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Como atiçar a brasa

 


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julho 28, 2011

Presidente da Funarte divulga carta sobre protestos contra a instituição, Estadão.com.br

Presidente da Funarte divulga carta sobre protestos contra a instituição

Matéria originalmente publicada no caderno de cultura do Estadão.com.br. em 27 de julho de 2011

O presidente da Funarte, o ator Antonio Grassi, divulgou nesta quarta-feira, 27, carta sobre os protestos de setores da classe artística ocorridos no começo da semana. Na segunda-feira, 25, artistas ligados ao teatro se reuniram em frente ao prédio da Funarte, no centro de São Paulo, para protestar contra políticas públicas de financiamento dos programas culturais e contra o corte orçamentário do Ministério da Cultura (Minc), que teria passado de R$ 2,2 bi para R$ 800 milhões. Cerca de 500 pessoas participaram da manifestação.

Entre os temas levantados pelos manifestantes está a criação de programas como o Prêmio de Teatro Brasileiro. A proposta tramita atualmente no Congresso, dentro do escopo do ProCultura, projeto de lei 6.722 que institui um programa nacional de fomento e incentivo à cultura.

A Cooperativa Paulista de Teatro lançou um manifesto em que pede "programas estabelecidos em leis com orçamentos próprios; programas que estruturem uma política cultural contínua e independente, imediata publicação dos editais, o fim da política de privatizações e sucateamentos dos equipamentos culturais, o fim das leis de incentivo fiscal, o fim da burocratização dos espaços públicos".

Leia a íntegra da carta.

Movimento de Trabalhadores na Cultura

A luta por mais verbas para a cultura é de extrema importância. Deve ser uma luta de todos os artistas, produtores, técnicos, gestores, enfim, de toda a sociedade brasileira. Ao longo da minha vida, seja como artista, seja como homem público, sempre empunhei esta bandeira. Da mesma forma, mantive postura inflexível na defesa da liberdade, da democracia e dos movimentos populares.

É com tal espírito que a manifestação convocada por segmentos artísticos de São Paulo foi encarada por mim e pela Ministra Ana de Hollanda: os portões da Funarte foram mantidos abertos, a força policial não foi convocada e, desde o primeiro momento, nos declaramos dispostos ao diálogo.

Os principais pontos expressos no manifesto, como as PEC's 150 e 236 e o Prêmio Teatro Brasileiro encontram-se em discussão no Congresso Nacional. É importante que o debate extrapole os limites dos artistas e fazedores de cultura e chegue aos mais amplos setores da sociedade. Protestos legítimos auxiliam neste processo.

Entretanto, quero ressaltar algumas atitudes que não parecem coadunar com o espírito da luta comum dos artistas brasileiros. Cerrar os portões da Funarte - com correntes e cadeados - ofende nossa história de luta pela liberdade. Impedir o acesso de servidores públicos - ou expulsá-los sob ameaça das dependências da Funarte - relembra momentos terríveis de nosso passado não muito distante. Impedir que artistas, escolhidos por processos públicos para ocupar as salas da Funarte, exerçam a sua profissão não é aceitável sob nenhum aspecto. Impedir o andamento de Editais que estão sendo julgados e que favorecerão a própria classe artística é atirar contra o próprio pé. São fatos que, ao invés de atrair simpatizantes para a causa da cultura, dividem e isolam os movimentos.

Reitero a ampla disposição para o diálogo com os movimentos populares, conforme orientação da Presidenta Dilma, da Ministra Ana de Hollanda, e de acordo com a minha própria história de vida. É o único caminho possível para que a Cultura Brasileira seja finalmente colocada no patamar que merece.


Antonio Grassi

Ator e Presidente da Funarte

Posted by Cecília Bedê at 6:33 PM | Comentários (1)

julho 27, 2011

Manifestação ocupa Funarte e exige mais verba para a cultura por Gabriel Mellão, Folha de S. Paulo

Manifestação ocupa Funarte e exige mais verba para a cultura

Matéria de Gabriel Mellão originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 27 de julho de 2011.

Artistas tomaram posse da sede da Funarte (Fundação Nacional de Artes), no centro de São Paulo, anteontem.

Eles protestaram contra os recentes cortes no orçamento da Cultura para 2011, que passou de R$ R$ 2,2 bilhões para R$ 800 milhões. E exigem a aprovação da Proposta de Emenda à Constituição 150, que destina 2% do orçamento federal para a cultura, além da extinção do que chamam de "política mercantilista" criada pela Lei Rouanet.

A manifestação começou às 14h e chegou a reunir 700 pessoas. Às 17h, os artistas fecharam os portões da Funarte, órgão vinculado ao Ministério da Cultura (MinC).

Os artistas, na maior parte ligados ao teatro, passaram a noite na instituição. Eles transferiram as atividades dos grupos dos quais fazem parte para a Funarte e planejavam, até o fechamento desta edição, dormir mais uma noite na instituição.

"Os funcionários do governo dizem estar abertos ao diálogo, mas não apresentaram proposta nenhuma. Aguardamos que o governo se posicione", diz Luciano Carvalho, do Coletivo Dolores.
Para Tadeu de Souza, representante regional da Funarte, "as reivindicações dos artistas são justas e já foram apoiadas pela ministra e pelo presidente da Funarte".

Valério Benfica, chefe de representação regional do MinC, diz que a pauta deve ser levada ao Congresso. "Tanto a aprovação do ProCultura [projeto de lei que deve substituir a Lei Rouanet[ como a da PEC 150 são assuntos parlamentares."

Posted by Cecília Bedê at 2:04 PM | Comentários (1)

julho 26, 2011

Entrevista: Crítica de arte com Juliana Monachesi por Chris Valias, Paraty em Foco

Entrevista: Crítica de arte com Juliana Monachesi

Entrevista feita por Chris Valias originalmente publicada no blog Paraty em Foco em 6 de julho de 2011.

Um dos maiores gargalos da produção cultural é a crítica. O trabalho sensível produzido pelo homem, quando exposto, cria um diálogo, e a tradução desta percepção é melhor refletida no papel dos críticos: é do texto de um crítico que vem boa parte da compreensão de uma obra artística. Para entender um pouco mais sobre o assunto, fizemos uma entrevista com Juliana Monachesi, crítica, curadora e jornalista especializada em artes visuais, mestre em Comunicação e Semiótica. Ela nos conta um pouco sobre sua experiência e como funciona esse mercado.

Chris Valias Conte um pouco sobre sua experiência como curadora em exposições de fotografia.
Juliana Monachesi Das mais de dez curadorias que já assinei, todas nos anos 2000, nenhuma deixou de fora a fotografia. É uma linguagem absolutamente incontornável. E uma forma de expressão dos nossos tempos. Mas a exposição em que a fotografia foi protagonista absoluta entre as mostras de que fui curadora foi, sem dúvida, afotodissolvida, que aconteceu no Sesc Pompéia em 2004. Nesta curadoria, a intenção foi investigar como o advento da tecnologia digital estava modificando o dia-a-dia das redações de jornal, da produção artística em geral e, claro, do ofício dos fotógrafos.
Queria entender como a passagem hiper-veloz que eu estava vivenciando na redação do contato fotográfico em papel ao arquivo digital desmaterializado, e também do álbum fotográfico material à pasta de computador no cotidiano das pessoas, ou mesmo da imagem com referente real àquela completamente fictícia construída digitalmente pelos artistas, como essa passagem, essa dissolução da fotografia estava impactando a cultura contemporânea.

Foi uma exposição sobre fotografia, sobre o imaginário da fotografia, mas que reuniu obras nos mais diferentes suportes, e não apenas fotos. De pinturas e esculturas que incorporavam a imagem fotográfica (Adriana Rocha, Keila Alaver, Sandra Cinto) até vídeo (Gisela Motta, Kinoks), com pitadas de ficção fotográfica (Rochelle Costi, Leandro Lima) e até de fotografia tradicional (Caio Reisewitz, Gustavo Rezende).

Chris Valias Você tem uma longa formação em comunicação e artes visuais. Acha que isso é imprescindível para se tornar um bom crítico?
Juliana Monachesi Não necessariamente. Bons críticos têm formações as mais diversas; surgem em diferentes áreas de atuação e conhecimento. O que é necessário para se tornar um bom crítico é sensibilidade, curiosidade, muita leitura e, o mais importante, muita convivência com arte. A sensibilidade serve para tornar alguém disponível a “entrar na viagem” de cada artista sem preconceitos. A curiosidade serve para colocar na cabeça da pessoa aquela pilha de perguntas que convém endereçar a cada obra. A leitura e o olhar servem para criar e aprofundar o repertório.

Chris Valias Existe uma fórmula para se fazer uma crítica? Deve haver um equilíbrio entre sensibilidade e racionalidade?
Juliana Monachesi Há diferentes estilos de crítica, aquela mais pessoal, confessional; uma outra mais distanciada, “de gabinete”, como se diz. Eu não sou muito fã de nenhum destes dois extremos: um equilíbrio, como você afirma, me parece, sim, a melhor fórmula para se escrever uma crítica relevante. Talvez valha detalhar um pouco o motivo pelo qual estes dois extremos (o sentimental e o professoral) me incomodam: quando você escreve uma crítica do tipo “vi tal exposição, senti isso e aquilo, lembrei de não sei o quê etc.”, a não ser que você seja uma sumidade no assunto, os comentários não têm relevância nenhuma para o leitor; da mesma forma, quando a abordagem é apenas técnica, sem envolvimento algum com o objeto de análise, o leitor pode muito bem ficar com a impressão de que o mesmo texto valeria para outros vinte artistas e/ou trabalhos semelhantes. Então a dosagem entre envolvimento e distanciamento, entre impressões e contextualizações é que faz com que o texto crítico de fato acrescente alguma coisa para quem o lê.

Chris Valias O crítico tem o poder de validar uma obra de arte?
Juliana Monachesi Isso é uma das funções da crítica de arte, mas não é algo que o crítico faça sozinho: todas as instâncias do sistema da arte têm participação nos processos de validação, desde o curador ao eleger uma obra para ser exposta, até o colecionador que compra uma peça em detrimento de outra, passando pelas galerias, museus, mecenas, leilões, meios de comunicação etc. O papel do crítico nessa cadeia produtiva das artes é fazer a mediação entre a obra e o público: analisar a produção do artista desde suas características formais até o seu contexto social e histórico; inserir o artista na narrativa da maior história da arte, alinhavando as relações com outros artistas e outros contextos.

Portanto, o crítico tem, sim, o papel de validar uma obra de arte – para o bem e para o mal, no sentido de que pode também, por conta deste poder, arruinar uma carreira. Mas esta é uma descrição de um cenário que é mais concreto nos Estados Unidos, por exemplo, onde o meio de arte é bastante mais institucionalizado e profissionalizado do que no Brasil. Lá, a força destas engrenagens do sistema a que me referi antes (curadores, colecionadores, galerias, museus, mecenas, leilões, meios de comunicação), o fato de serem amplamente consolidados, contribui de modo mais decisivo no destino de uma obra, de uma carreira, de uma reputação.

Chris Valias Pra quem quem se interessar pelo tema, conte um pouco sobre como será o workshop “Fotografia: crítica e jornalismo cultural” que você irá ministrar no Paraty.
Juliana Monachesi Bom, no workshop acho que estas questões todas de que tratamos aqui serão contempladas, idealmente. Mas o mais saboroso da atividade vai ser um esforço de cobertura do Paraty em Foco; minha intenção é, depois de uma primeira conversa teórica, levar todos os participantes ao trabalho de campo: um corpo a corpo com as obras expostas, discussão in loco dos trabalhos apresentados nas diversas mostras, análise de obra à queima-roupa mesmo, e, finalmente, um exercício de produção de textos. Pretendo estimular os participantes do workshop a exercitar a crítica, da observação e discussão à escrita.

Posted by Cecília Bedê at 4:42 PM | Comentários (2)

Chelpa Ferro cria conversa entre máquinas sonoras na Vermelho por Silas Martí, Folha de S. Paulo

Chelpa Ferro cria conversa entre máquinas sonoras na Vermelho

Duas estruturas de isopor, metal e plástico flutuam no ar presos por tirantes nas paredes. Elas tentam estabelecer um contato estranho entre o espaço sideral e as cavernas da Terra, pelo menos na imaginação dos artistas.

Instalação do coletivo Chelpa Ferro, a obra que estará na Vermelho a partir de hoje segue na tradição do grupo, que constrói máquinas de som usando objetos garimpados no processo.

No caso, eles propõem agora uma subversão do horizonte, suspendendo acima do chão uma conversa ruidosa. Enquanto um dos módulos emite sons, o outro responde acendendo e apagando luzes presas ao longo do mastro.

"São sons que tentam fazer algum contato, uns ruídos, sinais agudos", diz Barrão, um dos artistas do grupo. "É como se fossem sons captados por antenas ou que estariam no ar, soltos."

Posted by Cecília Bedê at 4:29 PM

Artista cria museu de mundo imaginário por Silas Matí, Folha de S. Paulo

Artista cria museu de mundo imaginário

Matéria de Silas Martí originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 26 de julho de 2011.

Em individual que abre hoje, Marilá Dardot usa trabalhos dela e de outros artistas para falar de sua terra fictícia

Obras na mostra estão em vitrines, como artefatos de um museu, acompanhados de seus verbetes explicativos

No terceiro mundo imaginado por Marilá Dardot, o sistema de cores se baseia em livros e flores, no caso, o estado de conservação de cada livro e o grau de maturação de cada flor. Também o tempo tem seu registro alterado, a arquitetura, os mapas e todo instrumento que rege a vida.

Não é um conceito geopolítico que ela usa na mostra que abre hoje na galeria Vermelho, em São Paulo, mas um terceiro mundo filosófico, que vem da junção de "um primeiro com um segundo".

Também em vez de mostrar só obras que fez, Dardot reúne em caixas e vitrines alguns resquícios de obras de artistas de sua geração para construir um discurso em torno dos tempos atuais, esse tal terceiro mundo de ideias que pauta uma leva de autores. "São obras reproduzidas aqui como se estivessem em espaços domésticos, não como obras de arte", resume a artista. "É como se fosse um museu histórico desse lugar."

Dardot, aliás, também não sai de sua esfera íntima. Estão nas paredes de seu museu trabalhos de artistas que despontaram em Minas Gerais, como ela, além de uma obra do próprio marido.

Rivane Neuenschwander, Cinthia Marcelle e Sara Ramo, que vivem em Belo Horizonte, emprestam seu vocabulário para pensar o tempo. Sua base também está na literatura de Julio Cortázar ou Emily Dickinson, constantes citações nos trabalhos. Mas o que fica é um inventário da delicadeza violenta do cotidiano, uma pausa para contemplar os absurdos da vida.

Num dos verbetes de seu museu, Dardot, citando o argentino Cortázar, descreve o ato de endireitar pregos com um martelo como ação de "perversidade fulminante".

Descreve também outro estranho ato dos habitantes do terceiro mundo, que se abaixam quando veem um brilho na calçada.

Posted by Cecília Bedê at 4:16 PM

julho 25, 2011

Tesouro Revelado por Camila Molina, O Estado de S. Paulo

Tesouro Revelado

Matéria de Camila Molina originalmente publicada no caderno Cultura do jornal O Estado de S. Paulo em 25 de julho de 2011.

Após outro adiamento na inauguração de nova sede, MAC prepara mostra com peças não vistas há anos

A inauguração da nova sede do Museu de Arte Contemporânea da USP (MAC), prevista para o segundo semestre, deve ser novamente adiada. Após visita de representantes da universidade ao antigo prédio do Detran, o diretor do museu, Tadeu Chiarelli, e a instituição decidiram esperar que todo o complexo - que inclui, além do prédio principal, três anexos - fique pronto para utilização, o que deve acontecer apenas no início de 2012. Por conta disso, o museu resolveu montar já em setembro uma exposição com cerca de 200 obras de seu acervo, algumas delas longe do público desde os anos 90.

"A instituição foi segurando a exibição da sua coleção e a gente não pode ficar assim", diz Tadeu Chiarelli. "Existe uma demanda muito grande sobre a possibilidade de o público entrar em contato com o acervo", continua o diretor do museu. A abertura da nova sede do MAC, cuja obra é realizada pela Secretaria de Estado da Cultura, vem sendo adiada desde 2009.

Sendo assim, a exposição Modernismos no Brasil, que o museu vai inaugurar em 13 de setembro, em seu espaço no pavilhão da Bienal, no Ibirapuera, vai reunir obras - muitas delas, peças-primas da instituição - que estão distantes do público há muito tempo. A tela A Negra, de Tarsila do Amaral, um dos grandes destaques do acervo do museu, teve sua última exibição em 2009. Mas há outros exemplos curiosos. A pintura A Boba, de Anita Malfatti, não é vista desde 2008; a escultura A Soma de Nossos Dias, de Maria Martins, foi exibida apenas em 2005. Já o autorretrato de Amedeo Modigliani, o único realizado pelo pintor, não é exibido desde 2007; e o quadro Mangaratiba, de José Pancetti, teve sua última aparição em 1998.

"A exposição é uma leitura da coleção modernista do museu, com várias vertentes", diz Tadeu Chiarelli. A mostra vai mesclar obras de artistas brasileiros e de estrangeiros, promovendo o diálogo entre a produção nacional e internacional. Nesse sentido, serão colocadas para o publico obras como Conceito Espacial (1965), de Lucio Fontana; O Enigma de um Dia (1914), de Giorgio de Chirico; e Plano em Superfícies Moduladas n.º 2 (1956), de Lygia Clark - todas não exibidas desde 2006. Ou figurará ainda A Santa da Luz Interior (1921), de Paul Klee, obra sobre papel que teve sua última exibição em 2002. "As escolas pedem para ver essas obras, com toda a razão; as pessoas cobram. E estou preocupado porque os mais novos não perguntam sobre a coleção pois não conviveram com ela, só os mais velhos", diz ainda Chiarelli, diretor do MAC desde abril de 2010.

Mudança. A transferência do MAC para o complexo do ex-Detran - o prédio e anexo principais foram projetados em 1951 por Oscar Niemeyer - foi acertada (mas ainda não "formalizada", diz Chiarelli) entre a USP e o Governo do Estado de São Paulo justamente para que a instituição tivesse um espaço à altura de seu rico acervo, com 9.512 obras. A Secretaria de Estado da Cultura está realizando a reforma do imóvel, tombado pelo Conpresp e Condephaat, desde 2008, mas o projeto do novo MAC também inclui a construção de dois anexos, que têm previsão de ficarem prontos mais adiante.

"Os edifícios originais estão previstos para serem entregues no final deste mês, mas não podemos cogitar a mudança do museu sem os anexos prontos. A gente não pode ir por partes", diz Chiarelli. "O empenho da secretaria é total, mas são problemas técnicos que surgem, é o imponderável." Segundo o secretário de Cultura Andrea Matarazzo afirmou ao Estado em maio, o governo de São Paulo gastou R$ 76 milhões nas obras para transformação da ex-sede do Detran em espaço museológico, com área total de 37 mil m².

O diretor do MAC explica que um dos anexos em construção vai ser dedicado a laboratório de conservação e restauro e para reserva. "É como se você fosse reunir mais de mil pessoas em um lugar e não tivesse os ambulatórios", explica Chiarelli. Há ainda outra questão: quando, afinal, todo o complexo da nova sede ficar totalmente pronto, o museu pretende promover testes nos novos espaços, por um período de cerca de dois meses. Só depois, enfim, o novo MAC será inaugurado para o público.

O museu foi instituído em 1963, quando Ciccillo Matarazzo decidiu transferir sua coleção do Museu de Arte Moderna para a recém-criada instituição. O MAC, atualmente, tem prédio exíguo no câmpus da USP e área no edifício da Bienal (que será desativada), ambos espaços que utiliza para suas atividades até que sua nova sede, em endereço mais acessível, fique pronta.

Posted by Cecília Bedê at 6:30 PM

Richter tem retrospectiva na Pinacoteca por Silas Martí, Folha de S. Paulo

Richter tem retrospectiva na Pinacoteca

Matéria de Silas Martí originalmente publicada na Iustrada do jornal Folha de S. Paulo em 23 de julho de 2011.

Artista alemão que desconstrói linguagem da pintura e da fotografia tem conjunto de telas exposto em São Paulo

Mostra reúne cerca de 30 obras, entre elas abstrações coloridas e pinturas feitas a partir de imagens fotográficas

Gerhard Richter, 79, desdenha da exatidão do mundo moderno. Sua obra fica no intervalo entre a pintura e a fotografia, tratando as duas técnicas como iguais, e não rivais, num processo que tem como fim a representação.

É por isso que esse artista alemão, um dos nomes mais fortes da arte do século 20 e que abre hoje retrospectiva na Pinacoteca do Estado, não se desvencilha desses dois processos em tudo que faz.
Pinta quadros a partir de fotografias, fotografa suas pinturas, depois expande e contrai as composições que se formam ao acaso na tela.

São formas esmaecidas. Tudo parece borrado, como se escapasse aos contornos. A figura é transmutada, "distorcida", "ajustada", nas palavras de críticos acostumados a descrever sua obra.

Logo na entrada da mostra, está uma coleção de 128 fotografias de uma de suas telas, esmiuçando as pinceladas, vistas de cima e de lado, ampliadas e desfocadas.

É como se Richter enxergasse a própria obra como paisagem a devassar, o real que se torna abstrato quando alvo de um olhar aguçado.

Num processo parecido, ele fotografa e amplia a mistura de cores numa paleta diminuta, expandindo uma gota de cor em abstração de tons berrantes que se encontram.

"Ele não busca uma composição. Como isso vem de uma fotografia, é uma composição encontrada", diz Dietmar Elger, biógrafo de Richter. "É o vazio, a não composição ou a decomposição."

Richter acaba tratando figuras e abstrações da mesma forma. Uma orquídea, por exemplo, é pintada a partir de uma fotografia, sendo a tela depois fotografada e impressa de novo, numa extensão do processo fotográfico à lógica por trás da pintura.

Seu tio Rudi, morto na Segunda Guerra, aparece numa pintura surrupiada de um retrato que dita a composição, o acaso da visão do obturador transposto para a tela.

Tudo parece ser assunto para Richter, basta ser imagem. Mesmo quando faz só pintura, ele busca uma ilusão fotográfica. Seus monocromos cinzentos dão a impressão de profundidade, como se descortinassem um espaço por trás do plano da tela.

Em busca de abstrações reais, Richter também fez telas para compor outros quadros, obras destinadas a ser só parte de um todo maior, como se nas camadas da tinta quisesse desvelar os vários níveis de visão do real.

RAIO-X
GERHARD RICHTER

VIDA
Nasceu em 1932 em Dresden. Estudou em Dusseldorf, onde fez sua primeira mostra

OBRA E CARREIRA
É um dos artistas mais valorizados do mundo, com uma tela vendida em leilão por US$ 15 milhões. Participou da Documenta de Kassel em 1997 e teve sua série "October Cycle", sobre o terrorismo alemão, comprada pelo MoMA, de Nova York

Posted by Cecília Bedê at 5:34 PM

Houston, WE HAVE ART por Silas Martí, Folha de S. Paulo

Houston, WE HAVE ART

Matéria de Silas Martí originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 23 de julho de 2011.

Museu dos EUA elabora a maior base de dados da arte latino-americana, reunindo 10 mil documentos históricos

No diário de sua viagem ao Brasil, o poeta Blaise Cendrars anotou: "A terra é vermelha, o céu é azul". Tarsila do Amaral então ilustrou tudo sob os efeitos de "azul puríssimo, rosa violáceo, amarelo vivo, verde cantante".

"Feuilles de Route" (folhas do caminho), caderno que destrincha o roteiro da artista com o poeta francês por Minas Gerais e que deu origem à sua fase "Pau Brasil", é um dos 10 mil documentos que integram o mais ambicioso projeto de digitalização de textos e imagens relacionados à arte latino-americana.

Nos últimos sete anos, Houston foi o epicentro de um esforço que envolveu cem pesquisadores, espalhados por 14 cidades das Américas para reunir a maior base de dados de artistas latinos já compilada, tudo a um custo de cerca de R$ 78 milhões.

"Queremos percorrer as bases intelectuais da arte latino-americana", resume Mari Carmen Ramírez, curadora do Museum of Fine Arts de Houston (EUA), responsável pelo projeto. "Nossa esperança é que isso leve a uma transformação radical no entendimento da arte dessa região."

Radical porque documentos primários, de diários de artistas a artigos publicados e anotações pessoais, estarão acessíveis ao mundo todo pela primeira vez. Será uma base que permite cruzar dados sobre a produção desses autores ao longo do século 20.

"Isso nos leva a observar esses artistas a partir de outros ângulos", diz Ramírez. "Ajuda a estabelecer uma história comparativa da arte latino-americana, esclarecendo a relação entre os países."

ETAPA BRASILEIRA
Na primeira etapa do projeto, serão divulgados, até o fim deste ano, 3.000 documentos ligados a nomes dos Estados Unidos, México e Argentina. Em 2013, entram os 1.500 textos históricos que foram garimpados no Brasil.

Entre eles, clássicos como o "Manifesto Antropófago", de Oswald de Andrade (1890-1954), textos sobre arquitetura moderna escritos por Gregori Warchavchik (1896-1972), uma análise das construções do país feita por Le Corbusier (1887-1965) e publicações como a revista "Klaxon", espécie de bíblia dos modernos.
"São autores que marcaram o pensamento das artes no Brasil", diz Ana Maria Belluzzo, professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, que coordenou o braço brasileiro da pesquisa. "Tentamos reconstruir esse pensamento, mostrar a criação de uma linguagem."

Embora pesquisadores de cada país tenham autonomia, um roteiro geral de busca foi elaborado em Houston para dar unidade aos dados -uma lista de critérios do que interessa ou não ao projeto. "Há uma lista de questões, não de artistas", diz Belluzzo. "A coisa mais importante é trabalhar esse universo."

Em paralelo ao projeto de Houston, a artista Letícia Parente acaba de ter sua documentação lançada on-line em leticiaparente.net, e os escritos de Lygia Clark devem ganhar a web em breve, numa parceria dos herdeiros da artista com a Universidade Federal de Minas Gerais.

Posted by Cecília Bedê at 3:31 PM

Que Pinacoteca é essa? por Mariana Toniatti, O Povo

Que Pinacoteca é essa?

Matéria de Mariana Toniatti originalmente publicada no caderno Vida e Arte do jornal O Povo em 24 de julho de 2011.

A PINACOTECA Municipal existe por lei desde 1997, mas ainda está longe de se materializar. Até lá, que lugares existem para fazer o acervo chegar ao público e que instituições vão cuidar de reunir e preservar obras significativas?

A coluna Vertical, publicada de segunda a sábado no O POVO, provocou: “Pouca gente sabe, mas o município de Fortaleza tem uma pinacoteca. Ela se resume a uma sala guardando quadros, mas tem diretora nomeada e tudo”, dizia uma das notas da edição de 14 de julho. A diretora é Cecília Ximenes, servidora da Secretaria de Cultura de Fortaleza (Secultfor) e dos órgãos da pasta que antecederam a secretaria, há 16 anos. Há mais de dez, ela cuida do acervo municipal que hoje contabiliza 140 obras, especialmente pinturas, gravuras e desenhos e algumas esculturas. “Me considero a guardiã das obras. Não pode deixar tudo largado sem ninguém tomando conta”, diz Cecília.

No começo de 2010, depois da reforma do Paço Municipal, onde estavam muitas obras do acervo, as peças foram reunidas, catalogadas e guardadas numa sala da Vila das Artes, o equipamento de formação da Secultfor. De acordo com Cecília, tudo está muito bem embalado numa sala climatizada. A Secultfor preferiu não mostrar a sala, “para não confundir o leitor”, segundo a secretária Fátima Mesquita. O plano é restaurar todas essas peças. Entre as relíquias, há telas de Raimundo Cela, Chico da Silva, Aldemir Martins, Barrica e Sergei de Castro, xilogravuras de Francisco de Almeida e peças de Sérvulo Esmeraldo.

Fátima planeja que todas as peças estejam restauradas até o próximo Salão de Abril, no primeiro semestre de 2012, para serem exibidas durante a mostra. “O restaurador já começou a fotografar as obras, é todo um processo, tem que ter um ‘antes e depois’, tem que ver a técnica de restauro de cada peça, algumas precisam só de uma limpeza”, diz Cecília. Mas e a Pinacoteca!? Essa não tem previsão de sair do papel, mesmo sendo “o desafio dessa reta final”, segundo Fátima.

“Desde o início da primeira gestão queremos esse equipamento. Está colocado como prioridade pra gente ver se consegue avançar”, diz a secretária mostrando um mega projeto fechado em 2006: o Complexo Cultural Estação João Felipe, que prevê a construção da Pinacoteca, do Museu da Cidade, do Arquivo Público, da Biblioteca Dollor Barreira e de um auditório no terreno ao lado da estação, onde estão os antigos galpões da Rffsa. “São duas coisas antigas, criadas por lei, que podem e devem ter uma direção, mas que a Prefeitura nunca conseguiu instalar: o Museu da Cidade e a Pinacoteca”, diz Fátima.

O projeto da Pinacoteca, nos galpões da Rffsa, no terreno ao lado da Estação João Felipe, curiosamente também é apresentado pela Secretaria da Cultura do Estado (Secult) como aposta dessa gestão. “Mas a área pretendida é tão grande que cabem também outros equipamentos. São mais de 100 mil m² de terreno. O Museu da Cidade é muito bem vindo na região. Consolidaríamos esse espaço como eminentemente cultural. O projeto do Município só vem a colaborar”, contemporiza Carlos Macedo, coordenador das Artes Visuais na Secult. Para Fátima, a administração da Pinacoteca e dos outros equipamentos e o “plano diretor do espaço, no coração do Centro, devem ficar a cargo do Município”. “A Prefeitura sempre colocou que quer a posse disso”.

Por enquanto, o terreno, ponto final do chamado corredor histórico da rua dr. João Moreira, permanece sendo patrimônio da União e nem Município nem Estado têm verba garantida para a construção da Pinacoteca. “Colocamos no PAC das Cidades Históricas (Programa de Ação das Cidades Históricas), é um dos projetos da Copa do Mundo, estamos tentando em todas as frentes”, diz Fátima. Mas e até lá? Onde o público pode ver as preciosidades do acervo municipal e estadual, esse com três mil obras catalogadas, mil só de Antônio Bandeira? O Vida & Arte Cultura de hoje faz essa pergunta. Que espaço de exposição temos em Fortaleza e a quantas anda a gestão e o uso deles?

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Posted by Cecília Bedê at 2:29 PM | Comentários (1)

Desafios das artes por Mariana Toniatti, O Povo

Desafios das artes

Matéria de Mariana Toniatti originalmente publicada no caderno Vida e Arte do jornal O Povo em 24 de julho de 2011.

No dicionário, pinacoteca quer dizer coleção de quadros de pintura ou museu de pintura. No século XIX, quando as pinacotecas se consolidaram, a pintura era mesmo a expressão artística por excelência, e as outras formas artísticas eram bem definidas: desenho, escultura. Hoje, no século XXI, a arte tem inúmeras linguagens e possibilidades e o conceito de pinacoteca tem que acompanhar essa transformação.

“A pinacoteca que se projeta no século XX mantém o nome e o vínculo com o mundo da pintura, mas têm um desafio, dialogar com a produção artística contemporânea que não se expressa exclusivamente pelo campo da pintura e rompe com segmentações. Nisso que chamamos artes visuais, temos instalações, performances, combinação de imagens em movimento, produção sonora, um conjunto de possibilidades expressivas”, explica Mário Chagas, diretor do Departamento de Processos Museais do Instituto Brasileiro de Museus.

O melhor exemplo disso é a Pinacoteca de São Paulo, fundada em 1905, hoje um dos melhores museus do país, entre outras coisas, por conseguir reunir um acervo importante dos séculos passados e de arte contemporânea. Nesse momento, a Pinacoteca exibe uma mostra do trabalho do cearense Sérvulo Esmeraldo com 117 trabalhos, entre esculturas, pinturas, gravuras, desenhos e objetos.

Mesmo levando em conta que a função extrapola o sentido original da palavra, Mário Chagas vê mais sentido em batizar de museus os novos equipamentos. “O museu pressupõe uma complexidade, muito mais polifônico. No meu entendimento comunica de modo mais intenso e direto com o mundo contemporâneo”, diz.

Além de espaço de exposição, a pinacoteca tem outro papel fundamental: montar e preservar um acervo significativo e amplo de obras de arte. A missão de guardar e zelar pela memória artística. A chamada reserva técnica, onde essas peças que não estão em exibição são guardadas, exige investimentos. O local tem que ser climatizado, protegido de umidade e ter os equipamentos certos para acomodar as obras como mapotecas, um móvel que tem gavetas grandes para telas, e traineis, uma espécie de suporte para guardar peças penduradas.

No Ceará, o Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, que guarda o acervo estadual de três mil peças, é o único equipamento com reserva técnica adequada. Na Vila das Artes, as obras só estão embaladas. O desafio não é só montar o espaço físico da reserva técnica. Compor um acervo significativo também é problemático. No Ceará, a doação dos próprios artistas ainda é o caminho mais frequente de aquisição de novas peças. As últimas obras que entraram para o acervo municipal foram três telas de Descartes Gadelha doadas pelo próprio artista.

“Há uma lacuna de investimento do poder público na aquisição de acervo. Não se tem uma compreensão de que disso depende a continuidade dos processos criativos para as gerações futuras. Onde os jovens vão poder conhecer obras dos próprios artistas brasileiros contemporâneos se os governos não estão adquirindo peças novas? Para onde as obras estão indo?”, preocupa-se Mário. Os acervos do século XIX e XX são mais expressivos, chegam a cobrir o Modernismo. Mas depois das décadas de 60 e 70 do século passado, Mário vê grandes lacunas.

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Posted by Cecília Bedê at 2:20 PM

Acervo escondido por Mariana Toniatti, O Povo

Acervo escondido

Matéria de Mariana Toniatti originalmente publicada no caderno Vida e Arte do jornal O Povo em 24 de julho de 2011.

FALTAM espaços de exposição ou o problema é de gestão? Ouvimos algumas pessoas da área e fizemos essa pergunta

Por enquanto, só algumas poucas obras do acervo municipal estão fora da salinha que guarda a centena de peças na Vila das Artes e mesmo assim não estão ao alcance do público. Espalhadas nas paredes e salas da Secretaria de Cultura de Fortaleza (Secultfor), o privilégio de admirá-las é de quem trabalha por ali ou faz uma visita. “Na minha sala tem uma ‘exposição permanente’ de xilogravuras de Francisco Almeida”, diz Fátima Mesquita, titular da Secultfor. Ela frisa que quem quiser conhecer a coleção é bem vindo. Se quiser, pode fazer a tentativa.

Hoje a Prefeitura tem apenas um local próprio de exposição, a Galeria Antônio Bandeira, um espaço cedido pela Secretaria de Educação no Centro de Referência do Professor. Uma das salas, onde costuma ocorrer o Salão de Abril, está vazia. A outra abriga o único acervo em exposição permanente, o Memorial Sinhá D’Amora, pintora de Lavras da Mangabeira, reconhecida internacionalmente, falecida em 2006. Perto de completar dez anos, a exposição deve ser modificada. É o que planeja a diretora do espaço, Mariana Ratts.

Há outros espaços de exposição na cidade. O Sobrado Dr. José Lourenço e o Museu de Arte Contemporânea do Dragão do Mar - equipamentos do Governo Estadual -, o Centro Cultural do Banco do Nordeste, o Centro Cultural dos Correios e o Museu de Arte da UFC (Mauc) – que tem um acervo bastante significativo -, a galeria de arte do Palácio da Abolição e a galeria da Universidade de Fortaleza, lembrando alguns. Seria ainda pouco para a cidade de 2,5 milhões de habitantes?

“Até faltam mais espaços, porém não se pode tentar criar novos enquanto os que existem não funcionam como poderiam. Criar para ser mais um desse jeito? A Galeria Antônio Bandeira parece que é só para o Salão de Abril, o MAC do Dragão faz grandes exposições, traz Picasso, Gary Hill, mas passa, é temporário. É um museu de eventos, não de formação de público. É o problema de muitos museus, a ação educativa é para dizer que cumpre o papel, mas serve mais para garantir um número mínimo de visitantes, do que para formar público”, critica a artista e editora do site especializado Canal Contemporâneo, Cecília Bedê, 28 anos.

Bitu Cassundé, artista e curador independente, vê na falta de continuidade de políticas públicas o maior problema na gestão dos equipamentos culturais de Fortaleza, incluindo aí os espaços de exposição. “Não existe a cultura da continuidade, mesmo os projetos certeiros são abortados pelas novas gestões, é um novela repetitiva, cansativa, mas que faz parte do nosso exercício político. Temos bons espaços com infraestrutura e condições técnicas razoáveis. O fundamental é permitir acesso a uma programação efetiva regida por boas exposições, com um projeto educativo de qualidade e que os espaços sejam apropriados pelos artistas e pelo público, e principalmente, desconstruir a ideia de feudo que existe em alguns espaços”.

Para a coordenadora do curso de Licenciatura em Artes Visuais do Instituto Federal do Ceará (Ifce), Dorinha Nascimento, o desafio é chegar em quem não vai ao museu. “Parece que são sempre os mesmos, aquela mesma elite. Hoje o Dragão do Mar é o espaço que mais se insere no dia a dia, mas é o equipamento como um todo, não necessariamente o museu. As galerias, os museus, têm que se mostrar mais atraentes, ter uma política de visitação que envolva mais, que ajude esse público a formar uma leitura da arte. Isso não tem a ver com novos espaços”, diz Dorinha.

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Posted by Cecília Bedê at 2:08 PM

Para além do acervo por Mariana Toniatti, O Povo

Para além do acervo

Matéria de Mariana Toniatti originalmente publicada no caderno Vida e Arte do jornal O Povo em 24 de julho de 2011.

DIRETOR da Pinacoteca de São Paulo desde 2002, o museólogo Marcelo Araújo aponta as principais preocupações para manter um equipamento público a partir de seu trabalho

O museólogo Marcelo Araújo é diretor da Pinacoteca de São Paulo desde 2002. No ano em que assumiu, a área de Ação Educativa foi reformulada e passou a desenvolver visitas monitoradas, capacitação de professores e programas para públicos especiais de forma contínua. O objetivo, de acordo com Marcelo, não é aumentar a quantidade de visitas, mas diversificar o público, até porque a média de visitas, 500 mil pessoas por ano, já é muito boa. São quase 42 mil visitantes por mês.

A Pinacoteca completou 106 anos com a vitalidade que um museu contemporâneo deve ter. É um dos melhores equipamentos do tipo país na avaliação de especialistas. No artigo assinado por Ricardo Resende (página 7), o diretor do Centro Cultural São Paulo (CCSP), aponta a Pinacoteca como “a melhor referência de museu no Brasil, particularmente por sua programação”. Para conhecer mais sobre o funcionamento da Pinacoteca e sobre as marcas da gestão de Marcelo, o Vida & Arte Cultura conversou com o diretor por telefone. (Mariana Toniatti)

O POVO - Para começar, que diferença existe entre uma pinacoteca e um museu? Ainda se faz uma distinção entre esses dois termos?

Marcelo Araújo - A palavra pinacoteca tem origem grega e designava a área dentro dos recintos dos templos onde eram guardadas as pinturas. É uma palavra que foi usada como sinônimo para museus praticamente desde o século XVIII. Ela ainda é usada em determinados idiomas, como alemão, inglês, italiano e português, e é bem menos usada, ainda que exista, em francês e espanhol. Apesar dessa origem, é uma palavra que hoje equivale quase a um sinônimo de museu. Não há diferença conceitual entre museu e pinacoteca, mas na verdade pinacoteca acaba se referindo sempre a um museu de arte. Um museu pode ser de história, de ciência, mas a pinacoteca sempre vai se referir a um acervo de obras de arte.

OP - Mas esse entendimento da Pinacoteca de São Paulo como espaço de exposição e fruição de obras de arte de diferentes linguagens começa cedo então? Pensei que era algo relacionado à gestão de Emanoel Araújo, seu antecessor.

Marcelo - Quando a Pinacoteca foi criada, em 1905, o acervo original era formado só por pinturas, o que talvez explique a adoção desse termo, tanto que inclusive era comum divulgá-la como sendo a “Galeria de Pinturas do Estado de São Paulo”, mas muito rapidamente ela passou a expor esculturas e outras linguagens e o nome Pinacoteca perdeu esse sentido etimológico inicial. Isso ocorre praticamente desde o começo, logo nos anos seguintes à inauguração.

OP – Então hoje ainda faria sentido abrir um equipamento com o nome de pinacoteca ou seria algo ultrapassado? Seria melhorar tratar como museu, mais abrangente?

Marcelo – Aí não sou eu que posso te responder. Quem for escolher a denominação vai ter que indicar se está adotando porque a intenção é que seja um museu só de pinturas, ou, como é na maioria das vezes, um museu com abertura para todas as outras linguagens.

OP - O que a Pinacoteca de São Paulo promove de diferente dos outros museus da cidade?

Marcelo - Hoje em dia todos os museus procuram o aprimoramento de qualidades e de conteúdo. No caso da Pinacoteca, temos políticas cujas diretrizes gerais são definidas pela Secretaria da Cultura, e temos nossos programas, as exposições de longa duração, a ampliação do acervo, atividades educativas e culturais. Um aspecto bastante amplo são as atividades voltadas para preservação e constituição de acervo de obras de arte de artistas brasileiros ou que trabalham no Brasil e a utilização desses acervos para a construção de uma experiência para o visitante.

OP – Essa experiência é que vai fomentar a formação de público? Sua gestão começa com a implantação da área de Ação Educativa com visitas monitoradas, capacitação de professores e programas para públicos especiais. Depois de quase dez anos, que efeitos você vê disso?

Marcelo - A equipe com a qual trabalho e as administrações estaduais ao qual ela está subordinada, veem como uma área fundamental, entendendo o museu nessa perspectiva de instituição com natureza essencialmente educativa e que, portanto, deve buscar nessas atividades um caminho fundamental para a consolidação e ampliação de públicos oferecendo experiências instigantes, produtivas, sensibilizadoras. Para isso é preciso ter procedimentos específicos, dependendo do público, e buscar segmentos afastados do museu por alguma razão. São programas que existem há vários anos, atividades consolidadas, projetos que têm logrado muita qualidade, resultados muito significativos. O grande objetivo, que vem de maneira muito lenta, é justamente assegurar não tanto a ampliação do público, mas a diversificação do público, que incorpore outros segmentos.

OP
– Que tipos de procedimentos específicos vocês adotam e para quais públicos segmentados?

Marcelo - Temos dois programas educativos maiores. O Programa Educativo para Públicos Especiais (Pepe), voltado para pessoas com algum tipo de limitação física, e o Programa de Inclusão Sociocultural (Pisc). Procuramos desenvolver parcerias com organizações que trabalham com esses públicos e pensamos em exposições e equipamentos que possam facilitar o acesso. Temos uma galeria tátil para deficientes visuais, esculturas selecionadas que podem ser tocadas, acompanhadas de etiquetas em braile e áudio guia. Esse é um espaço permanente. Outro programa, o de inclusão sociocultural, é voltado para o público que por razões econômicas e sociais ficam afastados do museu. Procuramos também parcerias com organizações não governamentais que já trabalham com esse público e articulamos programas que possam fazer com que a visita ao museu se insira dentro dessa atuação mais ampla das organizações. Temos visitas de sem-tetos, meninos de rua...

OP – O acervo hoje tem oito mil peças e continua em ampliação. A maior parte vem de doação, de compra, como é feita a seleção do que vale a pena adquirir?

Marcelo – Felizmente a Pinacoteca sempre contou e continua contando com doações de artistas ou colecionadores. Outra vertente são as aquisições pelo Governo do Estado ou com recursos de leis de incentivo, principalmente a Rouanet. Todas as doações e aquisições são analisadas e têm que ser aprovadas pelo Conselho de Orientação Artística, uma instância do Governo do Estado.

OP – Qual foi a última obra adquirida?

Marcelo – Recentemente, há duas semanas, recebemos uma doação do artista brasileiro Tomoo Handa, muito importante, atuante nos anos 30, 40 e 50. Uma pintura chamada Cafezal, de 1952, que é emblemática de sua produção e foi oferecida por doação por Telmo Porto (professor da USP que já doou outras peças para a Pinacoteca e para o Masp).

OP - São oito mil peças, não dá para expor tudo de uma vez, como vocês administram o acervo para que o público tenha a oportunidade de conhecê-lo?

Marcelo – Temos sempre uma exposição de longa duração no segundo andar. Neste momento, ela está fechada porque reinaugura, com outra seleção de obras, no começo de outubro. Nessa exposição de longa duração concentramos basicamente a produção do século XIX e do começo do século XX. Temos destaques do acervo em outras salas, adotamos uma série de estratégias, organizamos exposições temporárias, apresentamos as peças adquiridas recentemente. Toda obra que ingressa no acervo é catalogada e nosso site tem toda essa documentação disponível para pesquisadores. Além de tudo, a Pinacoteca empresta muitas obras para outras instituições fazerem circular nosso acervo.

OP - Existe uma Associação dos Amigos da Pinacoteca do Estado, o que ela faz?

Marcelo - Mudou de nome, agora é a Associação Pinacoteca Arte e Cultura, e é extremamente atuante. É a organização social que desde 2006 cuida da gestão da Pinacoteca por meio de um contrato de gestão com a Secretaria de Cultura.

OP - Quanto custa manter a Pinacoteca? Quem paga?

Marcelo – O Governo do Estado de São Paulo é responsável por aproximadamente 65% do orçamento, cerca de 25% vem através de patrocínio, principalmente via Lei Rouanet - mas também via leis de incentivo à cultura estadual e municipal -, e 10% através de verba própria com a bilheteria, a loja. O orçamento anual é por volta de R$ 25 milhões.

OP - Qual a média de visitantes?

Marcelo – Varia, mas é por volta de 500 mil por ano.

OP - Em que projetos a Pinacoteca deve investir em 2011?

Marcelo - Temos um programa de exposição temporária ativo, fazemos mais de 30 por ano. Temos várias mostras para entrar, entre elas uma exposição do Eliseu Visconti e instalações de Olafur Eliasson, de origem islandesa, no projeto Octógono.

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Posted by Cecília Bedê at 1:33 PM

Pinacoteca ou museu de arte? por Ricardo Resende, O Povo

Pinacoteca ou museu de arte?

Artigo de Ricardo Resende originalmente publicado em especial para o caderno Vida e Arte do jornal O Povo em 24 de julho de 2011.

EX-DIRETOR DO MAC, do Centro Dragão do Mar, Ricardo Resende lança a questão para os gestores da cultura no Ceará: pinacoteca ou um museu de arte para o Ceará?

Esta seria a pergunta que eu faria se estivesse no lugar de quem deverá decidir sobre a criação de um museu para abrigar o acervo da Secretaria do Estado do Ceará hoje guardado na reserva técnica do Museu de Arte Contemporânea do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura. Acervo este composto essencialmente por pinturas e esculturas.

No limiar do século XXI, depois de todos os questionamentos que a própria arte se fez desde o século passado marcado por transformações de nossa concepção de arte e após duas exposições em Fortaleza que tratavam da arte efêmera, as mostras de Esculturas Efêmeras de 1986 e 1991, organizadas pelo artista Sérvulo Esmeraldo, não me parece possível imaginar que ainda possa prevalecer a concepção novecentista de museu, para uma cidade como Fortaleza.

Já o conceito de pinacoteca está mais ligado à arte do Século XIX, quando a pintura reinava sobre as outras linguagens artísticas. A escultura não tinha o mesmo status de arte que teve no século seguinte. A fotografia apenas despontava. Não existia o cinema, nem a vídeoarte e nem as performances. Um museu a ser criado em 2011 não deveria vir engessado nesta nomenclatura equivocada para a compreensão de arte na contemporaneidade.

A ideia de um Museu de Arte para o Ceará deveria ser mais abrangente, capaz de contemplar todas as linguagens artísticas e manifestações culturais. Não deveria se restringir a uma ideia ultrapassada e acadêmica da arte. Deveria apresentar mostras de artes plásticas ou em seu conceito expandido de artes visuais, abrigar, por exemplo, a arquitetura, o design, a moda, a arqueologia, a arte clássica, a arte grega, a pré-colombiana, a arte marajoara e assim por diante, sendo capaz de absorver todo o acervo da secretaria, sem, no entanto ofuscar a política de exposições do Museu de Arte Contemporânea do Centro Dragão do Mar.

Alguns dos museus que apresentam estas características são os Museu de Arte de São Paulo, o Museu Metropolitano de Nova York, as Galerias Nacionais de Washington, Londres e Berlim, como alguns dos mais expressivos exemplos.

A Pinacoteca do Estado de São Paulo talvez seja atualmente a melhor referência de museu no Brasil, particularmente por sua programação, capaz de contemplar o melhor da arte dos séculos passado e deste, exibindo desde as pinturas acadêmicas do século XIX até as artes moderna e contemporânea. Uma instituição secular que soube se renovar e ampliar o seu universo expositivo, nos seus mais de 100 anos.

De qualquer forma, seja qual for o nome a ser adotado, sempre será bem vinda a criação de mais uma instituição museológica. Que ele funcione adequadamente, dentro dos mais rigorosos critérios museológicos e com a menor inferência político-partidária.

Ricardo Resende é diretor do Centro Cultural São Paulo (CCSP), curador independente e mestre em História da Arte pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP). Entre 2005 e 2007, foi diretor do Museu de Arte Contemporânea (MAC) do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura.

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Posted by Cecília Bedê at 12:56 PM

julho 22, 2011

No passo do descompasso por Dellano Rios e Fábio Marques, Diário do Nordeste

No passo do descompasso

Matéria de Dellano Rios e Fábio Marques originalmente publicada no Caderno 3 do Diário do Nordeste em 21 de julho de 2011.

Atrasos e incerteza na liberação de recursos fragilizam a atuação da Secretaria da Cultura no que diz respeito ao financiamento de ações culturais e dão mostras da falta de prestígio da pasta no Governo. Secult justifica atraso em dar uma resposta pelo "ritmo" do Governo

Pouco mais de um mês após receber efetivamente seu novo titular, Francisco Pinheiro, a Secretaria da Cultura do Estado (Secult) é alvo de reclamações por parte de artistas e produtores culturais que denunciam o engessamento e ineficácia do Fundo Estadual da Cultura (FEC), uma das principais vias de financiamento de projetos culturais. O fundo recebe verba de empresas via dedução do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). As empresas deduzem até 2% do valor que pagariam com o imposto e repassam o recurso ao FEC.

Em carta aberta divulgada na última terça-feira, dia 19, o diretor da Companhia Teatral Acontece, Almeida Jr. comunicou o cancelamento da participação de grupos de outros estados no Festival de Esquetes da Cia. Teatral Acontece (Fecta), a ser realizado de 3 a 13 de agosto, em Fortaleza, bem como a suspensão do pagamento dos mais de 300 artistas que participariam da mostra. O motivo? O recurso aprovado pelos proponentes no FEC não foi liberado.

Ao todo, 56 artistas de dez grupos de outros estados haviam passado por seleção e também teriam passagens, hospedagens pelo recurso. De acordo com o comunicado, o projeto foi inscrito em 17 de fevereiro deste ano e aprovado pela Secult para receber cerca de R$ 88 mil oriundos do FEC. A Secretaria justifica que o atraso no pagamento é devido ao próprio funcionamento burocrático do Monitoramento de Projetos Prioritários do Governo do Estado (MAPP), que centraliza todos os pagamentos nas mãos do governador Cid Gomes. Os projetos aprovados pelo órgão seriam, então, encaminhados ao governador e, só após a aprovação deste, receberiam a verba.

O caso da Cia. Teatral Acontece é apenas um entre as tantas reclamações de artistas e produtores culturais que acusam o novo sistema de inviabilizar projetos, uma vez que em grande parte eles dependem de um calendário pré-estabelecido para acontecer. "Como a última pauta que ele (o governador Cid Gomes) vai olhar é a da Cultura e o secretário não tem autonomia de gerir sua secretaria, quem paga somos nós, artistas", critica Almeida Jr.

Ele conta que o mesmo teria acontecido em 2009. "Nós ganhamos e não recebemos. Porque, quando o governador Cid Gomes viu no MAPP, o evento já tinha acontecido. Ficamos com o prejuízo", lembra.

Regulamentação

Antes do novo sistema de MAPP, a liberação de recursos do FEC funcionava de acordo com a lei estadual nº 13.811, de 2006, que cria o Sistema Estadual da Cultura e regulamenta a gestão destes recursos, dando ao Comitê Gestor do FEC, que é presidido pelo secretário da Cultura e outros sete gestores ligados à pasta, a autonomia de avaliar, aprovar e autorizar o pagamento dos recursos. O comitê precisa dar seu parecer seu parecer até 60 dias após o recebimento do projeto.

Os atrasos e o enfraquecimento do Comitê Gestor são também um dos entraves destacados pelo produtor cultural e diretor da Associação dos Produtores e Empreendedores Culturais do Ceará, Jaime Lins. Atuante desde 2003, ele afirma que com o novo mecanismo é comum que os prazos de execução de muitos projetos aprovados sejam perdidos pela demora. "Já que o governo tem esse sistema de monitoramento, cabe aos produtores submeter os projetos à aprovação com mais antecedência, quatro meses antes, pelo menos", orienta.

Atrasos

Outros projetos que enfrentam atrasos na liberação da verba do Fundo Estadual da Cultura são a Mostra Religare, que comemora os 20 anos do Curso de Princípios Básicos de Teatro (CPBT), e o Festival de Dança do Litoral Oeste. Este último, previsto para acontecer anualmente, em julho, já foi adiado duas vezes. O projeto teria sido aprovado em março pela Secretaria da Cultura e, desde então, aguarda a liberação por parte do governador.

"Por conta do atraso de repasse, a previsão é que aconteça no início de setembro. Esse festival era tido como ação estruturante do Estado, mas nós temos um histórico de descaso na Secult. A gente não consegue manter um calendário fixo", reclama Jerson Moreno, diretor da companhia de dança Balé Baião e curador do festival.

Jerson revela que, em 2010, o festival passou pela mesma dificuldade e que só teve a verba liberada após a intervenção de um deputado estadual junto ao governador. "Estamos percebendo que, se você não entra firme com político da região, pelo visto, não vão desengavetar", reclama o proponente.

No caso da Mostra Religare, a situação é ainda mais urgente. O atraso também já dura cerca quatro meses, mas, de acordo com a coordenação do evento, eles tem até agosto para dar início à programação. "Devíamos ter estreado em junho. Já estamos no fim de julho e não temos nenhuma indicação", alerta a organização. O coordenador explica que o MAPP só pode ser assinado até o último dia de realização do projeto, não podendo ser pago após a sua execução, o que torna financeiramente arriscado começar a executá-lo antes da aprovação pelo governador.

Ritmo lento

A polêmica vem à tona após encontro entre os organizadores do Fecta e o secretário da Cultura, Francisco Pinheiro, que teria se dado durante reunião do Partido dos Trabalhadores (PT), ao qual pertence o Secretário da Cultura, Francisco Pinheiro, realizada na segunda-feira, na sede estadual do partido, em Fortaleza. "Tentamos marcar reunião várias vezes (com Pinheiro) e não fomos recebidos. Soubemos que o Secretário Nacional de Cultura do Partido dos Trabalhadores (Edmilson Souza) se reuniria com ele, juntamos todo o grupo da organização e fomos à reunião", conta Almeida Jr.

Segundo o comunicado público do grupo, na ocasião, Pinheiro teria afirmado que o projeto não receberia o financiamento aprovado, "uma vez que não existe convênio assinado".

Em entrevista por telefone ao Diário do Nordeste, o secretário confirmou a informação: "Eles não podiam contar com recursos se não tem nada assinado. Quando assinamos um convênio, sempre honramos nosso compromisso". Qual o impedimento para a assinatura de um? "O projeto está em processo de aprovação. Só assinamos depois que os projetos passam por todo esse processo", respondeu.

O secretário justifica a demora de cinco meses pelo volume de projetos recebidos. Só a Secult, nesta gestão, recebeu 284 projetos, que precisam ser acompanhados. "Não sei se é tempo demais (para esperar uma aprovação do Governo). Há projetos que levam mais tempo ainda. O proponente não pode botar sua proposta tendo como garantia única o recurso público. Se você faz todo o projeto contando apenas com o recurso público, alguma coisa está errada. A pergunta a se fazer é: por que ele não consegue captar recursos além dos públicos?", argumenta.

Perguntado se tal perspectiva não inviabilizaria ações, planejadas e com data marcada para acontecer, o Professor Francisco Pinheiro não vacilou: "Não podemos estar submetidos às datas que o grupo impõe. O Estado tem seu ritmo. O processo não é tão simples, passa por uma série de etapas, para evitar o transtorno dele ser desabilitado nas primeiras, por problemas de documentação".

Ficam as questões: esperar pelo ritmo imprevisível do Estado não prejudicaria a captação em outras fontes? Afinal, qual investidor entraria com recursos para financiar uma ação sem data certa para acontecer? Irritado com as perguntas, o secretário mostrou indisposição para o diálogo. "Você sabe quantos projetos foram aprovados este ano?". A reportagem argumentou que, como fonte autorizada para esta matéria, o próprio secretário da Cultura poderia responder. "Não tenho obrigação de dizer isso. Pesquise, descubra! Está tudo no site da secretaria". Até o fechamento desta edição, na página da Secult (http://www.secult.ce.gov.br) só eram informados os números referentes à primeira gestão Cid Gomes (2007 a 2010).

Posted by Gilberto Vieira at 3:54 PM

julho 21, 2011

Richter na fronteira do real por Antonio Gonçalves Filho, O Estado de S.Paulo

Richter na fronteira do real

Matéria de Antonio Gonçalves Filho originalmente publicada no caderno Cultura de O Estado de S. Paulo em 21 de julho de 2011.

Mostra do maior nome da pintura alemã será aberta na Pinacoteca do Estado no sábado

O pintor alemão Gerhard Richter nunca veio ao Brasil, mas, antes de completar 80 anos, no próximo ano, manda lembranças na forma de 27 obras reunidas em Sinopse, sua primeira individual brasileira em mais de meio século de carreira, realização do Ifa (Instituto de Relações Culturais com o Exterior) em parceria com o Goethe-Institut. Sentado na sala que abriga os trabalhos, na Pinacoteca do Estado, onde a mostra será inaugurada no sábado, seu biógrafo, Dietmar Elger, também diretor do arquivo que leva o nome do artista, em Dresden, garante que Richter selecionou cada um dos trabalhos exibidos, auxiliado na tarefa pelo historiador Götz Adriani. Nada mais apropriado para um artista organizado, sistemático e com rigoroso controle sobre sua produção, a ponto de anotar quantos metros de tela pinta por ano. Justificável: uma pintura sua pode custar até US$ 9 milhões.

Nem sempre foi assim. Richter amargou um período cinzento na Alemanha Oriental até escapar definitivamente do realismo socialista em 1961, ano em que estava sendo construído o Muro de Berlim. O pintor fugiu com a primeira mulher para Düsseldorf, na Alemanha Ocidental, onde estudou pintura com Karl Otto Götz, integrante do grupo Cobra, que contribuiu para o advento da arte informal nos anos 1950. Richter tem muito de seu mestre, que também oscilou entre a figuração e a abstração, tanto em monotipias com em fotos experimentais. Götz também foi professor de Sigmar Polke, companheiro de Richter na criação da paródica escola do "realismo capitalista", em 1965, resposta irônica à ditadura estética da Alemanha comunista e ao mercantilismo da arte pop americana.

Há, na retrospectiva da Pinacoteca, pelo menos uma obra dessa época, marcada pela amizade com os pintores Konrad Fische-Lueg e Georg Baselitz. Ela ilustra o método de apropriação de imagens fotográficas por esses "realistas capitalistas". Trata-se de Tio Rudi, que retrata o irmão da mãe do pintor, vestido como oficial nazista. Richter era adolescente durante a Segunda Guerra. Tragédias familiares - como a do tio, que morreu na França durante a Ocupação, e de uma tia doente mental, enviada para um campo de extermínio - fizeram de Richter um artista avesso a ideologias, segundo seu biógrafo. "Até mesmo a série de trabalhos sobre o grupo radical Baader Meinhof, feita em 1988, revela mais o medo de que sua filha Betty seguisse o caminho da terrorista Ulriche Meinhof, morta na prisão, em outubro de 1977, do que um comentário político sobre os atos da facção esquerdista", diz Elger.

Betty, hoje com 45 anos, é a filha mais velha de Richter, três vezes casado e pai de duas garotas e dois rapazes, todos retratados por ele. O caçula Moritz ficou por último e, quando lhe perguntam a razão, Richter simplesmente responde: "É que ainda não fiz nenhuma foto dele". Parece brincadeira, mas não é. O pintor vê o mundo por intermédio da imagem fotográfica. Desde que fez sua primeira exposição, em 1963, na Mobelhaus Berges, uma loja de móveis de Düsseldorf, Richter usa a fotografia como documento mais confiável que o olho, incapaz de perceber o que uma máquina registra com precisão. Se ele pinta depois de fotografar, é só pelo impulso subversivo de contestar a hierarquia da arte, como nos tempos do "realismo capitalista".

"Ele não está interessado em verossimilhança nem na pureza da arte, mas numa reinterpretação da realidade via fotografia, no entendimento do mundo por meio dela", observa seu biógrafo. De fato, por que alguém passaria a vida replicando fotografias em pinturas tão "realistas" que chegam a colocar o espectador em dúvida sobre o que vê? Não para criar ilusionismo, isso é certo. Richter escapa até mesmo da prisão temática que prende outros pintores. Há 40 anos começou seu bouvardiano projeto de construir uma enciclopédia de imagens que explicassem, de alguma maneira, o mundo moderno. Chama-se Atlas, foi exposto na Documenta de Kassel de 1997 e tem mais de 4 mil fotografias extraídas de jornais, revistas e livros, muitas delas referências para séries que se tornariam famosas - e cuja marca registrada é a luz suave que emana de uma pincelada leve, como suas paisagens encobertas pela bruma.

Naturalmente, a pintura de Richter acabou evoluindo para a abstração. O marco zero dessa fase é uma tela de 1976. Nela, o pintor usa a mesma técnica de suas pinturas de representação, encobrindo detalhes que possam sugerir figuras e raspando a superfície para expor traços e pinceladas anteriores. Tanto nas dimensões como no procedimento, Richter reproduz o ato heroico dos expressionistas abstratos americanos diante da tela.

Assim como Richter nunca se prendeu a uma escola, ele experimentou igualmente várias mídias (filmes, vídeos) e até deixou sua marca como design no edifício mais visitado de Colônia, sua catedral, para a qual desenhou um vitral abstrato, quase minimalista em sua concepção. Foi uma maneira de aprimorar uma série de pinturas feitas entre 1966 e 1974, em que dissociou as cores da tradição simbólica.

GERHARD RICHTER
Pinacoteca do Estado. Praça da Luz, 2, telefone 3324-1000. 10 h/18 h (fecha 2ª).
R$ 6 (sábados, grátis). Até 21/8. Abertura sábado, às 11 h.

Posted by Gilberto Vieira at 1:21 PM

Artistas tecnológicos evocam McLuhan por Silas Martí, Folha de S. Paulo

Artistas tecnológicos evocam McLuhan

Matéria de Silas Martí originalmente publicada na Ilustrada da Folha de S. Paulo em 21 de julho de 2011.

Criadores levam às suas obras noções exploradas pelo canadense, como a de máquinas como extensão do corpo

Três exposições em cartaz em São Paulo reúnem trabalhos que se apoiam na convergência de meios

Nas mãos de artistas das chamadas novas mídias, em três mostras agora em cartaz, o conceito popular de Marshall McLuhan, de que o meio é a mensagem, ganhou desdobramentos literais. São muitos meios, acionados ao mesmo tempo, para dar cabo de uma realidade híbrida, hiperconectada e ultraveloz.

"Tudo isso estava nas profecias dele", resume Marcos Cuzziol, curador de uma mostra de arte cibernética agora no Itaú Cultural. "As formas são empurradas no limite da velocidade e do seu potencial. A gente vive isso hoje."

Uma das obras de sua exposição, aliás, trabalha com mecanismos de leitura de imagens que codificam sons aleatórios e dependem desses mesmos sons para gerar novas versões de pulsos sonoros, numa cadeia de atos multiplicados, imprevisíveis.

"Seria difícil fazer esse tipo de obra sem antes ter o pensamento de McLuhan", analisa a artista Kátia Maciel. "Quando um trabalho de novas mídias é bom, consegue problematizar o seu meio."

No caso, obras desses artistas materializam conceitos que McLuhan aplicou à dinâmica da comunicação, como as noções de aldeia global, os aparatos tecnológicos como extensão do corpo e a ideia de hibridização dos meios.

Sinal de que estão em todos os lugares ao mesmo tempo, uma obra do americano Matt Roberts usa a vibração de ondas do Atlântico numa bacia d'água que está no File, na avenida Paulista, para criar desenhos com ondas.

"Quando líamos o McLuhan há 20 anos, não sabíamos ainda o que viria a ser a globalização", diz Ricardo Barreto, curador do File. No festival On_Off, que começa amanhã no Itaú Cultural, o coletivo britânico Light Surgeons deixa essa convergência de mídias muito clara, misturando poesia, projeções, música e performance.

"É uma ópera audiovisual", diz Roberto Cruz, curador do festival. "Esse é um trabalho de transmídia, sobreposição de mídias, um outro conceito de McLuhan."

Colaborou GABRIELA LONGMAN, de São Paulo.

RUMOS ARTE CIBERNÉTICA
QUANDO de ter. a sex., 9h às 20h; sáb. e dom., 11h às 20h; até 4/9
ONDE Itaú Cultural (av. Paulista, 149, tel. 0/xx/11/2168-1776)
QUANTO grátis

ON_OFF
QUANDO de 22/7 a 31/7, às 20h
ONDE Itaú Cultural

FILE
QUANDO seg., das 11h às 20h; de ter. a sáb., das 10h às 20h; dom., 10h às 19h; até 21/8
ONDE Centro Cultural Fiesp (av. Paulista, 1.313, tel. 0/xx/11/3146-7405)
QUANTO grátis

Posted by Gilberto Vieira at 1:06 PM | Comentários (1)

julho 20, 2011

Cartaz da 30ª Bienal de São Paulo será criado por coletivo selecionado na internet por Márcia Abos, O Globo

Cartaz da 30ª Bienal de São Paulo será criado por coletivo selecionado na internet

Matéria de Márcia Abos originalmente publicada no caderno Cultura do O Globo em 20 de julho de 2011.

SÃO PAULO - A identidade visual da 30ª Bienal de São Paulo, que acontece em setembro de 2012, será criada por um coletivo de artistas que será selecionado por meio de inscrições na internet abertas a todos os interessados, desde que sejam maiores de idade e residentes no Brasil. Em uma iniciativa inédita da Fundação Bienal anunciada na manhã desta quarta-feira em São Paulo, o grupo que criará o material de comunicação da mostra, que inclui o cartaz, catálogos, guias, site e aplicativos para celulares e tablets, será escolhido através de um processo seletivo que não se limita a designers ou artistas plásticos.

As incrições serão abertas em 1 de agosto no site www.bienal.org.br e terminam em 2 de setembro. Os participantes terão de apresentar uma proposta de trabalho, que inclui imagens de referência, um texto conceitual e uma proposta de desenvolvimento, além de um currículo resumido. Serão escolhidas 12 pessoas por uma equipe que inclui os curadores da 30 Bienal - Luis Perez-Oramas, André Severo, Tobi Maier e Isabela Villanueva -, o curador do projeto educacional e um representante da área de design e comunicação da Fundação Bienal. Também participam do grupo de avaliação os designers brasileiros Elaine Ramos, Daniel Trench e Jair de Souza e a dupla de designers holandeses Armand Mevis e Linda Van Deursen.

_ A iniciativa da convocatória é fruto da proposta curatorial da 30 Bienal, cujo tema é "A iminência das poéticas". A seleção tem como fim não a escolha de um projeto vencedor, mas sim a participação em workshop no qual o coletivo criará a identidade visual desta exposição _ explicou André Stolarski, coordenador geral de comunicação da Fundação Bienal, sobre a iniciativa que subverte a tradição dos concursos de cartazes realizados em várias edições da mostra para criar um processo de criação coletiva aberto à sociedade e em diálogo constante com curadoria da mostra.

As doze pessoas escolhidas irão participar de um workshop entre os dias 3 e 7 de outubro no Centro Universitário do Senac em São Paulo, sob a orientação da mesma equipe responsável pela seleção dos projetos inscritos. A participação será remunerada por um valor ainda não definido e todos os participantes, inclusive os orietadores, serão creditados como autores. Deste encontro entre os selecionados, os curadores da Bienal e os designers convidados surgirá a identidade visual da exposição, que inclui material de divulgação impresso, espacial, publicitário e online.

_ A identidade visual da Bienal também é uma plataforma poética. É por meio dela que a mostra fala e se apresenta ao mundo. Seria uma contradição não conceber a identidade visual desta Bienal em conjunto com seu tema. Também entendemos que a Bienal acontece no Brasil e temos que começar falando com o lugar, com a sociedade brasileira, em vez de impor uma ideia. A conovocatória é uma forma de materializar a polifonia que caracteriza a arte contemporânea. A soma dos encontros é o que vai produzir esta Bienal _ afirma o curador-chefe da mostra, Luiz Perez-Oramas.


Posted by Gilberto Vieira at 6:50 PM

Arte nos contêineres por Silas Martí, Folha de S. Paulo

Arte nos contêineres

Nota de Silas Martí originalmente publicada na Ilustrada da Folha de S. Paulo em 20 de julho de 2011.

Quem passar pela avenida Paulista de hoje até a próxima terça vai dar de cara com quatro contêineres cheios de obras de arte, uma espécie de galeria pop-up, montada na altura do prédio da Fiesp. Do lado de fora, velhos exemplares do "Notícias Populares" são o cartão de visita da mostra, com manchetes como "Paulista periga ir pelos ares".

Posted by Gilberto Vieira at 6:43 PM

julho 18, 2011

Casa dos artistas por Pedro Leal Fonseca, Folha de S. Paulo

Casa dos artistas

Matéria de Pedro Leal Fonseca originalmente publicada na Ilustrada da Folha de S. Paulo em 17 de julho de 2011.

Projeto reúne brasileiros e estrangeiros em residência na ilha de Itaparica, livres para criar

Uma temporada de dois meses numa casa da ilha de Itaparica (14 km de Salvador), em frente ao mar da baía de Todos os Santos, com despesas pagas e sem a pressão de tarefas cotidianas.

Nos últimos dez anos, 180 artistas de 43 países tiveram à disposição esse conjunto de regalias na residência do Instituto Sacatar.

São pessoas como a artista visual carioca Alice Miceli, 31 -destaque da Bienal de São Paulo em 2010-, e o compositor paulista Felipe Lara, 32.

Há poucos meses, eles nem se conheciam. Nas últimas semanas, escolhidos para uma temporada no Sacatar, os dois puderam trocar experiências sobre o "funcionamento dos sons".

Felipe deixou de lado as partituras da obra que compõe para a Osesp (Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo) e apresentou a Alice programas de computador que fazem análise de sons e que podem auxiliá-la em seu próximo trabalho.

Tempo para criar

Mantido por doações captadas nos Estados Unidos, o Sacatar oferece para os residentes passagens aéreas, uma casa de praia com mais de 8.000 m2, todas as refeições e o principal: tempo livre para criar.

De junho até agosto, há três brasileiros e três estrangeiros vivendo ali. Foram escolhidos em processo de seleção que envolveu entrevistas e análise de trabalhos.

A artista plástica mineira Lucimar Bello, 65, uma das residentes, preenche seu estúdio com 6.000 conchas e capas da Folha, cobertas com óleo de linhaça e pó de aroeira. "Ainda não sei onde isso vai parar. Estou estudando possibilidades."

Ela também desenvolve um projeto com a comunidade local, em oficinas que reúnem, por exemplo, trançadeiras e barbeiros da própria ilha de Itaparica.

Enquanto ela coordena a oficina, o fotógrafo americano Gerald Cyrus, 54, clica os meninos e meninas que foram até o local para trançar os cabelos.

"Pesquiso a cultura afro-baiana há 20 anos. Estou retratando o povo negro de Itaparica e Salvador", diz.

Interação

Segundo ele, na Filadélfia (EUA), é mais difícil interagir com artistas de várias vertentes, como ocorre na casa.

As refeições são os momentos de maior interação. Quando a Folha visitou o local, o grupo conversava -oscilando entre o português e o inglês- enquanto comia uma moqueca de peixe.

Felipe Lara traduzia as impressões da ceramista americana Maggie Smith, 60, sobre a técnica de azulejos que ela conheceu em uma cidade perto da ilha.

"Não temos isso nos EUA. A cultura daqui está influenciando o meu trabalho. Fomos ao candomblé em Itaparica e estou lendo "Viva o Povo Brasileiro", de João Ubaldo Ribeiro", diz Maggie.

A japonesa Mari Ogihara, 29, também ceramista, trabalha com arames e jornais para reproduzir gaiolas, objeto pelo qual se encantou. "Estamos aqui em um período de reflexão e autodescoberta."

Posted by Gilberto Vieira at 3:50 PM

julho 13, 2011

Artista dissidente Ai Weiwei aceita cargo em Berlim por Eric Kelsey, oglobo.globo.com

Artista dissidente Ai Weiwei aceita cargo em Berlim

Matéria de Eric Kelsey originalmente publicada no caderno Cultura do oglobo.globo.com em 13 de julho de 2011.

BERLIM (Reuters) - O artista dissidente chinês Ai Weiwei aceitou um cargo de professor visitante na Universidade das Artes de Berlim, anunciou a universidade na quarta-feira, dizendo que não sabia quando ele poderá deixar a China para começar no cargo.

O destacado artista de 54 anos, crítico do Partido Comunista que governa a China, foi solto no mês passado depois de passar mais de dois meses detido por suspeita de sonegação de impostos. No momento, ele não está autorizado a falar com a imprensa.

A detenção dele suscitou críticas de governos ocidentais ao tratamento dado pela China a ativistas dos direitos humanos.

O reitor da universidade alemã, Martin Rennert, descreveu a resposta de Ai como "sinal positivo" de que ele poderá assumir o cargo em breve.

A universidade ofereceu o cargo ao artista em abril, pouco depois de ele ter sido impedido de embarcar em um voo de Pequim a Hong Kong e ter sido detido pela polícia de fronteira.

A prisão do artista e quatro de seus colaboradores marcou o início de um caso que, segundo o governo chinês, dizia respeito à suspeita de sonegação de impostos, enquanto os defensores de Ai disseram que foi uma maneira de amordaçar críticos do governo.

As autoridades tributárias de Pequim cobraram de Ai o pagamento de 12 milhões de yuans (1,9 milhão de dólares) em impostos atrasados e multas.

Ai, que tem vínculos com a capital alemã, disse em março, antes de ser detido, que planejava abrir um ateliê em Berlim para ser sua base na Europa.

Posted by Alice Dalgalarrondo at 2:41 PM

Novas obras para se ver em Inhotim por Camila Molina, O Estado de S. Paulo

Novas obras para se ver em Inhotim

Matéria de Camila Molina originalmente publicada no caderno de Cultura do jornal O Estado de S. Paulo em 13 de julho de 2011.

Além do sucesso da atual retrospectiva da brasileira Lygia Pape (1927-2004) em cartaz até 3 de outubro no Museu Nacional Centro de Arte Reina Sofia em Madri, a artista fluminense também terá, a partir de 2012, um pavilhão inteiro para sua instalação Tteia no Instituto Inhotim, em Brumadinho, Minas Gerais. Será a Galeria Lygia Pape, a ser construída logo no início do centro de arte onde funcionava antes um estacionamento. Mas antes disso, em outubro, Inhotim inaugurará para o público uma série de novas obras criadas por artistas nacionais como Marepe e Marilá Dardot e estrangeiros como o suíço Thomas Hirschhorn, o chileno Eugenio Dittborn e o italiano Mario Merz.

O escritório de arquitetura mineiro Rizoma é o responsável pelo projeto da Galeria Lygia Pape, como conta o curador de Inhotim Jochen Volz. "Vamos fazer com cuidado e ainda estamos planejando, mas vai ser um pavilhão de formas simples por fora porque no interior o espaço deve ser preto", ele ainda diz. Segundo Volz, o pavilhão ficará pronto no primeiro semestre de 2012.

Essa versão de Tteia, que vai ficar em exibição em caráter permanente em Inhotim, é fruto de pesquisa iniciada pela artista na década de 1970, mas foi criada em 2004. Em espaço totalmente escuro, a Tteia é feita de fios de ouro que saem de formas quadradas presas ao chão, transformando em poesia o local com feixes de luz de quase imaterialidade. A obra esteve na 53.ª Bienal de Veneza, em 2009, da qual Volz foi cocurador e na qual Lygia Pape recebeu menção honrosa.

Humanismo. O Instituto Inhotim, criado pelo empresário Bernardo Paz, tem, além de pavilhões exclusivamente dedicados a um único artista como, por exemplo, os de Miguel Rio Branco e Adriana Varejão, galerias em que são exibidas mostras coletivas com obras da coleção da instituição. É o caso, por exemplo, das galerias Lago e Fonte, que, a partir de outubro, serão reconfiguradas com novas obras adquiridas pelo instituto.

"É possível ter uma outra noção de tempo em Inhotim", diz Volz, referindo-se ao fato de que uma exposição temporária no centro de arte pode durar anos. A Galeria Fonte não é "repaginada" desde 2008.

Nela estarão, entre outras obras, pinturas The 6th History of the Human Face, de Eugenio Dittborn (artista também homenageado da 8.ª Bienal do Mercosul, a ser inaugurada em setembro); a série Fragmento Brasil, com imagens feitas pelo alemão Lothar Baumgarten entre 1977 e 2005; e o trabalho Upon a Time, do inglês Steve McQueen. "É uma exposição de muita humanidade", diz Volz. Já a Galeria Lago exibirá o vídeo Confronto, da mineira Cinthia Marcelle; a obra A Bica, do baiano Marepe; e a instalação Restore Now, que Hirschhorn criou em 2006 para a 27.ª Bienal de São Paulo.

Mas vale ainda citar as obras que Inhotim apresentará ao ar livre, como A Origem da Obra de Arte, de Marilá Dardot; um dos iglus históricos de Mario Merz; como ainda trabalho de Chris Burden e a bela Elevazione, de Guiseppe Penone, em que cinco árvores naturais crescerão carregando uma árvore esculpida em bronze.

Posted by Alice Dalgalarrondo at 2:25 PM

julho 12, 2011

Pinacoteca revê obras históricas em exposição por Silas Martí, Folha de S. Paulo

Pinacoteca revê obras históricas em exposição

Matéria de Silas Martí originalmente publicada no caderno Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 12 de julho de 2011.

Era para ser efêmero. Quando o artista Theo Werneck usou lâmpadas para desenhar no escuro há quase 30 anos, quis enfatizar os breves instantes entre um evento e seu impacto na retina.

Mas, pensando na memória desses vestígios, a Pinacoteca do Estado abre neste sábado uma exposição com o que sobrou das ações num dos períodos mais efervescentes para o gênero no país.

Do fim dos anos 70 para o começo dos 80, embalados pelo ocaso da ditadura e pela abertura democrática, artistas testaram os limites do teatro e das artes visuais, misturando linguagens em trabalhos de toada experimental.

E o museu da Luz foi um dos endereços mais ativos nesse cenário. Foi lá que José Roberto Aguilar orquestrou um concerto para piano usando luvas de boxe em 1980. A peça terminava com Arnaldo Antunes disparando dois extintores de incêndio.

Ivald Granato estreitou ali seus laços com a pop art, ironizando o maior gênio dela ao se fantasiar de Andy Warhol ao vivo, com direito a roupa de super-herói e pintura de cabelo e sobrancelha. Numa transposição mais direta do palco para o museu, Celina Mitie Fujii e outros dois atores encarnam cores numa encenação em que o negro e o branco vão tingindo tecidos até completar uma composição colorida.

Posted by Alice Dalgalarrondo at 2:14 PM

Arte em ação por Silas Martí, Folha de S. Paulo

Arte em ação

Matéria de Silas Martí originalmente publicada no caderno Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 12 de julho de 2011.

Performances abandonam escala individual e ganham dimensões maiores com a entrada de artistas visuais nos terrenos da ópera e do teatro

Tem nome de épico ou musical da Broadway com roupagem cult. Marina Abramovic estreou, no último sábado, em Manchester, não mais uma de suas performances, mas uma ópera inteira.

"The Life and Death of Marina Abramovic", ou a vida e a morte da mesma, tem direção do badalado dramaturgo americano Robert Wilson e um elenco com o ator Willem Dafoe, o músico Antony Hegarty, do Antony and the Johnsons, três cantores siberianos e mais 16 dobermans.

Ela não está mesmo sozinha. Outros grandes nomes, como Doug Aitken e Matthew Barney, que têm obras no Instituto Inhotim, em MG, e alguns dos escalados para o festival Verbo, que começa hoje na galeria Vermelho, em São Paulo, também extrapolam a escala antes mais enxuta da performance.

No caso de Abramovic, tudo começou quando ela pediu a Wilson que dramatizasse seu enterro, ideia que foi crescendo e ganhou as dimensões da vida inteira. Da infância na antiga Iugoslávia até a morte depois de uma carreira retumbante nas artes visuais, pautada por performances de longa duração e exaustivo esforço físico.

"Arte tem de ser mais lenta. Se aceitarmos a velocidade da plateia, não estamos mudando nada", disse a artista a um jornal britânico. "Nas performances maiores, é possível mudar o público."

Ou impressionar esse público. Matthew Barney, depois de "Cremaster", ciclo de cinco filmes da maior volúpia visual, vem desdobrando suas cenas fantásticas em ações ao vivo. Em Detroit, no ano passado, encenou por oito horas sob chuva o renascer do chassi de um carro a partir de uma pilha de destroços numa fábrica abandonada.
Já Doug Aitken acabou de encenar, numa balsa entre as ilhas gregas, outra ópera, que tinha como estrela a atriz Chloë Sevigny, além de duas cantoras gospel, cinco bateristas e quatro dançarinas.

MISE-EN-SCÈNE
Em escala mais modesta, a performance que abre hoje a sétima edição da Verbo, da holandesa Lot Meijers, põe sete atores em cena durante um jantar. São três horas de conversa, sem roteiro.

"É menos sobre o que eles estão dizendo e mais sobre a dinâmica entre eles", diz Meijers à Folha. "Quis trabalhar com atores porque eles são mais conscientes, sabem se portar sob holofotes."

Na mesma pegada teatral, Rose Akras, também escalada para a Verbo, revisita mecanismos da dança e dos palcos para construir uma espécie de cenário na galeria. Eva Schippers, também no festival, fala em "curto-circuito" na hora em que dirige suas ações. "Você está ali de forma indireta", diz ela. "É como se tentasse criar um Exército de mim mesma."

Posted by Alice Dalgalarrondo at 2:03 PM

julho 11, 2011

Portinari sofre no porão, mas tem catálogo por Silas Marí, Folha de S. Paulo

Portinari sofre no porão, mas tem catálogo

Matéria de Silas Martí originalmente publicada no caderno Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 9 de julho de 2011.

Mesmo ocupando o úmido e apertado porão do solar Grandjean de Montigny, dentro da PUC do Rio, o Projeto Portinari serve como espécie de contraponto a tentativas de herdeiros de gerenciar e cuidar de seus acervos.

Contraponto porque foi o primeiro a concluir, em 2004, um catálogo raisonné da obra de Portinari e tornar disponível on-line uma farta documentação reunida em torno dele.

Também por ter articulado um ambicioso processo de restauro dos painéis "Guerra e Paz", que adornavam o saguão da sede das Nações Unidas, em Nova York, desde 1957.

Mas a diferença talvez seja o fato deste ser o único projeto com patrocínio fixo, que garante o orçamento de R$ 600 mil.

Ainda assim, João Candido Portinari, filho do artista, autorizava até pouco tempo atrás a reprodução em massa de quadros de seu pai, vendidos como item de decoração.

Posted by Alice Dalgalarrondo at 1:31 PM

Negócios de família por Silas Martí, Folha de S. Paulo

Negócios de família

Matéria de Silas Martí originlmente publicada no caderno Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 9 de julho de 2011.

Embalados pela valorização de Lygia Clark, Hélio Oiticica e Leonilson, herdeiros dos artistas se dividem entre cuidados com a memória e lucro sobre o espólio

No dia 8 de novembro de 1968, Lygia Clark fez um desabafo numa página de seu diário. "Estou fodida, meio desesperada", escreveu a artista. "Terei de mudar desse apartamento que adoro porque é caríssimo para mim."

Mais de 40 anos depois, em junho passado, uma escultura sua foi vendida na Suíça pelo maior valor já pago pela obra de um brasileiro, R$ 4,1 milhões. Outro sinal de tempos que mudaram: suas netas abriram uma butique em Botafogo, no Rio, nada longe de onde ela morava, para celebrar sua memória.

Foi na Clark Art Center há uma semana que, com cervejas e canapés vendidos na entrada, cerca de cem pessoas se espremeram entre objetos de design para ver o músico Jards Macalé, amigo de Lygia, ser alvo de uma reedição da performance "Baba Antropofágica", de 1973.

De cueca, ele se deitou no meio do salão para ser coberto num emaranhado de fios coloridos desenrolados de carretéis enfiados na boca de cada um dos participantes -essa foi a primeira reedição do ato desde os anos 1970.

"Cada vez que você faz uma ação, sente uma coisa diferente, meio boba", refletiu Alessandra Clark, mulher loira, alta e de sandálias de strass, neta da artista e designer por trás da loja Clark Art Center. "É meio engraçado."

Horas depois, Macalé estava coberto numa grossa trama de tecido, enredado numa confusão de cores. É um quadro que ilustra a atual posição de herdeiros de artistas como Clark, hoje responsáveis por seu espólio, enrolados com a valorização desenfreada das obras e com a crescente importância da arte brasileira na cena global.

No caso específico dos Clark, as netas, que fazem questão de frisar que não são herdeiras diretas, detêm um monopólio extraoficial sobre os direitos das ações performáticas da avó. "Caminhando", uma dessas ações, ficou de fora da última Bienal de São Paulo por entraves incontornáveis na negociação.

Mas, na loja de Botafogo, o calendário está garantido até o fim deste ano, com performances agendadas para o primeiro sábado de cada mês. São apresentadas sempre com a introdução de um crítico e costumam ter como participantes amigos da artista que estavam presentes no ato original.

Fora dos dias de festa, é possível pesquisar textos e documentos históricos da artista com hora marcada no andar de cima. Não custa nada, mas não é permitido ver a reserva técnica onde ficam obras da coleção da família.

ACERVOS À VENDA
Amigo, colega de geração e confidente de Clark, Hélio Oiticica, que morreu em 1980, tem seu espólio em recuperação numa casa do Jardim Botânico. Depois que um incêndio consumiu 30% das obras há dois anos, a família tenta restabelecer a ordem.

Recém-chegados da retrospectiva do artista que passou por São Paulo, pelo Rio e por Belém, trabalhos originais e réplicas estão amontoados na reserva técnica apertada, agora com sistema de incêndio adequado e controle de umidade do ar.

César Oiticica Filho, sobrinho do artista, está preparando um documentário sobre a obra do tio, embalado pelo hype em torno dele e na esteira da abertura de um pavilhão dedicado às "Cosmococas" no Instituto Inhotim, paraíso mineiro das artes plásticas, no ano passado.

"No começo, vendemos muitas obras para manter o projeto, mas o valor era mais baixo", lembra Oiticica Filho. "Hoje a gente consegue vender até ambientes e penetráveis inteiros, uma política da qual não sou muito fã, mas que é algo importante."

Ou necessário. Em São Paulo, o Projeto Leonilson, que gerencia o espólio de José Leonilson, morto em 1993 e hoje em vias de forte valorização, confessa que vira e mexe reedita e vende obras dele para se sustentar.

São gravuras e pequenas esculturas em bronze produzidas às centenas para dar cabo das despesas mensais de R$ 20 mil da associação.

Espremidas no segundo piso de um sobrado na Vila Mariana, cerca de 1.500 obras de Leonilson correm perigo. "Tem uma falta de segurança total, não tem equipamento de incêndio, não tem alarme nem nada", conta Nicinha Dias, irmã do artista, que gerencia o espaço.

"Segundo minha mãe, Deus protege, mas, às vezes, Deus pode cochilar, não é?"

Posted by Alice Dalgalarrondo at 1:12 PM

julho 7, 2011

Fora de controle por Nina Gazire, Istoé

Fora de controle

Matéria de Nina Gazire originalmente publicada no caderno Cultura da revista Istoé em 7 de julho de 2011.


RUMOS ARTE CIBERNÉTICA/ Itaú Cultural, SP/ até 4/9

O termo cibernética vem do idioma grego e originalmente se relacionava ao comando do prumo de uma embarcação. Como ciência, a cibernética surgiu em 1948, quando o cientista americano Norbert Wiener escreveu o artigo “Cibernética e sociedade”, dando à palavra a função de definir o controle de qualquer sistema de comunicação, seja ele maquínico, seja animal. Assim como diferentes disciplinas se somaram às artes visuais, como a biologia, que resultou na bioarte, a junção entre arte e cibernética ganha uma vitrine dentro desta segunda edição do Rumos Arte Cibernética. Realizado desde 2006 pelo Itaú Cultural, o programa visa selecionar, por meio de edital, trabalhos de artistas que possuem pesquisa dentro deste campo.

Na arte cibernética é imprescindível que exista uma coprodução entre os diferentes sistemas que compõem a obra de arte. “Quando se fala em arte cibernética, pensamos em um conceito mais abrangente do que vem a ser a interatividade.

O artista transfere toda a poética e autoria para as reações que acontecem no sistema da obra, seja com pessoas, seja com máquinas”,
explica Marcos Cuzziol, gerente do Itaulab – Núcleo de Arte Cibernética do Itaú Cultural.

Um exemplo é o trabalho do paulistano Márcio Ambrósio, “12i – A Roda da Vida”. O artista realizou uma releitura de um zootrópio (foto), tambor circular com cortes, através dos quais o espectador pode observar desenhos colocados em seu interior que, ao girar, ganham movimento. Nessa obra, o público possui seus movimentos captados por uma câmera. Posteriormente, por meio de um tíquete inserido no zootrópio, o visitante pode ver 12 imagens de seus movimentos organizadas por um software que as transforma em uma animação. Dessa forma, tanto a autoria da animação, que fica a cargo do software e do público, quanto a exibição que acontece no zootrópio funcionam como sistemas independentes da ação do artista.

Além dessa obra, outros seis trabalhos, selecionados para o Rumos Arte Cibernética, participam da mostra que inclui também obras do artista Ricardo Nascimento e Juliana Cerqueira, selecionadas na primeira edição, em 2006.

Posted by Gilberto Vieira at 1:34 PM

A arte de desiludir por Paula Alzugaray, Istoé

A arte de desiludir

Matéria de Paula Alzugaray originalmente publicada no caderno Cultura da revista Istoé em 7 de julho de 2011.

Espelhismos e simulacros diluem as fronteiras entre realidade e ficção em exposição em São Paulo


Assim é se lhe parece/ Paço das Artes, SP/ até 18/9

A desilusão teria sido o complô da arte contemporânea contra a representação do mundo em imagem. Quem argumenta é o filósofo francês Jean Baudrillard (1929-2007), teórico do simulacro, das aparências, dos artifícios e do “excesso de realidade” da cultura moderna. Desiludir seria combater o real – e todo espaço representativo herdado do Renascimento. Isso porque, ao contrário do que se poderia prever, “a ilusão potencializa o real”. Essas ideias, que durante a vida de Baudrillard fizeram barulho e geraram polêmica, revivem nas obras da exposição “Assim É Se Lhe Parece”, no Paço das Artes, em São Paulo.

A mostra é formada por 11 obras de artistas brasileiros e estrangeiros que jogam com as possibilidades do engano e da ilusão. “Lousa”, de Bruno Dunley, pode ser considerada uma imagem referencial, um ponto de partida para o entendimento desse tipo de partido artístico. Graças às qualidades de simulação atingidas pela técnica pictórica, o óleo sobre tela ganha a aparência de giz sobre lousa. Assim, a pintura de Dunley é um simulacro de uma lousa real. Com isso, evoca a expectativa, que vigorou do Renascimento ao modernismo, de que a pintura é uma janela para o real.

A fotografia, o cinema e o vídeo viriam depois a tomar emprestada essa função da pintura. E a exposição no Paço das Artes dá conta de informar que a ilusão é a linha que costura a pintura a todas as novas mídias: da fotografia à videoinstalação em animação 3D.

A qualidade de colocar a realidade em suspensão está presente, por exemplo, nas fotografias do argentino Leandro Erlich. As três fotos apresentadas partem de uma instalação, na qual é utilizado o recurso do reflexo. Nela, as pessoas desafiam as leis da realidade quando, num jogo de espelhos, se posicionam sobre imagens de fachadas de prédios e casas.

Os trabalhos expostos em “Assim É Se Lhe Parece” assimilaram a crise da representação e ao mesmo tempo devolvem à ilusão o seu papel decisivo. O título faz referência à peça homônima do dramaturgo italiano Luigi Pirandello (1867-1936) – “Così È, Se Vi Pare”, escrita em 1917.

Posted by Gilberto Vieira at 1:27 PM | Comentários (1)

julho 5, 2011

Exposição O espaço aberto faz reflexão sobre os limites da obra de arte por Nahima Maciel, Correio Braziliense

Exposição O espaço aberto faz reflexão sobre os limites da obra de arte

Matéria de Nahima Maciel originalmente publicada no caderno Diversão e Arte do jornal Correio Braziliense em 5 de julho de 2011.

As paredes brancas da galeria podem ser o limite físico, mas existe um outro que não se rende à fronteira de tijolos e doma o espaço conforme a idealização do artista. É esse o universo de interesse da curadora Ana Rocha. Ela quer entender até onde é possível uma obra subverter a estrutura de um espaço a partir de uma perspectiva poética, mas também física. Foi esse o termômetro para convidar Eliane Prolik, Cléverson Sálvaro, Deborah Bruel e Joana Corona e incutir nos artistas a missão de criar uma obra especialmente projetada para as galerias Piccola 1 e Piccola 2 da Caixa Cultural. O espaço aberto inaugura hoje com uma proposta de site specific para um espaço estreito e de difícil manipulação.

As duas galerias têm estruturas de corredores e é difícil imaginar alguma outra configuração com paredes tão próximas umas das outras. “Eu queria uma exposição em que a obra é uma intervenção no espaço. É uma reflexão sobre os limites da obra de arte. Então escolhi artistas que já vinham trabalhando com isso”, avisa a curadora.

Perspectivas

Para brincar com área de tamanho reduzido, Deborah manipula perspectivas. Um jogo de espelhos serve de instrumento para confundir o público a induzir à percepção de profundidades muito maiores que as originais. Na Caixa, Deborah fotografou parte da galeria e plotou a imagem na parede para provocar a sensação de amplitude. Um espelho completa a obra. “A tendência é que o espaço expositivo não interfira nos trabalhos e tenho sempre essa vontade de fazer o espaço aparecer. A arquitetura do lugar é o que me interessa”, explica a artista.

O volume da escultura de Eliane engana tanto quanto os espelhos de Deborah. Com 12m de comprimento, a peça é grande e toda vazada, o que confere um aspecto de transparência à escultura. “E esse aspecto dá uma leveza ao olhar”, avisa Ana. Joana brinca com a mesma ideia ao tomar sua formação em letras como base para a intervenção. Suas letras vazadas e translúcidas projetadas na parede dialogam de maneira perspicaz com o trabalho de Eliane.

Já Cléverson é o mais radical do grupo. Não lhe basta o aspecto reto e monótono do corredor. Ele não reconhece o espaço e cria uma curva com placas de MDF para quebrar a rigidez da galeria. “O percurso normal dos espectadores num espaço não é muito percebido pelo próprio público e meu trabalho é um gesto muito simples que amplifica a percepção desse gesto de caminhar pela galeria.”


O ESPAÇO ABERTO
Exposição de obras de Eliane Prolik, Cléverson Sálvaro, Deborah Bruel e Joana Corona. Curadoria: Ana Rocha. Abertura hoje, às 19h, nas galerias Piccola 1 e Piccola 2, na Caixa Cultural (SBS Qd 4 Lote 3/4)

Posted by Gilberto Vieira at 1:41 PM

Cliques modernos por Adriana Martins, Diário do Nordeste

Cliques modernos

Matéria de Adriana Martins originalmente publicada no caderno 3 do jornal Diário do Nordeste em 5 de julho de 2011.

De passagem por Fortaleza, o artista visual Christian Caselli realiza a exposição "Foto-celular", de imagens feitas com câmeras de telefones

Há alguns anos, os telefones celulares deixaram de servir apenas para completar ligações. Hoje, eles só não fazem café - mas permitem navegar na internet, mandar mensagens, e-mails, ouvir música, gravar vídeos e fazer fotos. Essa última função, por exemplo, é a mais importante do aparelho do artista visual carioca Christian Caselli, idealizador do projeto "Foto-celular", cuja exposição abre em Fortaleza no próximo dia 8.

O objetivo da mostra é expor e discutir com o público a existência de uma possível nova linguagem fotográfica, proveniente do uso das telefonias móveis. A exposição contará com mais de 500 projeções de imagens, exibidas a cada 10 segundos. Uma parte delas será fotografada em Fortaleza, poucos dias antes da abertura. Será a primeira vez que Caselli clica cenas da capital cearense. Amanhã, ele ministrará ainda uma oficina gratuita sobre o projeto.

Segundo o artista, o evento mostra todo o ecletismo do formato celular, que pode registrar tanto fatos banais do cotidiano a flagrantes únicos, passando também por paisagens marcantes a experimentos gráficos.

"Tudo começou espontaneamente, foi interessante. Trabalho mais com audiovisual, na parte de cinema e vídeo. Uma vez fiz um vídeo chamado ´O paradoxo da espera do ônibus´. Ele fez um certo sucesso na internet, foi muito visto e comentado. Por isso, resolvi inscrevê-lo no Art.Mov, um festival de cultura que acontece em Belo Horizonte. Fiquei em segundo lugar e ganhei um telefone celular, com o qual faço as fotos até hoje", recorda Caselli.

"Como qualquer criança com seu brinquedo novo, quis testar suas possibilidades. Fui tirando fotos, tirando fotos e quando percebi estava ficando com um material legal. Foi quando me veio a ideia da exposição", explica o artista visual.

Para Caselli, uma das vantagens que a da telefonia móvel trouxe às artes visuais é a possibilidade de construir imagens a qualquer instante. "Tipo quando você se pergunta ´e se eu estivesse com uma câmera agora?´. Estamos sempre com celular, podemos tirar fotos a qualquer momento do dia. Isso rende vários baratos interessantes, desde flagrantes até ideias mais elaboradas. Já fiz a exposição ´Foto-celular´ no Rio, e estou no segundo ano com ela. Acho que aqui em Fortaleza também vai ser bacana", comemora.

Para além da questão da mobilidade e do imediatismo, Caselli ressalta outra contribuição importante das novas tecnologias da imagem. "O celular proporciona o surgimento de uma nova linguagem, e daí emerge uma discussão interessante. Se o aparelho não tem qualidade tão boa para fazer vídeos ou fotos, você tem aquele resultado meio pixelado, tremido. Isso não deixa de ser uma estética própria, e é bacana testar suas possibilidades", esclarece.

Olhar sensível

Vale destacar também a relativa democratização do acesso aos meios de produção promovida por essas novas tecnologias. Se antes a fotografia era um processo complexo, caro e demorado, hoje qualquer pessoa pode se tornar geradora de conteúdo - sem entrar no mérito da qualidade do mesmo.

É cada vez mais comum, por exemplo, o público contribuir para os veículos de comunicação com flagrantes de situações importantes registrados em fotos ou vídeos amadores. Mesmo a foto posada, comum em ambiente familiar ou de amigos, não deixa de ter valor. No futuro, constituirá o registro de uma época, uma moda, uma estética. Sem contar a possibilidade de explorar detalhes do cotidiano, entre cores, texturas, detalhes, paisagens e outros elementos.

"A oficina vai ser bem por aí. Quero passar aos alunos uma sensibilização, que permita observar melhor coisas do aia a dia. A gente presta pouca atenção ao nosso entorno, há muitas coisas maravilhosas e esteticamente interessantes", avisa o artista carioca.

Formando em Jornalismo, Christian Caselli é mais conhecido no audiovisual alternativo carioca por sua produção acelerada (cerca de 40 obras, entre clipes e curtas) de baixo orçamento, sempre fazendo direção, roteiro e edição de todos. Seus filmes podem ser facilmente encontrados no Youtube.com e no site Curta o Curta. É também curador e responsável pela parte videográfica da Mostra do Filme Livre, que teve sua décima edição no Centro Cultural Banco do Brasil (RJ e SP) em 2011, além de professor em oficinas de vídeo e fotografia.

MAIS INFORMAÇÕES

Exposição "Foto-celular". Abertura no dia 8 de julho, às 18 horas, no CCBNB (Rua Floriano Peixoto, 941, Centro). Em cartaz até 30 de julho (horários de visitação: terça-feira a sábado, de 10 horas às 20 horas; e aos domingos, de 12 horas às 18 horas). Oficina sobre o projeto: de amanhã até sexta-feira (8), de 14 horas às 18 horas. Inscrições até hoje na recepção do CCBNB. Gratuito.

Posted by Gilberto Vieira at 1:33 PM

julho 4, 2011

Fantasias maquínicas por Paula Alzugaray, Istoé

Fantasias maquínicas

Matéria de Paula Alzugaray originalmente publicada no caderno Cultura da revista Istoé em 1 de julho de 2011.

MÁQUINAS/ Oi Futuro, Belo Horizonte/ de 29/6 a 21/8

A fábrica é assunto de fascinação do cinema desde seus primeiros frames de vida. Os irmãos Lumière começaram a história do cinema filmando a saída de operários de uma fábrica na França, em 1895, e essa imagem se tornaria um ícone, citada e apropriada inúmeras vezes nos séculos 20 e 21. A partir dela, o cineasta alemão Harun Farocki criou a videoinstalação “Workers Leaving the Factory in Eleven Decades” (Trabalhadores deixando a fábrica, em 11 décadas), em 2006. Um ano depois, Farocki continuaria imerso no universo das fábricas ao filmar “Comparison Via a Third” (Comparação via um terço), em que coloca lado a lado imagens de uma olaria tradicional na África e uma fábrica com tecnologia de ponta, na Europa. Esse é um dos trabalhos expostos em “Máquinas”, no Oi Futuro de Belo Horizonte. Com curadoria de Alfons Hug e de Alberto Saraiva, a exposição reúne 15 trabalhos em vídeo, performance e audioinstalação que exploram as fantasias maquínicas que povoam a arte contemporânea.

A ideia que orienta as escolhas da exposição é a de que a máquina como sinônimo de progresso não é uma visão compartilhada pela arte. O artista – seja ele turco, brasileiro, chinês ou canadense –, invariavelmente, expressa um posicionamento crítico em relação ao poder e ao efeito das máquinas na sociedade. A abordagem do tema pode ser mais inventiva – caso do coletivo mineiro “O Grivo”, que na instalação “Quarteto para Gravadores” (foto) confere nobreza ao som produzido pelas engrenagens dos aparelhos – ou problematizante, como no vídeo do taiwanês Chen Chieh-Jen, que denuncia a exploração das operárias em uma fábrica têxtil.

Posted by Gilberto Vieira at 2:03 PM

Performance em alto-mar por Nina Gazire, Istoé

Performance em alto-mar

Matéria de Nina Gazire originalmente publicada no caderno Cultura da revista Istoé em 1 de julho de 2011.

Com exposições em Fortaleza e São Paulo, a artista pernambucana Amanda Melo apresenta sua visão do litoral brasileiro

AMANDA MELO - ÁGUA VIVA/ Centro Cultural Banco do Nordeste, Fortaleza/ até 31/7 ESPLENDOR/ Galeria Moura Marsiaj, SP/ até 30/7

No livro “Água Viva”, publicado em 1971, a escritora Clarice Lispector se queixou sobre essa restrição que temos em vida de “não podermos andar nus nem de corpo e nem de espírito”. Clarice sugere que sejamos como a água, fluida e transparente, e é a partir desse preceito que a artista pernambucana Amanda Melo vem realizando uma série de ações performáticas que têm como pano de fundo as diferentes paisagens litorâneas brasileiras.

O resultado desta navegação artística pode ser conferido em duas exposições simultâneas em cartaz na Galeria Moura Marsiaj, em São Paulo, e no Centro Cultural Banco do Nordeste, em Fortaleza.

Tudo começou em 2007, com a ação registrada no vídeo “Enquanto Tudo Passa”. Nesta performance, a artista usa um salto alto e se equilibra em cima de uma pedra na praia de Boa Viagem, no Recife, recebendo em seu corpo o choque das ondas na arrebentação. Em 2009, quando ganhou uma bolsa do Salão de Artes Plásticas de Pernambuco, decidiu dar continuidade ao projeto. Realizou uma viagem de um ano pelo litoral brasileiro, partindo da Barra do Chuí, no Rio Grande do Sul. Amanda percorreu diversas cidades, registrando, por meio de desenhos, fotografias e vídeos, as diferentes orlas marítimas do País até Calçoene, no Amapá, a cidade litorânea mais ao norte do Brasil. “As imagens dessa vivência são como os registros de uma performance de longa duração”, diz ela.

Na exposição “Água Viva”, em Fortaleza, com curadoria de Bitu Cassundé, se concentram os trabalhos fotográficos em que foram retratadas três meninas deitadas em um recife, em referência às ninfas mitológicas. Já “Em Paragens”, cujo título faz menção ao termo usado por navegadores quando estão ancorados, a artista aparece flutuando como uma água-viva à deriva em um conjunto de imagens subaquáticas. Ao contrário do título, as fotos sugerem movimento e instabilidade.

Na segunda exposição, “Esplendor”, em São Paulo, estão reunidos os vídeos e a série de desenhos “Sal é Mar”, um apanhado dos registros feitos das praias brasileiras. Entre os vídeos está a videoperformance que dá nome à exposição. Nessa obra, a artista criou uma fantasia em parceria com a Associação dos Destaques das Escolas de Samba Paulistanas, feita de espelhos e objetos brilhantes. De volta à praia de Boa Viagem, seu ponto de partida, a artista realiza uma ação vestida com a fantasia, despindo-se de seus adereços e amarrando-os em uma corrente que, aos poucos, é jogada no mar. Ao final, Amanda fica nua sobre o rochedo e livre como a água-viva sugerida por Clarice Lispector.

Posted by Gilberto Vieira at 1:55 PM

Todos por um por Catharina Wrede, O Globo

Todos por um

Matéria de Catharina Wrede originalmente publicada no caderno Cultura do jornal O Globo em 4 de julho de 2011.

Parque Lage faz leilão beneficente de arte, com obras de 36 artistas contemporâneos, para ajudar galerista Sandra Spritzer

RIO - É uma oportunidade rara. Artistas como Daniel Senise, Ernesto Neto, Raul Mourão, Niura Belavinha, Matheus Rocha Pitta, Laura Lima, Roberto Cabot e Bob N e se uniram para montar um leilão beneficente na Escola de Artes Visuais (EAV) do Parque Lage hoje à noite, em prol de uma causa nobre: ajudar a custear os tratamentos médicos da galerista Sandra Spritzer, que sofreu um derrame no ano passado e está internada, em fase de recuperação. Quem teve a ideia, organizou e reuniu todo mundo foi o artista plástico Matheus Rocha Pitta, amigo de Sandra. O leilão começa às 20h e deve ter três horas de duração.

- Mais do que pelo dinheiro que vamos arrecadar, esse leilão é um gesto afetivo - diz Matheus. - Convidei pessoas que tinham uma ligação com a Sandra e que eu sabia que iriam participar. Estamos fazendo um esforço para concentrar essa energia positiva. E não é uma coisa hippie. É não ficar parado de braços cruzados observando o que pode ou não acontecer.

Obras de R$ 300 a R$ 15 mil

Ao todo, 36 artistas participam do evento, com uma obra cada um. São esculturas, desenhos, pinturas, fotografias e gravuras, que estão expostas desde anteontem na EAV para visitação.

Os lances mínimos vão de R$ 300 (a fotografia "Arquipélago", de Pedro Motta) a R$ 15 mil (a obra "Quadros superpostos", de Renata Lucas). O leilão conta com trabalhos bastante representativos da arte contemporânea brasileira, como uma litogravura de 2005 de Daniel Senise (R$ 3 mil); a obra "Embriolóbulos", tela em caneta e aquarela, de Ernesto Neto, (R$ 11 mil); uma pintura-foto de Niura Belavinha, da série "Performed painting - Espelho móvel/interferência urbana Pampulha" (R$ 3 mil); e fotografias de, entre outros, Marcos Bonisson, Matheus Rocha Pitta e Bob N.

- O preço que colocamos não é o de mercado, porque esse não é um leilão como o da Bolsa de Arte, por exemplo. Por isso, estamos tendo um certo cuidado para diferenciá-lo. O grande lance é juntar dinheiro para a Sandra - explica Matheus, que está colocando à venda hoje, por R$ 4 mil, uma obra sua que na galeria custaria R$ 6 mil.

Matheus diz que a ideia é, assim que acabar o leilão, levar pessoalmente o cheque para a mãe de Sandra, em Porto Alegre e, junto com ele, um vídeo para a galerista assistir. O artista está pegando depoimentos de todos os envolvidos no leilão, não só os artistas, mas moldureiros, galeristas e leiloeiros que contribuíram de alguma forma.

- O vídeo é para a Sandra ver e sentir um estímulo na recuperação. Ela acordou de um coma de três meses contra todos os prognósticos dos médicos, então queremos ajudar a pagar a fisioterapia, a fonoaudióloga... Nada é garantido, a não ser que nós, e quem for ao leilão, estaremos ajudando a renovar uma esperança.

Posted by Gilberto Vieira at 1:27 PM

O mundo da mulher aranha por Fabio Cypriano, Folha de S. Paulo

O mundo da mulher aranha

Matéria de Fabio Cypriano originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 4 de julho de 2011.

Maior exposição de Louise Bourgeois já realizada no Brasil, no Instituto Tomie Ohtake , revela como a psicanálise transformou a carreira da artista francesa

"Arte é uma forma de sanidade" está escrito em uma das 112 obras que compõem a mostra "Louise Bourgeois: o Retorno do Desejo Reprimido", a maior já dedicada à artista no país.
Por meio de desenhos, objetos, pinturas, esculturas e instalações, concebidas por Bourgeois (1911-2010), entre 1942 e 2009, o curador Philip Larratt-Smith traça um perfil da obra da artista em sua relação com a psicanálise.

A tese central da mostra é como "seu afastamento do mundo da arte e imersão na análise resultaram em um completo novo corpo de trabalhos, no início dos 1960", escreveu o curador à Folha.
A exposição, no Instituto Tomie Ohtake, será inaugurada na próxima quinta.

Três voos cargueiros trouxeram as obras da Argentina, onde a exposição começou.
As obras seguem depois para o Museu de Arte Moderna do Rio. Na capital argentina e no Rio, a mostra apresenta "Mamam", a imensa aranha que Bourgeois exibiu na Tate Modern (Londres), em 2000, mas que não coube na parada paulista.

Bourgeois é uma das artistas centrais no século 20, ao vincular sua biografia como inspiração para sua arte.
Em 1982, quando fez sua retrospectiva no Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA), ela divulgou uma espécie de manifesto intitulado "Abuso Infantil".

Ele revelava a relação de seu pai com sua tutora, enquanto sua mãe convalescia. O caso inspirou a instalação "A Destruição do Pai" (1974).

Larratt-Smith conviveu com Bourgeois nos últimos nove anos de sua vida, trabalhando como seu arquivista. O cerne da mostra são os escritos descobertos em dois momentos, 2004 e 2010, por Jerry Gorovoy, assistente de Bourgeois por muito tempo.

Os textos, realizados enquanto ela estava passando por sua mais intensa fase de análise, de 1952 a 1967, consistem em sonhos recordados, notas e relatos.

"Os escritos vão recalibrar radicalmente nossa compreensão da obra de Bourgeois e da importância da psicanálise como um campo de exploração para sua arte e vida", diz Larratt-Smith.

Uma seleção de fac-símiles dos textos originais será apresentada, e o segundo volume do catálogo reunirá 92 textos comentados.

Sendo que a própria artista indicou a importância de sua vida para a hermenêutica de sua obra, não há, para o curador, um problema em revelar diários tão íntimos.

Ele diz que os textos irão demonstrar que "sua real situação psicológica era muito mais complexa e suas atitudes para com seus pais mais ambivalentes".

Posted by Gilberto Vieira at 12:59 PM