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junho 30, 2010
Museu espanhol celebra aniversário com arte latina por Fabio Cypriano, Folha de S. Paulo
Matéria de Fabio Cypriano originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de São Paulo em 25 de junho de 2010.
Mostra reúne trabalhos de 40 artistas para ressaltar presença no acervo
Leonilson e Rivane Neuenschwander são alguns dos brasileiros com obras expostas em León, na Espanha
O Museu de Arte Contemporânea de Castilla e León (Musac), sediado em León, faz hoje seu quinto aniversário e, em comemoração, apresenta apenas obras de artistas latino-americanos.
A exposição "Modelos para Armar" reúne cerca de cem trabalhos de 40 artistas, entre eles os brasileiros Rivane Neuenschwander, Leonilson e Rosângela Rennó.
A exposição é inspirada em "62/Modelo para Armar", livro do escritor argentino Julio Cortázar, e visa ressaltar a forte presença latino-americana na coleção do Musac.
"Há três anos, quando foi feito um balanço das obras da coleção, percebemos que, mesmo diante de outros contextos geográficos como o asiático, o Musac tem uma grande representação latino-americana, ao contrário dos museus espanhóis e mesmo de alguns europeus", conta Agustín Pérez Rubio à Folha por e-mail.
Além de "Modelos para Armar", o museu apresenta também a mostra "Para Ser Construídos", com cinco artistas que vivem no Brasil, mas são de outros países, como os argentinos Nicolás Robbio e Carla Zaccagnini e o americano Marcius Gallan.
Completam ainda a exposição Marcelo Cidade e André Komatsu, ambos nascidos em São Paulo.
LEONILSON SOLO
A exposição "partiu da crença de que o que está se produzindo no Brasil atualmente merece um foco de atenção", diz Rubio.
Essa visada latino-americana tem a ver com a constituição do Musac: sua curadora é a colombiana Maria Inés Rodríguez e, no comitê assessor da coleção, estão José Guirao e Octavio Zaya.
Ambos, em 2000, quando trabalhavam no museu Reina Sofía, em Madri, organizaram "Versiones del Sur", a mais importante mostra de arte latino-americana na Espanha até então.
Em dois anos, o Musac irá apresentar também uma retrospectiva somente com obras do artista brasileiro Leonilson (1957-1993), a primeira na Espanha.
"Acredito que ele seja uma figura tão importante que pode ser revisto do mesmo modo que foi feito com nomes como Hélio Oiticica, Lygia Clark e Lygia Pape. Assim, o Musac pode ter um papel valioso em reposicionar Leonilson no restante da Europa", afirma o diretor.
"Modelos para Armar" fica em cartaz até 9 de janeiro, período considerado longo. O motivo, contudo, é a forte crise econômica que a Espanha atravessa e que levou o museu a reduzir o ciclo de mostras anuais de três para duas.
Mostra leva arte de rua de Nador ao museu por Fabio Cypriano, Folha de S. Paulo
Matéria de Fabio Cypriano originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de São Paulo em 25 de junho de 2010.
"Pinturas de Exteriores" escapam da contradição, por deixar claro desconforto da artista com o sistema da arte
Quando pichadores e grafiteiros buscam se institucionalizar, adequando suas obras aos espaços asseados de museus e galerias, ganha relevância a trajetória de Mônica Nador, que segue sentido contrário à tendência.
Nador surgiu como artista nos anos 80, a chamada década do retorno à pintura. No entanto, ao invés de seguir comportada nessa nova velha onda, declarou que "gastava-se tinta demais dentro dos museus, quando o mundo é que precisava de cores".
Desde então, seu trabalho mais reconhecido têm sido as "paredes pinturas", projeto que desenvolve em conjunto com diversas comunidades, em especial no Jardim Miriam, zona sul de São Paulo.
É lá que funciona o Jamac (Jardim Miriam Arte Clube), criado em 2004, que tem Nador à frente e mudou a aparência de dezenas de casas da região e de outras cidades.
"Pinturas de Exteriores", em cartaz na Estação Pinacoteca com cerca de 20 obras, poderia tornar-se, nesse contexto, uma contradição com as ideias de Nador.
No entanto, isso não ocorre, pois a exposição deixa explícito que o desconforto com o sistema da arte é inerente ao seu trabalho. Mesmo no limite do que se pode chamar decorativa -com repetições de padrões, como um papel de parede- sua obra é irônica o suficiente para desestabilizar esse conceito.
Além do mais, a mostra se completa com um trabalho feito por jovens integrantes do Jamac. A coerência entre suas paredes e as pinturas revela como é possível superar a possível dicotomia entre a rua e o museu.
junho 25, 2010
Transcultura: Festival ROJO@NOVA apresenta a vanguarda das artes visuais digitais por Carol Luck, O Globo
Matéria de Carol Luck originalmente publicada no caderno Cultura do jornal O Globo em 25 de junho de 2010.
Com toda a efervescência cultural que surge em tempos de novas tecnologias, faltava um festival que celebrasse a arte contemporânea e toda a sua diversidade. E eis que surge a "ROJO®NOVA", mostra organizada em parceria com a revista "Rojo", que aposta no que há de mais fresco no mundo das artes, sempre focando em nomes que abusam das técnicas contemporâneas, do experimentalismo e das novas tecnologias. A exposição toma conta de todo o Museu da Imagem e do Som de São Paulo, a partir de 1 de julho. Artistas se revezarão durante sete semanas na criação de um trabalho colaborativo, que só será finalizado no último dia de exposição. Mark Jenkins, Maya Hayuk, Krink e os brasileiros Flávio Samello e Objeto Amarelo são alguns dos artistas escalados.
Além de ilustrações, videoarte, instalações e performances, a mostra também vai promover shows de música experimental. Um dos artistas que vêm ao Brasil é o cultuado duo inglês de música eletrônica Fuck Buttons. A dupla se apresenta no dia 12 de agosto, com Ryoichi Kurokawa, no auditório do MIS. Na parte musical tem também o folk experimental do Tunng, o islandês Sin Fang Bous e o eletroclash alemão do Chicks on Speed. Durante a temporada, também vão rolar sessões de cinema e workshops. Um deles é o Live Cinema, em que artistas editarão seus projetos audiovisuais ao vivo junto com apresentações musicais.
Confira a programação completa do festival Rojo@Nova
A expo é feita em parceria com a "ROJO®", fundada pelo espanhol David Quiles Guilló em 2001, que visa à divulgação do trabalho de novos artistas. A ideia cresceu, e hoje são mais de mil artistas associados. E além de a revista ser distribuída em mais de 40 países, a "ROJO®" possui 28 salas de exposições ao redor do mundo.
Inteligência artificial: mostra chega à quinta edição por Marina Vaz, estadao.com.br
Matéria de Marina Vaz originalmente publicada no caderno Cultura do estadão.com.br em 25 de junho de 2010.
SÃO PAULO - Todo artista lida com surpresas ao criar uma obra. Mas, na 5ª edição da Bienal Internacional de Arte e Tecnologia do Itaú Cultural, o imprevisível foi pré-requisito para a seleção dos trabalhos. Emoção Art.Ficial 5.0 - Autonomia Cibernética reúne artistas nacionais e internacionais que criaram obras baseadas em sistemas ‘autônomos’. "Por sua programação, esses sistemas têm a capacidade de elaborar suas próprias regras de interação", explica o curador Marcos Cuzziol.
É o que acontece no vídeo ‘Evolved Virtual Creatures’, de Karl Sims, que mostra um computador gerando ‘seres’ mutantes a partir de bloquinhos virtuais, sem interferência do artista. Em ‘Bion’, de Adam Brown e Andrew H. Fagg (foto), esculturas reagem à presença do público emitindo sons. E o Grupo Poéticas Digitais, formado por 15 brasileiros, coloca na calçada da Avenida Paulista árvores reais com dispositivos eletrônicos que captam o barulho da via - e agitam seus galhos de acordo com o nível de poluição sonora. Tão imprevisível quanto o trânsito do local.
ONDE: Itaú Cultural. Av. Paulista, 149, 2168-1776. QUANDO: 9h/20h (sáb., dom. e fer., 11h/20h; fecha 2ª). Abre 5ª (1). Até 5/9. QUANTO: Grátis.
junho 24, 2010
Bagunceira na Bienal por Silas Martí, Folha de S. Paulo
Matéria por Silas Martí originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de São Paulo em 24 de junho de 2010.
Artista argentina Marta Minujin traz happening clássico a São Paulo e comenta potência política de sua obra durante a ditadura argentina
Ela mesma abre a porta. Marta Minujin veste um macacão branco, que vai da cabeça aos pés. Mesmo na sombra, fica de óculos escuros, dois círculos negros envoltos pela cabeleira platinada.
É desse jeito que ela aparece em quase todos os retratos desde que despontou na cena da arte nos anos 60. Minujin é a imagem dela mesma, indissociável da sua obra.
"Sou sujeito e objeto", diz a artista argentina em seu ateliê, em Buenos Aires. "Faço arte por osmose, arte invisível, impossível, efêmera."
Ou nem tanto. Seu labirinto, de fato, efêmero, estará na próxima Bienal de São Paulo, em setembro. "La Menesunda", ou bagunça, foi uma sequência de situações bizarras que ela montou em 1965.
Eram 16 salas iluminadas por néons. Numa delas, televisores ligados no último volume. Na próxima, um casal fazendo amor. Depois, um balcão de cosméticos. Por fim, um consultório de dentista e um freezer lotado de tecidos e cheiro de fritura.
Sobrou só um filme disso tudo, que será exibido na mostra paulistana. Minujin também promete voltar a São Paulo com uma ação ao vivo. Ela não dá detalhes da performance e diz que nem mesmo os curadores da Bienal sabem do que se trata.
De qualquer forma, dá para adiantar que será absurdo, como tudo que fez até hoje.
Sem modéstia nem recato, Minujin se diz a inventora do happening na América Latina, talvez desconhecendo o que fez Flávio de Carvalho nos anos 30 ou Wesley Duke Lee três décadas depois.
Não importa. No mesmo ano em que Duke Lee levou seus desenhos eróticos ao João Sebastião Bar, no centro paulistano, Minujin convocou um grupo de artistas em Paris para intervir sobre suas obras feitas de colchões.
Terminou a performance ateando fogo a tudo, ao mesmo tempo em que libertava 500 pássaros e cem coelhos. "Faço a obra e o público é quem desarma", diz. "Tiro a gente da vida cotidiana."
Minujin então interrompe a entrevista para gritar num megafone. Passeia pelo ateliê dando ordens desconexas aos assistentes. Volta a sentar num sofá, no meio da balbúrdia de seu palacete neoclássico, e aponta na parede instruções para happenings.
"Tenho uma receita", resume. "Tudo tem que ser absurdo, tipo entre numa sala e beije todo mundo, repita a mesma palavra 50 vezes."
OBELISCO DOCE
São palavras de ordem para tempos difíceis. Todo o absurdo de Minujin, pelo menos no intervalo ocupado pelos excessos da ditadura argentina, parece voltado para combater com graça um estado de exceção e violência.
Na repressão militar do país, que foi de 1976 a 1983, Minujin fez uma réplica com pão doce do obelisco da avenida Nueve de Julio. Instalou um cartaz em praça pública, assinando a obra. Terminava tombando seu monumento, devorado pelo público.
É talvez sua obra mais política. "Fiz um falo para os militares, e eles não proibiram", lembra. "Eram tão burros que não enxergaram nisso um comentário político."
Passado o regime, Minujin entrou para a economia. Decidiu pagar a dívida externa argentina de forma simbólica, numa performance em que dava a Andy Warhol milhares de espigas de milho.
De costas para Warhol, ela mesma aparece numa fotografia, documentando a quitação da dívida. Esse retrato está no ateliê da artista até hoje, dois lados do pop, o miserável e o desmedido, olhando fixos para a câmera.
"A arte está acima da política", diz. "Mas interfere nela em ondas subterrâneas."
RAIO-X
MARTA MINUJIN
VIDA
Nasceu em 1943, em Buenos Aires, onde vive e trabalha
OBRA
Despontou na cena artística nos anos 60. Ficou conhecida por happenings absurdos, como o que ateou fogo às próprias obras ou criou um obelisco de pão doce
CARREIRA
Já participou das bienais de Veneza, São Paulo e Sydney. Estará na próxima Bienal de São Paulo e terá retrospectiva no Malba, no fim deste ano
junho 23, 2010
A Brazilian Makes Playful but Serious Art por Larry Rohter, NYTimes.com
Matéria de Larry Rohter originalmente publicada no NYTimes.com em 21 de junho de 2010
At the New Museum last Friday the artist Rivane Neuenschwander was on her knees, slicing up the carpeting in a third-floor gallery as she searched energetically for microphones hidden in the floorboards and walls. A security and surveillance team had secreted the bugs there at her request, but without her knowing their locations; now the devices were recording her hunt in the otherwise silent room, in preparation for a fast-approaching show.
Ms. Neuenschwander’s exhibition, a “midcareer survey” — she’s 42 — that opens on Wednesday and continues through Sept. 19, is called “A Day Like Any Other,” but this was definitely out of the ordinary. “I don’t know how this is going to work,” she said. “I may have to tear the walls down.”
The painstaking search was part of a new work, “The Conversation,” inspired by the 1974 Francis Ford Coppola film of the same name, in which a wiretap expert believes that he himself is being observed.
“Remember that wonderful last scene, where Gene Hackman destroys his apartment looking for a microphone, a bug?” she said. “That kind of paranoia interests me, and thus this work is a mixture of chance and control. It is not preconfigured but is instead rather like a game, and it ends only when I have found all the microphones, which will then be replaced with speakers to play back the sounds of my destruction of this space.”
Games figure heavily in much of Ms. Neuenschwander’s art, especially games meant to make the spectator a participant in a work. She is a Brazilian, and very much part of a tradition of blurring the distinction between creator and viewer established by modern Brazilian artists like Lygia Clark and Hélio Oiticica.
“I do think she is completely different from her predecessors, but they are also there and essential to understanding her work,” said Richard Flood, chief curator at the New Museum, in the Bowery. “The notion of social agency is incredibly important, and maybe that’s what she and they share the most: the belief in art as something participatory.”
Ms. Neuenschwander also draws from her country’s rich folk traditions. One of her best-known works — “I Wish Your Wish,” first presented in 2003 — is derived from a tradition popular among pilgrims to the Church of Nosso Senhor do Bonfim in Bahia, who bind ribbons to their wrists or the church’s front gate in the belief that when the ribbons fall off or disintegrate, their wishes will be granted.
In Ms. Neuenschwander’s conceptual-art variation, which will be displayed at the rear of the New Museum’s lobby, colorful silk ribbons have each been stamped with one of 60 wishes left by previous viewers of the piece. The show’s visitors can take a ribbon from one of 10,296 small holes in the wall in exchange for scribbling a new wish on a slip of paper and inserting it into the hole. “When I was starting off, I was very interested in the ephemeral, in quotidian materials that disappear or are subject to entropy, which is how my art got stuck with labels like ‘ethereal materialism,’ ” she explained.
Ms. Neuenschwander’s artistic vocabulary “always contains the presence of the other,” said Ricardo Sardenberg, a Rio de Janeiro-based curator, critic and art-book publisher who has known the artist for a dozen years. “She started off drawing on things that are typically ours,” he added, “food and objects from the street and from fairs. But once she began traveling outside Brazil, she grabbed hold of elements from the daily life of wherever she happened to be and transformed them aesthetically, too.”
Another piece, called “Involuntary Sculptures (Speech Acts),” originally from 2001 (but like many of her works, constantly updated), takes its title and inspiration from Brassaï’s 1933 photographs of graffiti and other ephemera. Ms. Neuenschwander has combed bars and taverns looking for the three-dimensional doodles that customers idly construct from straws, paper, plastic and clips while they drink and converse, which she then turns into “works of art” by mounting them on pedestals.
Behind the playful exterior of her work, Ms. Neuenschwander says, there often lurks something “more somber and serious,” even dark. Brazilians may have the reputation of being happy-go-lucky, but that is not an attitude or a temperament she generally shares.
junho 21, 2010
Mac lança editais por Síria Mapurunga, Diário do Nordeste
Matéria de Síria Mapurunga originalmente publicada no Caderno 3 do jornal Diário do Nordeste em 21 de junho de 2010.
Pela primeira vez, são abertos no Museu de Arte Contemporânea editais de ocupação em quatro projetos. Está mantida ainda a escolha de artistas por convite da curadoria
O Museu de Arte Contemporânea do Centro Dragão do Mar está com inscrições abertas, até o dia 30 de julho, para editais de ocupação em quatro de seus projetos: Painel Giratório, Projeto Arroba, Sala Experimental e Projeto Acampamento.
Atualmente, cada trabalho é executado por artistas convidados pela curadoria do Museu. "O procedimento vai continuar, mas agora teremos também artistas escolhidos por edital", explica José Guedes, diretor do MAC.
Os editais criam abertura para novos artistas, que terão seus trabalhos aprovados e montados. Nos critérios de seleção, serão levados em conta principalmente a qualidade e a adequação aos conceitos dos projetos, de acordo com Guedes.
No momento, somente o Painel Giratório está sendo apresentado, com o trabalho "Construção em Amarelo" do artista cearense Zakira, "por conta de duas exposições de grande escala: ´Pra Começo de Século´ e ´De Picasso a Gary Hill´, que será aberta no dia 30 de junho".
Espaços
O Painel Giratório se localiza na área externa do MAC, no paredão da rampa de acesso ao ateliê de Artes do Memorial da Cultura Cearense. O espaço tem cerca de 6 x 4 m, fica em cartaz por dois meses e é aberto à participação de qualquer artista.
O projeto aprovado será impresso em lona vinílica aplicada em um painel de dimensões 3,53m de largura por 6,10m.
O projeto Arroba também é localizado externamente ao Museu, em local onde o fluxo de pessoas é grande. É realizado com trabalhos compostos e desenvolvidos em linguagem digital, enviados por e-mail sem que haja perdas em suas qualidades técnica ou conceitual.
"Era parte da Sala Experimental, mas agora ganha autonomia e lugar específico justamente no momento em que surgem os editais", explica.
Ao todo, são seis painéis em sequência com imagens impressas em lona vinílica, montadas em estruturas metálicas que medem 1,70m de largura por 2,60m de comprimento.
A Sala Experimental acontece no interior do Museu e é um espaço aberto para a experimentação. As exposições ou instalações aprovadas serão realizadas na sala A do 1° Piso do MAC.
Já o projeto Acampamento pode ser pensado e proposto para qualquer outra sala que não seja a Experimental. Segundo Guedes, é destinada àqueles artistas que tiveram as carreiras deslanchadas já a partir do século XXI.
As inscrições deverão ser protocoladas no Dragão do Mar, nos horários de 8h30 às 12h e 13h30 às 18h, ou encaminhadas por meio dos Correios e ainda pelo e-mail projeto@dragaodomar.org.br.
MAIS INFORMAÇÕES
Inscrições para editais de ocupação do MAC do Dragão do Mar. Até 30 de julho. Os editais podem ser acessados no site www.dragaodomar.org.br. Telefone: 3488.8622
junho 18, 2010
Rivane Neuenschwander leva obras do acaso a NY e à Suécia por Silas Martí, Folha de S. Paulo
Matéria de Silas Martí originalmente publicada na Ilustrada da Folha de S. Paulo em 18 de junho de 2010
Artista mineira ocupa três andares do New Museum e tem mostra marcada em museu sueco
Obras são provocações à participação do público, como policiais que farão retratos falados de amores dos visitantes
Ela não fala muito. Diz que prefere escrever. Mas está ali, com os olhos azuis bem abertos, pronta para a conversa. Só que as palavras não vêm.
Sobre a toalha de mesa cor-de-rosa, um arsenal de distrações. Pães de queijo saídos do forno, café acabado de passar, bolo de fubá.
Rivane Neuenschwander engole o silêncio e mostra na tela do computador a cena de um filme no YouTube.
Só quando descreve Gene Hackman destruindo o apartamento em "A Conversação", de Francis Ford Coppola, parece destravar a língua.
Não venceu a timidez. Ela continua à espera de munição para o discurso calculado, temas que vêm das imagens no monitor. Da mesma forma reticente, a obra dessa artista parece propor silêncios só cortados pelo público.
Não espanta que a mineira Neuenschwander, descendente de suíços, tenha mandado fazer máquinas de escrever sem letras, só com pontos finais, para uma de suas maiores instalações.
Mas, ao contrário das reticências na fala e nas obras, sua carreira agora adentra um terreno de exclamações.
Na semana que vem, ela ocupa três andares com obras suas no New Museum, de Nova York. E no fim do ano, tem mostra marcada no Malmö Konsthall, na Suécia.
Numa das obras centrais da mostra em Nova York, ela mandou instalar microfones escondidos no piso e numa parede antes mesmo de viajar para lá. Quando chegar, vai destruir a parede, do mesmo jeito que no filme de Coppola, atrás dos aparelhos.
No fim das contas, a gravação desse ruído todo é o que fica exposto para o público.
"Me interessa que gravem a destruição", conta a artista à Folha, em seu ateliê em Belo Horizonte. "É um embate entre construção e acaso, não sei prever que configuração esse trabalho vai ter."
Mas é certo que vai funcionar da forma como o resto de sua obra. É sempre uma provocação, um vazio, seguido de gestos para acalmar a desordem, estruturar o caos.
"Tenho muito pouco de autoria mesmo", diz Neuenschwander. "Mas é porque já tem muita coisa no mundo, é só organizar."
Ela constrói então um inventário de formas, ou melhor, recruta estilhaços do cotidiano, banais até não poder mais, para suas obras.
Baldes cheios d'água vão ficar pendurados no teto do museu, gotejando sobre outros recipientes logo abaixo.
Alguém em Nova York ficará encarregado de administrar a tempestade doméstica, que dura quatro horas.
Da mesma forma que os 91 dias de duração dessa exposição determinam a existência de 91 colagens numa parede. São rodelas minúsculas de papel em fundo preto.
Cada constelação dessas, de pontos brancos sobre o preto, é uma "noite picotada" de uma edição do "Livro das Mil e Uma Noites".
Neuenschwander não sabia como cada colagem ficaria. Também não podia prever o resultado do filme que fez furando 1.001 buracos na própria película de 16 mm.
RETRATO FALADO
Tudo parece estar fadado ao acaso, destino incerto com certo potencial plástico.
Em outra obra-performance que leva ao New Museum, Neuenschwander contratou policiais para fazer o retrato falado do primeiro amor de cada visitante da mostra.
"É resgatar na memória essa pessoa", descreve. "Mas em contraste com uma poética de investigação criminal."
Na Suécia, ela vai instalar 58 painéis de acrílico cheios de temperos coloridos, que também vão passar por transformações incontroláveis ao longo do tempo.
Neuenschwander parece desenhar sua obra em torno da própria ausência. São os microfones cavados na parede, os policiais desenhando amantes perdidos, os furos de velhos contos mofados.
Mas nada é puro acaso. "Precariedade é uma coisa, oportunidade é outra", resume a artista. "Nada é feito sem pensamento, para cada acaso, precisa haver um controle." Mesmo precário.
junho 17, 2010
Mostra opõe telas de Sued a fotos de Wolfenson por Silas Martí, Folha de S. Paulo
Matéria de Silas Martí originalmente publicada na Ilustrada da Folha de S. Paulo em 17 de junho de 2010
Pintor e fotógrafo ocupam segundo andar do Maria Antonia a partir de hoje
Instituição no centro de SP também abre hoje individuais de Otavio Schipper, Marcelo Moscheta e Maria Laet
Está armado um confronto. De um lado, as fotografias digitais de Bob Wolfenson. Do outro, as abstrações cromáticas de Eduardo Sued.
Enquanto Wolfenson fotografa apreensões da polícia, drogas, armas e munição, Sued mostra uma série de pinturas recentes, telas em que opõe o tumulto do gesto a tarjas sólidas de cor.
No segundo andar do Maria Antonia, a mostra que abre hoje parece estabelecer um contraponto entre a realidade exacerbada e a fatura da cor na superfície das telas.
Não que Wolfenson tente fazer denúncia. É outro o significado que tenta extrair das apreensões de contrabando.
Interessa menos o pássaro na gaiola, o carrinho cheio de metralhadoras e fuzis, e mais a natureza-morta dos tempos de hoje, perscrutada com olhar tecnológico, digital.
Sued habita o plano da abstração. Seus desvios não são os descaminhos da Receita Federal, nem são nacionais as fronteiras. Ele alterna nas telas a lisura das cores mais saltadas e a rugosidade das manchas escuras.
É como se tentasse estruturar a origem nebulosa da forma em cor, contraste entre primeiro e segundo planos.
Também na instalação de Otavio Schipper, no primeiro andar, surge um contraste entre analógico e digital. São telefones, telégrafos e um software de leitura para cegos que conversam numa espécie de cacofonia melódica - o ruído desse embate.
junho 16, 2010
Três novos livros exploram obra de Iberê Camargo por Silas Martí, Folha de S. Paulo
Matéria de Silas Martí originalmente publicada na Ilustrada da Folha de S. Paulo em 15 de junho de 2010
Artista gaúcho é tema de volume introdutório e outro de ensaios, além de ter os próprios escritos editados
Novos textos críticos analisam técnica do pintor, sua obsessão pelos carretéis e seu marcante estilo literário
"Não há espaço para a alegria", escreveu o artista Iberê Camargo. "Toda grande obra tem raízes no sofrimento."
Mas a dele não era uma angústia homogênea. A obra deste pintor gaúcho, morto há 16 anos, está arquitetada sobre contrastes agudos, quente e frio, presente e passado, mergulho introspectivo contra a impetuosidade.
Três livros lançados agora pela Cosac Naify exploram a fundo o universo que estrutura a obra de um dos maiores pintores do país, conhecido por telas de gestual exacerbado, estética grotesca e a obsessão com que pintou os carretéis de costura da mãe.
Se no primeiro deles, "Iberê Camargo: Origem e Destino", a crítica Vera Beatriz Siqueira introduz a obra do artista, o segundo, "Gaveta dos Guardados", vai além, trazendo os escritos do pintor.
"Tríptico para Iberê", livro de ensaios, reúne estudos sobre a técnica do artista, a série dos carretéis e uma análise dos textos que escreveu.
Esse último livro é o que parece dar corpo às afirmações dos diários de Camargo.
DRAMA E ESTRUTURA
Enquanto ele confessa que "no andarilhar de pintor, fixo a imagem que se me apresenta agora e retorno às coisas que adormeceram na memória" e que a "pintura é um jogo entre quente e frio", Daniela Vicentini diz que a obra "acontece por contrastes".
"Ele é visto como um artista expressionista, dramático", diz Vicentini à Folha. "Minha contribuição é pensar que há uma estrutura."
Também por trás da memória afetiva, está a noção histórica de que a forma dos carretéis se relaciona com o geometrismo que tomava a arte brasileira da época.
No momento em que Hélio Oiticica inventou seus "Metaesquemas" e o neoconcretismo ganhava dimensões de vanguarda nacional, Camargo descambou para os carretéis, quase como maneira de apaziguar e conter as arestas de sua memória sofrida.
"Não há um ideal de beleza", escreveu o artista. "Mas o ideal de uma verdade pungente e sofrida que é minha vida, e tua vida, é nossa vida, nesse caminhar no mundo."
Arte enferma por Silas Martí, Folha de S. Paulo
Matéria de Silas Martí originalmente publicada na Ilustrada da Folha de S. Paulo em 15 de junho de 2010
Dupla de alemães interna artistas, galeristas, curadores e críticos em clínica de reabilitação em Berlim
Arte tem cheiro de cocaína. Num mundo de festas encharcadas de champanhe, da velocidade do mercado que acompanha a voracidade do vício, dois alemães decidiram levar artistas, curadores, críticos e galeristas para a clínica de reabilitação.
Benjamin Blanke e Claudia Kapp, também artistas, fizeram dos colegas cobaias para entender o papel das drogas nas artes visuais.
Em vez de mostrar suas obras, pediram ao KW, centro de arte contemporânea em Berlim, que bancasse a desintoxicação de personalidades do meio artístico numa clínica de reabilitação perto da capital alemã.
No meio de uma floresta, o sanatório Havelhoehe recebe até 291 pacientes, tem duas alas de desintoxicação e usa pintura, escultura e também ginástica nos tratamentos.
São adeptos da chamada medicina holística, ou antroposófica, que tenta dar atenção equivalente a aspectos físicos e mentais do paciente.
Internos do projeto, que passaram cerca de dez dias na clínica, foram convocados por e-mail. O convite tinha só uma imagem, a de uma porta fechada, usada pelos artistas para divulgar o projeto.
"Uma pessoa já disse que era uma reflexão sobre estética", resume Claudia Kapp à Folha. "Não diria que é uma performance, mas um trabalho mais conceitual, de estética relacional iconoclasta."
Jargões à parte, a realidade dos mais de 200 inscritos no projeto passou longe dessas dimensões filosóficas.
"Desde que cheguei, me dão doses de um pó branco três vezes ao dia para reduzir a ansiedade", escreveu um crítico de arte internado na clínica. "É como cocaína ao contrário, precisaria cheirar toneladas para sentir qualquer sensação de alívio."
Mais do que alívio, uma pausa. Na visão dos artistas, as drogas nesse meio não têm mais a ver com ampliar horizontes da percepção, como os anos 60 e 70 popularizaram o uso do LSD e afins.
"É menos hedonista", diz Kapp. "Está mais ligado à competição: aumentar, melhorar, acelerar a produção."
Tanto que, além dos artistas que se inscreveram, maior alvo do programa, críticos e galeristas insones com preços nas alturas e a rotina pesada dos vernissages correram para a clínica.
VÍCIOS REAIS
"Alguns deles não eram viciados em nada", conta Kapp. "Queriam só se desintoxicar do mundo da arte."
Esses que buscavam uma limpeza ideológica ficaram fora da clínica, onde médicos de verdade, além de psicanalistas e psiquiatras, trataram seus vícios reais.
"À noite, uma toalha encharcada de chá medicinal é aplicada contra meu fígado para absorver as toxinas", escreveu um crítico alcoólatra internado na clínica.
Ele adianta o relato descrevendo as esculturas de argila que fez para passar o tempo. Enquanto seus dotes artísticos permitiram fazer só umas vasilhas, uma colega esculpiu até um busto de Hitler.
"Conhecemos artistas, amigos pessoais, que estão sofrendo muito com isso", conta Kapp. "É horrível."
Ela vê nesse ponto uma relação cada vez mais estreita entre arte e o mundo das celebridades, "estrelas do rock conhecidas pelos excessos".
Muitos dos inscritos na reabilitação, aliás, achavam que teriam seus trabalhos expostos em Berlim como contrapartida ao tratamento.
"Achavam que ficariam famosos, mas o projeto é anônimo", diz Kapp. "Tudo tem cada vez menos a ver com arte, há um grande vazio."
Poética de vida e morte por Fernanda Fatureto, Le Monde Diplomatique
Matéria de Fernanda Fatureto originalmente publicada na seção Cultura do Le Monde Diplomatique em junho de 2010
A exposição “O Funâmbulo e o Escafandrista”, da artista-plástica Laura Erber, em cartaz em SP, faz uma cartografia do Sena e tece a relação do rio com os habitantes de Paris.
O funâmbulo é aquele tipo de equilibrista que, com um pé sobre a corda, sabe que está a um passo do fim. Contrariamente, ao manter as mãos suspensas no ar, assegura-se da materialidade da vida: assim caminha o funâmbulo entre duas possibilidades até o imprevisível final. Oposição entre vida e morte, relação que perpassa a história natural de toda a humanidade, não fossem os artistas a intuírem que entre uma e outra não há antinomias e sim aproximações. Vida e morte se ocupam do saber. Para Guilles Deleuze o saber está próximo do viver, sendo que a vida não se opõe ao saber, pois mesmo as maiores dores dão um estranho saber aos que experimentam1; para outro pensador, Walter Benjamin, o saber está à favor da morte, pois é no momento da morte que o saber e a sabedoria do homem e sobretudo sua existência vivida assumem pela primeira vez uma forma transmissível2. Dois pensamentos que buscarão na ficcionalidade a solução do impasse. O Romantismo foi talvez o inaugurador desta nova relação potente, em que o poeta, depois de viver radicalmente, entrega-se ao fim em ato heróico. A morte não era interrupção, mas possibilidade de continnum, potência capaz de manter o artista imortal. O desafio criador era viver a posteriori.
Assim foi com Baudelaire, Walter Benjamin, Gilles Deleuze entre tantos que dedicaram sua existência justamente à tarefa exigente: pensar a vida. Todos se suicidaram. Como se a morte fosse o grito libertador para essa mesma impotente vida, porque mortal. Antonin Artaud, o escritor da crueldade, que defendia a corporeidade da vida advogou a favor de outro suicida sentenciando-lhe a inocência: Van Gogh não havia se matado. Não, ele não era louco. Foi a sociedade que o matou, tirando-lhe sua lucidez por meio do conformismo de costumes das próprias instituições3. Máquinas alienantes. Artaud, ele próprio considerado louco por dizer verdades cruas, vivendo parte de sua vida em hospitais psiquiátricos, escreveu sobre o suicídio. E afirmou: tolero terrivelmente mal a vida.
A artista visual Laura Erber realiza em O funâmbulo e o escafandrista, instalação multimídia composta por videoprojeções e depoimentos em televisões, uma cartografia do rio Sena, seu fluxo e relação com os habitantes – citadinos – de Paris. Ou melhor, do que os impele a romper com a contemplação, relação secundária e estática com o rio, e lançarem-se ao jorro das águas: o pleno ato de suicídio. Nas palavras da artista, todo ano o Sena recebe cerca de 180 corpos na região parisiense. Este dado é acompanhado de perto pela Brigada Fluvial da cidade, em que escafandristas realizam a busca de objetos perdidos no fundo das águas e encontram corpos feitos dejetos abandonados à espera do reencontro com a vida: o encontro final com familiares aguardando pelo reconhecimento do corpo e a possibilidade de vivenciarem o luto.
Laura Erber, em sua exposição, enreda a morte no campo ficcional, apodera-se da performance-morte para tratar de representação. Maurice Blanchot quem nos disse que a obra literária só se realiza quando aquele que ali diz “eu” dá lugar a uma voz vinda de outro lugar, transformando-se em um “ele sem rosto”4. Laura Erber, também poeta, traça essa ambiguidade em que morte e linguagem emergem ante o mesmo rosto. Como o canto das sereias de Ulisses, não mais tentado a tapar os ouvidos e sim disposto a sucumbir ao chamado para o fundo das águas. Um canto de morte para fazer viver a obra. O fim da realidade para chegar enfim à representação. A partir daí se enreda a ideia de que arte se apodera da morte para tecer a ficção. Em um dos vídeos dispostos pela sala, há “exercícios de leitura” para textos de Paul Celan e Ghérasim Luca, ambos poetas encontrados mortos no rio Sena. Celan em 1970 e Luca em 1994. Os vídeos trabalham com a ideia de tecitura da linguagem como trama, enredo. A imagem mostrada do fluxo do Sena é interrompida pela escritura.
Rio e palavra a serviço de uma mesma cena: o teatro da própria vida se fazendo; o devir. O que Laura Erber quer é mostrar a morte como personagem de uma “cidade-rio onde tudo passa e nada se fixa”, como diz o artista plástico Selim Abdullah em outro vídeo-depoimento. Em uma das videoprojeções, surge a menina narradora nos contando a fábula da mulher que “leu um livro tão bonito que morreu”. Mais uma vez Laura Erber nesta trama fragmentada faz ecoar a voz de Walter Benjamin, quando o autor diz que qualquer um possui autoridade ao morrer e a morte é a sanção de tudo o que o narrador pode contar. É da morte que ele deriva sua autoridade. Narrador e morte, ambos autores de uma história inaudível.
Na contemporaneidade tudo se verte em imagem. Então vemos o simulacro fúnebre, um ideal de morte arquitetado pelo jogo da artista. Surge o fetiche. O que leva tantos parisienses a se entregarem ao leito do Sena todos os anos? Rio é recordação. Seria a vontade de resgatar a memória da infância, pois ela guarda segredos compartilhados em águas profundas. Em vídeo, Selim Abdullah fala do senso de pertencimento à água para alguns artistas. Höldeling, Matisse. Paul Celan que, alguns anos antes de se jogar no Sena, escreveu: eu estou no mundo por intermitência. Quando o fluxo se interrompe, a vida mesmo em seus rastros constitutivos de mémoria está impossibilitada de ser representada outra vez. Por isso, o narrador em Benjamin está preparado para este encontro com o fim. Toda escritura é um porvir ainda inaudito. A linguagem tenta reconstituir este vazio. E a morte é seu encontro.
junho 14, 2010
Entre 6 e a interseção entre pintura em diversas mídias por Salomão Terra, opeeraa.com
Matéria de Salomão Terra originalmente publicada na seção Artes Visuais do opeeraa.com em 14 de junho de 2010
Seis artistas reúnem-se em coletiva para refletir sobre os contornos da pintura em diversas mídias
Em cartaz até 11/07 na Galeria Archidy Picado, da Fundação Espaço Cultura da Paraíba (Funesc), o público de João Pessoa poderá acompanhar a exposição Entre 6, como uma reflexão entre a pintura em diversas mídias. São ao todo 16 trabalhos, dentre fotografias, pinturas e uma instalação interativa.
A proposta inicial da terminologia “Entre 6” surgiu da tecla Enter, de e-mails, msn, skype, debates, ligações, conexões via web. “Entre” significa estar entre uma coisa e outra, entre um discurso pictórico, de conceitos e de uma prática manual, a qual implica uma mistura de tintas, cores, formas.
Reunindo trabalhos de Andrei Thomaz, Flávio Lamenha, Thiago Martins de Melo, Rodrigo Mogiz Bruno Vieira e Elton Lúcio, tem-se, dentro do escopo da pintura, arte ora construída manualmente ou através dos meios tecnológicos, desde arte interativa, da fotografia digital manipulada, ou por objeto que recebe um tratamento de forma a entender aspectos da pintura ocidental.
A fotografia e o vídeo desenvolvem um importante papel nesse território. Paradoxalmente, em uma mostra cujo foco é a pintura, o elemento da fotografia clareia certos aspectos, incorporando abordagens influenciadas pela pintura, servindo como fonte imagética como o território mais controverso da arte contemporânea.
Da tinta à manipulação digital, coletiva “Entre 6” explora os limites da pintura, Paraíbanews.com
Matéria originalmente publicada no site Paraíbanews.com em 9 de junho de 2010
Selecionados pelo Edital de Ocupação da Archidy Picado, seis artistas, de várias partes do país, se unem em proposta inovadora, na mostra que abre nesta quinta (10/06)
A pintura é o foco, mas eles se aproveitaram das várias possibilidades disponíveis nas artes para causar impacto nos expectadores. A proposta apresenta artistas que trabalham na fronteira entre esses meios e habitam áreas de interseção com a pintura. O resultado é uma mostra coletiva com 16 trabalhos –, dentre fotografias, pinturas e uma instalação interativa – chamada “Entre 6”, dos artistas visuais Andei Thomaz, Bruno Vieira, Hélton Lucio, Flávio Lamenha, Rodrigo Mogiz e Thiago Martins.
A exposição, a segunda selecionada pelo Edital de Ocupação da Archidy Picado, promovido pela Fundação Espaço Cultural da Paraíba (Funesc), abre à visitação pública nesta quinta-feira (10/06), às 20h, na Galeria Archidy Picado do Espaco Cultural José Lins do Rego, em João Pessoa. A entrada é gratuita.
Os trabalhos atraem e aguçam a curiosidade. Podem fazer da contemplação um momento de interatividade entre a obra e expectador. O artista Bruno Vieira, natural de Recife (PE), usa a fotografia aplicada sobre persianas. “Os trabalhos apresentados dessa proposta versam sobre pintura: ora são construídos manualmente, ora através dos meios tecnológicos, desde arte interativa, da fotografia digital manipulada, ou por objetos que recebem um tratamento de forma a entender aspectos da pintura ocidental”, explicou.
“A proposta da coletiva ‘Entre 6’ surgiu da tecla “Enter” das mensagens instantâneas, dos e-mails trocados, diálogos via MSN, Skype, debates, ligações, conexões via web”, explicou. “Entre significa estar entre uma coisa e outra, entre um discurso pictórico, de conceitos e de uma prática manual, a qual implica uma mistura de tintas, cores, formas”, acrescentou o artista Thiago Martins de Melo.
Nos trabalhos de Thiago Martins, a fotografia é utilizada como recurso na formação de imagens pictóricas. Como integrante desse projeto coletivo, Thiago enfatizou a importância de juntar seis artistas naturais de Estados distantes e com construções poéticas diferentes, mas conectados. “Trocamos idéias e nos vemos conectados de alguma maneira. São conexões vivas postas diante da vida”, concluiu.
Mostra expõe ousadia tropical em Madri por Fábio Cypriano, Folha de S. Paulo
Matéria de Fábio Cypriano originalmente publicada na Ilustrada da Folha de S. Paulo em 12 de junho de 2010
Mostra expõe ousadia tropical em Madri
"Desvios da Deriva" traz visão alternativa de brasileiros e chilenos à arquitetura modernista e racionalista
"Eu era arquiteto e mudei para a arquitetura da imaginação", conta o artista Roberto Matta (1911-2002), num depoimento em vídeo, incluído na mostra "Desvios da Deriva. Experiências, Travessias e Morfologias", com curadoria da brasileira Lisette Lagnado, no Museu Nacional Centro de Arte Reina Sofía, em Madri, em cartaz até 23 de agosto.
A tensão entre a prática da arquitetura e uma visão tão criativa que se torna mera utopia marca a exposição através de dois grupos de artistas-arquitetos: os brasileiros Lina Bo Bardi, Flávio de Carvalho e Sérgio Bernadores, e os chilenos que, além de Matta, são representados por Juan Borchers e o grupo da Escola de Valparaíso.
A sessão chilena tem curadoria de Maria Berrios. Pontua ainda a mostra uma série de desenhos feitos pelo arquiteto francês Le Corbusier (1887-1965), quando passou pelo Brasil em 1936. Le Corbusier é visto na mostra como uma figura visionária, no sentido da busca de uma arquitetura não apenas marcadas pelas linhas racionais, mas também por uma visão orgânica da construção e da busca do diálogo com o contexto.
Além de ter influenciado grande parte da arquitetura brasileira, por conta de suas constantes visitas ao país, na mostra explicitado por seus desenhos apresentados numa conferência em 1936, Le Corbusier ainda abrigou Matta em seu escritório.
DESTAQUES
Construída por meio de elegantes estantes, em vez de paredes, a cenografia da exposição, assinada pela arquiteta Aurora Herrera em parceria com Lisette Lagnado, é marcada pela transparência, já que todos os móveis são vazados.
O grande destaque da encenação da mostra, contudo, é um dispositivo criado pela artista francesa Dominique Gonzalez-Foester, pelo qual o famoso conjunto de saia e blusa New Look para Verão, de Flávio de Carvalho, desfila pela exposição pendurado em um cabide.
Com cerca de 200 obras, entre maquetes, desenhos e documentos, "Desvios da Deriva" apresenta uma visão de alternativas, no Brasil e no Chile, ao modernismo racionalista, ao mostrar que a utopia nos trópicos não era uma meta distante, mas consistia na concepção de projetos que respeitavam o ambiente e a escala humana.
Nesse sentido, Bo Bardi se converte num dos grandes ícones da exposição, por viabilizar projetos inovadores como o Masp, a restauração do Museu de Arte Moderna da Bahia e o Sesc Pompeia.
E Flávio de Carvalho, que na mostra do MAM de São Paulo parecia tão pacato, surge de fato como o "revolucionário romântico", apelido pelo qual era chamado por Le Corbusier.
Ela está no meio de nós por Michele Rolim, Jornal do Comércio
Matéria de Michele Rolim originalmente publicada no Caderno Panorama do Jornal do Comércio em 14 de junho de 2010
“O que podemos ser se não percebemos o que nos cerca?” O questionamento é do artista plástico gaúcho André Venzon, e diz muito sobre as suas obras e seu mais recente trabalho, Faces perdidas. Nele, Venzon apropria-se de imagens tradicionais da história da arte, como Davi, de Michelangelo e A última ceia, de Leonardo da Vinci, subtraindo suas faces, mas deixando à mostra o tapume. O autor elimina-lhes o rosto, mas não a carga simbólica, evocada pela memória e pela permanência dos corpos e molduras. “Tudo tem uma face: a cidade, as coisas e nós mesmos. A intenção é refletir que a arte está no meio de nós, inclusive na forma de tapumes”, destaca.
Este trabalho, exposto até o dia 26 de julho no StudioClio (José do Patrocínio, 698), sob curadoria de Blanca Brites e Leandro Selister, dá continuidade às produções anteriores de Venzon, também voltadas a jogos de ocultamento da cabeça. “Essas faces perdidas oferecem desde um exercício de recordação e de imaginação em relação ao que permanece da imagem, bem como a tipos de associação que podemos imaginar sobre o lugar do tapume nestas obras”, enfatiza o artista, destacando o papel deste material (o tapume), como um elemento identificador de seus trabalhos. “Ele representa um índice de urbanidade e relaciona nosso corpo com a cidade em que vivemos”, revela.
Segundo Venzon, os espaços urbanos são considerados matéria-prima para a realização de suas obras. Tanto que, esses lugares despontam em vários trabalhos do artista que, na década de 1990, chegou a estudar arquitetura e urbanismo, embora sem concluir. “Esta experiência no curso foi fundamental para lançar mão de projetos artísticos com embasamento técnico-construtivo”, diz, ele, citando o monumento em homenagem aos 100 anos da imigração judaica organizada para o Brasil, (localizado na avenida Osvaldo Aranha, no parque Redenção). Ele representa uma das pilastras do antigo cinema Baltimore, destruído no ano em que se comemorava o centenário, que serviu de lugar para o primeiro núcleo escolar israelita e círculo social. “Quis fazer este duplo resgate de lugares, e como me disse o músico Álvaro Santi, ‘quisesse dizer que nada está perdido para sempre’, e isto me marcou muito”, conta.
Além dos cenários urbanos, a religiosidade também está presente na obra do autor. Nesta série, foram escolhidas imagens religiosas impressas. “Minha religião é a arte. O sagrado faz parte da minha vida. Acompanho a procissão de Navegantes em Porto Alegre há muitos anos e faço isso pela convicção de que este percurso, seja ele por terra ou por água, é um desenho simbólico capaz de transformar a paisagem da cidade não por um dia, mas por todo o tempo”, destaca Venzon, que diz buscar inspiração no trabalho do argentino Antonio Berni.
O artista ocupou a presidência da Associação Chico Lisboa até inicio deste mês (agora a presidente é Vera Pellin). No momento, dedica-se a projetos pessoais - o principal voltado para grandes pinturas projetadas, cujo título será O importante é não parar. A 72 Ny Gallery é um outro projeto audacioso do autor. “Queremos criar com isto um espaço de conexão artística entre Porto Alegre e Nova Iorque, mas estamos apenas começando”, e completa: “O principal é estar sempre aberto para novos projetos e confesso que os sociais e coletivos são os que mais me atraem”.
Mulher Aranha por Nina Gazire, Istoé
Matéria de Nina Gazire originalmente publicada na Istoé em 7 de junho de 2010
Conheça a história da escultura mais famosa da artista Louise Bourgeois
Louise Bourgeois foi uma das maiores artistas do último século. Nos seus 60 anos de carreira esteve ligada a diferentes escolas artísticas, sendo o Surrealismo o estilo pelo qual ficou mais conhecida. Quando sua morte foi anunciada nesta última segunda-feira, muitos brasileiros se lembraram de uma de suas esculturas mais famosas, a “Aranha”, que se encontra na marquise do Museu de Arte Moderna em São Paulo (MAM-SP). A escultura está exposta em regime de comodato no museu e na realidade, pertence ao acervo do Banco Itaú. Esteve exposta pela primeira vez no Brasil na 28ª edição da Bienal de São Paulo em 1998. Sua aquisição foi feita em 1999 pelo então presidente do Itaú, Olavo Setúbal em um leilão de arte internacional. Segundo a assessoria de imprensa do Itaú, a escultura foi cedida ao MAM-SP e teve o espaço de vidro construído especialmente para sua exibição. Mas essa “Aranha” não é a única: existem outras pertencentes a diferentes acervos espalhados pelo mundo, o que faz certamente da série “Aranhas” o conjunto de trabalhos mais famosos da artista.
A artista começou a produzir essas esculturas em meados da década de 1990. Uma das primeiras foi criada junto a um projeto que desenvolvia para a Tate Gallery, em Londres, no período de 1999 a 2000. Em seguida, uma aranha menor foi colocada na Rockefeller Plaza, em Nova York, e desde então, elas ganharam outros lugares do mundo, como o museu Guggenheim de Bilbao e o L´Hermitage de São Petersburgo. Podemos encontrar as “Aranhas” de Louise ainda em Seoul, La Havana e claro, no Brasil. Mas qual é a verdadeira história por trás das esculturas aracnídeas de Louise Bourgeois? Não são simples aranhas apenas. Chamadas de “Maman”, elas representavam, segundo Louise, uma metáfora para a atividade artística. Mas o fazer artístico para Louise também estava intimamente ligado a sua visão freudiana do processo de criação. Pelo menos, foi isso que alegou ao dizer que em seu caso, a vida do artista era a negação do sexo. “A arte vem da incapacidade de seduzir. Sou incapaz de me fazer amada. A equação é na verdade sexo e assassinato, sexo e morte”, afirmou certa vez.
Duas artistas em fogo cruzado por Paula Alzugaray, Istoé
Matéria de Paula Alzugaray originalmente publicada na Istoé em 03 de junho de 2010
A brasileira Dora Longo Bahia e a paquistanesa Farida Batool falam sobre o tema da violência em sua arte
Dora Longo Bahia
Não é a guerra particular do morro carioca que povoa as imagens da exposição “Trash Metal”, de Dora Longo Bahia – na galeria Vermelho, em São Paulo, até sábado 12 –, mas cenas de conflitos distantes do Brasil: no Iraque, Afeganistão, Paquistão e Israel.
A artista argumenta que a violência da guerra nos é mais íntima do que parece, mesmo que entre na vida dos brasileiros pelos games ou pela televisão.
ISTOÉ – Você já trabalhou com duas dimensões de violência, vistas pelo filtro da mídia: a violência doméstica e a violência de guerra. Que relação há entre elas?
Dora Longo Bahia – Quando eu trabalhava com violência doméstica, pegava fotos e textos do “Notícias Populares” (jornal do Grupo Folha que circulou até 2001 e explorava manchetes de sexo e violência) sobre mulheres espancadas e pensava no limite entre uma relação íntima e uma notícia em coluna policial. Mas eu não queria falar de um drama pessoal. Mais do que sobre uma pessoa específica, eu queria falar sobre a questão do limite, dar ao conflito doméstico uma dimensão universal. Agora, na série da guerra, pela agressividade do suporte – o ferro-velho que é enferrujado, pesado, corta o dedo –, eu procuro trazer a violência para perto, fazer com que as pessoas se sintam fisicamente próximas ao conflito.
ISTOÉ – Você não trata esses conflitos como regionais, mas universais?
Dora – Exatamente. Senão, entramos em temas nacionalistas. Não dá para pensar que um problema só pode ser abordado por quem vive esse problema: que só um negro pode falar sobre racismo.
ISTOÉ – Por que você opta sempre pela apropriação de imagens da mídia?
Dora – Tudo é mediado, vivemos uma vida mediada. É claro que, se você vai para um campo de batalha ou se passa por uma grande tragédia, você tem um vislumbre do real. Senão, está imerso num mundo da imagem, da ficção. A nossa realidade é totalmente fictícia. Tudo se dirige a conduzir o comportamento das pessoas: as risadas de um sitcom fazem ver aquilo como uma comédia e, quando abre o jornal, você é induzido a ver heroísmo em imagens de guerra.
ISTOÉ – A técnica que você escolhe, o “escalpo”, também é sugestiva da violência?
Dora – O escalpo é uma pintura sem corpo, que é arrancada de seu corpo original e colocada sobre outro corpo. Geralmente esse outro corpo sobre o qual eu trabalho é podre, precário: é o jornal, o papelão, são madeiras de tapume, placas de fibrocimento, que são supertóxicas. Agora estou aplicando a pintura sobre o ferro-velho. Originalmente, o escalpo vem dos índios americanos, os moicanos. Eles arrancavam o couro cabeludo do inimigo como troféu.
Farida Batool
As tensas relações entre o Paquistão e a Índia são uma constante nos trabalhos de Farida Batool, artista paquistanesa que esteve no Brasil em maio para o 5º Seminário Antídoto, no Itaú Cultural, em debate sobre a produção cultural em zonas de conflito. Sua imagem mais famosa mescla as fotografias de uma menina pulando corda e um prédio destruído por um atentado terrorista em Lahore, em 2006.
ISTOÉ – Além de artista, você leciona em zonas de conflito. Como é a relação entre a arte e as realidades políticas da Índia e do Paquistão?
Farida Batool – Trabalho com refugiados que vivem em abrigos, pessoas que foram deslocadas violentamente de suas realidades cotidianas. Utilizo a arte como uma forma de enfrentamento. Essas pessoas precisam expressar seus sentimentos em relação às terríveis situações vividas, e não de uma imposição ao esquecimento do trauma. Utilizo a arte como forma de linguagem, mesmo que as pessoas não tenham um entendimento do termo arte. É algo catártico. Além disso, realizo um trabalho de documentação das zonas de conflito do Paquistão. Meu objetivo é dar espaço a diferentes vozes e constituir uma experiência estético-política.
ISTOÉ – Você realizou trabalhos com mulheres de áreas rurais e desenvolveu o minidocumentário “The Clash of Masculinities” para a BBC online. Por que a questão do gênero?
Farida – Somente uma mulher levanta questões sobre essas diferenças que lhe dizem respeito. Os homens paquistaneses passam por essa crise da masculinidade que tem muito a ver com as questões colocadas pelo feminismo. No Paquistão, a dificuldade de liberdade pesa muito mais sobre as mulheres. Às vezes, sinto inveja dos homens, inveja de coisas básicas, como poder andar na rua ou sentar em um parque sozinha. Ao mesmo tempo, os homens do Paquistão têm um problema muito pior do que o meu, que é ter de administrar esse ideal massacrante de uma masculinidade perfeita.
ISTOÉ – Por que a escolha pela técnica da impressão lenticular?
Farida – É o meio mais apropriado para a transmissão de minhas ideias. Meu trabalho “Nai Reesan Shehr Lahore Diyan” (foto), além de dar a impressão dos movimentos da menina pulando corda à medida que a pessoa modifica sua posição ao redor da imagem, também coloca em questão as ambiguidades do desastre que está ao fundo da imagem. É uma mensagem que significa que, mesmo em um ambiente de guerra, temos a possibilidade de paz. Essas dualidades aparecem em meus trabalhos de maneira geral. A impressão lenticular permite essa leitura dupla através do antagonismo entre inércia e movimento.
Samplers de pinturas por Paula Alzugaray, Istoé
Matéria de Paula Alzugaray originalmente publicada na Istoé em 11 de junho de 2010
Entre o entusiasmo pela cultura popular de Robert Rauschenberg e o expressionismo abstrato limpinho de Barnett Newman, Henrique Oliveira fica com o primeiro. “Penso o meu trabalho como um desenho animado pintado por um expressionista abstrato”, afirma Oliveira, jovem talento que inaugura no sábado 12 sua primeira individual no Rio de Janeiro, composta de sete pinturas sobre tela e uma de suas pinturas tridimensionais em madeira e grande formato que, por onde passa, chama a atenção de público e crítica. Em setembro uma dessas peças integrará a 29ª Bienal de São Paulo.
Quando começou a pintar, aos 20 e poucos anos, Oliveira era um típico garoto que gostava dos Beatles, dos Rolling Stones, da menos óbvia banda Primus, de HQ, grafite e tatuagem.
Seu repertório ampliou quando conheceu alguns dos protagonistas do expressionismo abstrato nacional e internacional, como Anselm Kiefer, Willem De Kooning, Iberê Camargo, Flavio Shiró e Nuno Ramos. Do encontro dessas referências, ao longo de dez anos de trabalho, surge uma obra vigorosa que mostra mais transpiração do que inspiração e funciona como uma espécie de action painting (técnica de pintura gestual) em madeira.
“Xilempasto” (2010) (foto) é um desses trabalhos de matriz assumidamente expressionista feitos com lascas de madeira. Com 4 m x 2.7 m, a obra é a ampliação de um pequeno segmento de uma tela do pintor alemão Frank Auerbach: os volumes de madeira corresponderiam às camadas de tinta a óleo. “É como fazer um sampler de todos esses pintores”, define Oliveira, comparando sua atividade pictórica à música, sem receios nem pudores de evocar tanto a história quanto a contemporaneidade da arte.
Manifesto a céu aberto por Paula Alzugaray, Istoé
Matéria de Paula Alzugaray originalmente publicada na Istoé em 11 de junho de 2010
Mostra em Porto Alegre reúne Robert Smithson e outros 15 protagonistas da arte conceitual e land art internacional
“O confinamento da cultura acontece quando um curador impõe seus limites em uma exibição de arte, em vez de dar ao artista seus próprios limites.” Com essa frase, trecho de um artigo para a revista “Artforum” de 1972, o artista americano Robert Smithson expõe o projeto de sua “land art”: a libertação da arte do espaço “neutro” da galeria e o reconhecimento das estruturas geológicas da Terra como uma forma de arte monumental que não cabe em museus. Exemplo disso é o seu trabalho mais famoso, “Spiral Jetty”, escultura em espiral feita com terra e pedras dentro de um lago de sal de Utah. Seguindo a cartilha de Smithson, o Projeto Areal foi criado pelos professores e artistas André Severo e Maria Helena Bernardes, em 2000, a partir de uma série de ações artísticas realizadas em diferentes lugares do Rio Grande do Sul.
Land art, performances e intervenções urbanas são termos que podem descrever algumas dessas ações, como por exemplo o trabalho “Migração”, de André Severo, que durante um ano viajou coletando diferentes amostras de solo e, posteriormente, enterrou-as em seu ateliê, numa espécie de performance ritualística. O Projeto Areal pretende uma arte para além do horizonte institucional, inspirado por toda uma geração de artistas das décadas de 1960 e 1970 que, em suas mais diferentes expressões, lutou para estabelecer uma revolução no campo estético que ampliasse o entendimento da arte. Para comemorar dez anos de atividades, a dupla de artistas celebra os seus mestres inspiradores na exposição “Horizonte Expandido”.
Com parcerias de nove importantes coleções internacionais, como a Fundación Cisneros, a Electronic Arts Intermix e o colecionador James Cohan, a exposição reúne 72 videorregistros e fotografias de trabalhos de 16 artistas. Smithson, Marina Abramovic, Nancy Holt, Bruce Nauman, Allan Kaprow e Vito Acconci são alguns dos grandes nomes da mostra, que acertou ao criar um espaço de exibição livre de amarras pedagógicas curatoriais, obedecendo à tradição romântica – no bom sentido – dos artistas apresentados. “A exposição não aceita os mediadores tradicionais.
Não há textos explicativos nem linearidade para se entender os trabalhos. Queríamos mostrar como o Areal foi afetado por essa subjetividades”, explica Maria Helena, que optou por uma apresentação nada ortodoxa de Allan Kaprow, ao reencenar sua performance “Fall”. “Não queríamos mostrar o Kaprow museológico, mas o artista que propôs atividades que pudessem ser realizadas por qualquer um”, comentam os curadores. “Muitos dos artistas que integram essa mostra trazem esse convite do ‘faça-você-mesmo’ para o público”, afirma André Severo.
Trocando o pincel pelo mouse por Astier Basílio, Jornal da Paraíba
Matéria de Astier Basílio originalmente publicada no Caderno Vida & Arte do Jornal da Paraíba em 10 de junho de 2010
Qual é a imagem que se tem de um artista plástico em atividade? Palheta, tubos de tinta, potes com terebentina, óleo de linhaça, panos, lápis. Com as novas tecnologias, a tela de pano pode ser substituída pela tela do computador e o pincel, pelo mouse. Uma mostra de como as novas gerações lidam com as ferramentas de que dispõem pode ser vista hoje, na galeria Archidy Picado, em João Pessoa, na mostra coletiva ‘Entre 6’.
Ao todo, são em torno de 17 trabalhos expostos em mídias diversas: tela, vídeo, desenho, fotografia, pintura. Os trabalhos são assinados pelos jovens artistas visuais Andrei Thomaz, de Porto Alegre; Rodrigo Mogiz e Elton Lúcio, de Belo Horizonte; Bruno Vieira, de Recife; Flávio Lamenha, de São Paulo; e Thiago Martins de Melo, de São Luís.
A mostra foi selecionada pelo edital de ocupação da galeria Archidy Picado, da Fundação Espaço Cultural. Segundo Sidney Azevedo, coordenador de artes visuais daquela instituição, o grupo se reuniu porque partilha de afinidades comuns. “Eles não têm curadoria. São artistas independentes que fazem uma pintura que não é de cavalete, trabalhando com a pintura no campo expandido da arte contemporânea”.
De um modo geral, os artistas desta mostra retrabalham conceitos e manipulam signos. É o caso das fotografias aplicadas sobre persianas de Bruno Vieira, em que um elemento utilitário, a persiana, funde-se com o artístico em uma combinação repleta de significados. Por falar em criatividade, chama a atenção a maneira como Flávio Lamenha se coloca como personagem, reduplicando sua persona em um jogo teatral de paródias irônicas, como pode ser visto em Ceia, releitura da famosa obra de Leonardo da Vinci.
As misturas dão o tom das peças de Rodrigo Moriz nas quais se misturam desenho, bordado e pintura para dar moldura ao universo da obra de Guimarães Rosa. Utilizando a técnica de óleo sobre papel, Elton Lúcio vai explorando as linhas, pontos de fuga e perspectiva, além de inserir um sujeito em meio às suas pesquisas dos contornos.
junho 11, 2010
Herdeiros da arte, Folha de S. Paulo
Matéria originalmente publicada no Editoriais do Jornal Folha de S. Paulo em 7 de junho de 2010.
Descendentes de um grande escritor brasileiro já desaparecido tentaram evitar que uma publicação veiculasse fotografia do pai com um determinado tipo de gravata. Consideravam que o autor só poderia aparecer com o modelo borboleta, seu predileto.
O episódio é apenas um exemplo dos excessos cometidos por famílias na suposta tentativa de proteger a imagem de seus famosos parentes mortos. Há muitos casos análogos, que envolvem, além da imagem e do nome, o direito de relatar fatos biográficos, criticar e reproduzir obras em meios como livros, revistas e catálogos.
Ambições pecuniárias, leis problemáticas e decisões judiciais infelizes conspiram para conferir aos herdeiros um poder desmedido sobre bens que possuem evidente dimensão pública.
O episódio mais recente envolveu a Bienal de São Paulo e a associação O Mundo de Lygia Clark, dirigida pelo filho da pintora. Diante de imposições, os responsáveis preferiram retirar a artista da mostra.
"Queriam até controlar quem poderia escrever sobre ela", afirmou o curador Agnaldo Farias.
A associação argumenta que tem custos e precisa cobri-los. Ainda que fosse assim (e que se precise avançar em políticas públicas de aquisição de acervos na área das artes visuais), o argumento não bastaria para impedir a presença de obras da artista na Bienal, a reedição de um livro e o uso de seu nome numa exposição com depoimentos em vídeo acerca de seu trabalho.
Em breve o Ministério da Cultura levará a consulta pública a revisão da Lei de Direito Autoral. É provável que aspectos relativos às novas tecnologias dominem o debate -mas isso não deveria impedir que se criassem regras para reequilibrar as relações entre direitos de herdeiros e o caráter público do patrimônio cultural.
junho 9, 2010
Artista mostra videogame da guerra por Silas Martí, Folha de S. Paulo
Matéria de Silas Martí originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 8 de junho de 2010
Obra de Harun Farocki, que está na próxima Bienal, usa animações feitas pelo Exército para treinar soldados
Alemão visitou bases militares nos EUA para mostrar como desenhos preparam homens para antes e depois da guerra
Não é pura a guerra. Harun Farocki entende isso e opera no abismo entre estratégia militar e a realidade áspera do sangue derramado.
Nas últimas quatro décadas, esse alemão disseca imagens de conflitos pelo mundo, da queda da ditadura romena à atual guerra no Iraque. Em quase cem filmes e vídeos, buscou construir uma espécie de anatomia da memória bélica.
"Jogos Sérios", a obra que traz para a próxima Bienal de São Paulo, em setembro, mostra que essa memória se torna cada vez mais virtual.
Farocki escancara as animações usadas pelo Exército norte-americano no treinamento de soldados antes do embarque rumo ao Iraque.
São as mesmas imagens -Bagdá em chamas e poças de sangue feitas de pixels- usadas para a terapia dos homens na volta para a casa.
"Mostro esses dois usos da imagem, do preparo para a guerra ao tratamento do trauma", diz Farocki, em entrevista à Folha. "Esse exercício com a imagem digital dá a entender como se constrói a memória da guerra."
Também aponta para uma transição na natureza da imagem no mundo atual.
Em contraponto à película granulada da Guerra do Vietnã e o verde brilhante e macabro da visão noturna da Guerra do Golfo, o teatro iraquiano será lembrado como fabricação edulcorada.
STATUS DA ANIMAÇÃO
"Mudou o status da animação", afirma Farocki. "Está mais poderosa do que a reprodução fotográfica, uma tendência nova e estranha."
Na visão de guerra dos bastidores do confronto, a paisagem iraquiana surge achatada, sem relevo. Homens de carne viram fantoches de entranhas eletrônicas, numa anestesia generalizada que transforma os inimigos em alvos abstratos.
"Essas criaturas representam humanos", descreve Farocki. "Mas essa é uma imagem tecnológica, o soldado está no comando do jogo, não importa se leva um tiro ou não, está no comando."
Talvez porque a câmera tenha saído de cena, a vida tenha perdido valor na guerra virtual, longe da carnificina palpável de tempos atrás.
"É muito diferente de reconstruir a história a partir de imagens filmadas", diz Farocki. "É como um videogame, e o Pentágono alimenta a indústria, não esconde isso."
No plano político, esses desenhos animados também desequilibram opiniões.
Enquanto soldados americanos e britânicos aparecem como bonequinhos digitalizados, homens do outro lado do front surgem em toda a crueza de barbas e turbantes nos noticiários da televisão.
"Isso joga sempre as pessoas para um lado do conflito", diz Farocki. "É como ver uma briga de armas de fogo contra um arco e flecha."
IMPUREZA DO REAL
Na comparação entre possibilidades tecnológicas e realidade, Farocki arquitetou outra obra. Jogou lado a lado imagens da trajetória imaginada de um míssil e fotografias feitas por uma câmera presa ao corpo do projétil.
É o que ele chama de comparação entre "guerra pura" e a "impureza do real". "Estou interessado em imagens operacionais", diz Farocki. "Coisas nada estéticas, que sejam pura comunicação."
E na "estética terrorista" de Farocki, a imagem se torna política quando prazer visual encosta na dor. Não é a vítima do napalm, a garotinha eternizada na fotografia.
No lugar dela, é a imagem do laboratório estéril, onde fazem o veneno, que aparece noutra obra do artista. Seco, desvela a fábrica do horror com a mesma pegada minimalista, clínica com que documentou esse videogame pop da guerra no Iraque.
Artistas não podem ser aprisionados por herdeiros em redomas privadas por Marcos Augusto Gonçalves, Folha de S. Paulo
Matéria de Marcos Augusto Gonçalves originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 4 de junho de 2010.
É preciso que se encontre um equilíbrio entre os poderes que herdeiros exercem sobre as obras e os direitos legados por parentes mortos e a dimensão pública da cultura, da arte e do artista.
Do modo como está, crescem as barreiras e os empecilhos para a circulação, interpretação crítica e reavaliação de bens culturais.
Em boa medida, a causa desses problemas está na perspectiva de ganhos materiais por parte de herdeiros. Isso não acontece apenas no território da arte.
São conhecidos os problemas que famílias podem criar para a veiculação de livros históricos e biografias acerca de parentes mortos.
O que muitas vezes se apresenta como intuito de proteger uma reputação não passa de disfarce para o propósito de ganhar dinheiro.
Nas artes plásticas, por características do mercado, que pode levar preços a alturas vertiginosas, a motivação material mal se disfarça. Pessoas famosas não podem ser aprisionadas em redomas privadas por filhos ou netos.
A tentativa de fazê-lo, mesmo que amparada em leis, ignora a intenção original do artista de se fazer figura pública e de divulgar sua obra -que do ponto de vista cultural se torna patrimônio de todos. Tudo tem limite.
"Cobramos para manter a obra", diz filho de Clark por Fabio Cypriano, Folha de S. Paulo
Materia de Fabio Cypriano originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 4 de junho de 2010.
Lygia Clark (1920-1988) foi uma das artistas mais experimentais do século 20, rompendo totalmente com o objeto. As imposições da associação dirigida por seu filho Álvaro Clark não seriam uma contradição a isso?
"Minha mãe nasceu rica, casou com homem rico e, na separação, recebeu 86 apartamentos, que ela foi vendendo um a um, para fazer a obra dela. Só não morreu pobre porque eu ajudei. Muitas vezes não comemos goiabada com queijo porque ela não tinha dinheiro para a feira. A gente cobra porque é preciso, para manter a obra dela", diz Álvaro Clark.
Há dez anos, segundo ele, um "Bicho" era vendido por US$ 3.500 (R$ 6.400). "Na semana passada, ele foi vendido por US$ 584 mil (R$ 1 milhão), graças ao nosso trabalho, que incluiu uma limpeza no mercado".
Já sobre a Bienal, ele diz que suas exigências nunca foram questionadas pelo curador Moacir dos Anjos.
"Ele apenas pediu a redução de custos. O que eu não queria era que a Suely Rolnik escrevesse sobre a Lygia, pois ela está organizando essas exposições no Nordeste sem sequer nos consultar. Ela não pode usar o nome de Lygia Clark porque a lei não permite. O trabalho dela é bom, mas ela não pode usar o que é nosso", diz Clark. Rolnik não quis se manifestar.
Quanto ao livro de Maria Alice Milliet, Clark diz que a editora não pediu licença para publicação: "Pedimos R$ 120 por imagem, mas esse valor cai de acordo com a quantidade. Tem muita gente falando sobre a associação que não se interessa em perguntar a verdade".
Lygia Clark à distância por Fabio Cypriano, Folha de S. Paulo
Matéria de Fabio Cypriano originalmente publicada na Ilustrada da Folha de S. Paulo em 4 de junho de 2010
Nova edição de uma tese sobre a obra da artista e um projeto com entrevistas sofrem com custos impostos por sua família
Não é apenas da 29ª Bienal de São Paulo que Lygia Clark foi retirada por desacordo com a associação O Mundo de Lygia Clark, dirigida por Álvaro Clark, filho da artista.
Uma mostra no Centro Cultural Banco do Nordeste, em Fortaleza, com curadoria de Suely Rolnik, que apresentou, de 17/4 a 7/5 passado, 20 depoimentos sobre Clark, parte de sua antológica mostra na Pinacoteca, em 2006, não pôde exibir sequer o nome da artista.
Os depoimentos colhidos por Rolnik abordavam a obra de Clark por meio de pessoas que passaram por seu set terapêutico, entre eles Jards Macalé e Caetano Veloso.
A mostra de 2006, "Lygia Clark: da Obra ao Acontecimento", foi considerada internacionalmente uma das melhores formas de exibir essas práticas experimentais.
Em Fortaleza, a exposição teria apenas os vídeos, mas, para que o nome da artista constasse dos folhetos, anúncios na internet e textos de parede, a associação cobrou cerca de R$ 40 mil.
"Esse valor é alto por incluir uma multa, já que nem fomos procurados sobre essa mostra", diz Álvaro Clark.
"Realmente, isso não pode continuar, várias famílias estão causando prejuízo para a obra dos artistas, como também ocorre com Volpi e Goeldi", diz Ricardo Resende, consultor do projeto Leonilson e diretor do Centro de Artes Visuais da Funarte.
REFORMA DA LEI
Segundo Resende, a Funarte irá criar um edital para ajudar famílias de artistas a cuidar do patrimônio herdado, mas com alguma forma de restrição ao poder excessivo dessas famílias. "Na nova lei de direito autoral, há um grupo de trabalho que busca repensar essa questão", afirma o diretor.
"A lei brasileira é nosso maior problema, pois, da forma como as coisas estão ocorrendo, parece que não se quer que a cultura tenha um canal de fruição", diz Maria Alice Milliet, curadora da Fundação Nemirovsky.
Seu livro "Lygia Clark: Obra Trajeto", de 1992, está esgotado há mais de dez anos e não teve nova edição por conta dos custos que a associação impôs à Edusp.
"Essa foi minha dissertação de mestrado, primeiro livro sobre Clark, lançada por uma editora universitária, portanto, sem fins lucrativos", conta Milliet. "Mas os custos impostos pela família da artista inviabilizaram uma segunda edição."
Na 29ª Bienal, Clark participaria com "Caminhando", uma de suas obras mais importantes e, ao mesmo tempo, de execução mais simples: precisa de rolo de papel e tesoura para ser realizada.
"A ausência do trabalho só vai levantar mais curiosidade. Será a política do evento", disse a curadora convidada Yuko Hasegawa, num debate anteontem.
junho 7, 2010
Tempo em foco por Camila Molina, O Estado de S. Paulo
Matéria de Camila Molina originalmente publicada no caderno Cultura do jornal O Estado de S. Paulo em 7 de junho de 2010
Para pensar os conceitos de efêmero e permanente, PhotoEspaña 2010, festival que se consolida cada vez mais na Europa, começa amanhã com 69 mostras em Madri, Cuenca e Lisboa, além das oficinas
O festival nasceu PhotoEspaña nasceu como um disparador para que a Espanha começasse a marcar seu espaço no território da fotografia. Acima, obra de Helen Levitt (Estate of Helen Levitt/Divulgação).
"É fácil reconhecer que uma das qualidades mais indiscutíveis da fotografia é sua capacidade de induzir e conferir interesse aos assuntos mais inesperados", define o moçambicano Sérgio Mah, diretor artístico do PhotoEspaña, o festival internacional do gênero fotográfico que vem cada vez mais se tornando uma referência no cenário europeu, ao lado dos franceses de Arles e de Perpignan. Conhecido apenas pelas iniciais PHE, o evento, em sua 13.ª edição, dá o início oficial de suas atividades amanhã e se estende até 25 de julho, promovendo 69 mostras, debates, oficinas e leituras de portfólios nas cidades espanholas de Madri e Cuenca e, pelo terceiro ano, também incluindo Lisboa (Portugal), que abriga no Museu Coleção Berardo exposição da nova-iorquina Collier Schorr.
"O diferencial em seu modelo foi a história de que é um festival em Madri e, por isso, espalhado em infinitas programações, diferentemente de outros em cidades pequenas, onde todos os participantes, de uma forma ou de outra, se esbarram pelas ruas ou nas programações", diz o fotógrafo brasileiro Pio Figueiroa, do coletivo paulistano Cia de Foto, selecionados para o PHE 10. O festival espanhol, por exemplo, se espraia por espaços importantes da capital, como o Museu Reina Sofia, a Casa de Américas, o Real Jardim Botânico, o Matadero Madrid e o Instituto Cervantes. E ainda consegue oferecer exposições de peso, como a mostra que apresentará antologia da produção da americana Helen Levitt (1913-2009) "suprema fotógrafa-poeta das ruas e da gente de Nova York", como definiu o crítico Adam Gopnick - é sua a imagem, feita em 1940, que ilustra acima esta página -, ou do húngaro László Moholy-Nagy (1895-1946), um vanguardista, professor da Bauhaus.
Território. Para voltar um pouco na história, o PhotoEspaña foi criado na década de 1990, quando Madri ainda era quase que uma capital provinciana em termos de fotografia, com poucos espaços expositivos dedicado ao gênero e ínfima inserção de obras fotográficas nos acervos de suas instituições. O festival nasceu, assim, como um disparador para que a Espanha começasse a marcar seu espaço no território da fotografia. Por trás do evento está a La Fabrica, editora e galeria centrada no gênero fotográfico, mas também o aporte do governo espanhol e de patrocinadores, numa maneira de internacionalizar o festival tal é o objetivo da diretora-geral do PHE, a francesa Claude Bussac.
Outro destaque. No Museu Reina Sofia estará a coletiva 'Manhattan: Uso Misto', com imagens da década de 1970. Obras de Gordon Matta-Clark e Zoe Leonard. Foto: Divulgação
O PhotoEspaña tem como característica convidar um curador para que ele faça um projeto linear de três edições seguidas do evento. Este é o último ano de Sérgio Mah como diretor artístico do PHE. O moçambicano tem apreço por temas simples, que conseguem aglutinar estrelas da fotografia e uma gama de questões - em 2008, o mote escolhido por ele foi Lugar; em 2009, Cotidiano; e agora é a vez do Tempo.
Singularidade. "Foi uma sequência de três temas muito abrangentes mas decisivos para refletir a pertinência e a singularidade do fotográfico na cultura contemporânea, não só em termos estéticos e conceituais, como em termos ontológicos e políticos", diz Mah, em entrevista por e-mail ao Estado.
"Por outro lado, procurei promover um entendimento do fotográfico muito para além da fotografia porque, atualmente, o cinema, a escultura, a pintura são também formas de conceber e experienciar o fotográfico", continua ele, exemplificando que na edição passada um dos destaques do festival foi a mostra de fotos pintadas do artista alemão Gerhard Ricther. Outro ponto central de sua curadoria é um interesse pela década de 1970, marcada por mudanças sociais e políticas e, ainda, época de aproximação entre os chamados "fotógrafos-artistas" e os "artistas que utilizam a fotografia", como define Mah.
Fotografia ganha espaço no museu por Thiago Corrêa, Diario de Pernambuco.com.br
Matéria de Thiago Corrêa originalmente publicada no caderno Viver do Diario de Pernambuco.com.br em 7 de junho de 2010
Mamam tem programadas duas exposições para o segundo semestre; no mês passado, criou um Clube de Colecionadores para estimular esta arte
A nova fase do Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães (Mamam), reinaugurado em março, vai ser marcada por uma reaproximação do espaço com a fotografia. Para o segundo semestre já estão programadas duas grandes exposições que envolvem a arte fotográfica no museu. A primeira abre em outubro e vai integrar a programação de comemoração ao centenário de nascimento de Lula Cardoso Ayres. "É uma mostra inédita, Lula tem uma produção grande na fotografia, mas pouca gente conhece esse trabalho", adianta a diretora do Mamam, Beth da Matta.
Em dezembro, entra em cartaz a exposição E.CO - Encuentro de Colectivos Fotográficos Euroamericanos, que reúne produções de coletivos de fotografia de 20 países da Europa e da América Latina. A mostra traz os trabalhos selecionados para integrar a edição do ano passado, exibida em Madri (Espanha). Do Brasil, estão os coletivos Cia de Foto e Garapa. "Esse é um dos principais eventos de fotografia do mundo e o resultado de 2009 vai circular por mais de nove países. É uma mostra grande, vai ocupar todo o museu", observa Beth da Matta. Antes de Recife, a E.CO passa por São Paulo.
As exposições de Lula Cardoso Ayres e da E.CO seguem uma tendência que foi iniciada mês passado com o lançamento do Clube de Colecionadores de Fotografia. A proposta é semelhante ao projeto desenvolvido há mais de dez anos do Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM) e também praticado pelo MoMA de NovaYork. "Ao assumir o Mamam, comecei a observar as outras instituições. Minha preocupação era manter o que já tinha e abrir novas possibilidades de financiamento para o museu. Pegamos o molde do MAM e adaptamos à nossa realidade", recorda a diretora.
A cada ano serão selecionados cinco artistas, que vão ceder uma obra para integrar o acervo do museu. As fotos serão reproduzidas em 30 cópias assinadas e numeradas para serem destinadas aos membros do clube. Para garantir uma das 30 vagas do grupo, os interessados precisam pagar uma anuidade de R$ 2.500 (à vista) ou seis parcelasde R$ 420. Ao término da temporada, os sócios do clube terão fotografias de cada um dos artistas. Segundo a diretora, metade das vagas do clube já foram preenchidas.
"A ideia é estimular a prática do colecionismo, queremos reforçar o trabalho com a fotografia. Temos um acervo contemporâneo importante. Com o clube vamos poder financiar a aquisição de novas obras", explica Beth. A curadoria é do fotógrafo Alexandre Belém e da antropóloga Georgia Quintas, além da própria diretora do Mamam. Na temporada 2010 foram selecionados os fotógrafos Claudia Jaguaribe (RJ), Tiago Santana (CE), Rodrigo Braga (AM) e os pernambucanos Ricardo Labastier e Alcir Lacerda.
Fernanda Gomes ganha repercussão internacional transformando restos em poesia por Suzana Velasco, O Globo
Matéria de Suzana Velasco originalmente publicada no segundo caderno do jornal O Globo em 7 de junho de 2010
O corredor de entrada do apartamento de Fernanda Gomes se estreita com a pilha de gavetas e caixas que ela acha em caçambas pela rua. A maior parte da sala é ocupada por pedaços de madeira pendurados; paus que, unidos, viram uma escada; pregos nas paredes. Um dos quartos guarda - e esconde - de casca de ovo a folha de ouro, passando por linhas de costura, moedas, colheres, papéis de cigarro e papéis de seda, clipes, fios de cabelo, copos quebrados, caixinhas de fósforo, pedras, ímãs.
- Tem gente que adora este quarto, mas tem gente que não consegue ficar muito tempo aqui - conta ela.
Fernanda é artista plástica. E o quarto repleto de objetos é um de seus dois ateliês. O cômodo ao lado é o outro, que ela chama de ateliê de pintura, com tintas quase sempre na mesma cor: branco. Fernanda acumula, mas para fazer desaparecer.
- Eu me lembro de uma exposição no MAM em que a Fernanda usou uns sabonetes gastos, já quase transparentes - conta a crítica de arte Ligia Canongia, que escreveu sobre algumas das primeiras mostras da artista, na virada para os anos 90. - O trabalho dela é sempre muito delicado, quase desaparece para o olhar. Você precisa ficar atento, aguçar sua percepção, para identificar onde a obra acontece. E tudo é muito calcado na experiência do objeto vivido, já desgastado, com as marcas do tempo, as sujeiras.
E sempre foi assim, desde que, dividindo-se entre o trabalho como designer profissional e as experiências artísticas - que ainda não tinham esse nome -, Fernanda sentiu que precisava, como ela diz, "se desfazer" dos objetos que materializavam essas experiências. Em 1988, mandou uma proposta para o Projeto Macunaíma, da Funarte, e foi aceita. Era sua primeira exposição, e sua primeira individual. Fernanda não parou mais de acumular e se desfazer.
junho 2, 2010
Experiência mágica por Nina Gazire, Istoé
Matéria de Nina Gazire originalmente publicada na Istoé em 28 de maio de 2010
Mais que simplicidade, Zilvinas Kempinas preza pelo mínimo, mas não no sentido do “menos”, já que as leituras conceituais permitidas por seus trabalhos são vastas e não necessariamente complicadas. São instalações? Esculturas? Tentar classificar a produção do artista lituano é, de certa forma, uma celeuma inócua entre aqueles que pensam a produção artística contemporânea em termos de suporte ou estilo. “Existem “coisas” que estão sempre entre as fronteiras convencionais e, por isso, eu as acho mais interessantes”, diz o artista. Enquanto alguns críticos tentam referenciar sua obra se apoiando em gêneros artísticos, como a op art ou o minimalismo, sua maior virtude está na simplicidade da escolha do material de trabalho: a fita magnética.
O artista cria estruturas que utilizam essas fitas, hoje superadas pelo suporte digital, elaborando situações poéticas e altamente lúdicas, que levam o observador a uma experiência sensorial que não se limita à ilusão de ótica, mas beira a imersão corporal. Esse é o caso da instalação “Tube” (foto), criada para a Bienal de Veneza, em 2009. Originalmente, a instalação, um túnel de 26 metros feito de fitas magnéticas, ocupou a Scuola Grande della Misericordia in Cannargio, um edifício abandonado do século XVI, em Veneza. Pela primeira vez no Brasil, na Galeria Leme, o artista adaptou a obra para o espaço projetado por Paulo Mendes da Rocha. Mesmo em três metros de túnel, o efeito criado pelas fitas alinhadas cria a sensação de uma longa passagem e proporciona a visão de uma aura luminosa que aumenta, à medida que nos aproximamos do fim do percurso.
Com curadoria de Jacopo Crivelli Visconti, a exposição conta, além de “Tube”, com outras cinco obras, também com a fita magnética em sua composição, como “Lemniscate”, de 2008, em que o artista faz uma releitura da fita de Moebius. Para isso, a fita magnética ganha a forma do símbolo do infinito e flutua suspensa na parede com a força do vento produzido por dois ventiladores. A única exceção à regra é “Suspense”, feita de bolinhas de gude.
Objeto performático por Paula Alzugaray, Istoé
Matéria de Paula Alzugaray originalmente publicada na Istoé em 01 de junho de 2010
A alemã Rebecca Horn expõe pela primeira vez no Brasil esculturas que replicam movimentos orgânicos e se comportam como pessoas
Em 1970, Rebecca Horn desenhou uma roupa que acoplava à cabeça de uma mulher um chifre de unicórnio. Da manhã até a tarde, ao longo de seis horas, essa mulher caminhou vestida como um unicórnio pelos campos próximos à cidade de Kassel, na Alemanha, onde Rebecca participava de uma Documenta.
"Me interessava como o peso dos chifres produzia uma qualidade de movimento muito diferente naquela mulher", afirma a artista alemã, que durante os anos 70 centrou seu trabalho na produção dessas esculturas corporais, que modificavam os movimentos humanos a partir do uso de objetos escultóricos. O filme "Unicórnio" (1970) está em exibição em uma sala de cinema instalada dentro da exposição "Rebecca Horn - Rebelião em Silêncio".
Duas compilações de registros de performances e dois longas-metragens dividem o espaço do CCBB-RJ com objetos de personalidade tão forte quanto um piano que cospe suas teclas e um leque de plumas que se abre como uma cauda de pavão.
"A exposição é formada por salas de memórias - salas escuras onde são projetados filmes - e salas de luz, compostas por objetos", explica Rebecca. Caminhar entre as 19 esculturas e instalações que compõem a exposição é como estar diante de objetos performáticos, que ganharam autonomia. São como instrumentos musicais que funcionam sozinhos, sem a intervenção direta do músico. A mesma artista que vestia pessoas com chifres de três metros de altura, luvas com prolongamento de dedos em forma de facas e outras próteses surrealistas, colocando-as em situações a serem vividas como "rituais", agora constrói objetos cinéticos que parecem ter vida própria e convidar o público a se comportar como o performer. "Quando o público interage com o objeto, ocorre uma forma de diálogo muito diferente
da relação que ele pode ter com a pintura, que é basicamente visual", afirma a artista.
A agressividade que emana de algumas das obras de Rebecca é definitivamente um elemento que desperta a reação do público. Medo, confronto e espanto são emoções suscitadas por instalações como "Sala de Destruição Mútua", em que dois revólveres, acoplados a dois espelhos, apontam e atiram na direção de espectadores distraídos com a própria imagem refletida. Em "Concerto para Anarquia", um piano de cabeça para baixo pende do teto do espaço expositivo, desafiando as leis da gravidade.
O sentimento de ameaça torna-se ainda mais evidente quando o objeto "desperta" inesperadamente de seu estado de dormência e entra em atividade, despejando as teclas para fora.
Toda a ira que dorme e desperta nos trabalhos parece estar a serviço, em todo caso, de uma espécie de ritual de purificação. "Fiz muitos trabalhos políticos sobre minha relação com meu país. Vivemos um tempo muito duro, dedicado a entender o que aconteceu durante a guerra na Alemanha. Então, comecei a trabalhar com as performances, para transformar energias em espaços onde as pessoas foram mortas", conta ela.
Armas de fogo, armas brancas, conchas, símbolos fálicos, muitas referências ao sexo compõem o universo animado de Rebecca. Em sua maior parte, guardam estreita relação com música e cinema. É o caso da instalação "Concerto dos Suspiros", feita a partir da coleta de vozes de pessoas que contam histórias de sofrimento. Há vozes chinesas, cubanas, francesas, japonesas, alemãs, russas que brotam de funis de cobre. "A artista não teme a teatralidade e encara o lado dramático dos objetos. O diálogo que ela estabelece entre a performance, a escultura e o cinema é pioneiro e antecede, por exemplo, a poética de Matthew Barney", interpreta o curador Marcello Dantas.
No trabalho de tecnologia altamente sofisticada de Rebecca, chama a atenção o fato de que ela sempre tenha preferido os motores aos sensores e nunca tenha experimentado as possibilidades do universo digital - que garantiriam que seu objeto detectasse a presença do público na sala de exposição. "Não trabalho com computadores. Prefiro o modo natural da surpresa", defende-se.
148 formas de fazer política por Paula Alzugaray, Istoé
Matéria de Paula Alzugaray originalmente publicada na Istoé em 02 de junho de 2010
Curadoria anuncia os artistas selecionados da 29ª Bienal de São Paulo, cujo tema é a relação entre arte e política
No dia em que a opinião pública dos quatro cantos do planeta repudiou o ataque de Israel à frota de barcos com ativistas da causa palestina engajados em missão humanitária, num gravíssimo incidente de política internacional, a curadoria da 29ª Bienal de São Paulo divulgou a lista de artistas convidados para a mostra que, a partir de setembro, pretende discutir as relações entre arte e política.
Apesar do foco da próxima Bienal, anunciado nesta terça feira, 1, os habituais impasses políticos nas zonas de conflito mundiais não são diretamente contemplados pelo grupo curatorial centralizado por Moacir dos Anjos e Agnaldo Farias. “Nosso modo de entender arte e política se contrapõe à idéia tradicional da relação entre esses dois campos”, anuncia Moacir dos Anjos. ”Não nos interessa a arte como mero transmissor de conteúdos gerados em outros campos do conhecimento. Nossa ênfase é na capacidade que a própria arte tem de fazer política.”
Por mais contundente que tem sido o posicionamento do governo brasileiro frente aos problemas globais, a curadoria da 29ª Bienal não entende que a mostra deva ter um posicionamento frente aos conflitos do mundo. “São os artistas que têm posições definidas sobre os conflitos. A nós, cabe criar condições para que esses discursos sejam ouvidos”, argumenta dos Anjos.
Podemos supor, então, que entre os 148 selecionados para a mostra destacam-se diversas maneiras de fazer política (veja a lista completa de artistas abaixo). Artistas ligados à performance, como a brasileira Anna Maria Maiolino e a espanhola Dora Garcia, utilizam o corpo como linguagem de afirmação de seus posicionamentos sobre o mundo. Artistas ativos desde os anos de chumbo no Brasil, como Carlos Vergara, Carlos Zílio, Cildo Meireles, Paulo Bruscky e Artur Barrio, desenvolveram seus trabalhos como estratégias de sobrevivência cultural contra a repressão.
A política que se faz “sob o signo da poesia”, que segundo o curador Agnaldo Farias define um outro eixo conceitual da mostra, é perceptível nos trabalhos de artistas como o belga David Claerbout, o holandês Aernout Mik, a dupla Marilá Dardot e Fabio Morais, e a brasileira Alice Miceli, que concebeu um sistema de registro de imagens do invisível, ao radiografar a contaminação química da zona de exclusão de Chernobyl. O titulo da mostra, “Há sempre um copo de mar para um homem navegar” – verso extraído de “Invenção de Orfeu” (1952), de Jorge de Lima –, aponta para essa valorização da dimensão utópica na arte e na vida cotidiana.
A política se faz presente, ainda, na anunciada participação do artista e ativista indígena norte-americano Jimmie Durham que, ao que tudo indica, voltou atrás ao seu boicote ao Brasil. Em 2006, após recusar um convite para participar como palestrante do ciclo de seminários da 27ª Bienal, Durham convocou um boicote em massa ao evento “por causa do tratamento que os brasileiros dão aos índios”.
Outro acontecimento – boicotado, abominado e nada discutido pela organização da Bienal –, a invasão de pixadores na abertura da 28ª Bienal, “Em vivo contato”, em 2008, ganha finalmente direito ao debate. O grupo de pixadores paulistanos foi convidado para expor documentações de suas intervenções e contravenções. Resta saber se serão expostos os registros em fotografia em vídeo da invasão à própria Bienal. “Temos que resgatar a tradição do debate como celebração da política”, afirma Agnaldo Farias.
Embora contemple artistas de 40 países, a lista final enfatiza artistas da America Latina e do Brasil e pretende posicionar-se como uma plataforma para o encontro entre esses países, “que não se conhecem muito bem”.
A Lista
1. Adrian Piper / EUA / Germany / 1948
2. Aernout Mik / Netherlands / Netherlands / 1962
3. Ai Weiwei / China / China / 1957
4. Albano Afonso / Brasil / Brasil / 1964
5. Alberto Greco / Argentina / 1931 - 1965
6. Alessandra Sanguinetti / EUA / EUA / 1968
7. Alfredo Jaar / Chile / USA / 1956
8. Alice Miceli / Brasil / Brasil / 1980
9. Allan Sekula / USA / USA / 1951
10. Allora & Calzadilla – Allora / USA / Puerto Rico / 1974 and Calzadilla / Cuba /
Puerto Rico / 1971
11. Amar Kanwar / India / India / 1964
12. Amélia Toledo / Brasil / Brasil / 1926
13. Ana Gallardo / Argentina / Argentina / 1958
14. Andrea Büttner / Germany / Germany / 1972
15. Andrea Geyer / Germany / Germany and USA / 1971
16. Andrew Esiebo / Nigeria / Nigeria / 1978
17. Anna Maria Maiolino / Italy / Brasil / 1942
18. Anri Sala / Albania / Germany / 1974
19. Antonieta Sosa / USA / Venezuela / 1940
20. Antonio Dias / Brasil / Brasil / 1944
21. Antonio Manuel / Portugal / Brasil / 1947
22. Apichatpong Weerasethakul / Thailand / Thailand / 1970
23. Archigram Group / England / 1960s
24. Artur Barrio / Portugal / Brasil / 1946
25. Artur Zmijewski / Poland / Poland / 1966
26. Bofa da Cara - Pere Ortín / Spain / 1968 and Nástio Mosquito / Angola / 1981
27. CADA - Colectivo Acciones de Arte / Chile / 1979
28. Carlos Bunga / Portugal / Spain / 1976
29. Carlos Garaicoa / Cuba / Cuba
30. Carlos Teixeira / Brasil / Brasil / 1966
31. Carlos Vergara / Brasil / Brasil / 1941
32. Carlos Zilio / Brasil / Brasil / 1944
33. Chantal Akerman / Belgium / France / 1950
34. Cildo Meireles / Brasil / Brasil / 1948
35. Cinthia Marcelle / Brasil / Brasil / 1974
36. Claudia Joskowicz / Bolivia / USA
37. Claudio Perna / Venezuela / 1938-1997
38. Daniel Senise / Brasil / Brasil / 1955
39. David Claerbout / Belgium / Belgium / 1969
40. David Cury / Brasil / Brasil
41. David Goldblatt / South Africa / South Africa / 1930
42. David Lamelas / Argentina / Argentina and USA / 1946
43. David Maljkovic / Croatia / Croatia / 1973
44. Deimantas Narkevicius / Lithuania / 1964
45. Dora Garcia / Spain / Belgium / 1965
46. Douglas Gordon / Scotland / Germany, Scotland and USA / 1966
47. Eduardo Coimbra / Brasil / Brasil / 1955
48. Eduardo Navarro / Argentina / Argentina /1979
49. Efrain Almeida / Brasil / Brasil / 1964
50. Emily Jacir / Palestine / USA and Palestine / 1970
51. Enrique Jezik / Argentina / Mexico / 1961
52. Ernesto Neto / Brasil / Brasil / 1964
53. Fernando Lindote / Brasil / Brasil / 1960
54. Filipa César / Portugal / Germany / 1975
55. Fiona Tan / Indonesia / Netherlands / 1966
56. Flávio de Carvalho / Brasil / 1899 - 1973
57. Francis Alÿs / Belgium / Mexico / 1959
58. Gabriel Acevedo / Peru / Germany /1976
59. Gil Vicente / Brasil / Brasil / 1958
60. Graziela Kunsch / Brasil / Brasil /1979
61. Gustav Metzger / Germany / England / 1926
62. Guy de Cointet / France / 1934 – 1983
63. Guy Veloso / Brasil / Brasil / 1969
64. Harun Farocki / Germany / Germany / 1944
65. Hélio Oiticica / Brasil / 1937 - 1980
66. Henrique Oliveira / Brasil / Brasil / 1973
67. Ilya Kabakov / Russia / Russia / 1933
68. Isa Genzken / Germany / Germany / 1948
69. Jacobo Borges / Venezuela / Venezuela and USA / 1931
70. James Coleman / Ireland / Ireland / 1941
71. Jeremy Deller / England / England / 1966
72. Jimmie Durham / USA / Italy / 1940
73. Joachim Koester / Denmark / USA / 1962
74. Jonas Mekas / Lithuania / Lithuania / 1922
75. Jonathas de Andrade / Brasil / Brasil
76. José Antonio Vega Macotela / Mexico / Mexico / 1980
77. José Leonilson / Brasil / 1957 - 1993
78. José Spaniol / Brasil / Brasil / 1960
79. Joseph Kosuth / USA / USA / 1945
80. Juliana Stein / Brasil / Brasil
81. Julie Ault and Martin Beck / USA and Austria / USA / 1957 and 1963
82. Karina Skvirsky Aguilera / USA / USA / 1967
83. Kboco e Roberto Loeb / Brasil / Brasil / 1978 and 1941
84. Kendell Geers / South Africa / Belgium / 1968
85. Kiluanji Kia Henda / Angola / Angola / 1979
86. Kutlug Ataman / Turkey / England / 1961
87. Livio Tragtenberg / Brasil / Brasil
88. Luiz Zerbini / Brasil / Brasil / 1959
89. Lygia Pape / Brasil / Brasil / 1927 - 2004
90. Manfred Pernice / Germany / Germany / 1963
91. Manon de Boer / India / Belgium and Netherlands / 1966
92. Marcelo Silveira / Brasil / Brasil / 1962
93. Marcius Galan / EUA / Brasil / 1972
94. Maria Thereza Alves / Brasil / Germany / 1961
95. Marilá Dardot and Fábio Morais / Brasil / Brasil / 1973 and 1975
96. Mário Garcia Torres / Mexico / Mexico / 1975
97. Marlene Dumas / South Africa / Netherlands / 1953
98. Marta Minujin / Argentina / Argentina / 1943
99. Mateo López / Colombia / Colombia / 1978
100. Matheus Rocha Pitta / Brasil / Brasil / 1980
101. Miguel Angel Rojas / Colombia / Colombia / 1946
102. Miguel Rio Branco / Spain / Brasil / 1946
103. Milton Machado / Brasil / Brasil / 1947
104. Mira Schendel / Switzerland / 1919 -1988
105. Moshekwa Langa / South Africa / Netherlands / 1975
106. Nan Goldin / USA / USA and France / 1953
107. Nelson Leirner / Brasil / Brasil / 1932
108. NS Harsha / India / India / 1969
109. Nuno Ramos / Brasil / Brasil / 1960
110. Oscar Bony / Argentina / 1941-2002
111. Oswaldo Goeldi / Brasil / 1895 –1961
112. Otobong Nkanga / Nigeria / France and Belgium / 1974
113. Otolith Group / England / England / 2000
114. Palle Nielsen / Denmark / Denmark / 1942
115. Paulo Bruscky / Brasil / Brasil / 1949
116. Pedro Barateiro / Portugal / Portugal / 1979
117. Pedro Costa / Portugal / Portugal / 1959
118. Pixação SP / Brasil / Brasil
119. Qiu Anxiong China / China / 1972
120. Raqs Media Colective / India / India / 1992
121. Rex Time / Brasil / Brasil / 1966
122. Roberto Jacoby / Argentina / Argentina / 1944
123. Rochele Costi / Brasil / Brasil / 1961
124. Rodrigo Andrade / Brasil / Brasil / 1962
125. Ronald Duarte / Brasil / Brasil / 1963
126. Rosangela Rennó / Brasil / Brasil / 1962
127. Runa Islam / Bangladesh / England /1970
128. Sandra Gamarra / Peru / Spain / 1972
129. Sara Ramo / Spain / Brasil / 1975
130. Simon Fujiwara / England / Germany / 1982
131. Sophie Ristelhueber / France / France / 1949
132. Steve McQueen / England / England and Netherlands / 1969
133. Sue Tompkins / England / Scotland / 1971
134. Superstudio / Italy / 1966
135. Susan Philipsz / Scotland / Germany / 1965
136. Tacita Dean / England / Germany / 1965
137. Tamar Guimarães / Brasil / Denmark
138. Tatiana Blass / Brasil / Brasil / 1979
139. Tatiana Trouvé / Italy / France / 1968
140. Tobias Putrih / Slovenia / USA / 1972
141. UNStudio / Netherlands / 1998
142. Wendelien van Oldenborgh / Netherlands / Netherlands / 1962
143. Wilfredo Prieto / Cuba / Spain / 1978
144. Yael Bartana / Israel / Israel and Netherlands / 1970
145. Yoel Vazquez / Cuba / Germany / 1973
146. Yonamine Miguel / Angola / Portugal / 1975
147. Yto Barrada / France / Morroco / 1971
148. Zanele Muholi / South Africa / South Africa / 1972
Desacordo exclui Lygia Clark da Bienal por Fábio Cypriano, Folha de S. Paulo
Matéria de Fábio Cypriano originalmente publicada na Ilustrada jornal Folha de S. Paulo em 02 de junho de 2010
Curador considerou que exigências feitas pela instituição mantida pelo filho da artista eram "incompatíveis"
Números de brasileiros na lista oficial cresceu de 51 para 53 artistas em relação a listagem divulgada pela Folha
Apesar de serem confirmados para a 29ª Bienal de São Paulo, os pichadores que invadiram e picharam o andar vazio da última Bienal podem não ser considerados artistas por Agnaldo Farias, um dos curadores.
"Achamos que o trabalho deles é político, mas não sabemos se é arte, o que é uma questão secundária, pois muito artista, quando está em produção, tampouco se pergunta se está fazendo arte", disse Farias, ontem, na entrevista coletiva durante o anúncio da lista oficial de artistas escalados para a próxima edição da mostra.
Moacir dos Anjos, o curador-geral da Bienal, disse que os pichadores serão vistos em registros de suas ações -filmes e fotos-, além de participarem de debates nos terreiros do evento, que tem abertura prevista para o dia 25 de setembro.
"Eles nos procuraram e nos interessa a potência do que eles fazem", contou.
BRASILEIROS
Como a Folha antecipou há dez dias, 148 artistas irão tomar parte do prédio da Bienal e poucos nomes foram trocados em relação à lista prévia. O time brasileiro, por exemplo, cresceu para 53 nomes, em relação aos 51 da lista anterior.
Entre as mudanças, está a retirada da artista Lygia Clark da exposição.
"Decidimos retirar a Lygia ontem [anteontem] pois nos foram impostas tantas condições pela instituição O Mundo de Lygia Clark que as consideramos incompatíveis com a memória da artista", afirmou Farias.
"Queriam até controlar quem poderia escrever sobre ela", completou o curador.
Entre outras condições, a associação teria pedido três passagens áreas e o pagamento dos direitos das imagem dos catálogos.
"Cada um tem a instituição que merece. Hoje, O Mundo de Lygia Clark não tem patrocínio nenhum e precisamos cobrar para poder manter a associação aberta", disse Álvaro Clark, filho da artista e diretor da instituição, à Folha.
"Eu não tenho dinheiro para colocar na associação e não recebo um tostão. De fato, o Moacir me ligou dizendo que estava sem dinheiro, mas não tenho como abrir exceções", afirmou.
Já Heitor Martins, presidente da Bienal de São Paulo, anunciou ontem que o orçamento do evento está confirmado e será de R$ 30 milhões, sendo que a maior parte desse valor vem de leis de incentivo.
"Mesmo assim, conseguimos cerca de R$ 4 milhões diretamente". Ontem à noite, estava previsto um jantar para comemorar a divulgação oficial da lista de artistas, marcado para acontecer no shopping Iguatemi.
junho 1, 2010
Pai violento inspirou mortes simbólicas em várias obras por Fábio Cypriano, Folha de S. Paulo
Matéria de Fábio Cypriano originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 01 de junho de 2010.
Poucos artistas conseguiram atravessar um século e continuar afinados com a produção contemporânea. Louise Bourgeois é um desses casos raros.
Nascida na França e vivendo em Paris, nas décadas de 1920 e 1930, testemunhou o auge do modernismo em sua capital mundial, chegando a ser assistente de Fernand Léger (1881-1955), uma das personalidades do período.
Contudo, foi em Nova York, para onde se mudou em 1938, que se destacou como artista. Aliás, isso só ocorreu nos anos 1970, já que, por três décadas, o trabalho dela foi praticamente ignorado.
"Toda a minha obra, nos últimos 50 anos, todos os meus temas foram inspirados em minha infância. Minha infância jamais perdeu sua magia, jamais perdeu seu mistério, jamais perdeu seu drama", declarou no livro "Destruição do Pai. Reconstrução do Pai".
Possivelmente aí esteja a chave para a compreensão tardia da obra, afinal, foi só na década de 1970 que a junção entre vida e arte se tornou um modo de produção reconhecido.
As esculturas de aranhas, uma das maiores marcas da artista, têm inspiração tanto na infância -os pais trabalhavam com tapeçaria- como numa visão um tanto perversa do universo feminino. Em São Paulo, uma das aranhas está no Museu de Arte Moderna, no Ibirapuera.
Bourgeois ainda "matou" o pai em "A Destruição do Pai" (1974), uma jaula com mesa de jantar e cama, lugares vinculados aos prazeres, mas que, no imaginário da artista, também serviam para os filhos destruírem o progenitor, que, no caso dela, era um homem violento.
Numa das imagens mais famosas, uma foto tirada por Robert Mapplethorpe (1946-1989), Bourgeois, sorriso irônico, segura "Fillette" (1968), escultura em formato de pênis de látex. A imagem capta muito da essência da obra da artista: abordar temas complexos com formas simples e orgânicas.
Artista Louise Bourgeois morre aos 98 por Andrea Murta, Folha de S. Paulo
Matéria de Andrea Murta originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 01 de junho de 2010.
A franco-americana se tornou uma escultora conhecida com obras que abordam sexo, nascimento e morte
Bourgeois fez o cartaz da 23ª Bienal de SP, onde exibiu a escultura "Aranha", hoje parte do acervo do MAM, em SP
A artista Louise Bourgeois, nascida na França e naturalizada norte-americana, uma das mais respeitadas escultoras do mundo, morreu ontem aos 98 anos no Centro Médico Beth Israel, em Manhattan (Nova York).
Ela estava internada desde a noite de sábado devido a um ataque cardíaco.
Bourgeois ficou conhecida por esculturas de aranhas gigantes e pela abordagem controversa sobre sexualidade, nascimento e morte.
Ela produziu até pouco antes de morrer. Finalizou trabalhos na semana passada, segundo a diretora de seu estúdio, Wendy Williams.
Ela não ganhou fama fora de um círculo especializado até passar dos 70 anos. Em 1982, o Museu de Arte Moderna de NY fez uma exposição exclusiva de sua carreira, tornando-a mais conhecida.
Para o crítico de arte Robert Hughes, Bourgeois era a "mãe da identidade feminina artística americana", cuja "influência em jovens artistas é enorme".
"Eu realmente quero preocupar as pessoas, incomodar as pessoas", disse ela ao "Washington Post" em 1984. "Se dizem incomodados pelas genitálias duplas de meu trabalho. Bem, isso me incomodou a vida inteira."
Bourgeois nasceu em Paris, em 1911, em uma família que se dedicava a restaurar tapeçarias. Mudou com o marido americano, o historiador de arte Robert Goldwater, para Nova York em 1938. Lá, concentrou-se em estudos artísticos.
Na década de 1940, Bourgeois passou a dedicar-se à escultura. Em 1955, se tornou cidadã americana.
"Maman" (1999), uma aranha de nove metros de altura, é um dos destaques de sua obra, exibida na Tate Modern, de Londres.
Outra peça, "Aranha", faz parte do acervo do Museu de Arte Moderna, no Ibirapuera, em São Paulo, em 1996. A obra foi exibida na 23ª Bienal de São Paulo, da qual ela fez o cartaz.
Bourgeois ganhou em 1997, das mãos do ex-presidente Bill Clinton, a Medalha Nacional de Arte dos EUA.
Viúva desde 1973, ela deixa dois filhos, dois netos e um bisneto. Um terceiro filho, Michel, morreu em 1990.
Museus ficam menores e autônomos por Fábio Cypriano, Folha de S. Paulo
Matéria de Fábio Cypriano originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 01 de junho de 2010.
Proprietários inauguram novos espaços, com dimensões modestas, em que investem em acervos de arte
São Paulo ganha museu com 500 trabalhos; Fundação Vera Chaves Barcellos (RS) tem Sol LeWitt e Regina Silveira
Foi em 1997, com a inauguração do Guggenheim de Bilbao, que se cristalizou a ideia de que museus não servem apenas para abrigar arte.
O espaço criado na Espanha mostrou que eles podem também cumprir funções alheias à sua natureza, como alavancar turismo ou revitalizar áreas deterioradas.
Desde então, surgiram muitos museus onde a arte cumpre função secundária.
Só nas últimas duas semanas, dois edifícios com características espetaculares foram inaugurados: o Pompidou de Metz (França), dos arquitetos Shigeru Ban e Jean de Gastines, e, em Roma (Itália), o MAXXI (Museu de Arte do Século 21), de Zaha Hadid.
"Esses projetos grandes começaram antes da crise e fazem parte de um modelo que já está sendo alterado. Não dá mais para se apoiar apenas em grandes obras", diz José do Nascimento Junior, diretor do Ibram (Instituto Brasileiro dos Museus).
Assim, com características opostas ao Guggenheim, estão surgindo no Brasil, instituições que têm, com espaços modestos, a arte e o colecionismo como suas principais marcas.
É o caso da Fundação Vera Chaves Barcellos, iniciativa da artista Vera Chaves Barcellos e de seu marido, Patrício Farias, aberta ao público no último sábado, em Viamão, na Grande Porto Alegre.
Apesar de ter como área expositiva apenas 400 m2, a fundação surge com um acervo de cerca de 1.300 obras, entras elas trabalhos de Sol LeWitt, Sean Scully e Regina Silveira, todos presentes na mostra de abertura, "Silêncios e Sussurros".
A microfísica da arte, para Barcellos, é uma vantagem: "Ter essa dimensão nos dá mais independência". Para a construção do novo espaço, foram gastos cerca de R$ 100 mil, custeados pela artista.
A fundação já ganhou editais do Ministério da Cultura para constituição de acervo.
Já em São Paulo, há dois meses, foi aberto um espaço com situação similar, também com cerca de 400 m2 de área expositiva: o Museu Privado de Arte Contemporânea, do colecionador Oswaldo Costa.
Aposentado recentemente, Costa custeou toda a reforma de um espaço em Pinheiros, para abrigar sua coleção com cerca de 500 trabalhos. "Eu não uso a lei de incentivo para não ficar devendo nada a ninguém e não ter constrangimento", diz Costa.
Em 2011, será inaugurado o Museu de Arte Contemporânea de Sorocaba, na cidade paulista, também com dimensão modesta, mas tendo o acervo como eixo central.
Premiado, "A Alma do Osso" estreia com atraso de seis anos por Alcino Leite Neito, Folha de S. Paulo
Matéria de Alcino Leite Neito originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 29 de maio de 2010.
Documentário que registra cotidiano de eremita foi vencedor do É Tudo Verdade em 2004
Diretor Cao Guimarães, que também é artista plástico, filmou uma adaptação de "Catatau", de Paulo Leminski
Em 2004, quando foi exibido no festival de documentários É Tudo Verdade, em São Paulo, "A Alma do Osso" arrebatou os dois principais prêmios do evento: o de melhor filme da competição nacional e o da competição internacional.
Em qualquer lugar, essa dupla e prestigiosa premiação seria um incentivo para o longa entrar logo em cartaz. Não foi o caso no Brasil.
"Alma do Osso", que registra o cotidiano de um eremita nas montanhas de Minas Gerais, ficou engavetado.
Seu lançamento nos cinemas do país só ocorreu ontem, quase seis anos após sua exibição no festival.
Enquanto esperava a difusão do filme, o diretor e artista plástico Cao Guimarães, 45, não cruzou os braços.
Fez dez curtas-metragens, outros dois longas ("Acidente", 2006, e "Andarilho", 2007), foi convidado para os festivais de Cannes e Veneza, participou duas vezes da Bienal de São Paulo, realizou várias exposições e acaba de filmar "Ex-isto", a primeira versão cinematográfica de "Catatau", romance do poeta Paulo Leminski (1944-1989).
"O livro de Leminski, na verdade, é infilmável, é um vertiginoso fluxo de linguagem. O que eu fiz foi uma livre adaptação", explica Guimarães, sobre "Ex-isto".
OUSADIA
De fato, "Catatau" (1975) é um dos experimentos mais ousados da literatura brasileira -e também uma reflexão sem amarras conceituais a respeito da cultura do país e da relação entre linguagem e pensamento.
Numa escrita que não faz distinção entre prosa e poesia, Leminski narra no livro as desventuras tropicais do personagem René Descartes-Renatus Cartesius, que ele imagina aportando em Recife, com a esquadra de Maurício de Nassau.
O ator João Miguel (de "Cinema, Aspirinas e Urubus") interpreta o protagonista, cuja crença na razão é colocada à prova pela mixórdia cultural e pelo sensualismo brasileiros -até deparar-se com o fracasso total da metafísica. O filme termina com Descartes-Cartesius inteiramente nu, deitado no colo de uma negra.
Miguel é o único ator de "Ex-isto", feito em 15 dias, por seis pessoas e com orçamento de R$ 200 mil.
ESTRANHAMENTO
Os filmes de Guimarães são diferentes do que costuma ser exibido nas salas de cinema: não se atêm aos esquemas narrativos e estilísticos habituais, nascem de uma linguagem livre e postulam um desejo de experimentação constante.
Se podem causar estranheza no público de cinema e apreensão no mercado cinematográfico, no meio das artes, entretanto, são recebidos com grande interesse.
"As artes plásticas hoje são muito mais abertas a várias formas de linguagem do que o mundo do cinema, cujo sistema de produção industrial se tornou muito pesado, criando um ambiente bastante cruel para os artistas", afirma Guimarães, que já teve seus trabalhos adquiridos por museus como o MoMA (Nova York) e a Tate Modern (Londres).