|
maio 31, 2012
"Arte depende de colecionador", diz Ferraz por Fabio Cypriano, Folha de S. Paulo
"Arte depende de colecionador", diz Ferraz
Matéria de Fabio Cypriano originalmente publicada na Ilustrada no jornal Folha de S. Paulo em 30 de maio de 2012.
Para João Carlos Figueiredo Ferraz, instituições públicas não contam com política sólida para aquisição de obras
Acervo de seu instituto em Ribeirão Preto reúne mais de 800 peças, que o curador tentou ceder à Pinacoteca do Estado
"Se não fosse o colecionismo privado, não existiria arte contemporânea brasileira, porque as instituições públicas não têm uma política consistente de aquisição", desabafa o colecionador João Carlos Figueiredo Ferraz, 60.
Por dez anos, ele próprio tentou ceder em comodato sua coleção de mais de 800 obras à Pinacoteca do Estado. Ferraz vive há 30 anos em Ribeirão Preto, mesmo período dedicado ao colecionismo. Sua única condição era que o acervo deveria permanecer na cidade, num espaço a ser doado pela prefeitura.
"O único prefeito que me ajudou mesmo foi o [Antonio] Palocci. Desde que ele deixou o cargo [em 2002], nenhum prefeito me disse não, mas nunca ajudou, por isso resolvi construir um espaço por conta própria", conta Ferraz, que é filho do ex-prefeito de São Paulo, José Carlos Figueiredo Ferraz (1971-73).
Inaugurado em outubro do ano passado, o Instituto Figueiredo Ferraz possui uma área de 2.500 m², sendo que 1.800 m² de área expositiva, quase o dobro do Museu de Arte Moderna de São Paulo.
"Seria muito barato, mas falar de cultura em Ribeirão ou em qualquer parte do país é como falar de extraterrestres para o Papa", ironiza.
Ele não conta quanto gastou na obra, mas estima-se que a edificação não tenha saído por menos de R$ 1,25 milhão. Criado para abrigar uma coleção privada, normalmente confinada em uma residência, o espaço é público e ganhou dimensões de museu moderno com seus cubos brancos.
PELA CULTURA
Enquanto alguns colecionadores preferem doar obras e dinheiro a museus no exterior, Ferraz criou uma instituição no país.
Ainda assim, ele poupa os colegas: "Não posso criticar os colecionadores que apoiam museus estrangeiros. Ir ao MoMA e ver Waltercio Caldos, Lygia Clark ou Leonilson é bom para o Brasil."
No entanto, são os governos que permanecem em sua mira: "A Dilma [Roussef] disse que queria trazer de volta ao Brasil o 'Abaporu', mas antes ela tinha era que cuidar dos museus, que estão péssimos. Vamos preservar o que já está aqui."
Empresário do ramo da agropecuária e da importação, Ferraz critica as taxas aplicadas às obras de arte no país. "Por falta de formação, os governantes as consideram obra de arte como uma mercadoria qualquer."
A iniciativa pioneira, longe do eixo das capitais, poderia ser comparada a Inhotim, em Minas, do colecionador Bernardo Paz. Ferraz, no entanto, prefere distinguir-se do projeto mineiro: "Meu espaço está em área urbana".
EDP e Instituto Tomie Ohtake anunciam os finalistas para a 3ª edição do Prêmio EDP nas Artes, Portugal Digital
EDP e Instituto Tomie Ohtake anunciam os finalistas para a 3ª edição do Prêmio EDP nas Artes
Matéria originalmente publicada no caderno Cultura do jornal Portugal Digital em 29 de maio de 2012.
Exposição dos trabalhos dos 26 finalistas será inaugurada dia 4 de junho quando serão anunciados os três vencedores.
São Paulo - O Instituto Tomie Ohtake, com o patrocínio do Grupo EDP no Brasil e apoio do Instituto EDP, apresenta no dia 04 de junho às 20 horas, os finalistas da 3ª Edição do Prêmio EDP nas Artes e abertura da exposição de seus trabalhos.
A exposição acontecerá até 24 de junho com entrada franca e os três vencedores terão sua produção acompanhada por críticos durante um ano, além do prêmio desenhado pelo artista Artur Lescher. Caberá ainda ao primeiro colocado uma bolsa de dois meses no The Banff Centre, no Canadá, ao segundo uma viagem ao exterior, pelo programa Dynamics Encounters, e ao terceiro cursos no Instituto Tomie Ohtake. O professor indicado pelo vencedor também receberá uma viagem ao exterior pelo programa Dynamics Encounters.
Foram inscritos 284 jovens artistas provenientes de 15 Estados brasileiros, entre eles São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Distrito Federal, Espírito Santo, Santa Catarina, Paraná, Goiás, Pernambuco, Ceará, Bahia, Pará, Paraíba e Tocantins.
O júri foi composto por Agnaldo Farias (coordenador do júri, crítico de arte, professor doutor de História da Arte da FAU-USP, curador do Instituto Tomie Ohtake e da 29ª Bienal Internacional de São Paulo); Stela Barbieri (diretora da Ação Educativa do Instituto Tomie Ohtake e artista plástica); Paulo Miyada (arquiteto e membro do Núcleo de Pesquisa e Curadoria do Instituto Tomie Ohtake); Leda Catunda (artista plástica); Lucas Dupin (artista plástico vencedor da segunda edição do prêmio, em 2010) e Eduardo Leme (diretor da Galeria Leme).
O prêmio replica a experiência do Grupo EDP em desenvolver talentos nas artes plásticas. As edições anteriores nos mostraram que há jovens com grande potencial, mas sem oportunidades para projeção neste mercado.
Confira os 26 jovens artistas selecionados para concorrer a 3ª Edição do Prêmio EDP nas Artes:
São Paulo - Alan de Lima Pinto, Anna Carolina Israel da Veiga Pereira, André Tereyama Haguiuda, Andrea Atanasio Sandtfoss, Felipe Salem, Henrique César de Oliveira, Jan de Maria Nehring, Jimson Ferreira Vilela, Julia Massa Regina Armentano, PirarucuDuo (Fernando Visockis Macedo e Thiago Parizi), Renan Teles de Melo, Sandra Maria Lorenzon Távera, Selene Alge e Marcus Vinicius Braga.
Belo Horizonte - Maria Gabriela de Carvalho Ribeiro Alves, Ricardo de Almeida Reis, Tales Bedeschi Farias e Vicente Pessôa.
Rio de Janeiro - Alexandre Colchete Broda, Fernanda Furtado de Mattos Ribeiro e Sofia Gerheim Caesar.
Brasília - Gregório Soares Rodrigues de Oliveira, Miriam Araujo e Virgilio de Barros Abreu Neto.
Rio Grande do Sul - Erika Gonçalves Romaniuk e Rafael Pagatini.
Serviço
Prêmio EDP nas Artes - Inauguração da exposição e anúncio dos vencedores
Quando: 4 de junho
Horário: 20 horas
Local: Instituto Tomie Ohtake
Av. Faria Lima 201 (entrada pela Rua Coropés 88) – Pinheiros – São Paulo
Fone: 11. 2245-1900
*Exposição até 24 de junho, de terça a domingo das 11 às 20 horas.
Nuno Ramos abre mostra em BH com série de trabalhos que resumem sua trajetória por Sérgio Rodrigo Reis, uai
Nuno Ramos abre mostra em BH com série de trabalhos que resumem sua trajetória
Matéria de Sérgio Rodrigo Reis originalmente publicada no caderno Cultura do jornal Uai em 16 de maio de 2012.
Fazem parte da exposição desenhos, instalações e pinturas. Artista diz que mantém parceria produtiva com Minas
O artista plástico Nuno Ramos, diante do Brasil, “um país onde tudo está pronto e não está, onde há ainda muito o que fazer”, se deleita. “É o mais legal daqui”, conta ele, que se alimenta desse caos, e das soluções encontradas para os problemas nacionais, para criar e conceber a própria obra, seja nas artes plásticas, na literatura, no cinema e na música. “Essa confusão é a minha estética”, resume ele, cheio de projetos em andamento nas mais variadas áreas de atuação, boa parte com interface com Minas Gerais. A abertura da exposição Só lâmina, nesta quinta para o público, no Sesc Palladium, em Belo Horizonte, é oportunidade para uma aproximação com o processo criativo do artista.
A mostra reúne 11 desenhos, oito deles representações visuais de estrofes do poema Uma faca só lâmina, de João Cabral de Melo Neto. Também apresenta Luz negra, instalação feita a partir de caixas acústicas que, no chão, tocam a canção Juízo final, de Nelson Cavaquinho. Em outro momento da exposição, dois blocos de pedra, um diante ao outro, estabelecem diálogo a partir do texto escrito pelo artista e lido pelos atores Gero Camilo e Marat Descartes. “A mostra foi adquirida pelo Sesc e já circulou por mais de 40 cidades. É, essencialmente, meu pé na estrada. Tentei propor uma antologia, dando conta da diversidade de gênero e linguagem com que trabalho”, explica Nuno, que estará presente na abertura.
São grandes os projetos aos quais o artista se dedica atualmente. Além de letras de canções, feitas em parceria com Rômulo Froes e com Clima, que deverão se desdobrar em discos em breve, flerta com a literatura, quase diariamente. Autor premiado com várias obras publicadas, entre elas o livro de contos Ó e o de poesia Junco, ambos da Editora Iluminuras, ele prepara para ano que vem Os sermões, livro poético ambientado em Ouro Preto. “É verso, mas prefiro chamar de prosa entrecortada. Será um livro longo, erótico e o nome é referência a um personagem que, quando vai à praia, sobe num banquinho e começa a fazer seu sermão”, adianta.
No entanto, são os projetos de artes visuais que mais o aproximam de Minas. “A cada 15 dias estou aí, culpa do Allen Roscoe”, diz ele, citando a parceria com o arquiteto mineiro que o tem ajudado a tirar do papel a maioria de suas obras. “É um privilégio trabalhar com ele. Me dá segurança, entro com as ideias e ele com a execução, que não é só o lado mecânico do processo, mas também o criativo. Depois que entrou na minha vida, tudo melhorou.” Como trabalha com projetos inéditos, a maioria deles concebidos no limite físico dos materiais empregados na elaboração das peças, a contribuição do arquiteto, que também é engenheiro mecânico, tem sido primordial. Durante muitos anos, Allen manteve parceria semelhante com escultor Amílcar de Castro (1920-2002).
No chão As soluções para os projetos desenvolvidos para a exposição que Nuno Ramos planeja para agosto, na Celma Albuquerque Galeria de Arte, em Belo Horizonte, têm sido desenvolvidas em Nova Lima pelo arquiteto. “Estou com o coração nela”, avisa Nuno, que vai, literalmente, quebrar todo o chão da galeria para realizar uma enorme instalação no espaço. Ela é inspirada em casas onde morou e na notícia inusitada de um homem que foi cavar um poço artesiano e acabou atingindo um vulcão, que passou a jorrar lava, inundando toda a região próxima ao buraco.
Cada casa onde morou será lembrada por Nuno Ramos por meio de cortes dos cômodos, que serão reproduzidos no chão da galeria mineira em tamanho real, como piscinas. Elas serão preenchidas com lama preta, outra com lama branca e, a última, com material marrom. “Vou escolher partes de cada uma das casas que surgirão do chão. É como se a lama e o que está sobre ela fossem estágios diferentes da mesma matéria. Quase como se a casa tivesse voltado a ser novamente matéria”, explica. O projeto que fará em Viena, na Áustria, no ano que vem, seguirá raciocínio parecido.
O outro projeto que está sendo desenvolvido junto com Eduardo Climachauska é O globo da morte de tudo, que será apresentado em dois momentos na Galeria Anita Schwartz, no Rio de Janeiro, em novembro. Na abertura da mostra, o visitante verá prateleiras de sete metros de altura com cerca de 5 mil objetos quebráveis, sustentando dois globos da morte em perfeito equilíbrio. Quinze dias depois, dois motociclistas ocuparão os postos dentro dos globos e farão as apresentações, desestabilizando tudo em volta e provocando a queda dos objetos. “O resultado será o segundo momento da exposição, que poderá ser visto por mais 45 dias. Tudo será amplamente documentado e catalogado”, antecipa.
Mentor de Inhotim, Bernardo Paz busca na arte contemporânea uma forma de educar, www.estadao.com.br
Mentor de Inhotim, Bernardo Paz busca na arte contemporânea uma forma de educar
Matéria originalmente publicada no caderno de Cultura do jornal o Estado de S. Paulo em 14 de maio de 2012.
Empresário dono de mineradora Itaminas transfere praticamente tudo o que ganha para o projeto
Para Bernardo Paz, a caminhada da mineração para a arte foi árdua. Empresário self made, exportando desde os anos 80 para a China - "o partido comunista chinês entrou de sócio e me deu US$ 10 milhões em 1986" -, o idealizador de Inhotim conta que chegou a ter 39 empresas, nove mil funcionários e custos baixíssimos. O Brasil mudou, seu grupo entrou em processo difícil e, sem apoio do BNDES, "eu tinha oficial de Justiça na minha porta todo dia. Era um inferno a minha vida na década de 90". Paz esclarece que, no auge da crise, entre pagar impostos ou funcionários, optou por seus empregados. E acabou tendo que entrar no Refis.
O mineiro só respirou melhor em 2000, com a alta do preço do minério. Hoje, sua Itaminas fatura cerca de R$ 600 milhões por ano, e ele transfere praticamente tudo o que ganha para Inhotim. "Isto é a minha vida", diz o homem que, não sabendo ser impossível, foi lá e fez.
Paz só concordou em dar entrevista depois que a colunista conhecesse o parque de 300 mil metros quadrados, ao lado da cidade de Brumadinho em Minas. A chegada é indescritível, tamanha a harmonia entre os projetos arquitetônico e de jardinagem. Ao se percorrer as alamedas projetadas inicialmente por Burle Marx, esbarra-se em pavilhões gigantes que nada devem a qualquer museu no mundo. Ele não revela quanto enterrou ali, mas há quem estime mais de R$ 500 milhões. Nunca teve ajuda de governos. No aguardo da cobiçada obra de Anish Kapoor - o artista indiano está desenhando algo especial para lá -, Paz está hoje empenhado em montar um complexo imobiliário que possa dar sustentabilidade à sua singular criação. Ele abrange desde hotéis a até um aeroporto. A mineradora hoje mantém Inhotim praticamente sozinha, mas seu criador quer perpetuá-lo. E começa a contar com apoio de empresas do porte do Itaú, Vale, Votorantim e Vivo.
A seguir, os principais trechos da conversa com a coluna.
Como você começou a se interessar por arte?
Eu comprava obras de arte moderna. Hoje, tenho pavor de arte moderna. Vou tentar resumir. Antes da fotografia, arte era muito importante, era a única forma de você mostrar aos outros os lugares, os acontecimentos, as pessoas. E era muito controlada pelos ricos, pelos reis, pela Igreja.
Eram retratos mesmo.
Sim, inclusive de lugares, que você jamais veria não fosse por meio da pintura. Você nem saberia como era o rosto de uma pessoa. Imortalizava-se por meio da pintura. Veio a fotografia, e o modernismo passou a ser uma fuga da fotografia. O quadro não tinha mais sentido em si mesmo ou passou a ter sentido só para os gênios que tentavam traços de mulheres deformadas, cubismos e outras coisas mais, fugindo da fotografia. Mas arte, para mim, sempre foi educação. Foi e é.
E como a arte contemporânea pode ser educativa?
Agora nós vamos chegar lá. A arte passou por cem anos em que não se transformou em processo educativo nem cultural. Quem era Picasso? Um devasso que gostava de mercado, gostava de comércio, ia à galeria e perguntava qual quadro estava vendendo mais. Aí, fazia mais dez. Assim foi a arte moderna. Não ensinou nada a ninguém.
Até artistas como Gauguin você inclui nessa lista?
Gauguin é uma pessoa que, de alguma forma, me traz simpatia. É um homem que viajou para o Taiti, sofreu o diabo para pintar aquelas mulheres maravilhosas, morreu de sífilis. Mas era um homem entregue à arte, como foi Van Gogh. São pessoas em que o sangue aparece mais do que a obra.
Michelangelo você também acha comercial?
Não, espera aí, Michelangelo é outra história. Michelangelo era outro momento, o Renascimento, era um grande artista. Agora, os modernistas não têm nada a ver, não têm sentido. Como você educa uma criança? Esse amarelo, só esse artista pintava esse amarelo. Justifica? A criança aprendeu o quê? Que um amarelo é diferente de outro amarelo? Olha esse azul, só Cézanne pintava esse azul. Pelo amor de Deus. Cézanne tem uma história bonita, foi para o mar, foi pintar a claridade, deixou uma marca. Mas como um azul diferente de outro azul educa uma criança? Então, um monte de teóricos da arte moderna falam palavras difíceis, mas não dizem nada.
A que você atribui o sucesso dessa gente, então?
Foi a única arte plástica que existiu do período da fotografia para cá. Na fuga da fotografia, eles partiram para essa arte da deformação da pessoa, para a arte abstrata e para uma série de artes que não criavam emoção. Às vezes, um quadro enorme com uma paisagem maravilhosa dá até vontade de embarcar lá dentro. Mas isso era muito difícil, eram mais os clássicos. Já essa arte deformante, essa arte abstrata, o que isso trouxe de benefício para a sociedade, a não ser para alguns ricos que querem mostrar que têm em casa um quadro que custou US$ 20 milhões?
Vai criar polêmica com isso.
Manda à m... as pessoas. Aí, entrou Duchamp, primeiro exemplar da arte contemporânea. Entrou com uma curiosidade, a arte passou a ser uma curiosidade. E, da curiosidade, ela passou à crítica. Hoje, toda a arte contemporânea é crítica. Em todos os sentidos: crítica na ecologia, na religião, na situação política, nas questões sociais. Ela exalta os benefícios criados, critica e destrói a sociedade atual, tentando criar uma sociedade melhor. Você passa por Inhotim e entra no Através. O que é o Através? Uma simplificação das dificuldades da vida. Você pisa em cacos de vidro, vai atravessando um monte de obstáculos para chegar ao outro lado. O que significa isso? Você enxerga o outro lado, mas não vai reto.
Você tem o Hélio Oiticica em Inhotim. Ele educa?
O Hélio criou a arte interativa, a alegria, uma arte em que as pessoas participam daquele processo artístico. Essa interatividade do artista com a sociedade...
Você acha que educa?
Totalmente. Uma criança que vai a Inhotim vibra mais do que um adulto. Agora, entra com ela no MoMA. A criança quer ir embora 15 minutos depois, ela não suporta. E o MoMA é um museu extraordinário, criado por pessoas muito inteligentes, de artistas extraordinários. Mas a arte contemporânea não funciona no MoMA, porque ela exige espaços muito grandes, que não cabem dentro de um andar.
Foi por isso que você criou Inhotim? Por causa do espaço?
Foi intuitivo, percebi que a arte contemporânea exigia isso e chamei os artistas para pensarem seus sonhos. E eles colocaram esses sonhos lá. Eu fiz este jardim sem sentido, só era belo. Comecei, então, a construir alguns pavilhões de arte - que passaram a ser visitados por um público diferenciado, que tomou um susto com o que estava sendo feito. Foi a partir dessa reação que comecei a observar esses visitantes mais atentamente, a ver os olhos brilharem. Pensei: estou certo, o caminho é esse. O público está sendo educado. E qual era esse público? Classe média alta.
E como se deu o start do projeto de Inhotim?
Numa conversa com o Tunga, ele me falou: esquece o modernismo, porque a verdade está na arte contemporânea. Aí, sim, você saiu da fotografia; aí, sim, você não pode ser repetido, não é mais uma cultura.
Qual foi o empurrão?
Foi loucura. Não me pergunte, porque nem eu sei. Fui fazendo. Eu nasci e sofria, a cada dia da vida, porque não era do tamanho que queria ser. Cada dia que passa, hoje, eu sofro, porque quero ser maior do que fui ontem. Esse processo é extremamente angustiante.
Mas maior em que sentido?
Você tem de pensar grande a vida toda. O que é Inhotim hoje? O que era Inhotim há dez anos?
Utopia que virou realidade?
Inhotim está de pé. E, além de curadores do mundo inteiro, que aprendem no parque o que é arte contemporânea, temos também cientistas de todos os cantos do planeta nos nossos laboratórios. Fazem desde pesquisa de genoma até pesquisa biológica. A folha de alface, por exemplo, te dá 30% de nutrientes. Mas a biologia propicia que você aumente isso para 70% de nutrientes. Vamos poder alimentar o mundo por meio do processo biológico. Dizem que não temos terra suficiente para plantar e alimentar todos os que estão nascendo. Mentira, a alimentação virá da concentração de nutrientes numa mesma planta. Você vai comer menos e se alimentar mais.
Você diria que o artista é um esquizofrênico que deu certo?
O artista mora dentro do umbigo dele, é ensimesmado, acha que é o melhor do mundo e ponto final. Com alguns, você consegue conversar, são pessoas facílimas de trocar ideias, inteligentíssimas em relação à humanidade, ao mundo. O artista, entretanto, não é importante pelo que é, mas, sim, pelo que faz. Então, normalmente, o artista é insuportável, mas faz coisas extraordinárias. Numa análise geral, você vai encontrar mais neurônios nesse pessoal, eles sabem mais. Agora, sabem para eles, interpretam a vida para eles e jogam para fora o sentimento por meio de suas obras.
Você se considera um artista?
Não. O que eu sou? Já disse uma vez: sou uma pessoa que está tentando alcançar alguma coisa o tempo todo. Isso tem a ver com gente que faz escalada, alpinismo.
É um insatisfeito?
Sempre insatisfeito, sempre angustiado, sempre ansioso, sempre deprimido. Minha vida é um inferno. Eu olho para o que ainda tenho de fazer na vida e vejo uma trilha no meio, que vai dar em um túmulo. Não consigo enxergar essa trilha com um céu aberto, cheio de alegria e um horizonte belíssimo no final. Eu vejo um túmulo, porque não há outra alternativa para mim. Não existe essa outra alternativa, porque minha cabeça não para. Isso me irrita profundamente, me faz tomar remédios demais para dormir, remédios demais para acordar, remédio para o coração, remédio para veia e assim por diante.
Mas como se sente um artista? Não é assim?
O problema do artista é que ele é egoísta, o artista pensa nele, não pensa nos outros, não pensa nas pessoas. Nem sabe que existem outros. Só sabe que existe ele. Mora dentro do umbigo dele, não enxerga nada além do umbigo. No meu caso, é diferente, porque eu não penso em outra coisa a não ser nas pessoas. A gente vive da perspectiva do sonho, da realização. Quer dizer, da tentativa da realização, porque a realização já é passado.
Você é feliz?
Acho muito difícil ser feliz, porque tenho de pensar nas outras pessoas. O burro pensa mais nele do que nos outros, o inteligente pensa mais nos outros do que em si. A diferença é essa. O que é a verdade na vida, meu Deus? A verdade na vida é que só a vida é importante. Por que o ser humano destrói a vida?
Você faz análise?
Fiz durante muitos anos, mas nem ligo para isso. Minha análise era conversar com o cara para não ficar maluco. Meu analista era psiquiatra de hospital de doido, eu gostava desse tipo de gente. Tem 80 anos, hoje; passei 30 com ele. Se você está desesperado no seu dia a dia, tem de procurar alguém que te ajude a achar a solução, para que possa sair lá na frente e abrir outra janela.
Qual sua opinião sobre o ser humano?
Olha, eu não posso desacreditar do ser humano. A formação do ser humano é formação animal, então essa formação animal era irracional e foi se tornando racional, foram se formando tribos. Quando dois grupos de leões se encontram, um mata o outro. A Europa era uma série de tribos, cada país daqueles era formado por 30, 40 tribos. Elas foram se juntando, uma foi matando a outra. Ainda há 27 países que lutam entre si - e dentro de cada país, tribos que brigam umas contra as outras. Qual a razão disso? O que isso traz de benefício? É o poder pelo poder.
Como você vê Inhotim daqui a dez anos?
Não vejo Inhotim daqui a dez anos. Faço questão de ver Inhotim daqui a mil anos.
Não dá para ser um pouquinho mais perto? Cem anos?
Não, não dá. Porque, quando você trabalha com educação e cultura, tem de imaginar milhares de anos. Não adianta, cultura é um processo que avança, não pode parar.
maio 27, 2012
Paradoxo: Crise Política na Cultura X Participação Social por Charles Narloch e Patricia Canetti
Paradoxo: Crise Política na Cultura X Participação Social
Carta dos conselheiros titulares de artes visuais e arte digital no Plenário do CNPC
Caros colegas,
Temos pela frente um desafio que precisamos responder à altura: a criação e renovação dos Colegiados Setoriais do Conselho Nacional de Política Cultural - CNPC, junto ao Ministério da Cultura - MinC, para o período 2012 a 2014. Os membros dos Colegiados Setoriais participam da formulação de políticas públicas de cultura no Governo Federal e avaliam a aplicação do Plano Nacional de Cultura. Exercem um papel fiscalizador das ações do MinC, cobrando pertinência e coerência em sua execução. O CNPC deve ser o mais legítimo canal de diálogo com o MinC, assim como ocorrem com os conselhos nacionais das demais áreas de governo.
São dezenove segmentos com representação da sociedade civil no CNPC. Todos são eleitos democraticamente. Se pensarmos estrategicamente - e deixarmos de lado o pensamento segmentado - podemos afirmar que a participação política das artes visuais naquela instância cresceu desde o início da criação do Sistema Federal de Cultura, em 2005. Atualmente teremos dois Colegiados Setoriais diretamente relacionados à arte contemporânea - artes visuais e arte digital - e quatro outros de áreas afins, que anteriormente também eram vinculadas pelo MinC às artes visuais: arquitetura, artesanato, design e moda.
Como conselheiros titulares de artes visuais e arte digital no Plenário do CNPC, pedimos a atenção de todos para a importância deste espaço conquistado de participação social e, principalmente, neste momento específico, de renovação e ampliação. Quase sem divulgação pelo MinC, está deflagrado o processo de eleição dos delegados estaduais que participarão dos Fóruns Nacionais Setoriais. Para que o processo continue representativo, todos nós precisamos ficar atentos e participar.
- São os delegados eleitos nos Fóruns Estaduais Setoriais que, em Brasília, reunidos em um segundo momento, para o Fórum Nacional Setorial, poderão votar e concorrer às vagas dos Colegiados Setoriais;
- Todos os Estados e o Distrito Federal deverão eleger seus delegados, três para cada área setorial. (O MinC vai arcar com as despesas de deslocamento de todos os delegados eleitos até Brasília.
Se, por um lado, alguns setores do MinC defendem essa instância como um espaço legítimo para a pactuação das políticas públicas com a sociedade, outros (também do MinC) parecem ignorar as conquistas dos últimos anos e tentam, visivelmente, minimizar ou neutralizar o papel do conselho e de seus colegiados.
Trata-se, portanto, de um triste paradoxo. Até então o MinC foi o maior defensor da implantação de um Sistema Nacional de Cultura em que o Conselho Nacional e seus equivalentes nos Estados e Municípios seriam as instâncias deliberativas mais relevantes para o fortalecimento da participação social. Mas o que se percebe é que o MinC, que pautou Estados e Municípios para a adoção dessa prática, hoje precisa reaprender o que ensinou. O processo eleitoral, discutido e deliberado pelo CNPC, foi ignorado pelo MinC.
Denúncias e pedidos de atenção dos atuais conselheiros não faltaram, como já divulgamos, mas estes foram solenemente ignorados ou até menosprezados pela ministra Ana de Hollanda, protagonista ímpar de uma série de demonstrações declaradas de desprezo às práticas legítimas de pactuação de políticas públicas. Pelo exemplo ou orientação da ministra, secretarias e instituições vinculadas do MinC parecem - neste momento - estar alheias ao processo eleitoral do CNPC, situação muito diferente da vivida em 2010, quando o envolvimento das mesmas foi total.
Diante desta realidade, exclusiva do atual governo e inédita desde a eleição do ex-presidente Lula, o desencanto e o desânimo têm contaminado aqueles que militam nos mais diversos segmentos culturais, levando tantos a um sentimento de incredulidade e decepção. Preocupados que estamos com esta reação quase atônita da sociedade, propomos aqui a manutenção da ocupação crítica e consciente daquele espaço, como resposta política eficaz. Uma luta legítima, mas usando a inteligência como estratégia. Estamos propondo aqui uma ampla mobilização de todos os agentes culturais brasileiros para a eleição de seus delegados. Se é isso que a atual ministra quer evitar, é isso que conscientemente deveremos oferecer.
Nos Colegiados e no Plenário do CNPC, temos a oportunidade de mostrar ao Governo Federal que não pensamos apenas em “nossos quadrados”, mas na defesa da cultura como um todo. Por isso, não é hora de nos dividirmos, por mais que as “gavetas” que nos classificam naquele espaço instiguem diferenças e peculiaridades. Somos agentes em diferentes segmentos culturais, por todo o país. Temos muito a contribuir nas artes visuais e arte digital, mas também no artesanato, no patrimônio cultural, nos museus, na moda, no design ou na arquitetura e urbanismo, já que muitos de nós também atuam nesses segmentos. Por que nos considerarmos divididos se podemos somar? Ocupar esses espaços no CNPC é mais do que legítimo, é um exercício político que nos permitirá conquistar maior respeitabilidade e, finalmente, sermos ouvidos.
Inscreva-se no portal do MinC e mobilize seu segmento em sua cidade, em seu Estado.
- As inscrições encerram no dia 24 de junho;
- Para votar ou ser votado, o cadastramento online é obrigatório.
Abraços!
Charles Narloch
Membro titular do Colegiado Setorial de Artes Visuais, membro titular do CNPC (2010-2012)
Patricia Kunst Canetti
Membro titular do CNPC, representante do segmento de Arte Digital (2008-2012)
COMO PARTICIPAR
Os cidadãos que atuam em áreas técnico-artísticas ou de patrimônio cultural podem participar debatendo as temáticas do seu segmento e elegendo delegados estaduais, que por sua vez formarão o colégio eleitoral nacional para a escolha dos membros do Colegiados Setoriais do Conselho Nacional de Política Cultural – CNPC.
Portaria nº 51/2012/MinC (atualizada)
Estabelece o processo eleitoral para os Colegiados Setoriais do Conselho Nacional de Política Cultural para o período de 2012 a 2014.
As áreas que formarão novos colegiados são: Arquitetura e Urbanismo; Arquivos; Arte Digital; Artes Visuais; Artesanato; Circo; Cultura dos Povos Indígenas; Culturas Afro-Brasileiras; Culturas Populares; Dança; Design; Livro, Leitura e Literatura; Moda; Música; Patrimônio Imaterial; Patrimônio Material; e Teatro.
Observação: Audiovisual e Museus não terão colegiados e terão seus representantes no Plenário do CNPC escolhidos por comitês já existentes. Esta decisão do Ministério da Cultura vai contra a votação realizada em plenário que decidiu pela isonomia dos segmentos culturais e pelo acesso democrático a todos os colegiados.
Cartas públicas de conselheiros do CNPC
Carta de Conselheiros do CNPC à Ministra da Cultura aponta problemas na participação social, 17/05/2012
Nota de esclarecimento do Ministério da Cultura, 07/12/2011
maio 24, 2012
Instalação de Daniel Caballero no Paço das Artes questiona o verde urbano por Ricardo Cardim, blog Árvores de São Paulo
Instalação de Daniel Caballero no Paço das Artes questiona o verde urbano
Entrevista a Ricardo Cardim originalmente publicada no blog Árvores de São Paulo em 8 de maio de 2012.
Daniel Caballero, Artista apresentado recentemente aqui no Blog, tem trazido interessantes reflexões sobre o verde presente na cidade de São Paulo e sua real “naturalidade”, assim como a ocorrência dos raros remanescentes da paisagem original. Na instalação inaugurada ontem no Paço das Artes na Cidade Universitária, ele traz interessantes abordagens sobre o tema, com desenhos precisos e composições que valem uma visita. Abaixo, uma breve conversa sobre seu último trabalho:
Como começou essa proposta?
Sempre que saio na rua, observo detalhes que anoto, fotografo ou desenho. Em um desses passeios urbanos, parei para ver uma árvore na calçada, com a copa dividida pela fiação elétrica. A árvore com o grande buraco no meio, me levou a pensar em topiaria, e jardins franceses. Que tipo de jardinagem sem intenção é essa? Seria um tipo de topiaria inconsciente? Seja como for, e claro, bem distante dos jardins de Versalhes, me perguntei sobre a consequência dessa jardinagem no nosso dia a dia. A partir daí comecei a pesquisar áreas naturais no espaço urbano.
Assim, aos poucos comecei a me sentir como um naturalista viajante, um tipo de Rugendas que retrata o exótico, bem do lado da minha casa.
O que você retratou nas suas esculturas e desenhos?
Encontrei coisas muito curiosas, por exemplo, por que pintar uma pedra de branco? por que ter uma jardineira com grama em cima de um gramado? Tive um atordoamento nos sentidos pelo grande número de casas sendo demolidas para construção de prédios. De repente ruas e referências familiares mudam e a geografia da cidade vira outra coisa. Como podemos gostar de um lugar, onde cada vez menos temos memórias, nem relações afetivas com a paisagem?
É uma colagem que só percebemos saindo da rotina diária.
Que tipo de natureza você encontrou?
Não existe natureza propriamente dita em São Paulo, no sentido de um lugar que vive e se desenvolve com autonomia própria. O que existe são representações da natureza. É muito dificil termos certeza quanto tempo uma árvore na calçada vai viver, elas estão a mercê dos caprichos dos governantes, das vorazes empreiteiras e dos próprios moradores . Da mesma forma, gramados, são carpetes vivos, construídos para pedestres andarem por cima, pobres como ambiente natural. Mas é claro que alguns organismos da natureza se adaptam bem, tem muitos insetos nos gramados, e muitos ratos nos esgotos. De qualquer forma, a questão é que a cidade é totalmente impermanente, tudo muda e a natureza real tenta existir apenas em áreas invisíveis.
Áreas invisíveis?
Sim, terrenos baldios momentaneamente abrigam natureza, eles passam como áreas invisíveis, que ninguem cuida, ninguem vê. Enquanto são potencialmente algo, mas não são nada para as pessoas, a natureza as vezes sobrevive. Um bom exemplo é o cerradinho atrás do Extra do Jaguaré – atual Parque Usteri. O que era aparentemente um terrenão baldio, é na verdade é uma pequena e rara amostra da paisagem original da cidade.
Como essa pesquisa influênciou teu trabalho?
Meus últimos trabalhos, partiram de desenhos de observação até chegar nas instalações. Sempre abordei aspectos de uso do espaço urbano, e já vinha flertando esse embate entre artificialidade e natureza, mas acho que essa pesquisa deixou mais evidente esse confronto.
Prefiro ser um artista de campo, o ar puro ou não da cidade revela muitas coisas interessantes.
maio 22, 2012
Artistas captam a poesia do cotidiano de lavadeiras em Salvador por Fabio Cypriano, Folha de S. Paulo
Artistas captam a poesia do cotidiano de lavadeiras em Salvador
Matéria de Fabio Cypriano originalmente publicada na Ilustrada no jornal Folha de S. Paulo em 19 de maio de 2012.
Há 40 anos, os moradores que viviam em torno do Museu de Arte Moderna da Bahia, da comunidade Solar do Unhão, só visitavam o local com latas na cabeça para buscar água potável.
Desde a última sexta (18), porém, eles são vistos como personagens da obra "Água de Chuva no Mar", por ocasião da mostra "Estranhamento Possível", da dupla Maurício Dias e Walter Riedweg, que apresenta ainda outras quatro videoinstalações.
"Água de Chuva no Mar" é o mais recente trabalho dos artistas, que costumam criar obras a partir do contato com grupos específicos. No caso de "Água...", a temática partiu das lavadeiras que vivem próximas ao museu, com as quais os dois conviveram por um mês.
"Até os anos 1970, como não havia água encanada na comunidade, elas vinham buscar água no museu. Nos pareceu ótimo abordar a história dessas mulheres, que com essa água lavavam as roupas da elite que frequentava o próprio museu", contou Dias à Folha.
A água, aliás, é um elemento que une alguns dos trabalhos apresentados. Ela está presente na videoinstalação "Juksa" (2006), que aborda o fim da pesca a partir de relatos dos últimos habitantes de uma pequena ilha no Pólo Norte. A vida em outra ilha é ainda abordada em "Paraíso Cansado", sobre o cotidiano da Gran Canaria, na Espanha.
"Para nós é muito importante essa aproximação com a comunidade Solar do Unhão, pois há três anos já temos um trabalho educativo com as crianças de lá, como forma de inclusão", diz a diretora do museu, Stella Carrozzo.
"Água..." apresenta relatos bem humorados das lavadeiras mesclados a fotografias antigas do acervo do museu, junto com fotos antigas delas próprias, além de imagens da Festa de Iemanjá. "Elas falam com afeto e doçura de algo que não é tão doce assim, afinal elas recebem apenas R$ 30 por 150 peças de roupa lavada", afirma Dias.
A mostra da dupla, que no próximo ano comemora duas décadas de trabalho conjunto, apresenta ainda "Deus é Boca" (2002) e "A Casa" (2008), na qual vivem os protagonistas.
"Esse trabalho foi feito após um período de muito trabalho, por conta da Documenta de Kassel [famosa exposição de arte realizada na Alemanha], em 2007, e sentimos que era necessário um pouco de reclusão, por isso estamos em nosso local de intimidade", resumiu Dias.
A Brazilian in Paris: Bruno Dunley on His French Solo Debut and the State of Painting in Sao Paulo por Juliette Soulez, Art Info
A Brazilian in Paris: Bruno Dunley on His French Solo Debut and the State of Painting in Sao Paulo
Matéria de Juliette Soulez originalmente publicada na Art Info em 19 de maio de 2012.
Bruno Dunley, 11bis Project Space, Paris - França, 30/03/2012 a 30/06/2012
PARIS — One of Paris's newest galleries is giving a young Brazilian artist his French debut: the recently opened 11bis has chosen Bruno Dunley for the third show at its space in the Marais, which will also mark the Brazilian painter's first exhibition in France. Maria do Mar Guinle, director of the See Art + Advisory firm — which specializes in Brazilian art — first discovered Dunley at Art Rio when a painting of his featuring a penguin caught her eye. After Guinle befriended Dunley, his Sao Paolo gallerist Marcela Razuk, and the latter's Paris-based sister Marilla, she asked the young painter to create new works for an exhibition at 11bis, a project space started by See Art and curator Claudia Paetzold's cpCONTEMPORARY. ARTINFO France caught up with the talented and promising artist to talk minimalism, narrative, and life as a contemporary artist in Brazil.
Tell me about your inspiration and the poetics of your paintings.
I'm a young artist; I feel like I'm still at the beginning of my career, and I don’t have a clear idea of the totality of my poetics — maybe I never will. It's as if I'm walking with a candle in my hands, perceiving things gradually as they get closer, too close even. But I have to continue if I really want to see them.
What I paint are approximations, poetic figures, which speak to the uncertainty and the doubt that I think are part of my poetry. This is more overt and intense in relationship between paintings in the new body of work that I'm presenting at 11bis. I see my work as a series of questions and statements about the possibilities of painting, what it is, and what we expect from it. I try to give in to expectations and then break them in the work. I want to take first-time viewers to the limit of existence and acceptance. I think that’s what I’m trying to paint: A painting is finished when it breaks my expectations of the work.
Would you say that your works have narratives?
I like the term "fictions without words." At first you cannot discern a clear narrative or linear trajectory; the paintings seem to have the strength and fragility of something silent, speechless, or dumb. Often we recognize the figure, but there is a strangeness because we cannot reach it or identify its purpose. There is an emptiness that insists on removing these images from the world of things, but the painting remains, it persists; it is a kind of ghost trapped in the paint.
Increasingly I see the poetics come through in the relationship between several paintings or a group of works. Forced interaction between them causes the differences to fade, and the works develop a kind of continuity. Gathered in one space, the paintings show incompleteness and ambiguity; they ask questions. My attempts to frustrate any sense of consistency in imagery or style can be very pronounced; I don't want there to be a single theme or pictorial procedure repeated.
Do you consider your paintings minimalist?
I do not think my painting is minimalist, but I think it appropriates certain aspects of that vocabulary. Often, when I start to paint, I construct a monochromatic surface, a kind of color plate, almost an object. This approach to paintings as objects comes from my experience with these works, and a spatial awareness that it is not the image's perspective that guides our eyes toward a virtual interior, but the surface and its relation to the body and space. The visual clarity in some of my studies may also be related to minimalism, but I'm not thinking about it while I'm working. My concern is creating the painting and searching for the tools to carry it through.
How is it being a painter in Brazil today?
Over the last few decades Brazil has developed a strong contemporary art scene based on traditions that date back to the 1950s, and which today have gained increased visibility in other countries. As a Brazilian artist, I feel like I'm living in a privileged moment. Besides being able to draw from European and American traditions, I also have direct access to Brazilian art history, which, although relatively short, seems timeless.
In Sao Paulo, where I live, the environment is very good for painting. We still don’t have enough historical distance to understand what is happening, but there are many artists working with painting here, which is a relatively recent phenomenon. It's an optimistic moment.
I think the relationships between young painters and artists who began their careers in the 1980s have also helped nurture this environment. For my part, artists like Rodrigo Andrade, Paulo Pasta, and Sergio Sister were fundamental to the development of my work. I maintain a close relationship with these artists as well as others from my generation, like Marina Rheingantz, Rodrigo Bivar, Lucas Arruda, Ana Prata, and Mariana Serri.
Bruno Dunley's exhibition at 11bis continues through June 30.
A version of this article appears on ARTINFO France.
Bruno Dunley, 11bis Project Space, Paris - França, 30/03/2012 a 30/06/2012
Encontro com a arte brasileira por Camila Molina, Estado de S. Paulo
Encontro com a arte brasileira
Matéria de Camila Molina originalmente publicada no jornal Estado de S. Paulo em 13 de maio de 2012.
Museu de Seattle prepara grande mostra brasileira e exibe instalação de Sandra Cinto como preparativo
Há mais de dois anos, o Seattle Art Museum (SAM), dos EUA, está de olho na arte brasileira. Em 2010, quando os diretores da instituição, uma das principais da costa oeste norte-americana, estiveram em São Paulo para pesquisar a produção contemporânea nacional, entre museus e galerias ficaram impressionados com a mostra Imitação da Água, que a artista Sandra Cinto exibia, na ocasião, no Instituto Tomie Ohtake. "Essa viagem já era parte das preliminares de um projeto do museu, o de realizar uma grande exposição de arte brasileira, que estamos programando para 2015", diz Catharina Manchanda, curadora do SAM.
Na quinta-feira, Catharina e a curadora associada do museu americano, Marisa Sánchez, conversaram com o Estado no Ibirapuera, o local que fervilhou de pessoas do meio artístico nacional e internacional durante esta semana por conta da SP-Arte - Feira Internacional de Arte de São Paulo, que termina hoje no pavilhão da Bienal. Vieram a convite do programa do evento, aproveitaram a oportunidade para "pesquisar" - Catharina ainda ia ao Rio; Marisa, iria depois para o Instituto Inhotim, em Minas Gerais. O SAM quer investir no projeto da mostra de arte brasileira. Afinal, já está investindo.
No último dia 14 de abril, Sandra Cinto inaugurou no Olympic Sculpture Park Pavilion do museu de Seattle a instalação Encontro das Águas, desdobramento da obra que realizou em 2010 em São Paulo e que ficará em exposição no local até maio de 2013. "Pensamos que seria importante para nós convidar artistas seminais, como a Sandra, para fazer um projeto antes no museu, como uma forma de introduzir a importância da arte brasileira aos visitantes, sobretudo, o público do noroeste dos EUA, que nunca viu nada do Brasil", diz Catharina. "Foi o começo de uma relação mais profunda."
Sandra Cinto é a primeira brasileira a expor no SAM. O trabalho da artista é um grande painel, com um desenho que recria um mar em tormenta sobre fundo azul e traços feitos com canetas permanentes à base de óleo em tonalidades de prata. As ondas remetem às das gravuras ukiyo-e do japonês Katsushika Hokusai (1760-1849), mas a obra, em seu sentido poético mais geral, tem como referência o famoso quadro A Balsa de Medusa, do francês Théodore Géricault (1791-1824).
No pavilhão de vidro do parque de esculturas do SAM (que tem peças permanentes de Calder e Louise Bourgeois, por exemplo), a obra de Sandra, formada pelo painel desenhado e por um barco instalado no espaço, fica de frente para o Oceano Pacífico. "A ideia era colocar o observador na condição de náufrago da sociedade contemporânea no meio do mar real e o virtual. Fala de tragédia, mas sem perder a poesia", diz Sandra. A artista já viaja para os EUA novamente, para inaugurar neste sábado uma instalação na The Phillips Collection em Washington.
Seu Encontro das Águas foi uma experiência coletiva, criada como "um bordado" por duas semanas e com a participação de assistentes e de 18 voluntários. "A obra de Sandra está introduzindo a arte brasileira em Seattle de uma maneira monumental", diz Marisa Sánchez. Por enquanto, como conta Catharina Manchanda, não há nenhuma obra de artista do Brasil no acervo (de seções históricas e culturais, europeia, moderna e contemporânea) da instituição americana - formada pelo museu de arte, museu de arte asiática e pelo parque de esculturas. A grande exposição brasileira programada para 2015 poderá alavancar aquisições para o SAM.
"Quero que a exposição tenha um capítulo sobre o momento concretista, com conexões da arte com a música, a arquitetura e o design; e outro tendo como ponto de partida o desenvolvimento fascinante da arte brasileira no contexto político do fim dos anos 60 e reverberando para a arena contemporânea", diz Catharina, completando que a mostra será acompanhada de catálogo com textos de profissionais brasileiros convidados. "Na arte internacional produzida hoje, parece-me que vemos muitas das coisas formuladas no Brasil no final dos anos 60, uma arte de conexão com a vida, uma estética que tem uma potência política e social", continua a curadora, que citou "curiosidade", por exemplo, sobre obras de artistas como Erika Verzutti e Laura Lima.
Anna Maria Maiolino é vencedora do 1º Prêmio Masp por Fabio Cypriano, Folha de S. Paulo
Anna Maria Maiolino é vencedora do 1º Prêmio Masp
Matéria de Fabio Cypriano originalmente publicada na Ilustrada no jornal Folha de S. Paulo em 17 de maio de 2012.
A artista Anna Maria Maiolino é a vencedora da primeira edição do Prêmio Masp/Mercedes-Benz de Artes Visuais 2012, e irá receber R$ 200 mil, um dos maiores valores para prêmios voltados à arte contemporânea.
"Esse prêmio é como a confirmação da afiliação pela qual optei, do meu desejo de ser adotada pelo Brasil. Afinal, estou aqui desde os anos 1960", disse Maiolino à Folha, anteontem, pouco antes de embarcar para a Alemanha. Lá, participa da 13ª Documenta, em Kassel.
Nascida na Itália e tendo vivido na Venezuela, Maiolino foi desenvolver no Brasil a maior parte de sua carreira. "Minha obra é totalmente devedora da arte brasileira, foi aqui que ela germinou.
Com esse prêmio, me reconcilio com a minha vida peregrina", definiu ela, que completa 70 anos no domingo.
Também foi oferecido um prêmio de R$ 60 mil ao mineiro Paulo Nazareth, como "talento emergente". Ele está em cartaz em São Paulo na mostra "Noticias de America", na galeria Mendes Wood.
O que vai fazer com o dinheiro? "Investir em banana. Comprar uns três porcos e um lote para plantar banana", brincou Nazareth.
O anúncio dos premiados representa uma alteração no projeto inicial do Museu de Arte de São Paulo (Masp), que seria relacionar três finalistas e dar a todos uma mostra na instituição. Somente então o júri escolheria um vencedor.
"Achamos que não teria sentido ter duas etapas. Seria mais correto indicar já o vencedor", disse Chris Dercon, diretor da Tate Modern, em Londres, que compôs o comitê com o colombiano José Roca e os curadores brasileiros Moacir dos Anjos, Paulo Herkenhoff e Teixeira Coelho, do Masp.
Para dos Anjos, uma das razões que levaram à escolha de Maiolino foi o fato de haver, em sua obra, "uma afirmação da potência da 'coisa' e do 'gesto' comuns, da possibilidade de encontrar, no cotidiano, elementos que nos reposicionem diante da vida partilhada com os outros".
maio 18, 2012
Carta de Conselheiros do CNPC à Ministra da Cultura aponta problemas na participação social
Carta de Conselheiros do CNPC à Ministra da Cultura aponta problemas na participação social
Processo Eleitoral para a formação de Colegiados Setoriais é chave para a participação social nas políticas públicas de cultura e para o Plano Nacional de Cultura (PNC)
Conselheiros representantes de Segmentos Culturais no Plenário do Conselho Nacional de Política Cultural demandam providências à Ministra da Cultura, Ana de Hollanda, para corrigir a portaria (N. 51/2012), que estabelece o processo eleitoral para os Colegiados Setoriais do CNPC para o período de 2012 a 2014, e para concretizar a participação do atuais representantes na condução do processo.
Além da portaria citada possuir vários erros de datas, grafias e redação, o problema mais grave levantado pelos conselheiros signatários da carta diz respeito ao fato do conteúdo da portaria desconsiderar, alterar ou mesmo subverter completamente a proposta que foi discutida, votada e aprovada no Plenário do CNPC em sua 6ª Reunião Extraordinária.
Questões amplamente debatidas e aprovadas no CNPC, como a garantia de isonomia no tratamento a todas as áreas e segmentos culturais e a instalação de seus respectivos Colegiados Setoriais (Audiovisual e Museus ficam sem a transparência dos Colegiados Setoriais), a realização dos Fóruns Setoriais Estaduais prioritariamente de modo presencial, entre outros temas, não foram incluídas no texto da portaria oficial. Em seu lugar, foram incorporadas justamente as propostas que foram recusadas pela maioria dos membros do Conselho, configurando uma atitude que não se coaduna com os princípios da democracia e participação social que entendemos ser a base do novo modelo de Estado em construção no Brasil.
Em resumo: as propostas ignoradas ou alteradas foram exatamente aquelas defendidas e aprovadas pela maioria também dos representantes da sociedade civil no CNPC e as propostas, que a portaria legitimou, foram as mesmas que os representantes do Ministério defenderam e viram ser recusadas pelo mesmo plenário.
Os conselheiros solicitam na carta esclarecimentos sobre os motivos ou as justificativas do Ministério da Cultura para a não manutenção da integralidade da proposta discutida e aprovada pelo CNPC na referida portaria; bem como sobre a não comunicação oficial da mesma aos membros do CNPC, ou.em canais de comunicação do ministério, como sua página na internet, o blog do CNPC ou mesmo a plataforma virtual criada para esse processo.
Por fim, a carta dos conselheiros nos leva à pergunta: a que serve um novo processo eleitoral para convocar a participação da sociedade civil, se o fruto desta participação não é acatada pelo Ministério, suas secretarias e vinculadas.
LINKS
Plenário do CNPC - Conselho Nacional de Política Cultural
Portaria N. 51, de 2 de maio de 2012
Estabelece o processo eleitoral para os Colegiados Setoriais do Conselho Nacional de Política Cultural para o período de 2012 a 2014.
Diário Oficial da União N. 85, quinta-feira, 3 de maio de 2012, Seção 1, página 5 e página 6
Regimento Interno do CNPC
Decreto nº 5.520/2005, alterado pelo Decreto nº 6.973/2009
Institui o Sistema Federal de Cultura – SFC e dispõe sobre a composição e o funcionamento do Conselho Nacional de Política Cultural – CNPC do Ministério da Cultura, e dá outras providências.
Lei do PNC - Plano Nacional de Cultura
Lei nº 12.343/2010
Institui o Plano Nacional de Cultura – PNC, cria o Sistema Nacional de Informações e Indicadores Culturais – SNIIC e dá outras providências.
Sra. Ana de Hollanda
Ministra de Estado da Cultura
Presidente do Conselho Nacional de Política Cultural
Brasília, 17 de maio de 2012
Os Conselheiros do CNPC, representantes da Sociedade Civil, abaixo assinados, tomaram conhecimento da Portaria Ministerial nº 51, de 2 de maio de 2012, publicada no DOU de 3 de maio de 2012, em anexo, "que estabelece o processo eleitoral para os Colegiados Setoriais do Conselho Nacional de Política Cultura, para o período de 2012 a 2014", divulgada ao Colegiado Setorial de Culturas Populares pela Secretaria da Cidadania e da Diversidade Cultural, não tendo sido realizada a divulgação da mesma aos Conselheiros por parte da Coordenação do CNPC e do Ministério da Cultura.
Do mesmo modo, também não fomos informados pelo Ministério da ativação da plataforma virtual criada especificamente para esse processo, que foi colocada no ar no dia 14 de maio de 2012, (ver o link http://www.cultura.gov.br/setoriais/ ), e que não contém a publicação da referida portaria que regulamenta todo o processo eleitoral. Isso provoca sérias dificuldades para a compreensão pelo público em geral do conjunto das normas e critérios estabelecidos pelo CNPC e pelo MinC em um longo e complexo processo de discussão e formulação.
Nos sites do MinC e do CNPC não foi publicada nenhuma notícia ou informação sobre essa portaria ou sobre o processo de eleição. Até o momento, apenas está visível o link para a plataforma virtual na página do Ministério. A questão deveria ser amplamente divulgada pelo Ministério conforme votado na 6ª Reunião Extraordinária do CNPC, realizada nos dias 28 e 29 de fevereiro de 2012, em Brasília, no entanto isso não está sendo feito, e nem mesmo os membros do CNPC, representantes da sociedade civil, foram informados pelo Ministério sobre a publicação da portaria.
Além disso, a portaria citada possui vários erros de datas, grafias e redação, o que exigiria uma imediata retificação da mesma por quem a publicou, a fim de evitar interpretações erradas pelo público. Apontamos, em anexo, alguns desses erros a serem corrigidos.
No entanto, o problema mais grave da portaria, a nosso ver, diz respeito menos com a forma de sua escrita e muito mais pelo conteúdo publicado, que desconsiderou, alterou o mesmo inverteu completamente o conteúdo da proposta que havia sido discutida, votada e aprovada no Plenário do CNPC em sua 6ª Reunião Extraordinária.
Questões amplamente debatidas e aprovadas no CNPC, como a garantia de isonomia no tratamento a todas as áreas e segmentos culturais e a instalação de seus respectivos Colegiados Setoriais, a realização dos Fóruns Setoriais Estaduais prioritariamente de modo presencial, entre outros temas, não foram incluídas no texto da portaria oficial. Em seu lugar, foram incorporadas justamente as propostas que foram recusadas pela maioria dos membros do Conselho, configurando uma atitude que não se coaduna com os princípios da democracia e participação social que entendemos ser a base do novo modelo de Estado em construção no Brasil. Ressaltamos aqui o fato das propostas ignoradas ou alteradas serem exatamente aquelas que foram defendidas e aprovadas pela maioria também dos representantes da sociedade civil no CNP C, e que as propostas que a portaria legitimou terem sido as mesmas que os representantes do Ministério defenderam e viram ser recusadas pelo mesmo plenário.
Outros pontos discutidos e aprovados pela plenária do CNPC na 6ª Reunião Extraordinária é a participação dos Colegiados Setoriais e Membros dos Grupos de Trabalho para Constituição de Colegiados inexistentes como membros natos dos Fóruns Nacional, fato que resultará em mais de 81 participantes por fórum; a representação dos estados se daria com um delegado ao fórum nacional se tivesse de cinco a quinze eleitores inscritos, dois delegados para trinta eleitores e três delegados para quarenta e cinco eleitores; a formação das comissões eleitorais, também deverão ser formadas por integrantes dos Grupos de Trabalhos quando não houver colegiados constituído.
Diante da situação descrita acima, considerando a importância desse processo para o fortalecimento e estruturação do Sistema Nacional de Cultura a partir dos princípios democráticos e republicanos que sempre defendemos, entendemos ser nosso dever e nosso direito, enquanto representantes da sociedade civil neste Conselho, solicitar os esclarecimentos necessários sobre as questões levantadas nesta carta, bem como pedimos a tomada de providências fundamentais para que o referido processo ocorra sem prejuízos quanto à participação da sociedade e dos segmentos culturais envolvidos.
Solicitamos esclarecimentos sobre os motivos ou as justificativas do Ministério da Cultura para a não divulgação da Portaria Ministerial nº 51, de 2 de maio de 2012, "que estabelece o processo eleitoral para os Colegiados Setoriais do Conselho Nacional de Política Cultura, para o período de 2012 a 2014", bem como sua não comunicação oficial aos membros do CNPC que representam os diversos segmentos culturais do país.
Solicitamos esclarecimentos sobre os motivos ou as justificativas para a não divulgação, por parte do Ministério da Cultura, do processo eleitoral para os Colegiados Setoriais do Conselho Nacional de Política Cultura em seus canais de comunicação, como sua página na internet, o blog do CNPC ou mesmo a plataforma virtual criada para esse processo.
Solicitamos esclarecimentos sobre os motivos ou as justificativas do Ministério da Cultura para a não manutenção, no texto da Portaria Ministerial nº 51, de 2 de maio de 2012, da integralidade da proposta discutida e aprovada pelo CNPC durante sua 6ª Reunião Extraordinária, realizada nos dias 28 e 29 de fevereiro de 2012, em especial os trechos que visavam garantir de isonomia no tratamento a todas as áreas e segmentos culturais e a instalação de seus respectivos Colegiados Setoriais, a realização dos Fóruns Setoriais Estaduais prioritariamente de modo presencial, entre outros temas.
Solicitamos também que sejam tomadas de imediato as seguintes providências:
1- Correção e publicação da referida portaria, com o reconhecimento e a inclusão na íntegra da proposta discutida e aprovada pelo plenário do CNPC em sua 6ª Reunião Extraordinária, e sua ampla divulgação pelo MinC por todos os meios disponíveis;
2- Publicação na página do Ministério, do CNPC e na plataforma virtual de textos de orientação sobre o processo eleitoral, com linguagem e formato mais acessível a todas as pessoas de todas as regiões do país, tendo por base o texto aprovado pelo CNPC na 6ª Reunião Extraordinária;
3- Instalação imediata da Comissão Organizadora Nacional e para conduzir o processo;
4- Convocação dos Colegiados Setoriais e dos GTs pró-Colegiados para a escolha dos representantes da sociedade civil de cada segmento em suas respectivas Comissões Eleitorais Setoriais.
Certos de que a execução das políticas públicas de cultura pelo Governo atual deve reconhecer a legítima participação da sociedade nas definições dessas políticas, esperamos ser atendidos em nossa solicitação.
Respeitosamente,
Alice Viveiros – Circo
Antônio Ferreira – Cultura Afrobrasileira
Charles Narloch - Artes Visuais
Devair Fiorotti - Museus
Dora Pankararu - Cultura Indígena
Du Oliveira - Música Erudita
Freddy Van Camp -Design
Heloísa Esser dos Reis - Arquivos
Isaac Loureiro - Culturas Populares
Ivan Ferraro - Música Popular
Jeferson Dantas Navolar – Arquitetura e Urbanismo
Marcos Olender – Patrimônio Material
Nilton Bobato - Leitura, Livro e Literatura
Patrícia Canetti - Arte Digital
Rosa Coimbra – Dança
Virgínia Lúcia Menezes – Teatro
Washington Queiroz - Patrimônio Imaterial
ANEXO
Problemas detectados no Cronograma do Processo Eleitoral (Fonte: Capítulo III da Portaria)
14 de maio a 24 de junho de 2012
Cadastro online por parte dos eleitores e candidatos para os Fóruns Estaduais Setoriais
18 a 30 de junho de 2012
Debates e divulgação de propostas dos candidatos a Delegados Estaduais Setoriais em plataforma virtual na página do Ministério da Cultura
COMO O DEBATE PODE COMEÇAR SE OS CADASTROS AINDA NÃO ESTÃO VALIDADOS?
25 de junho a 6 de julho de 2012
Análise e validação dos cadastros por part e das Comissões Eleitorais
6 a 13 de julho de 2012
Impugnação da respectiva decisão da Comissão Eleitoral
14 e 15 de julho de 2012
Apreciação das impugnações
18 de julho de 2012
Homologação final do cadastro de eleitores e dos registros de candidaturas de Delegados Estaduais
2 a 30 de julho de 2012
Reuniões dos Fóruns Estaduais Setoriais para eleição de seus Delegados Estaduais na plataforma virtual (podendo ocorrer também fóruns presenciais)
COMO AS REUNIÕES PODEM OCORRER ANTES DO PRAZO DAS IMPUGNAÇÕES E HOMOLOGAÇÃO FINAL?
29 a 31 de agosto de 2012
Reunião dos Delegados Estaduais Setoriais eleitos nos Fóruns Nacionais Setoriais para eleição dos candidatos aos Colegiados Setoriais do CNPC
maio 16, 2012
As verdades e poesias de Daniel Santiago por Beatriz Braga, Jornal do Commercio
As verdades e poesias de Daniel Santiago
Matéria por Beatriz Braga originalmente publicada no Jornal do Commercio em 14 de maio de 2012.
O artista pernambucano ganha retrospectiva, a partir desta segunda (14), no Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães
Com uma longa carreira artística, entre performances e obras estáticas, o artista pernambucano Daniel Santiago ganhou algo merecido há tempos: uma exposição individual no Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães (Mamam), que inagura hoje, às 19h, e fica em cartaz até 8 de julho.
Do que é que eu tenho medo? é, nas palavras do homenageado, o resultado de uma “pesquisa arqueológica debaixo da cama”. As curadoras Cristiana Tejo e Zanna Gilbert deram luz às relíquias escondidas nos sacos plásticos da casa do artista.
Quem for à abertura não deve se assustar com a mulher pendurada por uma corda segurando a faixa O Brasil é o meu abismo. A artista Marie Carangi reproduz uma intervenção encenada pelo próprio Daniel há algumas décadas.
Um dos momentos interativos da mostra é a Floresta do Alheamento de Fernando Pessoa. Inspirado no poema do português, fitas brancas caem do teto e as pessoas recebem óculos em 3D para ver o “que nenhuma câmera pode captar”.
Na ala fantasmagórica da mostra, cartazes mostram Daniel encarnando autores como Augusto dos Anjos e Edgar Allan Poe. “Mas isso é ele (Augusto dos Anjos) mesmo. Não sou eu não”, garante o artista, apontando para um dos pôsteres.
A retrospectiva ainda conta com uma sessão audiovisual, com a exposição de vídeos experimentais feitos em webcam. O Movimento do plasma no interior da magnetosfera testemunha os processos eletrodinâmicos da misteriosa camada superior da atmosfera.
“Eu fui lá (na magnetosfera), mas não vá dizer a ninguém não, viu?”, confessa Daniel, que define os fenômenos imagéticos de seus filmes como uma espécie de microfonia visual. “O que parece luz é radiação gama. O que parece mentira é poesia”, diz o artista, lembrando o letreiro do filme.
Arte e ecologia em festa cubana das artes visuais, Prensa Latina
Arte e ecologia em festa cubana das artes visuais
Matéria originalmente publicada na Prensa Latina em 16 de maio de 2012.
Havana, 14 mai (Prensa Latina) A arte em função da ecologia e do uso das fontes renováveis de energia conforme a exigência da sociedade contemporânea estará presente hoje em dois projetos coletivos da bienal havaneira.
O primeiro deles será um Museu aero solar, proposta de seis artistas europeus: o argentino Tomás Saraceno, o alemão Benedike Bjerre, o francês Simón Guillard, o belga Tim Rottiers e as italianas Michela Saccheto e María Giulia Cantaluppi, na sede da academia dos engenheiros e arquitetos.
Neste quinto dia abrirá suas portas o megaprojeto Mac/San dedicado às práticas artísticas no domínio público.
Trata-se de um Museu de Arte Contemporâneo na localidade de San Agustín, ao oeste desta capital, que segundo suas gestores, é uma instalação sem paredes, de natureza híbrida.
Mac/San em seu conjunto inclui performances sobre um novo canal de TV e o Biocub, um secador de frutos que estará ao alcance de seus moradores.
Também intervenções em edifícios com uma visão sobre a construção do futuro e o San café, com catadores e gastronômicos, quem oferecerão conselhos e receitas para a elaboração desse produto.
O artista austríaco Hermann Nitsch estará no campo de golf do Instituto Superior de Arte com seu Aktion 135 e ademais jogará a andar a primeira das cinco jornadas dedicadas aos eventos teóricos, com intercâmbios sobre o tema geral desta cita: as práticas artísticas e o imaginário social.
Um dos principais atrativos da jornada precedente foi a inauguração do projeto coletivo Por trás do muro, com instalações de 25 artistas no malecón havaneiro, da explanada da Ponta até o parque Maceo.
Mercado vibrante em dias de crise por Élder Beja, Ponto Final
Mercado vibrante em dias de crise
Matéria de Élder Beja originalmente publicada no portal Ponto Final em 15 de maio de 2012.
A arte contemporânea chinesa continua a ser uma oportunidade de investimento para coleccionadores, mas os especialistas alertam: antes de comprar, o trabalho de casa deve ser bem feito.
O mercado de arte contemporânea chinesa continua a estar numa espécie de estádio de desenvolvimento, quando comparado com o congénere ocidental. Esta é, pelo menos, a opinião do especialista da leiloeira Christie’s, Eric Chang, que acredita que a tendência deve manter-se nos próximos tempos.
“Ainda há muito espaço para crescer e estamos confiantes nisso mesmo devido a alguns factores: o cenário económico asiático, impulsionado especificamente pela China; o aumento da participação de compradores chineses abastados em diversas categorias, incluindo a arte contemporânea; e uma rede mais global de coleccionadores interessados nestas colecções específicas”, explica Chang.
A crise económica e financeira que afecta todo o mundo pode ser uma boa razão para adquirir peças de arte. No entanto, ao que parece, este investimento surge sempre como uma oportunidade, se os compradores souberem o que estão a fazer e a comprar. Já no caso de obras assinadas por artistas consagrados, há um alerta que se mantém: prepare-se para gastar muito dinheiro.
“Zhang Xiaogang, Fang Lijun, Zeng Fanzhi e muitos outros nomes são artistas estabelecidos que já provaram ao mundo que têm um estilo único e criações com qualidade que lhes valeram exposição mediática”, aprecia o especialista de arte contemporânea asiática da Sotheby’s, Jonathan Wong.
Eric Chang relembra que “o mercado de arte é muito mais do que uma mão cheia de nomes capazes de fazer manchetes”. “Se não consegue adquirir obras de artistas de topo, não assuma que não existe nada para si”, sugere o especialista da Christie’s, antes de acrescentar: “É necessário explorar novos artistas ou talvez nomes menos consagrados. Se um trabalho original de um artista de topo está fora das possibilidades, talvez uma edição limitada desse mesmo autor possa ser uma opção acessível. A Christie’s oferece obras de artistas nesta categoria através de um espectro de preços.”
Em 2011, a China ultrapassou os Estados Unidos no que diz respeito ao mercado de leilões globais. Pequim tornou-se mesmo no segundo mercado de arte contemporânea – à frente de Hong Kong e só atrás de Nova Iorque.
Mais do que moda
O “hype” em torno das obras contemporâneas chinesas não será passageiro, acreditam os especialistas. Por isso, defendem que a procura deve manter-se alta nos próximos.
“A arte contemporânea é a lente através da qual podemos compreender o mundo que nos envolve e estabelecer uma ligação a ele. Além disso, pode oferecer visões sobre o passado, de onde viemos. Isto, simplesmente, é algo que nunca vai mudar”, expõe Eric Chang da Christie’s. Jonathan Wong da Sotheby’s complementa: “Não é somente uma marca porque a arte contemporânea chinesa é parte da cultura da China. Começou nos finais de 1970 e continua a surpreender o mundo nos dias de hoje.”
Mesmo com estes argumentos, algumas questões persistem. Por exemplo, como podemos iniciar uma colecção de arte privada? Em primeiro lugar, é necessário perceber que a competição é grande e abarca coleccionadores de todo o mundo que marcam presença nos leilões mais importantes. A Christie’s adianta mesmo que os clientes de arte contemporânea chinesa são oriundos de variadas paragens, desde o Continente até ao sudeste asiático, à Europa ou aos Estados Unidos.
“É um grupo internacional de coleccionadores que aumenta a cada ano”, esclarece Eric Chang.
Outra das preocupações de quem dá os primeiros passos de coleccionador passa pela escolha do tipo de arte a adquirir. Pintura a óleo ou escultura são dois exemplos muito populares no mercado, tendo preços bastante diferenciados.
Posto isto, fica a faltar a “regra de ouro”: jamais comprar uma peça de que não se goste digam o que disserem. “Encorajamos as pessoas a adquirir aquilo que gostariam de ver nas suas paredes”, aponta Chang.
O conhecimento do mercado também é um factor importante para quem se move no meio. “As pessoas têm de se expor ao mundo da arte. Devem ir a museus, galerias e – o mais importante – perceber a história da arte contemporânea chinesa”, realça Wong.
O trabalho de casa é, por isso, decisivo na hora de avançar para qualquer investimento financeiro. Isto sem esquecer a qualidade, condição, raridade e proveniência de todas as obras de arte.
“A quantidade de informação online e disponível através dos especialistas da Christie’s deve ser aproveitada, tal como a ida a leilões, galerias e museus, de forma a que as pessoas fiquem familiarizadas com os artistas e géneros”, conclui Eric Chang.
Hong Kong, com certeza!
Jonathan Wong não tem dúvidas de que a antiga colónia britânica continua a ser “o centro do comércio de arte na Ásia”. A constatação justifica-se pelo encontro de “um conjunto ecléctico de coleccionadores” na cidade.
As vantagens de Hong Kong não ficam por aqui e outra explicação é explanada por Eric Chang. O estatuto de zona franca oferece inúmeros benefícios nas transacções internacionais, incluindo ausência de taxas nas importações e exportações, sigilo bancário e regulamentos mais liberais do que Xangai e Pequim. A localização faz também do território uma plataforma para toda a região do sudeste do Pacífico e é porta de entrada para coleccionadores australianos, coreanos, taiwaneses e japoneses.
“Não há um lugar como Hong Kong”, sintetiza Chang.
Em Março, a Sotheby’s organizou o evento anual “Spring Sale for Contemporary Asian Art”. Mesmo sem vender todos os lotes, os resultados foram promissores e uma tela a óleo de Zhang Xiaogang (“Bloodline – Big Family: Family No. 2”) foi vendida por cerca de 52 milhões de dólares de Hong Kong.
Já este mês, mais propriamente no dia 26, será a Christie’s a dar a oportunidade de os coleccionadores de arte contemporânea chinesa fecharem novos negócios. Uma das obras em destaque no leilão, que terá lugar no Centro de Convenções e Exposições de Hong Kong, é assinada por Zheng Fanzhi . “Fly” (tela a óleo) tem um valor estimado de 20-30 milhões de dólares de Hong Kong.
A maior colecção privada do mundo
Uli Sigg pode ser um nome completamente desconhecido do grande público, mas os artistas e coleccionadores de arte conhecem-no bem. Natural da Suíça, Sigg ocupou o cargo de embaixador na China entre 1995 e 1998. Hoje, a sua colecção privada de arte contemporânea chinesa é a maior no mundo.
Recentemente, em entrevista ao The Korea Times, o suíço confirmou que tem mais de 2100 trabalhos da autoria de 250 artistas. Nomes como Yu Minjun, Ai Weiwei e Zhang Huan constam da sua colecção.
Na hora de preparar exposições com artistas chineses, muitos museus pensam automaticamente em Uli Sigg que se mostra sempre disponível para colaborar, cedendo peças da sua colecção. Segundo o próprio, a compra de arte não é uma forma que arranjou para fazer dinheiro. É, sim, a maneira ideal de captar a cena de arte contemporânea como um historiador.
Onde estão as mulheres?
Grande parte das listas são redutoras, mas podem revelar pequenos detalhes. Um desses casos está ligado à arte contemporânea chinesa que parece dominada por artistas masculinos. Verdade ou mentira?
“Há um número de artistas femininas bastante interessantes e é nosso hábito incluir alguns nomes nas nossas vendas em Hong Kong”, ressalva Eric Chang da leiloeira Christie’s, enumerando Cui Xiuwen, Lalan, Lin Tianmiao, Qin Ai e Yu Hong.
Jonathan Wong, especialista de arte contemporânea asiática na Sotheby’s, confirma que “apesar de a maioria dos artistas contemporâneos chineses serem homens, há cada vez mais mulheres no mercado de arte”. Sem indicar nomes, o especialista enfatiza apenas que “o sucesso de cada artista e o valor individual dos trabalhos depende somente da qualidade e não do género”.
Artista constrói instalação interativa 3D em museu no Recife por Júlio Cavani, Diário de Pernambuco
Artista constrói instalação interativa 3D em museu no Recife
Matéria de Júlio Cavani originalmente publicada no Diário de Pernambuco em 11 de maio de 2012.
Monumento à Juventude é o nome de uma obra de Daniel Santiago mas poderia ser o título da exposição que começa na segunda-feira no Museu de Arte Moderna Aloisio Magalhães (Mamam). A arte de Daniel, que nasceu em 1939, é essencialmente libertária. Sua subversão está em sua alegria e na sua liberdade. Sua política é o amor. Tanto em seus trabalhos mais antigos, da decada de 1970, quanto em seus experimentos inéditos, concretizados em 2012, sente-se uma energia criativa jovial.
A recente febre do 3D, por exemplo, está presente em sua nova instalação, chamada Na Floresta do Alheamento de Fernando Pessoa. O público deve usar óculos com filtro azul-vermelho para literalmente entrar dentro da obra, formada por fitas brancas penduradas e iluminadas com luzes dessas cores.
Quem for à abertura da exposição, na segunda, das 19h às 22h, também encontrará, ao lado da escadaria do museu, uma mulher pendurada de cabeça para baixo, com uma corda amarrada ao tornozelo. Trata-se de uma nova versão da performance O Brasil É Meu Abismo, feita pelo próprio Daniel no começo da década de 1980, que agora será repetida pela artista Marie Carangi.
Marie é uma das jovens artistas convidadas pelas curadoras Cristiana Tejo e Zanna Gilbert para colaborarem com a obra de Daniel Santiago na exposição, cujo título é De que É que Eu Tenho Medo?. Tião, Jonathas de Andrade Eduardo Souza e Nicolas Robbio também estão entre os que participam do processo de recriação coletiva.
"Não existe regra no trabalho de Daniel. Quando percebe que há um padrão aparecendo, ele tenta desviar", aponta a inglesa Zanna Gilbert (pesquisadora independente com projetos desenvolvidos junto à galeria londrina Tate Modern e ao Museu de Arte Moderna de Nova York - MoMA), que assina a curadoria da mostra junto com Cristiana Tejo. Com obras em diversos formatos (poesia, vídeo, instalação 3D, performance, desenho, pintura, arte postal, etc), a exposição é um empurrão inicial que pode revelar Daniel Santiago definitivamente como um dos grandes nomes da arte contemporânea brasileira (como ocorreu recentemente com Paulo Bruscky, que trabalhava em dupla com ele).
maio 15, 2012
Processo Eleitoral para os Colegiados Setoriais, Ministério da Cultura
Processo Eleitoral para os Colegiados Setoriais
Cadastramento de eleitores e candidatos até 24 de junho de 2012 para os seguintes colegiados
Arquitetura e Urbanismo
Arquivos
Arte Digital
Artes Visuais
Artesanato
Circo
Cultura dos Povos Indígenas
Culturas Afro-Brasileiras
Culturas Populares
Dança
Design
Livro, Leitura e Literatura
Moda
Música
Patrimônio Imaterial
Patrimônio Material
Teatro
* Audiovisual e Museus não terão colegiados e terão seus representantes no Plenário do CNPC escolhidos em comitês já existentes. Esta decisão do Ministério da Cultura vai contra a votação realizada em plenário que decidiu pela isonomia dos segmentos culturais e pelo acesso democrático a todos os colegiados.
Acesse a plataforma online para registrar a sua participação como eleitor e/ou candidato das etapas do Processo Eleitoral para os Colegiados Setoriais.
CRONOGRAMA **
14 de maio a 24 de junho 8 de agosto de 2012
Cadastro online por parte dos eleitores e candidatos para os Fóruns Estaduais Setoriais
25 de junho a 6 de julho 9 de agosto a 20 de agosto de 2012
Análise e validação dos cadastros por parte das Comissões Eleitorais
6 a 13 de julho até 27 de agosto de 2012
Impugnação da respectiva decisão da Comissão Eleitoral
14 e 15 de julho 28 e 29 de agosto de 2012
Apreciação das impugnações
18 de julho 3 de setembro de 2012
Homologação final do cadastro de eleitores e dos registros de candidaturas de Delegados Estaduais
18 a 30 de junho a partir de 11 de setembro de 2012 *
Debates e divulgação de propostas dos candidatos a Delegados Estaduais Setoriais em plataforma virtual na página do Ministério da Cultura
2 a 30 de julho 15 e 30 de setembro de 2012 *
Reuniões dos Fóruns Estaduais Setoriais para eleição de seus Delegados Estaduais na plataforma virtual (podendo ocorrer também fóruns presenciais)
29 a 31 de agosto 7 e 8 de novembro de 2012
Reunião dos Delegados Estaduais Setoriais eleitos nos Fóruns Nacionais Setoriais para eleição dos candidatos aos Colegiados Setoriais do CNPC
* Existe erro na portaria (Cap. III) quanto à data de início que ocorre antes da etapa anterior se concluir.
** Cronograma atualizado pela Portaria N. 83, de 22 de junho de 2012, publicada no DOU em 25 de junho de 2012.
LEGISLAÇÃO
Portaria N. 51, de 2 de maio de 2012
Estabelece o processo eleitoral para os Colegiados Setoriais do Conselho Nacional de Política Cultural para o período de 2012 a 2014.
Diário Oficial da União N. 85, quinta-feira, 3 de maio de 2012, Seção 1, Página 5 e Página 6
Decreto nº 5.520/2005, alterado pelo Decreto nº 6.973/2009
Institui o Sistema Federal de Cultura – SFC e dispõe sobre a composição e o funcionamento do Conselho Nacional de Política Cultural – CNPC do Ministério da Cultura, e dá outras providências.
maio 11, 2012
Maior presença de galerias estrangeiras e boas vendas pautam a abertura da SP-Arte por Audrey Furlaneto - Agência O Globo, Yahoo Notícias
Maior presença de galerias estrangeiras e boas vendas pautam a abertura da SP-Arte
Matéria de Audrey Furlaneto originalmente publicada no Yahoo Notícias em 10 de maior de 2012.
SÃO PAULO - Um homem de terno masca chiclete sem parar e, alternando as mãos entre os bolsos e um iPhone, passa por obras dos britânicos Antony Gormley e Damien Hirst. Uma vez. Duas. Três. Tim Marlow não fica imóvel por mais de alguns segundos no estande da White Cube, galeria inglesa que faz sua estreia na SP-Arte, aberta anteontem em São Paulo. Um dos diretores da galeria, ele caminha com desenvoltura (e um sorriso de canto de lábios) entre as obras: não se passaram quatro horas, e a White Cube já vendeu mais de R$ 5 milhões.
- Estamos nos saindo muito bem, você não acha? - diz, radiante, antes de puxar uma gargalhada interrompida em seguida pelo mascar de chiclete.
A White Cube levou para a SP-Arte obras de Hirst - entre elas, uma das "Spot paintings" (telas de bolinhas) do artista, vendida por R$ 1,9 milhão, e uma vitrine de remédios (R$ 2,5 milhões) - além de uma escultura de Gormley (arrematada por R$ 933 mil) e um néon de Tracey Emin (vendido por R$ 156 mil).
A poucos metros dali, Luisa Strina, dona da galeria mais antiga de São Paulo (fundada em 1974), que lançou artistas como Cildo Meireles e Antonio Dias, comenta com bem menos bom humor o crescimento da feira - este ano, com o triplo do tamanho e 110 galerias (21 a mais do que em 2011).
- Acho péssimo! Gosto de feira pequena. Por quê? Porque é mais gostoso, ora - diz, enquanto pede a um dos assistentes que lhe coce as costas ("Não aí! Mais para o meio!", ela guia).
Luisa abre o sorriso quando colecionadores se aproximam. Vendeu na abertura uma série de esculturas em bronze de Edgard de Souza, uma pintura de Caetano de Almeida e uma obra de Cildo.
- Não vou falar de preço, pelo amor de Deus! - diz, ajeitando o colar de incontáveis figas, para, como afirma, "espantar o olho gordo".
Não é só ela que está um tanto tensa com o crescimento da feira paulistana. O carioca Ricardo Rego, dono da Lurixs, afirma ter "algumas dúvidas" sobre a forte presença de galerias internacionais na feira (são 27 neste ano, contra 14 no ano passado):
- Acho que toda competição é interessante. Um atleta só melhora sua performance quando disputa com os melhores. Por outro lado, essas galerias internacionais exercem um deslumbramento sobre as pessoas. E brasileiro é deslumbrado, né? Talvez prefira comprar algo internacional, porque está numa boa condição, com menos impostos. Falo também como colecionador. É muito sedutor ter a possibilidade de incluir um Damien Hirst na coleção. Ainda mais sem imposto.
Aos moldes do que fez a ArtRio em 2011, a SP-Arte deste ano conseguiu, com o governo estadual, isenção do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) para atrair mais galerias e, claro, compradores. Embora reduza em cerca de 20% o preço das obras comercializadas na feira, a isenção é objeto de quase desdém entre as galerias estrangeiras.
- Nós decidimos vir antes de saber disso. O imposto alto do Brasil dificulta, sim, as vendas, mas não é impossível vender ainda assim - afirma Tim Marlow.
Na francesa Yvon Lambert, que no primeiro dia vendeu trabalhos de Mario Testino e Douglas Gordon, o discurso era parecido.
- Quando se decide ir a uma feira ou não, não é por ter mais ou menos impostos - diz o francês Olivier Belot, diretor da Yvon Lambert. - Mesmo se o imposto estivesse valendo, seria bom vir.
No estande da galeria paulista Millan, que reúne artistas brasileiros como Tatiana Blass, Rodrigo Andrade e Paulo Pasta, foram vendidas obras por valores entre R$ 6 mil e R$ 90 mil. Sócia da galeria, Socorro de Andrade Lima diz que a feira sempre é muito boa, mas que ainda não sabe avaliar seu crescimento.
- Ampliar e abrir é muito bom, mas não é preciso focar em quantidade. A Basel, que é a melhor do mundo, não cresce há décadas. São 200 galerias e ponto. Só entra uma se sai outra - lembra a marchande. - É preciso crescer com caminhos certos. Não sei, por exemplo, se os colecionadores brasileiros querem ir por esse caminho de comprar obras internacionais. É deixar de estar num universo em que se transita muito bem, o da arte brasileira, e ir para outro.
Para Socorro, a SP-Arte ficou "um pouco balançada" depois da ArtRio:
- Precisaram se mexer e mostrar algo novo, o que, aliás, é muito positivo.
Para a fundadora da feira, Fernanda Feitosa, o crescimento é "absolutamente normal":
- Nunca tivemos a intenção de transformar a SP-Arte numa megafeira de 200 galerias. Crescemos 21 galerias de 2011 para este ano, não é nada demais. Temos mais espaço, sim, mas você vê que temos mais de 5 mil pessoas no pavilhão, e todas circulam livremente.
Sobre a influência da ArtRio, que surgiu no ano passado e alardeou números muito maiores do que os da SP-Arte - a feira do Rio diz ter arrecadado R$ 120 milhões, enquanto a SP-Arte, no mesmo ano, vendeu R$ 30 milhões -, Fernanda minimiza:
- Nós somos a feira líder do país e somos modelo para outras feiras. Estou absolutamente confortável neste papel.
Daniel Roesler, que trabalha ao lado da mãe na galeria Nara Roesler, comemorava a venda de uma pintura de Rodolpho Parigi por R$ 50 mil e outra de Cristina Canale por R$ 60 mil - as obras, segundo ele, ficaram cerca de 9% mais baratas com a isenção do ICMS (o percentual do desconto varia de acordo com o faturamento de cada empresa). O marchand parece se importar menos com o alvoroço em torno das galerias internacionais:
- De certa forma, talvez ainda faça mais sentido, para os brasileiros, focar em obras locais.
Na Fortes Vilaça, que vendeu, entre outras, uma tela de Janaina Tschäpe por R$ 145 mil, a marchande Alessandra d'Aloia defende que uma feira não trata apenas de negócios:
- Feira é troca, é diálogo, é dar visibilidade aos artistas e fechar exposições, por exemplo. É por isso que acredito que o mais radical aqui é a nova separação de galerias.
A marchande se refere à atual divisão da SP-Arte, que restringiu ao primeiro andar galerias de arte contemporânea de mercado primário (que cuidam da carreira do artista). No segundo andar, ficam as de mercado secundário, ou seja, que revendem obras. No terceiro, estão as mais jovens e um projeto curatorial assinado por Adriano Pedrosa - quatro curadores foram convidados a montar exposições com artistas de galerias presentes na feira.
- Não usaria a palavra separação - diz Fernanda Feitosa, já depois das 22h, no fim do primeiro dia (a feira vai até domingo no Pavilhão da Bienal). - É uma redistribuição. Isso aqui é um exercício coletivo de leitura de obras de arte. E precisamos nos reinventar.
Modernos disputam espaço no mercado, Valor Econômico
Modernos disputam espaço no mercado
Matéria originalmente publicada no jornal Valor Econômico em 7 de maior de 2012.
Num momento em que a arte contemporânea brasileira vê o surgimento de novas feiras e galerias, além de aumento no volume de negócios - 44% de dois anos para cá, segundo a Abact (Associação Brasileira de Arte Contemporânea) -, marchands especializados em arte moderna trabalham para manter intacta e saudável aquela que é tradicionalmente sua boa fatia do mercado: colecionadores mais velhos, discretos e com maior poder aquisitivo.
Habituado a formar grandes coleções privadas - entre elas a sua própria -, o marchand Paulo Kuczynski abriu recentemente uma exposição com apenas oito telas de Di Cavalcanti (1897 - 1976). Concentrou-se no período que vai dos anos 1920 aos 1940, antes de o artista começar a se repetir e perder a força. "Passei cinco anos trabalhando para juntar essas obras, não fiz concessões", afirma Kuczynski. "Não existe uma reunião como essa em museu nenhum."
Ali estão obras especiais, como "Descanso dos Pescadores", que passou décadas com a família do escritor José Lins do Rego (1901 - 1957) e que, pela qualidade e raridade, enche os olhos dos colecionadores. "A Mulher do Caminhão", tela que pertencia ao joalheiro Lucien Finkelstein, foi vendida antes mesmo de a exposição ser inaugurada. "Com a profissionalização do meio, já não basta a assinatura de um pintor. Colecionadores se tornaram bem informados, buscam as melhores obras da melhor fase de um artista", diz o marchand.
A arte moderna engloba a produção de artistas que eram jovens nos anos 1920, 1930 ou 1940. Di Cavalcanti viveu até 1976; Alfredo Volpi, até 1988. Kuczynski conviveu com o segundo até o fim da vida, visitando com frequência seu ateliê. Hoje, com os artistas já todos mortos, marchands são garimpeiros. Fuçam coleções particulares, visitam casas de família, de olho nos espólios e heranças. São capazes de analisar o legado de um artista e saber onde ele deixou sua melhor marca, além de escapar das falsificações que povoam o mercado. "Artista não faz obra-prima todo dia", lembra Kuczynski.
Por seu lado, galeristas de arte contemporânea precisam saber distinguir, em meio ao mar de jovens artistas, os nomes que podem se destacar em 20 ou 30 anos. Depois de seis anos trabalhando para um marchand, Jaqueline Martins, de 35 anos, abriu no ano passado sua própria galeria em Pinheiros. "Eu tinha vontade de entrar em contato com a produção da minha geração, visitando ateliês, me aproximando dos artistas. A Tarsila [do Amaral] não está mais aqui, não dá para voltar ao passado", diz. Ela ressalta que o volume de investimento necessário para trabalhar com modernos é muito maior. "Eu não teria esse capital."
No ano em que a Semana de 1922 comemora 90 anos, a distância entre quem comercializa modernos e quem se aventura pelos contemporâneos parece estar mais demarcada. Mais importante feira de arte no país, a SP-Arte começa nesta quinta-feira para o público (quarta, para convidados), com nova disposição de stands. O térreo ficará reservado para as grandes galerias de arte contemporânea (Fortes Vilaça, Luisa Strina, Nara Roesler, entre outras), enquanto leiloeiros, marchands e alguns galeristas mais tradicionais ocuparão o segundo piso. A separação gerou certo mal-estar no mercado. Há quem ache absurdo que os segundos, responsáveis pelas vendas mais corpulentas, fiquem isolados.
Para Daniel Roesler, trata-se de separar 'mercado primário" do "mercado secundário" de arte. "Fazendo um paralelo, as galerias atuam como IPOs nesse mercado, lançando novas ações. Existe todo um trabalho feito com o artista, uma preocupação com a sua carreira como um todo. Um leiloeiro ou marchand agrega valor de outro modo, numa determinada transação de determinada obra. Não vai se preocupar com a carreira de Portinari, porque já está feita", diz
Numa das edições anteriores da feira, o stand da galeria Fortes Vilaça ficava em frente de um escritório pequeno de arte que revendia obras d'Os Gêmeos e de Vik Muniz, artistas então representados pela galeria. Como cada um quer defender _e vender_ seu peixe, existe uma dissidência na hora de definir onde começa a "verdadeira" arte brasileira. Enquanto partidários do modernismo tendem a valorizar a geração decorrente de 1922, outra corrente reserva aos heróis conceituais do anos 1950 e 1960 - Hélio Oiticica, Lygia Clark, Lygia Pape - o papel de inaugurar uma produção "genuína", reservando ao movimento moderno adjetivos como "menor" e "tardio".
Diante de altos preços alcançados por alguns contemporâneos, com as pintoras Beatriz Milhazes e Adriana Varejão encabeçando a lista, é possível que arte moderna se torne investimento atraente, dado que o risco envolvido é menor. Em dezembro de 2011, uma tela de Volpi com estimativa entre R$ 1,4 e R$ 1,8 milhão foi vendida por R$ 1,9. Alguns meses antes, "Correnteza", de Adriana Varejão, foi estimada entre R$ 800 mil e R$ 1, 2 milhão. O último lance, porém, foi de R$ 2, 05 milhões. Os dados são da Bolsa de Arte do Rio de Janeiro.
"A questão é que a trajetória de um artista vivo é imprevisível", diz Jaqueline. "Não sabemos o que vai acontecer. Se pudesse prever, eu teria comprado todas as Miras [Schendel] que vi por US$ 500. Comprei só algumas."
O boom no interesse e nos preços dos neoconcretos é outro fenômeno que continua a mobilizar o mercado. Lygia Clark esteve na lista de vários colecionadores estrangeiros na última Art Basel e uma de suas obras alcançou R$ 4,1 milhões, um recorde. Além disso, as vendas se aquecem com a confirmação de uma exposição de Mira na Tate Modern, em Londres, em 2013, e uma retrospectiva da própria Lygia, no Museum of Modern Art, em Nova York, confirmada para 2014. O frisson levou o mercado a absorver figuras secundárias do movimento. Há quem chame de "tirania neoconcreta" a obsessão que tomou conta dos colecionadores e que, como toda moda, há de passar.
O fechamento recente da galeria de Thomas Cohn, uma das mais tradicionais de São Paulo, veio reforçar a impressão de que o mercado vive tempos agitados, loucos, com muito dinheiro em circulação. O imóvel na avenida Europa foi comprado pela vizinha Nara Roesler, em expansão. A partir do próximo dia 17, ela será uma das três galerias a participar da Hong Kong Art Fair, ao lado da Casa Triângulo e da Mendes Wood. "Vamos levar um pouco de casa coisa. Por enquanto, a expectativa não é vender muito, mas fazer uma aproximação", diz Nara. A galeria contratou um tradutor e mandou fazer cartões de visita em chinês para facilitar o contato. Saber o que os chineses querem da arte brasileira pode ser uma peça adicional para compor o quebra-cabeça intrincado do mercado nos próximos anos.
Na SP Arte, obras de 110 galerias estão 30% mais baratas por Bandnews, UOL Notícias
Na SP Arte, obras de 110 galerias estão 30% mais baratas
Vídeo originalmente publicado no UOL Notícias em 11 de maio de 2012.
Obras de arte estrangeiras até 30% mais baratas. É o que promete a "SP ARTE", exposição que reúne mais de cem galerias do mundo todo, no prédio da Bienal, no parque do Ibirapuera.
Na SP Arte, obras de 110 galerias estão 30% mais baratas e outros vídeos - UOL Notícias
Isenção de ICMS: incentivo à cultura em São Paulo por SP Arte, site da feira
Isenção de ICMS: incentivo à cultura em São Paulo
Texto originalmente publicado no site da SP Arte em 5 de maio de 2012.
A SP-Arte comemora nesta oitava edição a isenção de ICMS nas aquisições realizadas durante a feira, que acontece entre 10 e 13 de maio, no Pavilhão Ciccillo Matarazzo, no Parque do Ibirapuera.
O ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) é um tributo estadual que varia de produto para produto. No caso das obras de arte essa alíquota é de 18% sobre o valor da comercialização. A decisão inédita do governo do estado de São Paulo, contudo, amortiza os preços e incentiva a venda de trabalhos ao longo do evento.
O decreto de número 57.955 foi assinado pelo governador do estado de São Paulo, Geraldo Alckmin, em abril, e publicado no Diário Oficial.
Vale ressaltar, no entanto, que a alíquota será isenta apenas para as aquisições realizadas durante a SP-Arte, ou seja, entre os dias 10 e 13 de maio. Qualquer transação feita após esse período será tributada normalmente.
A decisão incentivou a vinda de importantes galerias internacionais para a feira, como é o caso da White Cube, de Londres, que representa artistas como Damien Hirst e Miroslaw Balka. Neste ano, por exemplo, o número de galerias estrangeiras bateu um recorde histórico e passou de 14 para 27.
O crescimento significativo da feira fez com que a SP-Arte entrasse para o calendário mundial dos eventos mais importantes de arte em todo o planeta. Quase 20.000 pessoas devem circular pelos corredores do Pavilhão Ciccillo Matarazzo durante os cinco dias do evento.
Mais informações em sp-arte.com.br
Valeria Piccoli é nova curadora-chefe da Pinacoteca do Estado de São Paulo por Camila Molina, O Estado de S. Paulo
Valeria Piccoli é nova curadora-chefe da Pinacoteca do Estado de São Paulo
Nota de Camila Molina originalmente publicada no caderno de cultura do jornal O Estado de S. Paulo em 11 de maio de 2012.
Pesquisadora substitui Ivo Mesquita, que tornou-se, no mês de abril, diretor-técnico da instituição
ntegrante, desde 2007, do Núcleo de Pesquisa em Crítica e História da Arte da Pinacoteca do Estado de São Paulo, Valeria Piccoli foi anunciada nova curadora-chefe do museu. Ela substituiu Ivo Mesquita, que tornou-se, em abril, diretor-técnico da Pinacoteca. As mudanças foram alavancadas pela posse recente do ex-diretor-executivo da instituição, Marcelo Mattos Araujo, como secretário de Estado da Cultura. Com doutorado pela FAU-USP, Valeria tem sua carreira centrada em pesquisas sobre arte brasileira nos séculos 19 e 20. Ela coordenou o projeto da mostra Arte no Brasil: Uma História na Pinacoteca de São Paulo, a exposição remodelada da coleção do museu, em cartaz desde o ano passado.
Entre outras atividades, foi curadora na Coleção Brasiliana/Fundação Estudar, que está doada ao acervo da Pinacoteca. Mais ainda, fez curadorias de exposições no Brasil e no exterior, como Terra Brasilis, que integrou o festival Europalia, em 2011, em Bruxelas, na Bélgica, e Facchinetti , exibida em 2004 no Centro Cultural Banco do Brasil do Rio de Janeiro.
Feiras são o fast-food do sistema, viciam e são eletrizantes por Marcia Fortes, Folha de S. Paulo
Feiras são o fast-food do sistema, viciam e são eletrizantes
Matéria de Marcia Fortes originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 9 de maio de 2012.
A Frieze Art Fair New York, nova feira de arte subsidiária da renomada Frieze de Londres, foi inaugurada na semana passada com a participação de 180 galerias.
A cidade de Nova York é anfitriã de 12 feiras de arte contemporânea. Ainda assim, a Frieze rendeu primeira página no "The New York Times", capa da "New York" e um inteligente artigo na "New Yorker".
Deixei a Frieze e retornei anteontem diretamente para a montagem do estande na SP-Arte, que abre hoje.
Em 2012 ainda faremos a ArtRio, a Frieze de Londres e a Art Basel Miami Beach. Uma feira engoliu a outra e só nos resta fazer escolhas.
Minha primeira feira de arte foi a Unfair, a irmã caçula da Art Cologne. Ali, presenciei a performance do então jovem artista Damien Hirst, que "expôs" no estande da emergente galeria White Cube um par de gêmeas univitelinas, sentadas lado a lado trajando vestidos gêmeos de "spot paintings" e tricotando juntas, encarnando uma "obra" anticomercial.
Hoje, 19 anos depois, Hirst se tornou o artista mais rico da atualidade, e a White Cube é um sucesso com sedes em Londres e em Hong Kong.
As feiras de arte se proliferam embaladas pela autoconfiança do mercado nos últimos 20 anos, apesar de alguns soluços já superados como a crise mundial de 2008.
Hoje, a inauguração da oitava SP-Arte tem a participação da imperiosa White Cube, que fechará as vendas em São Paulo três dias antes de abrir novo estande em Hong Kong.
Essa intensidade é assustadora e fascinante. Feiras são confusas, de ar insalubre e mau design, mas com um infinito de informação e uma corrente eletrizante que vicia.
Elas são o fast-food do sistema, festivais fragmentados concentrando, em pouco espaço e em poucos dias histéricos, toda a experiência do mundo da arte. Há arte muito boa e muito ruim.
Nessa lama, encontram-se um diamante, algumas joias, e produtos da Tok & Stok.
MARCIA FORTES é sócia da Galeria Fortes Vilaça e integra o comitê de seleção da Frieze Art Fair
Semana da feira tem 25 aberturas de mostras em SP por Silas Martí, Folha de S. Paulo
Semana da feira tem 25 aberturas de mostras em SP
Matéria de Silas Marti originalmente publicada na Ilustrada do jorna Folha de S. Paulo em 9 de maio de 2012.
Enquanto a SP-Arte espera atrair até 20 mil pessoas ao pavilhão da Bienal, no Ibirapuera, em São Paulo, galerias paulistanas aproveitam a leva de visitantes à cidade para expor seus artistas mais badalados ou aqueles que querem emplacar agora.
Ontem à noite, pelo menos 16 espaços abririam mostras para convidados, criando um congestionamento artístico entre Vila Madalena, Pinheiros e Jardins. Neste sábado, estão programadas pelo menos mais nove mostras, entre elas a individual do britânico Antony Gormley no Centro Cultural Banco do Brasil.
No meio dessa avalanche, uma tendência começa a despontar. Além das individuais de artistas como Janaína Tschäpe, na Fortes Vilaça, ou Edgard de Souza, na Luisa Strina, galerias como Luciana Brito e Raquel Arnaud apostam em coletivas de artistas que não representam.
São mostras chanceladas por curadores de peso no circuito global que ajudam a alavancar o prestígio de seus espaços, além de servir de termômetro para o interesse do mercado local por artistas estrangeiros, em sua maioria, difíceis de emplacar por aqui.
Rina Carvajal, que foi uma das curadoras da última Bienal de São Paulo e chefiava o Museu de Arte de Miami, assina uma grande mostra desse tipo na Luciana Brito.
Seu truque foi escolher, no repertório de estrangeiros -como a norte-americana Trisha Brown, a francesa Marine Hugonnier, o esloveno Tobias Putrih e o mexicano Mario García Torres-, obras que flertassem com a abstração geométrica que virou sinônimo da arte brasileira.
"É interessante fazer no Brasil uma exposição sobre abstração geométrica que não fale do Brasil", disse Carvajal à Folha. "Vejo que o mercado e a curadoria aqui estão mais cosmopolitas. É a primeira vez que monto uma exposição numa galeria."
Na mesma pegada, o curador italiano Jacopo Crivelli Visconti preparou uma série de quatro exposições coletivas. Uma delas começa hoje na galeria Raquel Arnaud.
Estão lá obras da norte-americana Lisa Tan, do cipriota Haris Epaminonda e do alemão Felix Gmelin. Todos abordam questões de serialização e repetição em suas obras.
"Essa mostra é uma abertura em relação à coisa canônica das galerias", diz Crivelli Visconti. "Você não espera ver uma galeria testando os limites da curadoria."
SP-Arte atrai estrangeiros, mas compete com ArtRio por Silas Marti, Folha de S. Paulo
SP-Arte atrai estrangeiros, mas compete com ArtRio
Matéria de Silas Marti originalmente publicada na Ilustrada do jorna Folha de S. Paulo em 9 de maio de 2012.
Feira começa hoje na Bienal sob concorrência dentro e fora do país
Evento concorre ainda com franquias da feira Frieze, do Reino Unido, em NY, e da suíça Art Basel em Hong Kong
Na semana passada, um exército de galeristas e colecionadores desembarcou numa ilha perto de Manhattan para a primeira edição em Nova York da feira britânica Frieze, com sede em Londres.
Parte dessa armada chega hoje a São Paulo para a oitava edição da SP-Arte, que tem início no pavilhão da Bienal.
Eles se dividem na semana que vem entre a ArteBA, em Buenos Aires, e a Art HK, em Hong Kong. Em junho, todos se juntam em Basileia para a Art Basel, a maior feira do mundo, que transforma a cidade suíça no olho do furacão da arte contemporânea.
Feiras de arte não são meras exposições. São eventos comerciais, movidos a marketing e champanhe, em que galerias se estapeiam para garantir um espaço e colecionadores vão à forra comprando tudo o que veem pela frente.
ENTRE NY E HONG KONG
Saturado dessas feiras, o calendário está apertado. "Ficamos 'ensanduichados' entre a Frieze de Nova York e a feira de Hong Kong", admite Fernanda Feitosa, diretora da SP-Arte, que decidiu mudar as datas da feira para abril no ano que vem. "Quando começamos, o mercado internacional era muito diferente."
Em 2005, o Brasil tinha uma posição ainda acanhada no cenário global das artes visuais. Foi quando Feitosa colocou de pé a primeira edição da feira. Até então, ela nem sonhava com uma concorrente interna, a carioca ArtRio, que em setembro fará sua segunda edição.
PONTE AÉREA
"É uma concorrência voraz", diz André Millan, da galeria Millan, que estará nos eventos de São Paulo e Rio. "É inevitável que estrangeiros optem entre as feiras."
Neste ano, além da ausência de colecionadores de peso, que ficarão na ponte Nova York-Hong Kong, a SP-Arte terá de enfrentar a crescente ameaça da ArtRio, que na primeira edição vendeu R$ 120 milhões -o triplo da última SP-Arte- e agora prevê faturar até R$ 150 milhões.
"Não comento números dos outros", diz Feitosa, que não quis fazer previsões para a SP-Arte de 2012.
Nos últimos oito anos, a feira triplicou: foi de 40 galerias a 112, entre elas, as poderosas Yvon Lambert, de Paris, e White Cube, de Londres.
A isenção do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) para transações realizadas na feira, algo que a ArtRio conseguiu no ano passado e que a SP-Arte garantiu para essa edição, foi decisivo para atrair essas casas de fora.
Sem isso, impostos sobre uma obra de arte importada beiram 50% de seu valor, um desconto significativo para quem quiser as obras de Damien Hirst na White Cube ou esculturas de Richard Serra espalhadas pela feira.
FRANCHISING GLOBAL
Mas enquanto brasileiros tentam alavancar vendas com descontos, a disputa no mercado global, em que taxas vão de zero a 10%, é travada por franquias cada vez mais fortes de grifes já conhecidas.
É o caso da Art Basel, feira suíça que há dez anos mantém um entreposto americano, a Art Basel Miami Beach, e neste ano assume a feira de Hong Kong, de olho no alvoroço do mercado asiático.
"Depois que nos associamos a essa marca, tivemos uma procura maior de galerias estrangeiras", diz Magnus Renfrew, diretor do braço oriental da Art Basel, com 266 galerias confirmadas.
Na mesma direção, a Frieze, tradicional feira de Londres, cruzou o Atlântico e foi a Nova York, ameaçando desbancar o Armory Show, que há anos tenta se reinventar na disputadíssima Manhattan. "Estamos de olho na concentração do mercado aqui", diz o diretor Matthew Slotover. "Fomos bem recebidos."
Frases
"É uma concorrência voraz"
ANDRÉ MILLAN
galerista
"Ficamos ensanduichados entre a Frieze e a feira de Hong Kong. Colecionadores já disseram que vão para Hong Kong. Paciência, temos de viver com isso"
FERNANDA FEITOSA
diretora da SP-Arte
maio 8, 2012
Terra de gigantes por Paula Alzugaray e Bate papo Antony Gormley por Nina Gazire, Istoé
Terra de gigantes
Matéria de Paula Alzugaray e Bate papo Antony Gormley por Nina Gazire originalmente publicada na seção de artes visuais da Istoé em 4 de maio de 2012.
Quando foram instaladas em Manhattan, há dois anos, as 31 esculturas de homens nus em ferro fundido que compõem a obra “Event Horizon” desafiavam as alturas e os skylines da cidade de Nova York. O britânico Antony Gormley esculpiu essas figuras humanas a partir da modelagem do próprio corpo. Agora, elas serão instaladas no Vale do Anhangabaú, em São Paulo, como parte da programação de “Corpos Presentes – Still Being”, a primeira exposição individual de Gormley no Brasil. “Não consigo pensar em trabalho melhor para o espaço público de São Paulo do que ‘Event Horizon’. Esse é o meu melhor trabalho, no sentido de que ele provoca nas pessoas a consciência do ambiente.
A distribuição dos corpos pela cidade será incrível”, disse o escultor à Istoé durante a montagem do trabalho.
Aos 61 anos, Antony Gormley é um dos mais célebres e conceituados escultores em atividade. Seus trabalhos exploram a relação do corpo humano com os espaços que ele habita, criando desde esculturas intimistas até megainstalações em escala monumental. “Sua obra tem uma dimensão ao mesmo tempo industrial e artesanal. É um trabalho altamente tecnológico, que começa com a produção manual de moldes e termina com cortes a laser”, afirma o curador Marcello Dantas. “Seu trabalho não é sobre o corpo, mas sobre como o corpo é posicionado no espaço”, continua ele. Ao trabalhar com a figura humana, Gormley costuma partir da modelagem do próprio corpo, para depois fragmentá-lo em cubos de aço inoxidável – em “...” –, ou multiplicá-lo em 60 sólidas figuras de ferro – como ocorre em “Critical Mass”.
Seja em concreto, aço inoxidável, alumínio, borracha, arame, terracota, ou até pão e cera, os supercorpos construídos por Antony Gormley são maneiras diversas de o artista pensar as relações do homem com a arquitetura. “Em 2050, 70% dos humanos viverão em cidades. Fico me perguntando se nossas casas são o nosso segundo corpo” afirma Gormley, que, além das 11 esculturas, vídeos, maquetes e fotografias expostas no CCBB, concebeu oito novos trabalhos para a mostra “Facts and Systems”, que inaugura em São Paulo, na quarta-feira 9 (leia quadro). “São oito esculturas feitas de aço que usam a linguagem da arquitetura para reescrever o espaço do corpo humano”, diz.
Bate papo Antony Gormley
Por Nina Gazire
Event Horizon é um projeto de arte pública desenvolvido para a cidade de Londres, mas que já foi mostrado em Nova York e agora chega a São Paulo. O trabalho sofrerá alguma adaptação para ser mostrado na cidade? Qual é sua expectativa?
Decidimos desde o início que todos os trabalhos da mostra deveriam ser balanceados dentro e fora, em espaços fechados como os do CCBB ou na rua como os que estarão no Anhangabaú. Todo o espaço da cidade estava envolvido de alguma maneira. Não consigo pensar trabalho melhor para o espaço público de São Paulo do que Event Horizon. Acho que esse é o meu melhor trabalho, no sentido de que ele provoca nas pessoas a consciência do ambiente, do entorno. Acho que a distribuição dos corpos pela cidade será incrível. São Paulo é uma megalópole, mas é diferente de Londres e Nova York, onde este trabalho já foi mostrado antes. Não consigo imaginar qual será reação das pessoas. Quando faço um trabalho, dificilmente tento adivinhar como o público reagirá a ele. Eu gosto do elemento surpresa, acho que o resultado de Event Horizon em São Paulo é imprevisível.
Você também desenvolveu novos trabalhos especialmente para uma mostra paralela em espaço da galeria londrina White Cube em São Paulo. Como foi o processo de criação para essa exposição?
Desenvolvi oito novos trabalhos especialmente para esta exposição inédita que se chama Facts e Systems. Ela será num antigo estacionamento que transformamos em galeria, na rua Agostinho Rodrigues, em São Paulo. As obras foram feitos especialmente para a cidade de São Paulo. São oito esculturas feitas de aço que usam a linguagem da arquitetura para descrever ou reescrever o espaço do corpo humano. Todos nós vivemos em cidades agora, 70% dos humanos viverão em cidades no ano de 2050. Fico me perguntando se nossas casas são uma espécie de extensão do nossos corpos e de que maneira o corpo passou a usar a linguagem arquitetônica. As obras denominadas “fatos” seriam esse tipo de arquitetura aplicada ao corpo e os “sistemas” seriam os esquemas que criamos para criar formas de comunicação do corpo com o ambiente urbano. Estou falando dessa condição humana, da condição de São Paulo, ou qualquer cidade grande. Estou falando de conexão. Usamos todas essas ferramentas, mídia sociais, celulares e pensamos que estamos conectados uns com os outros. Mas na verdade estamos nos afastando, essas ferramentas te dão uma voz, mas não um corpo. Você fica em contato, mas não em tato. Porém, não estou dizendo que isso é ruim. A questão é que nos tornamos conectados e estamos cada vez mais desincorporados, sem contato físico.
Ao longo de sua carreira você sempre deu ênfase ao corpo humano. Porque há predominância da figura humana em suas esculturas e seus desenhos?
Estou interessado no espaço e no modo como vivenciamos isso. Penso no corpo como um espaço. Quando fechamos nossos olhos temos a sensação de estar em outro lugar, mas não estamos. Esta experiência não é definida pela perspectiva, ou pelas ideias medidas ou de distâncias, é um espaço aberto. Estou falando com você agora por telefone e estou com os meus olhos fechados e isso faz com que eu tenha a sensação de estar em outro lugar. Mas este outro lugar não é dado da mesma maneira o espaço define formas e objetos, ele infinito não tem fronteiras. É apenas a escuridão do corpo, é como o céu a noite, não possui limites. O que eu tento fazer é colidir essa dialética entre o corpo e o espaço físico. O verdadeiro espaço humano, vai além do corpo, está na consciência humana e reinventar essa experiência indo além da mera aparência do corpo é o que tenho tentado fazer no meu trabalho.
Na ocasião da ECO92, no Rio, você criou o trabalho Amazon Field com a ajuda de comunidades da região de Porto Velho. Como foi essa experiência?
Infelizmente, desde 1992 não fizemos um progresso relevante nas questões do meio ambiente. Acho que naquele ano havia uma grande esperança em iniciativas como esse encontro, em começarmos a pensar na justiça social e em maneiras de explorar o sustento sem a exaustão de recursos e danos ao meio ambiente. Hoje todo mundo fala da crise econômica da Europa e tanto os EUA quanto a China boicotaram todas as tentativas reais de negociação para a políticas ambientais, no último encontro de Copenhagen. O trabalho realizado na Amazônia é um gesto simbólico do que podemos fazer se unirmos as forças, pois essa é uma questão que pertence a todos nós. E a verdade é que, até o momento, o que temos feito não foi suficiente.
Obra de Letícia Parente é debatida em ciclo de conferências por Adriana Martins, Diário do Nordeste
Obra de Letícia Parente é debatida em ciclo de conferências
Matéria de Adriana Martins originalmente publicada no Caderno 3 do jornal Diário do Nordeste em 8 de maio de 2012.
Embora não esteja entre nós há mais de 20 anos, a videoartista Letícia Parente nunca se ausentou completamente do universo das artes visuais no País - especialmente no âmbito da produção contemporânea -, por meio do legado que deixou, em uma atuação pioneira na área. Obras como o emblemático vídeo "Made in Brazil", na qual a artista costura a frase na sola do pé, permanecem até hoje como referenciais para realizadores, artistas e pesquisadores.
Com o objetivo de discutir e ampliar o alcance desse trabalho, o Centro Cultural Banco do Nordeste-Fortaleza promove, hoje e amanhã, de 14 horas às 21 horas, o Ciclo de Conferências: a imagem-pensamento de Letícia Parente. O evento vai abranger quatro conferências sobre a obra e a vida da videoartista, com a participação de críticos, curadores e artistas de renome internacional - entre eles Françoise Parfait (França), professora de Arte e Novas Mídias na Université de Paris I. Colaboram ainda Fernando Cocchiarale (RJ); Alexandre Veras (CE); e Marisa Flórido (RJ). Os mediadores das palestras são: Beatriz Furtado (CE), Yuri Firmeza (CE), Solon Ribeiro (CE) e André Parente (MG), filho de Letícia - estes três últimos, também responsáveis pela curadoria do Ciclo. De maneira mais específica, o ciclo pretende tratar da obra da artista Letícia Parente e suas relações com o surgimento do vídeo e a experimentação desta linguagem por parte dos artistas na década de 1960 e 70, sobretudo no Brasil.
Em sua fala, o professor e crítico Fernando Cocchiarale pretende trazer um pouco sobre o trabalho de Parente a partir de um grupo do qual ela fazia parte nos anos 1970. "Não era oficial, mas alguns amigos e artistas reunidos em torno do tema", explica o palestrante, que também integrava o grupo.
"Conheci Letícia em 1973, era muito amigo dela, da família, do André Parente. Vai ser uma fala também afetiva. Ela foi pioneira, fez as primeiras experiências no campo da videoarte", complementa Cocchiarale.
Para o crítico, a obra de Letícia permanece atual e importante de várias maneiras. "Sobretudo os seus vídeos discutem um assunto hoje bastante pesquisado: a questão de gênero. Muitos dos seus trabalhos são claramente feitos do ponto de vista da mulher, em uma crítica à condição feminina na época, quando o País vivia uma ditadura militar", ressalta Cocchiarale. "Por exemplo, ela abordava tarefas domésticas, maquiava-se ou se pendurava como uma roupa no armário", recorda.
O crítico cita ainda o vídeo "Made in Brazil", segundo ele, "uma obra histórica, não no sentido de pertencer ao passado, mas à trajetória da arte brasileira", reconhece.
A opinião é compartilhada pela crítica de arte Marisa Florêncio, que ministra palestra amanhã. "Vou levar uma reflexão sobre os vídeos da Letícia, sobre seu pioneirismo na videoarte, sobre a relação entre corpo e discurso, e de seu trabalho com as mídias de massa, a TV, o cinema e a fotografia".
Mais informações
"A imagem-pensamento de Letícia Parente" - hoje e amanhã, das 14 às 21 horas, no CCBNB (R. Floriano Peixoto, 941, Centro). Gratuito. Contato: (85) 3464.3108
Eliane Costa deixa a Petrobras por Deolinda Vilhena e Eliane Costa, Terra Magazine
Eliane Costa deixa a Petrobras
Matéria de Deolinda Vilhena e Eliane Costa originalmente publicada no Terra Magazine em 6 de maio de 2012
so meu espaço nesse blog para homenagear uma pessoa importantíssima nos últimos anos na vida dos que trabalham com cultura nesse Brasil: Eliane Costa, Gerente de Patrocínios da Petrobras desde 2003 e que se prepara para deixar a empresa na qual trabalha há 37 anos!
Conheci Eliane em Paris, mais precisamente em novembro de 2010 quando integramos uma equipe de cerca de vinte brasileiros contemplados pelo Ministério das Relações Exteriores e pelo Ministério da Cultura da França, o Courants du Monde. Foi um ano especial, a Promotion 2010 do Courants du Monde há de ficar na história do projeto. Éramos uma equipe da pesada: Eliane Costa, Eva Dóris Rosental, Fernanda Celidônio, Vitor Ortiz (hoje Secretário Executivo do Ministério da Cultura), Eliana Bogéa, enfim pessoas com uma trajetória em suas vidas profissionais que se cruzaram num dos mais bonitos programas de formação do qual eu tenho conhecimento.
Durante três semanas moramos no mesmo hotel, andávamos em turma e eu meio que funcionava como a guia da tchurma pelo fato de haver morado anos e anos em Paris – e claro pela minha paixão infinita por essa cidade. Tínhamos aula de segunda à sexta, das 9h às 12h e das 14h às 17h em Paris Dauphine. E Dauphine é apenas um universidade de referência na área da Economia da Cultura, ou seja havia muito trabalho. Mas havia muita festa também porque Paris é – e o será eternamente! – uma festa.
Duas coisas me impressionaram na figura de Eliane Costa: sua simplicidade e sua capacidade de trabalho. Simplicidade porque o cargo que ela ocupava fazia dela a mulher mais cortejada do Brasil, Dilma ainda não era Presidente do Brasil e Graça Foster também não havia chegado à presidência da Petrobras. Quanto a capacidade de trabalho só tenho a dizer que era de impressionar. Porque ela ia diariamente às aulas, nos acompanhava nos teatros e nas mesas de bar/café de Paris, fazia sua caminhada diária às margens do Sena e ainda encontrava tempo para redigir o final de sua dissertação de Mestrado, sim ela é Mestre em Bens Culturais e Projetos Sociais pela FGV-Rio com pesquisa sobre políticas públicas para a cultura digital na gestão Gilberto Gil, que resultou em seu livro Jangada Digital, publicado em 2011.
Nossos caminhos se cruzaram nos carrefours parisienses e são para toda a vida. Como profissional da cultura lamento sua saída, vai fazer falta para muita gente. Mas como sua amiga confesso que estou feliz, vai sobrar mais tempo para tudo o que quero fazer em parceria com ela e com quem mais quiser se juntar a nós.
Eliane será Doutora pela Sorbonne, e uma vez sorbonnarde toujours sorbonnarde, o que nos unirá mais ainda…e estarei lá na sala de defesa da grande Sorbonne para aplaudir mais essa conquista dessa libriana, que toca cavaquinho e gosta de boa música. Mas antes disso terei o prazer de recebê-la daqui a uns dias em Salvador para participar como palestrante do 1º Seminário Internacional de Formação e Capacitação em Cultura, que acontecerá nos dias 28, 29 e 30 de maio, no Teatro Vila Velha e do qual sou Presidente da Comissão Organizadora mas sobre isso falaremos outro dia.
Deixo aqui meu abraço apertado para Eliane e desejo muito muito sucesso nos novos caminhos que a levarão com frequência à la Cour d'Honneur de la Sorbonne. Daqui a alguns poucos anos postarei aqui as fotos da defesa de tese dela sob a direção do Michel Maffesolli e a menção: très honorable avec félicitations du júry à l'unanimité. A mais alta concedida a um doutorando na França. Porque da Eliane é o mínimo que eu espero.
Aqui embaixo vocês a carta de despedida encaminhada por ela a seus amigos e parceiros ao longo desses anos de trabalho.
Caros colegas, parceiros e amigos
Como alguns de vocês já sabem, desde o início do ano me preparo para me aposentar da Petrobras, deixando, por conseguinte, a Gerência de Patrocínios, o que faço agora, nos primeiros dias de maio. Não foi uma decisão abrupta: ao contrário, posso dizer que comecei a pensar nisso há dois anos, após terminar o Mestrado e lançar meu livro Jangada Digital, sobre as primeiras políticas públicas do Ministério da Cultura para o cenário das redes: os Pontos de Cultura, na gestão Gilberto Gil.
Minha decisão ganhou força quando fui convidada, no final do ano passado, para fazer um Doutorado na Sorbonne, levando para lá a pesquisa sobre essa experiência brasileira, agora acrescida dos igualmente originais e potentes movimentos de sociedade civil que trabalham nessa mesma interseção cultura / redes digitais / território / cidadania, dentre os quais Afroreggae, Fora do Eixo, Central Única das Favelas, Nós do Morro, Viva Favela, Agência de Redes para a Juventude, Casa da Cultura Digital, Universidade das Quebradas, Observatório de Favelas, PontoCine Guadalupe, Narrativas Digitais, Redes da Maré, Tramas Urbanas, Regiões Narrativas, Crescer e Viver, Conexão Felipe Camarão, Tangolomango e tantos outros. Isso sem deixar de fora o fenômeno de microempreendedorismo representado pelas mais de 100 MIL lan-houses que se espalham pelos bairros populares e favelas brasileiras: um número impressionante, principalmente quando comparado às 5 mil bibliotecas públicas, 2200 salas de cinemas ou 2500 livrarias no país. Devo dizer que essa cena brasileira é muito reconhecida no exterior por sua originalidade, ousadia e potência transformadora.
Parte expressiva dessa efervescência cultural foi incentivada pelo enfoque das políticas públicas a partir de 2003, que então passaram a enfatizar a perspectiva da diversidade e dos direitos culturais, ao lado de uma concepção contemporânea de cultura e da percepção dos desafios que estão hoje a ela colocados. Essa cena foi, ao mesmo tempo, energizada pela Petrobras, que identificou nessas manifestações algumas das prioridades de sua própria política de patrocínio cultural: “contribuir para a realização de projetos de interesse público, não necessariamente na evidência do mercado e que contemplem a cultura brasileira em toda a sua diversidade étnica e regional”, bem como “contribuir para a afirmação da cultura como direito social básico do cidadão”.
Eu não poderia, portanto, perder a oportunidade de, após essa experiência de formulação e gestão de uma política cultural institucional articulada com as políticas públicas para o setor, continuar refletindo sobre a “cultura das redes” e seu diálogo com a chamada “cultura da periferia”, assuntos que, “juntos e misturados” aos seus valentes protagonistas, me proporcionaram as experiências mais ricas e motivadoras que tive durante os quase nove anos em que fui gerente de patrocínios na Petrobras.
Assim, acabo de começar o doutorado no Centre d’Études sur l’Actuel et le Quotidien (CEAQ / Paris V), sob a orientação do professor Michel Maffesoli que, há algum tempo, já dissera que “o Brasil é o laboratório da pós-modernidade”. Não precisarei me mudar para a França nesse primeiro momento, visto que meu campo de pesquisa é aqui, mas preciso ter tempo pra estudar e disponibilidade para estar lá, por algumas semanas, pelo menos duas vezes ao ano.
Minha decisão não é nada fácil: deixo a empresa após 37 (trinta e sete!) anos de casa, durante os quais vesti a camisa da Petrobras com muita paixão. Nesses últimos nove, estive à frente das seleções públicas nacionais de projetos e da gestão do Programa Petrobras Cultural (PPC), que, desde 2003, viabilizou mais de três mil projetos provenientes de todas as regiões do país: a maior parte dos filmes brasileiros produzidos/lançados no período, ao lado de espetáculos, concertos, livros, exposições, ações de arte-educação, CDs, DVDs, portais na internet, redes, orquestras, festivais, seminários, oficinas, óperas, balés, obras de restauro de edificações históricas, ações de salvaguarda e registro do patrimônio imaterial brasileiro, festas populares, manutenção de espaços culturais e de formação, além de companhias de teatro, dança e circo.
Essas ações envolveram cultura popular, tradicional e de vanguarda; de “centro” e de “periferia”; analógica e digital; focadas não só em produção, mas também em difusão, memória, reflexão, formação de públicos, talentos e técnicos para o setor; projetos singelos e de grande porte; realizadores consagrados e os novos protagonistas da cena cultural contemporânea. Vozes, cores, linguagens, olhares, trajetórias, narrativas e sotaques que fazem jus à diversidade étnica, regional e social da cultura brasileira.
Tenho a convicção de ter trazido ao meu trabalho as idéias e energias de muitas outras pessoas que vieram antes de mim, e de outras tantas que estiveram ao meu lado nesse percurso e o continuarão, não necessariamente da mesma maneira. Certamente o período com que pude contribuir para essa atividade faz parte de uma linha muito mais longa, para trás e para frente.
Nesse momento de partida, agradeço, em primeiro lugar, à minha equipe, competente, carinhosa e companheira nos desafios de todos os dias, especialmente à Taís, minha substituta durante a maior parte desses nove anos, e aos demais gerentes setoriais e coordenadores que me acompanharam mais de perto, como Thompson, Gilberto, Claudio Jorge, Romildo e Regina, que, juntos, deram o suporte indispensável à minha gestão. Não posso citar cada um de vocês, mas sintam-se todos prestigiados e tocados por minha gratidão.
Sou muito grata, também, aos superiores que tive nessa jornada: os ex-presidentes Jose Eduardo Dutra e Jose Sergio Gabrielli, bem como a presidente Graça Foster, com quem pouco pude conviver, por conta dessa minha decisão, mas a quem desejo muita força e sucesso nesse posto que, pela primeira vez, é feminino. A Wilson Santarosa, que, como Gerente Executivo da Comunicação Institucional, foi, desde 2003, meu gerente superior imediato, agradeço muito especialmente. Todos me proporcionaram um tempo muitíssimo feliz, mesmo com todo o estresse inerente a um cargo como o que deixo agora.
Agradeço, igualmente, a todos(as) os(as) colegas e amigos(as) que fiz ao longo desses 37 anos, em todas as áreas da empresa pelas quais passei: ainda que, à época com outros nomes, a área de Tecnologia da Informação, a Universidade Petrobras, a Exploração & Produção, a Área de Negócio Internacional e em especial, a Comunicação Institucional, onde estou desde 2002, e onde aprendi muito com as demais equipes e com meus pares-gerentes. Obrigada também aos colegas e parceiros do Jurídico, Tributário, Auditoria, GAPRE, da BR e demais subsidiárias, bem como das áreas regionais de comunicação ligadas aos demais órgãos da empresa.
E, claro, aos meus amigos e familiares que estiveram perto de mim durante essa trajetória, que certamente lhes subtraiu muitas de minhas horas.
Não posso deixar de agradecer, ainda, ao Ministério da Cultura e suas fundações e autarquias vinculadas, à Secretaria de Comunicação da Presidência da República – SECOM (em especial ao seu Comitê de Patrocínios), às secretarias estaduais e municipais de cultura com os quais tive contato, às instituições culturais parceiras, aos mais de 400 especialistas que integraram as comissões anuais de seleção pública do PPC (professores, pesquisadores, críticos, realizadores vindos de todo o Brasil) e aos profissionais da imprensa (pelo respeito e consideração que sempre tiveram com a minha pessoa).
Agradeço muito especialmente aos proponentes dos milhares de projetos que tive a oportunidade de receber e ouvir (tendo a Petrobras podido, ou não, patrociná-los), tanto na sede da empresa, quanto durante as Caravanas PPC, circuito nacional de bate-papos e oficinas de projetos que inauguramos em 2005, com o objetivo de agregar à divulgação da abertura das inscrições para as seleções públicas do Programa Petrobras Cultural uma dimensão formativa, com oficinas de projetos e bate-papos diretos com artistas, criadores, produtores e agitadores culturais de todas as capitais e de algumas das grandes cidades brasileiras. Nesses circuitos, acho que ouvi quase todos os sotaques do Brasil, bem como a voz de muitos brasileiros orgulhosos de serem reconhecidos como protagonistas de nossa cultura. Nessas Caravanas, pude, acima de tudo, perceber claramente como são diversas as demandas, as dificuldades e as possibilidades dos muitos “brasis”, e como alguns pequenos detalhes nos processos, nos critérios, na política de patrocínios da empresa e no próprio relacionamento do patrocinador com os proponentes, e com seus projetos, podem fazer enorme diferença, certamente imperceptível para quem não sai de sua mesa no escritório.
Foi, realmente, uma experiência riquíssima.
Embora a importância da Petrobras para o país transcenda, em muito, os limites da cena cultural, posso afirmar que foi a partir da perspectiva da cultura que pude compreender mais profundamente a dimensão da presença dessa empresa, capaz de transformar realidades e pessoas. A possibilidade de, dentro dos meus limites, ter contribuído para essa transformação me deixa, sinceramente, muito feliz e realizada.
Vou me dedicar, a partir de agora, ao meu doutorado e a compartilhar essa experiência que tive o privilégio de acumular: dando aulas nos programas de pós-graduação da ESPM e da Candido Mendes, bem como em palestras, consultorias e projetos bacanas que surgirem. Este email da Petrobras sairá do ar no próximo dia 10.
Um grande abraço a todos! E continuemos atentos ao papel estratégico que a Cultura precisa ocupar no projeto do Brasil que queremos.
Eliane Costa
PS: Continuarei, também, como sempre, tocando cavaquinho e cantando nas rodas de samba mensais do bloco Escravos da Mauá, desde 1993 na região portuária carioca.
maio 4, 2012
Os seis andares serão ocupados depois dos testes por Camila Molina, O Estado de S. Paulo
Os seis andares serão ocupados depois dos testes
Matéria por Camila Molina originalmente publicada no caderno de Cultura do Estado de S. Paulo em 30 de abril de 2012.
O projeto inicial das exposições da nova sede do MAC data de 2010
"As pessoas mais velhas queriam rever o edifício e as mais novas têm esse ímã com o que é o Niemeyer. Se fosse uma exposição de pinturas e desenhos, teríamos de colocar painéis e assim tiraríamos a visibilidade do edifício. E outro dado, não vamos ser ingênuos, é que aquele é um espaço em teste. Não vou colocar em risco obras frágeis num prédio que acabou de ser reformado", diz Tadeu Chiarelli sobre a mostra O Tridimensional no Acervo do MAC, em cartaz desde 28 de janeiro na nova sede do museu. A exposição conta com 17 peças, algumas de grande escala, criadas por artistas nacionais e estrangeiros como Henry Moore, Maria Martins, Cildo Meireles, Ernesto Neto e Angelo Venosa.
O projeto inicial das exposições da nova sede do MAC data de 2010. A ideia é que a mostra de esculturas, no térreo do prédio, permaneça no local ao longo de todo o processo de ocupação do edifício e de transferência do acervo da instituição, abrigado em seu espaço na Cidade Universitária, e na área que o museu possui no pavilhão da Bienal. Pelo cronograma, segundo Chiarelli, está prevista para ser aberta em setembro a mostra com fotografias de Mauro Restiffe e de instalação de Carlito Carvalhosa no anexo da nova sede.
Depois, os seis andares expositivos do edifício vão abrigar grande mostra do acervo do MAC (por quatro pisos) - "com uma interpretação sobre a arte do século 20 e início do século 21" - e uma exposição contemporânea (por dois andares) com criações de jovens e consagrados que tratam de questões como a identidade do artista enquanto criador, sua relação com a instituição e com a sociedade. Entre os vetores, estarão representados o israelense Dov Or Ner e ainda Luiz Paulo Baravelli e Hudinilson Jr. As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.
Rodolfo Mesquita exibe novas pinturas na Amparo 60 por Eugênia Bezerra, Jornal do Commercio
Rodolfo Mesquita exibe novas pinturas na Amparo 60
Matéria por Eguênia Bezerra originalmente publicada no Caderno C do Jornal do Commercio em 3 de maio de 2012.
A mostra, que tem curadoria de Clarissa Diniz, é a primeira individual do artista após nove anos
Rodolfo Mesquita é apontado como um dos melhores desenhistas de sua geração. Seu traço e suas figuras grotescas, trafegando entre o ridículo e o trágico, são marcantes e reconhecíveis num rápido relance. Artista avesso às badalações, ele volta a realizar uma exposição individual na Amparo 60 depois um hiato de nove anos - a última mostra foi Desenhos urgentes, em 2003. Nesta sua volta à galeria do Pina, Rodolfo aparece com pinturas sobre papel e MDF, a maioria realizadas entre 2009 e 2011. O vernissage acontece nesta quinta-feira (3/5), às 20h.
"Neste período entre 2003 e 2012, a obra de Rodolfo tem passado por algumas transformações. Um dos aspectos que me chamou a atenção foi a saída do texto. Antes havia vários tipos de textos, desde uma espécie de diagrama em que ele apontava coisas nas telas", afirma a curadora Clarissa Diniz, que já trabalhou com obras de Rodolfo em outra ocasião (a mostra Encarar-se aconteceu no Museu Murillo La Greca, em 2008, com pinturas dele e desenhos de Fernando Peres).
Clarissa avalia em seu texto curatorial que "o desaparecimento dos textos que ofereciam chaves de leitura de caráter habitualmente crítico e social; a paulatina ênfase sobre situações eminentemente corriqueiras (e, portanto, menos narrativas e/ou épicas); o surgimento de personagens menos socialmente demarcados (tantas vezes lidos como ‘idiotas’, mas, fundamentalmente, equivalendo a ‘qualquer um’); o crescente protagonismo do fundo diante da figura e, com isso, a complexificação da espacialidade na obra do artista são aspectos que evidenciam sua transformação. De modo geral, o artista esgota seus personagens e suas narrativas que, assim, diariamente desgarrados socialmente, tornam-se por outro lado, cada dia mais políticos".
Observando estas figuras pintadas nos últimos tempos por Rodolfo nota-se realmente que, mesmo não estando mais tão "socialmente demarcadas", elas não perderam sua expressividade. "Alguns faziam tipos. Desta vez botei uns peões, mas acho que são quase abstratos", afirma o artista, citando os seres representados em uma grande tela vertical exposta na Amparo 60. A cena lembra uma construção, mas com uma parte já desmoronando.
"Não queria cair também em algo muito abstrato, porque acho que desenhar e pintar já é uma abstração, é uma tremenda mediação", afirma o artista plástico. "São figuras agindo, fazendo qualquer coisa, não importa o quê", explica.
A matéria completa está no Caderno C desta quinta-feira (3/5), no Jornal do Commercio.
Artista Rodolfo Mesquita retrata o cotidiano com uma visão crítica sobre o homem, Diário de Pernambuco
Artista Rodolfo Mesquita retrata o cotidiano com uma visão crítica sobre o homem
Matéria originalmente publicada no Diário de Pernambuco em 2 de maio de 2012.
Rodolfo Mesquita, Amparo 60 Galeria de Arte, Recife - PE, 04/05/2012 a 02/06/2012
Seres humanos apáticos, que parecem perdidos na banalidade do cotidiano, são os protagonistas do quadros de Rodolfo Mesquita, que inaugura nova exposição na Galeria Amparo 60. Os desenhos e pinturas do artista possuem uma forte carga plástica e podem ser considerados lindos apesar de serem protagonizados por personagens esencialmente feios, assim como atingem a harmonia por meio de traços tortos. As obras também são carregadas de críticas sociais, ideológicas e políticas, apesar de não atacarem nenhum alvo explícito.
A exposição começa nesta quinta, com abertura às 20h, e fica em cartaz até 2 de junho, de segunda a sábado, na Avenida Domingos Ferreira, 92, Pina. Informações: 3033-6060.
Leia íntegra do texto de apresentação da exposição escrito pela curadora Clarissa Diniz:
Invenção compulsória
Certa inabilidade e as invenções que dela decorrem atravessam a obra de Rodolfo Mesquita. Qualquer aspecto que pareça advir do voluntarismo atribuído ao “estilo” — com suas escolhas repletas de singularidade autoral — é, em verdade, invenção compulsória: o artista não sabe fazer de outro modo e está, assim, obrigado a ser como nos aparece. Nesse sentido, quando Rodolfo afirma sua inabilidade formal e seu não virtuosismo técnico, devemos entender que não se trata de uma “dificuldade em afirmar-se” como artista, mas, antes, de uma incomum disposição em enfrentar a difícil afirmação de uma subjetividade compulsoriamente alienada: nós não sabemos o que fazemos. Assim, uma visão política da história, da economia e do sujeito se presentifica em seu modo de entender e de fazer arte: “Nós não somos mestres do que produzimos. O que produzimos se impôs a nós. Alguém que parte do nada, que tem consciência de que a verdadeira intuição artística deve sair do nada. […] Desenhar só o que não sei. Rude prova de existência como quem diz ′foi sem saber`”1.
O que poderia parecer um vago marxismo recoloca-se, na obra de Rodolfo Mesquita, em precisa crítica política. O projeto doutrinário e voluntarista de quase todo o pensamento revolucionário de esquerda é secamente posto em perspectiva por uma obra que, cada vez mais, nada pretende afirmar. O artista responde à frustração generalizada diante da “falência” da utopia socialista com um cotidiano trabalho de esvaziamento — ou, tomando de empréstimo um conceito deleuziano, de esgotamento — do próprio pensamento utópico. Assim, se até meados dos anos 1990 o trabalho de Mesquita estava às voltas com um esforço de engajamento social, aos poucos a energia é transposta para outro foco. O desaparecimento dos textos que ofereciam chaves de leitura de caráter habitualmente crítico e social; a paulatina ênfase sobre situações eminentemente corriqueiras (e, portanto, menos narrativas e/ou épicas); o surgimento de personagens menos socialmente demarcados (tantas vezes lidos como “idiotas”, mas, fundamentalmente, equivalendo a “qualquer um”); o crescente protagonismo do fundo diante da figura e, com isso, a complexificação da espacialidade na obra do artista são aspectos que evidenciam essa transformação. De modo geral, o artista esgota seus personagens e suas narrativas que, assim, diariamente mais desgarrados socialmente, tornam-se, por outro lado, cada dia mais políticos.
Liberados de “ser alguém” (dessubjetivados, portanto) e habitantes de um espaço não ortodoxo — ao passo que igualmente não cartografável —, seus personagens performam uma existência que, indisposta com meios e fins, funções sociais ou vontades narcísicas, tende a ser pura intensidade: gestos repetidos e sem sentido, olhares destituídos de ponto de fuga, caminhadas para lugar algum, quedas e saltos no vazio, verbalizações mudas — inutilidades que conferem caráter político à inabilidade. Igualmente inaptos, portanto, o artista e sua obra paulatinamente esgotam suas próprias possibilidades e, girando em torno de si mesmos, fundam uma experiência de imanência, de uma continuidade que só se faz porque é, por si, persistente.
Compreendendo que “Sentir não é ter sensações, assim como pensar não é ter ideias”2, a obra de Rodolfo Mesquita tem esgotado os substantivos e adjetivos de outrora para lançar-se a um vazio-pleno — evidente na espacialidade em queda de suas obras recentes —, potencializado pela ação3. Para o artista, cujos personagens e espaços parecem ter esgotado todas as possibilidades, continuar inventando perdeu seu caráter de escolha e tornou-se potente e ativamente compulsório: “Está em ação, processo em movimento, o verbo é dominante: você está fazendo”4.
1 Excerto de texto de Rodolfo Mesquita (1993).
2 Idem.
3 “O vazio-pleno contém todas as potencialidades. É o ato que lhe dá sentido”. Lygia Clark no texto Do Ato (1965).
4 Excerto de texto de Rodolfo Mesquita (1993).
maio 2, 2012
Arte móvel e interativa por Mariana Cerigatto, Jcnet
Arte móvel e interativa
Matéria de Mariana Cerigatto originalmente publicada no Jcnet em 2 de maio de 2012.
O impacto das novas tecnologias da comunicação já chegou ao ensino de artes. A novidade mais recente da área é um aplicativo inédito para celulares desenvolvido por dois alunos do Mestrado em Televisão Digital do Programa de Pós Graduação em Televisão Digital da Unesp (PPGTVD), do campus de Bauru. “Reflexões sobre a Arte” é fruto do trabalho final do mestrado em TV Digital do produtor audiovisual e jornalista Leonardo Schimmelpfeng e visa o aprofundamento em algumas temáticas artísticas, misturando textos, vídeos e animações em um ambiente interativo.
O projeto foi desenvolvido em parceria com a Univesp (Universidade Virtual do Estado de São Paulo), que já disponibilizou o material para os alunos do curso de Pedagogia na modalidade à distância. O fluxo do vídeo coloca os estudantes em contato com uma narrativa audiovisual não-linear, em um formato bastante atrativo, que escapa da linguagem monótona das vídeo-aulas. O conteúdo parte da Semana da Arte Moderna de 1922 e segue com os movimentos artísticos rumo à arte contemporânea.
O vídeo já é considerado pioneiro, uma vez que é o primeiro aplicativo interativo para celulares entre os cursos de educação à distância da Univesp que se propõe a mostrar processos artísticos de forma interativa e educativa. Todo roteiro, produção, edição e pós-produção foram desenvolvidos por Leonardo. A interatividade do projeto ficou a cargo do programador Fábio Cardoso. Leonardo defendeu recentemente a dissertação de mestrado e Fábio é atual aluno do PPGTVD. Os dois são também funcionários da TV Unesp, entidade que apoiou o projeto.
Acessibilidade
Desenvolvido para celulares com sistema operacional móvel Android (versão 2.2 ou acima), o programa gratuito também está disponível para download na Google Play, uma loja mantida pela Google para distribuição de aplicações, jogos, filmes, música e livros. Anteriormente, a loja chamava-se Android Market.
Além disso, “Reflexões sobre a Arte” tem versão para a Internet e pode ser acessado por estudantes ou por qualquer pessoa que quiser conhecer o material. Para interagir com o aplicativo, é só acessar o www.labtvd.com.br/rsa.
Longe de monotonia
Um dos principais desafios para os desenvolvedores de conteúdos educativos tem sido a questão da linguagem. E, quando se trata de celular, há uma especificidade: o momento da recepção ocorre, muitas vezes, na rua, no ônibus, na faculdade, raramente em casa. Pensando nisso, como concentrar a atenção do usuário em ambientes de fácil distração?
A resposta está no formato da linguagem. No caso de “Reflexões sobre a Arte”, o formato se distancia de uma vídeo-aula. “A gente trabalha com plano bem fechado na apresentadora, no rosto, na boca enquanto ela fala. A gente fez isso pensando em garantir dinamicidade ao produto, para prender a atenção das pessoas. Então a quebra de planos foi uma dessas estratégias”, revelou Leonardo.
Outro ponto de destaque do aplicativo fica para o estímulo à curiosidade. “O programa disponibiliza fontes de referência das imagens e vídeos produzidos. Essa foi uma das intenções – fazer com que o aluno passe a buscar referências a partir do contato com o vídeo”, frisou o jornalista. A próxima etapa, segundo Leonardo, é fazer uma pesquisa de feedback junto aos alunos da Univesp que já utilizam o programa.
Repercussão na Internet já é grande
Tanto Leonardo como Fábio estão surpresos com tamanha repercussão que “Reflexões sobre a Arte” tem ganhado na Internet. Com apenas algumas semanas de lançamento, o vídeo já virou notícia até no Twitter oficial do governo do Estado de São Paulo e é compartilhado constantemente em redes como Facebook.
Tudo começou, conforme conta Leonardo, com o ingresso no mestrado. “Baseado no decreto governamental de implementação da TV Digital (TVD) no Brasil, que previa redes de educação à distância para TVD, comecei a pensar em trabalhar com conteúdo educativo para celulares, que para mim é um mercado que estava e ainda está crescendo”, relatou.
Desde o início de sua pesquisa no mestrado, Leonardo conta que queria fazer algo prático. “Por ser algo da linha de educação, eu precisava de amparo pedagógico. Ao final do projeto, consegui fechar uma parceria com a Univesp. Isso viabilizou o desenvolvimento do aplicativo”, explica o autor do projeto.
Leonardo afirma ter escolhido o Android (versão 2.2 ou acima) por ser um sistema operacional móvel gratuito e de fácil acesso. “Mas também pensei em trabalhar com o conceito de multiplataforma. Portanto, o aplicativo pode ser acessado também através da web”, indicou.
No processo de desenvolvimento do aplicativo, Leonardo contou com a “mãozona” do mestrando em TV Digital e também colega de trabalho Fábio Cardoso, que também tem formação em artes. Além de auxiliar no roteiro do conteúdo educativo, Fábio ficou responsável pela parte de programação. “Durante o desenvolvimento, enfrentamos várias dificuldades técnicas, que envolveram dúvidas sobre as maneiras de interagir com o aplicativo, como os possíveis cliques, questões de toque da tela, do tamanho da tela, da posição... foram necessárias várias adaptações”, expôs Fábio, que se diz surpreso com a repercussão do aplicativo. “Quando o Leonardo apresentou a proposta para mim, eu não botava muita fé. Eu não imaginava que a necessidade da população por recursos educacionais em plataformas que não fossem a Internet seria tão grande”, ressaltou.
Isenção de ICMS leva mais estrangeiros à feira SP Arte por Márcia Abos, Yahoo Notícias
Isenção de ICMS leva mais estrangeiros à feira SP Arte
Matéria originalmente publicada por Márcia Abos no Yahoo Notícias em 2 de janeiro de 2012.
SÃO PAULO - Representante de artistas como o britânico Damien Hirst e o polonês Miroslaw Balka, a White Cube de Londres, uma das grandes galerias de arte contemporânea do mundo, participará pela primeira vez de uma feira de arte no Brasil. Ela é um dos destaques da oitava edição da SP Arte, que acontece entre 9 e 13 de maio no pavilhão da Bienal, no Parque Ibirapuera, em São Paulo.
Na edição deste ano, o número de galerias estrangeiras é recorde: passou de 14 para 27, em comparação com a edição anterior. Também fazem sua estreia no Brasil a inglesa Sprovieri Gallery, a francesa Yvon Lambert, a espanhola Elvira González, a argentina Ruth Benzacar e a japonesa Kaikai Kiki - fundada por Takashi Murakami para representar novos artistas.
Para Fernanda Feitosa, diretora da SP Arte, a isenção do pagamento de ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) em todas as vendas realizadas nos cinco dias do evento, aprovada pela primeira vez pelo governo paulista, contribuiu para atrair as galerias estrangeiras.
- E a SP Arte entrou no calendário mundial de feiras de arte. O mercado brasileiro é muito falado, mas ainda pouco conhecido - opina Fernanda, que espera receber um público de 19 mil pessoas.
Em busca de uma audiência que frequenta exposições, mas ainda não se aproximou das feiras, foi feita uma parceria com o Museu da Imagem e do Som, o Museu de Arte Moderna e a Pinacoteca de São Paulo. Os ingressos para a SP Arte, a R$ 30, serão gratuitos para os visitantes desses museus. E quem pagar para ir à feira poderá entrar também nas três instituições.
O primeiro andar da Bienal abrigará arte moderna, reunindo artistas que produziram entre 1910 e 1970. O térreo e o segundo piso serão dedicados aos contemporâneos.
Em 2011, a visitação da SP Arte foi de 17 mil pessoas, com 89 galerias, contra 110 neste ano. Em setembro de 2011, a primeira edição da ArtRio recebeu 46 mil pessoas em cinco dias e abrigou 83 galerias.
Constelações artísticas por Paula Alzugaray, Istoé
Constelações artísticas
Matéria de Paula Alzugaray originalmente publicada no caderno de artes visuais da revista Istoé em 27 de abril de 2012.
Os paulistas Nino Cais e Sofia Borges estão entre os 110 artistas brasileiros e estrangeiros convidados para a 30ª Bienal de São Paulo
Programada para inaugurar em 7 de setembro, a 30ª Bienal de São Paulo tem como proposta instaurar constelações de obras e artistas que conversam entre si. “Essa é uma Bienal de vínculos, estamos trabalhando as relações entre os artistas”, afirmou o curador venezuelano Luis Pérez-Oramas ao anunciar os 110 artistas da exposição “A Iminência das Poéticas”. Se o intuito da Bienal é funcionar como plataforma de encontros e organizar os artistas em “grupos constelares”, procuramos nestas páginas de Artes Visuais localizar algumas analogias e dissonâncias entre os artistas convidados. Nino Cais e Sofia Borges não estão necessariamente no mesmo grupo constelar definido pela curadoria, mas são artistas cujos trabalhos se tocam delicadamente em um mesmo ponto de partida: o uso do corpo em situações ao mesmo tempo familiares e estranhas e o uso da colagem – manual no caso de Cais e digital no caso de Sofia.
“Meu corpo é uma espécie de ímã que atrai os objetos do seu entorno, tomando posse deles”, afirma Cais, referindo-se à coleção de objetos das mais variadas procedências, organizados nas composições fotográficas que ele está concebendo para a Bienal. Um colar mexicano, um tapeware comprado na feira diante de sua casa, um capuz do budismo tibetano, uma pintura bucólica de casinha, uma saia kilt escocesa. Ao extinguir os limites e as distinções entre objetos tão díspares, Cais se comporta como um sociólogo da cultura, um viajante sem sair de casa, que desenha no próprio corpo o mapa de um mundo pessoal. É nesse corpo globalizado, que se oferece como uma espécie de totem, constelação cultural, ou veículo de múltiplas conexões, que o artista dá combustão ao seu trabalho.
O tratamento quase etnográfico que é conferido a essas imagens já estava presente nos trabalhos que Cais desenvolve há 12 anos em colagem, escultura e fotografia. Representado com a cabeça sempre encoberta pelas mais variadas categorias de máscaras e capacetes, o artista indaga: “Eu me pergunto se essas imagens são ou não autorretratos.” A obstrução da face – o que às vezes ocorre de forma claustrofóbica, remetendo aos anos em que estudava para ser seminarista – poderia significar, à primeira vista, uma obstrução da identidade. Mas ele discorda: “A identidade não é algo próprio da face, é algo que se transfere a todos os objetos que nos cercam.” Na minuciosa etnografia feita em seu quintal, Cais expõe, afinal, uma identidade muito própria. “Estou interessado em criar alegorias, quase fantasias de Carnaval, a partir de coisas que combinam ou não.”
A encenação e a representação de papéis são também a estratégia de Sofia Borges, que, aos 28 anos, está entre as mais jovens a expor nesta 30ª Bienal. A (con)fusão entre a fotógrafa e a personagem é uma questão de seu trabalho desde a série “Retratos e Autorretratos”, de 2007, ambientada em sua vida doméstica. Enfocadas na cozinha, no escritório ou no quarto, sob iluminação dramática, as personagens de Sofia parecem assustadas e catatônicas. O clima de mistério se consolidaria logo depois na série fotográfica “Sedimentos”, de 2009, em que a artista se dedica à recriação de ambientes cinematográficos, inspirados nas composições cênicas do diretor americano David Lynch.
A ideia de que a fotografia é construção do mundo e de que sua função de registro da realidade é, portanto, ilusória permaneceria nas obras mais recentes da jovem artista, como “Estudo da Paisagem” (2011), em que ela fotografou os dioramas do Museu de História Natural de Nova York, e sobre a qual continua trabalhando no momento em viagem à Europa.
Paisagem e representação deverão estar, portanto, entre os temas de abordagem de Nino Cais e Sofia Borges na 30ª Bienal. Estimulado pela promessa de Pérez-Oramas de que “cada artista será representado por uma constelação de obras”, Cais está concebendo uma exposição que irá aproximar vários de seus objetos e contemplar diversas fases de sua trajetória. Elas estarão reunidas, como num palco, em torno da ideia do “Espetáculo”.