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setembro 30, 2011
Bem-vindo aos pampas por Juliana Monachesi, Istoé
Bem-vindo aos pampas
Matéria de Juliana Monachesi originalmente publicada na seção de artes visuais em 23 de setembro de 2011.
Território gaúcho é um dos temas centrais da 8ª Bienal do Mercosul, e Porto Alegre ganha intervenções na paisagem urbana
Uma relação simbiótica se estabeleceu entre os artistas convidados da 8ª Bienal do Mercosul, em Porto Alegre, e a paisagem do Rio Grande do Sul. O território gaúcho foi esquadrinhado por vários artistas e protagoniza diversos trabalhos da mostra. Em “Cidade Não Vista”, módulo espraiado por nove localidades de Porto Alegre, artistas fazem intervenções mínimas em viadutos, muros, fachadas e jardins, chamando a atenção dos visitantes da Bienal e, sobretudo, dos pedestres habituais para detalhes ignorados da paisagem urbana. O japonês Tatzu Nishi transpõe suas conhecidas ambientações caseiras em torno do patrimônio histórico para o prédio da prefeitura velha, construindo um modesto quarto na altura do relógio, do brasão e de dois bustos no ponto mais alto da fachada.
Na abertura oficial da Bienal, o prefeito de Porto Alegre, José Fortunati, afirmou que se sentia incluído na obra, uma vez que, pelas escadas de acesso no exterior do prédio, o público passa pela janela de uma de suas salas de trabalho. A intervenção de Santiago Sierra, uma sobreposição dos hinos dos países do Mercosul, dá livre acesso ao jardim do Palácio Piratini, onde vive e trabalha o governador. A instalação sonora de Valeska Soares e O Grivo reabriu o belvedere da Casa de Cultura Mario Quintana, fechado há mais de uma década.
Em “Além Fronteiras”, mostra com curadoria de Aracy Amaral no Museu de Arte do Rio Grande do Sul, as viagens pelo Estado transparecem nas obras de Carlos Vergara – que monumentaliza um suvenir indígena típico da região das Missões jesuíticas –, Irene Kopelman – que registra em desenhos os cânions da Serra Geral–, e Lucia Koch – que desconstrói em uma videoinstalação o encantamento provocado por fontes luminosas do interior gaúcho –, entre outros. E mesmo um artista que não pôde vir ao Brasil, o israelense Gal Weinstein, debruçou-se sobre a paisagem dos pampas, criando uma instalação com carpete recortado de várias cores que reproduz uma visão de satélite –obtida por meio do Google Earth – da região de Entre-Ijuís.
Assumidamente voltada para o contexto local onde se realiza, a oitava edição da Bienal do Mercosul, com curadoria-geral do colombiano José Roca, possibilita uma reflexão consistente acerca do significado nebuloso de nacionalidades e fronteiras no mundo atual. E, bem entendido, não se restringe a obras feitas no Rio Grande do Sul ou sobre ele, uma vez que importantes nomes estrangeiros lidam com a mesma temática, dos quais Melanie Smith e Cristina Lucas são detaques.
Arquiteturas impossíveis por Nina Gazire, Istoé
Arquiteturas impossíveis
Matéria de Nina Gazire originalmente publicada na seção de artes visuais da revista Istoé em 23 de setembro de 2011.
Desvendar as camadas simbólicas do modernismo brasileiro é um dos objetivos da artista Ana Maria Tavares. Desde o fim da década de 1990 ela vem realizando uma série de trabalhos que envolvem cânones da arquitetura, como as construções de Oscar Niemeyer. Em seu mais recente trabalho, denominado “Desviantes (da série Hieróglifos Sociais)”, ela dá continuidade a sua investigação elegendo como “leitmotiv” o prédio da Oca, localizado no Parque do Ibirapuera, em São Paulo. Aqui, ela cria uma série de painéis em metal e acrílico que intentam desconstruir a pureza formal e racionalista do edifício. É a partir de “Mesa Oca” (foto) que Ana desmonta esse edifício, mostrando seu interior por meio de uma perspectiva aérea simulada. “O desvio se dá quando esse projeto moderno de pureza e limpeza de formas é transformado em algo barroco, feito de sobreposições e desorganizações”, diz ela.
A maior distorção da estética modernista se dá na série de painéis em alumínio em que a paisagem da Oca é desmembrada em manipulações digitais impressas. Sobrepostas às impressões, estruturas modulares e deslizantes permitem ao público interferir nas paisagens como se estivesse abrindo trilhas e passagens. “A partir da planta da Oca, usei um processo de rebatimento especular digital para fazer essas sobreposições que criam múltiplas perspectivas do edifício. Embora essas obras sejam painéis, o que estou fazendo é arquitetura”, comenta Ana. O resultado é similar a um caleidoscópio caótico do projeto de Niemeyer que, assim como um enigma, é decodificado e afastado de sua vocação diáfana original. Aos quatro painéis metálicos são dados nomes de motéis da cidade do Rio de Janeiro: Calypso, Comodoro, Pallazo e Eden. Nomes que ironizam a realidade brasileira, selvagem e mestiça, em constante contradição com a invenção de uma paisagem vernacular do projeto modernista – sonhada por Niemeyer e por tantos outros artistas brasileiros do século passado.
Espelho da metrópole por Camila Molina, O Estado de S. Paulo
Espelho da metrópole
Matéria de Camila Molina originalmente publicada no caderno de cultura do jornal O Estado de S. Paulo em 30 de setembro de 2011.
Por que tantos espelhos na exposição do dinamarquês Olafur Eliasson em São Paulo? Por que, ainda, um labirinto de paredes de película coloridas ou uma sala com apenas uma intensa neblina branca, convidando a nela caminhar, perder-se? Artista dos mais destacados do cenário internacional, Olafur Eliasson propõe em suas obras a interação sensorial entre o espectador e o trabalho de arte. Quer despertar engajamentos múltiplos e sutis nos visitantes, encorajá-los a sentir, experienciar. "É você que vai fazer algo acontecer com a obra", ele diz, sentado no café do Sesc Pompeia. Convidado especial do 17.º Festival Internacional de Arte Contemporânea Sesc-Videobrasil, que se inaugura hoje, o artista apresenta em sua primeira individual no País uma mostra de peso, abrigada em três espaços da cidade.
Na Pinacoteca do Estado, por exemplo, prevalecem as obras em que Olafur explora os espelhos, como Take Your Time, instalada no Octógono do museu e que está na imagem reproduzida acima. Já no Sesc Pompeia, trabalhos variados do artista, realizados entre 1998 e 2011, promovem o caráter simples e único de propor "situações físicas" dentro de uma instituição multidisciplinar e aberta - lá estão montados o labirinto colorido, Seu Corpo da Obra, a sala de fumaça e luz, Seu Caminho Sentido, e muito mais (é o local que concentra o maior número de trabalhos da mostra de Olafur). Por fim, no Sesc Belenzinho, um disco projeta cores e pede aos visitantes que tenham experiência de desaceleração em Sua Fogueira Cósmica.
O próprio artista, que participa amanhã, às 17h, de encontro com o público no Sesc Pompeia, concebeu sua exposição a partir do desejo de estabelecer o trânsito entre espaços diferentes de São Paulo, metrópole que, como afirma, "é um organismo, no sentido de estar se desenvolvendo e ao mesmo tempo, em colapso". "A cidade carrega um testemunho sobre os valores sociais e culturais de um país, entre o que expressa e o que é real. Como manter o que é espaço público? O que manter? Estou interessado na noção de democracia, de interconectividade, intersubjetividade, em algo que exista não como um documento político, um statement, um manifesto, mas que revele a maneira de se sentir emocionalmente conectado", diz. "As pessoas têm muita dificuldade em sentir os espaços", completa Olafur.
Coautores. O festival Videobrasil demarca agora seu novo perfil, ou seja, deixa de contemplar apenas a videoarte e se abre a todas as manifestações artísticas, ganhando caráter amplo (leia abaixo). A grande exposição Olafur Eliasson - Seu Corpo da Obra, com curadoria de Jochen Volz, pontua, assim, os novos rumos do evento e se torna uma oportunidade de o público entrar em contato com os trabalhos e os pensamentos desse artista que nasceu na Dinamarca em 1967, mas vive em Berlim.
Peças de Caravaggio e Da Vinci virão ao país pela 1ª vez por Flávia Foreque, Folha de S. Paulo
Peças de Caravaggio e Da Vinci virão ao país pela 1ª vez
Matéria de Flávia Foreque originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 30 de setembro de 2011.
Artistas terão mostras dentro do evento Momento Itália-Brasil, que terá início em outubro de 2011
Obras inéditas por aqui estarão em exposições em Belo Horizonte, no Rio e em São Paulo a partir de março de 2012
Obras nunca antes expostas no Brasil do pintor italiano Caravaggio (1571-1610) e do gênio renascentista Leonardo da Vinci (1452-1519) virão ao país em 2012.
As peças integrarão o Momento Itália-Brasil (MIB), evento cuja programação reúne cerca de 500 atividades -entre concertos, exposições fotográficas, festivais gastronômicos e palestras- em pelo menos 12 Estados.
A organização do MIB -que tem início oficial em 15 de outubro, com um espetáculo de rua na Cinelândia, no Rio - não divulga quais obras estarão nas mostras.
A exposição de Caravaggio começa em março de 2012, na Casa Fiat de Cultura, em Belo Horizonte (MG). A mostra terá sete obras do artista, além de outras 40 pinturas de caravagistas, como são chamados aqueles que seguiram seu estilo. As peças devem seguir para o Masp, em São Paulo, em junho, quando se encerra a programação do MIB.
As pinturas foram solicitadas a colecionadores privados e museus italianos e percorreram um longo caminho burocrático até chegar ao país, disse José Eduardo de Lima Pereira, presidente da Casa Fiat de Cultura.
"Há necessidade de autorização por parte da diretoria do museu, do órgão de superintendência de cultura regional, do ministério para assuntos culturais, da política fiscal italiana", enumerou.
"O ciúme dos curadores dos museus italianos é uma coisa realmente maravilhosa", brincou.
A intenção do MIB, relizado pela Embaixada da Itália no Brasil, é reforçar os laços culturais bilaterais. Estima-se que 30 milhões de brasileiros descendam de italianos.
A programação inclui ainda mostras do pintor Amedeo Modigliani e do artista Giorgio De Chirico, além de uma mostra de Leonardo da Vinci - esta deverá ocorrer somente no Rio de Janeiro, no Museu Nacional de Belas Artes.
Na entrevista que anunciou a programação do evento, o embaixador italiano, Gherardo La Francesca, reforçou o aspecto de difusão do MIB.
"A cultura não tem que ser um fenômeno de elite, tem de ser acessível a todos".
Arte em trânsito por Fabio Cypriano, Folha de S. Paulo
Arte em trânsito
Matéria de Fabio Cypriano originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folhe de S. Paulo em 30 de setembro de 2011.
Dinamarquês Olafur Eliasson inaugura obras em três espaços de SP e dialoga com locais de passagem
O dinamarquês Olafur Eliasson inaugura, hoje e amanhã, 11 obras em três espaços expositivos de São Paulo. Numa cidade marcada pela pressa, o artista pretende reduzir o ritmo frenético da metrópole ao modificar o comportamento do espectador em locais de passagem, como corredores ou pátios.
Em "Microscópio para São Paulo", por exemplo, espelhos foram instalados ao redor de uma das passarelas da Pinacoteca do Estado para refletir a imagem de quem passa por ali como se estivesse flutuando no céu da cidade.
"Esses espaços de trânsito costumam ser locais onde as expectativas se transformam, se viabilizam na prática e, por isso, gosto de ocupá-los", disse Eliasson à Folha, anteontem, logo após aterrissar na cidade para verificar a montagem de seus trabalhos.
NOVA FASE
"Seu Corpo da Obra" é o nome do conjunto de exposições do artista em São Paulo, que marcam um novo momento no 17º Festival Internacional de Arte Contemporânea Sesc Videobrasil.
"As dinâmicas e estratégias de Olafur têm a ver com essa nova fase, que é deixar de abordar só a linguagem do vídeo. Afinal, ele é um artista que lida com a arquitetura, a ciência e tantas outras áreas", diz Solange Farkas, diretora do festival. Com seus óculos de lentes grossas, barba e cabelos longos, Eliasson é o estereótipo do cientista maluco, cujos experimentos transformam a percepção das pessoas.
Isso pode ocorrer numa sala de leitura, onde ele instalou seis superluminárias espelhadas, ou na sala que Eliasson encheu de fumaça e chamou de "Seu Caminho Sentido", ambas no Sesc Pompeia. Na primeira instalação, as luminárias alocadas acima das mesas de leitura tornam público o que é privado ao permitir que se veja tudo que o vizinho está lendo.
A segunda, a mais espetacular da mostra, é uma espécie de experiência epifânica. Nela, o público perde o sentido de espaço ao se ver envolto numa bruma e é levado a caminhar, meio que às cegas, em direção a uma luz muito, mas muito intensa.
ARQUITETURA
"Nessas exposições, Olafur não trabalhou com obras como se elas ocupassem um cubo branco [como em espaços expositivos tradicionais]. Ele está lidando com o potencial que a arquitetura, de fato, sugere, ativando esses espaços", diz o curador das mostras, Jochen Volz. Um bom exemplo é a própria ocupação do Sesc Pompeia, projetado pela arquiteta Lina Bo Bardi (1914-1992).
Durante a montagem das obras de Eliasson, corredores falsos criados fora do projeto de Bardi precisaram ser destruídos e uma cascata original voltou a funcionar.
Eliasson ainda criou um projeto secreto, que dialoga com o espaço urbano (leia abaixo). Para um artista conhecido por obras espetaculares, como um sol na Tate londrina e cachoeiras de Nova York, sua passagem por São Paulo revela respeito e delicadeza com a cidade.
Artista espalha bicicletas com rodas de espelho pela cidade
Além de instalar 11 obras em três espaços de São Paulo, Olafur Eliasson está espalhando 12 bicicletas com rodas de espelhos pela cidade.
"Eu as vejo como anjos, as bicicletas estão por aí, criando uma narrativa pela cidade", conta o artista. A obra, "Uma Bicicleta para São Paulo", foi decidida na semana passada.
"Desde o começo, eu queria fazer uma obra pública, mas achei que poderia vir com uma visão muito europeia. Ao trabalhar com o [o cineasta brasileiro] Karim Aïnouz, fiquei empolgado e pedi a ele para ser meus olhos no trabalho", diz Eliasson.
Aïnouz produziu com Eliasson a obra "Sua Cidade Empática", em cartaz no Sesc Pompeia, que traz imagens captadas no Minhocão. É o cineasta quem decide onde instalar as bicicletas, mas a localização é segredo. Para 2012, Aïnouz prepara um documentário sobre Eliasson, composto por cenas gravadas dentro de cada obra das exposições.
Festival traz 101 artistas eleitos por edital
Dividido em dois eixos, o 17º Videobrasil apresenta, além de Olafur Eliasson, 101 artistas na mostra "Panoramas do Sul", uma exposição que tem um ritmo de bienal de artes.
A particularidade do festival, contudo, segue no formato de edital, ou seja, qualquer um pode se inscrever para passar por um processo seletivo. Em bienais isso nunca ocorre. O curador escolhe ele mesmo quem quer mostrar. "Seguimos esse modelo porque é a melhor forma de incluir artistas que ainda não fazem parte do circuito, o que dá um caráter especulativo e, portanto, de risco [ao festival]", conta Solange Farkas, diretora do Videobrasil.
Nesta edição, os 101 artistas foram escolhidos a partir de 1.295 inscrições, vindos de todas a regiões do sul do planeta. "Essa premissa representa o aspecto político da mostra. Talvez chegue o momento em que, assim como não vamos mais tratar de uma só linguagem, o vídeo, não precisemos mostrar apenas artistas do sul, mas essa vitrine ainda é necessária", diz Farkas.
Entre os destaques deste ano estão o australiano Shaun Gladwell, o libanês Akram Zaatari e a brasileira Cinthia Marcelle.
setembro 29, 2011
Começa amanhã Festival de Arte Contemporânea em SP por Agência do Estado, O Estado de S. Paulo
Começa amanhã Festival de Arte Contemporânea em SP
Matéria da Agência do Estado originalmente publicada no caderno de cultura do jornal O Estado de S. Paulo em 29 de setembro de 2011.
Tradicionalmente ligado à videoarte, o Festival Internacional de Arte Contemporânea SESC_Videobrasil chega à 17ª edição amanhã com uma proposta mais abrangente. Pela primeira vez, o vídeo não é a única linguagem nas inscrições para a mostra principal, que dará um prêmio de R$ 45 mil. A mostra, este ano intitulada Panoramas do Sul, compreende instalações, objetos, publicações, pinturas e fotografias de 101 artistas nacionais e estrangeiros. Esse ano, a exibição traz como destaque a exposição Seu corpo da obra, primeira individual do dinamarquês Olafur Eliasson na América Latina. Participam do festival a Pinacoteca do Estado e as unidades do Sesc Pompeia e Belenzinho.
Solange Farkas, curadora do evento, diz que essa mudança tem a ver com o momento pelo qual a arte contemporânea passa. "Muitos artistas deixaram de se ater a apenas uma linguagem e trabalham com várias", diz. "Assim, não faz sentido valorizar especificamente a videoarte e ignorar a diversidade de referências e técnicas com que os profissionais criam", completa.
De fato, além da arte contemporânea caber, cada vez menos, em definições pautadas somente pela linguagem, há uma mudança de paradigma. Muitos artistas querem mais do que a postura contemplativa do espectador. Exemplo disso é o trabalho de Olafur Eliasson, que pede participação ativa. No festival, aliás, ele apresenta dez instalações que prometem mexer com os cinco sentidos das pessoas.
A obra Sua cidade empática (2011) consiste em projeções, organizadas em sequências, que mostram formas trapezoidais e imagens de São Paulo, variando de cor e composição. Conforme a posição de quem vê, as imagens se sobrepõem de modos distintos e formam outras, em ângulos únicos. Outro trabalho que prescinde a participação é Seu corpo da obra (2011). Nele, um labirinto de painéis coloridos e translúcidos se reorganizam em variações cromáticas, à medida que o visitante o percorre.
Outros destaques são os artistas que participam da Panoramas do Sul, destinada à arte de países em desenvolvimento - independentemente de sua posição nos hemisférios. Há trabalhos da América Latina, África, Europa, Oriente Médio e Ásia. Entre os nomes mais conhecidos, estão o libanês Akram Zaatari, o argentino Marcello Mercado e o australiano Shaun Gladwell.
Dos brasileiros, destacam-se Eder Santos, Wagner Morales, Cinthia Marcelle, Nazareno e Rodrigo Bivar. Esse último mostra a série Ubatuba (2001), de óleos sobre tela. Outro participante que também trabalha com fotografia - utilizando-a como elemento mobilizador em seus vídeos - é o chinês Liu Wei. Em Unforgettable Memory (2009), um filme de 10 minutos, ele exibe uma foto dos protestos em Pequim, em 1989, contra o governo chinês, para lembrar as pessoas do ocorrido, e pede depoimentos. As informações são do Jornal da Tarde.
setembro 28, 2011
A criatividade e diversidade cultural brasileiras como recursos para um novo desenvolvimento por Cláudia Leitão, Plano da Secretaria da Economia Criativa.
A criatividade e diversidade cultural brasileiras como recursos para um novo desenvolvimento
Introdução da secretaria Cláudia Leitão originalmente publicada no Plano da Secretaria da Economia Criativa.
O escritor africano Mia Couto, em uma coletiva com jornalistas na Bienal do Livro no Ceará, em 2004, afirmava que o colonialismo não havia morrido com o advento das independências; somente tinha mudado de turno e de executores. Dizia aos jornalistas que durante décadas os africanos haviam procurado culpados para as suas infelicidades e incompetências. Inicialmente culparam os colonizadores. Em seguida, construíram imagens românticas do que eram antes deles. Os colonizadores tinham ido embora, dizia ele, mas novas formas de colonialismo continuavam acontecendo, e essas novas formas eram naturalmente geridas entre ex-colonizadores e ex-colonizados. Dizia ele: “Vamos ficando cada vez mais a sós com a nossa própria responsabilidade histórica de criar uma outra história”. A reflexão do escritor moçambicano nos leva a pensar. Afinal, qual desenvolvimento perseguimos? E para este desenvolvimento,
que Estado e quais modelos econômicos deveríamos construir? E, para a construção desses modelos econômicos, que mentalidade deveríamos adotar?
Os projetos assistencialistas e as ajudas internacionais têm sido filhas diletas do mito do desenvolvimento. A criação de instituições de fomento, de programas, projetos, a transferência de recursos, a doação de equipamentos se mesclam com os sistemas oligárquicos locais que, em suas esferas política, social e econômica, vêm demonstrando, ao longo do tempo, capacidade de adaptação, renovação e continuidade. São exatamente esses sistemas oligárquicos que se nutrem do “não desenvolvimento” das regiões mais pobres do país, do Brasil “sem saída”.
Por outro lado, as crises sociais, econômicas, ambientais e culturais que vivemos são expressões concretas de que o modelo moderno de desenvolvimento, fundamentado na acumulação da riqueza e do crescimento do Produto Interno Bruto, está em franca decadência. Desenvolvimento deve significar, sobretudo, qualidade de vida e ampliação de escolhas. O economista e então Ministro da Cultura, Celso Furtado, relacionou o desenvolvimento à ideia de criatividade no seu livro “Criatividade e Dependência na Civilização Ocidental”:
[...].as sociedades necessitam de meios de defesa e adaptação, cuja eficácia reflete a aptidão de seus membros para formular hipóteses, solucionar problemas, tomar decisões em face da incerteza. Ora, a
emergência de um excedente adicional...abre aos membros de uma sociedade um horizonte de opções; já não se trata de reproduzir o que existe, e sim de ampliar o campo do que é imediatamente possível[...] O novo excedente, constitui, portanto, um desafio à in-ventividade... Em sua dupla dimensão de força geradora de novo excedente e impulso criador de novos valores culturais, esse processo libertador de energias humanas constitui a fonte última do que entendemos por desenvolvimento.
Celso Furtado lutou durante toda a sua vida por um desenvolvimento desconcentrador, fundamentado na diversidade cultural regional brasileira. E, por isso, foi um crítico inclemente das sociedades capitalistas e “de sua forma sofisticada de controle da criatividade e de manipulação da informação”. O que afligia Furtado era a consciência de que “a estabilidade das estruturas sociais não igualitárias estaria diretamente relacionada ao controle por grupos privados dos bens de produção da criatividade artística, científica e tecnológica e do fluxo de informações que brota dessa criatividade.” Grande defensor da inovação, o economista acentuava, no entanto, a necessidade de que o progresso tecnológico caminhasse paripasso com o acesso desses produtos a camadas mais amplas da sociedade brasileira.
Décadas se passaram, mas as reflexões do ex-ministro da cultura ainda se mantém atuais. O fracasso de um modelo, cujos resultados somente reforçaram o abismo entre ricos e pobres, vem incitando os estados contemporâneos a incentivar comunidades, tomadores de decisão públicos e privados, ONGs e outros agentes territoriais a construir uma ação coletiva, a partir de suas próprias capacidades e potenciais locais.
Em janeiro de 2011, vinte cinco anos depois de Celso Furtado, Ana de Hollanda retoma, no Ministério da Cultura, as reflexões do economista sobre cultura, desenvolvimento e criatividade. São palavras da ministra no seu discurso de posse:
A criação vai estar no centro de todas as nossas atenções. A imensa criatividade, a imensa diversidade cultural do povo mestiço do Brasil, país de todas as misturas e de todos os sincretismos. Criatividade e
diversidade que, ao mesmo tempo, se entrelaçam e se resolvem num conjunto único de cultura[..]. É justamente por isso que, ao assumir o Ministério da Cultura, assumo também a missão de celebrar e fomentar os processos criativos brasileiros.
A compreensão do potencial da economia criativa brasileira para o desenvolvimento brasileiro não é recente. No contexto efervescente dos anos 50 e 60, a arquiteta italiana Lina Bo Bardi realizou seu sonho de construir um museu de arte popular em Salvador, espaço que permitisse o diálogo entre o conhecimento acadêmico e o de mestres artesãos, para a formação de um desenho original e brasileiro. Para isso, realizou uma expedição, coletando peças pelo Nordeste, reunindo um acervo de quase duas mil obras. O conjunto amplo de ex-votos, santos, objetos de candomblé, bichos e utensílios de madeira, objetos de barro, pilões e peças feitas de material reciclado e de lixo foi recolhido por Lina em feiras, mercados e lojas de material religioso em várias comunidades, núcleos rurais e cidades dos estados da Bahia, Pernambuco e Ceará. Como objetos-depoimento da identidade cultural do Nordeste, a arquiteta vislumbrou seu uso como a base para desenvolver um Centro de Estudos e Trabalho Artesanal e uma escola de desenho industrial, que produziria projetos para a indústria. Na escola, haveria troca de experiência entre os estudantes de arquitetura e design e os artesãos. Tratava-se, evidentemente, de um projeto político. Seus projetos do museu-escola e o do fomento ao design brasileiro naquela estrutura foram interrompidos em 1964, quando foi afastada do museu pela ditadura militar brasileira. Em 1963,
na inauguração do Museu de Arte Popular da Bahia, com a exposição “Nordeste”, Lina escreveu:
Esta exposição que inaugura o Museu de Arte Popular do Unhão deveria chamar-se Civilização do Nordeste. Civilização. Procurando tirar da palavra o sentido áulico-retórico que a acompanha. Civilização é o aspecto prático da cultura, é a vida dos homens em todos os instantes. Esta exposição procura apresentar uma civilização pensada em todos os detalhes, estudada tecnicamente, desde a iluminação às colheres de cozinha, às colchas, às roupas, bules, brinquedos, móveis, armas. É a procura desesperada e raivosamente positiva de homens que não querem ser ‘demitidos’, que reclamam seu direito à vida. Uma luta de cada instante para não afundar no desespero, uma afirmação de beleza conseguida com o rigor que somente a presença constante de uma realidade pode dar [...]Esta exposição é uma acusação. Acusação de um mundo que não quer renunciar à condição humana apesar do esquecimento e da indiferença. É uma acusação não humilde, que contrapõe às degradadoras condições impostas pelos homens um esforço desesperado de cultura.
Como transformar um “esforço desesperado de cultura” em um direito fundamental ao desenvolvimento? O MinC responde de forma propositiva a essa questão, criando uma Secretaria da Economia Criativa, com o objetivo de ampliar a transversalidade de suas políticas dentro dos governos e com a sociedade. Trata-se de uma estratégia de afirmação da importância das políticas públicas de cultura na construção de uma agenda ampla e transversal de desenvolvimento. Trata-se de assumir o desafio de pensar o desenvolvimento, menos como produto do que processo cultural. E, para tanto, necessitamos levar em conta o que historicamente descartamos e excluímos ao longo da nossa história.
O Plano da Secretaria da Economia Criativa (2011-2014) representa o desejo e o compromisso do Ministério da Cultura, no Governo Dilma Rousseff, de resgatar o que a economia tradicional e os arautos do desenvolvimento moderno descartaram: a criatividade do povo brasileiro. As tecnologias sociais produzidas pela imensa criatividade brasileira tornaram-se realidades irrefutáveis. No entanto, essas tecnologias ainda carecem de apoio do Estado brasileiro para vicejarem. Em inúmeros países de diversos continentes (como a Austrália, a Turquia, a China) a criatividade vem sendo apoiada por políticas públicas e sendo tratada como o insumo por excelência da inovação. Essa nova economia vem crescendo, graças à sociedade do conhecimento e às novas tecnologias. É a dimensão simbólica da produção humana ( presente das artes do circo ao conteúdo dos games) que passa a ser elemento fundamental na definição do preço desses novos bens e serviços, construindo novas solidariedades, novas éticas e estéticas,
reunindo, enfim, comunidades e indivíduos, desta feita, a partir de redes e coletivos.
Os dados sobre o crescimento da economia criativa no mundo são indiscutíveis. Segundo estimativas da UNESCO o comércio internacional em bens e serviços cultulivro rais cresceu, em média, 5,2% ao ano entre 1994 (US$ 39 bilhões) e 2002 (US$ 59 bilhões). No entanto, esse crescimento continua concentrado nos países desenvolvidos, responsáveis por mais de 50% das exportações e importações mundiais. Ao mesmo tempo, pesquisas da Organização Internacional do Trabalho apontam para uma participação de 7% desses produtos no PIB mundial, com previsões de crescimento anual que giram em torno de 10% a 20%.
Barbero define quatro forças que impulsionam o desenvolvimento: a organização flexível da produção; a difusão das inovações e do conhecimento; a mudança e adaptação das instituições e o desenvolvimento urbano do território. A interação entre essas forças produziria a necessária sinergia capaz de alavancar um desenvolvimento endógeno que, por sua vez, permitiria ao Brasil, uma nova alternativa de crescimento econômico não mais construído de fora para dentro, mas resultado de uma dinâmica econômica local. Ao
mesmo tempo, esse desenvolvimento se fundamentaria na valorização das éticas e das expressões culturais locais, necessárias à consolidação de práticas cooperativas, ao crescimento da confiança entre indivíduos e grupos, além da proteção ao patrimônio cultural e ambiental dos territórios envolvidos.
A economia criativa obedece em seus fundamentos as condições propostas por Barbero e, por isso, traduz uma mensagem esperançosa, produzindo impactos positivos em todas as regiões do planeta. Sabemos, no entanto, que nenhum modelo por ela produzido em outras nações nos caberá. Como nos dizia Mia Couto, necessitamos construir nossos próprios modelos e tecnologias sociais. Afinal de contas, o Brasil deve ao mundo e, especialmente, à América Latina e à África, uma contribuição efetiva para um novo desenvolvimento includente e sustentável.
O novo MinC deseja construir um novo desenvolvimento para o Brasil, de forma transversal com os demais ministérios, agências de fomento, instituições internacionais, sistema S, universidades, segmentos criativos, poderes legislativo e judiciário, estatais, institutos de pesquisa, organizações do terceiro setor, enfim, com os estados e municípios brasileiros. Mas, para a construção de um novo desenvolvimento é necessário a construção de uma nova mentalidade econômica. Diferentemente da economia tradicional “taylorista”, a economia criativa se caracteriza pela abundância e não pela escassez, pela sustentabilidade social e não pela exploração de recursos naturais e humanos, pela inclusão produtiva e não pela marginalização de indivíduos e comunidades.
Os desafios são imensos, mas instigantes. O Ministério da Cultura retoma a difícil tarefa de repensar, de reconduzir, de liderar os debates e a formulação de políticas sobre a cultura e o desenvolvimento no Brasil, com a missão de transformar a criatividade brasileira em inovação e a inovação em riqueza: riqueza cultural, riqueza econômica, riqueza social. Para isso, deve enfrentar questões desafiadoras: por que nossa riqueza e diversidade cultural não fazem do Brasil um dos maiores destinos turísticos do mundo?
De que forma poderemos estimular e fomentar os talentos criativos brasileiros? Como a economia criativa poderá contribuir para a inclusão produtiva dos 40% de jovens brasileiros que hoje se encontram entre os 16.3 milhões de brasileiros abaixo da linha da pobreza? Como ampliar e qualificar o consumo cultural no país, levando-se em conta a emergência de 39.5 milhões de brasileiros e brasileiras à classe média?
Para enfrentar essas indagações precisamos de pesquisas, de indicadores e de metodologias para a produção de dados confiáveis; necessitamos de linhas de crédito para fomentar esses empreendimentos, carecemos de formação para competências criativas, de infra-estrutura que garanta a produção, circulação e consumo de bens e serviços criativos, dentro e fora do país. E mais. É preciso avançar na elaboração de novos marcos regulatórios, de natureza tributária, trabalhista, civil, administrativa e constitucional, que nos permitam avançar.
Se o caminho é longo, a tarefa é apaixonante. Trata-se, definitivamente, do início da construção, no Governo Dilma, de um “Brasil Criativo”. Mãos à obra!
Cláudia Leitão
Secretária da Economia Criativa do Ministério da Cultura
Leia o Plano da Secretaria da Economia Criativa
MinC lança incentivo à economia criativa, Diário do Nordeste
MinC lança incentivo à economia criativa
Matéria originalmente publicada no caderno 3 do jornal Diário do Nordeste em 28 de setembro de 2011.
O Ministério da Cultura lançou um plano para apoiar os empreendedores culturais e estimular a chamada economia criativa - geração de renda e empregos por meio da utilização de propriedade intelectual.
O plano se baseia nas ideias de Celso Furtado (1920 - 2004) - no documento, disponível no site do ministério, há inclusive uma poesia de Chico César para o economista.
O Plano da Economia Criativa define os princípios que nortearão a atuação da Secretaria de Economia Criativa do MinC, criada em janeiro e ainda em processo de implantação.
Além do plano, a secretária Cláudia Leitão anunciou que até o final do ano estarão em funcionamento cinco projetos-piloto do "Criativa Birô", escritório para apoio ao empreendedor criativo, com assessoria jurídica, de comunicação, linhas de crédito e formação profissional.
Majoritariamente programático, o plano define os integrantes da rede de apoio à economia criativa, incluindo integrantes do Sistema S (Sesi, Senai, Senac, Sebrae,...), eventos como a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas do Rio Janeiro de 2016, além de vários ministérios e órgãos como a Petrobras.
Há ainda a previsão de estratégias a serem implementadas em cada área específica e de acordo com as seis macrocategorias estabelecidas - patrimônio natural e cultural, espetáculos e celebrações, artes visuais e artesanato, livros e periódicos, audiovisual e mídias interativas e design e serviços criativos.
Obra de Ernesto Neto abre museu argentino por Sylvia Colombo, Folha de S. Paulo
Obra de Ernesto Neto abre museu argentino
Mostra do carioca inaugura centro cultural Faena, na zona portuária de Buenos Aires
A cidade de Buenos Aires acaba de ganhar mais um centro cultural, o Faena Arts Center, em Puerto Madero.A inauguração aconteceu na última quarta, com uma apresentação da cantora britânica Marianne Faithfull e a exposição de "O Bicho Suspenso na Paisagem", do artista carioca Ernesto Neto, 47.
A obra, uma imensa tela feita de fios de polietileno recheada de bolas de plástico, fica pendurada no teto do grandioso salão do que no começo do século 20 era a sala das máquinas de um moinho.O local fica na região portuária, recentemente revitalizada e transformada em bairro moderno, cheio de escritórios, restaurantes e lojas.
O Faena Arts Center está dentro do complexo Los Molinos, próximo ao Faena Hotel, projetado pelo arquiteto Philippe Starck.
São iniciativas do empresário Alan Faena, que investe nessa região há alguns anos. O custo do novo centro cultural é de US$ 14 milhões (cerca de R$ 26 milhões).
"Esse moinho é muito significativo, pois alimentou a Europa no pós-Guerra e agora vai alimentar o mundo de cultura a partir de Buenos Aires. É uma cidade capaz de irradiar arte e inovação para o mundo", disse Faena.
A obra de Ernesto Neto convida os visitantes a passear dentro dela. Ao caminhar sobre as bolas de plástico, o ruído lembra o de uma chuva repentina e volumosa.
"Eu quis construir esse labirinto com madeira, mas não funcionou. No final, ficou melhor assim, pois, ao andar dentro dela, temos a lembrança da floresta. E a floresta é aquilo que nos lembra de que há uma simbiose entre o ser humano e o planeta Terra", disse o artista.
Neto conta que uma das inspirações para a obra foi, também, o livro "O Enteado", do argentino Juan José Saer, baseado na história verídica de um jovem marinheiro que viveu por muitos anos numa tribo de índios canibais na região do rio da Prata.
A exposição de Ernesto Neto, cuja curadoria é de Jessica Morgan, da Tate Modern, de Londres, fica em cartaz (www.faenaartscenter.org) até o dia 20 de novembro.
Bienal de Lyon tem forte presença de brasileiros por Fabio Cypriano, Folha de S. Paulo
Bienal de Lyon tem forte presença de brasileiros
Matéria de Fabio Cypriano originalmente publicada na Ilustrada da Folha de S. Paulo em 26 de setembro de 2011.
A 11ª edição do evento reúne 77 artistas que operam noções distintas e complementares: construção e destruição
A primeira experiência, para quem entra na Sucrière, umas das quatro sedes da 11ª Bienal de Lyon, aberta ao público no último dia 15, na França, vem na sonoridade da obra da brasileira Lenora de Barros, "O
Encontro Entre Eco e Narciso", uma instalação com vozes e luzes, baseada na mitologia grega.
O ambiente de mistério, onde uma voz recita frases nem sempre compreensíveis, dá o tom da mostra, organizada pela argentina Victoria Noorthoorn, que já foi curadora da Bienal do Mercosul.
Intitulada "Uma Terrível Beleza Nasceu", a bienal de Noorthoorn, que segue até 31 de dezembro, reúne obras de 77 artistas operando com duas noções distintas, mas um tanto complementares: construção e destruição.
Esse conceito está presente, por exemplo, nos poemas do brasileiro Augusto de Campos estampados em dez paredes da exposição, revelando sua forte concepção estética e sua crítica ao uso tradicional da escrita.
A seleção de brasileiros, aliás, é generosa. São nove, onde predominam latino-americanos, africanos e artistas do Leste Europeu.
Ocupando quatro espaços, Noorthoorn deu a cada um características distintas. No Museu de Arte
Contemporânea de Lyon foram criados cinco pequenos percursos.
Em um deles, Cildo Meireles, com sua "A Bruxa", um cabo de vassoura de onde saem dois quilômetros de fios negros, invade e transforma as demais obras da sala.
"Uma Terrível Beleza Nasceu" é o tema do evento que, a partir desse nome, aborda o bizarro em suas várias formas, como o jardim neoclássico criado pelo argentino Jorge Macchi sob os detritos em frente a outro espaço da mostra, a fábrica T.A.S.E., um lugar que parece abandonado. Esse tipo de procedimento um tanto surreal permeia a montagem de forma coesa, apontando que a arte existe para criar conflitos.
Por isso, muitos trabalhos questionam o espaço expositivo, como o de Laura Lima, o "Puxador", que dá a um homem nu a impossível tarefa de mover as colunas do local. E o melhor, é uma bienal essencialmente política sem nada que seja literal.
setembro 27, 2011
Reality arte por Fabio Cypriano, Folha de S. Paulo
Reality arte
Matéria de Fabio Cypriano originalmente publicada na Ilustrdada do jornal Folha de S. Paulo em 25 de setembro de 2011.
Artistas criam 'paródia' de programas como 'Ídolos' e competem pela melhor performance
Reality show, quem diria, também pode ter tema cult.
No próximo domingo, dentro da programação do 17º Festival de Arte Contemporânea Sesc Videobrasil, um programa de auditório, que terá como apresentadora Marina Person, será palco de uma disputa entre artistas.
Assim como em "American Idol", em que se concorre para ver quem canta melhor, no Videobrasil a contenda será para ver quem melhor reencena performances históricas, realizadas há décadas por Marina Abramovic e Yoko Ono, entre outros.
Trata-se da obra "Art Idol", dos israelenses Aya Eliav e Ofir Feldman, que estão entre os 101 selecionados para a mostra Panoramas do Sul, seção do Videobrasil.
A mostra começa no próximo dia 30, em São Paulo, mas a disputa dos artistas acontecerá no dia 2. A ação será televisionada em 10/10.
No programa comandado por Person, Eliav e Feldman serão julgados por críticos e curadores, que comentarão as performances, nos moldes de "American Idol".
Além da seção Panoramas do Sul, o Videobrasil ainda exibe a mostra "Olafur Eliasson - Seu Corpo da Obra".
Maior retrospectiva do artista dinamarquês realizada fora da Alemanha, onde ele vive, ela se dividirá entre Pinacoteca do Estado, Sesc Belenzinho e Sesc Pompeia.
Para idealizadora do projeto, vencer não é o mais importante
'É uma obra que tem vários níveis, por isso ganhar não é o fundamental', afirma a artista israelense Aya Eliav
Ela concebeu o projeto, composto a partir de quatro peças históricas, com o 'oponente' e colega Ofir Feldman
Em "Art Idol", o cover de "American Idol" com performances, vencer não é o mais importante.
"Esse trabalho funciona como uma colaboração real. Vamos realizar as performances históricas e ouvir a avaliação do júri; é uma obra que tem vários níveis, por isso ganhar não é o fundamental", diz a israelense Aya Eliav.
Curiosamente, Eliav, 34, que idealizou o projeto com Ofir Feldman, é uma artista que, até este novo momento, havia sempre trabalhado com os pincéis.
Amiga de Feldman, 34, há vários anos, eles pensaram na obra, a primeira colaboração conjunta, para uma mostra em Veneza, na Itália, realizada em janeiro deste ano.
Naquela ocasião, ela foi a vencedora. O projeto, contudo, não foi concretizado na íntegra, pois não chegou a ser transmitido pela TV.
"O Ofir, que vive em Berlim desde 2000, tem de fato um trabalho com o corpo. Para mim, essa é uma situação nova", disse Eliav à Folha, no seu ateliê com cheiro de tinta, em Tel Aviv. Juntos, eles escolheram cinco performances para o programa e pediram autorização aos seus criadores originais para reencená-las.
Apenas uma, "Antropometria Azul", de Yves Klein (1928-1962), não recebeu autorização dos herdeiros do artista.
A inspiração em um programa tão popular como "American Idol" é uma estratégia deliberada: "Esse é um trabalho pensado para o grande público, mas que permite um diálogo com a crítica de arte", diz Eliav.
Durante os 52 minutos que deve durar o programa, ele se revezarão na realização de cada performance. E juntos reencenarão "AAA AAA", de Marina Abramovic e Ulay.
Além de "Art Idol", o Videobrasil contará com outras quatro performances, três delas ocorrendo dentro do espaço expositivo.
No mesmo dia 2, o brasileiro Leandro Cardoso, às 16h e às 19h, na Sala de Espetáculos 1 do Sesc Belenzinho, irá apresentar "Arquivo Banana". Nela o artista analisa exemplares da história da arte a partir de uma banana.
Em se falando de TV, vai ser o momento Chacrinha do festival. (FABIO CYPRIANO)
setembro 21, 2011
Faces da pintura contemporânea por Ana Cecília Soares, Diário do Nordeste
Faces da pintura contemporânea
Matéria de Ana Cecília Soares originalmente publicada no Caderno 3 do jornal Diário do Nordeste em 21 de setembro de 2011.
Duas exposições coletivas, em cartaz a partir de amanhã no CCBNB em Fortaleza, debatem questões a respeito da pintura, sob o olhar de produções recentes desenvolvidas por artistas brasileiros
Por muitas vezes foi decretado o fim da pintura. O fato é que ela nunca deixou de ser realizada e continua com intensa vitalidade, transformando-se em corpo híbrido a partir do diálogo com outras linguagens artísticas. A pintura vive e se fortalece nos processos de criação, abre novas possibilidades de ser para as poéticas artísticas.
As exposições "Entre 8" e "Pintura ampliada", que estreiam amanhã, no Centro Cultural Banco do Nordeste (CCBNB- Fortaleza), mostram algumas das faces assumidas pela pintura na contemporaneidade, revelando diferentes olhares sobre a temática abordada.
Em "Entre 8", o foco está na presença da pintura em outras mídias, assim como o seu impacto na variedade de meios possíveis no campo da arte e da própria ação pictórica. A proposta reúne oito artistas de diferentes cidades brasileiras, cujos trabalhos permeiam a fronteira entre esses meios e habitam áreas de interseção com a pintura.
Segundo os artistas Bruno Vieira e Thiago Martins de Melo, participantes da "Entre 8", paradoxalmente, em uma exposição cujo foco é a pintura, "o elemento da fotografia clareia certos aspectos, incorporando abordagens que derivam da pintura e provendo artistas de uma fonte imagética aparentemente diversa a este que é o território e o potencial mais controverso da arte contemporânea".
Em "Pintura ampliada", o intuito é a negociação entre a pintura e uma ideia de mundo. "O diálogo entre as obras expostas nessa mostra não se encontra na sua aparência imediata, mas na transformação simbólica que a pintura sofre na contemporaneidade, isto é, uma constante negociação entre a sua história e os incômodos questionamentos sobre a sua morte", diz o curador Felipe Scovino. Ele também conta que, entre as principais mudanças incorporadas pela pintura contemporânea, está a capacidade de comunicação com outros campos artísticos, permitindo uma série de experimentos. "Essa é uma discussão que está acontecendo em vários lugares. A exposição traz um recorte da produção recente. Através das obras de Álvaro Seixas, Hugo Houayek e Rafael Alonso, podemos entender um pouco essas transformações vividas pela pintura, e a maneira como ela se tem modelado".
Por um equilíbrio de forças por Luisa Duarte, O Globo
Por um equilíbrio de forças
Matéria de Luisa Duarte originalmente publicada no Segundo Caderno do jornal O Globo em 19 de setembro de 2011 e replicado no blog Cubo Branco.
Em meio ao frenesi da ArtRio, é hora de pensar na fragilidade dos outros pontos do circuito
O desejo não é fazer o papel de quem vem estragar a festa munida de algum tipo de frustração ou recalque. Nem de longe são estes os afetos que mobilizam esse texto. Mas sim uma necessidade de se instaurar um debate em meio ao alarido causado pelo sucesso da feira ArtRio, ocorrida na semana passada. Um êxito de vendas e de público – segundo a organização foram negociados em vendas de obras cerca de R$120 milhões e mais de 30 mil pessoas estiveram nos armazéns ao longo dos cinco dias de evento.
Antes de mais nada, faço coro aos que elogiam a feira, estive lá e, de fato, parecia muito bem produzida e organizada, bem como acho fundamental que o Rio de Janeiro volte a ter um papel relevante no circuito da arte do país depois de anos e anos eclipsado.
Uma feira é um dos vetores de um circuito de arte. O valor cultural e econômico de um trabalho de arte é estabelecido por uma espécie de rede que inclui diversos agentes – galerias, colecionadores, curadores, recepção do público, museus, instituições, jornalistas, críticos. O mercado tem um lugar nessa rede que valida artistas e suas obras, mas em um circuito desequilibrado como o nosso o lugar ocupado pelo mercado está, hoje, grande demais. E o problema não está no mercado, este faz cada vez melhor o seu papel. O problema está em outros pontos do circuito. Em um cenário no qual museus e instituições são extremamente frágeis, no qual acervos e coleções públicas são escassas, no qual o espaço para a crítica de arte é cada vez menor, em um cenário como este é preciso parar e pensar quando se testemunha um frenesi como o que se viu durante e após o sucesso da ArtRio.
Artistas se referindo ao evento como um “momento mágico”... Menos, menos. Seu sucesso é inquestionável e sua existência bem vinda. Mas será que a mesma elite econômica da cidade e do país que foi até a feira gastar o seu dinheiro tem olhos abertos para as instituições da sua cidade e do seu país – como vai o MAM, como vai o MASP? Vejam bem, acho que feira é feira, espaço não de reflexão e educação, mas de venda e compra de arte - mesmo que espaços curados como os Solo Projects promovam um respiro “reflexivo”. Assim, não reclamo para a feira um papel que não é o dela, mas reclamo da sociedade, de nós mesmos, dos agentes do circuito e do poder público – forte aliado da ArtRio – um olhar mais atento para as fragilidades do circuito como um todo.
No circuito do país, tanto o espaço para o exercício da crítica é escasso, quanto a formação de acervos públicos é frágil. A crítica é um lugar no qual elementos como aposta e dúvida têm vez. A presença da crítica é fundamental na constituição de um espaço público da arte. Na crítica existe a chance de se rever o consenso e contribuir para uma história da arte que nem sempre coincide com aquela desenhada pelo mercado. Já as coleções públicas de museus e instituições são os lugares por excelência para se contar uma história da arte e, consequentemente, os lugares para uma educação do olhar. Sem falar que espaços de ponta como um MoMa (Nova York) e uma Tate Modern (Londres) são hoje verdadeiros chamarizes turísticos de suas cidades. Só que, nestes casos, existe a inteligência de se aliar o turismo que rende dinheiro, com um papel consciente de elites econômicas que contribuem para a existência daquelas coleções públicas. No Brasil as elites econômicas ainda não têm essa consciência. É exemplar o caso do MASP. Na última década o museu chegou a ter a luz cortada por falta de pagamento quando era então presidido por Julio Neves, por sua vez arquiteto do edifício que abrigava a Daslu, o então maior complexo de vendas de roupas de luxo do país. Proximidade com os donos do dinheiro nunca faltou ao MASP. Mas se pergunte se alguém, algum dia, hesitou em gastar R$ 10.000 em uma roupa ou, no lugar disso, contribuir minimamente para o acervo do MASP ou a manutenção do maior museu da sua cidade e empreender assim um papel de cidadão que intervém no destino público da arte realizada no país em que vive e no qual crescerão os seus filhos?
A maior coleção de arte construtiva do Brasil, de Adolpho Leirner, foi oferecida mais de uma vez para instituições brasileiras. Nenhuma delas se interessou ou encontrou condições para viabilizar a compra. Resultado, a coleção encontra-se hoje em uma instituição norte-americana. O mesmo ocorreu com parte da obra de Helio Oiticica. Esses fatos relatam a nossa própria incapacidade de preservar e exibir tesouros da nossa cultura. Estes seriam passos fundamentais para a formação de um país, de uma cultura, e da gente que aqui vive.
Em um circuito de arte cujas forças são tão desequilibradas como é o caso do Brasil é preciso, em meio ao frenesi causado pelo evento ArtRio, recordar a nossa precariedade de fundo. A arte tem, em si mesma, uma capacidade de crítica, de ruído, de atrito com o mundo – “I shop therefore I am”, trabalho de Barbara Kruger que ilustra esse texto fala criticamente sobre a arte como mercadoria mimetizando a lógica da publicidade. Não edulcorar a relação entre arte e mundo, não domesticar a arte, é também o que pode ocorrer quando temos um circuito mais equilibrado. Ou seja, temos em mãos o desafio de instaurar um contexto no qual o descompasso entre os diversos vetores que constituem o circuito da arte seja menor. Para isso é preciso ter olhos abertos para perceber a importância de uma feira de arte, bem como também notar a fragilidade do contexto no qual ela está inserida.
setembro 20, 2011
A Reinvenção da Paisagem por Mario Gioia, Bravo!
A Reinvenção da Paisagem
Matéria de Mario Gioia originalmente publicada no caderno de Artes Visuais da revista Bravo! em setembro de 2011.
As Bienais de Curitiba e do Mercosul têm por tradição revelar novos artistas. Entre eles, criadores que tratam de forma inovadora um gênero tradicional.
Dois eventos importantes do calendário das artes visuais do país passam a coincidir as datas a partir deste ano, tornando a região sul um ponto de encontro para apreciadores e colecionadores. Tanto a Bienal do Mercosul, que chega à oitava edição, quanto a VentoSul, mais conhecida como Bienal Internacional de Arte Contemporânea de Curitiba, na sexta edição, costumam apresentar artistas que prometem despontar no circuito em um futuro bem próximo. Entre os jovens nomes apontados pelas mostras neste ano, dois se destacam por indicar uma tendência forte na produção artística atual. Marcelo Moscheta e Marina Rheingantz, cada um a seu modo, reinventam o tradicional gênero da paisagem.
Nascido em São José do Rio Preto, no interior de São Paulo, Moscheta explora os mais diversos suportes: desenho, objeto, instalação, gravura, fotografia. E apesar de já desfrutar de grande prestígio em espaços mais tradicionais da arte – ele tem obras no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro e na Pinacoteca do Estado de São Paulo – ele prefere explorar lugares distantes dos grandes centros. Foi na fronteira entre o Rio Grande do Sul e o Uruguai que Moscheta concebeu o trabalho exposto agora na Bienal do Mercosul. O artista percorreu mais de 2,5 mil km coletando e catalogando rochas, marcando coordenadas, lavando as peças e pensando em como apresentar isso numa exposição. O resultado está em uma instalação que envolve as próprias pedras encontradas no caminho, desenhos de viagem e cartazes. “Essa experiência de viajar e conviver com entornos agrestes despertou o seu interesse em retratar a memória de um lugar, elaborando um procedimento de classificação similar ao arqueológico”, diz a chilena Alexia Tala, curadora adjunta da bienal.
Pintura de memória
Já Marina Rheingantz dedica-se à pintura, que usa como um diário de memórias pessoais. Seu estilo tem chamado a atenção de instituições – uma de suas grandes telas integra o acervo da Pinacoteca do Estado de São Paulo –, de colecionadores – há muita procura por seus quadros na galeria paulistana Fortes Vilaça – e de exposições coletivas importantes, caso da 6ª VentoSul. Paulista de Araraquara, Marina apresentará em Curitiba uma série de novas telas que remetem ao período em que morou no Chile, em 2005, e registram paisagens andinas. “Faço uma pintura de memória”, diz ela, que usa menos a fotografia como referência, se comparada a outros nomes elogiados de sua geração, como Ana Prata, Rodrigo Bivar e Rafael Carneiro. Todos eles renovaram em alguma medida a pintura nos últimos anos e foram notados pela crítica e pelo mercado.
Malba completa dez anos em Buenos Aires por Silvia Colombo, Folha de S. Paulo
Malba completa dez anos em Buenos Aires
Matéria de Silvia Colombo originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 20 de setembro de 2011.
Museo de Arte Latino-Americana, casa do 'Abaporu' de Tarsila, promove seminário e exposição especial para a data
Criado pelo empresário Eduardo Costantini, museu abriga obras de Diego Rivera, Torres-García e Antonio Berni
A casa do "Abaporu" está em festa. Começam amanhã as comemorações dos dez anos da abertura do Museo de Arte Latino-Americana de Buenos Aires, ou Malba, como é conhecido.
A tela de Tarsila do Amaral é uma das estrelas da exposição, repaginada para a celebração, junto a obras de grandes nomes da arte do continente, como Diego Rivera, Xul Solar, Torres-García, Antonio Berni, Wilfredo Lam, entre outros.
Integram também os festejos uma mostra do venezuelano Carlos Cruz-Diez e um seminário que reunirá curadores de diferentes museus pelo mundo, como o MoMA, de Nova York, e o Museum of Fine Arts, de Houston. Do Brasil, virão Marcelo Araújo, da Pinacoteca, e Rodrigo Moura, do Instituto Inhotim.
O Malba foi criado pelo empresário do ramo imobiliário Eduardo Costantini, 65, a partir de sua coleção particular, na época com 228 obras.
"Eu pensava em colecionar até o fim da vida e depois doar tudo para um museu já existente", contou à Folha, em Buenos Aires. Costantini, que fala baixo e sorri muito, disse que mudou de ideia quando surgiu a oportunidade de comprar o terreno no qual hoje está o museu, na avenida Figueroa Alcorta, em Palermo.
"Esse lugar pedia um museu. Está perto dos parques, numa avenida de grande visibilidade." Adquirido o espaço, foi realizado um concurso, do qual saiu vencedor o projeto dos arquitetos argentinos Gastón Atelman, Martín Fourcade e Alfredo Tapia.
A coleção então cresceu e hoje conta com mais de 500 obras. O museu se expandiu para outras áreas. Possui um cinema cuja programação se volta para a produção independente e que sediará um festival só com produções latino-americanas.
O Malba também planeja crescer espacialmente: há um projeto de expansão subterrânea, sob a praça República del Perú, ao lado do prédio principal.
Costantini conta que tem uma relação especial com o "Abaporu" (1928), tela que adquiriu em Nova York, nos anos 90, por US$ 1,4 milhão.
O empresário viajou recentemente ao Brasil com a tela, para que o quadro participasse de uma mostra em Brasília, a convite da presidente Dilma Rousseff.
"Sempre me perguntam por que eu não vendo o 'Abaporu' para o Brasil, toda hora me fazem propostas", conta Costantini. "Mas não quero vender. O que sugeri à presidente foi que ela estimulasse um grupo de empresários brasileiros a fazerem um Malba em São Paulo. Aí eu levaria o 'Abaporu' e outras obras."
Os planos, porém, parecem ter ficado por aí. "Quando disse o valor que seria necessário para o investimento, acho que ela se assustou", conclui Costantini, rindo.
Bienal levanta fundos com estrelas e jantar por Sílas Martí, Folha de S. Paulo
Bienal levanta fundos com estrelas e jantar
Matéria de Silas Martí originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 20 de setembro de 2011.
Na mostra que celebra os 60 anos da Bienal de São Paulo, o foco está naquilo que não foi visto em profundidade nas últimas 29 edições.
Além de Jeff Koons, a exposição "Em Nome dos Artistas" vai ocupar todo o pavilhão da Bienal com obras de megaestrelas da arte contemporânea, como Damien Hirst, Matthew Barney, Cindy Sherman e Richard Prince, do museu Astrup Fearnley, de Oslo. "Essa produção é muito robusta e foi pouco vista no Brasil", diz Heitor Martins, presidente da Fundação Bienal. "Ela pode preencher uma lacuna no circuito expositivo."
Tentando dar cabo de outra lacuna, de orçamento, a Fundação Bienal de São Paulo faz hoje em seu pavilhão um jantar para angariar recursos para a 30ª Bienal, que sofreu com cortes de verbas do Ministério da Cultura. A fundação ainda não obteve autorização para captar os R$ 30,4 milhões da 30ª Bienal. Só com o jantar de hoje, com convites a R$ 5.000, garantiu R$ 1,8 milhão.
Michelangelo 3.0 por Silas Martí, Folha de S. Paulo
Michelangelo 3.0
Matéria de Silas Martí originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 20 de setembro de 2011.
Quando tinha 17 anos, Jeff Koons ligou para um hotel em Nova York para falar com o hóspede Salvador Dalí (1904-1989). Foi atendido, e logo o garoto estava frente a frente com o surrealista espanhol.
"Ele vestia um casaco de pele de búfalo e um prendedor de gravata cravejado de diamantes", conta Koons em entrevista à Folha. "Decidi naquele momento que também seria um artista assim."
Koons soube moldar a extravagância a seu favor e segue uma lógica hiperbólica: excessos kitsch, vulgaridade e total falta de vergonha.
Na virada do século, esse americano de 56 anos foi um dos pivôs da entrada das artes visuais na indústria do entretenimento, com poderosas linhas de montagem, orçamentos inflados e estratégias agressivas de marketing que emulam as de Hollywood. Os valores de suas obras -uma delas foi arrematada, em um leilão há três anos, por nada menos que US$ 26 milhões (R$ 46 milhões)- poderiam até bancar um filme.
Entre seus trabalhos mais conhecidos estão cachorrinhos metálicos gigantes, esculturas e pinturas em que aparece transando com a estrela pornô Cicciolina, sua ex-mulher, e uma estátua dourada de Michael Jackson com seu chimpanzé de estimação. Treze de suas obras serão exibidas no país na mostra em homenagem aos 60 anos da Bienal de São Paulo, que começa na próxima terça com um amplo apanhado da arte-espetáculo surgida nos Estados Unidos pré-crise.
"Na cultura americana, você não é artista se não dialoga com Hollywood", resume Koons. "Por isso contratei a Cicciolina como modelo, a mulher como 'ready-made'."
Foi na sessão de fotografias em seu estúdio, diante de 150 assistentes, que ele caiu de amores pela ex-atriz pornô. "Flertamos e ficamos muito apaixonados."
Embora vendido ao mercado da arte como fotogramas de uma fita pornográfica que nunca existiu, Koons chama a série que fez com Cicciolina de diálogo franco com o barroco e o rococó, enxergando ali, sem modéstia, ecos de mestres franceses como Fragonard, Boucher e Manet.
"Sou um artista romântico, não gosto de ficar sozinho no ateliê. Por isso, estou rodeado de gente que me apoia nessa estética", diz Koons. "Não é uma fábrica, não fazemos produtos. Pensamos cada trabalho com o maior grau possível de poesia."
E também a maior escala possível de grandeza. "Nunca faço nada grande só para ser grande, mas certas ideias merecem mais força", afirma. "Sei que artistas competem com política, com a indústria do entretenimento, e sempre quis estar na linha de frente." Se a América adotou celebridades como figuras de culto, Koons esculpiu o ícone desse movimento.
Michael Jackson e seu macaquinho Bubbles são feitos de cerâmica dourada, posando juntos num chão forrado de pétalas de flor reluzentes.
"Ele é uma espécie de Cristo contemporâneo, o tipo de adulação que damos a celebridades é semelhante ao culto a figuras espirituais no passado", diz Koons. "De certa forma, essa obra é próxima da 'Pietà' do Michelangelo."
Leia íntegra da entrevista
folha.com/no977440
setembro 19, 2011
Onda permanente por Nina Gazire, Istoé
Onda permanente
Matéria de Nina Gazire originalmente publicada na seção de Artes Visuais da revista Istoé em 16 de setembro de 2011.
FAD - 5º Festival Internacional de Arte Digital/ Museu Inimá de Paula, BH/ até 2/10; 2ª Mostra 3M de Arte Digital/ Memorial da América Latina, SP/ até 2/10
Foi-se o tempo em que arte digital era novidade no Brasil. Hoje esse circuito está tão estabelecido que dois festivais acontecem simultaneamente em duas capitais brasileiras. O FAD – Festival de Arte Digital está em sua quinta edição e tem sempre como sede a cidade de Belo Horizonte. “Hoje possuímos um edital público do qual temos cerca de 60% de participação de brasileiros contra 40% em 2008”, comenta Tadeus Tee, diretor do festival. Com o tema centrado na cinética, o evento alavanca novos nomes da arte digital brasileira, como o artista e publicitário carioca Cadu Lacerda, que participa com a obra “Parassimétrica”, um código computacional que transforma a digitação das letras e números em cortes de uma escala cromática.
“Se você olhar a produção nacional em relação ao volume de obras internacionais, nós teremos menor quantidade. Mas, em qualidade e técnica, estamos cada vez mais próximos dos estrangeiros”, comenta Julius Wiedmann, editor da Taschen e curador da segunda edição da Mostra 3M de Arte Digital, que acontece em São Paulo. Com o boom de exposições e festivais dedicados à arte digital, Wiedmann aponta que é cada vez mais necessário buscar um diferencial curatorial. Assim, nem tudo o que ele expõe pertence ao universo digital. “Na mostra, há obras feitas com tecnologia analógica, mas que questionam a influência do digital no mundo em que vivemos”, afirma. Outra intenção da Mostra 3M é a de apontar o perfil dos artistas que trabalham com arte digital. “No Brasil, eles geralmente tinham formação em artes, mas isso está começando a mudar agora”, comenta Wiedmann. Exemplo é o designer brasileiro Paulo Barcellos, que realiza uma série de trabalhos focados na criação de interfaces entre humanos e computadores. Seu “Colors of Movement” é uma experiência interativa que revela através das cores o espectro total dos movimentos de quem se posiciona em frente à obra. “O importante na arte digital é a sua interdisciplinaridade e acho que isso é que deve ser mostrado. Não basta a tecnologia pela tecnologia”, enfatiza o curador.
Entrevista Julius Wiedmann-curador da 2º Mostra de Arte Digital 3m
Você pode apontar quais foram são as diferenças entre a primeira e a segunda edição do Festival 3M?
As diferenças são grandes. Nesta segunda edição nos voltamos para uma curadoria de arte contemporânea feita a partir de plataformas digitais. Na primeira edição foi voltada para outro tipo de produção, como propagandas e animações feitas em plataforma digitais. Agora, quisemos olhar para os artistas contemporâneos cuja produção foi feita a partir de plataformas digitais. Inclusive, na mostra, existem algumas obras que executadas com tecnologia analógica, mas de alguma maneira, dialogam com a lógica contemporânea do mundo digital em que vivemos.
A produção brasileira vem se equiparando em relação a produção internacional, tanto em quantidade quanto em qualidade. Existe algum diferencial entre a produção brasileira e a produção internacional?
Se você for olhar a produção nacional em relação ao volume de obras produzidas no campo digital em relação ao internacional, nós teremos menos quantidade. Temos artistas incríveis e de grande qualidade, como por exemplo, o Márcio Ambrósio que está participando de uma residência na Bélgica, ou até mesmo o Paulo Barcelos, que está na Mostra 3M. Acho que estamos chegando junto dos estrangeiros. A diferença é a tradição internacional dos grandes centros de produção como os Medialabs da Europa e EUA. Lá como a disponibilidade de recursos para esse tipo de produção é maior, obviamente, é lá também que estão os grandes expoentes. Tradicionalmente, no Brasil, os artistas vêm das escolas de arte. Lá fora, isso necessariamente não acontece. O Jonathan Harris, por exemplo, não estudou em uma escola de artes_ ele é formado em computação. Na exposição temos artistas formados em Ciências da Informação, Engenharia e outros artistas que não possuem artes na formação, mas que por estarem em um campo ligado ao digital, acabam se voltando para as artes. Aqui isso está começando agora. São poucos os artistas brasileiros que não possuem a formação em artes, mas que trabalham com ela. Na mostra 3M também temos artistas cuja formação é em design. Os artistas mais novos é que estão começando a participar dessa tendência. Eu acho que um artista é um artista independente de sua formação. A diferença é que lá fora, ainda, você tem possibilidades de execuções mais grandiosas. Mas em termos de criatividade e técnica acho que estamos chegando junto da produção estrangeira.
Entrevista com Tadeus Tee – Diretor do 5º Festival de Arte Digial-Belo
Atualmente estamos vivendo um boom de festivais dedicados a arte digital no país. Como você avalia isso? Qual é o diferencial do FAD em relação a outros festivais do gênero?
Eu sempre digo às pessoas que no caso de Belo Horizonte, neste fenômeno que é global, a cidade tem mostrado certa vocação para arte através das mídias. Hoje abrigamos cerca de 10 ou 12 ações distribuídas ao longo do ano. Entre projetos de residência artística aos festivais de pequeno e médio porte como é o caso do FAD. Claro que temos uma centralização de ações em São Paulo e Rio de Janeiro, mas não vejo de forma isolada, cidades como Belém, Porto Alegre, Salvador entre outras. No FAD 2010, por exemplo, tivemos a presença de três artistas do norte e nordeste do País. A Arte é também o reflexo de uma sociedade no seu mais amplo campo de atuação e representação. O número crescente de fóruns, simpósios, festivais, feiras e eventos midiáticos e artísticos é o espelho do que vivemos diariamente, do que está inserido incondicionalmente, muitas vezes, na vida das pessoas. Apesar de falarmos de arte digital e parecer que tratamos do futuro, em sua maior parte estamos retratando mesmo é o presente. O FAD em Minas Gerais se diferencia por dois pontos; A valorização artística vem antes da valorização tecnológica; O FAD fomenta a produção e possui grande preocupação na formação de novos artistas e pensadores ou técnicos digitais através das ações do educativo e disponibilidade para novos nomes nas atividades do festival.
Por se tratar de um festival internacional de arte digital, muitos artistas estrangeiros participaram dessa edição e de outras anteriores. Você acha que existe alguma diferença entre a produção brasileira na área e a de outros países?
Existe. As principais diferenças partem do domínio sobre as ferramentas. Não é geral, mas na maioria das circunstâncias quando se obtêm o domínio técnico, o resultado final é diferenciado. Neste ponto os estrangeiros são estudiosos. O Brasileiro é mais prático. Da tentativa e erro, mais do que do estudo. Não falo de estética, pois o Brasil tem suas peculiaridades que por sua vez vem de influências da própria cultura que estamos inseridos. No âmbito dos conceitos, teorias e ensaios, os Brasileiros tendem a dominar melhor a linguagem teórica para seus trabalhos e ações, conseguindo uma equivalência, comparativamente, na proposição dos seus trabalhos. Isso mesmo que a distância, por exemplo, entre a baixa e a alta tecnologia se explique ainda por fatores econômicos, mas que nem sempre podem ser usados como justificativas. O acesso é em dúvida uma barreira, mesmo em tempos de Google e outras facilidades. A forma como a arte digital no Brasil se iniciou, vinda em sua maioria da influência dos grandes nomes da video-arte, também influencia na técnica a na estética.
Arte questiona fome e miséria, Jornal do Commercio
Arte questiona fome e miséria
Matéria originalmente publicada no caderno Cultura do Jornal do Commercio em 17 de setembro de 2011.
Duas intervenções movimentaram o Mercado de São José
Quem circulou pelas redondezas do Mercado de São José e da Igreja Nossa Senhora da Penha, durante o final da tarde da última sexta-feira (16), certamente se deparou com uma cena incomum. Os protagonistas dela, porém, não eram desconhecidos de ninguém. Talvez apenas para quem costuma andar pelo Recife sem notar sua gente.
Moradores de rua do bairro de São José foram convidados pelo carioca Rubens Pileggi para participar da intervenção X da questão, que se propôs a levantar questionamentos sobre a fome e a miséria de uma forma bastante crua. No mesmo ambiente, a performance Veste nu, dos artistas Daniel Toledo e Ana Hupe, também chamou a atenção dos transeuntes por um motivo óbvio: os dois circulavam pelo local com um macacão estampado com as imagens de seus próprios corpos nus.
Arqueologia de imagens por Suzana Velasco, O Globo
Arqueologia de imagens
Matéria de Suzana Velasco originalmente publicada no caderno Cultura do jornal O Globo em 19 de setembro de 2011.
Libanês Akram Zaatari, que recolhe a História nos arquivos pessoais, apresenta cinco trabalhos na Bienal de Istambul
ISTAMBUL - Quando o libanês Akram Zaatari começou a filmar em Beirute, no início da década de 1990, a cidade vivia um momento de efervescência cultural, uma esperança com o fim da Guerra do Líbano que se refletiu na criação e misturou as artes na capital. O artista formado em arquitetura que fizera seu mestrado em estudos de mídia em Nova York, porque nos anos 1980 não havia escolas de cinema no país, não precisava mais sair de Beirute. Zaatari trabalhou na TV, fez curtas-metragens, muitos filmes documentais e, quando se deu conta, carregava a classificação de artista. Com seu interesse pelo documental, aproximou-se da fotografia, mas nunca abandonou o audiovisual, como no recente vídeo "Amanhã tudo ficará bem", um dos destaques da 12a Bienal de Istambul, que foi aberta anteontem para o público com curadoria do brasileiro Adriano Pedrosa e do costarriquenho Jens Hoffmann.
Com uma linguagem que se separa de suas obras mais documentais, ele é um dos cinco trabalhos de Zaatari na bienal, e será apresentado na 17a edição do festival VideoBrasil - do qual o artista já participou cinco vezes -, que começará no dia 30 deste mês, em São Paulo.
- Gosto do trabalho de campo, de conversar com as pessoas, fazer muitas perguntas, perguntas que geralmente ninguém faz - diz Zaatari, entre goles de chá turco, num café em frente à bienal. - Levo minha prática documental ao meu trabalho artista. Não estou interessado em construir ficções, mas em sustentar imagens na realidade. Meu trabalho é como o de um arqueólogo, de escavar informação.
A arqueologia de Zaatari se evidencia em quase todas as obras expostas na Bienal de Istambul. "Sem título (O livro de cartas de família e amigos de Nabih Awada)" surgiu de uma dessas conversas de prospecção, com um prisioneiro político comunista libanês em Israel que montou um livro com as cartas recebidas na prisão, onde ficou entre 1988 e 1998, dos 16 aos 26 anos. A obra, que consiste em imagens do livro, revela uma das marcas do artista, de recolher a História nos arquivos pessoais - uma marca forte também desta Bienal de Istambul.
Zaatari conheceu a família de Nabih Awada quando fez um filme sobre prisioneiros políticos em Israel, para o qual coletou cartas dos presos. No fim dos anos 1990, as filmagens, que dominavam seu trabalho, começaram a dividir espaço com essa "fotografia arqueológica". Em 1997, o artista foi um dos criadores da Arab Image Foundation (Fundação Árabe da Imagem), uma organização sem fins lucrativos destinada a pesquisar e preservar a fotografia do Oriente Médio, do Norte da África e de comunidades árabes pelo mundo. Ele foi atrás de álbuns de família, revirando fotos e mais fotos e buscando entender como e em que contexto elas foram tiradas. E assim esse método invadiu seu trabalho, uma arqueologia de imagens refletida em imagens.
Depois de escavar arquivos de fotos e colecioná-las, Zaatari se torna um editor, e então reconhece que constrói ficções, e não apenas revela informações neutras ao espectador. Na série de fotos que domina a sala dedicada ao artista na bienal, casais posam para a câmera do estúdio fotográfico Shehrazade, que existiu por mais de 50 anos em Saida, cidade libanesa onde o Zaatari nasceu. Desde 1999, ele se debruça sobre os negativos do estúdio, de cerca de um milhão de imagens, a maioria feitas pelo dono do local, Hashem el Madani. Grande parte dos parceiros de "Práticas de estúdio - Casais" é formada por pessoas do mesmo sexo, que ora posam lado a lado, ora beijam-se na boca ou brincam de marido e mulher com véus de noiva.
- Queria entender o papel de um estúdio fotográfico numa cidade conservadora como Saida. As imagens que selecionei mostram como as pessoas usam aquele espaço como um teatro, onde podem atuar. Não há como não interpretar esses registros com os olhos de hoje. Mas não podemos saber se são casais ou estão apenas brincando - diz o artista, cuja sala individual na bienal faz parte do núcleo sobre identidade e sexualidade, temas recorrentes em sua obra.
Pistas são dadas por observações de Madani que Zaatari exibe ao lado das imagens. O dono do estúdio diz que de todos os casais se beijando que fotografou apenas um era heterossexual - e, mesmo assim, o homem roubou o beijo na hora do clique. A partir das imagens do Shehrazade, o artista criou ainda o vídeo "Mãos em repouso", acentuando a posição da mão dos fotografados. Outra série do projeto "Práticas de estúdio", montada por Zaatari com fotos de Madani e exibida na bienal, mostra homens e mulheres que pagaram ao estúdio para ter fotos suas carregando armas.
Em meio a essas obras de pesquisa, surgem as ficções intencionais, como o poético vídeo "Amanhã tudo ficará bem", um diálogo entre dois amantes que se separaram há dez anos e conversam de longe em tempo real, como num chat de internet, mas com a escrita - e o tempo lento - da máquina de escrever. Há uma expectativa de reencontro, simbolizada por cenas do pôr do sol de 30 e 31 de dezembro de 1999 - imagens entre os muitos crepúsculos que Zaatari já filmou e guardou. O vídeo é dedicado ao cineasta Eric Rohmer, em cujo filme "O raio verde" uma mulher observa o pôr do sol, esperando o raio verde, que representa a esperança daqueles que o conseguem ver. Para o artista, a obra fala da esperança de encontro, a mesma que leva em suas perguntas a cada trabalho de campo.
- A minha geração encontrou muitas formas de produzir. Éramos teimosos, tínhamos a expectativa de mudanças com o fim da guerra - diz Zaatari. - Hoje a arte no Líbano é uma elite, mas é o espaço em que as pessoas podem dizer o que quiserem. Não tenho esperança na política, acredito que a arte hoje seja o único modo de se pensar os hábitos sociais, as possibilidades políticas, a História.
Caráter intimista e minimalista dá ritmo repetitivo a bienal turca por Fabio Cybriano, Folha de S. Paulo
Caráter intimista e minimalista dá ritmo repetitivo a bienal turca
Matéria de Fabio Cybriano originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 17 de setembro de 2011.
A 12ª Bienal de Istambul, organizada pelo brasileiro Adriano Pedrosa e pelo costa-riquenho Jens Hoffmann, que abre hoje na Turquia, abandonou todo caráter espetacular de um evento desse tipo.
Ao invés de obras grandiosas e montagens sensacionalistas, ela se organiza de forma intimista em 59 salas: 54 com mostras individuais de artistas; cinco com coletivas.
"Sem Título (12ª Bienal de Istambul)", que fica em cartaz até 13/11, pretende ser tão minimalista e sofisticada como as obras do cubano Felix Gonzalez-Torres (1957-1996), reconhecido por tratar questões pessoais, como sua homossexualidade, e político-sociais com um grande rigor formal.
No entanto, com sua montagem elegante, de pequenos ambientes revestidos em alumínio -criação de Ryue Nishizawa-, a Bienal se assemelha de fato à casa de um colecionador, com obras em pequenos formatos, plasticamente impecáveis, o que dá ritmo um tanto repetitivo à exposição.
O exercício retórico se acentua com os temas das coletivas. Em "Death by Gun", nome do trabalho de Gonzalez-Torres que se refere a vítimas de armas de fogo, a mostra reúne basicamente obras com armas, como a emblemática "Shoot", de Chris Burden.
Assim, a Bienal parece contradizer sua inspiração, sendo demasiadamente explícita, o que, para o público, pode ser bastante educativo.
Istambul homenageia Gonzalez-Torres por Silas Martí, Folha de S. Paulo
Istambul homenageia Gonzalez-Torres
Matéria de Silas Martí originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 17 de setembro de 2011.
Obras do artista cubano-americano morto há 15 anos inspiram exposições da bienal que começa hoje na Turquia
Três de seus trabalhos estarão na mostra que comemora os 60 anos da Bienal de São Paulo que começa no dia 27
Em 1997, um ano depois de sua morte, Felix Gonzalez-Torres foi um dos artistas centrais na Bienal de Istambul. Suas ideias servem agora de matriz conceitual da edição da mostra que começa hoje.
Sem expor nenhum de seus trabalhos, os curadores usaram cinco propostas de Gonzalez-Torres para balizar a mostra em torno de conceitos como fronteiras, doença, amor e morte.
Esse cubano-americano é conhecido por dar medidas do corpo humano e aspectos autobiográficos à secura matemática do minimalismo que varreu os EUA nos anos 60.
Nesta Bienal de Istambul, suas abstrações são comparadas às esculturas metálicas da brasileira Lygia Clark, pioneira do neoconcretismo, movimento que privilegiou aspectos orgânicos do corpo em detrimento da exatidão industrial do construtivismo.
Theo Craveiro, jovem artista que explora o legado de Clark e Hélio Oiticica, está no mesmo núcleo da mostra, contrapondo o vigor da vida à racionalidade mais dura dos minimalistas.
"São artistas que trabalham questões políticas e sociais", disse Pedrosa à Folha enquanto preparava a Bienal de Istambul. "Mas partem do político com preocupações visuais, formais e estéticas."
SÃO PAULO
Enquanto na Turquia as obras se articulam como eco do pensamento de Gonzalez-Torres, a mostra em homenagem aos 60 anos da Bienal de São Paulo, que começa para convidados no dia 27, terá três de suas obras.
Uma cascata de luz, uma pilha de folhas de papel e um tapete de balas embrulhadas em celofane azul vão estar no pavilhão da Bienal como exemplos dessa estética frágil e corporal explorada por Gonzalez-Torres.
No chão, as balas, que o artista pede que sejam comidas pelos visitantes, somam 130 quilos, o peso dele e do amante, que morreram em decorrência da Aids nos anos 90.
Era sua metáfora para um corpo consumido pela doença, só que mascarado e diluído em algo doce e brilhante.
Os vizinhos do Museu de Arte Contemporânea por João Grandino Rodas, Folha de S. Paulo
Os vizinhos do Museu de Arte Contemporânea
Matéria de João Grandino Rodas originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 12 de setembro de 2011.
Se a USP não opinasse sobre o gigantismo e a inclinação comercial do projeto ao lado do prédio que deve acolher o MAC, faltaria à transparência
A transferência do Museu de Arte Contemporânea (MAC) da USP para um prédio no Ibirapuera seria boa tanto para o MAC, que teria lugar amplo para expor seu acervo, quanto para o parque, que ficaria mais valorizado. O público seria o maior beneficiário. A universidade, que tem entre seus objetivos a prestação de serviços à comunidade, faria apenas sua obrigação. Contudo, há importantes aspectos a serem sopesados por sua administração, sob pena de responsabilização por ação ou por omissão. É intenção do governo abrigar o acervo do MAC em local mais visível, tendo iniciado, há anos, reforma do prédio projetado por Niemeyer. Começaram, então, conversações entre a Secretaria de Estado da Cultura e a USP, sem que, até o momento, tenha sido assinado convênio para a transferência, em razão da demora na reforma (ainda não concluída).
A mudança do MAC acarretará custo de manutenção predial 15 vezes maior do ora despendido pela USP, beirando os R$ 18 milhões por ano. Por se tratar de "joint venture" entre Secretaria da Cultura e USP, nada mais equânime do que a partilha das despesas.
Frise-se que 80 a 85% do orçamento da USP é gasto com pessoal, pouco restando para investimentos em prédios, laboratórios e bibliotecas, pesquisa, bolsas de apoio à permanência estudantil etc. O MAC, para transformar-se em um dos maiores museus de arte contemporânea do globo, necessita de apoio do Estado.
O lançamento do Clube das Arcadas foi feito pelo Centro Acadêmico XI de Agosto, pessoa jurídica privada, em 10 de agosto, nas dependências da USP (salão nobre da Faculdade de Direito). Divulgou-se que o clube teria ginásio de esportes, quadras de tênis, piscina semiolímpica, teatro com 380 lugares, bar, shopping center e estacionamento com 900 vagas.
O art. 2º da Lei Estadual Paulista nº 3.093, de 11 de agosto de 1955, condicionou a doação do terreno ao centro "à construção de praça de esportes, destinada à cultura física dos alunos da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo".
Cabe na letra e no espírito da lei, que não pode ser interpretada extensivamente, a construção de shopping center, teatro e 900 vagas de garagem? É legal e ético que o centro se associe a terceiro, constituindo outra pessoa jurídica privada, com o intuito de explorar comercialmente o espaço doado? É cabível solicitar doações de particulares sem apresentar aprovações da prefeitura a projeto que, por conta da área que abrigará a edificação e da miscelânea de finalidades, é controverso? Tratando-se de área envoltória de bem tombado, não deveria apresentar licença de órgãos como Condephaat e Conpresp?
Diante disso, a USP estava em pleno direito quando oficiou à Secretaria de Estado da Cultura, fazendo perquirições que levassem ambas a meditar antes de assumir a parceria.
Face a empreendimento complexo, que pode parecer ao público como vinculado à universidade, não é estranho nem inamistoso a USP declarar publicamente não ser partícipe nem apoiadora e não ter responsabilidade por ele; tampouco quando pede que o centro e as firmas associadas, ao divulgar o projeto, não o façam nas dependências da instituição e, caso utilizem o complemento "da Faculdade de Direito da USP", destaquem que a USP nada tem a ver com o clube.
Se a USP aderisse à transferência do MAC sem fazer observações sobre o gigantismo e o viés comercial que o projeto vizinho tomou, a partir do lançamento em território da USP, feito por mentores que utilizam seu nome para completar sua identificação, faltaria à transparência e aos princípios republicanos.
JOÃO GRANDINO RODAS é reitor da USP e desembargador federal aposentado
setembro 16, 2011
Uma arte urgente por Camila Molina, O Estado de S.Paulo
Uma arte urgente
Matéria de Camila Molina originalmente publicada no caderno Cultura do jornal O Estado de S. Paulo em 16 de setembro de 2011.
Aberta ontem e sob o tema ''Sem Título'', a 12ª edição está focada na política e se inspira no cubano González-Torres
Isimsiz, em turco, quer dizer "sem título" e é este o tema da 12.ª Bienal de Istambul, inaugurada ontem para convidados na Turquia e que a partir de amanhã poderá ser vista pelo público.
"A exposição é sem título porque o significado está sempre mudando no tempo e no espaço", diz o curador brasileiro Adriano Pedrosa, parafraseando o artista cubano-americano Félix González-Torres (1957- 1996), escolhido como "inspiração" de toda a mostra, que em 2009 teve como mote "O que mantém a humanidade viva?".
A edição da bienal turca, com curadoria de Pedrosa e do costa-riquenho Jens Hoffmann, é limpa e ordenada e traz a presença maciça de artistas do Oriente Médio e também de criadores latino-americanos. É uma mostra que quer tratar de arte e política, mas numa linhagem intimista, sem grandes alardes.
Temas como violência, história, cruzamento de fronteiras e a homossexualidade de González-Torres, que não comparece, propriamente, com obras no evento, são os ramos da 12.ª Bienal de Istambul, que ficará em cartaz até 13 de novembro. "É importante o fato de González-Torres ser um artista latino-americano entre o Norte e o Sul, gay, e que subverte as tradições modernistas da abstração ou do minimalismo com conteúdos urgentes, pessoais, políticos", afirma Adriano Pedrosa sobre a eleição do artista cubano como vetor da exposição.
O caráter intimista desta Bienal, considerada uma das mais independentes e experimentais da Europa, já se dá, à primeira vista, por sua expografia. Pela primeira vez, a mostra, feita a partir do montante de 2 milhões (recursos, na maioria, vindos do poder privado turco) está concentrada nos prédios 3 e 5 do complexo conhecido como Antrepo e não espalhada pela cidade.
Pelo projeto expográfico do arquiteto Ryue Nishizawa (da famosa dupla japonesa Sanaa), os espaços expositivos se transformaram em espécies de contêineres nas cores cinza e branca, leves para o percurso dos visitantes.
Uma maioria de trabalhos sobre papel, fotografias e objetos dá o tom das cinco mostras coletivas da Bienal, indicadas pelos nomes de trabalhos de série de González-Torres: Sem Título (Abstração), Sem Título (Passaporte), Sem Título (História), Sem Título (Morto por Tiro) e Sem Título (Ross) - este, o nome do companheiro do artista cubano que morreu em 1991, vítima da aids. As exposições ramificam-se em pequenas mostras individuais, destacando, assim, alguns participantes.
Já a seleção de artistas brasileiros, até então não divulgados pelos curadores, mistura gerações e, curiosamente, aposta em jovens (e criadores de raiz conceitual) como Jonathas de Andrade (nascido em 1982) - que está em dois segmentos da exposição, representado por suas instalações intimistas feitas com fotografias e páginas de diários -, Clara Ianni (nascida em 1987) e Theo Craveiro (nascido em 1983). Mas há a presença de nomes já consagrados, como Leonilson, Lygia Clark, Lygia Pape, Adriana Varejão, Jac Leirner, Rosângela Rennó, Renata Lucas e Claudia Andujar.
DESTAQUES DA BIENAL
Três Tiros
Um dos momentos de destaque e sutileza do segmento Sem-Título (Death by Gun) é o diálogo entre a capa pop que o artista Roy Lichtenstein criou para a revista Time em 1968 sobre o título Gun In America; três fotografias jornalísticas sobre a execução de um vietcongue em Saigon; e os registros da série Shoot, de Chris Burden, documentando uma performance com tiro em 1971.
Formalistas
Na mostra Sem-Título (Abstração), com grande presença de artistas brasileiros, a sala com a obra Falha (2003), de Renata Lucas, é a criação de um tablado conceitual com formas geométricas de madeira que se liga com os desenhos com retângulos e triângulos de 1977 da húngara Dóra Maurer, figura histórica da Bienal.
Frutas
Maçãs estão disponíveis para o público na obra Sem Título (Natureza-Morta Adiada), do colombiano Gabriel Sierra. A mesma fruta aparece na caixa de vidro com formigas de Theo Craveiro e o cubano Wilfredo Prieto corta uma melancia em Politicamente Correto, de 2009.
História
Em There Has Been a Miscalculation, da mexicana Julieta Aranda, um compressor faz revirar, dentro de uma caixa de acrílico, uma massa de livros de história triturados.
Exposição de esculturas leva a arte contemporânea ao Parque Dona Lindu, Diário de Pernambuco
Exposição de esculturas leva a arte contemporânea ao Parque Dona Lindu
Matéria originalmente publicada no caderno Cultura do Diário de Pernambuco em 16 de setembro de 2011.
Os quase mil visitantes registrados no primeiro dia da exposição Estruturas de convivências, em cartaz desde domingo na Galeria Janete Costa (Parque Dona Lindu), oferecem uma resposta significativa à curadoria de Márcio Almeida e Beth da Matta para obras e esculturas em grandes formatos dos pernambucanos Paulo Meira, Gil Vicente, Marcelo Silveira, Zé Paulo, Eudes Mota e do próprio Almeida, dispostas no andar térreo deste espaço. As esculturas suturam conceitualmente os 10 anos de convivência do Spa e, a tirar pela vernissage, sugerem que o espaço Janete Costa, até agora utilizado apenas para a exposição de Abelardo da Hora, pode se firmar como vitrine de expressões mais conceituais e de familiaridade crescente com o público recifense.
“Um dos critérios foi convidar artistas que de uma forma ou de outra participaram da trajetória dos 10 anos do Spa das Artes. A escolha do título Estrutura de convivências partiu de duas premissas: estrutura enquanto estrutura física e estrutura enquanto sistema. Em relação à estrutura física, trata-se da atenção à realidade material da obra. Em relação à noção de sistema, note que esses artistas compuseram uma geração que é justamente a que pensou o Spa. São criadores que conviveram intensamente no próprio evento”, afirma Márcio Almeida.
Segundo o organizador, a noção de convivência também apresenta outros agenciamentos. “De certa forma, todos os elementos que compõem as obras, são também elementos de convivências do cotidiano: cadeiras de balanço na obra de Gil Vicente; a estrutura cadeira na obra de Eudes Mota, o sobretudo na obra de Paulo Meira, o couro na obra de Marcelo Silveira…”, comenta, fazendo referência às sete obras da mostra, entre as quais Roupas de casa, de Marcelo Silveira, 11 confessionários para 11 de setembro, de Eudes Mota e Elos combináveis, de Braz Marinho.
Já Beth destaca a disposição espacial dos objetos. “Buscamos olhar para artistas que trabalhavam obras tridimensionais. Nesse sentido, a relação com a Galeria Janete Costa é fundamental. Por exemplo, optamos por não ter obras nas paredes para que os espectadores pudessem circular entre e ao redor de cada trabalho”.
Marcelo Silveira explica
Além da obra obra Roupas de casa, exposta em Estruturas de convivências, o pernambucano Marcelo Silveira lança, no próximo dia 24 de setembro, das 17h às 20h, em seu ateliê localizado na Rua do Apolo, 94, o livro Manual dos manuais ou livros das explicações, título em que apresenta textos críticos, entrevistas, imagens de suas obras, assim como uma proposta: o leitor deve descobrir as maneiras de como manusear esta edição gráfica concebida por Priscila Gonzaga.
“A ideia de produzir o livro partiu de um outro trabalho, os manuais de Liêdo Magalhães, além da observação da infinidade de manuais que orientam o indivíduo a fazer todas as ordens de coisas, desde o manual de modos de vida até manuais de como manusear um instrumento”, conta.
“As pessoas em geral não leem os manuais. Primeiro manuseiam o produto e depois partem para os manuais. Já esse manual que apresento é mais do que um produto gráfico é a convivência de pessoas explicando coisas. Por isso que a ideia inicial do título Manual dos manuais foi acrescida de Ou livro das explicações; é um produto gráfico com garras que convidam o usuário a tanto incluir outras informações como descobrir o modo de funcionamento do livro. Tem partes que são dobradas e para ter acesso a todas as informação é necessário descobrir suas regras de funcionamento desses vários formatos de papel, dessa infinidade de imagens de outros trabalhos.”
Na edição destaque para textos de Paula Braga, Fabiana Bruce, Ana Luisa Lima.
“A começar pela sua visualidade, o manual de Marcelo vai além da forma do livro e se afirma como objeto, criação, impressão e publicação artística. Paradoxalmente livro único, porém composto de formatos diversos, muitas maneiras de leituras e vários manuseios. E vai além do próprio artista, quando ele abre mão da condição de único autor e compartilha a autoria com diversos artistas e profissionais envolvidos na feitura desta obra”, sugere a artista Virginia Maria Neves Baptista em apresentação à obra.
Spa das Artes chega ao fim com festa no Dona Lindu, Jornal do Commercio
Spa das Artes chega ao fim com festa no Dona Lindu
Matéria originalmente publicada no caderno Cultura do Jornal do Commercio em 16 de setembro de 2011.
Oito atrações sobem ao palco este domingo (18/09), a partir das 17h
Depois da maratona de eventos dedicados às artes visuais, o SPA 2011 chega ao fim com programação voltada para os ouvidos. A festa de encerramento da décima edição da Semana de Arte leva ao Parque Dona Lindu, a partir das 17h do domingo (18/09), shows de oito atrações pernambucanas.
Entre os convidados, há desde nomes consagrados até novos artistas da cena independente. Exemplo do primeiro caso é cantor Di Melo. Já dentre os novos alternativos, está Tagore, cujo som, com influência udigrúdi, pode ser conferido em seu primeiro EP, Aldeia, lançado este ano. Completam o time as bandas Comunidade Azougue, Pé Preto, Muzambo, Raybans e A Caranava do Delírio, além do cantor Júnior Black.
setembro 15, 2011
Feira de arte no RJ vende R$ 120 mi em obras por Pedro Soares, Folha.com
Feira de arte no RJ vende R$ 120 mi em obras
Matéria de Pedro Soares originalmente publicada no caderno Mercado da Folha.com 14 de setembro de 2011.
Num sinal do crescente interesse pela arte brasileira, a primeira edição da feira ArtRio levou ao píer Mauá, na zona portuária do Rio, 46 mil pessoas e gerou negócios de R$ 120 milhões durante os cinco dias do evento.
Encerrada no domingo, a feira contou com 83 galerias --quase metade do exterior. Nos estandes estavam à venda cerâmicas do espanhol Pablo Picasso, pinturas e esculturas do colombiano Fernando Botero e obras de modernistas brasileiros como Volpi e contemporâneos como Ernesto Neto.
Os números superaram as expectativas iniciais de organizadores, que previam 20 mil visitantes e negócios de R$ 100 milhões. Eles atribuem o sucesso ao fato inédito de o governo do Rio ter concedido isenção de ICMS para todas as obras vendidas, inclusive as comercializadas por galerias estrangeiras.
Em sua edição de estreia, a ArtRio conseguiu bater a SP Arte, pioneira no país, tanto em público como em movimento financeiro.
Realizado em maio, o evento paulistano foi visitado por 18 mil pessoas e girou cerca de R$ 40 milhões, segundo estimativa dos galeristas, já que a organização do evento não divulga um número oficial de negócios.
"Nossa intenção é nos tornarmos a quinta maior feira de arte do mundo", disse Elisangela Valadares, uma das idealizadoras da ArteRio.
Museu de grandes novidades por Paula Alzugaray, Istoé
Museu de grandes novidades
Matéria de Paula Alzugaray originalmente publicada no caderno Artes Visuais da revista Istoé em 9 de setembro de 2011.
Em retrospectiva, Nelson Leirner apresenta trabalho surpreendente produzido durante o ócio
São toneladas de mickeys, patos donalds, gorilas, pokemons, pretos velhos, bolas de futebol e outros ícones-bugigangas da cultura de massa mundial. Eles se multiplicam à profusão, saltam de uma escultura para outra, investem contra telas, gravuras, instalações. Embora toda essa matéria visual seja organizada na forma de padrões repetitivos, a novidade e o ineditismo expressos na obra de Nelson Leirner são inesgotáveis. Surpresa e exclamação são as emoções proporcionadas pela retrospectiva “Nelson Leirner 2011-1961=50 anos”, em São Paulo, onde mais de 40 obras apresentam a capacidade de reinvenção permanente de Leirner.
A exposição começa com “Banca de Jornais” (2008), instalação que não deixa dúvidas sobre o caráter apropriacionista, colecionista e duchampiano da obra desse grande artista paulista. Posicionado no corredor de entrada da Galeria do Sesi, o quiosque expõe uma coleção de fascículos e revistas recheadas de brindes e quinquilharias. Além de configurar um “readymade” na melhor acepção do termo (principal estratégia artística de Marcel Duchamp, em que eleva o objeto banal ao cerne da obra de arte), a banca é uma representação simbólica do grande intuito de Nelson Leirner: perguntar “o que é arte”.
Com curadoria de Agnaldo Farias, a mostra avança com pujança, dividindo a obra em três fases: os primeiros anos, a maturidade que o artista alcança com uma obra polimórfica e o grande desfecho, com a instalação inédita “Hobby – Um Nenhum Cem Mil” (2011). O trabalho foi realizado, literalmente, na forma de um hobby: cada um dos cartões que compõem a instalação foi produzido em momentos de ócio e intervalos do oficio artístico. “Sempre falo para mim: preciso colecionar alguma coisa e parar de fazer arte. Não consigo encontrar alguma coisa para fazer. A não ser a coleção que eu fiz do “Hobby”, que para mim não era arte, não tinha essa intenção”, diz Nelson Leirner. O resultado é simplesmente um de seus melhores trabalhos.
Uma semana de fotografia por Nina Gazire, Istoé
Uma semana de fotografia
Matéria de Nina Gazire originalmente publicada no caderno Artes Visuais da revista Istoé em 9 de setembro de 2011.
SP-ARTE/FOTO / Shopping Iguatemi, SP / de 15 a 18/9
Com expectativa de receber cerca de 7 mil visitantes durante os três dias de evento, a SP-Arte/Foto acontece em São Paulo com a presença de 750 obras de 26 galerias brasileiras e internacionais. Com esses números, a feira se consagra como a maior do gênero na América Latina. Neste ano, além de trazer trabalhos raros ou inéditos de nomes consagrados da fotografia, como Thomas Farkas, Caio Reisewitz, o italiano Massimo Vitali e os peruanos Irmãos Vargas, há também a forte predominância da produção de artistas migrantes de outras artes visuais – como escultura, arquitetura e pintura – em trabalhos experimentais com a técnica fotográfica. Um exemplo é “Walldrawing”, da série “Amostras de Arquitetura”, da artista Lucia Koch, representada pela Galeria Nara Roesler. Nessa série, a artista realiza registros de desenhos e grafismos feitos no interior de caixas de papelão. Sob a lente da artista, esses interiores se parecem com grandes ambientes, como salas, quartos e até mesmo cubos brancos de galerias de arte.
Além de apresentar a produção fotográfica contemporânea, a feira conta com um ciclo de palestras e debates gratuitos com artistas e convidados internacionais, como o curador e crítico peruano Jorge Villacorta, uma das maiores autoridades em fotografia latino-americana da atualidade.
Um brasileiro na Berliner Liste por Paula Alzugaray, Istoé
Um brasileiro na Berliner Liste
Matéria de Paula Alzugaray originalmente publicada no caderno Artes Visuais da revista Istoé em 9 de setembro de 2011.
BERLINER LISTE 2011 / Berliner Liste - TRAFO, Berlim / de 7 A 11/9
A Berliner Liste é a maior feira de arte da capital alemã. Expõe mais de cem galerias internacionais e recebe uma média de 13 mil visitantes por edição. Até aí, nenhuma novidade. Poderia ser mais uma feira no hiperinflacionado calendário europeu, mas o fato é que a Berliner Liste tem o notável diferencial de ser reconhecida como a “feira da descoberta” de novos talentos. Isso porque recebe inscrições não só de galerias, mas também de artistas autônomos, sem vínculos comerciais com marchands. Esse é o caso do fotógrafo paulistano Max GPinto, selecionado para expor na 8ª edição da Berliner Liste, na cidade que hoje é tida como a capital da arte jovem mundial.
Entre os 80 artistas expositores, a maioria é natural de Berlim, ou residente na cidade. Mas há também chineses, israelenses, franceses, suíços, russos, sérvios, norte-americanos. Além do brasileiro, nenhum outro latino-americano. Max GPinto expõe pinturas que dialogam com a linguagem da colagem, atualizando tradições que vão do objeto trouvé dadaísta à pop art. Destaque para a série intitulada “Errr”, realizada a partir de apropriações de prints fotográficas da agência Reuters de jornalismo. A intervenção do artista se dá na carga de tinta de impressora que “suja” – ou “pinta”, segundo o ponto de vista – a imagem. “A série remete aos avisos de erros nas impressoras mais antigas. O título vem da foto apropriada e as imagens mostram o nome das agências de notícias. É proposital, talvez tenha a ver com meus dois focos de trabalho, entre arte e jornalismo”, diz Max GPinto, que é pintor, fotógrafo e editor de fotografia da revista ISTOÉ.
Robert Polidori e a beleza entre os escombros por Antonio Gonçalves Filho, O Estado de S. Paulo
Robert Polidori e a beleza entre os escombros
Matéria de Antonio Gonçalves Filho originalmente publicada no caderno Cultura do jornal O Estado de S. Paulo em 14 de setembro de 2011.
Principal nome entre convidados da SP-Arte/Foto fala da sua atração pela ruína urbana
A cada ano que passa, a SP-Arte/Foto ocupa um espaço cada vez maior no nono andar do Shopping Iguatemi. Na quinta edição da mostra, que será aberta nesta quarta-feira, às 16 horas, para convidados (e quinta-feira para o público), mais dez galerias foram incorporadas às 15 que normalmente participam do evento, organizado pela empresária Fernanda Feitosa. A expansão é facilmente explicável por meio dos números: em 2010 as vendas cresceram, atingindo algo em torno de R$ 2 milhões (180 fotos vendidas). "Das novas galerias responsáveis pela expansão do espaço da mostra, nove são novas", revela, destacando entre elas duas estrangeiras, a espanhola Senda, de Barcelona, e a americana 1500 Gallery, de Nova York, que traz para a mostra fotos do canadense Robert Polidori, nome imediatamente associado à catástrofe provocada pelo furacão Katrina, que arrasou a cidade de New Orleans, nos EUA, em agosto de 2005.
Polidori concedeu uma entrevista exclusiva, por telefone, ao Caderno 2, anunciando para 2013 (ou 2014) outra exposição individual no Brasil no Instituto Moreira Salles (a última foi realizada aqui há dois anos pelo mesmo IMS). Aos 60 anos, o fotógrafo já tem um número considerável de discípulos - entre eles o italiano Paolo Ventura, na mostra -, impressionados com suas imagens de casas abandonadas pelos moradores de New Orleans e de aposentos arrasados pelo desastre nuclear de Chernobyl, além das ruínas provocadas pela estagnação econômica de Cuba.
Para a mostra, porém, o fotógrafo não traz ruínas, mas imagens da interminável restauração do Palácio de Versalhes, que acompanha há quase 30 anos e parece longe do fim. "Na verdade, Versalhes está em reformas desde Luís XIV, porque cada sucessor usou o palácio como instrumento político, criando cenários espetaculares para impressionar estrangeiros", observa.
Você costuma associar as imagens de casas em ruínas a uma tentativa de registro histórico que leva em conta a presença espiritual daqueles que viveram nesses aposentos. Há de fato essa dimensão metafísica nesses cômodos, você que leu madame Blavatsky? Seus detratores dizem que as fotos de New Orleans ferem a ética por explorar a tragédia. O que diz disso?
Há de fato essa dimensão metafísica, mas ela tem pouco a ver com Blavatsky e mais com a questão do superego das pessoas que viveram nesses cômodos destruídos e que ainda guardam vestígios delas por meio de objetos com os quais tinham afinidade. A memória da paisagem devastada desses aposentos remete a dois filósofos em particular, Pitágoras e Giordano Bruno, o primeiro como mestre que obrigava os discípulos a memorizar aspectos de quartos vazios - os loci - e Bruno como criador de um sistema de memória que me interessa particularmente. Toda a controvérsia surgida por causa das fotos dos aposentos abandonados de New Orleans não faz o mínimo sentido. Não estetizei a miséria nem desafiei princípios éticos. É antiético ir a um funeral? Essas fotos são documentos históricos como qualquer outro, como um registro de guerra, por exemplo.
No entanto, há uma estranha beleza que emana dessas ruínas, sejam elas as da série Lower East Side de Nova York, que mostra aposentos invadidos após a morte de seus ocupantes, ou dos decadentes casarões de Havana com suas paredes descascadas.
Sim, mas não faço pintura nem cinema e muito menos foto de arquitetura. Parei de fazer filmes quando tomei consciência do que significavam esses aposentos, pois o cinema não consegue provocar o impacto da imagem estática de um cômodo devastado pelo tempo. Definitivamente, não estava tirando vantagem da situação em que se encontram os cubanos, mas acho que Fidel fez pouco para preservar a arquitetura de Havana, que parou no tempo, mais particularmente nos anos 1950. É uma visão incrível, porém provocada pelo imperativo econômico. É diferente dos aposentos do Lower East Side, em que as pessoas morriam nos apartamentos depois depredados por garotos. Não se trata de violar o habitat de ninguém. Não fiz isso nem em Chernobyl nem em New Orleans. Essas fotos de interiores constituem um registro histórico e ao mesmo tempo um réquiem pela catástrofe provocada pelo próprio homem. A cada ano vemos o nível da água aumentar por causa da poluição, da superprodução industrial.
Por falar nela, suas fotos da Índia, de 2007, integram uma série atípica cheia de pessoas e de poucas cenas interiores. Elas o impressionam mais do que antes?
O que me tocou na Índia foi como o arcaico e o moderno convivem. A massa de pessoas nas ruas me impressionou, há gente demais em todos os lugares e vemos que essa é uma situação insustentável, pois o desastre ambiental torna-se previsível num quadro de hiperconsumo de água e energia. A natureza da fotografia é provocar uma modificação instantânea na realidade. Quando você vê um quarto, ele não se move, tem um lado pictórico, uma integração da forma com a metáfora dos cômodos pitagóricos memorizados, o que não ocorre com pessoas em trânsito.
Na mostra SP-Arte/Foto são exibidas fotos da restauração do Palácio de Versalhes, que você acompanha desde 1984. Como você se interessou por ela?
Percebi que, por trás desses projetos de restauração, que vêm desde a época de Luís XIV, persiste uma tentativa de revisionismo histórico. Seus sucessores no trono logo perceberam que era possível usar Versalhes como demonstração de poder, promovendo mudanças permanentes. Interessava-me particularmente o retrato da sociedade francesa colado às paredes de Versalhes como uma espécie de superego coletivo destinado a impressionar e oprimir o olhar estrangeiro.
Há na mostra fotos de Paolo Ventura, que tem obsessão por interiores, e do brasileiro Rogério Canella, que fotografa casas em ruínas. Parecem ser seus discípulos. E seus mestres, quem são?
Conheço o trabalho de Ventura, mas não sei se ele se considera meu discípulo. Creio que os mais próximos são Yves Marchand e Romain Meffre, que fotografaram as ruínas de Detroit após o êxodo da população para os subúrbios provocado pela bancarrota econômica da cidade. Quanto aos meus mestres, Walker Evans permanece como minha referência maior.
Você continua pessimista em relação ao futuro?
Não sei se a palavra é pessimista. Corremos o risco de desaparecer por causa do modelo econômico que adotamos e que torna a situação insustentável. Mas a cultura brasileira parece ter um componente singular, que é essa relação sentimental como o mundo. Admiro também os mexicanos, que influenciaram muito a minha arte.
Romântico, com peso por Nina Gazire, Istoé
Romântico, com peso
Matéria de Nina Gazire originalmente publicada no caderno Artes Visuais da revista Istoé em 2 de setembro de 2011.
O pintor Rodrigo Andrade resgata o elemento soturno do romantismo, em imagens noturnas e muita densidade de tintas
Recuperar a tradição figurativa da pintura romântica em pleno século XXI. Esse foi, em parte, o objetivo do pintor Rodrigo Andrade na sua série de paisagens noturnas denominada “Velha Ponte de Pedra e Outras Pinturas”. O artista apresenta oito obras inéditas, dando continuidade à temática iniciada com a série “Matéria Noturna”, apresentada na 29ª Bienal de São Paulo. “São cenas ou, talvez, situações atemporais por serem imagens de pontes velhas. As pontes são muito pitorescas e propícias para a pintura. São temas supertradicionais e ao mesmo tempo muito vulgares. Você encontra em diferentes períodos da pintura, principalmente no romantismo”, explica.
Para pintar as pontes de pedra, fotografadas durante uma viagem à Escócia, Andrade resolveu fazer também sua própria ponte entre duas tradições distintas da figuração ao unir fotografia e pintura na produção das imagens. Depois de projetar fotografias das pontes sobre as telas de grandes dimensões – algumas com até quatro metros de comprimento –, o artista criava uma máscara com a imagem da foto, onde posteriormente aplicava a tinta a óleo. Essa técnica dá ao trabalho uma consistência material significativa, que transparece nas paisagens. Cada tela possui imponentes 50 quilos de tinta. “Nessas pinturas acontece esse movimento duplo: a perspectiva e a ilusão do figurativo te levam para dentro, enquanto a materialidade te expulsa do espaço da pintura”, comenta Rodrigo Andrade, que também compara as cenas noturnas às mise-en-scènes dos filmes de David Lynch. “Resgato essa ilusão do cinema dando uma espacialidade interna ao trabalho. Elas parecem um filme do David Lynch por causa do aspecto soturno e escuro das imagens”, diz o artista, que começou a trajetória nos anos 80 com uma linguagem expressionista, e passou boa parte dos anos 2000 envolvido em uma pesquisa com o peso e a presença matérica das tintas no espaço.
Cinema transcendental por Paula Alzugaray, Istoé
Cinema transcendental
Matéria de Paula Alzugaray originalmente publicada no caderno Artes Visuais da revista Istoé em 2 de setembro de 2011.
Meditação, transe / Mendes Wood, SP/ até 24/9
A cineasta Maya Deren dá uma aula sobre como filmar a performance em “Meditation on Violence”. Como dar conta da complexidade da coreografia em um tempo em que as câmeras eram pesadas e de difícil mobilidade? Maya (1917–1961) filmou os lutadores de artes marciais Wu-tang e Shaolin em 1945, na época em que se dedicava a documentar rituais mágicos. O efeito hipnótico produzido pela lente da artista funciona como introdução perfeita à mostra “Meditação, Transe”, em cartaz na Mendes Wood.
E se o comediante perdesse o contato com a realidade no instante em que pisa no palco?
E se em vez de contar piada, começasse um espetáculo de acessos e convulsões? É o que propõe o nova-iorquino Ryan McNamara no vídeo “The Latest in Blood and Guts” (2009). De Maya Deren a Ryan McNamara, a mostra integra clássicos e contemporâneos.
Na primeira sala, Maya está acompanhada por trabalhos de artistas contemporâneos brasileiros como Rivane Neuenschwander e Deyson Gilbert, que na escultura “Economia do Transe” (2011) orquestra o equilíbrio frágil entre cinco objetos – um deles, perecível: um cubo de gelo que derrete ao longo dia, colocando a obra em movimento e desintegrando-a. A dança dos lutadores de Maya e dos objetos de Gilbert também reverbera na performance giratória do autraliano Shaun Gladwell, em “Pataphysical Man” (2005). Situada no contexto dessa exposição, a street dance de Gladwell ganha a dimensão de um ritual sagrado dervixe.
Arte, performance e antropologia estão entrelaçados em “Meditação, Transe”. Da entidade Egum, retratada por Pierre Verger, até a performance primitivista do artista americano Kim Jones – alter ego Mudman (Homem-Lama)– e o vídeo “Changing Parts” (1984), de Mona Hatoum, há alguns litros de lama em comum.
Esse é o mérito da mostra com curadoria de Marcio Harum e Pedro Mendes: permitir um fluxo de trocas e invasões de um trabalho a outro. Nesse sentido, ao diluir as fronteiras entre obras, a curadoria se mostra eficiente e sintonizada com seu tema de abordagem: os estados alterados de percepção. A curadoria também surpreende pela escolha de nomes pouco habituais ao circuito de exposições no Brasil, como
o holandês Bas Jan Ader. Conhecido nos anos 1970 por suas performances corporais minimalistas, Ader foi visto pela última vez em 1975, quando subiu no menor barco que jamais teria cruzado o Oceano Atlântico. Na Mendes Wood, Ader é mostrado em uma projeção discreta, quase escondida. Talvez uma homenagem silenciosa ao seu desaparecimento.
Testemunhas faltam à CPI do Ecad por Cristina Tardáguila, O Globo
Testemunhas faltam à CPI do Ecad
Matéria de Cristina Tardáguila originalmente publicada no caderno Cultura do jornal O Globo em 15 de setembro de 2011.
RIO - Apesar de terem confirmado presença na sessão da CPI do Ecad que aconteceria na tarde desta quinta-feira na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), o presidente da Associação Brasileira de Música e Artes (Abramus), Roberto Mello, e a presidente da Sociedade Administradora de Direito de Execução Musical do Brasil (Sadembra), Fátima Leão, não compareceram ao local para prestar depoimento.
- Esta é a segunda vez que os dois dizem que vêm e não vêm. Na semana retrasada, foi a mesma coisa - diz o deputado estadual André Lazaroni, presidente da CPI. - É um desrespeito à comissão e, para mim, demonstra que há, sim, algo que tentam esconder. Para a sessão da próxima quinta-feira, vou solicitar que os dois sejam conduzidos pela polícia. Como estão em São Paulo, posso acionar a polícia de lá ou mandar um camburão daqui para pegá-los. Eles não vão mais nos enrolar.
Procurada pelo GLOBO, Fátima Leão disse que está em turnê por Minas Gerais, Goiás, Maranhão, Piauí e São Paulo até o dia 25 de novembro e que não deixará seus shows para "testemunhar sobre algo que pouco sabe" - Ela diz que assumiu a presidência da Sadembra há dois meses.
- Se o presidente da CPI pagar o valor do meu show, que custa R$ 30 mil, eu paro tudo e vou lá. Caso contrário, não - enfatiza.
Procurado pela reportagem, Roberto Mello informou por meio de nota que enviou um ofício ao Deputado André Lazaroni, comunicando a impossibilidade de comparecimento na data de hoje devido a compromissos profissionais e reiterou sua plena disponibilidade de atender a convocação em outra data.
Desde o início de agosto, a CPI do Ecad investiga na Alerj o descontrole administrativo da entidade de gestão privada que arrecada e paga os direitos autorais de todos os músicos do país. A Abramus e a Sadembra são duas das nove associações de músicos que compõem esse escritório. A primeira é efetiva (com direito a voto na assembleia geral), e a segunda, administrada (sem direito a voto).
Fica pronta a reforma do antigo Detran para abrigar MAC-USP, Folha de S. Paulo
Fica pronta a reforma do antigo Detran para abrigar MAC-USP
Nota originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 15 de setembro de 2011.
Depois de impasse nas negociações com o governo estadual, a Universidade de São Paulo voltou a trabalhar no convênio de transferência de seu Museu de Arte Contemporânea para o antigo Detran. Mesmo com o avanço das obras, que custaram R$ 76 milhões, a reitoria da USP se negava a aprovar a mudança do museu por contestar a construção de um clube esportivo no terreno vizinho.
Veja vídeo que mostra como está o interior do futuro MAC no Ibirapuera
Bienal do Mercosul destaca mostras paralelas por Fabio Cypriano, Folha de S. Paulo
Bienal do Mercosul destaca mostras paralelas
Matéria de Fábio Cypriano originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 15 de setembro de 2011.
'Casa M' continua após evento; 'Cidade Não Vista' espalha-se pelo município; 'Geopoéticas' traz artistas emergentes
A 8ª edição da Bienal do Mercosul, denominada "Ensaios de Geopoética", representa um significativo novo passo em relação às últimas duas edições, que já foram bastante inovadoras.
Agora, com curadoria do colombiano José Roca, a Bienal finca-se sobre três bases, sendo que apenas uma delas é de fato a exposição. Sendo assim, é importante ressaltar o alcance dos outros eixos, especialmente as estratégias ativadoras, com destaque para a "Casa M" e a mostra "Cidade Não Vista".
A primeira, um local de encontros aglutinador, que extrapola o tempo da exposição principal. Já "Cidade Não Vista", com curadoria de Cauê Alves, espalha-se por Porto Alegre em nove obras, algumas com imensa visibilidade. É o caso da instalação do japonês Tatzu Nishi: uma sala suspensa por canos, uma espécie de parasita no alto da parede frontal da prefeitura.
A mostra central, "Geopoéticas", em três galpões do cais do porto, reafirma dois marcos que têm caracterizado o evento: a inovação na maneira de expor obras e uma predominância de artistas emergentes.
De forma geral, "Geopoéticas" possui um conceito claro, na forma como a arte aborda territórios políticos, econômicos ou sociais. Há muitas obras fortes, algumas bem atuais, como as tensões no Complexo do Alemão, por Paulo Climachauska, ou as revoltas no Egito, por Khaled Hafez.
No entanto, "Além das Fronteiras", sob responsabilidade de Aracy Amaral, no Museu de Arte do Rio Grande Sul, revela-se o trabalho curatorial mais intrigante.
Ao misturar arte contemporânea com obras de todo tipo, de mapas do século 18 a utensílios como um aquecedor caseiro a carvão, Amaral, 81, traz uma nova dimensão à Bienal do Mercosul e sua discussão de territórios.
Consagrado artista de Taiwan apresenta vídeos em espaço cultural no Recife, Diário de Pernambuco
Consagrado artista de Taiwan apresenta vídeos em espaço cultural no Recife
Matéria originalmente publicada na seção de Cultura do Jornal Diário de Pernambuco em 14 de setembro de 2011.
Quatro vídeos e uma performance do artista Chen Chieh-Jen, de Taiwan, são apresentados em exposição que começa nesta quarta, com abertura às 19h, no espaço cultural Bê Cúbico (Rua do Bom Jesus, 172, Bairro do Recife, no quinto andar).
As obras de Chen capturam o impacto das transformações econômicas do país sobre a identidade e o comportamento do povo. Na mostra, são projetados os vídeos The route (2006), Military court and prision (2007-08), Lingchi: Echoes os a historical photograph (2002) e Empire border (2010). Na performance colaborativa Pirate my own work: Free donation project, ele pede que cópias clandestinas de seus DVDs sejam vendidas, com a renda revertida para instituições sociais. O artista não vem ao Recife, mas enviou seus trabalhos aos organizadores do Bê Cúbico. A mostra é uma atividade paralela ao Spa das Artes. Informações: 9830-2285.
Chen participou da última Bienal de São Paulo com o filme The factory. Leia a seguir o texto de apresentação de sua obra divulgado pela exposição: "O trabalho de Chen Chieh-jen corporifica uma necessidade de resistência ao estado de amnésia da sociedade de consumo. Suas obras comentam a história de Taiwan, focando questões como o trabalho, o isolamento, a exclusão e a migração. Durante a Guerra Fria, e apesar da lei marcial que se instaurou após uma sucessão de colonialismos, Taiwan tornou-se um dos maiores centros de manufatura no mundo. A democratização do país coincidiu com o deslocamento da rede industrial globalizada em busca de mão de obra mais barata. As fábricas ali sediadas foram fechadas e demitiram os seus trabalhadores."
setembro 14, 2011
Leveza do aço por Ana Clara Brant, O Estado de Minas
Leveza do aço
Matéria de Ana Clara Brant originalmente publicada na seção de Cultura do Jornal O Estado de Minas em 30 de agosto de 2011.
Mineira radicada no Rio de Janeiro, Iole de Freitas abre mostra de esculturas hoje na Galeria Murilo de Castro, na Savassi. Boa parte das obras é cheia de curvas. Artista reforça as cores
A artista plástica mineira Iole de Freitas é considerada uma das mais importantes escultoras contemporâneas do Brasil. Nasceu em Belo Horizonte, porém, mudou-se pequena para o Rio de Janeiro, onde se formou em desenho industrial. Logo ganhou o mundo e acabou estudando e expondo em galerias importantes de vários países como Itália, Alemanha, Estados Unidos e Áustria. Mas nem por isso a terra natal deixa de estar no roteiro de suas obras de arte.
Hoje à noite, terá abertura a exposição Esculturas de Iole de Freitas, na Galeria Murilo Castro, na Savassi, que reúne nove peças inéditas da artista, sendo cinco de tela de aço. “Morei pouco tempo em BH, mas costumava visitar muito a cidade na minha infância. Depois, a capital acabou fazendo parte do meu circuito de trabalho, onde já participei de várias mostras importantes, como no Museu de Arte da Pampulha, fora as minhas obras que integram o acervo de colecionadores mineiros”, revela.
As peças — boa parte delas cheia de curvas —, que vão ficar expostas até 24 de setembro em BH, foram produzidas com materiais dos quais Iole gosta bastante e já está acostumada, como o aço, o ferro, o cobre e, principalmente, o policarbonato, um polímero termoplástico muito utilizado em fibras de vidro e embalagens. “Com os metais já trabalho desde o começo da década de 1980. Com o policarbonato comecei quando fui convidada para fazer uma instalação externa. É um material altamente resistente e tem essa questão da transparência, das cores translúcidas, já que estou com muitas peças coloridas”, frisa. Algumas das esculturas remetem a grandes instalações de Iole de Freitas e, por isso, ganharam formatos menores para a mostra na Galeria Murilo Castro.
Trajetória Iole se formou no Rio e em seguida se transferiu para Milão, Itália, onde trabalhou no Corporate Image Studio da Olivetti, sob a orientação do arquiteto Hans von Klier. Lá começou seus experimentos em artes plásticas e expôs os primeiros trabalhos. Viveu durante toda a década de 1970 na Europa e retornou ao Brasil nos anos 1980, onde deu aulas de escultura contemporânea na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no Rio de Janeiro, e na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Atualmente, vive no Rio e suas instalações são expostas em todo o mundo.
Fran Junqueira faz arte brilhante em viaduto, Jornal do Commercio
Fran Junqueira faz arte brilhante em viaduto
Matéria originalmente publicada na seção de Cultura do Jornal do Commercio em 14 de setembro de 2011.
Artista carioca pintou móveis fluorescentes na Ponte do Vintém
Entre uma partida e outra de futebol, mesas improvisadas postas para o almoço e roupas secando em varais coloridos, a Ponte do Vintém, ao lado do Museu Murilo la Greca, ganhou uma obra de arte. Trata-se do projeto Estrelas, que a artista carioca Fran Junqueira trouxe para o Recife dentro da programação do SPA das Artes 2011.
A intervenção, que estava prevista para as 10h desta terça-feira (13/09), teve início com um pouco de atraso, o que já virou rotina entre as atrações do SPA. Ao meio-dia, a artista havia feito apenas o tratamento das paredes. “Ainda está muito no princípio, mas isso não é um problema, já que a pintura funciona melhor à noite, quando a tinta fluorescente se destaca mais”, contou Fran.
O trabalho da carioca consiste em pintar silhuetas de móveis antigos em pontes e viadutos usando tinta que brilha no escuro. A ideia é fazer uma referência às estrelas fluorescentes que se colam no teto de quartos infantis. “Os pais colocam as estrelas para que pareça que os filhos dormem sob um céu brilhante. Eu pinto esses móveis para que as famílias que dormem na rua pareçam dormir em uma casa mobiliada”, explicou.
Curtas de artistas plásticos são exibidos gratuitamente nesta quarta-feira, pe360graus.com
Curtas de artistas plásticos são exibidos gratuitamente nesta quarta-feira
Matéria originalmente publicada na seção de Cultura do site pe360graus em 13 de setembro de 2011.
Sessão especial Artes Plásticas do Banquete de Curtas conta ainda com um bate-papo com os representantes dos vídeos após a exibição
Vídeos de artistas plásticos e/ou de coletivos que atuam em Pernambuco compõem a programação da edição da mostra cineclubista e competitiva Banquete de Curtas desta semana. Dentro do clima do SPA das Artes, que acontece no Recife até o próximo domingo (18), o Cine Banquete vai exibir os vídeos “Netuno Noturno”, “Objeto Abjeto”, “O Céu”, “Panorama da Futura Arte Contemporânea Pernambucana”, “Sacrossantos Eroticus - A breve história de um cachorro”, “She-ra” e “Terceiro Universo”.
A sessão especial Artes Plásticas é realizada nesta quarta-feira (14), a partir das 19h, no bar e restaurante Banquete, com entrada gratuita. Após a exibição, haverá um bate-papo com os representantes dos curtas e o público escolherá o melhor vídeo através de votação na urna localizada no espaço. O representante do curta mais votado ganha um vale no valor de R$ 60 para consumo no próprio bar/restaurante.
As atividades do Cine Banquete ocorrem na 2ª quarta-feira de cada mês, no Espaço Cultural Banquete, que fica na rua do Lima, 195, no bairro de Santo Amaro, no Recife.
Artista fará pintura que brilha no escuro sob viaduto no bairro de Parnamirim, Diário de Pernambuco
Artista fará pintura que brilha no escuro sob viaduto no bairro de Parnamirim
Matéria originalmente publicada na seção de Cultura do Jornal Diário de Pernambuco em 12 de setembro de 2011.
A artista plástica Fran Junqueira, do Rio de Janeiro, está no Recife para participar do Spa das Artes, evento promovido pela Prefeitura que espalha trabalhos artísticos em espaços públicos da cidade. Nesta terça e na quarta, a partir das 10h da manhã, ela simulará uma espécie de moradia temporária embaixo da Ponte do Vintén, o viaduto que atravessa o Rio Capibaribe entre a Torre (na altura do supermercado Carrefour) e Parnamirim (perto do Plaza Shopping).
A artista usa pintura e desenho para instalar silhuetas de móveis antigos na área abaixo do viaduto-ponte, em uma reflexão sobre a moradia, já que os sem-teto costumam ocupar esses espaços. A área a ser ocupada por Fran fica na Rua Leonardo Bezerra Cavalcanti, por trás do Plaza Shopping, em frente à Vila do Vintém e ao lado do Museu Murillo La Greca. O título é Estrelas porque a tinta usada é fluorescente e brilhará à noite.
Sobre sua obra, Fran Junqueira explica que: "Tendo a crer que o Eu é a interseção entre mim e todos os entes do mundo e o que me interessa é justamente esse espaço de ligação e as fronteiras fictícias que acreditamos nos delimitarem do Outro. A Rua, por sua vez, é o outro e a casa somos nós e é no trânsito entre essa fixidez ilusória que mora meu foco, nesse jogo de esconder e mostrar, talvez como o tal círculo formado por linhas retas".
Também nesta terça, os artistas Sara Labranho (MG) e Geraldo Zamproni (PR) apresentam trabalhos no Parque Dona Lindu. O paranaense cria um zíper para unir estruturas de concreto. A mineira apresenta um vídeo onde apaga letras de uma frase encontrada na rua para alterar seu sentido original.
Na programação paralela do Spa, a galeria Mau Mau, no bairro do Espinheiro (Rua Nicarágua, 173), promove a terceira edição do Spam das Artes, com uma lojinha de objetos e produtos artísticos (camisas, DVDs, quadros, carimbos, livros, etc), uma oficina de serigrafia e uma viodeoinstalação da artista Lia Leícia. às 20h, o artista Paulo do Ampro faz show de "voz. vioão e violência".
No Museu Murillo La Greca, o público vê a exposição colaborativa da feira de arte contemporânea Desvenda (RS), com trabalhos de diversos artistas (clique aqui para ver imagens). No galpão localizado atrás do prédio, está o acervo de moda vintage da dupla Duas Caróis (a estilista Carol Azevedo e a produtora Carol Monteiro).
Leia texto sobre o trabalho de Zamproni, escrito pelo curador Cauê Alves:
Nelson Leirner, em 1967, realizou a série Homenagem a Fontana, que consistia em telas rasgadas que poderiam ser fechadas e reabertas com zíper. O título era uma fina ironia em relação ao gesto agressivo e romântico do pintor ítalo-argentino. Leirner permitia que o gesto de Fontana fosse refeito de modo anônimo, repetitivo e sem qualquer heroísmo. Zamproni, que não por acaso é formado em arquitetura, amplia essa possibilidade para o campo tridimensional, mesmo que seu trabalho se volte para outras questões. Até mesmo o jardim, que pressupõe certo período para que as raízes se fixem e as folhas cresçam passa a ser fugaz e portátil. O paisagismo é tratado pelo artista de modo tão prático que coloca em xeque a naturalidade das plantas. A velocidade com que se fecha e abre um zíper torna-se a mesma com que se faz e desfaz um jardim. Além de reaproximar a escala da arquitetura da escala do corpo humano, é como se no trabalho de Geraldo Zamproni tudo o que é essencial num edifício ou paisagem fosse também volátil.
SPA ocupa parque e polêmica cai na rede, Jornal do Commercio
SPA ocupa parque e polêmica cai na rede
Matéria originalmente publicada na seção de Cultura do Jornal do Commercio em 13 de setembro de 2011.
Dos dois projetos planejados para o Dona Lindu, só o primeiro começou no horário. Na internet, confusão em torno do nome SPAM das Artes cancelou uma exposição
Um jardim pré-fabricado. Foi como o paranaense Geraldo Zamproni definiu a intervenção Sustentabilidade 4, enquanto a realizava em um dos canteiros do Parque Dona Lindu, em Boa Viagem, durante a tarde de ontem. O trabalho, que interferia na grama do jardim com materiais como zíper, telas metálicas e plásticas, abriu o segundo dia de atividades da Semana de Artes Visuais do Recife (SPA das Artes). O impacto causado pela obra, porém, poderia ser maior, caso tivesse mais visibilidade no local.
A exibição do vídeo Dízimo, da artista mineira Sara Lambranho, que completava a programação de ontem na Galeria Janete Costa (no Parque Dona Lindu) acabou não acontecendo no horário previsto, por conta de atrasos na produção, mas o vídeo será exibido até sexta.
Enquanto a programação do SPA das Artes seguia nos espaços públicos do Recife, nas redes sociais uma discussão movimentou virtualmente o evento. O artista plástico Fernando Peres, responsável pela Galeria Maumau, acusou de plágio, pelo Facebook, a realização do SPAM das Artes (evento paralelo ao SPA) também na Galeria Mariana Moura.
SPA das Artes de Norte a Sul do Recife, Jornal do Commercio
SPA das Artes de Norte a Sul do Recife
Matéria originalmente publicada na seção de Cultura do Jornal do Commercio em 10 de setembro de 2011.
Programação começa neste domingo e se prolonga por uma semana. Na Fundação Joaquim Nabuco, público confere mostra de videoarte
Começa neste domingo (11/9) a maratona da Semana de Artes Visuais do Recife (SPA das Artes). Durante oito dias, o público interessado em artes plásticas vai contar com um imenso número de exposições, mostras de vídeo, intervenções urbanas, performances, palestras, oficinas e lançamento de livros – sem contar com os shows, festas e feiras de arte e moda. A boa notícia é que a maior parte da programação oficial foi organizada em horários diferentes. Assim, com um pouco de atenção, dá para aproveitar o máximo das atividades.
O momento mais esperado do domingo é a abertura oficial do SPA, às 17h. O evento se espalha por todos os recantos do Museu Murillo La Greca, e agrega o lançamento da ReviSPA (revista do SPA), a inauguração da Desvenda (feira de arte com obras à venda) e uma feirinha de moda, pequenos móveis, objetos de design, vinis e livros.
SPA das Artes seleciona projetos de 20 artistas brasileiros
Na segunda-feira, o ponto alto do SPA das Artes é a abertura da Semana de Videoarte da Fundaj (no Cinema da Fundação), que segue até a sexta-feira. No primeiro dia, serão exibidos A jangada da medusa, de Bruno Vieira, e Esplendor, de Amanda Melo. Em seguida, há o lançamento do Catálogo de videoarte, que reúne informações atualizadas sobre todo o acervo de vídeos e filmes de artista da instituição.
Por fim, o público confere o debate Entre o cinema e a sala de exposição, sobre o entrecruzamento cada vez mais comum das artes plásticas com o cinema contemporâneo. Na mesa, estão Moacir dos Anjos, Camilo Soares, Yann Beauvais, Amanda Melo e Bruno Vieira.
Uma festa para celebrar os 10 anos do SPA por Diana Moura, Jornal do Commercio
Uma festa para celebrar os 10 anos do SPA
Matéria de Diana Moura originalmente publicada na seção de Cultura do Jornal do Commercio em 7 de setembro de 2011.
Evento toma conta do Recife a partir do próximo domingo, e se estende por uma semana em polos descentralizados
Este ano, a Semana de Artes Visuais do Recife (SPA das Artes) comera sua décima edição. Para celebrar o feito, a Secretaria de Cultura do Recife, aliada a inúmeros parceiros, decidiu bancar uma festa à altura. O SPA vai ter shows, exposições, intervenções urbanas, debates, lançamentos de livro e uma feira de arte. E, se essa maratona de projetos acontece todos os anos, em 2011 ela ganha mais consistência, resultado de uma melhor articulação entre as diversas propostas presentes na Semana de Artes.
Como todo evento longevo, o SPA atravessou uma crise nos últimos anos. Por isso, a nova equipe organizadora do evento partiu de uma reflexão sobre os incômodos de edições passadas para projetar a versão 2011. De acordo com Beth da Matta, que divide com Bruna Pedrosa a coordenadoria-geral, uma das questões a que elas ficaram mais atentas foi uma certa angústia, por parte dos organizadores, de algumas intervenções urbanas não serem compreendidas pelo público que transita pela cidade – e que, por não esperar uma ação artística em determinado local, não entendia o que se passava.
“Uma das soluções encontradas foi criar núcleos onde as ações passam a se desenvolver, mas sem perder o caráter descentralizado do SPA”, comenta Beth. Esses polos são o Parque Dona Lindu (Zona Sul), o Mamam no Pátio/Pátio de São Pedro (Centro) e o Museu Murillo La Greca. (Zona Norte) e seus entornos, onde acontecem as mostras dos artistas selecionados. “Embora a programação permaneça descentralizada, ela está concentrada nestes polos, que criam uma rede de instituições interligadas”, destaca a organizadora.
Além da programação bancada pela Prefeitura do Recife, com patrocínio da Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe) e apoio da Fundação Joaquim Nabuco, Ministério da Cultura, galeria Bcúbico e Cult Hotel, o SPA ainda conta com o Spam (nas galerias Mariana Moura e Mau Mau), com aberturas de exposições nas galerias Amparo 60 e Dumaresq e o lançamento da ReviSPA.
Entre as novidades deste ano estão a criação do TranSPA (vans que interligam os polos de atividades), a Desvenda (feira de arte que surgiu em Porto Alegre e acontece no Recife, no Museu Murillo La Greca, com 64 participantes), o Canal Contemporâneo (site de divulgação das artes plásticas no País, que também se muda para a cidade e cobre toda a programação), a feira Moda Vintage (com roupas, acessórios, objetos de desing, móveis, vinis e livros garimpados por experts no assunto, também no Murillo La Greca).
A abertura do evento acontece no Museu Murillo La Greca, no próximo domingo (11/9), com a Desvenda, a feira de moda e o lançamento da ReviSPA. O encerramento é no domingo seguinte (18/9), no Parque Dona Lindu, com shows das bandas Caravana do Delírio, Raybans e Muzambo.
setembro 13, 2011
ArtRio registra volume de negócios acima do esperado, O Estado de S. Paulo
ArtRio registra volume de negócios acima do esperado
Matéria originalmente publicada no caderno Cultura do jornal O Estado de S. Paulo em 13 de setembro de 2011.
Em apenas um dia, o mostruário de Max Perlingeiro, cujas estrelas eram vasos de Picasso, caiu à metade. Em dois, a galeria Mul.ti.plo Espaço Arte vendeu 30 obras; a H.A.P, 20. A Gentil Carioca teve de rapidamente repor as suas, tamanha a voracidade dos compradores. Na abertura, uma colecionadora chegou cedinho ao estande de Silvia Cintra e se atracou com uma escultura de Marcius Galan, como se gritasse: "É minha!" Nos corredores, Waltercio Caldas, Tunga, José Bechara e Carlos Vergara, entre outros artistas, puderam constatar: a primeira edição da ArtRio, realizada até domingo em dois galpões do Pier Mauá, mostrou que havia uma demanda reprimida muito maior do que se supunha por uma feira de arte contemporânea na cidade.
Os negócios fechados ficaram em R$ 120 milhões, quando a expectativa inicial era de modestos R$ 50 milhões. Nas primeiras 24 horas, foram R$ 60 milhões. A frequência (46 mil visitantes) também fora subestimada, assim como a média de permanência. "No primeiro dia, um colecionador ficou de 11h às 18h30 só no primeiro galpão", contou Elisangela Valadares, organizadora, com Brenda Osorio. "A gente já começou com um resultado que só esperava para 2013."
Aparentemente, o apetite dos compradores era muito mais pelas obras dos artistas brasileiros - em alta no mundo todo - do que pelas novidades trazidas pelas 40 galerias estrangeiras (das Américas, Europa e Austrália, praticamente metade do total). Os estandes das nacionais estavam mais cheios, e recebiam cheques mais vultosos, ressentiam-se os que vieram de longe.
"Os colecionadores brasileiros me parecem muito cautelosos, preferem os artistas daqui, já conhecidos. Mas é uma primeira edição, acontece", disse, cabisbaixa, Jenny Nachtigall, gerente da Crone, galeria de Berlim, rodeada por trabalhos de artistas alemães. "Ainda assim, pretendo voltar no ano que vem, sinto que há muito potencial."
Já a carioca Juliana Cintra, que colaborou para a preparação da feira, estava bem satisfeita: "Estou de alma lavada, foi muito melhor do que esperávamos. Vendi Débora Bolsoni, Daniel Senise, Carlito Carvalhosa... ", contabilizava sexta, sem dar cifras. Naquele dia, o maior chamariz era um Amilcar de Castro a R$ 190 mil.
Paul Jenkins, representante da maior rede de galerias do mundo (são onze, de Nova York a Hong Kong), a Gagosian, estava empolgado. Ele vê o futuro da feira como "promissor". "Ficou lindo e elegante", elogiava. A organização informou que 90% dos 83 expositores reservaram espaço para 2012 - alguns, estandes mais amplos. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Exposição destaca lado professor de Beuys e Leirner por Silas Martí, Folha de São Paulo
Exposição destaca lado professor de Beuys e Leirner
Matéria de Silas Martí originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 13 de setembro de 2011.
Alemão e brasileiro influenciaram rumos e estilo de uma geração de artistas que foram seus alunos, em Düsseldorf e em São Paulo
Joseph Beuys disse que sua maior obra de arte era ser professor. Nelson Leirner atormentou seus alunos e chegava a dar notas sorteando cartas aleatórias de baralho.
Enquanto Beuys, figura central da arte no século 20, ajudou a plasmar uma linguagem no pós-guerra dando aulas em Düsseldorf, Leirner formou na Faap uma geração de artistas hoje consagrados no cenário nacional.
Na mostra que começa hoje no Instituto Tomie Ohtake, obras de Beuys respingam nos trabalhos de seus discípulos, como Katharina Siverding, Lothar Baumgarten, Imi Knoebel e Blinky Palermo.
Seus rabiscos em sala de aula acabaram reforçando a ideia de que o processo é mais interessante do que o resultado final, traço claro nos trabalhos de seus alunos, como a fotografia de Sieverding ou as pinturas de Knoebel.
"Isso era o cosmos dele", diz Liz Christensen, curadora da mostra, sobre os desenhos esquemáticos de Beuys. "Ele empurrava cada aluno a encontrar sua voz e não ligava quase nada para as notas."
Numa sala ao lado, é clara a influência de Leirner sobre Leda Catunda, Dora Longo Bahia, Caetano de Almeida, Iran do Espírito Santo, Laura Vinci e Sergio Romagnolo.
"Ele emparedava muito os alunos", diz o curador Paulo Miyada. "Fazia tudo para desestabilizar as crenças deles."
Tanto que a peça central da exposição é uma série de desenhos de flores que Leirner encomendou a seus alunos e que expôs depois, juntos, numa galeria, como obra sua.
BEUYS E BEM ALÉM
QUANDO de ter. a dom., das 11h às 20h; até 30/10
ONDE Instituto Tomie Ohtake (av. Brig. Faria Lima, 201; tel. 0/xx/11/2245-1900)
QUANTO grátis
Trilogia de Yael Bartana será exibida no Brasil por Fábio Cypriano, Folha de S. Paulo
Trilogia de Yael Bartana será exibida no Brasil
Matéria de Fábio Cypriano originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 13 de setembro de 2011.
A 54ª Bienal de Arte de Veneza, em cartaz até 27 de novembro, teve nos pavilhões nacionais o foco de maior repercussão. Deles, um dos mais comentados foi o da Polônia.
Primeiro, por sua escolha inédita, com a artista Yael Bartana, de Israel, representando o país polaco.
Depois, pelo caráter polêmico da obra, a trilogia "E a Europa se Abismará", uma série de filmes sobre o Movimento da Renascença Judaica na Polônia, que defende o retorno de 3 milhões de judeus com antepassados poloneses expulsos pelo nazismo.
A trilogia é um dos três programas de filmes organizados pelo Centro da Cultura Judaica de São Paulo, nos dias 1º e 2 de outubro, paralelos à abertura do 17º Videobrasil.
A seleção foi organizada por Sergio Edelsztein, do Centro de Arte Contemporânea (CCA), em Tel Aviv. A curadoria de Edelsztein reuniu artistas que também terão trabalhos exibidos no Videobrasil, como Nurit Sharett e Dor Guez.
Em "E a Europa se Abismará", Bartana utiliza, de forma sarcástica, os mitos de criação do Estado de Israel, como os pioneiros sionistas, responsáveis por sua construção.
Ao focar no discurso de um jovem líder que defende o retorno do judeus à Polônia, a artista apresenta uma situação ambígua, por meio da retórica da propaganda populista.
Tratando de um tema ficcional, Bartana toca numa das principais feridas da atual situação de Israel em suas disputas por território e identidade.
"Há muito tempo eu tenho interesse em sair da bolha do mundo da arte para tocar a realidade de uma forma mais direta", defende a artista.
Festival terá videoarte política de Israel por Fábio Cypriano, Folha de S. Paulo
Festival terá videoarte política de Israel
Matéria de Fábio Cypriano originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 13 de setembro de 2011.
Videobrasil, que começa no dia 30, apresentará obras de cinco artistas que lidam com questões de identidade
Em paralelo, Centro da Cultura Judaica de São Paulo faz mostra que terá obra apresentada na 54ã Bienal de Veneza
Poucos lugares do mundo são palco de um conflito tão marcante como Israel.
De cunho religioso, político e social, esse conflito acabou fornecendo um amplo material de inspiração para a arte contemporânea.
"Aqui, o artista que trabalha em fotografia e vídeo tem que fazer um esforço muito grande para não olhar a realidade", conta Sergio Edelsztein, criador e diretor do Centro de Arte Contemporânea (CCA), em Tel Aviv.
Parte dessa contundência toda será vista na 17ª edição do festival Videobrasil, que terá início no próximo dia 30 e apresentará trabalhos de cinco artistas de Israel, na seção Panoramas do Sul.
"Esse é o maior grupo de artistas de Israel em toda a história do festival e reflete bem como a questão política é abordada pela arte naquele país", conta Solange Farkas, diretora do festival.
"Vivemos uma urgência, há sempre algo acontecendo. E, se os trabalhos aqui são políticos, o vídeo é mais, por sua própria característica de gravar o real", avalia Edelsztein.
Além do Videobrasil, o Centro da Cultura Judaica organizou um programa paralelo ao festival, com 14 filmes, organizado por Edelsztein.
Entre eles está a polêmica trilogia "E a Europa se Abismará", da israelense Yael Bartana, atualmente em cartaz no pavilhão da Polônia na 54ª Bienal de Veneza.
TERRITÓRIOS OCUPADOS
Entre os trabalhos mais políticos dos artistas de Israel está "H2", de Nurit Sharett, que retrata o cotidiano de um grupo de jovens mulheres que fizeram um workshop de vídeo com a artista.
Elas vivem em Hebron, cidade próxima a Tel Aviv, dividida em duas seções: H1, que pertence à Palestina, e H2, um dos territórios ocupados por Israel.
Nessa última seção, onde vive o grupo de alunas de Sharett, os palestinos sofrem uma série de limitações, até mesmo para andar de carro.
A câmera da artista, então, registra as ruas dessa área e as famílias das alunas. "É um trabalho de arte pela paz militante", explica Sharett.
Ela chegou a participar de um casamento, mas não pôde registrá-lo.
"Fiquei muito surpresa ao ver como, por baixo de toda aquela roupa, elas estão com vestidos brilhantes e alegres. Resolvi fazer o oposto, gravando a minha transformação ao usar um hijab [tipo de véu islâmico].
Foi uma forma de respeito", conta a artista.
Sharett, apesar de ser uma artista respeitada em seu país, nem sequer comercializa seus trabalhos em galerias de arte, financiando-os com prêmios e bolsas.
"Uma das razões para obras aqui terem esse caráter político é que o mercado de arte é pequeno e insignificante", afirma Edelsztein.
Outro exemplo dessa abordagem política é "Melancias sob a Cama", de Dor Guez.
De ascendência árabe-cristã, o artista usa memórias de infância, como a relação de seu avô com as melancias, um símbolo de Israel.
"A maioria nunca sabe nada da minoria. Não sou anti-Israel, mas me sinto na responsabilidade de tratar desses assuntos", diz Guez.
O jornalista Fabio Cypriano viajou a convite do Centro da Cultura Judaica de São Paulo.
setembro 12, 2011
Muita arte, pouco tempo por Luiz Fernando Vianna, O Globo
Muita arte, pouco tempo
Matéria de Luiz Fernando Vianna originalmente publicada no caderno Cultura do jornal O Globo em 12 de setembro de 2011.
A três semanas da Europália, evento com artistas brasileiros em cinco países, repasses de R$ 30 milhões de verbas públicas ainda estão começando
RIO - Tudo o que se refere à presença do Brasil como país homenageado da 23ª edição da Europália é em grande escala, menos o tempo. Contando na programação com cerca de 130 shows, 90 conferências, 60 apresentações de dança, 40 de teatro e 16 exposições divididos por cinco países (Bélgica, Holanda, Alemanha, França e Luxemburgo), o evento terá abertura acompanhada pela presidente Dilma Rousseff em Bruxelas daqui a três semanas, em 4 de outubro. E até agora praticamente nada dos R$ 30 milhões do governo federal foi repassado a artistas e produtores.
A saga começou em 2010, quando o então ministro da Cultura, Juca Ferreira, aceitou que o Brasil fosse homenageado, mas não previu dotação suficiente no orçamento de 2011 - apenas R$ 2 milhões, segundo o diretor de Relações Internacionais do MinC, Marcelo Dantas.
Após nove meses de estica daqui e puxa dali, a ministra Ana de Hollanda chegou na última segunda-feira ao rateio final da conta: R$ 10 milhões saem do departamento de Dantas; R$ 6 milhões, da Funarte; R$ 4 milhões, do Instituto Brasileiro de Museus; R$ 1 milhão, do Itamaraty, e R$ 9 milhões são dinheiro de renúncia fiscal captado com 11 empresas via Lei Rouanet.
- Os repasses estão começando. Estamos apertados, mas ainda dentro do cronograma - afirma Dantas, que, perguntado se a programação está 100% confirmada, adota a cautela. - Sempre pode acontecer um cataclisma, ou o departamento jurídico do ministério ver problema em algum contrato. Há um grau de incerteza que é da natureza do processo.
Os curadores convidados trabalharam meses de graça, mas já estão recebendo. Os artistas chamados por eles ainda não. Esses curadores dizem não poder cogitar a possibilidade de verbas não saírem e nomes serem cortados.
- Vou defender cada um até o final. Se faltar um, perde o sentido. Nem que eu vá para a rua arrumar dinheiro - afirma João Carlos Couto, responsável pelas artes cênicas.
- Traria um ônus muito grande para a credibilidade do país. Seria uma crise diplomática - diz o curador de música, Benjamin Taubkin.
- Seria desastroso, algo extremamente negativo para o país em todos os aspectos. Não quero pensar nessa hipótese - afasta Sonia Salcedo, que selecionou os artistas plásticos contemporâneos.
Este setor, que conta com Beth Jobim, José Bechara e outros, é um dos principais focos de incerteza, pois há artistas que precisam montar seus trabalhos in loco, mas as passagens não foram emitidas.
- Vivemos um estado de espera sem informações. A ansiedade cresce e a desconfiança também. O Ministério da Cultura continua sendo uma excentricidade no orçamento federal, um ornamento - diz David Cury, escolhido para realizar a intervenção "Corumbiara não é Columbine" no centro de arte Bozar, em Bruxelas.
O trabalho da curadoria começou polêmico em fevereiro, quando o pintor Adriano de Aquino foi convidado para substituir na direção geral o crítico Paulo Herkenhoff, escolhido pelo ministro anterior. Foram substituídos os curadores de artes visuais - com alguns estrangeiros sendo trocados por brasileiros - e os conceitos das exposições, especialmente as duas principais, que serão abrigadas no Bozar: "Brazil.Brasil" (do século XIX ao modernismo) e "Art in Brazil" (de 1950 aos dias de hoje).
- Não ouso narrar a história da arte contemporânea brasileira só a partir da antropofagia. Ela não dá conta - afirma Adriano, que decidiu priorizar a linha construtivista, havendo uma grande mostra dedicada a ela (neoconcretismo e seus desdobramentos, por exemplo), com organização do crítico Ronaldo Brito e núcleos de Franz Weissmann, Volpi, Milton Dacosta e outros. - Os estrangeiros ainda querem ver o Brasil na linha "Uma aventura na África". Quando nos mostramos contemporâneos na abertura de temas e reflexões, eles tentam nos diminuir. Isso aconteceu na relação com os belgas.
Tensões com os anfitriões
Todos os curadores relatam tensões no diálogo com os representantes da Europália. Uma das preocupações dos belgas era ter na programação artistas capazes de atrair público.
- O rapaz me disse que ninguém menos do que Paulo Coelho seria capaz de encher o auditório de 300 pessoas do Bozar. Não vejo Paulo Coelho tendo alguma coisa importante a dizer sobre literatura brasileira - diz a professora e ensaísta Flora Süssekind, que convidou João Ubaldo Ribeiro para ocupar a função de escritor brasileiro mais conhecido.
Segundo ela, foi preciso batalhar nome por nome, entre eles Bernardo Carvalho, Milton Hatoun e Silviano Santiago. Entre os poetas, uma noite será dedicada a Augusto de Campos, de 80 anos, que estará acompanhado de Adriana Calcanhotto, Arnaldo Antunes, Antonio Cicero e Cid Campos. Para a antologia por ora batizada de "Poesia brasileira contemporânea", houve luta contra o belga que queria chamá-la de "A luz de Ipanema" ao ver potencial de vendas num verso de Claudia Roquette-Pinto.
- O que eles têm mais dificuldade de entender é quando a gente se pensa - ironiza Flora, que diz ter concebido a programação, que inclui conferências em universidades, imaginando poucos recursos (coube-lhe o R$ 1 milhão do Itamaraty).
Taubkin também ouviu - e rejeitou - a demanda por astros da música brasileira.
- Não se justificava enviar quem já vai com frequência à Europa. É preciso ampliar o espectro. Como é dinheiro público, quis fazer o mais abrangente possível - conta o músico, que convidou, dentre outros, Guinga, Tom Zé, a Velha Guarda da Portela e Céu, além de montar noites temáticas, como as reservadas ao choro e à viola caipira.
Assim como a literatura e a música, as artes cênicas estarão na Bélgica e nos outros países da Europália, entre outubro e fevereiro de 2012. Lia Rodrigues, por exemplo, estreará um novo balé, ainda sem título, em Paris, enquanto o diretor Enrique Diaz mostrará sua versão de "A gaivota" primeiramente em Amsterdã. João Carlos Couto também optou pela pluralidade, conciliando do Grupo Corpo ao Balé Folclórico da Bahia, das "Bacantes" de José Celso Martinez Corrêa a uma apresentação de índios caiapós e mehinakus.
- O Brasil pobrezinho ainda encanta a Europa. Precisamos dizer a eles que a mostra era artística, não social - diz Couto.
Oitava Bienal do Mercosul reúne "agressões" às bandeiras por Silas Martí, Folha de S. Paulo
Oitava Bienal do Mercosul reúne "agressões" às bandeiras
Matéria de Silas Martí originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 10 de setembro de 2011.
Evento em Porto Alegre começa com orçamento de R$ 12,5 milhões
Um batalhão de formigas devastou campos de areia tingida e chegou ao centro da bandeira brasileira, embaralhando ordem e progresso.
Na Bienal do Mercosul, que começa hoje em Porto Alegre, nações são arremedos de ícones e símbolos vazios.
Pelo menos a colônia de formigas morando nas bandeiras de areia do japonês Yanagi Yukinori dá conta desse estado incerto das coisas.
Tendo a mostra o nome de um tratado comercial até hoje capenga, nada mais natural do que discutir territórios em frangalhos no meio da crise econômica que assola o mundo desenvolvido.
A oitava edição tem o maior orçamento até agora, R$ 12,5 milhões. Se não traz os medalhões do mercado, se consolidou como vitrine de artistas emergentes.
"É o momento para perguntar o que é uma nação, que conflitos envolve, o que é um Estado nacional", resume o colombiano José Roca, curador da mostra. "Não queríamos fazer a bienal das bandeiras, mas era inevitável."
Tanto que elas estão por toda parte. Leslie Shows, americana, abre a mostra com uma série de bandeiras esvaziadas de cor, panos brancos com poças de tinta a seus pés.
Francis Alÿs exibe uma intervenção sobre a bandeira do México, país que o artista belga adotou há décadas.
Estendendo a agressão às bandeiras, a paraguaia Paola Parcerisa destrói uma de seu país, sobrando só um brasão flutuando em meio a contornos vazios. Luis Romero, venezuelano, tinge tudo de preto, deixando só alguns símbolos em branco numa série de bandeiras.
Mais sofisticados, os trabalhos da britânica Melanie Smith e do espanhol Santiago Sierra levam essa questão a outro patamar. Ela mostra crianças segurando fragmentos de imagens icônicas da história do México na arquibancada do estádio Azteca, na capital do país.
Desenhos se formam e se perdem com rapidez assustadora, denunciando como a cultura pode ser subordinada à política. Sem imagens, Sierra criou uma cacofonia no jardim do palácio Piratini, sede do Executivo gaúcho, com megafones tocando hinos dos países do Mercosul.
Nesse concerto de nações, sobressaem o caos e uma ideia difusa de nacionalidade em tempos de revolução e crise.
setembro 8, 2011
Andrea Matarazzo fala das controvérsias de sua gestão em entrevista exclusiva por João Luiz Sampaio, Maria Eugênia de Menezes e Ubiratan Brasil, O Estado de S.Paulo
Andrea Matarazzo fala das controvérsias de sua gestão em entrevista exclusiva
Matéria de João Luiz Sampaio, Maria Eugênia de Menezes e Ubiratan Brasil originalmente publicada no caderno Cultura do jornal O Estado de S.Paulo em 8 de setembro de 2011.
Secretário de Estado da Cultura de São Paulo fala sobre polêmicas e mudanças em projetos
Na entrevista a seguir, o secretário de Estado da Cultura, Andrea Matarazzo, aborda temas como o Festival de Inverno de Campos do Jordão, a nova sede do Museu de Arte Contemporânea e as trocas no comando do Museu da Imagem e do Som, em declarações repercutidas na classe artística paulista.
Festival Internacional de Inverno de Campos do Jordão
"Pretendo transferir o comando do festival, hoje feito pela Santa Marcelina e pela Escola Tom Jobim, para a Osesp. A Santa Marcelina estava sobrecarregada. Como teremos uma ampliação do projeto Guri, preferimos redistribuir o festival. A Osesp ainda está preparando o projeto, mas a intenção é manter a orientação pedagógica atual."
O Estado apurou:
A Osesp já está sobrecarregada. Tem tocado mais e ensaiado menos. Aumentou consideravelmente seu número de concertos. Em 2009, segundo o Relatório Anual de Compromisso Social, foram 228 apresentações, além de 51 ensaios/concertos didáticos; em 2010, o número subiu para 252, mais 60 ensaios/concertos didáticos. Esses dados não incluem as sessões de gravações. Por conta do acúmulo de trabalho, os ensaios de segunda-feira foram cancelados. A Osesp também não tem experiência pedagógica na execução de um evento nos moldes de Campos do Jordão. Sua academia, bastante recente, conta com apenas 20 alunos e ainda não apresentou resultados pedagógicos consistentes.
O tamanho do festival
"O festival terá a dimensão de sempre. Não terá a dimensão que teve em 2010, quando cresceu muito. Na última edição, não houve redução, mas uma volta ao tamanho usual."
O Estado apurou:
Havia um processo de crescimento do festival, anunciado em 2009 e interrompido em 2011. Houve redução no número de concertos, que passou de 83, em 2010, para 55, em 2011. Também houve diminuição de orçamento - de R$ 6,5 milhões para R$ 5,5 milhões -, de duração - de 29 para 20 dias - e do número de bolsistas - de 170 para 164.
Nova sede do MAC
"O prédio está pronto. Negociamos R$ 10 milhões para a manutenção. Mas tive a surpresa de receber uma carta falando do problema do centro acadêmico da Faculdade de Direito da USP. Mas terei uma reunião com o reitor para definir uma data. Vazio o prédio não vai ficar. Poderíamos instalar uma coleção contemporânea da Pinacoteca, por exemplo."
O Estado apurou:
Diante da relutância do reitor, a Secretaria começou a negociar com a Pinacoteca. O prédio seria destinado a acomodar coleções privadas contemporâneas. As negociações entre Secretaria e USP só foram retomadas após interferência direta do Palácio dos Bandeirantes. Reitor e secretário se reuniram na Casa Civil.
Complexo Cultural da Luz
"Não houve corte de 30%. O complexo nasceu com um tamanho, mas foram acrescentando coisas nele: uma escola de dança, uma central de produção de cenários. O contrato assinado não previa o tamanho do prédio. Agora, chegamos às medidas ideais. São 71 mil m², que é o tamanho do Lincoln Center."
O Estado apurou:
O contrato assinado entre a Secretaria e o escritório Herzog& deMeuron, em 2008, baseava-se em um programa elaborado pela empresa inglesa Theatre Project Consultants. Nesse documento, que consta como anexo do contrato, estavam previstas a Escola de Dança e a Central de Produção. Havia também tamanhos especificados para todas as áreas.
Escola Tom Jobim
"A sede da escola dentro do Complexo Cultural da Luz foi reduzida porque estava superdimensionada. Havia espaço previsto para 4 mil alunos. Mas a escola só tem 1.800. Ela vai abrigar a escola integralmente, com capacidade para até 2 mil alunos."
O Estado apurou:
A área prevista para a escola dentro do complexo não se baseava em uma previsão de crescimento, mas nas necessidades do número atual de alunos. Em abril de 2010, a área destinada à Tom Jobim era de 5.900 m². Em julho deste ano, essa previsão caiu para 2.580 m², um tamanho inferior à área que a escola já ocupa em sua sede atual: 3.700 m².
Museu da Imagem e do Som
"A troca de diretoria no MIS foi necessária, pois o museu era caro e restrito. Então, fomos ajustando as diretorias, apertando os controles. André Sturm não foi indicado por mim. Apenas sugeri o seu nome ao conselho, que aceitou minha sugestão. A Organização Social do MIS não estava cumprindo metas. Eu poderia ter simplesmente descredenciado e colocado outra no lugar. Sempre que sentir que os recursos públicos não estão bem aplicados, vou interferir sem cerimônia."
O Estado apurou:
"Não foi apenas uma sugestão. Houve pressão política para que o conselho aceitasse o nome de André Sturm", diz Eide Feldon, ex-presidente do Conselho do MIS. "Faltou negociação." Ela também assegura que não houve descumprimento de metas por parte da OS. "Tivemos crises, mas todas as metas estavam sendo cumpridas. Ele não tinha motivos para descredenciar a OS." A lei que dispõe sobre as Organizações Sociais do Estado, assinada pelo governador Mario Covas em 1998, é clara: apenas o Conselho Administrativo da OS pode "designar e dispensar os membros da Diretoria". O professor de Direito da Fundação Getúlio Vargas, Mario Engler, explica que a legislação não prevê que caiba ao governo nomear ou destituir os membros de uma OS. "Essa influência do poder público até pode acontecer, mas em um cenário de descumprimento reiterado das obrigações por parte da OS."
SP Escola de Teatro
"O novo prédio, na Praça Roosevelt, está pronto. Só tivemos uma dificuldade na compra dos móveis e do elevador. Eles não mudaram ainda porque estão enrolando um pouco. Existe espaço suficiente para todas as atividades da escola. Eles é que fizeram o projeto do prédio. Eu herdei isso. Eles é que dimensionaram, agora tem que caber."
O Estado apurou:
A diretoria da escola nega ter participado diretamente da elaboração do projeto da sede na Praça Roosevelt. Não haveria, no novo prédio, área suficiente para abarcar todas as atividades que hoje são desenvolvidas pela SP Escola de Teatro em sua sede provisória, no Brás.
Conselho da Osesp
"Não vou me meter no Conselho da Osesp. Se aceitaram a indicação de Lilia Schwarcz é porque ela tinha qualificações. Não me parece que haja algo estranho no fato de ela ser mulher de Luiz Schwarcz. Não há impedimento legal."
O Estado apurou:
Em agosto, deixaram a Fundação Osesp os conselheiros Luiz Schwarcz, Pérsio Arida, José Ermírio de Moraes Neto e Celso Lafer, que foram substituídos por Lilia Schwarcz, Alberto Goldman, Fábio Barbosa e José Carlos Dias. A troca seria uma maneira de manter Schwarcz, que foi o principal responsável pela escolha da maestrina Marin Alsop para o posto de regente titular, ligado à instituição, já tendo em vista o encerramento do mandato de Fernando Henrique Cardoso na Presidência do conselho.
setembro 6, 2011
Vitrine de arte por Catharina Wrede e Cristina Tardáguila, O Globo
Vitrine de arte
Matéria de Catharina Wrede e Cristina Tardáguila originalmente publicada no caderno Cultura do jornal O Globo em 6 de setembro de 2011.
Com 83 galerias do Brasil e do mundo, a ArtRio começa nesta quarta-feira no Píer Mauá disposta a atrair 20 mil pessoas e vender R$ 100 milhões
RIO - A ambição é grande: reunir 700 obras de arte e 83 galerias do Brasil e do mundo às margens da Baía de Guanabara para tentar inserir o Rio, de uma vez por todas, no mapa do concorrido mercado mundial de arte. Assim nasce a ArtRio, a primeira feira internacional de arte contemporânea da cidade, nos armazéns 2 e 3 do Píer Mauá. Com abertura amanhã às 14h, para convidados, e quinta, para o público, a feira vai funcionar de 12h às 20h, até domingo, com entrada a R$ 30 (inteira).
- Esta é a edição número um. Não temos um modelo anterior para ajustar, mas visito feiras há 15 anos e, nelas, sempre mantive o olhar crítico de quem toda a vida sonhou montar uma feira própria, no Rio - diz a curadora e responsável pelo evento Elisangela Valadares.
Há dois anos, Elisangela uniu-se à amiga e também curadora de arte Brenda Valansi Osorio para pôr de pé a primeira edição da ArtRio, que desde o início se pretendia grande. Há três meses, as duas receberam o reforço de uma dupla carioca especializada em entretenimento: os empresários Luiz Calainho e Alexandre Accioly.
- A arte é entretenimento - defende Calainho. - Em cinco anos, a ArtRio estará entre as três maiores do planeta - aposta.
Em cinco dias, os organizadores esperam ver circulando pelo Píer Mauá 20 mil pessoas e não escondem: pretendem vender cerca de R$ 100 milhões.
- Teremos obras que custam entre R$ 1 mil e R$ 1 milhão. É uma boa oportunidade pra quem quer começar uma coleção - diz Brenda. - Na ArtRio, tudo o que estiver exposto já passou por um crivo cuidadoso de profissionais. Lá, o visitante poderá ter a certeza de que está diante de obras de qualidade.
A ArtRio conta com a participação das principais galerias da cidade. A Pinakotheke Cultural, por exemplo, terá uma cerâmica de Picasso; a Anita Schwartz, obras de Nuno Ramos e Gustavo Speridião, entre outros; a Silvia Cintra + Box 4, de Miguel Rio Branco; e a Lurixs, de José Bechara. Já a Mul.ti.plo levará alguns dos trabalhos mais acessíveis do evento, como "Zero dollar", de Cildo Meirelles, no valor de R$ 5 mil.
Importantes endereços de São Paulo também marcam presença. A Galeria Vermelho trará obras de Rosangela Rennó, entre outros; a Nara Roesler, de Carlito Carvalhosa, Hélio Oiticica e O Grivo; e a Ricardo Camargo, a obra mais cara da ArtRio: "Fortaleza de Arkadin", de Wesley Duke Lee, avaliada em R$ 1,5 milhão.
De fora do país, vêm galerias de Lisboa (Filomena Soares), Nova York (Magnan Metz), Berlim (Crone) e Paris (Hussenot Gallery), além de Argentina, México, Peru, Espanha e Austrália.
Além dos estandes de cada galeria, o evento terá um espaço (Solo Projects) destinado a dez artistas, nacionais e estrangeiros, especialmente selecionados por Julieta Gonzalez, da Tate Modern, e Pablo Leon de La Barra, que atua hoje em Londres. A programação conta ainda com palestras e mostras de vídeos e cinema, no próprio Cais e no Cine Joia, em Copacabana.
Ao mesmo tempo em que as expectativas são altas, a ArtRio precisa vencer uma prova de fogo para se consolidar como um evento que merece atenção. Exemplo disso são os olhares, curiosos mas ainda reticentes, com que representantes de algumas grandes galerias pretendem circular pela feira.
Nesse grupo de "olheiros" estará o inglês Paul Jenkins , há dez meses na cidade representando o americano Lawrence "Larry" Gagosian, dono da maior rede de galerias do mundo.
- Não estou autorizado a comprar nada nesta edição da ArtRio - diz. - Meu objetivo é apenas ver como a feira funciona, como foi organizada e se as pessoas estão mesmo comprando. Isso não quer dizer, no entanto, que não participaremos do evento mais para a frente. A Gagosian Gallery tem por filosofia não fazer parte do primeiro ano de nenhuma feira. Primeiro apreciamos o evento e, só depois, entramos nele. Em Hong Kong, por exemplo, foram quatro ou cinco anos de observação.
Jenkins está otimista em relação ao futuro da ArtRio. Pelo que viu até agora, acha que o evento está bem estruturado e que tem potencial para se firmar como uma espécie de Miami Basel, feira de arte que acontece em Miami há 41 anos. Mas já notou peculiaridades:
- A ArtRio faz propaganda no rádio - observa o "olheiro". - Isso a diferencia de outras feiras que conheço mundo afora, mas tudo bem. Os organizadores querem mesmo que ela pegue, que seja popular.
Fotografia ganha em outubro revista 'Zum' por Fabio Victor, Folha de S. Paulo
Fotografia ganha em outubro revista 'Zum'
Matéria de Fabio Victor originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 6 de setembro de 2011.
Publicação semestral do Instituto Moreira Salles busca ampliar debate com outras áreas da arte contemporânea
Ensaio inédito de Miguel Rio Branco comentado por Rodrigo Naves é um dos destaques da 1ª edição
Circulou nos últimos meses entre fotógrafos e diletantes um zunzunzum de que estaria a caminho uma nova publicação brasileira voltada à área. Ficaram pelo caminho dois zuns, e em outubro sai a tal novidade, a revista "Zum".
Iniciativa do IMS (Instituto Moreira Salles), cujo acervo de 550 mil imagens é um dos mais significativos do país, especialmente dos séculos 19 e 20, a semestral "Zum" estará voltada, entretanto, à fotografia contemporânea. "A 'Zum' parte de um esforço de expandir fronteiras para além das exposições e catálogos. O que conseguimos colocar na parede é muito reduzido", afirma o coordenador-executivo do instituto, Samuel Titan Jr.
A proposta, explica, "é passar da coleção para discussão e reflexão" da fotografia contemporânea, evitando-se publicar na revista o acervo histórico do IMS.
A "Zum" será editada por Thyago Nogueira, fotógrafo e editor da Companhia das Letras (e "erudito numa matéria em que há poucos", nas palavras de Titan).
Autor do nome da revista -abrasileiramento do termo zoom, efeito fotográfico de aproximar a imagem-, Nogueira planeja valer-se do boom por que passa a fotografia digital para criar um debate com outras artes. "Não é para especialistas, é uma revista de cultura, com um olhar mais amplo", diz.
No primeiro número (ainda sem preço definido), um ensaio inédito de Miguel Rio Branco será comentado pelo crítico Rodrigo Naves. E um texto do escritor Bernardo Carvalho sobre exibicionismo na fotografia acompanhará ensaio do japonês Kohei Yoshiyuki. Realizadas à noite com filme infravermelho, as fotos mostram casais namorando (e sendo observados) num parque de Tóquio nos anos 1970.
Melanie Smith expõe em São Paulo, Veneza e Porto Alegre por Silas Martí, Folha de S. Paulo
Melanie Smith expõe em São Paulo, Veneza e Porto Alegre
Matéria de Silas Martí originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 6 de setembro de 2011.
Melanie Smith vê delírio, melancolia e compulsão na condição latino-americana. Britânica, ela se radicou no México e agora representa o país na Bienal de Veneza.
Sua obra, um vídeo em que 3.000 crianças seguram fragmentos de imagens icônicas do país na arquibancada do estádio Azteca, na Cidade do México, vai agora também à Bienal do Mercosul, a partir de sábado em Porto Alegre. Mas antes, Smith expõe em São Paulo pinturas, vídeos e instalações em que, com "olhar europeu", tenta decifrar os fracassos da região.
Nas telas, Smith constrói resquícios cinzentos de paisagens, como uma fotografia fuliginosa da realidade. "Meu trabalho é uma visão de soslaio do mundo", diz Smith. "Há um elemento fugidio nessas pinturas. Tem a ver com o minimalismo quebradiço que surgiu aqui."
MELANIE SMITH
QUANDO seg. a sex., 10h às 19h; sáb., 11h às 15h; até 13/9
ONDE Nara Roesler (av. Europa, 655, tel. 0/xx/11/3063-2344)
QUANTO grátis
CLASSIFICAÇÃO livre
Mostra revela cartas de Franz Weissmann por Gabriela Longman, Folha de S. Paulo
Mostra revela cartas de Franz Weissmann
Matéria de Gabriela Longman originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 6 de setembro de 2011.
Correspondência inédita do escultor filiado ao neoconcretismo exibe bastidores artísticos e políticos dos anos 60
Artista plástico completaria cem anos no dia 15; Pinakotheke inaugura exposição retrospectiva no Rio
"Franz, se aí está muito chato, volta! Viajar demais cansa (...) Afinal o mundo é todo igual! Vigaristas e anjos por todo lado. Um grande abraço da amiga de sempre Lygia Pape."
Se estivesse vivo, o escultor neoconcreto Franz Weissmann (1911-2005) completaria cem anos no próximo dia 15. Ontem, a Pinakotheke do Rio inaugurou em sua homenagem uma retrospectiva com mais de 90 esculturas -colunas, esculturas em aço ou o famoso "Cubo Vazado", exibido na Bienal de 1953.
Mas, para além das obras, a exposição traz à tona, em seu catálogo, uma série de cartas inéditas trocadas entre Weissmann e amigos da cena artística e intelectual, em especial durante o período em que o escultor viveu na Europa, de 1959 a 1965. Natural de Knittelfeld, na Áustria, Weissmann chegou ao Brasil ainda criança. Em 1959, foi um dos signatários do Manifesto Neoconcreto.
"Comecei a montar a exposição e sabia que essa correspondência tinha que estar em algum lugar. Até que a família achou, num fundo de gaveta, a caixa fechada, coberta de pó. Passei a noite em claro debruçado sobre o material", contou à Folha o curador e diretor da Pinakotheke, Max Perlingeiro.
Na caligrafia, às vezes difícil de decifrar, ele encontrou a cumplicidade entre Weissmann e o crítico Mário Pedrosa; entre Weissmann e o poeta João Cabral de Melo Neto; e as confissões de Lygia Clark e Lygia Pape, companheiras da cena neoconcreta. Ali, falam das idas e vindas do meio artístico e das particularidades do mercado naquele momento. "O Krascheberg parece que vendeu pouquíssimo, ouvi dizer. O José de Carvalho está vendendo arte a prestações e parece que isso está prejudicando outros marchands", escreve Lygia Clark.
DIFICULDADES
Como professor, Weissmann formou uma geração que tem em Amilcar de Castro e Mary Vieira dois de seus expoentes, mas suas obras estavam longe de valer o que valem hoje. "Havia poucas galerias e todos eles sofriam de falta de dinheiro; Clark estava começando a fazer os 'Bichos'", lembra o curador.
As dificuldades se fazem visíveis no fim de uma carta de João Cabral: "Se precisar de dinheiro urgente me escreva. Não tenho dinheiro nem mulher. [...] Mas para salvar um amigo de apertos, sempre se arranja alguma coisa". A correspondência tem como pano de fundo a cena política anterior ao golpe militar. "As coisas andam feias por aqui", antecipa carta de Pape, de 1961.
FRANZ WEISSMANN
QUANDO: seg. a sex., das 10h às 18h; sáb., das 10h às 16h; até 3/12
ONDE: Pinakotheke Cultural (r. São Clemente, 300, Botafogo, tel. 0/xx/21/2537-7566)
QUANTO: grátis
Obra de Richard Serra apagada no Centro de Artes Helio Oiticica - RJ
Carta de Fabiana Éboli Santos enviada ao governo da cidade do Rio de Janeiro com cópia para o Canal Contemporâneo.
Prezados Secretário Municipal de Cultura e diretora do Centro de Artes Helio Oiticica
Solicito informações sobre o processo de restauro a que está sendo submetida a obra do artista Richard Serra (foto anexa) doada ao centro Municipal de Artes Helio Oiticica/Prefeitura do Rio de Janeiro e aos cidadãos cariocas, por ocasião de sua exposição no local em 1997, quando o CAHO era dirigido por Vanda Klabin.
Diante da estranheza do fato, observado pessoalmente por mim, no local onde a obra está instalada, peço que seja informado publicamente o motivo de tal restauro, o nome do restaurador responsável e os prazos previstos para a conclusão do trabalho e para a obra ser novamente disponibilizada ao público.
Informo ainda que alguns artistas desta cidade, tendo acompanhado o processo de montagem da exposição de Richard Serra e especialmente da instalação da referida obra (spots), conhecem o processo e o material usado. Caso interesse, este conhecimento está à disposição.
Aguardo resposta,
Atenciosamente,
Fabiana Éboli Santos – artista visual e curadora
setembro 5, 2011
País rico é país com cultura!
Carta Aberta da Sociedade Civil sobre a Crise do MinC
PAÍS RICO É PAÍS COM CULTURA! Brasília , 3 de setembro de 2011
O povo brasileiro tomou nas urnas a decisão de construir um país rico, soberano e democrático.
A cultura do Brasil, seus produtores e agentes em sua mais rica diversidade, se engajou desde o começo do governo Lula no projeto de universalização do conhecimento, do acesso à produção de bens culturais e na distribuição do poder simbólico, econômico e político. Em outras palavras: construir agora o Brasil do futuro, apostando no desenvolvimento e na inclusão, contando com a “inteligência popular brasileira” e a imaginação dos povos dos Brasis.
Por isso, durante os dois governos Lula, a sociedade civil organizada, os coletivos e redes, produtores e agentes estabeleceram uma inédita e saudável relação com o governo no sentido de construir um projeto de cultura para o Estado Brasileiro. A herança maior das duas últimas gestões à frente do MinC é a constituição de uma rede imensa e capilar que vai dos mestres da cultura popular aos hackers.
Durante o governo Lula estas redes não foram apenas atendidas pelas políticas públicas, senão que tornaram-se os sujeitos do processo, fazedores de cultura e de país. Tal legado é patrimônio de todos aqueles que lutaram pelo projeto de nação encabeçado por Dilma Rouseff.
A Crise Estrutural do MinC
Passados 8 meses de governo, segue a crise do MinC, cujo último episódio foi a saída da Secretária de Cidadania e Diversidade Cultural, e as ameaças de novas demissões e desentendimentos.
A sociedade civil organizada, produtores e agentes culturais, parlamentares, ativistas de dentro e de fora do campo cultural, entendem que esta é a hora de uma correção de rumo no Ministério da Cultura.
É necessário uma repactuação com os movimentos culturais que construíram e deram apoio à política pública de cultura gestada no governo Lula e sua continuidade, avanço e ampliação no governo que elegemos. Não podemos mais aceitar que as conquistas e avanços da sociedade brasileira no campo cultural, chanceladas pela sociedade civil e pelo Estado e tornadas públicas no Plano Nacional de Cultura continuem a ser desrespeitadas e ignoradas.
País rico é país com democracia participativa e por isso não podemos aceitar o rompimento do diálogo construído com os movimentos e agentes em gestão compartilhada nos 8 anos do governo Lula. Estes mesmos avanços nos últimos 8 meses do governo Dilma Roussef sofreram retrocessos ou estão paralisados, diante da crise de legitimidade e confiança na qual se vê submerso o MinC.
Os movimentos culturais organizados estão buscando há 8 meses a retomada da experiência de co-gestão e participação da sociedade civil nos rumos da Cultura.
Todos os esforços estão sendo feitos para essa repactuação, por isso reivindicamos que as novas mudanças sejam debatidas e consultadas de forma franca e ampla junto aos movimentos culturais que estiveram durante esses últimos meses e nestes 3 dias de agosto e inicio de setembro reunidos em Brasília, em diálogo direto com todas as Secretarias do Ministério da Cultura (com exceção da Secretaria de Cidadania e Diversidade Cultural, demissionária).
Destacamos os pontos fundamentais defendidos por diferentes movimentos, que vem sendo debatidos desde a primeira crise do MinC:
- A implementação do Plano Nacional de Cultura aprovado pelo governo Lula;
- A aprovação da PEC 150 e do Procultura como enviados para o Congresso;
- A publicização do texto final da Reforma da Lei dos Direitos Autorais e seu envio ao Congresso, mantendo-se os avanços propostos pela sociedade em consulta pública; entre eles a fiscalização de instituições como o ECAD (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição), e a criação de Instituto ou Agência Reguladora na área de direitos autorais, estímulo a produção de conteúdos culturais, educacionais abertos, descriminzalização da cópia e o estímulo ao uso de licenças flexíveis, como o Creative Commons;
- A defesa do Programa Cultura Viva, a manutenção dos 3 mil Pontos e Pontões de Cultura e suas ações. O pagamento de todos os Editais, Renovações dos convênios de Pontos e Pontões, a manutenção e expansão da Rede dos Pontos de Cultura, a contemplação de novas redes e a definição de um novo marco legal.
- Retomada do protagonismo nacional e internacional em Cultura Digital, conquistado pelo MinC, no governo Lula.
- Retomada dos programas de Diversidade Cultural, abandonados nesta gestão
- Aprovação da Lei Cultura Viva, Aprovação da Lei dos Mestres e Lei Griô
- A Revisão da proposta orçamentária para o Minc em avaliação no Congresso Nacional, que canaliza grande parte das verbas da cultura para obras e infra-estrutura, inviabilizando as demais ações do Programa Cultura Viva (rede dos Pontos de Cultura, Ação Cultura Digital, etc.) de forma desproporcional e assimétrica.
- Defendemos também o maior diálogo do Ministério da Cultura, com nossa participação, em ações transversais com os demais ministérios, particularmente com o MEC, Ministério das Comunicações, Ministério da Ciência e Tecnologia, Ministério do Trabalho e em ações como a do Plano Nacional de Banda Larga.
O MinC somos nós e nosso compromisso é com o viável e com o possível.
Por tudo isso, solicitamos à Presidenta Dilma Roussef, aos parlamentares, ativistas, sociedade civil e movimentos culturais e sociais que juntos possamos estancar as crises sucessivas no Ministério da Cultura, para repactuarmos o compromisso assumido entre o Estado brasileiro, os movimentos culturais e a sociedade civil de um projeto de continuidade, inovação e avanços na cultura brasileira que esteja à altura do papel que o Brasil assumiu como protagonista e referência na cena global em termos de políticas culturais inovadoras.
É preciso que nos unamos ao redor de um projeto no qual a cultura seja convocada de fato a cumprir sua vocação de inventora de futuro, desenvolvimento, soberania, sustentabilidade, democracia e inclusão social. É preciso confiança na Cultura Brasileira!
Obrigado.
Gracias.
Thank you.
Merci.
MAC Niterói festeja 15 anos com Krajcberg por Marco Aurélio Canônico, Folha de S. Paulo
MAC Niterói festeja 15 anos com Krajcberg
Matéria de Marco Aurélio Canônico originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 3 de setembro de 2011.
Mostra fica até outubro no museu, que recebe mais visitantes devido ao prédio de Niemeyer que por seu acervo
Pesquisas do museu mostram que a maioria da pessoas visita o local por causa do prédio e da bela vista para a baía
"Lembro quando fui ver o local", escreveu Niemeyer no texto em que narra a gênese do Museu de Arte Contemporânea (MAC) de Niterói.
"O mar, as montanhas do Rio, uma paisagem magnífica que eu devia preservar. E subi com o edifício, adotando a forma circular."
Graças a seu desenho e a sua localização, o MAC Niterói (RJ) -que celebra agora 15 anos de sua inauguração com uma exposição de Frans Krajcberg- tornou-se uma das obras mais conhecidas do arquiteto e um dos mais reconhecíveis museus do país.
Suas coleções de arte, no entanto, são bem menos conhecidas do público geral.
Pesquisas do próprio museu indicam que a grande maioria dos visitantes vai até lá por causa do prédio. "Nunca me incomodei com isso. É uma sorte ter um museu com uma boa coleção e uma boa arquitetura", diz Guilherme Bueno, 35, diretor geral do MAC desde 2009.
"São menos antagônicos do que complementares, o prédio é parte do acervo."
A maior parte das obras do museu vem da coleção Sattamini (cedida em comodato), que tem peças de Cildo Meireles, Hélio Oiticica e Rubens Gerchman, entre outros.
O próprio MAC, no entanto, as exibe de forma limitada -com exceção de seu primeiro ano, quando apenas o acervo esteve em exibição, entre 1997 e 2008 não houve mostra de longa duração com a coleção Sattamini.
VISITAÇÃO
A partir de 2009, o segundo andar do museu (que não tem vista para a baía) passou a ser dedicado à coleção, mas o espaço permite expor pouco mais de uma centena de obras por vez -as duas coleções do MAC, somadas, têm mais de 2.000 peças.
Apesar do número de visitantes estar em queda no último biênio, ele segue acima de 120 mil pessoas por ano, número muito superior à média dos museus nacionais -o MAC de SP, por exemplo, recebeu 76.317 em 2010.
E, mesmo quando suas exposições não inspiram o público a entrar, a parte aberta do museu, de acesso livre e gratuito, segue firme como point para fotos de casamento, debutantes e formaturas.
"O museu colocou Niterói no mapa do turismo. Muita gente vai lá para ver o prédio e a vista, mas não acho que isso concorre com as exposições. Poucos museus têm uma coleção contemporânea como o MAC", diz o arquiteto e designer Ricardo Ohtake.
FRANS KRAJCBERG
QUANDO de ter. a dom., das 10h às 18h; até 23/10
ONDE Museu de Arte Contemporânea de Niterói (Mirante da Boa Viagem, s/nº, Niterói, RJ; tel.: 0/xx/21/2620-2400)
QUANTO R$ 5 (grátis às quartas)
CLASSIFICAÇÃO livre
Lygia Pape e Tunga ganharão galerias próprias em Inhotim por Roberto Kaz, Folha de S. Paulo
Lygia Pape e Tunga ganharão galerias próprias em Inhotim por Roberto Kaz
Matéria de Roberto Kaz originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 5 de setembro de 2011.
Os artistas Lygia Pape (1927-2004) e Tunga terão galerias exclusivas no Instituto Inhotim, centro particular de arte contemporânea em Brumadinho (MG).
As galerias, que devem ficar prontas no próximo ano, vão se somar às já existentes, que são dedicadas aos artistas plásticos Hélio Oiticica (1937-1980), Cildo Meireles e Adriana Varejão.
Os projeto, aos quais a Folha teve acesso, estão na nova edição da revista de arquitetura "Monolito", que chega às livrarias e bancas hoje.
São da dupla Thomaz Regatos e Maria Paz, do escritório Rizoma, que ainda desenha uma terceira galeria, para o artista Nuno Ramos.
Regatos, 30, diz que os edifícios foram projetados de forma a não entrar em conflito com as obras: "Quem tem que aparecer é o artista".
Ele conta que por isso fez uma galeria fechada e escura para abrigar a peça "TTeia", de Lygia Pape, que consiste em fios que imitam feixes de luz (a obra pode ser vista em folha.com.br).
Já a galeria dedicada à obra de Tunga teve processo oposto: "Nós nos encontramos quatro vezes. Ele queria uma galeria aberta, com paredes de vidro, para que pudesse m ser vistas as obras pelo lado de fora".
O Instituto Inhotim também está erguendo um edifício -a Grande Galeria- dedicado a exposições temporárias. O projeto é do escritório Arquitetos Associados.
setembro 2, 2011
Exposições e documentário revisitam trajetória de Nelson Leirner por Márcia Abos, O Globo
Exposições e documentário revisitam trajetória de Nelson Leirner
Matéria de Márcia Abos originalmente publicada no Caderno Cultura do jornal O Globo em 2 de setembro de 2011.
SÃO PAULO - A arte como hobby. Com a inédita "Um, nenhum e cem mil", que será apresentada ao público a partir de 6 de setembro na mostra "Nelson Leirner 2011 - 1961 = 50 anos" na Galeria de Arte do Sesi, em São Paulo, o artista paulistano dá um novo salto numa trajetória pontuada por controvérsias e inovações, desde a criação do icônico grupo Rex - idealizado com Wesley Duke Lee (1931-2010) e Geraldo de Barros (1923-1998), cuja tônica era a crítica bem-humorada e irreverente ao sistema de arte - até o debate suscitado pelo porco empalhado enviado ao Salão de Arte Moderna de Brasília em 1967. A exposição, um apanhado dos últimos 50 anos da carreira de Leirner, traz ainda outras 60 obras que mostram a constante luta do artista para desmistificar a arte.
- Há dez anos venho colecionando esses pequenos trabalhos. Ia dando para minha mulher e ela os guardava. Era algo que eu fazia independente da minha fábrica. Porque a arte hoje é uma fábrica, um produto. Fazia então da minha própria arte meu hobby. Mas o hobby terminou, por isso decide expor - explica Leirner, sobre "Um, nenhum e cem mil", coleção de mais de 2000 cartões postais de museus, saquinhos de vômito de avião, revistas, santinhos e convites de exposição que receberam intervenções, desenhos ou escritos do artista, ao longo dos últimos 10 anos.
Mas a tecnologia matou o hobby, assim como o consumo da arte como mercadoria esgotou qualquer possibilidade de provocação, acredita o artista de 79 anos.
Não chamo o que faço de arte, os outros é que chamam. Arte hoje se escreve com 'a' minúsculo
- Recebo convites de exposições por e-mail. Já interferi em todos os santos, a igreja quase não nomeia novos. Os postais de museus pararam no tempo, não contemplam novos artistas. Começou a faltar material para meu hobby. E agora não sei como continuar. Poderia simplesmente desenhar em cadernos, mas assim perco a comunicação que sempre tive com o objeto achado, a coisa mais duchampiana de meu processo - diz Leirner, que vendeu seu primeiro trabalho em 1991, após uma carreira de quase 40 anos movida exclusivamente pelo idealismo.
Junto com a mostra em São Paulo, chega aos cinemas nesta sexta-feira o documentário "Assim é, se assim lhe parece", de Carla Gallo, parte do projeto "Iconoclássicos" do Itaú Cultural, em cartaz com entrada franca até 29 de setembro nos cinemas Unibanco em São Paulo, Rio, Curitiba, Fortaleza, Porto Alegre, Salvador e Santos. A documentarista acompanhou a rotina e o processo criativo de Leirner, mostrando a atualidade de suas provocações.
- Arte para mim era um problema visionário. Nunca imaginei que viveria disto, que seria meu negócio. Mas a sociedade entendeu que aniquilava o monstro que éramos nos consumindo. E o consumo limitou qualquer processo ideológico. Houve um tempo em que a discussão sobre a obra era mais importante do que a imagem. Hoje é o contrário. Volto para minha fábrica, o processo de galerias e exposições que garante meu sustento. Mas não chamo o que faço de arte, os outros é que chamam. Arte hoje se escreve com "a" minúsculo - lamenta Leirner, criticando a pasteurização que neutraliza a capacidade da arte de despertar a sociedade de seu estado de entorpecimento.
A trajetória de Leirner é também revisitada pela exposição "Beuys e bem além - ensinar como arte", que será aberta ao público em 12 de setembro no Instituto Tomei Ohtake, em São Paulo. Obras do artista alemão Joseph Beuys (1921-1986) dialogam com trabalhos de seis de seus mais destacados alunos. Assim como Leirner, cujas obras são apresentadas junto com criações de Caetano de Almeida, Leda Catunda, Dora Longo Bahia, Iran do Espírito Santo, Sérgio Romagnolo, Edgard de Souza e Laura Vinci, alunos do brasileiro, que lecionou arte por mais de 30 anos.
Sobre o momento de renovado interesse em sua obra, Leirner desmistifica: "é o processo do tempo".
- Na arte, você pára, você morre. Precisamos continuar, mas continuamos de uma maneira que não nos agrada. O artista hoje vive numa encruzilhada. Percebi que minha vida era mais divertida. Vivemos agora em guetos - conclui o paulistano radicado há mais de 16 anos no Rio.
setembro 1, 2011
Mostra de Rodrigo Andrade destaca paisagens noturnas, O Estado de S. Paulo
Mostra de Rodrigo Andrade destaca paisagens noturnas
Matéria originalmente publicada no Caderno Cultura do jornal O Estado de S. Paulo em 1 de setembro de 2011.
No livro "Landscape into Art" (A Paisagem na Arte), o historiador de arte inglês Kenneth Clark fala das muitas tentativas fracassadas de se pintar a noite, diz o artista paulistano Rodrigo Andrade. Na Galeria Millan, onde ele inaugura a mostra Velha Ponte de Pedra e Outras Pinturas, todas as telas são paisagens, umas mais noturnas, outras menos, em que uma massa espessa de tinta preta torna-se a matéria principal das obras.
Rodrigo Andrade afirma que mesmo que as gravuras de Goeldi sejam "referência da adolescência", a noite não foi algo que ele procurou para criar suas recentes pinturas - "parece pragmatismo, mas foi com ela que minha pintura deu certo". O desafio da noite, afinal, o fez voltar de forma experimental e contemporânea à figuração, depois de mais de uma década se dedicando à abstração.
Foi na 29.ª Bienal de São Paulo, no ano passado, que Andrade exibiu pela primeira vez as obras de sua pesquisa de "matérias noturnas". O retorno foi intenso, uma revelação para quem acompanhava suas pinturas com blocos de tinta geométricos e coloridos realizadas não apenas sobre telas brancas, mas sobre paredes de espaços públicos. Mas o artista não abandonou a abstração, frisa, considera que tem neste momento "dois corpos de trabalho". "A relação com a figuração é antiga e básica", comenta. Na Galeria Millan, ele expõe apenas as paisagens criadas em 2011, um conjunto delas, numa escala maior do que as exibidas na Bienal.
As pinturas são feitas a partir de fotografias que o próprio pintor vem realizando - na mostra estão as de paisagens captadas na Escócia, no interior de Minas e em Ubatuba. "Desde 2006 venho colecionando imagens que faço e percebi que muitas delas eram noturnas", conta. Ele, que começou sua trajetória na década de 1980 no grupo Casa 7, concorda que há proximidade de suas obras com a produção da nova geração de pintores - muitos deles com os quais tem diálogo - que usam a imagem fotográfica como base.
As telas de Andrade, agora, têm a materialidade espessa que é característica aos trabalhos do artista, mas elas lidam com um jogo ilusionista entre o fotográfico e ter perspectiva. O preto delas (e em algumas, já com variações de matizes) "não é só escuridão". As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Rodrigo Andrade - Galeria Millan (Rua Fradique Coutinho, 1.360). Tel. (011) 3031-6007. 10 h/19 h (sáb., 11 h/17 h; fecha dom.). Grátis. Até 1º/10. Abertura hoje, às 20 h.