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novembro 30, 2011
Arte e política por Ana Cecília Soares, Diário do Nordeste
Arte e política
Matéria de de Ana Cecília Soares originalmente publicada no Caderno 3 do Diário do Nordeste em 29 de novembro de 2011.
Curador da última Bienal Internacional de São Paulo, Moacir dos Anjos vem a Fortaleza para a abertura da exposição do artista polonês Artur Zmijewski. Ele também ministrará duas palestras sobre a relação entre a arte e a política
Independentemente daquilo que é visto como seu tema, a arte é política quando abre fissuras nos consensos que organizam a vida humana. Mas, por outro lado, poderá se tornar panfletária, a medida que nos quer doutrinar sobre algo que já sabemos. Mesmo que as intenções sejam justas, a obra, neste caso, não emancipa, apenas reafirma e resguarda o conhecimento existente sobre alguma coisa. Simpático a essa opinião, o curador e coordenador de Artes Visuais da Fundação Joaquim Nabuco, Moacir dos Anjos, tem se dedicado, ao longo da última década, ao desenvolvimento de projetos relacionados à temática arte e política, uma de suas favoritas.
Nesse contexto, entre os trabalhos mais importantes está a participação na 29ª Bienal Internacional de Arte de São Paulo, realizada em 2010. Além da organização do projeto Política da Arte, iniciado em 2009, na Fundação Joaquim Nabuco, do qual alguns resultados poderão ser conferidos a partir de amanhã, às 20 horas, com a abertura da exposição do artista polonês Artur Zmijewski, no Centro Cultural Banco do Nordeste (CCBNB), em Fortaleza.
A individual fica em cartaz até 31 de dezembro. Ela é composta por três vídeos, que estão entre os mais conhecidos do artista polonês. Eles nos mostram, com clareza, um traço importante de sua poética: dar visibilidade a situações e fatos que os consensos sociais transformam em tabus. "Acompanho o trabalho de Zmijewski há alguns anos e tive oportunidade de trabalhar com ele durante a preparação da Bienal de São Paulo. As tensas narrativas que constrói terminam por ativar, na memória do espectador, os conflitos e antagonismos que permeiam contextos importantes da história do século XX", conta Moacir.
Antes da abertura da exposição, Moacir dos Anjos também proferirá, amanhã e na quinta-feira, às 18h30, palestras sobre a relação entre arte e política. A mostra e as palestras com o curador pernambucano fazem parte do conjunto de ações idealizadas pela Fundação Joaquim Nabuco, trazidas à Fortaleza, pelo CCBNB. A parceria entre as duas instituições existe desde 2009.
Bienal de São Paulo
Ao lado de Agnaldo Farias, Moacir dos Anjos assinou a curadoria da última Bienal de São Paulo, que tinha como foco central de seu debate a relação entre arte e política, representada pelo verso do poema de Jorge de Lima: "Há sempre um copo de mar para um homem navegar".
"Trazer esse enfoque para a Bienal de São Paulo foi uma forma de organizar e de dar organicidade ao interesse que tenho sobre arte e política. Em um mundo cada vez mais cínico frente às desigualdades e cada vez mais descrente na possibilidade de mudança efetivas, acho crucial dar atenção a um tipo de produção artística que confronta normas, que cria desvios, que propõe que olhemos ou escutemos ou leiamos o que, muitas vezes, sequer tem nome". Segundo o curador, essa foi uma experiência cheia de paradoxos.
Por um lado, devido a enorme visibilidade, a Bienal é oportunidade única de afirmar o lugar da arte na discussão pública das coisas; por outro, a sua escala gigantesca impede, muitas vezes, que o contato com a arte se efetive de fato. "Há ainda uma vontade de que mais pessoas tenham acesso a ela; junto a necessidade de reconhecer que há um limite físico para uma visitação massiva, dada a natureza e a temporalidade de muitos dos trabalhos", completa.
O pernambucano também explica que a Bienal não se propôs a resolver esses paradoxos, mas que ambos ficaram bastante claros para os curadores.
"Tivemos cerca de 600 mil visitantes. Não é possível sujeitar as artes visuais aos critérios de público de um festival de rock ou de um programa televisivo", relembra, comentando a meta estabelecida pela presidência da Bienal de atrair 1 milhão de visitantes, mais como um desejo de inclusão do que como um ponto efetivo. "A experiência que as artes podem oferecer é de outra ordem, nem melhor nem pior, mas diferente, e exige critérios também distintos. Por outro lado, creio que a 29ª Bienal conseguiu pautar algumas questões que ainda não possuíam visibilidade bastante no País, principalmente a relação entre arte e política", avalia Moacir dos Anjos.
Arte contemporânea
Sobre a produção brasileira, Moacir acredita ser um conjunto muito heterogêneo. Ela faz uma original articulação entre uma tradição experimental, notadamente aquela que emerge nos anos 60 e que tem nas obras de Hélio Oiticica e Lygia Clark sua face mais conhecida, e outras tradições de partes diversas do ponto, que o processo de globalização pôs à disposição das gerações mais recentes.
"A partir dessa rearticulação, esvaziam clichês de brasilidade e reinventam o que seria próprio do País. É uma das cenas artísticas mais dinâmicas e interessantes do mundo, e chama, cada vez mais, a atenção de curadores e colecionadores de outros países", revela.
No entanto, ele alerta: "o risco é se deixar capturar pelo mercado como fórmula rígida, o que põe diante dos artistas o desafio de confrontarem, continuamente, qualquer desejo de enquadramento do que fazem em modelos de explicação redutores".
Quanto a novíssima produção cearense, o curador confessa não ter acompanhado como deveria, por absoluta falta de oportunidade, mas conhece bem alguns artistas, com quem já trabalhou em exposições passadas ou escreveu textos críticos sobre suas obras. "Nesse universo restrito, posso citar, entre os que têm trajetória mais longa e estabelecida, o Eduardo Frota. Entre os mais jovens, Waléria Américo, Yuri Firmeza, Victor César, Milena Travassos, entre vários outros. Em todo caso, as artes visuais e o cinema feitos no Ceará me interessam bastante, e fico muito feliz quando posso vir até aqui e reduzir um pouco minha ignorância sobre esse universo tão rico".
Fique por dentro
Artur Zmijewski
Nasceu em 1966, em Varsóvia, Polônia, onde vive até hoje. Em diversos trabalhos feitos no início de sua carreira, o artista expôs a vida de pessoas com deficiências físicas crônicas ou com doenças incuráveis, concedendo voz e imagem àqueles cuja presença pública causa inequívoco desconforto aos supostamente sãos. Também busca discutir em vários de seus vídeos, por meio das tensas e críticas narrativas que constrói, contextos políticos e históricos permeados por conflitos abertos ou por uma série de antagonismos.
MAIS INFORMAÇÕES
Abertura da exposição de Acervo da Fundação Joaquim Nabuco, com obras do artista polonês Artur Zmijewski. Amanhã, às 20 horas, no CCBNB-Fortaleza (Rua Floriano Peixoto, 941 - Centro). Gratuita. Palestras com o curador Moacir dos Anjos, amanhã e quinta-feira, sempre às 18h30. Contato: (85) 3464.3108
Historiadora reflete sobre os mecanismos do mercado de arte por Jochen Kürten, Deutsche Welle
Historiadora reflete sobre os mecanismos do mercado de arte
Matéria de Jochen Kürten originalmente publicada no caderno Cultura do Deutsche Welle em 28 de novembro de 2011.
Historiadora da arte vienense analisa como as obras de arte atingem os preços pelos quais são negociadas no mercado e conclui que os próprios artistas raramente exercem um papel relevante neste contexto.
Apesar da crise financeira global, do desastre do euro e da recessão, o mercado de arte encontra-se em franca expansão, em todo o mundo. Há pouco, as três grandes casas de leilões de arte – Sotheby's, Christie's e Phillips – angariaram cerca de 600 milhões de dólares por obras de arte contemporânea. Uma soma considerável.
Os leilões na Alemanha que aconteceram no segundo semestre deste ano também levaram a bons resultados, com recordes quebrados. Mas de onde vêm esses preços tão exorbitantes do mercado de arte? A historiadora da arte de Viena, Jacqueline Nowikovsky, escreveu um livro a respeito, com o título $ 100.000.000? – O valor da arte. A Deutsche Welle conversou com a autora vienense sobre o novo livro.
Deutsche Welle: Você coloca a tese de que a arte e o mercado de arte encontram-se sob o signo do marketing e do potencial de vendas. Questões estéticas, de conteúdo ou estilo não teriam mais nenhuma importância. Por quê?
Jacqueline Nowikovsky: No mercado de artes, há muitos compradores que têm interesse em demonstrar uma identidade através de suas coleções. Isso se dá em função de uma certa pressão social, partindo de uma expectativa. Quem quer ser admirado por sua coleção vai se esforçar para comprar e expor obras de determinados artistas, que têm um valor facilmente reconhecido e verificável no mercado.
Isso diz respeito à situação do comprador, mas também dos marchands e de outros envolvidos no mercado de arte. Trata-se de uma arte que chegou a uma certa posição no mercado. Isso faz com que obras de pintores sejam, por exemplo, compradas muito menos em função de seu conteúdo ou de suas posições estéticas, mas sim claramente por causa do valor de reconhecimento no mercado.
Antes era diferente? Ou trata-se de uma evolução que ocorreu nos últimos anos ou décadas?
Sempre houve aqueles que determinavam as diretrizes neste contexto. Sempre houve pintores, grandes mestres, cujas obras eram comercializadas a altos preços nas cortes. Eles vivam à mercê dos governantes. A hegemonia dos mercados existe há muito tempo e neste sentido as coisas não mudaram de maneira substancial.
O que mudou foi o número de participantes no mercado, o número de pessoas que têm possibilidade de comprar obras de arte. Através de um fluxo cada vez maior de capital, essas pessoas também estão dando as cartas. O que no passado ficava talvez nas mãos de alguns governantes e de poucos donos do poder, encontra-se hoje sob o domínio de muitas pessoas que têm muito dinheiro.
Quem é o mais poderoso?
Trata-se aqui de marchands, galeristas, colecionadores, donos de coleções privadas, e menos de museus. Casas de leilões e feiras de arte também desempenham um papel importante. Quem são, então, os agentes mais importantes neste contexto?
Não existem necessariamente hierarquias claras. Há determinadas pessoas, que, por um tempo, indicam as tendências. Elas posicionam algo novo no mercado, algo que nunca havia existido anteriormente. Então esta pessoa acaba sendo a precursora, que oferece esse algo novo. As interações são também enormes neste sentido: os colecionadores interagem com os museus, porque querem, obviamente, que suas obras sejam expostas ali, querem que elas integrem grandes retrospectivas ou mostras coletivas.
E os museus também obtêm vantagens, quando recebem obras emprestadas, principalmente porque eles não dispõem de meios suficientes para conseguir as peças que faltam para uma exposição, por exemplo. Os artistas ficam entre um triângulo composto pelos marchands, pelos galeristas e pelos colecionadores, mas também pelos museus. Não há um líder, mas vários participantes, é como uma empresa.
Os diversos envolvidos tratam, de maneira objetiva, de fazer com que as obras de arte sejam valorizadas, para que, no fim, eles também usufruam disso. Pode-se chamar isso de valorização consciente e planejada da arte?
Consciente ou inconsciente, é o que acontece. Determinadas valorizações acontecem automaticamente. É claro que qualquer um acha bom, quando isso acontece. É algo naturalmente menos conspirador do que parece. Eu não definiria tudo como um complô ou um jogo de monopólios. Há, claro, essas teorias muito teórico-conspiradoras, dizendo que existe um cartel que controla objetivamente todo o mercado.
Também não é assim. Nunca se pode prever completamente o futuro, mesmo quando um galerista, por exemplo, esforça-se para forjar uma escassez artificial. Ou quando participa-se dos leilões, fazendo lances. Há mecanismos que se repetem e que são previsíveis, mas não é como se fosse possível seguir um roteiro.
O artista fica de fora
Mas há apenas alguns poucos artistas, que participam deste jogo, deste carrocel do mercado de arte. Alguns conseguiram. O britânico Damien Hurst é notoriamente o artista que mais ascendeu nos últimos anos. No caso dele, tem-se realmente a impressão de que ele determina os preços.
Sim, ele é obviamente uma pessoa ambivalente. Damien Hirst foi tão longe, porque ele tinha uma exata visão dos mecanismos em jogo e participou de tudo com uma certa ironia. Ele foi levando adiante, até o ápice. E se tornou independente dos galeristas. Ele conseguiu montar um leilão inteiro, no qual só obras suas foram a leilão. Isso pode ser considerado quase como uma performance, que parodia as regras do mercado de arte.
Sendo assim, ainda existem critérios para diferenciar uma arte "boa" de uma "ruim"?
O mercado possibilita a participação de muitas pessoas nesta empreitada. De fora, tem-se a impressão de que não há objetividade alguma. Não há, como no passado, uma academia ou um júri. Não há mais um Salão de Paris, que decide sobre o que é bom e o que é ruim. Mas isso não é tudo. Há, porém, diversas instâncias, que assumem avaliações e cujo julgamento tem mais peso que o julgamento de outras instâncias. No meu livro, procurei identificar essas instâncias e seus efeitos.
Entrevista: Jochen Kürten (sv)
Revisão: Carlos Albuquerque
novembro 29, 2011
Oi Futuro cancela mostra da artista Nan Goldin no Rio por Silas Martí, Folha de S. Paulo
Oi Futuro cancela mostra da artista Nan Goldin no Rio
Matéria de Silas Martí originalmente publicada no caderno Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 29 de novembro de 2011.
Centro cultural alegou que imagens de menores nus iam contra orientação de seus programas educacionais
Exposição com três séries fotográficas foi adiada para fevereiro e acontecerá no Museu de Arte Moderna da cidade
Fotografias de atos sexuais diante de crianças e menores nus, obras da artista americana Nan Goldin, levaram à censura de sua exposição marcada para janeiro do ano que vem no Oi Futuro, no Rio. A informação é do jornal "O Globo".
Goldin, que esteve na última Bienal de São Paulo, atingiu fama global com sua obra em tom autobiográfico, imagens de sexo explícito e flagrantes do submundo de drogas de Nova York e Berlim.
Ela mesma aparece em algumas fotografias transando com o ex-marido ou espancada por ele em sua série mais célebre, "Ballad of Sexual Dependency", ou balada da dependência sexual, que também seria exposta no Rio.
"Parece que tudo é confundido com site de pedofilia, a coisa está sendo tratada de maneira leviana", disse a curadora da mostra, Lígia Canongia, à Folha. "Não são questões de moralidade, mas questões estéticas. Está havendo uma confusão séria."
Segundo a curadora, a direção do Oi Futuro, que patrocina a mostra com R$ 300 mil, desconhecia o trabalho de Goldin e se chocou ao ver as imagens um mês antes da abertura da exposição.
Nas fotografias, obtidas pela *Folha,* um bebê aparece ao lado de um casal transando, um menino aparece nu e uma menina em roupas íntimas é retratada brincando com um bebê. Outras imagens mostram casais, gays e heterossexuais, em cenas de sexo e masturbação e pessoas injetando heroína. Mas nada disso destoa do repertório habitual da artista.
No projeto expositivo, a mostra ocuparia três salas do Oi Futuro, sendo só uma delas com entrada restrita a menores de idade. Mas o centro cultural decidiu cancelar a exposição de Goldin alegando um conflito de toda a obra com seu projeto educativo.
Em nota enviada à reportagem, o Oi Futuro diz ter a "a praxe de avaliar o material que será exibido em seus centros culturais para se assegurar que haja uma relação entre as obras e os programas educacionais" e que "segue os preceitos do Estatuto da Criança e do Adolescente".
"Tem gente que acha que pau de fora, bunda de fora é erótico", diz Fernando Cocchiarale, um dos cerca de cem artistas e curadores que se opuseram à censura da mostra. "É um equívoco, um grande mal-entendido horrível."
Marcelo Araujo, diretor da Pinacoteca do Estado de São Paulo, chamou a decisão do Oi Futuro de "ato de obscurantismo cultural que desrespeita não só a artista e todos os profissionais envolvidos no projeto, mas o público".
Desde que soube do cancelamento da mostra, Canongia tem discutido a questão numa extensa troca de e-mails com outros curadores.
Luiz Camillo Osorio, curador do Museu de Arte Moderna do Rio, fez uma mudança na agenda para receber, em 11 de fevereiro do ano que vem, a mostra da artista.
Goldin viria ao Rio no final de dezembro para concluir uma de suas séries, "The Other Side", em que retrata travestis pelo mundo. Sua ideia era registrar uma ceia de Natal de drag queens.
MAM do Rio vai abrigar exposição vetada por Roberta Pennafort , O Estado de S.Paulo
MAM do Rio vai abrigar exposição vetada
Matéria de Roberta Pennafort originalmente publicada no caderno de cultura do jornal O Estado de S. Paulo em 29 de novembro de 2011.
Oi Futuro decidiu cancelar mostra da artista Nan Goldin por desaprovar parte do conteúdo sexual
RIO DE JANEIRO - Uma das fotógrafas mais aplaudidas da atualidade, com trajetória de 40 anos e presença em importantes museus de arte contemporânea, a norte-americana Nan Goldin nunca teve mostra individual no Brasil. O público carioca verá alguns de seus trabalhos mais emblemáticos entre 11 de fevereiro e 8 de abril de 2012 - mas isso só porque o curador do Museu de Arte Contemporânea (MAM), Luiz Camillo Osorio, conseguiu, de última hora, abrigá-los.
O Oi Futuro, que em 2010 selecionou a exposição em seu edital de patrocínio, e lhe destinou R$ 300 mil (a maior parte desse valor, já pago), decidiu cancelá-la na semana passada, por desaprovar parte de seu conteúdo: mais precisamente, a série Balada da Dependência Sexual, talvez sua obra mais conhecida. A instituição concedeu o patrocínio sem ter examinado todo o material. A abertura estava marcada para 9 de janeiro.
São fotos de relações sexuais hetero e homossexuais, explícitas e em várias posições, de masturbação e de uso de drogas. Em algumas delas, crianças pequenas aparecem na cama ao lado dos pais, que se beijam e se acariciam, sem roupa.
Essas a artista já havia concordado em suprimir, em respeito ao Estatuto da Criança e do Adolescente brasileiro (a lei proíbe o ato de "produzir, reproduzir, dirigir, fotografar, filmar ou registrar, por qualquer meio, cena de sexo explícito ou pornográfica, envolvendo criança ou adolescente").
As cenas, que já rodaram o mundo - inclusive integraram a última Bienal de São Paulo - , começaram a ser retratadas por Nan em 1976, em Nova York, em seu círculo de amigos, e foram publicadas num livro de arte dez anos depois.
Na última sexta-feira, a curadora da mostra, Ligia Canongia, participou de uma reunião com o curador de artes visuais do Oi Futuro, Alberto Saraiva, e um advogado da instituição, em que foi informada do cancelamento. Ela argumentou que as fotos consideradas "impróprias para menores" seriam mostradas no segundo andar, com sinalização (tal qual foi feito na Bienal), enquanto as séries Heart Beat, The Other Side e Empty Rooms, "próprias", ficariam no primeiro e no terceiro.
"Eles não vão declarar jamais que é censura, estão tentando sair pela tangente de forma covarde. Mas me mandaram procurar outro lugar para a exposição. Um centro cultural não pode ser assim. Então abre uma creche", disse Ligia ontem.
Pelo que apregoa o ECA, as imagens não seriam adequadas ao centro cultural do Oi Futuro, no Flamengo, por onde passam dezenas de crianças diariamente, em visitação escolar. "A missão do Oi Futuro é a promoção da educação, e nesse sentido, o instituto tem a praxe de avaliar o material que será exibido em seus centros culturais para se assegurar que haja uma relação entre as obras e os programas educacionais", justificou a instituição numa nota.
Revoltada, Ligia enviou um e-mail para toda sua lista de críticos de arte e artistas informando o ocorrido. Um deles foi Camillo Osorio, que se solidarizou imediatamente e correu para não deixar Nan sem museu.
"Essa atitude me pareceu um passo atrás. As pessoas confundem a capacidade simbólica da arte com o real", ele disse, ontem. "É curioso que a Benetton use foto do papa beijando um líder islâmico como estratégia de publicidade, e que o trabalho da Nan Goldin ainda cause polêmica. A arte nunca se absteve da polêmica."
Por considerar que se trata de uma "exposição de relevância para a cidade", o curador remanejou uma outra e lhe deu espaço. Mas Camillo Osorio quer antes entrar em acordo com o Oi Futuro. E haverá o cuidado com a sinalização para que crianças ou "pessoas sensíveis a cenas eroticamente fortes" sejam orientadas por monitores a não acessá-las.
Segundo a nota do Oi Futuro, a instituição "esteve durante toda a semana passada dialogando com os representantes da artista de forma a encontrar alternativas para a exposição da obra em outro ambiente. A última reunião sobre o tema foi interrompida, sem ser concluída".
A curadora explica que saiu da reunião, muito nervosa, quando já havia sido definido que a exposição não seria aceita no Oi Futuro, como acertado em contrato. "A declaração deles é mentirosa. Não havia mais argumento possível para demovê-los", contou.
"É a exposição de uma das maiores artistas da arte contemporânea que está sendo cancelada por questões que não têm nada a ver com estética nem poética, não têm nada a ver com arte. A Bienal exibiu sem corte, com a recomendação que era para maiores de 18 anos. Se você coloca essas fotos num site de pornografia, é uma coisa. Mas estamos falando de arte, e não da revista Playboy."
Natural de Washington D.C., residente na louca Nova York dos anos 70 e 80, Nan Goldin tem 58 anos. Apresentados em geral em slide shows (como os que vêm ao Rio), seus trabalhos falam de amor, sexo, drogas, amizade, abandono, passando por um submundo de travestis, gays e viciados que nem todo mundo quer ver.
novembro 28, 2011
Arqueologia da cultura por Paula Alzugaray, Istoé
Arqueologia da cultura
Matéria de Paula Alzugaray originalmente publicada no caderno de Artes Visuais da revista Istoé em 25 de novembro de 2011.
Estação Pinacoteca expõe Jac Leirner, artista que transformou notas de dinheiro, sacolas plásticas e cartões de visita em esculturas
Jac Leirner/ Estação Pinacoteca, SP/ até 26/2/2012
É possível contar nos dedos das mãos os materiais com que Jac Leirner trabalhou nas últimas três décadas. Sacolas plásticas, adesivos, etiquetas e notas de dinheiro talvez tenham sido os mais frequentes. Esses são os principais elementos que compõem suas 60 obras em retrospectiva na Estação Pinacoteca, em São Paulo, até fevereiro.
Rever, 22 anos depois, a instalação “Nomes” (1989), composta de centenas de sacolas plásticas com logotipos comerciais cobrindo as paredes do espaço expositivo, é enveredar por uma espécie de arqueologia da cultura e deparar com marcas, costumes e tecnologias que não existem mais. Reconhecer os logotipos de marcas como a loja de discos Tower Records ou o filme fotográfico Kodacolor Gold é dar-se conta da obsolescência das mídias e de nosso novo estatuto cultural.
Quando realizou esse trabalho, em 1989, Jac Leirner incutia, por trás da sedutora camada de cores e formas de suas coleções de sacolas, seu comentário sobre a sociedade de consumo. O comércio, a publicidade e o mercado sempre foram sua matéria-prima. “Sua obra é conhecida pelo interesse que demonstra por tudo o que circula no mundo (mercadorias) e pelo que torna tal circulação possível (o dinheiro)”, escreve o curador, Moacir dos Anjos, no catálogo da mostra.
Observadas desde nosso ponto de vista, suas séries com notas de cruzeiro também formam uma arqueologia da economia inflacionária que tivemos durante décadas no Brasil – e em cujo ápice, os anos 1980, Jac Leirner começou sua atividade artística. São fartas as obras em exposição que, ao explorar o recurso da repetição e o acúmulo de notas de 100 cruzeiros e, mais tarde, de 100 cruzados, remetem à escalada de desvalorização do capital nacional.
“Sou uma herdeira do Modernismo. Lucio Fontana, Paul Klee, e Josef Albers estão explicitamente presentes nesses trabalhos”, declarou Jac Leirner em uma entrevista sobre sua série recente de sacolas recortadas e perfuradas, intitulada “Vazio”. Não seria arriscado dizer que “Boogie Woogie”, o tributo que Mondrian prestou às luzes da Broadway, em forma de pontos de cores, também esteja explicitamente presente em “Hip-Hop” instalação de Jac Leirner com fitas adesivas coloridas recortadas sobre parede.
Mais que com Mondrian, Fontana ou Klee, porém, Jac Leirner se relaciona intimamente com a tradição construtiva brasileira.
Isso está presente na estrutura modular com que organiza os materiais industrializados em suas instalações, mas também em suas pequenas pinturas à aquarela, trazidas a público pela primeira vez.
Exposição da americana Nan Goldin periga não acontecer, O Globo
Exposição da americana Nan Goldin periga não acontecer
Matéria originalmente publicada na seção de Cultura do jornal O Globo em 28 de novembro de 2011.
Prevista para janeiro, mostra com imagens polêmicas vira alvo de briga
Na época, Nan já enfrentava problemas para expor trabalhos e publicar livros, mas pregava que "a arte não pode e não deve ser regulada pelo Estado".
RIO - A fotógrafa americana Nan Goldin, que ganhou fama internacional por ter registrado com sua lente escrachada e invasiva o submundo das drogas e do sexo nova-iorquino nas décadas de 1970 e 1980, está no centro de um polêmica que chacoalhou o meio artístico brasileiro no último fim de semana.
Nan chegaria ao Rio de Janeiro no próximo dia 20 para fotografar a ceia de natal de um grupo de drag queens e travestis brasileiros, como parte de seu projeto internacional "The other side". Também daria os toques finais na exposição que ficaria aberta ao público no Oi Futuro Flamengo entre os dias 9 de janeiro e 4 de março. No escopo da mostra, que tomaria três andares da instituição, a série de fotos "Empty rooms", em que se veem ambientes vazios onde Nan viveu experiências dramáticas, e os slideshows "Balada da dependência sexual", considerada sua obra-prima com mais de 700 fotos explícitas de sexo e drogas, "Heart beat", que mostra situações amorosas em geral, e o citado "The other side", que já incluiria as imagens feitas no Rio.
Entre os registros que ficariam à mostra, fotos em que se veem crianças nuas, homens e mulheres se masturbando e fazendo uso de drogas — universo no qual Nan sempre circulou e que costuma defini-la.
Na última sexta-feira, no entanto, Ligia Canongia, curadora da mostra, foi chamada para uma reunião no Oi Futuro e saiu de lá certa de que a exposição havia sido cancelada. Horas depois, sentou-se diante do computador e disparou um desabafo para mais de cem artistas cariocas e paulistas. No texto, ela dizia:
"Em reunião ontem, no Oi Futuro, fui comunicada pelo curador e pela direção do instituto que a exposição de Nan Goldin estava suspensa. Em ato arbitrário, prepotente e desrespeitoso com a artista, com os curadores e, sobretudo, com a obra de arte, a mostra foi censurada (...) A direção e a curadoria dessa casa simplesmente não sabiam quem era Nan Goldin e o conteúdo de suas imagens (...) Um trabalho de quase dois anos foi jogado fora, sumariamente. Atos como este só se inscreveram na história durante o nazismo, o fascismo e as ditaduras."
Apoio de artistas
Em 24 horas, Ligia recebeu mais de 30 respostas em apoio.
O artista Carlito Carvalhosa disse: "O trabalho da Nan é bom e poderoso, há décadas ela expõe no mundo todo e tem seu trabalho publicado. Mostra coisas que se passam todos os dias, em todos os lugares. Difícil saber o que é pior para uma instituição cultural, programar uma exposição sem saber do que se trata ou censurá-la. Faltou grandeza, coragem e potência, que é o que se espera de quem quer fazer cultura."
O também artista José Damasceno disparou: "Considero essa censura algo grave e inaceitável, o rompimento do contrato nessa escala é o próprio aniquilamento da responsabilidade onde prevalece o arrivismo e o atraso e compromete todo o esforço atual de se pensar o Rio de Janeiro como cidade cosmopolita."
O crítico de arte Fernando Cocchiarale questionou: "O que é pior para uma instituição cultural respeitável? Correr riscos ou satisfazer os setores mais conservadores, ficando estigmatizada ante seu público frequente por um ato de censura?"
E Agnaldo Farias, um dos curadores da 29 Bienal de São Paulo, que expôs a íntegra da "Balada da dependência sexual", ironizou: "Essa atitude se contrapõe ao próprio nome da instituição. Talvez eles tenham que repensar isso, para Oi Passado ou Adeus Futuro."
Ligia conta sua versão:
— No final de outubro, o Oi Futuro me pediu para ver as obras da Nan. Mandei alguns dos mais de 700 slides como exemplo — diz. — Aí pediram que tirássemos da mostra as fotos de crianças nuas. A Nan concordou, dizendo que, há tempos, tinha vontade de reeditar "Heart beat" mesmo. Então o Oi Futuro pediu que tirássemos toda e qualquer imagem de criança, mesmo vestida. Nan aceitou, mas disse que, no lugar dessas imagens, colocaria uma tela preta com a palavra "censurado" por acreditar que aquilo seria "uma mutilação muito grande" à obra. E foi aí que, na sexta-feira, me comunicaram na reunião que não fariam mais a exposição.
Em nota, o Instituto Oi Futuro nega o cancelamento da mostra. Diz que "não houve uma definição" sobre a realização da exposição de Nan já que a "reunião que foi realizada para este fim, na última sexta-feira, não foi concluída" . (Eles alegam que Ligia teria abandonado a sala no meio da conversa.)
Preocupada com a repercussão que a polêmica suscita, a assessoria de imprensa do instituto informou que "adota como praxe a análise prévia dos trabalhos que fazem parte da programação de exposições de seus centros culturais" para "certificar-se de que o material tem correspondência com a missão do instituto, voltado para projetos educacionais e a difusão das novas tecnologias como ferramenta de aprendizado entre crianças e adolescentes". Informou ainda que o material só foi enviado por Ligia para essa análise há uma semana e que esse processo ainda está em trâmite.
Em 2008, Nan Goldin escreveu um artigo no jornal britânico "The Independent" intitulado "It’s ridiculous that we treat child nudity as a problem" ("É ridículo que nós tratemos a nudez infantil como um problema", em tradução livre do inglês). No texto ela defende que a perversidade está nos olhos de quem admira sua obra, que as crianças nascem sem a sombra da sexualidade e que ela lhes é imposta com o passar dos anos. "Crianças são seres sensuais. Eles tocam e gostam de ser tocados. É o adulto que, algumas vezes, se aproveita dessa situação."
No Brasil, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), estabelecido pela lei 8.069 e em vigor desde 1990, tem por objetivo garantir a proteção integral dos menores de idade. A legislação foi citada recentemente na liminar que proibiu a exibição no Rio de Janeiro de "A Serbian film — Terror sem limites", acusado de incitar a pedofilia. O filme, previsto para estrear em agosto, nunca entrou em cartaz no Brasil.
novembro 25, 2011
Começa na terça primeira mostra do 47º Salão de Artes Plásticas de PE, G1
Começa na terça primeira mostra do 47º Salão de Artes Plásticas de PE
Matéria originalmente publicada na sessão Pernambuco do portal G1 em 25 de novembro de 2011.
Exposição inicial é no Museu do Estado a partir do dia 29 de novembro
Evento é um panorama nacional e contempla diversos suportes
Começa na próxima terça-feira (29) a primeira das duas mostras que fazem parte do 47° Salão de Artes Plásticas de Pernambuco. Apesar do nome, o evento tem um formato diferente: os artistas selecionados – de todo o Brasil – são escolhidos por seus projetos e ganham uma bolsa para passar dez meses pesquisando um tema, sob orientação de um especialista. Ao final desse período, são montadas duas mostras com os trabalhos já prontos: a primeira, no Museu do Estado de Pernambuco (Mepe), com abertura no dia 29 de novembro, às 19h, e a outra no Museu de Arte Moderna Aloisio Magalhães (Mamam), prevista para ser inaugurada no dia 7 de dezembro, no mesmo horário.
“As duas mostras estão trazendo um recorte do que hoje se apresenta dentro das artes visuais. Tem artistas de Pernambuco e de todo o Brasil”, afirma Luciana Padilha, coordenadora geral do Salão. Ela explica que há, em ambas, uma grande variedade de suportes – do tradicional desenho às inovações em vídeos, grafites e esculturas. Foram 260 projetos inscritos – 40% a mais do que o ano passado – e extraídas deles 21 propostas paras bolsas de pesquisa e produção e mais 13 prêmios: quatro de grafitagem, quatro de ensaios teóricos sobre a produção pernambucana de artes visuais e cinco intercambistas em arte/educação.
Luciana lembra que, como o resultado saiu com dois anos de atraso, as exposições se tornam um retorno importante para o público. Há artistas do Pará, Alagoas, Sergipe, Bahia, Maranhão, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Confira os perfis dos artistas no site da Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe).
Os mesmos especialistas que orientaram os candidatos selecionados viram curadores das mostras. A exposição do Museu do Estado foi concebida por Luiz Camillo Osório (RJ) e Luisa Duarte (SP), com trabalhos dos artistas Amanda Melo (PE/SP); Fabiano Gonper (SP); Jeims Duarte (PE); Pedro Davi (MG); Elisa Pessoa e Celina Portella (RJ); Maria Eduarda Belém (PE); Matheus Rocha Pitta (RJ); Sofia Borges (SP); e do coletivo Cia de Foto (SP).
No Mamam, a mostra começa no dia 7 de dezembro e tem curadora de Maria do Carmo Nino (PE) e Ricardo Basbaum (RJ). Os artistas desta vez são Dominique Berthé (PE); Fabio Okamoto (SP); Izidorio Cavalcanti (PE); João Castilho (MG); Jonathas de Andrade (PE); Jura Capela (PE); Bianca Bernardo (RJ); Deyson Gilbert (SP); Graziela Kunsch (SP); Marcos Costa (PE); e Tatiana Devos Gentile (RJ). Os premiados na categoria Grafite são Elanie Bomfim e Derlon Almeida (PE); Elvis Almeida Oliveira (RJ); Galo de Souza (PE); e Wagner Porto Cruz (PE).
Homenagens
Artistas pernambucanos passaram a ser homenageados pelo evento este ano. O primeiro é Jairo Arcoverde, pintor que representa uma geração atuante nas artes visuais do estado. A identidade visual das duas exposições será inspirada na obra dele e o catálogo da mostra tem um capítulo dedicado ao trabalho do artista.
A área de fotografia teve, esse ano, cinco bolsas – uma a mais do que no ano passado. Cada projeto recebeu R$ 15 mil. Para artes plásticas, foram 10 bolsas no valor de R$ 15 mil cada. Houve ainda R$ 15 mil para produção de uma monografia inédita e valor igual para um vídeo-documentário sobre artes visuais em Pernambuco.
Para as residências artísticas, foram quatro bolsas de R$ 15 mil – uma em cada macro-região do estado - Sertão, Agreste, Zona da Mata e Região Metropolitana, que inclui Fernando de Noronha. Para o intercâmbio em Arte/Educação, foram cinco prêmios no valor de R$ 5 mil, cada. Para o grafite, mais quatro prêmios de R$ 5 mil, para desenvolver propostas de intervenção urbana. E quatro outros de R$ 1 mil para desenvolvimento de ensaios teóricos.
Serviço:
47o Salão de Artes Plásticas de PE l Mostra MEPE
(Curadoria de Luiz Camillo Osórrio e Luisa Duarte)
Local: Museu do Estado de Pernambuco - Avenida Rui Barbosa, 960. Graças
Abertura | 29 de novembro, às 19h
Visitação | entre 29/11 e 22/01 de 2012 (de terça a sexta-feira, das 9h às 17h; sábados e domingos, das 14h às 17h.
Agendamento de visitas: (81) 3184.3174
novembro 23, 2011
Tela em transe por Nina Gazire, Istoé
Tela em transe
Matéria de Nina Gazire originalmente publicada no caderno de Artes Visuais da revista Istoé em 18 de novembro de 2011.
PEDRO VARELA - AINDA VIVA/ Galeria Zipper, SP/ até 26/11
Desde o surgimento da fotografia no séc. XIX, a morte da pintura já foi anunciada um sem-número de vezes. De certo, a pintura não morreu e não foi modificada apenas pela prática fotográfica, mas também pela mudança do foco pictórico. O modernismo trouxe as expressões abstratas, as fusões surrealistas e o minimalismo geométrico, atropelando a figuração realista, mas traduzindo de maneira precisa a complexidade do fazer artístico. Hoje, no trabalho de jovens pintores, todas as crises da pintura vêm contribuir para uma permanente reinvenção dessa técnica. “Ainda viva”, série recente do carioca Pedro Varela, é uma brincadeira com essas centenas de mortes anunciadas da pintura. “Ao mesmo tempo, esse título evidencia o caráter fantasioso das minhas paisagens”, diz Varela, que faz uma tradução literal do termo em inglês still life, também conhecido como natureza morta – um dos gêneros mais praticados na história da pintura.
Nas dez telas expostas na Zipper, o artista dá preferência a figuras de flores e florestas em detrimento das cidades imaginárias que estamparam suas séries anteriores. Mas o aparecimento da figuração vegetal não se dá somente como menção ao gênero quase esquecido das naturezas mortas, mas também como referência às ilustrações científicas dos naturalistas do século XIX. Aqui, uma ironia: a precisão técnica está a serviço da ordem fantástica das criações de Varela. Os poucos edifícos e referências urbanas que aparecem nas novas pinturas possuem uma composição rítmica tão orgânica quanto as plantas imaginárias. “As cidades ainda aparecem, mas com menos intensidade. Introduzi as florestas que, de certa forma, já apareciam na minha obra através da influência da arte oriental”, comenta o artista. Se o que de fato morreu foi a obrigação da pintura para com o real, o artista esteve muito livre para dar vazão às suas próprias paisagens.
Galeria em movimento por Paula Alzugaray, Istoé
Galeria em movimento
Matéria de Paula Alzugaray originalmente publicada no caderno de Artes Visuais da revista Istoé em 18 de novembro de 2011.
Cena independente de Buenos Aires compõe a terceira mostra da Logo. Galeria quer promover cruzamento entre arte urbana e arte contemporânea
Um francês, um taiwanês e cinco argentinos compõem a mostra “Preguntame como!”, que traz a São Paulo um recorte da cena artística independente de Buenos Aires. Alguns deles são artistas “que ainda estão fora do radar do mundo da arte”, segundo o curador da mostra, o franco-argentino Tristan Rault, que também atua como curador-adjunto da galeria Logo. Inaugurada em agosto, em São Paulo, a galeria nasce com o projeto de promover cruzamentos entre diferentes circuitos criativos.
Os mundos do grafite, do HQ, do design de fanzines, de capas de discos, do skate, do punk, do hip-hop, e outros ambientes da cultura pop, compõem o amplo universo da arte urbana, que configura hoje um mercado que cresce proporcionalmente ao mercado de arte contemporânea e já ganhou seu lugar ao sol nos grandes museus do mundo, como o Tate Modern, de Londres, o Museu de Arte Contemporânea de Los Angeles (Moca), e até o MASP – atualmente em cartaz a mostra “De dentro e de fora. “Nosso objetivo não é ser mais uma galeria desse nicho, mas inserir esses artistas no circuito da arte contemporânea”, projeta Carmo Marchetti, sócia de Marcelo Secaf e Lucas Ribeiro na galeria.
Na busca de cruzamentos entre a arte contemporânea e outros circuitos criativos, a curadoria de “PREGUNTAME COMO!” relaciona, por exemplo, a obra do artista e jornalista Nicolás Sobrero com a pesquisa caligráfica do célebre artista contemporâneo argentino León Ferrari ou com o construtivismo uruguaio – provavelmente se referindo a Torres García. Sobrero expõe na Logo colagens em grandes dimensões que têm como elemento de composição apenas letras recortadas de cartazes de rua. Outro ponto de convergência entre o urbano e o contemporâneo na mostra em cartaz é Andrés Bruck, que transita entre polos extremos como o Babafestival, de Roma, e a feira ArteBA, a mais antiga feira de arte contemporânea da América Latina – além de ter sido aluno de Jorge Macchi,o maior nome da arte argentina.
Instalada no antigo endereço da galeria Raquel Arnaud (rua Arthur de Azevedo, 401), a Logo quer evocar a memória da primeira galeria a ocupar o local: a Subdistrito, que nos anos 80 movimentou o mercado de arte paulistano ao apostar na nascente geração de artistas. “A ideia é capturar expressões que estão vivas, pulsantes, em constante mutação, resgatando o espírito do que aconteceu aqui nos anos 80”, define Lucas Ribeiro, que antes de se dedicar à Logo foi curador-geral da mostra “Transfer”, que levou a cultura urbana ao Santander Cultural de Porto Alegre, em 2008, e de São Paulo, em 2010.
IAC inaugura sua nova sede na Belas Artes por Silas Martí, Folha de S. Paulo
IAC inaugura sua nova sede na Belas Artes
Matéria de Silas Martí originalmente publicada no caderno Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 23 de novembro de 2011.
Museu despejado de imóvel da USP em fevereiro terá área expositiva duas vezes menor
Num espaço que é metade do que ocupava antes no centro de São Paulo, o Instituto de Arte Contemporânea (IAC) abre hoje à sua nova sede no primeiro andar de um prédio do Centro Universitário Belas Artes, na Vila Mariana.
É o desfecho de uma crise que se arrastou por quase dez meses, desde que a Universidade de São Paulo despejou o IAC, em fevereiro, do espaço que ocupava na rua Maria Antonia, que pertence à USP.
Sem sucesso, o IAC tentou fechar um acordo com a Secretaria de Estado da Cultura para ocupar um casarão em Higienópolis, e depois quase chegou a firmar um convênio com a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, que não foi adiante.
No meio do caminho, Pedro Mastrobuono renunciou ao cargo de presidente da instituição, posição que ocupou por nove meses depois da saída de Raquel Arnaud, galerista que presidia o IAC e que foi acusada de usar o museu para valorizar artistas cujas obras ela comercializava.
Agora sob o comando de Luiz Müssnich, a instituição -que tem no acervo 17 mil documentos sobre Sergio Camargo, Willys de Castro, Mira Schendel e Amilcar de Castro- tenta se acomodar em três salas, só uma delas expositiva, no Belas Artes.
"Perdemos em amplidão, mas ganhamos em visibilidade", diz Müssnich à Folha. "Aqui teremos mais visitas."
No acordo de cinco anos fechado com a universidade, ficou determinado que o IAC fará duas exposições por ano no espaço do Museu Belas Artes, no térreo do edifício.
É um número bem menor de mostras que o IAC estava acostumado a fazer na sede antiga, o edifício Joaquim Nabuco, que foi reformado para receber o museu por arquitetos do escritório Una -um projeto de R$ 5 milhões bancado com renúncia fiscal e algumas doações privadas.
MARIA ANTONIA
Desde a saída do IAC, o imóvel da Maria Antonia ficou vazio e recebeu a primeira mostra só na semana passada, com objetos da massa falida do banco Santos que estão sob a guarda da USP.
"Foi o tempo de limpar, reformar, trocar a iluminação", diz Moacyr Novaes, diretor do Centro Universitário Maria Antonia, sobre o hiato de dez meses.
Em novembro do ano passado, quando a USP decidiu não renovar o convênio que tinha com o IAC, a reitoria exigiu a desocupação do edifício Joaquim Nabuco um dia após o vencimento do contrato, que acabava em janeiro.
Agora, a USP planeja concluir as obras no edifício para instalar ali a área expositiva do Maria Antonia, que hoje ocupa cinco salas no prédio vizinho ao antigo IAC.
Falta concluir duas salas expositivas no térreo e construir, no subsolo, um auditório e um café. Segundo Novaes, a USP deve lançar um edital para começar as obras no ano que vem e concluir todo o processo só em 2013.
novembro 22, 2011
Corte no Ministério da Cultura é a Falha Trágica do Governo Dilma por José Celso Martinez Corrêa, Blog do Zé Celso
Corte no Ministério da Cultura é a Falha Trágica do Governo Dilma
Matéria de José Celso Martinez Corrêa originalmente publicada no Blog do Zé Celso em 16 de novembro de 2011.
O Corte no Ministério da Cultura é a “Falha Trágica” do Governo Dilma, e bate diretamente no Corpo de cada Artista.
O exemplo que o Governo dá, neste desprezo à importância da Cultura como Política Energética, Estratégica, Produtiva, Imaginativa, Criadora, dum Brasil pra lá de justo, é péssimo!
Reflete-se em todas as áreas do Mercado que passa a investir somente na acumulação de capital em nomes & marcas de produtos destinados a manter o status quo para auto-ajuda e justificativa dos valores pequeno burgueses e burgueses.
Como não é uma Política prioritária do Governo Dilma, produz monstros: por exemplo, agiganta a Burocracia, que faz de nós Artistas Escravos, submetidos a um sistema de pagamento quando contratamos com o Governo, que só chega, se chega, muito depois das Obras culturais contratadas, terminadas, cumpridas.
Depois do horizonte aberto por Ministros como Gil e Juca no Governo Lula, sacrifica-se uma Artista como Ana Buarque de Holanda, como Bode da situação.
Dilma não pode fazer isso com os Artistas, inclusive com sua Ministra, não lhe dando condições de Ação Criadora.
Precisa se encontrar com Artistas brasileiros direta e imediatamente, Corpo a Corpo, para receber esta Energia Pré Sal da Cultura que neste momento os Artistas trazem no Corpo e em suas Obras. Vai sentir a potência que poderia realmente ser o dínamo de seu Governo para erradicar pra valer a Miséria do Brasil, trazendo RIQUEZA.
Parece que a presidenta ignora o Poder Prático, Infraestrutural da Cultura.
Nós Artistas estamos Re-Existindo, rebolando na batucada da $eca, exatamente quando estamos prontos a ser a Tropa de Choque do Fim da Miséria, rumo a uma Riqueza Econômica Comtemporânea, Verde, reinventora de soluções jamais imaginadas por Tecnocratas.
A Cultura é o Ar da Criação, da Vida, soprando em toda máquina social do mundo.
A Cultura, se potencializada, vai revelar-se mais que a Uzyna de Belo Monte, vai revelar em Epifania sua Força. Vai propiciar ao Brasil – que neste momento está pronto pra virar o Globo do avesso – o Salto Imortal, além da Copa do Mundo e das Olimpíadas.
O Mundo sabe mais disso do que nossos Governantes.
Nossa Cultura como já visualizava Oswald de Andrade é de “Exportação” e nossos “Finos Biscoitos” estão em franca produção, movidos à Alegria, pra devoração “das massas”.
Já temos estocada uma Super Produção dentro de nossos Corpos de Artistas, como os Africanos Escravos tinham o Candomblé, o Samba, a Arte do Futebol, a Cozinha, as Artes de lidar com Ferros… e etc… Temos o futuro presente que vai muito além dos saberes da Tecnocracia.
Presidenta Dilma, chame-nos para um encontro a nós, Criadores da Cultura no Brasil de todas Áreas e Classes, não para um “Chá de Comadre”, mas para alavancar novos Horizontes Produtivos na Subjetividade Criadora do Povo Brasileiro.
A Cultura atual vibra em toda a Pirâmide Social, para comê-la com Arte e Beleza.
É o que Glauber chamava de “assassinato cultural”, não se pode é cortá-la.
É muito mais que erradicar a Miséria, é Criar a Riqueza.
José Celso Martinez Corrêa
Amor Ordem e Progresso
Petição Pública Contra os Cortes no Orçamento da Cultura do Brasil.
Design inventivo dos irmãos Campana sofre com rigor por Fabio Cypriano, Folha de S. Paulo
Design inventivo dos irmãos Campana sofre com rigor
Matéria de Fabio Cypriano originalmente publicada no caderno Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 22 de novembro de 2011.
Fernando e Humberto Campana são hoje os mais celebrados designers brasileiros.
A trajetória da dupla, mais conhecida como irmãos Campana, é tema da mostra "Anticorpos", no Centro Cultural Banco do Brasil, organizada por Mathias Schwartz-Clauss, que teve início no Vitra Design Museum, na Alemanha.
Não é de hoje que o design brasileiro ganha atenção no cenário internacional.
De certa forma, Sérgio Rodrigues e Joaquim Tenreiro são os precursores, com seu desenho modernista aliado a materiais brasileiros.
Os Campana, que começaram a produzir na década de 1980, ganharam destaque justamente por transformarem essa equação: afastaram-se do funcionalismo moderno, mas radicalizaram na apropriação de elementos da cultura popular.
Bonecas de pano, construções simples com restos de madeira e plantas da Amazônia são alguns dos elementos que inspiraram, respectivamente, a cadeira Multidão, a cadeira Favela e os bancos Vitória Régia, todos na mostra.
Esse imaginário, com grande apelo aos olhos, reforça um estereótipo do caráter exótico da cultura brasileira e pode ajudar a compreender o crescente interesse internacional pelo trabalho da dupla de designers.
DIDATISMO
Nesse sentido, a mostra, que ocupa todos os andares do CCBB com cerca de 70 trabalhos, é bastante didática.
Ela ensina que o sofá Kaiman Jacaré (2006) "foi inspirado nos jacarés caiman da bacia amazônica, que podem chegar a mais de seis metros de comprimento", ou que o assento Diamantina, com o mesmo nome da cidade mineira que foi rica em diamantes, "simboliza os muitos tesouros escondidos e ameaçados no Brasil".
Assim como as peças de estética fácil e agradável, os textos utilizados para explicá-las beiram o kitsch.
O que não necessariamente representa um caráter negativo para a obra. Foi assim com outro grande nome do design internacional, Philippe Starck, que sobressaiu exatamente por criar um corpo de trabalhos bem apelativos, nos quais a forma também se sobrepõe à função.
Os Campana, afinal, levam ao mundo a mensagem de que o Brasil também é capaz de ser pós-moderno.
Contudo, para uma mostra de design, há um rigor dispositivo que não combina com esse conjunto de trabalhos.
A sinalização é um tanto confusa, já que muitas vezes é preciso buscar as legendas para entender o nome das obras, e a disposição é formal demais para peças que são tão orgânicas.
Fica contraditório expor um design tão inventivo de maneira tão careta.
ANTICORPOS
QUANDO de ter. a dom., das 9h às 21h; até 15/1/2012
ONDE Centro Cultural Banco do Brasil (r. Álvares Penteado, 112, SP, tel. 0/xx/11/3113-3651)
QUANTO entrada franca
AVALIAÇÃO regular
novembro 21, 2011
Livro destaca 'olhos de satélite' da artista por Silas Martí, Folha de S. Paulo
Livro destaca 'olhos de satélite' da artista
Matéria de Silas Martí originalmente publicada no caderno Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 19 de novembro de 2011.
Um livro lançado agora nos Estados Unidos analisa a trajetória de Jac Leirner do ponto de vista de fora, o território global que se materializa em seus cinzeiros de avião e cartões de embarque.
Isso que a artista chama de "prova do crime" em sua obra, documentos com nome, data e destino, vira, na visão dos críticos, evidência da condição de Leirner como fulcro num pêndulo que vai da obsessão por colecionar e uma catalogação precisa.
Críticos como Gabriel Pérez-Barreiro destacam sua "sensibilidade anárquica e punk", enquanto Robert Storr classifica sua obra como "neodadaísta", descrevendo seus olhos como os "sensores de um satélite espião".
Mas, na conversa com a historiadora Adele Nelson, que domina boa parte do livro, é Leirner quem fala mais e narra seu processo de descobertas no campo da arte -da infância observando pais colecionadores aos primeiros experimentos com aquarelas e noções de minimalismo, arte povera e conceitual.
JAC LEIRNER IN CONVERSATION WITH ADELE NELSON
AUTORES Adele Nelson, Robert Storr, Gabriel Pérez-Barreiro
EDITORA DAP-Distributed Art
QUANTO R$ 61 (200 págs.)
Jac Leirner expõe resíduos do jet set em retrospectiva por Silas Martí, Folha de S. Paulo
Jac Leirner expõe resíduos do jet set em retrospectiva
Matéria de Silas Martí originalmente publicada no caderno Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 19 de novembro de 2011.
Mostra na Estação Pinacoteca celebra três décadas de carreira da artista
Colecionando cinzeiros de avião, sacolas de grifes e museus, Leirner faz crítica ácida à ideia de artista globalizado
Jac Leirner criou pulmões de celofane, daquele de embrulhar maços de cigarro. Empilhados e presos à parede, são pedaços de plástico quase invisíveis diante de milhares de cédulas de dinheiro que serpenteiam pelo chão e guardanapos hasteados como bandeiras num varal.
Todo o volume na obra dessa artista se constrói de restos banais, dejetos conspurcados do jet set, como talheres, passagens e cinzeiros de avião, e cartões de visita de figurões das artes visuais.
Na retrospectiva que abre hoje na Estação Pinacoteca, sua primeira em São Paulo, Leirner expõe todo um arsenal de tralha garimpada com perícia arqueológica em suas três décadas de carreira.
"São quantidades de materiais com potencial plástico", diz Leirner. "Meu trabalho é dar um corpo para o que não tem, um lugar terminal para as coisas espalhadas."
Mas não qualquer coisa. Desde os anos 80, Leirner, que cresceu no meio das obras construtivistas da coleção do pai, Adolpho Leirner, arquiteta uma crítica ácida à noção de artista globalizado sem esquecer essa herança ortogonal dos concretistas.
Usando cobertores de avião, sacolas de compras, adesivos, etiquetas e notas de dinheiro, a artista cria mosaicos cromáticos em escalas minúscula e gigantesca.
"Dependendo de onde você olha, o dinheiro parece uma aquarela", diz Moacir dos Anjos, curador da mostra. "São interesses concorrentes, as coisas são reapresentadas, ressignificadas."
Desse jeito, etiquetas de preços dos cigarros que Leirner fumou em tempos de inflação, com valores ascendentes, viram um painel branco, quase um monocromo minimalista, quando visto à distância. De perto, viram retrato pontual de um momento econômico delicado.
"Mas não é sobre economia ou sobre tabagismo", diz Leirner. "É o próprio tabagismo, é o próprio dinheiro, é a presença do mundo. Não quero lidar com a primeira pessoa, mas eu fumei os cigarros, furtei os cinzeiros, mas tento me abster da primeira pessoa." Nesse ponto, Leirner descarta qualquer vontade autobiográfica em sua obra e privilegia seu caráter de crônica dos tempos, amontoados frágeis, guardados como indícios de quando ser artista passou a ser também questão de traquejo num mundo de negócios e finanças.
"É imprimir valor onde não existe", diz Leirner. "Esses maços de cigarro viram joia, escultura. Essas pessoas nos cartões de visita vão estar mortas e logo mais ninguém vai saber quem elas foram."
Não importa. Leirner só lembra que na poesia "a primeira pessoa é um erro". "Aqui o assunto é linguagem, não uma situação particular, só a linguagem e a poética."
novembro 18, 2011
Pintor de retículas por Paula Alzugaray, Istoé
Pintor de retículas
Matéria de Paula Alzugaray originalmente publicada no caderno de Artes Visuais da revista Istoé em 11 de novembro de 2011.
Masp expõe obra gráfica completa do alemão Sigmar Polke, artista que foi ao mesmo tempo crítico do socialismo e do capitalismo
Sigmar Polke – Realismo Capitalista e Outras Histórias Ilustradas/ Museu de Arte de São Paulo (Masp), SP/ até 29/1/12
Em 1963, auge da Guerra Fria, o jovem estudante da Academia de Artes de Düsseldorf Sigmar Polke organiza, juntamente com os colegas de classe Gerhard Richter e Konrad Fischer, uma performance intitulada “Realismo Capitalista”. Algumas décadas depois, Fischer seria considerado um dos mais inovadores e influentes marchands de sua geração, e Richter e Polke seriam dois dos mais importantes nomes da arte alemã. Até sua morte, em 2006, Polke desdobraria e renovaria os sentidos da performance realizada aos 20 anos. “Sigmar Polke – Realismo Capitalista e Outra Histórias Ilustradas”, no Masp, mostra os frutos que essa ideia rendeu em 35 anos de obras gráficas.
Polke nasceu em 1941 em Oels, na Silésia, região incorporada à Alemanha Oriental em 1949, e aos 12 anos mudou-se com a família para a então Alemanha Ocidental. Sua vivência dos dois regimes lhe deu autoridade para inventar o realismo capitalista, em sátira ao realismo socialista (doutrina estética oficial da antiga União Soviética) e como crítica a uma arte ocidental marcada pela adesão aos valores do mercado. Isto é, em sua produção artística, Polke conseguiu ser simultaneamente crítico ao socialismo e ao capitalismo.
O artista é reconhecido por sua atuação na pintura – em 1975, inclusive, ganhou o prêmio de pintura na 13ª Bienal de São Paulo. Mas a presente exposição, com curadoria de Tereza Arruda, brasileira residente em Berlim, vem argumentar que sua obra gráfica é tão forte e representativa de seu estilo quanto a obra pictórica. Polke foi sempre um adepto das misturas de técnicas e descobriu na gravura um meio favorável ao encontro entre o desenho, a fotografia, a pintura e até mesmo o grafite. Ao sobrepor técnicas e temáticas em várias camadas de tinta, não estaria ele, afinal, se referindo aos excessos do capitalismo?
A exposição traz ao Brasil cerca de 220 obras em diversas técnicas gráficas – off-set, silk-screen, litografia, impressão digital –, além da série original e inédita de desenhos e colagens “Day by Day”, seu diário durante a estadia em São Paulo, durante a 13ª Bienal.
Polêmica na mesa de jantar por Nina Gazire, Revista Select
Polêmica na mesa de jantar
Matéria de Nina Gazire originalmente publicada na revista Select em 11 de novembro de 2011.
Em carta enviada ao Los Angeles MoCA, coreógrafa critica trabalho de Marina Abramovic
Yvonne Rainer chama performance planejada por Marina Abramovic de espetáculo grotesco
Inúmeros numerólogos nos advertiram durante a semana sobre a possibilidade de acontecimentos inusitados na data do dia 11/11/11. Superstição ou sintonia cósmica, o mundo da arte hoje acordou com uma notícia um tanto inesperada e que está causando repercussão nos meios especializados. Yvonne Rainer, uma das mais importantes coreógrafas da atualidade, enviou uma carta ao LA MoCA (Museu de Arte Contemporânea de Los Angeles), que também foi publicada na íntegra no site Artinfo, questionando a instituição por apoiar a exploração de jovens artistas por outra colega mais gabaritada, sendo esta ninguém menos do que Marina Abramovic.
A convite da diretoria, Abramovic prepara uma performance a ser apresentada durante o tradicional baile de gala do museu, onde jovens artistas teriam se voluntariado para servirem, despidos de roupas, como suportes para as mesas do evento. Os voluntários receberão uma quantia de apenas 150 dólares para ficarem em pose de mobiliário durante os dois dias de festividades. Na carta enviada a Jeffrey Deitch, diretor do LA MoCA, Yvonne afirma que Marina Abramovic estaria descontextualizando o objetivo inicial de suas performances em nome da ganância, humilhando outros artistas para “entreter um bando de patrocinadores frívolos e ricos”. A coreógrafa ainda aponta que a grande adesão de voluntários ao “espetáculo grotesco” se deve a perversão do mundo arte, onde jovens artistas “compactuam com as ideias depravadas de uma celebridade para terem a chance de eles mesmos participarem do mundo das artes”. Yvonne chega a comparar o episódio com o filme Saló ou os 120 Dias de Gomorra, clássico do diretor italiano Pier Paolo Pasolini, em que um bando de jovens sofre abusos de políticos remanescentes do fascismo.
Tanto o LA MoCA quanto Abramovic ainda não se pronunciaram a respeito da crítica de Yvonne Rainer. De fato, Abramovic não tem realizado uma reflexão mais profunda em torno da função da performance nos dias de hoje. Ainda que seja uma das poucas artistas a continuarem praticando exclusivamente esse gênero, a performer tem se dedicado mais a rever outros trabalhos clássicos, como por exemplo a performance Action Pants: Gential Panic da austríaca VALLIE EXPORT ou permitir que outros artistas reencenem seus trabalhos mais antigos, como se deu no caso de sua retrospectiva no MoMA. Tais ações não deixam de ser em si uma espécie de atualização da arte da performance, porém, nem mesmo seu mais novo trabalho, The Artist Is Present, em que permaneceu sentada diante do público que se avolumava em filas quilométricas para terem um momento diante da artista, possibilitou perceber algo de inovador e inquietante. Nesse sentido a artista parece buscar mais uma zona de conforto legitimando a performance dentro dos ambientes institucionais do que estar propondo uma polêmica como a que Yvonne Rainer quer denunciar em sua carta-manifesto.
Exposição no Bairro do Recife questiona valor do dinheiro na arte contemporânea por Tatiana Meira, Pernambuco.com
Exposição no Bairro do Recife questiona valor do dinheiro na arte contemporânea
Matéria de Tatiana Meira originalmente publicada no caderno Últimas do site Pernambuco.com em 17 de novembro de 2011.
Deve provocar bastante curiosidade o letreiro Se vende, que será colocado do lado de fora do prédio do Santander Cultural, de frente para a Praça do Marco Zero, no Bairro do Recife. Com letras garrafais vermelhas, que ficam acesas à noite, dá para imaginar que o edifício estará à venda. Mas não é nada disso! O luminoso é uma criação da artista Carmela Gross, de São Paulo, e integra a exposição coletiva 748.600, que permanece em cartaz durante um mês a partir desta sexta.
O projeto com curadoria de Renan Araújo, de Ribeirão Preto, interior de São Paulo, promove uma reflexão sobre diferentes aspectos da economia, como o dinheiro, o acúmulo de capital, a força de trabalho. A autocrítica começa a partir do título da mostra, pois 748.600 equivale ao valor em reais captado pelo projeto Novos Curadores com empresas do setor privado, através da Lei de Incentivo Fiscal. Entre os artistas brasileiros selecionados para a exposição, há desde nomes consagrados, como Cildo Meireles e Paulo Climachauska, a que o curador se refere como blue-chips, termo tomado emprestado do mercado de capitais, por sua inserção no universo das artes, até aqueles emergentes, em começo de carreira ou à margem do sistema (small-chips), como os pernambucanos Lourival Cuquinha e Deyson Gilbert. Cildo Meireles ironiza as transações econômicas ao criar, na década de 1970, Zero cruzeiro, em que coloca a figura de um índio no centro da cédula. Já Climachauska participa com desenhos elaborados com a moeda de R$ 1 e a escultura cúbica Fechado para balanço, feita com chapas descartadas da Casa da Moeda. Cuquinha inventa uma cédula de R$ 102, ao subrepor impressões no dinheiro, numa obra que somente se completa com sua negociação e venda.
“Tudo começou com a criação de um site/plataforma unindo outros novos curadores que mandaram projetos e foram selecionados, mais três curadores já atuantes no cenário da arte brasileira e a mediação e ajuda da produtora que administra o projeto. A exposição que está agora no Santander vem de um projeto maior: criação do site, meses desenvolvendo as possíveis exposições, exposição no Paço das Artes em São Paulo, ocorrida entre janeiro e março, e por último a exposição no Recife”, situa Renan.
Outros integrantes são Caio Reisewitz, Clara Ianni, Coletivo Filé de Peixe (espécie de jukebox que exibe videoarte), Denise Rodrigues, Gerty Saruê, Marcelo Cidade, Pino e Rodrigo Matheus.
Tatuagem vira símbolo de exploração em trabalhos por Silas Matí, Folha de S. Paulo
Tatuagem vira símbolo de exploração em trabalhos
Matéria de Silas Martí originalmente publicada no caderno Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 18 de novembro de 2011.
Obras polêmicas incluem desenhos na pele de prostitutas e de animais
Artista espanhol paga viciados para tatuar uma linha em suas costas e belga cria e vende porcos tatuados
Enquanto jovens artistas encontram agora na tatuagem um suporte vivo para obras de caráter mais lúdico e menos ácido, marcas sobre a pele já causaram muita polêmica no meio artístico.
No fim dos anos 90, o espanhol Santiago Sierra fez uma série de performances em que pagou desempregados e prostitutas US$ 30, ou o equivalente ao valor de uma dose de heroína, para que deixassem tatuar nas costas uma linha preta contínua.
Em vez de um desenho, Sierra gravou na pele de voluntários remunerados a marca de uma violação, denunciando a condição de explorados pelo sistema da arte.
Na mesma pegada, o artista carioca Ducha pagou os R$ 1.500 que recebeu do programa Rumos, seleção de jovens artistas do Itaú Cultural, a um caseiro para que raspasse a cabeça e tatuasse atrás dela a logomarca do banco.
"Decidi fazer com alguém a mesma coisa que o Itaú fazia comigo", conta Ducha. "Queria que essa exploração fosse vivenciada e que eu fosse o agente da exploração."
Wim Delvoye também pensou na ideia de marca como símbolo de valor e exploração quando decidiu tatuar porcos vivos com o brasão da grife de luxo Louis Vuitton.
Depois de criar desenhos sobre couro de porco, o artista belga passou a usar os bichos ainda vivos e teve a obra declarada ilegal na Bélgica por maus tratos aos animais. Ele então se mudou para a China onde tem uma fazenda para continuar o trabalho.
Suas composições sobre pele vêm acompanhadas de sua assinatura, como se fossem produtos em série que valorizariam na medida em que os porcos engordassem.
"Faço uma arte invendável, que cresce e chama a atenção de uma forma irônica", resumiu Delvoye em entrevista a uma revista canadense. "É o mesmo princípio do mercado de capitais, que também opera com juros e suas margens de lucro."
Artistas criam desenhos para tatuar na pele de obras vivas por Silas Martí, Folha.com
Artistas criam desenhos para tatuar na pele de obras vivas
Matéria de Silas Martí originalmente publicada no caderno Ilustrada do jornal Folha.com em 18 de novembro de 2011.
Eles dão a pele por uma obra. Num apartamento no 19º andar do edifício Copan, no centro de São Paulo, 12 pessoas cederam o próprio corpo para os desenhos de uma artista, concordando em vesti-los para sempre.
Almudena Lobera é quem desenha, no papel, as imagens. Isabel Martínez Abascal, a tatuadora, grava traços na pele dos participantes, ou portadores, como a dupla se refere às cobaias artísticas.
Essas artistas espanholas passaram um mês recrutando interessados em virar suportes de uma obra que deve durar o tempo de uma vida.
No contrato assinado, eles se comprometeram a receber o desenho na pele e a serem mostrados como obras.
Hoje à noite, na galeria Vermelho, Lobera e Martínez Abascal fazem a primeira exposição de seus tatuados. No ano que vem, imagens deles seguem para Madri, Barcelona e Zaragoza, na Espanha.
"A obra é sobre a perda de uma imagem, como quando vendemos um desenho", diz Lobera. "Eles adquirem a obra dando a pele como suporte, e os desenhos se consomem como bens de mercado, sumindo à medida que a pessoa envelhece e morre."
Mas sobrevive um certificado de autenticidade que cada portador recebe pelo desenho que leva no corpo. "Questionamos a ideia de posse no mercado de arte", afirma Martínez Abascal. "Não é só um desenho ou uma tatuagem, é também um ritual de confiança mútua."
Foi nesse aspecto "visceral" da tatuagem que Amilton Santos pensou quando também começou uma série de tatuagens como obra de arte.
"Quem se deixa tatuar precisa confiar muito em mim", explica ele. "É uma sedução que deve acontecer de forma satisfatória entre a gente."
Em festas, o artista faz com nanquim e uma agulha de costura o desenho de uma forma geométrica no corpo de um ou mais voluntários.
"Aquilo acaba absorvendo a carga emocional daquele dia", diz Santos, que depois copia no próprio corpo a tatuagem que faz nos outros.
Enquanto jovens artistas encontram agora na tatuagem um suporte vivo para obras de caráter mais lúdico e menos ácido, marcas sobre a pele já causaram muita polêmica no meio artístico.
No fim dos anos 90, o espanhol Santiago Sierra fez uma série de performances em que pagou desempregados e prostitutas US$ 30, ou o equivalente ao valor de uma dose de heroína, para que deixassem tatuar nas costas uma linha preta contínua.
Em vez de um desenho, Sierra gravou na pele de voluntários remunerados a marca de uma violação, denunciando a condição de explorados pelo sistema da arte.
Na mesma pegada, o artista carioca Ducha pagou os R$ 1.500 que recebeu do programa Rumos, seleção de jovens artistas do Itaú Cultural, a um caseiro para que raspasse a cabeça e tatuasse atrás dela a logomarca do banco.
"Decidi fazer com alguém a mesma coisa que o Itaú fazia comigo", conta Ducha. "Queria que essa exploração fosse vivenciada e que eu fosse o agente da exploração."
Wim Delvoye também pensou na ideia de marca como símbolo de valor e exploração quando decidiu tatuar porcos vivos com o brasão da grife de luxo Louis Vuitton.
Depois de criar desenhos sobre couro de porco, o artista belga passou a usar os bichos ainda vivos e teve a obra declarada ilegal na Bélgica por maus tratos aos animais. Ele então se mudou para a China onde tem uma fazenda para continuar o trabalho.
Suas composições sobre pele vêm acompanhadas de sua assinatura, como se fossem produtos em série que valorizariam na medida em que os porcos engordassem.
"Faço uma arte invendável, que cresce e chama a atenção de uma forma irônica", resumiu Delvoye em entrevista a uma revista canadense. "É o mesmo princípio do mercado de capitais, que também opera com juros e suas margens de lucro."
PORTADORES
QUANDO hoje, às 19h
ONDE Vermelho (r. Minas Gerais, 350, tel. 0/xx/11/3138-1520)
QUANTO grátis
novembro 17, 2011
Pinturas cegas e outros lirismos por Aline Moura, O Povo Online
Pinturas cegas e outros lirismos
Matéria de Aline Moura orignalmente publicada no caderno Vida & Arte do jornal O Povo Online em 17 de novembro de 2011.
Prestes a completar 98 anos, "a grande dama da arte brasileira", Tomie Ohtake, apresenta peças raras do seu trabalho, além de 12 gravuras da mais recente produção, a partir de hoje, na Galeria Multiarte
Pinturas feitas com olhos vendados. Esculturas pintadas pela luz. Sombras que completam a arte. Gravuras viscerais. Às vesperas de completar 98 anos, no próximo dia 21, a artista plástica nipo-brasileira Tomie Ohtake reúne os elementos-base do seu trabalho na exposição Tomie Ohtake (1913), em cartaz a partir de hoje, às 20 horas, na Galeria Multiarte. Composta por oito pinturas, 12 gravuras e cinco esculturas, a mostra traz o melhor da produção da artista , segundo o curador Max Perlingeiro.
Considerada a “grande dama da arte brasileira”, suas principais obras viajam entre três tipos de expressões artísticas, pintura, gravura e escultura, atingindo o chamado abstracionismo lírico. Dentre as pinturas que compõem a coleção que será apresentada na exposição, destaca-se uma das 30 obras da série Pinturas Cegas. Segundo Max Perlingeiro, a série foi um experimento no qual Tomie pintava com olhos vendados. “Esse trabalho é completamente diferente de todos os outros. E quando eu preparei a seleção das obras, fiz questão que tivesse uma dessa série”. De acordo com ele, foi o crítico Mário Pedrosa quem sugeriu que Tomie fizesse esse experimento.
Quem for à exposição também poderá conferir instalações feitas com tubos de aço carbono que saem das paredes e do teto. Ali, a incidência de luz cria novas expressões. “A luz é quem pinta a escultura. A sombra é o complemento. Sem ela, a obra fica incompleta”, explica Perlingeiro. Além disso, a coleção é composta por gravuras de metal. De acordo com o curador, as peças foram feitas a partir de diversas camadas de tinta, tendo a cor vermelha como elemento constante. “Tomie tem uma gravura sofisticada. Uma coisa quase visceral”, explica.
A abertura da exposição conta com a presença de Ricardo Ohtake, filho de Tomie e diretor do Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo. De acordo com Ohtake, a exposição contém peças raras que abrangem diferentes épocas do trabalho de sua mãe. Ele explica que as 12 gravuras expostas foram as últimas feitas por Tomie.
A exposição demorou três anos para ser concebida porque, segundo Max Perlingeiro, Tomie fez questão de criar uma especialmente para o Ceará. “Tomie é daqueles artistas extremamente comprometidos”, afirma Perlingeiro. O curador diz que em encontro recente com a artista plástica, ele a questionou sobre o segredo de sua vitalidade e para sua surpresa a resposta foi: “Eu fui ao show do Paul Mccartney. Você foi?”.
Arte da delicadeza, Diário do Nordeste
Arte da delicadeza
Matéria originalmente publicada no Caderno 3 do Diário do Nordeste em 16 de novembro de 2011.
A artista Tomie Ohtake ganha exposição individual em Fortaleza. A mostra abre, amanhã, na galeria Multiarte, reunindo pinturas, gravuras e esculturas da artista visual nipo-brasileira
Tomie Ohtake nasceu em Kyoto, no Japão, em 21 de novembro de 1913. Às vésperas de seus 98 anos, ela é uma espécie de lenda viva das artes no Brasil. É conhecida por sua obra, de um aparente minimalismo que se desfaz à segunda vista, revelando-se, a um só tempo complexa e delicada; e pelo Instituto que leva seu nome, que funciona em São Paulo e segue como um centro de referência de boas exposições da arte moderna e contemporânea. E, se a alcunha de lenda não cabe a Tomie, isso se deve ao fato de a artista ter se negado a ser convertida em monumento. Afinal, sua produção criativa segue em frente, na contramão do tempo.
A obra dessa artista singular pode ser vista, a partir de amanhã, na galeria Multiarte. Às 20 horas, será aberta a exposição "Tomie Ohtake - Pinturas | Esculturas | Gravuras", com curadoria de Max Perlingeiro. De sexta-feira em diante, o conjunto de obras fica aberto à visitação gratuita. A última mostra individual da obra da artista, em Fortaleza, aconteceu há cerca de 20 anos, dedicada à sua produção de gravurista.
Parceria
A exposição é composta por 26 peças, divididas entre pinturas, gravuras e esculturas. "A ideia desta exposição existe desde 2007. Ela foi sendo pensada durante esse tempo, com o apoio do Instituto Tomie Ohtake. Ela mesma queria uma exposição especial para Fortaleza, queria que viesse algo inédito para cá. Tomie é mulher de 97 anos, que segue produzindo sem interrupções. Se ela preferia esperar pelo momento certo, não seria eu a apressá-la", conta Perlingeiro.
O curador não poupa elogios ao Instituto, parceiro da exposição que ficará em cartaz em Fortaleza. Deixaram-no livre para que escolhesse as obras que comporiam a mostra, ajudaram a encontrar as imagens que ilustram o belo catálogo e ofereceram suporte técnico para a delicada montagem das obras. "Há uma série de esculturas que precisavam ficar suspensas na parede. Na primeira vez que olhei, fique me perguntando com faríamos a montagem. Só que ela veio com um manual claríssimo à moda japonesa, com buchas especialmente projetadas para este fim. Acredite: a montagem de cada peça foi feita em cinco minutos", descreve.
"O melhor"
Max Perlingeiro não titubeia quando questionado a respeito do recorte da exposição de Tomie Ohtake na galeria Multiarte: queria trazer "o melhor" dela. "Contudo, pensar o melhor dela é algo muito difícil. Eu tinha diante de mim, à minha escolha, obras delicadíssimas, limpíssimas e sofisticadas, algumas grandes, outras pequenas", relembra.
A ideia era montar uma exposição que, de alguma forma, reproduzisse o espaço de criação da artista - um ateliê, na melhor tradição japonesa, marcado pela limpeza e pela organização, de obras e materiais. "Minha preocupação não era trazer uma obra monumental, mas fazer uma exposição como aquele ateliê, em que ´less is more´ (menos é mais)", elucida.
Empolgado com seu novo projeto, Max Perlingeiro demonstra um fascínio permanente com a obra de Tomie Ohtake. Não esconde certa preferência por um tríptico de 1987, que acabou escolhendo para ilustrar as peças de divulgação da mostra; o assombro diante das esculturas em metal carbono, obras que só se completam com a interação entre a peça e sua própria sombra; e as gravuras que mais parecem pinturas, tão perfeito que é o uso das cores e suas gradações no suporte.
Mais informações
Abertura da exposição Tomie Ohtake - Pinturas | Esculturas | Gravuras. Amanhã, às 20 horas, na galeria Multiarte (Rua Barbosa de Freitas, 1727 - Aldeota). A mostra fica em cartaz de 18 de novembro a 17 de dezembro, de segunda a sexta-feira, das 10 horas às 18 horas; e aos sábados, das 14 horas às 20 horas.
Feira para novos colecionadores reúne obras de até 15.000 reais por Jonas Lopes, Veja
Feira para novos colecionadores reúne obras de até 15.000 reais
Matéria de Jonas Lopes originalmente publicada no caderno de Cultura da edição online da revista Veja em 16 de novembro de 2011.
Batizada de Parte, ela acontece entre sexta (18) e domingo (20) no salão da Igreja da Unificação, em Pinheiros
Em geral, o ambiente das galerias intimida as pessoas pouco versadas no universo das pinturas, gravuras e esculturas. Não bastasse isso, há o problema do preço, às vezes alto demais para quem nunca investiu numa obra. Uma nova feira de arte contemporânea na cidade se propõe a ser uma porta mais amigável e acessível aos candidatos a entrar para o time dos colecionadores. Batizada de Parte, ela ocorre de sexta (18) a domingo (20), reunindo no salão da Igreja da Unificação, em Pinheiros, trabalhos de cerca de 300 artistas divididos em 22 estandes. É possível fechar negócios a partir de 450 reais, e nada do que estará exposto ali custará mais de 15.000 reais. Virgílio, Emma Thomas, Zipper e Fotospot são algumas das casas participantes da primeira edição. A lista de artistas representados inclui desde nomes experientes, a exemplo de Bob Wolfenson e Marcello Nitsche, até as jovens revelações Estela Sokol e Mariana Serri.
O público que comparecer poderá ver outras atrações, como uma ação do coletivo Aluga-se. Vinte integrantes do grupo doaram obras, que serão colocadas em 150 caixas, três em cada uma, e então postas à venda por 290 reais. O visitante terá de comprá-las no escuro: apenas ao abri-las conhecerá as peças que levará para casa. A programação abriga ainda conversas com curadores e oficinas relacionadas à história da arte, voltadas para crianças a partir de 7 anos. Na sexta (18), às 19 horas, a Cosac Naify lança os primeiros cinco volumes da edição brasileira da Photo Poche, tradicional coleção francesa de livros de fotografia. Henri Cartier-Bresson, Man Ray, Sebastião Salgado, Elliott Erwitt e Helmut Newton são os nomes abordados nas publicações.
A Parte começou a tomar forma no início do ano, na cabeça da artista plástica Lina Wurzmann, formada em administração de empresas, e da advogada Tamara Brandt Perlman. “Nossa intenção era unir a demanda de pessoas que não têm condição de investir muito à oferta de artistas sem espaço para exibir suas realizações”, diz Lina. “Enquanto elaborávamos a ideia, visitamos a Europa, onde esse tipo de negócio está em grande expansão”, completa Tamara. Finalizado o projeto, a dupla definiu o teto de preço, tentando achar um valor razoável tanto para atrair o público como para recompensar os expositores. Cada galerista terá de incluir uma placa com o preço ao lado do trabalho exposto. Solução aprovada pelo empresário Oliver Mizne, colecionador há mais de dez anos. “A proposta é corajosa. Muita gente vê na arte algo caro e inacessível, e nem sempre é o caso”, acredita ele.
O calendário paulistano já conta com um grande evento nessa área, a SP Arte. Realizada anualmente desde 2005, reuniu 89 galerias em sua última edição, catorze delas estrangeiras, e levou 18.000 pessoas ao Pavilhão da Bienal. Idealizadora do encontro, a advogada e colecionadora Fernanda Feitosa aprova a “irmã mais nova” e popular. “É um sinal de que há um público reprimido para esse tipo de coisa na metrópole”, afirma ela, que deu uma pequena consultoria às organizadoras da Parte em detalhes logísticos e administrativos. Lina e Tamara não veem as duas feiras ocupando o mesmo espaço. “Diria que a Fernanda toma conta do topo de pirâmide, enquanto a gente pretende contribuir para ampliar a base dela”, brinca Tamara.
Na USP, 43% são contra mudança de museu para Detran, Folha de S. Paulo
Na USP, 43% são contra mudança de museu para Detran
Matéria originalmente publicada no caderno Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 15 de novembro de 2011.
Plano de levar o acervo de 10 mil obras do MAC para o Ibirapuera tem apoio só de 21% dos estudantes em SP
Dados são de pesquisa Datafolha que mostrou que apenas 52% dos alunos da universidade sabem da transferência
Pouco mais de metade dos alunos da Universidade de São Paulo sabe dos planos de transferir o acervo do Museu de Arte Contemporânea da USP para o antigo prédio do Detran, no Ibirapuera.
Pesquisa Datafolha mostrou que 52% dos estudantes da USP sabem da mudança do museu, anunciada em 2007. Destes, só 15% acreditam estar bem informados sobre o assunto.
O mesmo levantamento também revelou que apenas 21% dos alunos concordam com a transferência das cerca de 10 mil obras para o Ibirapuera, enquanto 43% dizem ser contra a ideia, 20% são indiferentes e 16% não souberam responder.
O índice de rejeição à mudança do museu é menor (30%) nas faculdades de medicina e direito da USP.
No largo São Francisco, 73% dos alunos estão a par do assunto porque a reitoria bate de frente com planos do centro acadêmico da faculdade, que quer construir um complexo esportivo no terreno vizinho ao antigo Detran.
Esse é um dos maiores entraves na transferência do MAC, já que o reitor, João Grandino Rodas, tem adiado a assinatura do convênio de mudança com a Secretaria de Estado da Cultura, pressionando o governo para impedir as obras perto do museu.
A pesquisa foi realizada na semana passada e ouviu 683 alunos de todas as faculdades nos campi de São Paulo. A margem de erro é de 4% para mais ou para menos.
Desde que foi anunciada a mudança, atrasos nas obras e divergências entre USP e o governo paralisaram a ida do MAC para o Detran, que foi reformado pela Secretaria de Estado da Cultura a um custo de R$ 76 milhões.
A USP agora exige que o governo também banque custos de manutenção do museu.
Orçamento da Cultura não será menor, diz ministra por Sylvia Colombo, Folha de S. Paulo
Orçamento da Cultura não será menor, diz ministra
Matéria de Sylvia Colombo originalmente publicada no caderno Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 17 de novembro de 2011.
Ana de Hollanda afirmou, entretanto, que veto a convênios com entidades privadas dificultou atuação da pasta em 2011
MinC tem previsão de verba de R$ 1,79 bilhão no ano que vem, mas valor não leva em conta emendas parlamentares
A ministra da Cultura do Brasil, Ana de Hollanda, disse em Buenos Aires que não haverá redução orçamentária em sua pasta em 2012.
Afirmou, porém, que o ministério está tendo mais dificuldades para concretizar projetos neste ano do que em 2010, quando teve verba de R$ 2,13 bilhões.
Isso por conta das dificuldades impostas pela Lei de Diretrizes Orçamentárias, que proibiu o MinC de fazer convênios com entidades privadas para eventos, e de um decreto presidencial que generalizou o veto.
O projeto da Lei Orçamentária Anual (Ploa) indica o valor de R$ 1,79 bilhão para 2012. "O cálculo não contabiliza as emendas, que ainda serão somadas a ele. Só vamos saber o valor em 31 de dezembro", desconversou.
Em entrevista à Folha, a ministra afirmou que a taxa de execução do orçamento da pasta neste ano está em 67%, deve atingir 80% ao fim do mês e 100% até 31/12.
Em sua primeira visita oficial à Argentina como ministra, Ana de Hollanda firmou um acordo de cooperação entre o MinC e a secretaria de Cultura local.
O trato prevê apoio à criação de mais pontos de cultura na Argentina (que também possui esse programa) e estímulo à tradução de obras de ambos os países. Também se discutiu a organização conjunta de uma bienal sobre indústrias culturais, a ser realizada alternadamente na Argentina e no Brasil.
Com relação à reforma da lei do direito autoral, a ministra disse já haver "um consenso sobre uma proposta", atualmente na Casa Civil. Segundo ela, será feito um registro de obras culturais no site do MinC: "Vamos abrir tudo na internet. Todo mundo vai ter acesso ao que está em domínio publico, ao que não está, e de quem são os direitos."
Feira com obras baratas atrai novos colecionadores por Silas Martí, Folha de S. Paulo
Feira com obras baratas atrai novos colecionadores
Matéria de Silas Martí originalmente publicada no caderno Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 17 de novembro de 2011
Parte começa hoje em São Paulo com trabalhos de no máximo R$ 15 mil
Comprar múltiplos de artistas consagrados e apostar em nomes jovens é o primeiro passo para colecionar
Trocando um vício por outro, o designer Albino Papa diz que deixou de "torrar dinheiro" com roupas de grife e começou a comprar obras de arte. "Quando comecei a colecionar, perdi esse peso na consciência de gastar igual um desesperado", conta ele.
E cada vez mais gente decidiu usar a fome consumista para montar coleções de arte num universo de feiras e galerias que se multiplicam -em São Paulo, cinco novas casas abriram no último ano.
"Não é gente rica que nasceu em berço de ouro", resume Juliana Freire, da galeria Emma Thomas. "São pessoas que deixam de comprar um carro e andam de bicicleta e metrô para poder comprar alguma obra de arte."
De olho nesse público, e aproveitando a expansão do mercado, uma nova feira, a Parte, abre hoje em São Paulo com obras de até R$ 15 mil.
São peças originais de jovens artistas, entre desenhos, esculturas e pinturas, além de múltiplos de nomes já consagrados no circuito global.
"Se você gosta de gente mais famosa, deve comprar múltiplos", ensina Lina Wurzmann, uma das diretoras da feira. Mas ela lembra ainda que há vários jovens artistas "superbacanérrimos".
Juliana Lowenthal, advogada que hoje tem uma coleção de 26 obras, lembra ter se apaixonado por um desses bacanas anos atrás e desde então não parou de comprar.
"Adorei o desenho da Chiara Banfi, uma plantinha daquelas que você assopra", conta Lowenthal. "Quando a mosquinha pica, você não para mais, mas é importante se envolver com a obra."
No caso dela e de outros colecionadores iniciantes, é mais uma questão de amor, gosto ou vício do que de investimento, já que muitos dos artistas ainda não têm carreira estabelecida no terreno pedregoso das artes visuais.
"É igual arrumar uma namorada, tem que olhar e ver se bate", diz Fabio Cimino, da galeria Zipper. "Só quando a obra passa a valer um monte de dinheiro, ela é vista como uma reserva de capital."
novembro 14, 2011
Lado ilustradora de Fayga Ostrower está em mostra por Silas Martí, Folha de S. Paulo
Lado ilustradora de Fayga Ostrower está em mostra
Matéria de Silas Martí originalmente publicada no caderno Ilustrada do Jornal Folha de S. Paulo em 12 de novembro de 2011
Gravurista concebeu obras para livros de Graciliano Ramos e de T. S. Eliot
Exposição em São Paulo permite observar a troca do registro expressionista pela abstração geométrica
Aquele boi, "morto, sem forma ou sentido ou significado", do poema de Manuel Bandeira fica mais abstrato na ilustração de Fayga Ostrower, um emaranhado ósseo e ao mesmo tempo frágil que se decompõe contra um fundo de tons verdes soturnos.
Menos conhecidas do que suas gravuras, as ilustrações para livros, poemas e revistas da artista polonesa que se radicou no Brasil, morta aos 79 há dez anos, estão juntas agora no Museu Lasar Segall.
Ostrower se firmou nos anos 40 como gravurista de traços expressionistas. Trabalhava com total economia de meios, linhas densas em preto e branco, na tentativa de denunciar nos desenhos a crueza da miséria humana.
Em paralelo à produção artística de temas livres, ela começou ilustrando romances nesse mesmo estilo, realidades surradas traduzidas de forma concisa, só esqueletos e sombras angulosas.
Em "O Cortiço", de Aluísio de Azevedo, as sombras engolem as figuras, e o preto quase domina as composições.
Ela também cedeu à prosa seca das "Histórias Incompletas" de Graciliano Ramos um quadro a quadro ainda mais denso, opressor e fuliginoso, de linhas e pontos cortantes.
Essa fúria figurativa parece arrefecer ao longo da carreira. Ostrower troca a secura do registro expressionista pela abstração geométrica da forma, ao ir da ilustração da prosa para a poesia.
"Essa mudança é sintomática, porque a própria obra dela vai ficando menos narrativa e mais lírica", observa Eucanaã Ferraz, curador da mostra. "É possível ver como sai da gravura mais realista e chega ao abstracionismo."
Um primeiro passo nesse rumo é a ilustração que fez em 1952 para os versos do poema "Boi Morto", de Manuel Bandeira, em que a cara do bicho começa a se desfazer em contornos abstratos.
Quatro anos depois, os "destroços pedregosos" e a "sombra desta rocha rubra" dos versos de "A Terra Inútil", de T.S. Eliot, viram abstrações, linhas, círculos e elipses em verde e marrom.
Esse, aliás, é um dos primeiros trabalhos em que Ostrower começa a usar cores, elemento que surge em sua obra quase que em paralelo ao momento em que passa a ilustrar obras poéticas.
FAYGA OSTROWER
QUANDO abre hoje, às 17h; de ter. a sáb., das 14h às 19h; dom., das 14h às 18h; até 19/2/2012
ONDE Museu Lasar Segall (r. Berta, 111, tel. 0/xx/11/5574-7322)
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Programa BNB de Cultura promove oficina em Penedo, Conexão Penedo
Programa BNB de Cultura promove oficina em Penedo
Matéria originalmente publicada no site Conexão Penedo em 11 de novembro de 2011
O evento em Penedo está confirmado para o Teatro Sete de Setembro, situado à Av. Floriano Peixoto, 81, Centro Histórico, das 14h às 16h.
O Banco do Nordeste realiza uma série de oficinas de elaboração de projetos culturais, no período de 21 de outubro a 02 de dezembro, para divulgar o Programa BNB de Cultura – Edição 2012 – Parceria BNDES, uma linha de patrocínio direto para apoio à produção e difusão da cultura nordestina, mediante seleção pública de projetos. As oficinas são realizadas em 79 cidades dos 11 estados da área de atuação do BNB. Em Alagoas, os eventos iniciam no próximo dia 17, em Maceió, e nos dias 21, 22, 23 e 24 acontecem, respectivamente, em Penedo, Piranhas, Marechal Deodoro e Arapiraca. O ingresso nas oficinas é gratuito e não há necessidade de inscrição prévia.
Juntos, o Banco do Nordeste e o BNDES destinarão, no próximo ano, o montante de R$ 8 milhões para projetos a serem selecionados nas seguintes áreas: música (com dotação de R$ 1,5 milhão), literatura (R$ 1,0 milhão), artes cênicas (R$ 1,25 milhão), dança (R$ 500 mil), artes visuais (R$ 1,0 milhão), audiovisual (R$ 1,0 milhão); patrimônio (R$ 500 mil) e artes integradas ou não-específicas (R$ 1,25 milhão).
O Edital do Programa está disponível no Portal do BNB (www.bnb.gov.br), contendo o regulamento e os respectivos formulários eletrônicos para inscrição de projetos, bem como as instruções para preenchimento e o modelo de relatório para prestação de contas.
Serão contemplados pelo menos 303 projetos – sendo, no mínimo, 59 de música, 38 de literatura, 55 de artes cênicas, 18 de dança, 44 de artes visuais, 22 de audiovisual, 18 de patrimônio e 49 de artes integradas ou não-específicas.
Existente desde 2010, a parceria Banco do Nordeste/BNDES contribui para a descentralização territorial da oferta de bens culturais, situados nos mais diversos municípios da área de atuação do Banco do Nordeste, principalmente naqueles menos providos de atividades culturais. Existente desde 2005, o Programa Banco do Nordeste de Cultura já patrocinou 1.371 projetos, beneficiando diretamente 350 municípios.
Priorização de áreas menos favorecidas
Do total de recursos do Programa, no mínimo, 50% (pelo menos R$ 4 milhões, em 2012) serão destinados para projetos cujas ações sejam realizadas em municípios com Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) abaixo da média do Nordeste (equivalente a 0,749) e/ou Índice de Exclusão Social (IES) acima da média do Nordeste (igual a 40,95%). 50% desse total, também serão destinados para proponentes que sejam pessoa jurídica de direito privado, sem fins lucrativos.
Além disso, pelo menos 25% do total (R$ 2 milhões, em 2012) serão carreados para projetos cujas ações sejam realizadas em municípios incluídos no Programa Territórios da Cidadania, do Governo Federal, cujo objetivo é levar o crescimento econômico e universalizar os programas básicos de cidadania. Na área de atuação do Banco do Nordeste, são identificados 34 Territórios da Cidadania, englobando 586 municípios, sendo 337 inseridos na região semiárida.
A meta dos dois bancos é realizar, até 31 de maio de 2012, todo o processo seletivo da edição 2012 do Programa, compreendendo as seguintes fases: realização das oficinas, período de inscrições (1º de novembro a 16 de dezembro de 2011), divulgação da lista de projetos habilitados para o processo de seleção (20 de janeiro de 2012), análise dos projetos (12 de março a 25 de abril de 2012) e divulgação do resultado das propostas selecionadas (31 de maio de 2012).
Objetivos
São objetivos do Programa Banco do Nordeste de Cultura – Parceria BNDES: investir recursos financeiros do BNB e do BNDES, disponíveis para a cultura, em atividades de interesse da Região Nordeste; promover a democracia cultural mediante a participação da comunidade na produção e fruição das ações culturais apoiadas pelo Programa; promover e proteger a diversidade das expressões culturais nordestinas; apoiar prioritariamente a realização de projetos culturais que estão fora da evidência do mercado e que contemplem a cultura da Região; promover a realização de projetos culturais nos municípios da área de atuação do BNB menos providos de atividades relacionadas à cultura, entre outros.
Os projetos serão analisados por comissão julgadora formada por 40 avaliadores representantes de todos os Estados onde o Banco do Nordeste atua. Serão formadas oito comissões avaliadoras, uma para cada área do Edital (música, literatura, artes cênicas, dança, artes visuais, audiovisual, patrimônio e artes integradas ou não-específicas). Cada comissão terá cinco avaliadores externos, representantes de Estados diferentes.
Inscrição e habilitação
O período de inscrição dos projetos será de 01 de novembro a 16 de dezembro deste ano, mediante entrega de seis vias de formulário de inscrição impresso, devidamente preenchido com letra legível, digitado ou datilografado, assinado por responsável pelo projeto, e acompanhado de seis cópias de cada anexo indicado no formulário. O formulário de inscrição e todas as informações necessárias aos proponentes estão disponíveis no Portal do Banco do Nordeste (www.bnb.gov.br).
A entrega dos projetos oriundos do Estado de Alagoas deverá ser feita na sede da Superintendência Estadual do BNB (Rua da Alegria, 407, Centro, CEP – 57020-320, Maceió – AL), de segunda a sexta-feira, no período de 10 às 16 horas, ou então pelo correio, com remessa para o mesmo local, como correspondência registrada com Aviso de Recebimento – AR (considerada a data de postagem), em envelope devidamente identificado.
No período de 02 a 13 de janeiro de 2012, todos os projetos inscritos passarão por uma análise técnica, objetivando a habilitação para a fase de seleção. Serão considerados desabilitados os projetos que apresentarem inconsistências e não atenderem às exigências previstas no edital.
ENTREVISTAS E INFORMAÇÕES ADICIONAIS:
Tibico Brasil (gerente do Ambiente de Gestão da Cultura do Banco do Nordeste) – (85) 3464.3109 / 8733.8309 – tibico@bnb.gov.br
Gerência de Imprensa do BNDES – (21) 2172.7294 – imprensa@bnb.gov.br
Mário Nogueira (coordenador do Programa Banco do Nordeste de Cultura) – (85) 3464.3182 / 8621.2581 / 9930.6593 – amariobn@bnb.gov.br
Viviane Queiroz (gerente de Produtos e Serviços do Ambiente de Gestão da Cultura do Banco do Nordeste) – (85) 3464.3182 / - viviqueiroz@bnb.gov.br
Luciano Sá (assessor de imprensa do Centro Cultural Banco do Nordeste) – (85) 3464.3196 / 8736.9232 – lucianoms@bnb.gov.br
novembro 11, 2011
Do lixo ao pixo por Paula Alzugaray, Istoé
Do lixo ao pixo
Matéria de Paula Alzugaray originalmente publicada na seção de artes visuais da Istoé em 4 de novembro de 2011.
Itaú Cultural convida os cinco curadores mais ativos da década para montar exposições sobre a arte dos próximos dez anos
O princípio é o caos. O ponto de partida mais certeiro e radical da exposição “Caos e efeito” é a mostra “Contrapensamento selvagem”, curadoria de Paulo Herkenhoff. Lá, no segundo subsolo do Itaú Cultural, encontra-se a crítica de Herkenhoff ao pensamento selvagem de Claude Lévi-Strauss e “artistas cujos trabalhos dão a ver certa indomesticação existencial do pensamento”, segundo o curador. Nesse andar mais profundo de “Caos e efeito”, encontra-se Oriana Duarte e seu autorretrato em forma de “Selvagem sabedoria”; Solon Ribeiro e sua des-homenagem ao cinema de Hollywood; Thiago Martins de Melo e sua pintura torturada; e Jaime Figura e sua performance terrorista, entre muitas outras obras, objetos, redes e tendas. Hélio Oiticica teria adorado. Há ainda muita videoperformance e muita pichação, conformando uma museografia anticubo branco, em que o limite entre arte e poluição visual é praticamente nulo. O segmento “Contrapensamento selvagem” consegue a proeza de ser uma exposição de pixo, sem que qualquer um de seus integrantes seja de fato um pichador. Ou uma mostra de indomáveis, sem que os artistas estejam necessariamente à margem do sistema. As telas expostas de Martins de Melo, por exemplo, estão nas coleções de José Olympio Pereira e Gilberto Chateaubriand. Caos controlado? Pode ser, mas poucas vezes uma exposição conseguiu tamanha eficiência em mostrar a arte como fator libertário e espontâneo.
Subindo as escadas, no primeiro subsolo, o curador Moacir dos Anjos selecionou obras que traduzem o espírito das ruas. Entram nesse grupo uma instalação de Marepe com garrafas de aguardente e pneus e “Atrás da porta”, de Rivane Neuenschwander, uma coleção de desenhos obscenos de portas de banheiros transferidos para silk screen sobre quadros de madeira. Mas foto de capoeira não é capoeira. E, quando a rua é levada para dentro do museu, lamentavelmente seu espírito fica enquadrado pela moldura institucional.
No mezanino, a curadoria de Tadeu Chiareli salienta justamente a arte e seus esquemas de representação do mundo. Com obras de artistas como Rosângela Rennó, Lais Myrrha, Paulo Nazareth e Felipe Cama, que investigam temas como memória e imagem como construção da história, esse é o segmento mais documental da mostra – um viés bastante central, se pensarmos o impulso arquivista que domina a arte contemporânea desde os anos 1990.
Completam esse panorama da curadoria brasileira – com os cinco curadores mais ativos dos anos 2000 – as mostras de Fernando Cocchiarale e de Lauro Cavalcanti. Este último, em sua tentativa de organizar o conceito de brasilidade e de nacionalidade dentro do circuito da arte, acaba apontando para uma vocação que “Caos e efeito” tem como um todo. Os três andares de exposição e as cinco curadorias, afinal, funcionam como um belíssimo panorama prospectivo da arte brasileira. Poderiam perfeitamente estar hoje no Museu de Arte Moderna no lugar de “Itinerários, itinerâncias”.
Steve McCurry ganha exposição com 100 fotos em SP por Ana Rita Martins, O Estado de S. Paulo
Steve McCurry ganha exposição com 100 fotos em SP
Matéria de Ana Rita Martins originalmente publicada no Caderno de Cultura do Estado de S. Paulo em 09 de novembro de 2011.
Imagens do renomado fotógrafo serão expostas no Instituto Tomie Ohtake
Ao fazer uma análise da linguagem fotográfica, o filósofo francês Roland Barthes (1915 - 1980) identificou dois elementos fundamentais de sua composição. O primeiro - denominado studium - é o conjunto dos objetos enquadrados pela lente da câmera e que são reconhecidos pelas pessoas, a partir da cultura e vivência que elas têm. Assim, se uma foto provoca identificação no espectador é porque os componentes do studium ‘conversaram’ com a bagagem cultural daquela pessoa.
O segundo elemento - chamado de punctum - seria aquilo que ‘salta’da foto e que prende a atenção de quem a vê, ou seja, o ‘tchan’ da imagem. Uma boa fotografia, então, provocaria, ao mesmo tempo, identificação e magnetismo - tendo, bem trabalhados, tanto o studium quanto o punctum. É o que se pode dizer do trabalho do norte-americano Steve McCurry - um dos profissionais mais renomados do mundo da fotografia - e cujas imagens podem ser vistas na exposição gratuita Steve McCurry - alma revelada, que começa hoje no Instituto Tomie Ohtake.
A mostra traz cerca de 100 imagens, tiradas nas andanças de McCurry por países como o Afeganistão, Índia, Paquistão, Nigéria e outros. Apesar de o fotógrafo ter 25 anos de carreira, a maior parte das obras que integram a exibição datam de 2001 em diante. Uma das exceções e também destaque da exposição é o clássico retrato da garota afegã, feito em 1984 e que virou capa da revista National Geographic. Nela, o olhar da menina ‘salta’ da foto e prende a atenção - eis o punctum teorizado por Barthes e executado com maestria por McCurry.
Outro ponto alto é a sequência de imagens dos atentados de 11 de Setembro, em Nova York, composta por cinco fotografias. "Elas não foram concebidas como uma série", conta Paulo Gallina, um dos curadores da exibição. "Mas resolvemos dispô-las lado a lado, justamente para ressaltar o caráter documental da obra de McCurry", complementa.
O fotógrafo, aliás, é conhecido pelo talento em traduzir a cultura de povos variados, por meio de imagens que captam a alma e os hábitos de personagens locais. É assim com a foto de um menino pintado de vermelho na Índia, em 2002, numa festividade religiosa. Acontece o mesmo com as mulheres clicadas durante tempestade de areia no mesmo país, em 1983.
Além de documentarista cultural, McCurry também transformou-se num agente de denúncia dos horrores da guerra. Nos anos 80, fotografou a invasão soviética ao Afeganistão, disfarçando-se de afegão. Por essa cobertura, ganhou a Medalha de Ouro Robert Capa de melhor reportagem fotográfica no exterior.
Mas a mostra não tem só imagens pesadas e (ou) contundentes. A parte bucólica fica a cargo de uma série de 21 imagens, feitas com o último rolo que McCurry tinha de Kodachrome - uma película famosa entre os fotógrafos por sua qualidade cromática e que deixou de ser fabricada com o avanço das tecnologias digitais.
Nessa sequência, juntam-se imagens de cenas urbanas, do ator Robert de Niro, de artistas da Bollywood indiana e até um autorretrato curioso. Nele, vêem-se os pés descalços de McCurry. Ao fundo, a televisão de um quarto de hotel. Uma cena simples e, num primeiro olhar, desprovida de sentido. Mas que mostra McCurry nos bastidores. Enquadrando-se e revelando os pés nus. Uma metáfora para seu caminho solitário.
Núcleo Experimental de Educação e Arte do MAM Rio - Novembro, Jornal do Brasil
Núcleo Experimental de Educação e Arte do MAM Rio - Novembro
Matéria originalmente publicada no Caderno de Cultura do Jornal do Brasil em 11 de novembro de 2011.
O Núcleo Experimental de Educação e Arte do MAM Rio, criadopeloMuseu de ArteModerna do Rio de Janeiro emparceriacom a Petrobras e a Unimed-Rio, apresenta uma série de atividades em novembro, voltadas a todos os públicos.
De terça a quinta, nos dias 8, 9 e 10 de novembro, será realizado o seminário internacional “Reconfigurações do Público: Arte, Pedagogia e Participação”, um evento transdisciplinar que discutirá as perspectivas de atuação dos museus, instituições e espaços culturais alternativos no século 21. O evento, que terá mesas-redondas, oficinas e grupos de estudos, discutirá de que maneira artistas, curadores e educadores podem responder às demandas atuais da sociedade. Parceria com o departamento de educação e o programa internacional do The Museum of Modern Art - MoMA, New York, a Casa Daros Rio e o Projeto Pedagógico da 8ª Bienal do Mercosul.
Às quartas-feiras, às 16h, serão apresentadas as “Conversas nas Exposições”, com experiências compartilhadas a partir da mostra “Louise Bourgeois: o retorno do desejo proibido”, em cartaz no museu até o dia 13 de novembro de 2011. Aos sábados, às 13h, será Genealogias do Contemporâneo, comrelações entre os artistas Cildo Meireles, Antonio Manuel e Wesley Duke Lee e também com a exposição da Elisa Bracher: ponto final sem pausas.
As “Ações Móveis”, com conversas, ateliês e jogos interpretativos em diferentes espaços do museu, provocando no público experiências com arquitetura e diferentes linguagens artísticas, serão realizadas aos sábados, às 15h.
Aos domingos, será realizado o “Território Descoberto”, às 13h, com diálogos entre o museu, o seu entorno e a cidade, a partir da arquitetura, da exposição do acervo e dos jardins, e o “Programa em Família”, às 15h, com conversas, ateliês, jogos e experiências onde adultos e crianças podem viver o museu de forma lúdica e criativa a partir da arquitetura, do jardim e das exposições.
No dia 26 de novembro, sábado, às 15h, serão realizados os “Encontros Multissensoriais”, que reunirão pessoas cegas entre os visitantes do museu, para a troca de experiências.
novembro 10, 2011
Trabalho internacional de dez dos principais artistas plásticos brasileiros neste século é reunido em livro, O Globo
Trabalho internacional de dez dos principais artistas plásticos brasileiros neste século é reunido em livro
Matéria originalmente publicada no Caderno de Cultura do jornal O Globo em 9 de novembro de 2011.
RIO - A trajetória, mundo afora, de dez artistas plásticos brasileiros de grande repercussão na primeira década do século XXI foi reunida no livro "Arte Contemporânea no Seculo XXI - 10 brasileiros no circuito internacional" (Capivara Editora, 272 páginas, R$ 168), que terá lançamento nesta quarta-feira, às 19h, na Livraria da Travessa de Ipanema (Rua Visconde de Pirajá 572).
Idealizado por Bia e Pedro Corrêa do Lago e desenvolvido por Ricardo Sardenberg, o livro reúne, num só volume, trabalhos de Artur Barrio, Miguel Rio Branco, Waltercio Caldas, Cildo Meireles, Tunga, Beatriz Milhazes, Vik Muniz, Ernesto Neto, Adriana Varejão e Rivane Neuenschwander. Todos nomes que se destacaram no circuito internacional na última década, com presença regular em exposições individuais e coletivas nos principais museus e galerias do mundo, e participação em mostras de referência, como a Bienal de Veneza e a Documenta de Kassel. Também contaram, para a seleção do livro, a aquisição de obras por coleções e instituições de prestígio, prêmios recebidos, encomenda de obras públicas e a publicação de livros e catálogos fora do Brasil.
2ª edição do “Além da Rua” começa dia 19 de novembro, Jangadeiro online
2ª edição do “Além da Rua” começa dia 19 de novembro
Matéria originalmente publicada no Jangadeiro online em 9 de novembro de 2011.
O educativo do Museu de Arte Contemporânea do Centro Dragão do Mar, em parceira com o Coletivo Acidum, promove a segunda edição do Além da Rua.
O evento inicia no dia 19 de novembro e segue até o dia 23 com ações no MAC do Centro Cultural Dragão do Mar, no Centro Cultural Bom Jardim e no Dança no Andar de Cima. As inscrições podem ser feitas através do email: educativomac@dragaodomar.org.br.
O Além da Rua visa a fomentar e aprofundar o conhecimento sobre o universo da arte urbana e suas conexões com diversas linguagens e mídias. O evento conta com a curadoria e mediação de Robézio Marqs e Carmem Lazari.
Programação
Palestras, oficinas, mostra de filmes e outras atividades farão o diálogo entre a tradição e a contemporaneidade dos trabalhos produzidos por artistas urbanos. Todas as oficinas se cruzarão com propostas de ações públicas da região do Cariri e de Fortaleza, contando com participações de artistas dos estados de Recife e de São Paulo. Clique aqui para ver a programação completa.
novembro 8, 2011
Possibilidades artísticas no CCBNB, Diário do Nordeste
Possibilidades artísticas no CCBNB
Matéria originalmente publicada no Caderno 3 do Diário do Nordeste em 8 de novembro de 2011.
O Centro Cultural Banco do Nordeste (CCBNB - Fortaleza) abre, hoje, a partir das 18 horas, duas novas exposições de arte: "Anotações sobre pintura" e "Conexões Estéticas"
Muda-se de mês e, com ele, as mostras em cartaz no Centro Cultural Banco do Nordeste (CCBNB - Fortaleza). A partir de hoje, às 18 horas, duas exposições ocuparão o espaço - "Anotações sobre pintura" e "Conexões Estéticas".
A primeira consiste em uma pesquisa realizada pela paraibana Alice Vinagre, com a curadoria de Fernando Cocchiarale. Essa é a quinta versão de "Anotações sobre pintura". Embora fundamentada nas mesmas questões pictóricas e orientada pela mesma lógica de ocupação espacial, a artista produz trabalhos não só inéditos, como também encadeados por desdobramentos processuais precedentes.
As edições anteriores passaram, respectivamente, pela Paraíba, Recife (duas vezes) e Alagoas. Em Fortaleza, a mostra foi concebida para tomar o espaço expositivo do CCBNB. Nele, foi criado um ambiente pictórico imersivo, composto por dezenas de pinturas sobre cartão independentes.
Corpo e audiovisual
Conforme o curador, diferenças à parte, todas as versões desta série possuem características semelhantes: "as centenas de trabalhos sobre cartão produzidos pela artista a partir de 2008 possuem um mesmo e único formato (120 x 115 cm). Neles, o tratamento é monocromático, de predomínio ora azul, ora vermelho. Característica que favorece não só sua montagem modular, como a criação de ambientes pictóricos sempre renovados", ressalta.
A segunda exposição é a coletiva "Conexões Estéticas", que reúne obra de sete artistas: Leonardo Mouramateus, Tobias Gaede, Tiago Fontoura, Nathália Alves, Marina Mapurunga, Lara Vasconcelos e Luciana Vieira. A mostra é resultado de uma pesquisa artística, desenvolvida coletivamente durante este ano, no programa de residência do projeto "Conexões Estéticas".
Trazendo trabalhos singulares, construídos no encontro entre corpo e audiovisual, seus percursos e suas poéticas. O projeto "Conexões Estéticas", configura-se como um lugar de encontro, de criação e de troca de experiências artísticas. A mostra é uma iniciativa do projeto de extensão do Instituto de Cultura e Arte (ICA), da Universidade Federal do Ceará (UFC).
MAIS INFORMAÇÕES
Abertura das exposições "Anotações sobre pintura", e "Conexões estéticas". Hoje, às 18 horas, no Centro Cultural Banco do Nordeste-Fortaleza (Rua Floriano Peixoto, 941, Centro). Grátis. Visitas de terça-feira a sábado, de 10 horas às 20 horas; e aos domingos, de 12 horas às 18 horas. Contatos: (85) 3464.3108
novembro 7, 2011
Febre por neoconcretos provoca hipervalorização em cascata por Silas Martí, Folha de S. Paulo
Febre por neoconcretos provoca hipervalorização em cascata
Matéria de Silas Martí originalmente publicada na Ilustrada da Folha de S. Paulo em 7 de novembro de 2011.
Alta de preços por procura de coleções estrangeiras deixa lacunas em instituições de arte do país
Escassez de trabalhos estrelados leva a busca por obras de artistas menos famosos, como Ivan Serpa e Barsotti
Se é verdade que o Brasil está na moda, há um consenso de que a peça-chave desse desfile é o neoconcretismo.
Enquanto a maior galeria de arte do mundo, a Gagosian, faz agora uma exposição com obras do movimento em sua filial parisiense, a galeria Dickinson, em Nova York, abriu uma mostra com peças que aumentam a febre em torno desse estilo, como os "Bichos", de Lygia Clark (leia nesta página).
Em 2014, a 13 quadras dessa galeria, o MoMA abre a maior mostra retrospectiva da história dedicada a Clark, musa do neoconcretismo.
Sozinha, a exposição deve elevar ainda mais os preços já vultosos de suas obras.
"É uma questão de gosto e moda", disse Maria Bonta de la Pezuela, chefe do departamento de arte latino-americana da Sotheby's, à Folha. "Abstração geométrica é o estilo quente no momento, que excita todos os colecionadores, não só os latinos."
ESCASSEZ E ALTA
Essa demanda sem precedentes por obras de um período que teve seu auge na virada dos anos 50 para os 60 e cujos maiores expoentes já morreram têm dois efeitos sobre o mercado: alta exponencial dos preços e uma escassez jamais vista de obras de artistas como Lygia Clark, Lygia Pape e Hélio Oiticica.
"Isso vai causar mais dificuldades para comprar", afirma Jones Bergamin, dono da Bolsa de Arte, uma das maiores casas de leilão do país. "É dificílimo achar uma boa Lygia Clark ou uma Lygia Pape. Quando aparecem, custam mais de US$ 1 milhão."
Mas, embora esses valores tenham quase quadruplicado nos últimos anos, esse é um movimento que vem se consolidando ao longo das duas últimas décadas.
De certa forma, a onda começou quando o curador brasileiro Paulo Herkenhoff trabalhou no departamento de pintura e escultura do MoMA, na década de 1990, e colecionadores poderosos como Patricia de Cisneros começaram a olhar mais para a produção artística do país.
Outro ponto crítico nessa história foi a compra da coleção de Adolpho Leirner pelo Museum of Fine Arts de Houston, há cinco anos -motivo de polêmica na época pela saída em massa do país de um conjunto de obras da era mais fértil da arte nacional.
Enquanto museus de fora compraram o que podiam com preços ainda acessíveis, instituições do país ficaram com lacunas em seus acervos.
No caso do Masp, é um "sonho distante", nas palavras do curador Teixeira Coelho, ampliar a coleção de arte construtivista. "Em vários museus, a situação está cada vez mais difícil", afirma ele.
No Brazil Golden Art, maior fundo de investimento em arte no país, com R$ 40 milhões, os neoconcretos, raros demais, ficaram de fora.
Mais uma consequência é a hipervalorização de um segundo time de concretistas que ainda não atingiram o estrelato global. Aluísio Carvão, Hércules Barsotti e Ivan Serpa, entre outros, vivem um momento de plena e sustentada ascensão no mercado.
"Eles têm a mesma qualidade, o mesmo conceito e são da mesma época, então isso vem a reboque", diz o marchand Max Perlingeiro, da Pinakotheke Cultural, no Rio. "Hoje a geometria impera."
Mostra em SP reúne criações dos irmãos Campana, O Estado de S. Paulo
Mostra em SP reúne criações dos irmãos Campana
Matéria da Agência Estado originalmente publicada no caderno de Cultura do Estado de S. Paulo em 4 de novembro de 2011.
Há quem considere as obras dos designers Fernando e Humberto Campana surrealistas. Uma cadeira feita de bichos de pelúcia pode parecer infantil, diz Humberto, mas ela tem lá algo de "perversidade". A poltrona Banquete (2002) é como uma pequena selva de animais para se sentar. Já outra peça, Cabana (2010), remete às ocas indígenas, é feita de ramos de palha e temos de abrir essa cobertura para entrever - ou usar - as prateleiras de seu interior. Certo "choque estético", "benéfico", como já afirmou o crítico Marco Romanelli sobre as obras dos irmãos Campana, tornou-se a marca de originalidade que fez da dupla a mais famosa do design brasileiro. Foram anos para os irmãos criarem, enfim, uma "linguagem", cheia de ramificações e do uso de materiais inusitados.
Agora, as peças Banquete e Cabana entre quase 180 obras dos designers paulistas - diga-se, surrealistas também, como o sofá Jacaré, por exemplo, e outras nem tanto - estão reunidas em uma retrospectiva que apresenta a trajetória da dupla, a mostra "Anticorpos - Fernando e Humberto Campana - 1989-2009", que será inaugurada amanhã no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) de São Paulo. "É uma exposição focada nos processos criativos", diz Humberto, de 58 anos. "Muito dos métodos vem das descobertas, dos erros - materializar o erro é o mais difícil, é uma obra que beira o acaso, mas tem engenharia", completa Fernando, de 50 anos. Consagrados pela experimentação e por unirem o aspecto artesanal na criação de suas obras, os irmãos afirmam carregar uma "curiosidade" que já os instigava desde a infância no interior paulista, nas cidades de Rio Claro e de Brotas.
Retrospectiva preparada pelo museu Vitra Design de Weil am Rhein, na Alemanha, a exposição foi inaugurada em 2009 na instituição alemã. Desde então, vem percorrendo a Europa e o Brasil - já foi apresentada em Vila Velha (ES) e em Brasília. Depois de São Paulo, "Anticorpos" seguirá para o Rio e mais adiante, ainda, para Argentina, Chile, EUA e Ásia. "A cada montagem a exposição se contemporaniza com novas peças", diz Fernando Campana.
Com curadoria de Mathias Schwartz-Clauss, do Vitra Design, a mostra trava como marco 1989, quando os irmãos realizaram a primeira mostra, no espaço Nucleon 8, na Vila Madalena. A exposição tinha um título provocativo, "Desconfortáveis", com obras que remetiam a cadeiras e poltronas de ferro. "Não queríamos fazer cadeiras, mas esculturas, uma instalação, algo contrário ao período que passamos pela ditadura militar, de ver pelo erro, pelo torto", diz Fernando. Um conjunto desses trabalhos está na retrospectiva, entre elas, as cadeiras Negativo e Positivo (1988) e Martelo (1989).
A mostra, assim, se segue, mas não de forma cronológica. Concebida a partir de núcleos que destacam questões próprias da linguagem dos Campana - como o agrupamento de materiais (banais ou não), a fragmentação, as formas orgânicas, os planos flexionados, os objetos de papel, os objets trouvés, os nós, as varetas, os híbridos, os emaranhados de linhas -, a exposição ainda ''pincela'' objetos pessoais dos designers.
Sem dúvida, o marco da trajetória dos Campana foi a criação da poltrona Vermelha (1993). Em 1998, a marca italiana Edra decidiu produzir em série a peça feita com cordas de algodão tingidas. Fato que tornou famosa a obra e a dupla internacionalmente. A obra foi adquirida pelo MoMA de Nova York e, para se ter ideia, a Vermelha é vendida no Brasil pela Firma Casa por 12 mil. "É raro ver um design produzido em massa no Brasil, ainda não conseguimos", diz Humberto. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Anticorpos - Fernando e Humberto Campana - 1989-2009 - CCBB (Rua Álvares Penteado, 112). Tel. (011) 3113-3651. 9h/ 21h (fecha 2ª). Grátis. Até 15/1. Abertura sábado, 11h.
novembro 4, 2011
Marina Abramovic faz em NY prévia de novo espetáculo por Verena Fornetti, Folha de S. Paulo
Matéria de Verena Fornetti originalmente publicada na Ilustrada da Folha de S. Paulo em 4 de novembro de 2011.
Apresentação ocorreu durante homenagem a William Basinski, dono do histórico clube Arcadia, no Brooklyn
"A Vida e Morte de Marina Abramovic" tem estreia prevista para abril de 2012 no Teatro Real, em Madri
A artista sérvia Marina Abramovic, uma das mais cultuadas no estilo performático, apresentou anteontem em Nova York um trecho do espetáculo "A Vida e Morte de Marina Abramovic", ópera que estreia em abril de 2012 no Teatro Real, em Madri.
O trabalho biográfico foi concebido por ela e Robert Wilson e inclui composições de William Basinski e Antony Hegarty, assim como apresentação do quarteto de mulheres liderado por Svetlana Spajic, que interpreta e compõe músicas inspiradas na cultura tradicional sérvia.
"A Vida e Morte de Marina Abramovic" teve pré-estreia no Festival Internacional de Manchester, em julho.
A prévia do espetáculo em Nova York foi exibida durante homenagem a Basinski, dono do clube Arcadia, pioneiro na revitalização de Williamsburg, no bairro do Brooklyn, em Nova York.
Conhecida por performances radicais em que trabalha os limites do corpo, Abramovic interpretou "Sal em Minhas Feridas", feita para ela.
"Marina não canta. Robert Wilson a desafiou e ela aceitou. É destemida", disse Basinski. A homenagem foi organizada pelo Issue Project Room, que apoia artistas.
Para o diretor-executivo Ed Patuto, o Arcadia tinha a proposta de deixá-los ousar, missão equivalente ao que o projeto assumiu atualmente.
"O Arcadia foi homenageado porque queriam mostrar como artistas criam desenvolvimento econômico. Eles vêm para uma área e criam vida", afirmou Basinski à Folha.
O Issue Project conduz a reforma do prédio histórico na Livingston Street, no Brooklyn, projetado pelo escritório McKim, Mead & White. Será um centro para apresentação de artistas. O trecho do espetáculo de Abramovic foi encenado no prédio.
novembro 3, 2011
Realidade transcendida por Adriana Martins, Diário do Nordeste
Realidade transcendida
Matéria de Adriana Martins originalmente publicada no caderno Artes Visuais do Diário do Nordeste em 3 de novembro de 2011.
Em sua segunda exposição individual, o fotógrafo Rodrigo Frota dialoga com a pintura por meio de imagens que priorizam construções estéticas
Na segunda metade do século XX, quando a fotografia, o vídeo, a pintura e outras linguagens visuais se mesclam irreversivelmente, as tradicionais categorias artísticas às quais eram atribuídas precisaram ser reconfiguradas.
É a partir dessa observação que o artista plástico e curador do Museu de Arte Contemporânea do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura (MAC), José Guedes, situa a exposição "Pictoriais", do fotógrafo cearense Rodrigo Frota. A abertura acontece hoje, às 19 horas, no MAC.
Envolvido com a fotografia desde os 15 anos, Rodrigo, hoje com 26, tem uma longa trajetória no setor. "Pictoriais" é sua segunda exposição individual (em 2009, ele realizou "Fragmentos de Viagem", também no MAC, de teor mais documental), e diferencia-se de trabalhos anteriores pela proposta de desconstrução das linguagens fotográfica e da pintura.
Para além de figuras humanas, paisagens ou ambientes, as 29 fotografias que compõem a exposição desdobram-se em formas, cores e volumes cujos resultados são composições aproximadas do abstrato.
"As imagens foram feitas em diferentes países, como Portugal, Peru, Marrocos e Myanmar. Mas, não quis mostrar o lugar ou mesmo o assunto das cenas. A ideia era desconstruí-los, a partir de um olhar pictórico", explica Rodrigo Frota. "Por isso, sequer coloquei os nomes dos países ou identifiquei o objeto fotografado na exposição. Quero que o espectador viaje nas imagens", complementa.
Segundo Guedes, as fotografias foram selecionadas do vasto arquivo do artista, sob a orientação de que o assunto fosse menos importante do que a estética. "São praticamente abstrações da realidade. Rodrigo resolve muito bem aspectos como cor, enquadramento e luz", elogia o curador. "Afinal, hoje uma das maneiras de se fazer pintura é com a fotografia".
Entre as imagens de "Pictoriais" está a de um trabalhador de uma fábrica de tingimento de tecido, no Marrocos. As cores muito vivas e o movimento desfocado dos fios conferiram um resultado inesperado.
"Estava meio escuro, então comecei a trabalhar com a velocidade lenta do obturador. O homem puxava o pano de dentro de uma centrífuga e jogava para cima. Tentei algumas vezes até que deu certo. Os fios ficaram parecendo um monstro que sai da centrífuga, ainda mais com o braço de uma pessoa que estava atrás da cena. Só fui notar que ele apareceu depois", lembra Rodrigo.
A exposição apresenta ainda uma vídeo-instalação, produzida em parceria com o colega fotógrafo Aroldo Sabóia. "São texturas e sons sobrepostos, remasterizados a partir de imagens e samplers colhidos na internet, além de gravações em diferentes ambientes", explica Rodrigo. "O resultado mostra o indivíduo inserido em seu cotidiano na cidade, e a sensação de torpor que a rotina pode causar", finaliza.
Carreira
O apreço pela arte vem desde quando costumava acompanhar os pais em visitas a museus. Os estudos em fotografia começaram quando Rodrigo foi morar na Suíça, onde viveu dos 15 aos 18 anos.
"Meu pai tinha uma câmera profissional que eu adorava, mas não deixava mexer. Quando fui morar no exterior, precisei de um equipamento. Insisti tanto que ele acabou me cedendo", recorda, rindo.
Em Rolle, pequena cidade entre Lausanne e Genebra, Rodrigo cursou o segundo grau no Institut Le Rosey. Estudou também artes (na área de técnicas artísticas e história da arte) e fotografia (extensão), simultaneamente aos estudos.
"Fiz parte do clube de fotografia do colégio. Quando retornei a Fortaleza, estava interessado em cinema, mas como ainda era algo difícil, investi na fotografia", lembra o cearense.
Aqui, bacharelou-se em Publicidade e Propaganda pela Universidade de Fortaleza, onde trabalhou como fotógrafo do setor de marketing durante dois anos (primeiro como assistente, depois no posto oficial). O olhar atento necessário ao fotógrafo foi aprimorado com cursos extras e muitas viagens. "Nelas sempre procurava registrar a cultura e o cotidiano dos povos", ressalta Rodrigo Frota. Ele já teve trabalhos premiados e também publicados em importantes jornais do País, como o Diário do Nordeste e O Globo, na revista de cultura Bravo!.
No começo deste ano, Rodrigo Frota chegou a acompanhar o renomado fotógrafo Steve McCurry, da revista National Geographic (famoso pela imagem da menina afegã que foi capa em uma das edições célebres) em uma expedição a Myanmar (no sul da Ásia).
"Foi uma viagem em grupo, com profissionais de vários países. Conheci McCurry em um workshop dele. Conversamos muito e ele acabou me chamando para a expedição", brinca Rodrigo. "Normalmente esses grupos de fotógrafos visitam lugares nem um pouco turísticos, para os quais é difícil viajar sozinho. Por isso as pessoas se reúnem, é mais fácil e seguro", explica o cearense.
"Em Myanmar, exploramos espaços cotidianos das pessoas, como mercados, fábricas. Dividíamo-nos em pequenos grupos e cada um ia para determinado lugar. À noite, todos se juntavam para analisar o material", recorda.
O resultado foi tão positivo que Rodrigo já recebeu convite para outra expedição, em 2012, dessa vez na Índia. "Talvez McCurry vá, mas ainda não sei", conta o artista.
Exposição - "Pictoriais", de Rodrigo Frota. Abertura hoje, às 19 horas, no Museu de Arte Contemporânea do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura. Gratuito. Em cartaz até 11 de dezembro. Horários de visitação: de terça a quinta, das 9 horas às 19 horas (acesso até 18h30) e de sexta a domingo, das 18 horas às 21 horas (acesso até 20h30). Contato: (85) 3488.8600
Obra-chave de Matthew Barney é exibida na íntegra por Fabio Cypriano, Folha de S. Paulo
Obra-chave de Matthew Barney é exibida na íntegra
Matéria de Fabio Cypriano originalmente publicada na Ilustrada da Folha de S. Paulo em 3 de novembro de 2011.
"O Ciclo Cremaster", a obra cult de Matthew Barney, composta por cinco filmes realizados entre 1994 e 2002, será exibido a partir de amanhã, no auditório da Bienal, em evento paralelo à mostra "Em Nome dos Artistas".
Barney é um dos principais artistas da mostra, e a exibição do ciclo, assim como a gratuidade aos sábados (além da habitual, aos domingos), faz parte de estratégia para levar mais público ao Pavilhão da Bienal. Até sexta passada, só 48.600 pessoas tinham visitado a exposição, média diária de 1.400 pessoas. Em épocas de Bienal, o número pode chegar a 10 mil.
A Pinacoteca do Estado, no mesmo período, teve em média 1.200 visitantes, graças à mostra "Olafur Eliasson - Seu Corpo da Obra" e à renovação de seu acervo. Foi na Pinacoteca, aliás, que o "Cremaster" completo foi exibido pela primeira vez, em SP, em 2004, lotando o auditório.
Para assistir ao ciclo na Bienal, que ocorrerá sempre aos sábados, às 15h, é preciso inscrever-se, grátis, 15 minutos antes.
Bienal põe na internet todos os catálogos de suas edições por Fabio Cypriano, Folha de S. Paulo
Bienal põe na internet todos os catálogos de suas edições
Matéria de Fabio Cypriano originalmente publicada na Ilustrada da Folha de S. Paulo em 3 de novembro de 2011.
Até agora estão acessíveis 13 mil páginas, escaneadas dos documentos originais
Catálogo da Bienal de 2010 é o único que ainda não está no site; ideia é disponibilizar todo o acervo on-line
No ano em que comemora 60 anos de criação, a Bienal de São Paulo disponibiliza no site todos os catálogos de suas edições, com exceção do da última, no ano passado, que deve estar on-line quando terminarem as itinerâncias da mostra pelo país.
Até agora, estão acessíveis 13 mil páginas, escaneadas dos catálogos originais, em www.bienal.org.br/FBSP/pt/AHWS/Publicacoes.
"Foi uma coincidência com os 60 anos, mas a ideia faz parte de um projeto mais amplo, que é disponibilizar todo o acervo on-line", afirma Rodolfo Walder Viana, diretor-superintendente da Fundação Bienal.
Até o final do ano, segundo ele, estará no ar uma ferramenta básica que permitirá a obtenção de informações e conteúdos a partir de dez questões frequentes feitas por pesquisadores no Arquivo da Bienal, abrindo por artistas, eventos e obras. Já no ano que vem, pretende-se ampliar essa interface com a possibilidade de pesquisa com filtros e cruzamento de dados.
Até o momento, estão disponíveis 56 publicações, já que muitas Bienais tiveram mais de um catálogo, como a 24ª, organizada por Paulo Herkenhoff, que contou com quatro volumes.
Também estão acessíveis catálogos de mostras que aconteceram apenas uma vez, como a Bienal de Arte Latino-Americana, de 1978, ou a Bienal Brasil Século 20, de 1994. Um dos destaques é a publicação dedicada ao artista Flávio de Carvalho (1899-1973), que teve uma mostra especial na 17ª Bienal, em 1983. O livro "Bienal 50 Anos" (2001), que conta meio século de história do evento, editado por Agnaldo Farias, também está disponível.
Segundo Viana, todo esse projeto "não tem um patrocinador específico e foi feito com recursos próprios da fundação". Para sua realização, afirma o diretor, foram mobilizadas as equipes do arquivo histórico, de informática e de comunicação.
novembro 1, 2011
Os 7 Mandamentos da Arte por Gisele Kato, Bravo!
Os 7 Mandamentos da Arte
Matéria de Gisele Kato originalmente publicada no caderno de Artes Visuais da revista Bravo! em outubro de 2011.
BRAVO! Lista o que dá prestígio, dinheiro e fama a um artista no mês em que o Brasil recebe os clássicos contemporâneos
O mês de outubro de 2011 representará um marco nas artes visuais brasileiras. A partir de 30 de setembro, abre no prédio da Fundação Bienal, em São Paulo, a exposição Em Nome dos Artistas – Arte Contemporânea Norte-Americana na Coleção Astrup Fearnley. A mostra reunirá 219 peças, de 51 criadores, e é calcada na coleção do Museu de Arte Moderna de Oslo, capital da Noruega. Entre os nomes selecionados estão o britânico Damien Hirst e os norte-americanos Jeff Koons, Cindy Sherman, Richard Prince e Matthew Barney. Paralelamente, abre em São Paulo a mostra individual Your Body of Work (Seu Corpo da Obra), com dez instalações do dinamarquês Olafur Eliasson. Vale repetir a escalação: Hirst, Koons, Sherman, Prince, Barney, Eliasson. É como se houvesse uma exposição de Renoir, Van Gogh e Degas na Paris do final do século 19, auge do impressionismo e época em que todos estavam vivos. A comparação não é absurd a. Neste outubro de 2011, São Paulo irá receber as obras de alguns dos artistas vivos mais importantes da atualidade. Por um período de dois meses, será a capital mundial da arte contemporânea.
“Estamos trazendo os ditos ‘novos clássicos’ para o país. São todos ícones, com uma influência enorme sobre o pensamento e o fazer artísticos do nosso tempo e que raramente são vistos aqui”, diz o presidente da Fundação Bienal, Heitor Martins, responsável pela vinda da coletiva ao Brasil. As exposições são um bom pretexto para pensar sobre a arte que se faz hoje. Diante das obras dos “novos clássicos”, como diz apropriadamente Heitor Martins, é possível tecer várias reflexões. BRAVO! organizou essas questões em forma de “mandamentos”, que expressam as principais características daquilo que se convencionou chamar de “arte contemporânea”. É interessante notar que uma exposição reunindo Van Gogh, Renoir e Degas em todo o seu esplendor e glória não seria possível. Simplesmente porque tais artistas não experimentaram, em vida, esplendor e glória comparáveis aos de Damien Hirst e Jeff Koons, para ficar nos dois mais ricos da constelação (claro que Hirst e Koons ainda têm que passar no teste da posteridade, no qual os impressionistas franceses já foram aprovados com louvor). Ricos no sentido monetário mesmo. Hirst é, sem sombra de dúvida, o ser humano que mais ganhou dinheiro com criação artística na história ocidental.
O curador de Em Nome dos Artistas, o islandês Gunnar Kvaran, um dos diretores do museu de Oslo, ressalta a importância que uma leitura do conjunto pode gerar: “Na exposição, unimos três gerações que acreditamos ter imprimido uma nova dimensão para a arte contemporânea”. A individual de Olafur Eliasson tem como curador o alemão Jochen Volz, também diretor artístico do Instituto Inhotim, em Minas Gerais. Com suas instalações, que mudam a paisagem das cidades, ele tem importância igual à dos principais artistas reunidos na Fundação Bienal. “Olafur desenvolve um trabalho de interação, absolutamente imersivo, sensorial, que precisa do contato das pessoas para acontecer em sua potência máxima. Ele pensa o espaço urbano”, diz Solange Farkas, presidente da Associação Cultural Videobrasil, que neste ano abre o segmento competitivo do festival para todas as linguagens.
A arte contemporânea não é uma linguagem acessível às massas. Ela se escora em uma série de teorias e procedimentos tão complexos quanto o teatro experimental, o cinema alternativo e a música contemporânea. Só que, diferentemente do teatro experimental, do cinema alternativo ou da música contemporânea – que sobrevivem em ambientes restritos ou financiados por universidades –, ela gerou um circuito milionário. Entender essa relação estreita e amigável entre arte e mercado é essencial para compreender a produção atual. Daí a razão do primeiro mandamento.
1 - AMARÁS O MERCADO SOBRE TODAS AS COISAS
O artista norte-americano Jeff Koons passa longe de ser uma unanimidade entre os estudiosos. “O que acho de Jeff Koons é: prefiro a Cicciolina!”, diz Rodrigo Naves, um dos principais críticos de arte brasileiros. Ele se refere ao fato de que entre 1991 e 1992 Koons foi casado com a atriz de filme pornô italiana Ilona Staller, a Cicciolina, e fez uma série de pinturas intitulada Made in Heaven (Feito no Paraíso), com cenas do casal em poses eróticas. Quem se importa com os críticos, porém? Foi-se o tempo em que uma resenha negativa demolia uma reputação ou traumatizava um artista a ponto de ele buscar outros caminhos (como ocorreu com a brasileira Anita Malfatti depois de sua obra receber reparos veementes do escritor Monteiro Lobato). Koons é frequentemente apontado como o maior escultor das últimas décadas. E isso vem ocorrendo desde novembro de 2007, quando sua peça Hanging Heart (algo como Coração Pendurado) foi vendida por 23,5 milhões de dólares na casa de leilões Sotheby’s de Nova York, tornando-o o artista mais valorizado do mundo. Em julho de 2008, outra obra icônica, Baloon Flower (Flor de Balão), saiu da casa de leilão Christie’s de Londres por 25,7 milhões de dólares. Mais um recorde. Dois meses depois, as peças brilhosas e sedutoras de Koons invadiam o palácio de Versalhes, na França.
Em outras áreas da cultura, o sucesso financeiro não é sempre sinônimo de qualidade. Na arte contemporânea, o mercado é uma poderosa fonte de validação artística de um trabalho. Calcula-se que no Brasil o montante de dinheiro que circula no mundo da arte seja da ordem de 300 milhões de reais por ano. Parece bastante. Mas não se comparado ao resto do mundo. De acordo com o levantamento da Tefaf (The European Fine Art Foundation), só em 2008, o total de vendas no mercado internacional atingiu 68,5 bilhões de dólares, sendo que os Estados Unidos e a Grã-Bretanha são responsáveis por dois terços desse montante. O Brasil, no entanto, junto com Rússia, China e Índia, os países ditos BRICs, continua sendo apontado como uma das grandes promessas. A aposta é tamanha nesse sentido que em julho deste ano foi lançado o primeiro fundo de investimentos especializado em arte no Brasil, o Brazil Golden Art. Ou seja, tem gente aqui que, em vez de aplicar hoje em empresas consolidadas na bolsa de valores, aposta pesado em... arte. A intenção dos sócios Heitor Reis, André Schwartz, Rodolfo Riechert e Raphael Robalinho é possuir em três anos uma das cinco mais importantes coleções contemporâneas do país, com nomes como os cariocas Ernesto Neto e Adriana Varejão e o pernambucano Tunga.
Se o preço de uma obra é uma instância para validá-la artisticamente, saber manipular os preços é um atributo desejável para um artista? Para o inglês Damien Hirst, com certeza. Nas noites de 15 e 16 de setembro de 2008 ele colocou à venda na tradicional casa de leilões Sotheby’s, em Londres, um conjunto de 223 trabalhos recém-saídos do ateliê, que intitulou Beautiful Inside My Head Forever (algo como Beleza na Minha Cabeça para Sempre). O martelo bateu para 97% das obras, compradas em sua maioria por investidores particulares, que juntos gastaram 198 milhões de dólares. Dois anos mais tarde, de acordo com reportagem da revista britânica The Economist, o valor das peças vendidas despencou para um montante equivalente a 10% desse total. Embora esse preço venha se recuperando gradativamente, é óbvio que Damien Hirst criou uma bolha com a própria produção, usando um procedimento clássico do mercado de ações: vender o máximo possível na alta – e provocar uma baixa logo depois por causa da inundação do mercado com um mesmo tipo de produto. É como se Hirst dissesse que, num ambiente cada vez mais dominado pelo mercado, entender seu funcionamento é essencial para um artista. É como se sua bolha fosse, por si só, uma performance.
2 - NÃO PRECISARÁS DOMINAR A TÉCNICA
Depois que o francês Marcel Duchamp (1887-1968) expôs um urinol como obra de arte, em 1917 (a obra se chamava Fountain, “fonte”, em inglês), a concepção de que um artista precisa saber pintar, esculpir ou fotografar ficou definitivamente para trás. Muitas das imagens assinadas pela norte-americana Cindy Sherman, por exemplo, não foram tiradas por ela. Isso ocorre, na cultuada série Untitled Film Still (algo como Instantâneos de um Filme sem Título), feita no fim dos anos 70. Em vários dos cliques, a artista, que se consagrou por encarnar diferentes personagens na frente da própria câmera, bateu ela própria as fotos usando um disparador com extensão. Em muitas outras, no entanto, apenas se colocou na posição de modelo e pediu para seu companheiro na época, o também artista norte-americano Robert Longo, apertar o clique. Em outras ocasiões, os autores dos disparos eram amigos. Cindy, no entanto, assina todas as fotos. Afinal, a ideia é dela. Desde Duchamp, o que faz de alguém um artista são suas ideias, e não suas habilidades manuais.
O mesmo ocorre com o britânico Damien Hirst, que depende de técnicos das mais diversas áreas, inclusive surfistas e museólogos na Austrália, para colocar de pé obras como seu famoso tubarão-tigre de cinco metros de comprimento, que foi exposto em galerias boiando num tanque com formol. Ou para o norte-americano Jeff Koons, que também não chega às esculturas perfeitas imitando balões e outros artigos kitsch sozinho. Oitenta pessoas trabalham para ele atualmente em Londres, fazendo cálculos, tirando moldes, lixando as peças. O processo ocorre até mesmo com as suas pinturas: “Koons, pessoalmente, quase nunca põe um pincel na tela. Sua primeira ideia de um quadro pode ser uma foto de revista ou um retrato tirado por ele mesmo. O artista o escaneia no computador e depois o manipula ou o combina com outras imagens. Daí até a aprovação final, ele controla todos os passos de um processo que é essencialmente industrial, percorrendo o estúdio como um Argos de mil olhos, atento à execução precisa dos mínimos detalhes de suas decisões”, descreveu o repórter especial da revista norte-americana The New Yorker, Calvin Tomkins, no livro As Vidas dos Artistas.
Por causa disso, o modelo da renascença, adotado nos séculos 15 e 16 pelos mestres italianos Leonardo da Vinci (1452-1519), Rafael (1483-1520) e Michelangelo (1475-1564) e depois incorporado em larga medida na Factory do norte-americano Andy Warhol (1928-1987), nos anos 60, é agora retomado pelos artistas com força total. A maioria deles trabalha com muitos assistentes. Se o que importa mesmo é a ideia, e não mais a habilidade manual, por que não dividir esse trabalho com outros? É mais ou menos assim que os ateliês e estúdios profissionais funcionam hoje. Até porque as obras atingiram níveis de tamanha sofisticação que um artista raramente consegue sozinho viabilizar uma delas. A instalação de Olafur Eliasson que reproduz uma cachoeira (quatro delas foram distribuídas pelo East River em Nova York, em 2008), por exemplo, e que ganhará uma versão paulistana no Sesc Pompeia, em São Paulo, depende de conhecimentos de engenharia, no mínimo. “Minha equipe fixa é formada por 50 pessoas, entre jovens artistas, técnicos e arquitetos. Além disso, no meu estúdio em Berlim mantenho uma escola para mais 20 estudantes de arte. Acredito muito em um espaço assim, multidisciplinar”, diz Olafur. Essa lógica aplica-se até com donos de produções aparentemente mais simples. A iraniana Shirin Neshat, que participa da coletiva Em Nome dos Artistas com a obra Fervor, um vídeo de 2000, mantém em seu estúdio em Nova York sempre o mínimo de quatro pessoas trabalhando para ela – artistas gráficas, designers e editores.
O artista paulistano Nelson Leirner — tema de um documentário que estreou no mês passado, intitulado Assim É Se Lhe Parece, com direção de Carla Gallo – é dono de uma obra que reflete justamente sobre a questão da técnica. Ele nunca pintou um quadro na vida. O que faz é se apropriar de objetos existentes e dar-lhes novo significado. Geralmente carregado de ironia. Não por acaso, o artista, que no Brasil fundou o grupo Rex, em 1966, contra o sistema de arte, conheceu Duchamp pessoalmente e juntos jogaram uma partida de xadrez: “Eu me identifiquei muito com Duchamp, Man Ray (1890-1976) e Francis Picabia (1879-1953). O jogo dadaísta, a brincadeira, o despojamento deles me fascinou”, diz Leirner no filme.
3 - APRENDERÁS A FALAR SOBRE SEU TRABALHO
Num mundo em que a ideia é tão ou mais importante do que a execução, dominar a palavra é tudo. Tanto que os artistas aprendem isso desde a faculdade. No departamento de artes plásticas da Universidade de São Paulo, os alunos passam pelas aulas ministradas por Ana Maria Tavares e Mario Ramiro, em que são incentivados justamente a falar sobre o próprio trabalho. A jornalista canadense Sarah Thornton, que escreve sobre arte contemporânea para a revista inglesa The Economist e lançou no Brasil no ano passado o livro Sete Dias no Mundo da Arte, dedicou um capítulo da publicação para tratar desse assunto. Ela acompanhou a aula de crítica do CalArts, como é conhecido o California Institute of the Arts, em Valência, Califórnia. Lá, os estudantes são preparados justamente para discorrer sobre suas criações diante de uma plateia: “Críticas grupais oferecem uma situação única – ‘utópica’, dizem alguns –, na qual todos se concentram na obra do aluno com a determinação de compreendê-la da forma mais profunda possível. As críticas também podem ser rituais dolorosos que lembram interrogatórios, nos quais os artistas são obrigados a racionalizar seu trabalho e se defender de um fluxo de opiniões pouco refletidas que os deixa arrasados. (...) mas acredito que a dinâmica nesta sala é fundamental para compreender como o mundo da arte funciona”. “Ter um discurso ajuda muito. Um artista que se comunica bem é mais bem compreendido por curadores, pelos galeristas e pelo público. Por outro lado, acho que isso só não basta. O discurso não sustenta por si só um trabalho”, diz o curador Moacir dos Anjos.
É bem curioso notar que a maioria dos artistas de hoje com idade abaixo dos 50 anos possui um diploma de artes plásticas. E talvez não seja tão forçado ligar esse dado à intensificação de seu diálogo com o circuito do qual fazem parte. Nunca foi tão importante para um artista saber circular direitinho por ele. É também na faculdade, onde geralmente eles formam um grupo de contatos fundamental para a trajetória profissional: “O cara trancado em seu ateliê na esperança de ser revelado ao mundo não existe mais, como Van Gogh e Gauguin num passado romântico”, diz o curador Cauê Alves.
4 - PERTENCERÁS A UMA GALERIA
É um movimento quase simultâneo. Os artistas recebem o canudo das faculdades e imediatamente passam a integrar o elenco de alguma galeria. Muitos deles assinam contratos com endereços comerciais antes mesmo da formatura. E a quantidade de galerias dispostas hoje a absorver esses novos nomes revela bastante sobre o circuito. Indica o quanto o setor está aquecido. E prova também como o sistema se profissionalizou. A carreira de artista tem atualmente etapas tão bem definidas, e encontra-se tão escorada por marchands, colecionadores, leilões e exposições, que até perdeu um pouco do caráter aventureiro e um tanto arriscado que sempre a acompanhou. “Acho isso muito positivo. É difícil para um artista vender também sua obra, estabelecer preços. Os galeristas ajudam no planejamento da carreira e apresentam os artistas a círculos de amizades importantes”, diz Fernanda Feitosa, diretora da SP Arte, a feira internacional de arte contemporânea que acontece há sete anos em São Paulo. “Na verdade, o mercado de arte sempre funcionou um pouco assim. Antes eram os mecenas, os marchands. Picasso tinha o seu.” Ela se refere ao mítico Ambroise Vollard. O pintor espanhol (1881-1973) fez inclusive um retrato de Vollard, com traços típicos do cubismo, entre 1909 e 1910.
O diretor do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, Tadeu Chiarelli, vê no entanto essa presença forte das galerias no circuito como algo incômodo: “Pertencer a uma galeria virou sinônimo de ser bem-sucedido”. Porém o número de endereços que abrem a cada ano e o volume de dinheiro que negociam é tanto que foi criada em 2007 no Brasil a Abact (Associação Brasileira de Arte Contemporânea), uma iniciativa das próprias galerias para mapear esse setor. A presidente da instituição é Alessandra d’Aloia, também sócia-diretora da prestigiada galeria Fortes Vilaça, em São Paulo.
5 - PARTICIPARÁS DE FEIRAS DE ARTE
Arco, em fevereiro, em Madri. Art Basel, em junho, em Basel, Suíça. Frieze Art Fair, em outubro, em Londres. Assim, por baixo, dá para dizer que são organizadas hoje cerca de 30 feiras internacionais de arte contemporânea no mundo. Mais de duas por mês. E estão tão bem estruturadas, contando com o envolvimento das principais galerias e consequentemente dos grandes artistas da atualidade, que a colecionadores, curadores e críticos não resta outra opção senão a de visitar o maior número possível delas. Cumprir o extenso roteiro é uma boa estratégia para ficar por dentro de um circuito cada vez mais disposto a acolher as novidades. Na 7ª SP Arte, que ocorreu em maio deste ano, a diretora Fernanda Feitosa comemorou a participação de 89 galerias, 14 delas estrangeiras – a primeira edição tinha 40, uma delas internacional –, e o lançamento de 15 livros de arte ao longo dos quatro dias de evento. Estima-se que o volume de negócios fechados na feira tenha sido da ordem de 40 milhões de reais, o que corresponde a cerca de 30 a 40% do faturamento anual das galerias.
Se vão colecionadores, curadores e críticos, é importante que os artistas apareçam também. “Acho que o mercado brasileiro deu uma amadurecida nos últimos cinco anos em grande parte por causa da SP Arte. Porque é muito diferente um possível futuro colecionador entrar em uma galeria vazia para comprar algo e agora poder encontrar outros como ele em uma feira”, diz o paulistano Rodrigo Andrade, que começou a carreira na euforia da década de 1980, amargou anos de contenção e agora aproveita o reaquecimento do setor. “Nesse sentido, o evento ajuda tanto a dar segurança a um investidor, que vê várias pessoas fazendo lá o mesmo que ele, como estimula o desejo do público que gosta de arte a pertencer a uma classe. Uma tribo se reúne naqueles dias”, diz ele. Rodrigo, como muitos outros nomes brasileiros – entre eles, o paulista Paulo Pasta e o paulistano Caio Reisewitz –, costuma circular pelos corredores do pavilhão da Bienal durante a feira e aproveita assim para conversar com admiradores de seu trabalho. São muitas vezes os próprios artistas que respondem a dúvidas sobre o processo de fabricação de uma peça ao público, por exemplo. E vão dessa forma contribuindo para desmitificar um segmento que ainda bota medo em muita gente. Tem dado tão certo que, no mês passado, o Rio de Janeiro ganhou a sua feira, a ArtRio, aberta também por quatro dias, no píer Mauá.
6 - CONHECERÁS CURADORES
Dentro da estrutura do circuito hoje, pode-se dizer que a crítica teve seu papel diminuído. No lugar dos textos publicados em jornais e revistas, o pensamento mais analítico migrou para a organização das mostras coletivas. Os curadores são os novos críticos. São eles que selecionam artistas e suas obras para exposições que pretendem oferecer um panorama da produção atual e, dessa forma, atribuem leituras para esses conjuntos. Os curadores apresentam temas, sugerem relações entre criadores e apontam também revelações da área. Inclusive para galeristas e colecionadores. “Hoje até as feiras de arte têm curadores. O que antes era Igreja e Estado agora se mistura. Bienais e feiras têm muitas vezes conceitos tão próximos que ficam muito parecidas”, diz Cauê Alves, à frente neste mês do 32º Panorama da Arte Brasileira no Museu de Arte Moderna de São Paulo, ao lado de Cristiana Tejo, e que também responde como curador-adjunto da 8ª Bienal do Mercosul, em cartaz em Porto Alegre. Já o curador Moacir dos Anjos, que juntamente com Agnaldo Farias assinou a 29ª Bienal de São Paulo, no ano passado, relativiza essa aproximação: “As feiras chamam curadores como uma tentativa de legitimar um valor além do puramente comercial”.
Para um artista, tornar-se conhecido por curadores influentes significa não só a chance de integrar coletivas importantes e de visibilidade no meio como também a possibilidade de entrar de vez para o acervo de um museu de renome. O MoMA, o Museu de Arte Moderna de Nova York, já foi a instituição com mais poder para credenciar um artista. Hoje, seu prestígio já não é tão absoluto assim. Endereços como a Tate, em Londres, com o seu Turner Prize (prêmio que desde meados dos anos 80 revela talentos), e o Centro Georges Pompidou, em Paris, dividem a responsabilidade nesse sentido.
7 - VIVERÁS COMO UMA CELEBRIDADE
Em Londres, Damien Hirst é tão conhecido quanto uma estrela do rock. Dono de um restaurante descolado no bairro de Notting Hill, o Pharmacy, inteiramente concebido e decorado com peças suas, Hirst comporta-se em público de um jeito nada discreto. Cada lance do leilão histórico de setembro de 2008 foi exibido no YouTube. Ele gosta de superlativos. O colega Jeff Koons não fica atrás. No livro As Vidas dos Artistas, o crítico Calvin Tomkins relembra como o artista foi recebido na Bienal de Veneza de 1990, em que exibiu as primeiras telas da série Made in Heaven, com imagens inspiradas em fotos eróticas dele mesmo e da estrela italiana de filme pornô Cicciolina, sua namorada na época: “Legiões de paparazzi seguiam os dois pelas ruas, pedindo poses e autógrafos”. No blog Vernissage.tv é possível acompanhar em vídeo as aberturas das principais exposições de arte do mundo. Ou seja, os artistas deixaram de ser figuras por trás de suas obras e estão cada vez mais à frente delas. O público quer saber como se vestem, com quem circulam, o que bebem, como bebem. Correm boatos de que alguns deles estarão em São Paulo para a montagem da coletiva no parque do Ibirapuera. Olafur Eliasson já confirmou presença. Com gente como Hirst, Koons e Eliasson circulando nas ruas — e a câmera da Vernissage.tv atrás — a capital paulista terá mesmo ares de grande metrópole da arte contemporânea.