam carnes esculpidas em espuma de poliuretano, tudo devidamente pintado em vermelho-sangue.
Essa é a descrição de um trabalho que, como muitas das 41 peças da mostra, ainda não esteve no Brasil. "Azulejaria Verde em Carne Viva" (2000) impressiona pelo contraste entre a geometria quadriculada e as vísceras que saem de dentro dela. Pertence à Tate Modern, de Londres.
Atualmente, há obras de Varejão também nos acervos do Guggenheim, de Nova York, na Fundação Cartier, de Paris, no Stedelijk, de Amsterdã, e em coleções particulares almejadas dentro do circuito das artes.
Uma de suas telas foi arrematada por R$ 2,97 milhões em um leilão promovido pela Christie's, de Londres, um recorde entre os artistas contemporâneos brasileiros.
A obra não está presente, mas a mostra do MAM traz um trabalho da mesma série: "Parede com Incisões à la Fontana", homônima à pintura leiloada em 2011.
Exposições convertem as galerias em butiques por Silas Martí, Folha de S. Paulo
Exposições convertem as galerias em butiques
Matéria de Silas Martí originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 1 de setembro de 2012.
Espaços comerciais exibem obras críticas aos mecanismos do mercado
Artistas como Lucia Koch, Jac Leirner, Anna Maria Maiolino e Tamar Guimarães invertem valores em suas obras
DE SÃO PAULO
Quando a obra da dupla Claire Fontaine, o letreiro em neón "Capitalism Kills Love", foi montado pela primeira vez, em Miami, os donos do prédio exigiram sua retirada, considerando a peça um ataque direto ao sistema econômico dos Estados Unidos.
Sem esse tipo de pudor, a galeria Nara Roesler decidiu abrir seu novo espaço na avenida Europa, vizinha de concessionárias da BMW e da Lamborghini, com esse mesmo trabalho, criando uma tensão com sua condição de espaço para vender arte.
"É uma exposição não comercial dentro de um espaço comercial", diz Patrick Charpenel, curador da mostra paulistana e da coleção mexicana Jumex, um dos maiores acervos privados do mundo. "Quase nenhuma das obras está à venda, não pensei nisso ao criar a mostra."
Julieta González, que levou Marx à galeria Luisa Strina, também diz ter pensado a mostra para um contexto comercial, ressaltando uma tensão entre arte e dinheiro.
"Pensei essa exposição como um teatro, uso o dispositivo brechtiano de expor o aparato por trás, faço os visitantes atravessarem o escritório, a reserva técnica", diz González, do Museu Tamayo Rufino, na Cidade do México.
"Todos esses artistas têm galeria, nenhum deles está fora do mercado. Não tem por que negarmos isso. Parece contraditório, mas é mostrar mesmo as obras dentro de uma butique, refletir o boom econômico de São Paulo", diz.
INVERSÃO DE VALOR
Em maior ou menor grau, artistas que abrem hoje individuais nas galerias da cidade também parecem pensar nos mecanismos por trás desse mercado em ebulição.
Lucia Koch, na Nara Roesler, exibe suas peças inspiradas num mostruário de materiais de construção -um arsenal escancarado de formas. Até os restos de suas peças de acrílico recortadas viram obra, vendidos em caixas de entulho plástico e colorido.
Na galeria Millan, Anna Maria Maiolino decidiu mostrar os moldes de suas esculturas de argila em vez das peças extraídas dali, invertendo a noção de positivo e negativo. "Resta só a memória daquela escultura", diz ela.
Jac Leirner volta a catalogar o periférico para criar o centro de suas novas obras na Fortes Vilaça. Ela cria trabalhos usando o material que serve para pendurar telas e montar instalações - cabos de aço, parafusos, prendedores, níveis de arquiteto.
"Sempre achei que esse material valesse ouro", diz Leirner. "É tentar provocar uma inversão de valores."
No galpão da Fortes Vilaça, Tamar Guimarães mostra uma fotonovela em que retrata uma festa que reuniu atores e patrocinadores de seu próprio projeto, uma alusão, ela diz, ao momento histórico em que "colecionar arte virou uma necessidade social".
Um respiro -irônico- no meio da selvageria econômica, a coletiva que a Mendes Wood abre na segunda vai contra a fúria do circuito, com obras difíceis de enxergar, claras ou escuras demais, exigindo uma pausa por parte do público.
Efeito domino por Silas Martí, Foolha de S. Paulo
Efeito domino
Matéria de Silas Martí originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 1 de setembro de 2012.
Turbinadas pela inauguração da Bienal, galerias abrem grandes mostras
Um letreiro em néon afirma que o capitalismo mata o amor. Seria mais uma obra de arte irônica, não fosse o fato de estar numa galeria da avenida Europa, em São Paulo, um dos metros quadrados mais caros da América do Sul.
No mesmo bairro dos Jardins, um busto de Karl Marx foi instalado na entrada da galeria Luisa Strina. Lá estão obras que discutem o movimento operário e o socialismo. Uma delas é uma biblioteca com clássicos da ideologia esquerdista -todos com lombada vermelha.
Dias antes da abertura da Bienal de São Paulo, que começa nesta terça, galerias da cidade abrem brechas conceituais como essas -mais ou menos irônicas- para abrir suas maiores mostras do ano.
São exposições que não se restringem ao elenco das casas. Recrutam curadores de fora e apostam na escala monumental de certos trabalhos para rivalizar com o peso mastodôntico da Bienal, que neste ano reúne 111 nomes.
Fora do pavilhão no Ibirapuera, gigantes da arte contemporânea ganham as galerias. Anna Maria Maiolino e a mexicana Julieta Aranda, destaques da atual Documenta, em Kassel, na Alemanha, Jac Leirner e Tamar Guimarães são alguns dos artistas abrindo individuais hoje.
Em mostras coletivas, estão trabalhos de estrelas globais, como Tatiana Trouvé, Roman Signer, Lawrence Weiner, Christian Marclay, Danh Vo e Shilpa Gupta.
Essa hipertrofia do circuito também se deve em parte ao fim da Paralela, tradicional mostra que servia de vitrine para as galerias e que foi reformulada neste ano.